Espiritualidade do NATAL

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Revista Digital

Cyber Franciscanos Província São Francisco de Assis - OFM/RS - Ano I Nº 3 - Dezembro - Janeiro de 2014/2015

TEMA da Revista:

Benozzo Gozzoli: Pregação de São Francisco aos Animais e aos Homens, 1452. Convento de São Fortunato, Montefalco

ESPIRITUALIDADE DO

NATAL


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Revista Digital Cyber Franciscanos

Carta do Editor Paz e bem queridos irmãos e irmãs! Chega até vocês à terceira edição da Revista Digital Cyber Franciscanos. Esta edição conta com o aprofundamento do tema 'Espiritualidade do Natal'. O Natal para Francisco é mais do que especial, é um momento de profunda busca, do Deus que se faz pobre e humilde. Contamos nesta edição com a contribuição de inúmeros irmãos, que partilham de suas reexões sobre a espiritualidade do Natal. O Texto de Frei Almir Ribeiro, OFM, que nos partilha sobre a Espiritualidade Franciscana que esta sobre o presépio. Os jovens Luiz Valério e Ana Silveira reetem sobre a espiritualidade do natal a partir de suas realidades. E com uma rica reexão, direto de Roma, de Bianca Fraccalvieri, Jornalista do Programa Brasileiro da Rádio Vaticano. Agradecemos a tod@s os irmãos que estão nos enviando suas partilhas e dicas. Somos muitíssimos gratos com as interações de vocês queridos leitores e pedimos que continuem nos ajudando neste dinâmico processo de evangelização. Fraterno abraço! Paz e Bem!!

Ano I - Nº 3 Dezembro - Janeiro 2014/15

Revista Digital da Província São Francisco de Assis Franciscanos do Rio Grande do Sul. OFM - Brasil Propriedade: Instituto Cultural São Francisco de Assis

Serviço de Comunicação Freis RS Direção: Frei Arno Frelich, OFM Editor e coordenador: Frei Malone Rodrigues, OFM Redação: Frei Guilherme Johann (Noviço) Social Mídia: Fr. Guilherme Ximenes (Noviço) Coordenador Artigos: Maicon Rohr (OFM) Equipe Apoio Site: Frei Antonio Izael (OFM) Frei Benício Warken (OFM) Revista Digital hospedado no site: www.franciscanos-rs.org.br/revistas

Frei Malone Rodrigues, OFM Gerente de Produção de Conteúdo e Criação. freimalone@franciscanos-rs.org.br

Publicação: Bimestral Fones: (51) 3246-9937 (51) 3061-0353 e-mail: contato@franciscanos-rs.org.br www.FRANCISCANOS-RS.org.br


ÍNDICE EXPLICAÇÃO LEITURA DIGITAL 02 - EDITORIAL 03 - ÍNDICE

10

04 Natal: um presente que faz se presente

NATAL: QUANDO O ALTÍSSIMO ABRE MÃO DE SUA ONIPOTÊNCIA

17 Às vésperas de celebrar o nascimento de Cristo.

21 Já é dia de Natal


ESPIRITUALIDADE HOJE

NATAL:

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uma presença que se faz presente Ana Silveira

Ao ser convidada para escrever, tomei a liberdade de, em um primeiro momento, largar a caneta a m de desfazer-me de ideias préconcebidas, colocando-me em atitude de escuta, para que pudesse estabelecer um respeitoso diálogo com o ambiente universitário no qual convivo. A seguir, apresento apenas um recorte com o intuito de não

esgotar a conversa nesse pequeno texto. Dessa forma, pretendo, nas próximas linhas, expor o signicado do Natal na perspectiva cristã, bem como seu desdobramento na espiritualidade, reetindo, ainda, a respeito de como um estudante pode viver essa dimensão de sua vida no ambiente de estudo. Cyber Franciscanos Out 2014


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O Natal, para os cristãos, é um dos momentos mais especiais, pois se acredita que o Deus, outrora anunciado pelos profetas, o Inefável, o Justo, se faz nosso companheiro de caminhada, próximo, pequeno e vulnerável. Como conceber tamanho absurdo? Hoje parece “batido” para os cristãos tal armação, anal, quem não escutou a expressão: “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14)? Para os não crentes, por vezes, essa data ca reduzida à miticação do presépio, dentre outras percepções que não representam a sua magnitude. Todavia, o que se pode tirar de novidade desse acontecimento? Penso que a chegada de Jesus no seio da humanidade desfaz toda a distância que se tinha entre o Criador e a criatura, uma vez que o Menino vem a nós em um ambiente familiar, simples e sem espetáculo, numa noite como outras, escondendo sua grandeza na pequenez de um semblante infantil. O cristão renova sua fé na

Encarnação de Deus, na medida em que consegue perceber a presença divina nas situações concretas de sua existência, sem precisar de fascínio, nem exuberância, tampouco de maneira impositiva, mas na conança de que a atividade presente não se reduz a status, cargo ou sucesso. O Natal é tempo da família, cabe lembrar que o Deus cristão é trinitário, consequentemente, é relação, não é uma ilha, mas sim, dinâmico, escolhe a linguagem do amor, que inclui e aproxima, que elimina obstáculos porque é livre e libertador; só o amor é assim. Acreditar que é possível se relacionar desta forma com Deus, é uma novidade para a pessoa, portanto, Natal é Alegria e Paz. Não apenas a euforia passageira de presentes, ou festas que se acabam, porém ocasião de amor que ultrapassa a morte. Uma eternidade é iniciada com o acontecimento do Natal, possibilidade de viver no presente aquilo que, em plenitude, teremos no futuro, mas que pode ser > Cyber Franciscanos Out 2014


MISSÃO NA BÍBLIA

experimentado nas atividades de cada dia, bem como a paz, visto que a diferença não é obstáculo, nem tampouco motivo de discórdia, mas alteridade que une e estabelece relação de amizade. E o onde ca a espiritualidade? Em nenhum lugar isolado, nem descolada da realidade ou enterrada em cultos e práticas que não suscitem vida. Isso signica entender espiritualidade como modo de vida, uma dimensão de cada ser humano concreto e histórico e sempre culturalmente situado. Essa dimensão se revela pela capacidade de diálogo consigo mesmo, com os outros, e com o transcendente, se traduz pela sensibilidade, pela compaixão, pela e s c u t a d o o u t r o , p e l a responsabilidade e pelo cuidado como atitude fundamental. Nesse sentido, a universidade também é local de encontro de horizontes distintos, lugar propício para interação dos diferentes que se acolhem sem que isso comprometa suas identidades. E por que não, lugar de possível integração da ciência e da fé? Por vezes ambas andaram rivais, seguindo caminhos paralelos, contudo o tempo atual exige uma técnica reetida, como também uma maturidade de fé, se supõe, portanto uma abertura para autonomia mútua.

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O espírito do Natal, sua espiritualidade especíca, é exatamente o oposto do espírito dominante na cultura atual, que é um espírito marcado pelo consumo, pelo mercado, pela concorrência, pelo interesse, ou seja, um espírito que transforma tudo em mercadoria. Todavia, o Natal convida à gratuidade, à doação, à singeleza, à convivência, à possibilidade de se fazer presente ao outro. O Natal quer ressuscitar essa dimensão espiritual no ser humano, quer anunciar que é nesse ambiente que Deus se acercou de nós, pois não veio como um César poderoso nem como um SumoSacerdote, menos ainda como empresário ou lósofo. Aliás, acercouse com o intuito de que ninguém se sentisse distante Dele, para que todos pudessem experimentar o sentimento de ternura que uma criança desperta.

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Esse é o caminho que Deus escolheu para aproximar-se de nós, para andar conosco por nossos caminhos. Um Deus que não explica a razão do mal no mundo, mas que sofre junto com a humanidade e assume tudo que é radicalmente humano. Esse é Jesus de Nazaré, um Deus que encontramos dentro de nós e de nosso cotidiano, sem precisar buscá-lo aqui e ali, mas buscá-lo na interioridade, e acolhê-lo na surpresa da visita de um amigo que divide caminho conosco. Também na exterioridade, na maneira de se relacionar com o corpo, com os outros, com o ambiente percebemos a ação divina. No campus também se encontra a sua presença, no aconchego de um abraço, no cansaço de nal de semestre suavizado por um sorriso desconhecido, a tão esperada entrega do trabalho de conclusão de curso, ou seja, tudo que é simples, porém vivido com intensidade de

sentido. Portanto, em nosso ambiente universitário, faz-se necessário reservar espaço para essa espiritualidade do encontro, sem desejos de dominação, mas sim, de acolhida fraterna e respeitosa. Viver a vida em chave de liberdade, sem desejar aprisionar o todo na pequena parte que somos. Assim, a existência vai tomando nova forma: o colega de classe passa ser companheiro de caminhada da existência e não um concorrente que preciso vencer, mas acolher, como portador de uma novidade única a ser revelada. Em última análise, experimentar a espiritualidade do Natal na universidade é conviver com o diferente numa atitude humilde e amorosa. Deixar o divino falar no rosto humano do irmão que também está a caminho, deixando-se renovar pela esperança da vida divina entre nós.

Ana Silveira; Idade: 27 anos; 3 ano de teologia PUCRS.

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Uma entidade mantida pelo ICSFA – Instituto Cultural São Francisco de Assis, entidade de caráter público, sem ns lucrativos, de assistência social, dos Freis Franciscanos do Rio Grande do Sul. Desenvolvendo inúmeras atividades que possam garantir o desenvolvimento e assistência de muitos jovens em situação de vulnerabilidade social.

Conheça nossa Instituição acessando nosso site:

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MISSÃO FRANCISCANA

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NATAL: QUANDO O ALTÍSSIMO ABRE MÃO DE SUA ONIPOTÊNCIA 1. Natal é festa do coração franciscano. Desde a nossa mais tenra idade estamos acostumados a ouvir falar de Greccio, do presépio, da ternura que Francisco tinha pelo menino das palhas, do carinho que devotava à Paupércula Maria que oferecia o leite generoso de seu peito para alimentar Deus carente e pobre. Francisco “recordava-se em assídua meditação das palavras e com penetrante consideração rememorava as obras do Senhor. Principalmente a humildade da encarnação e a caridade da paixão,

de tal modo ocupavam sua memória, que mal queria pensar em outra coisa. Deve-se, por isso, recordar e cultivar em reverente memória o que ele fez no dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, no terceiro ano antes do dia de sua gloriosa morte, na aldeia que se chama Greccio” (1Cel 84). Ele queria ver com os próprios olhos, plasticamente, aquilo que havia se passado na noite do Oriente, na cidade de Belém, quando Deus resolveu ser o Deus-conosco. Cyber Franciscanos Out 2014


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Quantas e quantas vezes participamos de encenações e celebrações que retomaram as palavras e os gestos de Francisco. 2. Aprendemos a ver o Poverello, perto do “berço” do Menino, tomando dois galhos e inventando um violino. Um dançarino que vive a festa da visita de um Deus que não esmaga, nem tira o fôlego, mas que estende a mão para ser socorrido, que precisa do leite generoso do seio de sua Mãe, que solicita ser cuidado como todas as frágeis crianças que vêm ao mundo. Para nós, não existe Natal sem as cores franciscanas de Greccio. 3. Mais uma vez vivemos essa atmosfera de dezembro. As pessoas correm de um lado para o outro, meio perdidas, meio aturdidas. Pressa, compras, consumo, certa alegria, ornamentações extremamente artísticas nos suntuosos centros comerciais das grandes cidades. Os comerciantes não sabem o que fazer para atrair a clientela e para terem resultados nanceiros superiores aos do ano passado. Perfumes, sosticados celulares, chocolates, roupas, sapatos, bolsas: tudo enfeitado em guirlandas, envolvidos em papeis coloridos, luzes cintilantes. Pelos corredores, música envolvente. Papai Noel sentado num trenó espera crianças que se assentem a seu lado para serem fotografadas. Estas cam extasiadas esperando a noite dos presentes. O amado ou amante compra para a amada ou amante um colar de diamantes, presente de Natal. Nas casas cintilam as lâmpadas (made in China), na árvore da sala, nas plantas do jardim e nos arcos das varandas. Há luz e alegria. Mas pode ser que nessas catedrais do consumo e mesmo em muitas casas se tenha esquecido da gura central e mais importante: o menino das palhas. Sim, há aqui ou ali um

presépio. Mas basta isso? Pode ser que tenhamos tirado de caixas de papelão que estavam no sótão ou no porão as guras do presépio: os personagens centrais, os pastores, os animais, os anjos, o casario e a fonte que jorra água de verdade. Tudo isso faz parte da decoração exterior, dum certo folclore. Pode mesmo ter acontecido que alguns tenham seguido os textos desses livrinhos de novenas de Natal, livrinhos cheios de palavras piedosas ou libertárias que repetem o que já sabemos. O importante seria se viéssemos a nos reencantar com o fato: Deus se torna fragilidade. 4. A onipotência de Deus se manifesta em sua fragilidade. Lá no nal de sua trajetória tudo ca claro: um jovem adulto sem apoios externos, um ser na plenitude de suas forças sendo ridicularizado, despojado de tudo, vilipendiado, amarrado, desrespeitado, insultado, abandonado. Remexendo-se de dor no alto da cruz, torturado pela sede, tentado pelo desânimo, sorvendo gole após gole o cálice da amargura: um ser frágil que ali atinge o ápice da fragilidade. Fragilidade que acompanhou seus dias: sem casa, sem propriedades, sem mesmo pedra para reclinar a cabeça, buscando sempre abrigo no interior do coração de pessoas que iam se fechando a ele, não lhe restando outra coisa senão tomar o bastão e buscar abrigo em outros corações. Tudo havia começado lá naquela noite antiga do Oriente, na singeleza do começo da aventura de Deus na terra dos homens, na noite despojada da gruta de Belém. Sim, perto de nós e à nossa volta está a fragilidade de Deus.


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5. Uma frágil criança, sem vontade própria, que não fala… Assim Deus vem à humanidade. Não como um conquistador ou um dominador, mas através de um presente que nos é feito. A pobreza desse nascimento tem tudo a ver com sua Paixão dolorida. Um Deus que se desapropria. Como que a dizer que o amor que salva é sempre desapropriação. Natal é a revelação de um Deus de humildade, que não vem obrigar o homem reconhecê-lo pelo medo. Quando chega a plenitude dos tempos e chega o momento das revelações, camos todos pasmos de ver a fragilidade de Deus. “Deus criança! Talvez estranhássemos menos se Deus tivesse ganhado corpo num

adulto com belo porte, um militar graduado ou chefe de Estado. A criança, contrariamente, é a gura da humanidade dependente que precisa ser alimentada, vestida, assistida em todos os momentos. A criança tem os olhos voltados para aqueles que têm a força, o ter e o poder. A criança necessita aprender. Aquele que é o Verbo necessita aprender a falar, esse Verbo que vai de um extremo ao outro da terra. Terá que aprender a andar. Deus perde sua onipotência. Ele se desarma totalmente e se submete à escolha de nossa liberdade. Deixará a todos os homens o poder sobre o mundo. Um Deus que se torna criança.

6. Deus é o criador. Tira do nada as estrelas e o ser humano do pó da terra. Agora, depois do pecado do homem, vai começar um mundo novo em que Deus se torna uma criança despojada, um Deus desapropriado. Começa agora um mundo novo que esse Menino chamará de Reino. Um reino que começa na fragilidade do rosto de uma dependente criança e que será inaugurado com a entrega irrestrita de um condenado à morte sem defesa. Um começo novo, distante do poder. “A liturgia do advento é um caleidoscópio de

imagens de nascimento e de novidade: é um jardim que surge no meio do deserto, é a libertação dos que estavam na prisão, é a expectativa realizada. Quem reconhecerá isso nos traços de um recém-nascido? Alguns pastores humildes em sua condição social; magos, humildes buscadores de verdade. Esses nos abrem os caminhos. Ela continua sempre aberta” (Christophe Chaland). Um Deus que abre mão de sua onipotência e é buscado pelos pequenos da face da terra.


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7. “Enquanto um profundo silêncio envolvia o universo e a noite ia no meio do seu curso, desceu do céu, ó Deus, de seu trono real, a vossa Palavra onipotente (Antífona de entrada da Missa de 30 de janeiro, inspirada em Sabedoria 18,14-15). No belo tempo do Natal, essas palavras soam forte aos nossos ouvidos. O Deus que se torna frágil aparece no quadro do silêncio e não do espalhafato e das proclamações ruidosas. Trata-se de um nascimento comum. Talvez para deixar de pensar no chocante que é esse nascimento de Deus numa criança fomos aos poucos sobrecarregando o Natal com elementos perfeitamente acessórios:

Papai-Noel, os presentes, a ceia. Tudo só tem sentido quando colocado em relação às núpcias de Deus com a humanidade: “Teu autor te desposará!” Com Cristo e no Cristo somos uma só carne”. Não é por isso que, no nal do tempo do Natal, costuma-se ler o evangelho das Bodas de Caná? Por ocasião do nascimento de Jesus, os evangelistas não mencionam nenhuma palavra de Maria ou de José. Eva, no Gênesis, é mulher prolixa. Maria, quieta, guarda todas as coisas no fundo do coração. A razão é que esta criança disse tudo, ele é toda Palavra divina e humana (Pensamentos de Marcel Domergue, SJ, in Croire Aujourd'hui, n. 251). 8. Tempos novos, tempos de simplicidade. Tempos de facilitar a encarnação de Deus no humano. Hoje, mais do que nunca, precisamos mostrar um Deus humilde que chega perto de nós. Ele está nos campos de concentração de ontem e de hoje, está nessas chacinas que ceifam a vida de seres queridos. No coração de tudo está não o Deus tonitruante, mas o Deus frágil, tão frágil como o menino das palhas, tão frágil como o torturado do Gólgota. Natal, tempo de serena e profunda alegria. Um menino nasceu para nós. Um Deus que vem bater as batidas de seu coração ao ritmo da batida de nosso peito. Um Deus que abdica de sua onipotência para estar perto da humanidade.


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9. Por vezes, temos a impressão que muitos se mostram indiferentes à fé cristã e à Igreja. Há sensível e preocupante diminuição dos éis cristãos. Nossas assembleias dominicais contam com poucos participantes e a grande maioria, em muitos lugares, constituída de pessoas idosas. Nem sempre a Igreja consegue ser expressibilidade da força do Evangelho. A festa do Natal, esse momento em que vemos um Deus que abdica do poder e abre mão da onipotência nascendo criança e fragilidade não seria um momento em que nós, discípulos de Cristo e membros da Igreja, venhamos a agir cristã e pastoralmente simplesmente a partir da pobreza do Deus das palhas? 10. Nada de tristeza, nada de espírito sombrio. Na pobreza do Natal, a alegria explode. Para Francisco, não existe sexta-feira nem abstinência quando o Natal cai em sexta-feira: “Beijava em famélica meditação as imagens daqueles membros infantis, e a compaixão pelo Menino, derretida em seu coração, fazia-o mesmo balbuciar palavra de doçura à moda de crianças. E este nome era para ele como o mel e o favo na boca. Uma vez que conversava sobre a questão de não comer carnes, porque era dia de sexta-feira, ele respondeu a Frei Mórico, dizendo: Irmão, pecas ao chamar de sexta-feira o dia em que o Menino nos foi dado. Quero que até as paredes comam neste dia e, se não podem, pelo menos sejam

esfregadas com carne por fora”. Que todos saibam que Deus se tornou fragilidade e abdicou de sua onipotência para poder viver perto de nós nossa aventura humana! É festa para sempre na terra dos homens! Frei Almir Ribeiro Guimarães

Frei Almir Ribeiro Guimarães é frade franciscano da Província Imaculada Conceição, nascido em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1965, período em que fez Licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia.


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FREI PAULO REIS ; (51) 8165 5715 ou pvofmrs@yahoo.com.br FREI FRANKLIN FREITAS ; (51) 9133 36 84 ou pazebemrs@hotmail.com FREI MIGUEL BECKER ; (51) 9539 8196 ou mibeckerofm@gmail.com


ARTIGO

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Às vésperas de celebrar o nascimento de Cristo.

Cidade do Vaticano – No Natal, vivem-se “as percepções interiores ao feminino”, próprias da espera de um parto: essas palavras do Papa Francisco nos indicam a atitude a assumir às vésperas de celebrar o nascimento de Cristo. Nesses dias que precedem o Natal, todos nós cristãos estamos como Maria, sentido tudo aquilo que as mulheres sentem no corpo e no espírito quando o lho está prestes a nascer. Ansiedade, desejo, curiosidade, vigilância. No período do Advento, a Igreja repete em uníssono: “Vem, Senhor”. Sentimentos que, segundo Francisco, deveriam provocar em nós um espírito de

abertura para acolher esta grande luz, sem jamais pendurar na porta de nossa alma uma placa com os dizeres “não perturbe”. Como diz S. Bernardo, o Senhor não vem somente duas vezes – o nascimento físico e no nal dos tempos – mas vem todos os dias. “O Senhor todos os dias visita a sua Igreja. Visita cada um de nós. E também a nossa alma entra nesta semelhança: a nossa alma se assemelha à Igreja; a nossa alma se assemelha a Maria”, disse o Pontíce na homilia da missa celebrada na Casa Santa Marta em 23 de dezembro de 2013, na vigília do primeiro Natal de Bergoglio como Papa>> Cyber Franciscanos Out 2014


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Francisco nos provoca, perguntando: “Estamos à espera ou estamos fechados?” Estamos vigilantes ou estamos certos de encontrar um “hotel” no caminho e desistir da nossa caminhada? Inspirados pelas provocações do Santo Padre, podemos nos dirigir aos comunicadores e questionar: Estamos abertos à comunicação da Verdade? Estamos vigilantes ou estamos certos de encontrar uma “retórica” no caminho e desistir do nosso compromisso com a Verdade? “O bem tende sempre a comunicar-se”, escreve o Papa em sua Exortação Apostólica, a Evangelii Gaudium. Uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. “Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros”. Neste

trecho encontra-se o fulcro da missão do comunicador, sobretudo se católico: a sensibilidade diante do sofrimento do outro. Sair de nossas redações rumo às periferias que necessitam ser comunicadas. No voo que o levava à Turquia, no nal de novembro, Francisco saudou os jornalistas que o acompanhavam recordando que o trabalho que desempenham é uma ajuda, um serviço ao mundo para que a atividade religiosa e humanitária seja conhecida. O desao é comunicar sem perder de vista a nossa humanidade, para que a evolução tecnológica e o “progresso” não sejam inversamente proporcionais à nossa evolução como pessoas. Um tema que mereceria mais cuidado, por exemplo, é o modo como o problema da violência é tratado pela mídia – a violência, aliás, é o tema do Ano da Paz promovido pela CNBB até o Natal de 2015. Cyber Franciscanos Out 2014


Palavras e imagens que circulam nos meios de comunicação parecem fomentar a criação de uma sociedade maniqueísta: de um lado, os homens de bem; de outro, os homens do mal. O resultado desse tipo de mentalidade é o que o Papa chama de “cultura do descartável”, ou seja, os excluídos do sistema. E diante de um Estado omisso e de uma Justiça ineciente, a tentação de fazer justiça com as próprias mãos passa a ser uma solução no país dito “mais católico do mundo”, suprimindo de vez a atitude de oferecer a outra face. Em seu ponticado, Francisco cunhou inúmeras expressões que dão bem o sentido dos éis “de mentirinha”: cristãos mornos, de confeitaria, de tinturaria, de salão, cristãos que participam da missa como evento social. São os mesmos cristãos que defendem a lógica de que “bandido bom é bandido morto”, e de que os verdadeiros

criminosos são os defensores dos Direitos Humanos. Diante desta lógica, e com a cumplicidade da mídia, o futuro não é promissor. Em entrevista à Rádio Vaticano, o vicecoordenador nacional da Pastoral Carcerária, Pe. Gianfranco Graziola, armou que, contribuindo para o clima de pavor, a mídia não ajuda a sociedade a enfrentar aquela que é a questão de fato, isto é, a de uma sociedade que precisa de políticas públicas, sobretudo no âmbito da juventude. “Temos que chamar a atenção da sociedade e isso também é tarefa da imprensa católica, que muitas vezes está mais preocupada em transmitir doutrinas do que os valores humanos que estão na Doutrina Social da Igreja”, declarou. É fácil gostar do Papa e do seu sorriso, admirar seu jeito e seus gestos, um pouco mais difícil, porém, é pôr em prática as suas propostas, que nada mais são aquilo que Jesus pregou. A coerência entre liturgia e vida é exigente, e requer perseverança, oração e graça. Requer também coragem, de ir avante, sempre. A mudança de mentalidade e de atitude começa agora, não em vista do Natal. Caso contrário, no próximo ano, faremos irremediavelmente as mesmas promessas. Bianca Fraccalvieri Jornalista do Programa Brasileiro da Rádio Vaticano Formada em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Londrina. Mestrado em Filosoa pela Ponticia Universidade Gregoriana de Roma


Vem, e segue-me. Mateus 19,16


ESPAÇO JUFRA

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“Já é dia de Natal”. O natal é o nascimento. Há tempos, celebra-se o momento em que Deus se fez homem e veio da forma mais humilde possível dialogar com seu povo. Pensar como um jufrista se prepara para esse momento é um tanto curioso. Pois no dia-a-dia, a busca pelo ideal de vida franciscano é constante, difícil sim e com diversos obstáculos, mas constante. E esse ideal que cresceu e ganhou o mundo

com Francisco começou há mais de dois mil anos. Com o nascimento, com Jesus, com sua vida, sua obra, seus exemplos e ensinamentos. Por isso, um jovem jufrista, um franciscano, prepara-se para o natal diariamente. Porque a vivência que buscamos e compartilhamos com nossos irmãos tem seu berço na manjedoura.

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Ainda assim, é inegável que o tempo que antecede o dia 25 é diferente. O mundo ao nosso redor passa a viver o natal, mas de diversas formas. Os sentimentos bons de solidariedade e cuidado com o outro e a família aumentam. Mas aumenta também a necessidade de comprar muitas coisas, muitos presentes, de preparar o maior banquete do ano, de se destacar na melhor festa da cidade. Sentimentos bons e outros que nem tanto invadem nosso cotidiano de muitos modos e, muitas vezes, a melhor das intenções nos desvia do caminho. Por isso, precisamos além de oração, observação e cuidado, para não deixar nosso ideal escorrer dentre tantos outros que surgem nessa época. Mas acima de tudo, o natal pode ser encarado como um recomeço. Se a ocasião aproxima as pessoas dos bons sentimentos, como o perdão, tão difícil em outras oportunidades, aí está a chance de encontrar um novo ponto de partida para a caminhada. Aqui não é preciso ir fundo, pensar em grandes reviravoltas, mágoas profundas, pois nem todos guardam algo assim. É preciso ser franco consigo mesmo, rever pequenas ações, palavras ditas na hora errada

ou omissões, por exemplos. Essas pequenas chagas podem ser bem maiores no outro, por isso não se pode deixa-las abertas. A reconciliação com o outro é o primeiro passo, mas a verdadeira é consigo mesmo. Perdoar-se, compreender-se, torna a busca pelo nossa ideal mais simples e segura. Com tudo isso, a simplicidade, a humildade e a alegria franciscana em tratar a vida, Por consequência, como já se sabe, traz a responsabilidade do exemplo. E entre outros tantos, São Francisco nos trouxe e assim mostrou um dos fundamentais do natal. O da cidade italiana de Greccio, em 1223, montado por ele representa mais do que as guras esculpidas formam. A ideia de Francisco foi compartilhar. Tudo o que envolveu o momento do nascimento, cada parte tem sua simbologia única que nos leva a reetir sobre sua importância. Mas acima de tudo compartilhar. Compartilhar a boa nova da chegada de Jesus, compartilhar um abraço apertado, uma fruta, uma palavra de conforto, um sorriso alegre, uma música de esperança, compartilhar amor. Ser instrumento da palavra e todas as boas coisas que ele carrega.

Luiz Valério Seles, Secretario de Ação Evangelizadora Regional da JUFRA/RS Cyber Franciscanos Out 2014


Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz. Onde houver Ódio, que eu leve o Amor, Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão. Onde houver Discórdia, que eu leve a União. Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé. Onde houver Erro, que eu leve a Verdade. Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança. Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria. Onde houver Trevas, que eu leve a Luz! Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna! Amém.

Cyber Franciscanos Out 2014


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