Apontamentos de Arqueologia de Benguela (I) O contexto geomorfológico das estações.
Legenda: cinza – formações Cretácico-quaternárias. Castanho: formações Protezoicas. Laranja: maciço antigo. Linhas: falhas (1)
Do ponto de vista geológico, o território que o texto se refere, é coberto por terrenos de formação CretácicoQuaternárias, junto à costa, correspondendo, pois a formações sedimentares que vão da Equimina até ao Sumbe, e uma faixa paralela àquela e à linha da costa, mais para o interior, que corresponde a formações Proterozoicas, mais antigas portanto. Quanto à orografia, as estações conhecidas, assentam em bancadas planas ( plateaux), situam-se ( hoje) entre os 90 e os 120 m de altitude e excepto o caso da Caotinha, que por causas provavelmente telúricas, vão dos 0 m (junto à praia) a cerca de 150 m no ponto mais alto.
Quanto à estatigrafia: O solo é formado por camadas em geral paralelas ao mar ( excepto em alguns locais como na ponta da Caotinha. Estas camadas são em muitos locais cortadas por linhas de água sasonal (oueds) , formando, nalguns locais verdadeiros canyons ( Baía farta, Canguengo, Tchitandalucúa etc) noutros a erosão pluvial terá formado vales largos limitados por escarpas, como o caso da Caota ou da Baía Azul. Nas escarpas, a erosão torna possível visionar a estratigrafia em corte e permitiu-nos também, descobrir artefactos, pelo menos en place. Camada superficial arenosa, de grão médio a fino por vezes com 10m de espessura em alguns lugares concrecionada ao que se sobrepõe, à superfície, por desagregação, uma sub camada de areia solta fina. Estas areias de cor avermelhada ( laterítica) terão sido depositadas numa fase de expansão do deserto do Kalaari. Neste estrato, localizam-se in situ ou en place os artefactos logo acima da camada inferior. À medida que caminhamos para o interior, esta camada atinge muitas vezes uns 20m.
Rocha arenítica siliciosa espessa (3 a 4 m) de cor de cinza claro a beje muitas vezes com fósseis de bivalves, de ostras e ossos de cetáceo, formando conglomerados com vestígios de erosão do mar (transgressão tirreneana). Nalguns locais, a rocha está erodida pelo mar ( apesar de hoje estar a 100 m abaixo). Na Caotinha é frequente na camada inferior de rocha, encontrar fósseis de vertebrados e restos de árvores fossilizadas. ( locais entre a casa dos padres e a ponta do Sombreiro). De resto, a ponta na caotinha as camadas sofreram a Leste, um “descaimento” fazendo com que haja uma inclinação de 20% com o mar a bater na rocha arenítica, que umas dezenas de metros para o interior está a cerca de 100m de altitude.
Estratos espessos de limito areias finas consolidadas, de cor laranja ou amarelo alaranjado, dispostas em camadas, separadas entre si por areias de cor cinza ou beje, ou por formações de calcite , gesso ou talco. Nalguns locais este estrato chega a ter 100 m em relação ao nível do mar.
Interpretação da evolução geológica dos locais. Apesar da “aridez “ da abordagem geológica, é fundamental, no caso de Angola onde não se dispõe ainda de um conjunto
de datações suportadas laboratorialmente. ( Lembro-me que o Luís Pais Pinto e antes o Dr. V. O. Jorge da UL bem se baterem pela sua instalação de laboratórios em Benguela, no primeiro caso e no Lubango, no caso do segundo.). Uma vez que os factos geológicos têm características idênticas no Sudoeste de Angola e onde algumas das formações estão datadas, os documentos materiais de comunidades humanas e da sua inter acção com o ambiente, podem por contextualização, serem aferidas cronologicamente. Assim o estudo da geologia permite explicar a acção predadora sobre determinados animais marinhos e depositados a mais de três km da costa actual e a mais 100m do nível actual do mar. Em termos práticos: Há mais de 300.000 anos o nível do mar encontrava-se 150-120 m do nível actual na zona de Benguela. Isso faz deduzir que toda a zona entre a Bela Vista no Lobito até aos morros das Bimbas e de S.António/Sombreiro, estivesse eventualmente debaixo de água durante umas centenas de anos. Por outro lado, o facto de se terem encontrado dezenas de artefactos em quartzo leitoso ou em quartzito, desde a Baía Farta ao Sombreiro, por essa altura (300.000 anos e mais) faz-nos deduzir que essas comunidades que viviam à borda de água, tivessem que andar uma centena de km quase, para ir buscar matéria prima para fazer os seus instrumentos, porque, sem dúvida, muitos foram talhados no local onde os utilizaram. (vários locais da bacia do Dungo, Ponta das Vacas, Caotinha e Sombreiro) Isto dá uma ideia da necessidade de obter informações sobre a formação dos terrenos, as jadizas e os afloramentos das rochas.
(Um exemplar de biface recolhido na Caotinha. 15cm) J. Sรก Pinto