Francisco Lopes-Santos
Ensaios sobre a COR Francisco Lopes-Santos © 2020
COR DE BURRO QUANDO FOGE A cor que não se encontra nos pantones nem nas escalas cromáticas
A cor não é nada mais, nada menos do que a captação da luz no nosso olho por três tipos de cones (pequenas células presentes no fundo do olho), cada um receptivo a três comprimentos de ondas de luz mais precisamente os cones “L”, sensíveis ao Vermelho (580nm); os “M”, sensíveis ao Verde (545nm); os S, sensíveis ao Azul (440nm)1. No entanto o termo "cor" é usado amiudamente em outros contextos tais como o esotérico o figurativo e em expressões idiomáticas. De forma figurativa, temos por exemplo "ficar sem cor" que exprime a palidez súbita de alguém seja por susto, doença ou emoção, "mudar de cor" que indica palidez ou ruborização da pele. Em expressões idiomáticas pode-se citar, "dar cor à vida" que significa mudar de atitude de uma mentalidade passiva para uma mais intensa e alegre, ou "não ver a cor do dinheiro" 1
nm - Nanómetro
que se utiliza quando se foi enganado no sistema financeiro (algo tão em voga nos nossos dias) ou apenas o não ter recursos financeiros, ou então a expressão que dá o nome a este texto “cor de burro quando foge”. De facto, muitas vezes ouvimos as pessoas usarem a expressão “cor de burro quando foge”, mas que cor é esta e será que é mesmo uma cor?
As cores podem ser obtidas através de duas formas. Através da síntese aditiva, que se aplica à luz e é a forma como funcionam os nossos olhos, ou seja, juntando três cores para obter uma nova cor. Ou através da síntese subtractiva, que se aplica aos pigmentos, e funciona de forma inversa, ou seja enquanto na síntese aditiva vamos juntando cores (intensidade luminosa) até obter o branco, na síntese subtractiva vamos subtraindo cores ao branco (diminuindo a intensidade luminosa) para obter as cores. A questão é esta: Será que poderemos obter a “cor de burro quando foge” de alguma destas formas e excluí-la de “expressão idiomática”? Na cultura ocidental, as cores estão relacionadas com as emoções do ser humano, logo uma cor que determina uma emoção, deve forçosamente ter de existir. Emocionalmente a “cor de burro quando foge” transmite vários sentimentos tais como o de transformação (a cor alterou-se), sinceridade (não saber qual é a cor original), dignidade (não ser apanhado em falta), respeito (não querer enganar quem nos inquire) e purificação (sentimo-nos libertos com a resposta). É por outras palavras, uma cor misteriosa que expressa uma sensação de individualidade e de personalidade que nos deixa calmos e tranquilos após a sua utilização. É uma cor que equilibra a mente e ajuda-nos a transformar as obsessões e os medos, pois após alguém nos perguntar “que cor é essa” e nós respondermos “cor de burro quando foge” sentimo-nos relaxados, soltos e com um sentimento de dever cumprido.
Na realidade, popularmente “cor de burro quando foge” alude ao fato de não se conseguir distinguir a cor de um animal que fugiu, ou por outras palavras, uma cor de que não nos conseguimos lembrar exactamente qual era. Segundo vários dicionários de expressões idiomáticas, chegamos à conclusão de que a referida cor se situa entre o verde, o amarelo e o castanho, sendo a mesma uma cor indefinida e feia. É de notar, no entanto, que não apresentam nenhuma explicação para a origem dessas cores. Há quem afirme que o termo tem um significado quase literal, levando em consideração que a cor parda do burro, após correr descabreado por uma estrada de terra afora, fica indefinida devido à lama e pó acumulado. Mesmo sendo uma explicação plausível, ela nunca foi comprovada. Alguns “eruditos” afirmam que não é uma cor, pois a expressão é uma corruptela de um ditado antigo que seria “corro do burro quando foge”, já que um burro não muda de cor quando foge, quando trabalha ou escoiceia, mas que apesar de ser um animal pacato, quando alguém o provoca ele assusta-se, enfurecesse e fica feroz, levando tudo pela frente. Portanto a expressão nada teria a ver com a tradicional cor bege pálida do animal, mas sim com o seu temperamento. Esta ideia advém do facto de a expressão “corro do burro quando foge” ter sido registada pelo linguista Antônio de Castro Lopes (1827 - 1901) na sua obra “Diccionario classico latino e portuguez” publicado em 1883, levando a concluir que o uso equivocado da expressão original acabou por dar origem a “cor de burro quando foge”. No entanto esta ideia cai por terra, já que encontramos a expressão “cor de burro quando foge” numa obra mais antiga, mais precisamente em 1844, no livro “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo2. Mas então quem tem razão e qual é a verdadeira “cor de burro quando foge”? Para chegarmos a uma conclusão lógica, vamos analisar a expressão de outra forma. Várias animais mudam de cor, ou por se sentirem ameaçadas, ou apenas por necessidade de se misturarem no meio ambiente, temos como exemplos disso o camaleão e o polvo, no entanto não é esse o caso do burro, pelo que a expressão deve vir de outro lado. Os nossos vizinhos brasileiros usam uma expressão sui generis, ao constatarem que por qualquer razão o seu burro (utilizado na lavoura, ou pura e simplesmente como transporte) fugiu, dizem: “meu burro azulou”, logo constatamos que, para os brasileiros, a cor do burro quando foge é azul.
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“mas por minha vida que a carraspana de hoje ainda me concede apreciar devidamente aqui o meu amigo Fabrício, que talvez acaba de chegar de alguma visita diplomática, vestido com esmero e alinho, porém tendo a cabeça encapuçada com a vermelha e velha carapuça do Leopoldo; este, ali escondido dentro de seu robe de chambre cor de burro quando foge, e sentado em uma cadeira tão desconjuntada que, para não cair com ela, põe em ação todas as leis de equilíbrio, que estudou em Pouillet”
Se procurarmos a origem da expressão na antiguidade, verificamos que “burrus” em latim significa “ruço” ou “avermelhado” e que, curiosamente, ruço é um termo comummente utilizado para se referir os equídeos, inclusivamente os burros. Já Vasco Botelho do Amaral sugere que a ocorrência da palavra burro na expressão “cor de burro quando foge” pode remeter efectivamente para uma cor (Amaral, 1958). Portanto se admitirmos esta origem da palavra será fácil explicar a expressão como variação posterior à perda do conhecimento de que "burro", originalmente, designava efectivamente uma cor, passando “cor de burro” a ser a expressão jocosa “cor de burro quando foge”. Portanto se juntarmos as duas opções concluímos que a “cor de burro quando foge” se situa entre o azul e o avermelhado, e se formos à nossa análise inicial, verificamos que existe uma cor situada entre esta gama cuja conexão metafisica se enquadra na descrição e que de facto encontramos nos pantones e nas escalas cromáticas. Espiritualmente é uma cor ligada à intuição, logo, é uma cor metafísica que se encontra associada à alquimia e à magia e é vista como a cor da energia cósmica e da inspiração espiritual. Essa cor simboliza a transformação, dignidade, respeito, purificação, devoção, piedade e sinceridade, ajudando-nos também a combater as nossas obsessões e medos. Essa cor é terciária, e é obtida através do violeta (cor secundária) à qual juntamos o vermelho. A sua designação Pantone é 19-3215 TCX (CMYK) e em luminescência (RGB / Computador) é 503E5C. O seu nome é Índigo.
Bibliografia Amaral, V. B. d., 1958. Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português. s.l.:s.n.
TODA A VERDADE POR TRÁS DA PSICOLOGIA DAS CORES Ou aquilo que faltava para se ser bem-sucedido no uso correcto das cores
I O que mais se encontra por aí são infográficos sobre a psicologia da cor e de como ela é utilizada em marketing e design de forma efectiva. Sob o estratagema de falsas pseudociências da psicologia da cor, encontra-se por todo o lado explicações do que representam as cores, dos seus significados, simbolismos, a sua influência no marketing etc. No entanto não se encontra em lado nenhum, um estudo sério sobre a psicologia das cores, da sua influência nas emoções humanas ou ainda como a diferença entre tons e matizes de uma mesma cor podem afectar a preferência dessa cor. Por exemplo, podemos associar o vermelho de um gindungo (malagueta vermelha) a algo picante, no entanto também podemos associar o vermelho, não tão intenso, de um tomate a algo agradável. Ou seja, nada é igual e nada é diferente, algo do género do slogan da Benetton “todos diferentes, todos iguais”. Como exemplo, para tentar entender esta ideia, vamos utilizar o Amarelo, provavelmente a cor mais utilizada em publicidade.
II Se perguntarmos a várias pessoas a que associam o amarelo, provavelmente dirão, cobardia, doença, ou algo amargo, no entanto encontraremos muita gente que o vai associar ao paladar agradável da manteiga, entre uma variada gama de outras sensações mais prazerosas. Todas as cores podem evocar reacções diferentes em pessoas diferentes, umas positivas e outras negativas. Para algumas o Amarelo é uma cor que aumenta a auto-estima e confiança, para outros será uma cor que nos fará sentir ansiosos, nervosos e até com náuseas. De facto, esta reacção positiva ou negativa a uma cor é o resultado, não só do envolvimento cultural, mas acima de tudo da nossa personalidade e vivencia pessoal. Segundo uma pesquisa efectuada por Yazhu Ling e Anya C. Hurlbert, Directora do Instituto de Neurociências da Universidade de Newcastle, afirma-se que "Existe uma universalidade subjacente à preferência de certas cores, mas, há também uma individualidade na escolha, que foge à compreensão subjacente de todos aqueles que trabalham com a psicologia da cor" (Anya C. Hurlbert, 2007). Há por isso muitas camadas de compreensão da psicologia da cor e da forma “inteligente” de a usar em design, do que seguindo a abordagem actual de "one size fits all". Percebendo estes princípios um designer pode e deve ter a capacidade de revolucionar a abordagem da forma como se trabalha a cor. Individualmente, de uma forma geral, estamos mais propensos a ser atraídos para grupos de cores que compartilham certas características na sua composição (Leon G Schiffman, 2013). Por exemplo, um adulto pode responder de forma mais positiva a tons azulados mais suaves, aparentemente mais sofisticados e atraentes do que a matizes mais brilhantes e nítidas que lembram tonalidades mais infantis.
Tons azulados mais suaves
Matizes brilhantes, mais claras
Outras pessoas podem sentir-se mais atraídas para tons mais quentes como terras e achar os contrastes fortes esmagadores
Tons terra quentes
Tons claros fortes contrastados
Portanto, um bom designer deve pensar criativamente sobre a versão mais apropriada de amarelo a usar perante o que quer transmitir, ou seja, se pretende usar o brilhante, alegre, simpático e optimista amarelo, em vez do mais convencional empoeirado, bastante confiante, mas sofisticado suave amarelo. O segredo é na realidade trabalhar com outras cores da paleta que compartilham as mesmas características. Elas terão uma harmonia visual natural que vai apelar para nós instintivamente, enquanto promove qualidades positivas e emotivas de cada cor individual.
III No entanto, com esta pequena dissertação, estamos a fugir do objectivo principal, relacionar as cores no contexto cultural, etimológico, sinestésico e no contexto do Marketing vs. Publicidade. Como ficou claro anteriormente, tais conceitos só funcionam de forma individual procurando a publicidade ligar factores comuns ou culturais a determinadas cores, tentando dessa forma atingir uma determinada percentagem de pessoas, sendo, no entanto, impossível atingir a sua totalidade. Por outro lado, a publicidade e o marketing, também tentam forçar o gosto individual, levando as pessoas a acreditar que as cores estão relacionadas com o que querem transmitir e não com aquilo que verdadeiramente sentimos. Esta forma de pensar, não passa de uma lavagem cerebral gradual, que o marketing tem levado a cabo ao longo dos tempos, fazendo as pessoas acreditar que, por exemplo, as meninas gostam do “cor-derosa” e que os meninos gostam do “azul” para dessa forma vender produtos específicos e orientados. Ironicamente, Anya C. Hurlbert no seu estudo sobre as cores e as diferenças entre os sexos, concluiu que na realidade existem mais raparigas a gostar de azul, do que rapazes, e que o inverso, mais rapazes a gostar do cor-de-rosa do que raparigas, também acontecia (Anya C. Hurlbert, 2007), o que contraria o “senso comum” a que estamos habituados ou que, sejamos realistas, nos foi impingido. Na sequencia deste estudo, é licito dizer que todos os conceitos que fomos apreendendo ao longo dos tempos, poderão estar de facto errados, logo conceitos como Vermelho estar associado a “paixão, fogo, sangue, energia, audácia, força, excitação, atenção”, Laranja a “carinho, amizade, equilíbrio, outono, justiça, barato, ambição, sucesso”, Amarelo a “alegria, diversão, juventude, verão, precaução”, Verde a “naturesa, frescura, ecologia, calma, diplomacia, boa sorte, dinheiro, ganancia, inveja”, Azul a “estabilidade, confiança, liberdade, inteligência, realeza, frio, tristeza”, Purpura a “romantismo, sensualidade, ecletismo, físico, místico, decadência, saúde, nobreza, náusea”, Castanho a “rustico, terra, calor, vintage, amizade, trabalho duro, honestidade”, Branco a “pureza, inocência, limpeza, verdade, divino, paz, esterilizado, inverno” e Preto a “poder, sofisticação, contemporâneo, alto, qualidade, morte, mal, noite”, não passam de mal formações temporais que foram transformadas ao longo do tempo consoante os interesses comerciais.
IV De facto, se formos analisar a origem dos nomes das cores, verificamos que consoante as várias culturas os seus significados são diferentes, logo os conceitos variam na sua raiz. É preciso não esquecer, que na antiguidade, a grande maioria das línguas não tinham nomes para todas as cores e foi com o evoluir da sociedade que eles foram surgindo. As cores mais antigas e comuns eram o preto, o branco, o vermelho, o verde, o amarelo e o azul, sendo que as outras cores foram surgindo ao longo dos tempos mediante a sua maior utilização, logo necessidade de representação.
Para exemplo vamos usar as origens latinas e as germânicas das cores primordiais, mesmo levando em consideração que a maioria das línguas europeias e parte das asiáticas tiveram um ancestral comum falado à volta de 5 mil anos A. C. que recebeu o nome de proto-indo-europeu (PIE). Foi a partir desta protolíngua que surgiram as línguas românicas como o português, o francês, o espanhol, o italiano e o romeno, e as germânicas como o inglês, o alemão e o holandês. Nome da cor Origem Latina Preto Black
Branco White
Vermelho Red
Verde Green
Amarelo Yellow
Azul Blue
Origem Germânica
Vem do latim appectoráre que significava “comprimir contra o peito” e transmitia sensação de denso. Com o tempo, a palavra transformou-se em apretar e posteriormente chegou à forma actual. A palavra “negro”, que é sinónimo de preto, tem sua origem no latim nigrum.
Vem do proto germânico blakkaz que significa “queimar”, evoluiu para blaec (inglês antigo) e posteriormente chegou à forma actual.
Em latim, o oposto da cor mais densa (preto) era albus que deram origem a alvo e albino, que remetem à cor branca. Já a própria palavra “branco” entra nas línguas latinas por via germânica e significa “algo reluzente, brilhante ou polido”.
Vem do proto germânico khwitz que significa “brilhante”, evoluiu para hvitr (nórdico antigo), hwit (saxão antigo) e wit (holandês). Mais umas misturas e a palavra chegou à forma actual.
Vem do latim vermiculum que significa “pequeno verme”, e tem a ver com o facto de o pigmento vermelho, na antiguidade, ser obtido do insecto “cochonilha”.
Vem do proto germânico, rauthaz que significa “corado”, evoluiu para raudr (nórdico antigo), rod (saxão antigo) e rØd (holandês), chegando até a palavra actual.
Vem do latim viridem que significa Vem do nórdico antigo graenn que significa “jovem ou imaturo”, em “crescer”. saxão antigo transformou-se em grene evoluindo para a forma actual. Vem do latim amarus que significa Vem do proto germânico, gelwaz que “amargo” uma referência ao significa “semelhante a jovem”, já que a palavra era usada tanto para amargor da bílis dos ictéricos. verde quanto amarelo. Posteriormente evoluiu para gulr (nórdico antigo), gel (germânico médio) e geolu e geolwe (inglês antigo) evoluindo para a forma actual. A origem latina é caeruleus que significa “veio do céu ou do rio” e derivou para cerúleo um termo pouco utilizado. O nosso tão conhecido Azul, veio do Árabe que por sua vez foi importado dos Persas e era o nome de uma pedra preciosa lazward (hoje conhecida por Lápis-lazúli que é de cor… Azul, obviamente) que derivou em azzurum e finalmente na palavra actual.
(Melissa, 2014) (Viaro, 2009)
Vem do proto germânico blaewaz que significa “brilhar” que evoluiu para o inglês antigo como blaw, chegando aos tempos modernos com a palavra actual.
As cores mais recentes, ganharam o seu nome, na sua maior parte, dos objectos que tinham essa cor, tanto na nossa língua como nas estrangeiras. Um exemplo é o caso de Laranja (fruta), Castanha (fruto), Rosa (flor) ou Purpura (doença, cujo nome tem origem grega e vem da coloração obtida pela pele após uma picada de um peixe comum no mediterrâneo cujo nome era porphura). Por este pequeno exemplo verificamos que a mesma cor, consoante a origem linguística / cultural, tem origens diferentes, logo, conotações culturais diferentes. Por isso, todos aqueles infográficos sobre a psicologia das cores, para a nossa cultura não passam de importações anglo-saxónicas imposta pelo marketing estrangeiro, já que, tal como referi, não existe nenhum estudo sério sobre o assunto. A verdadeira realidade é que tudo aquilo que “sabemos” sobre a cor e a sua influência no marketing, não passa de suposições empíricas sem um contexto real que vem passando de professores para alunos como um dogma, não levando em consideração os gostos individuais. Hoje em dia, começa-se a verificar uma alteração de paradigma na publicidade e em vez do conceito tradicional do "one size fits all (one for all)", começa a surgir o conceito de “all for one” em que a experiencia individual influencia o circulo de amizades, mas a verdadeira publicidade do futuro, quando existir tecnologia para isso, irá ser orientada a um nível pessoal e, um “anúncio”, irá ter as cores os sons e eventualmente os cheiros que estejam codificados no subconsciente dessa pessoa e apenas dessa pessoa, provocando um tipo de lavagem cerebral inconsciente levando esse individuo a tomar decisões baseadas nesses conceitos. A única conclusão a ter é de que a realidade actual é falaciosa e utiliza princípios empíricos sem base científica condizente o que se pode verificar pela variedade de conceitos bem como a replicação dos mesmos para várias cores. Se acreditasse-mos no que se lê presentemente sobre o assunto, seria completamente indiferente usar o vermelho ou o preto para, por exemplo, promover uma marca de comida, pois o seu tom apelativo é exactamente o mesmo.
V Todos estes conceitos levam-nos a uma invariável ironia, a ironia da cor. Essa ironia assenta no facto de que o ser humano, mais do que viver num mundo de sons, habita num mundo de imagens em que, 80% das informações que recebemos são de natureza visual e onde se supõe que 40% dessa informação tem a ver com a cor (Küppers, 1992), daí a sua importância como meio portador de informação e, como manifestação estética. A cor está de tal maneira interligada com a nossa realidade que passamos por ela sem nos apercebermos. Estamos rodeados por casas, roupas e objectos coloridos que poluem diariamente o nosso ambiente visual e, a percepção que temos deles, transforma, modela a paisagem e altera a fisionomia do nosso meio ambiente, fazendo parte integrante da imagem e da identidade do nosso espaço individual e urbano. Não nos podemos esquecer de que a cor é uma percepção sensorial com efeitos simbólicos, associativos, sinestésicos e emocionais (Mahnke, 1996) e a capacidade para se entender o fenómeno da cor em toda a sua multidisciplinaridade é das maiores dificuldades que os especialistas têm, pois o fenómeno da cor é muito mais complexo do que se subentende à primeira vista e, apesar de muitos especialistas estudarem e investigarem a cor tanto a nível estético artístico ou físico, bem como a nível científico na química e na medicina ou mesmo na filosofia, a realidade é que nunca se efectuaram estudos credíveis a nível de publicidade. Um dos factores que não se leva em conta na publicidade é o facto de que cores fortes com muitos padrões visuais e muita luminosidade exigem muita atenção voluntária e
involuntária das pessoas pelo que utilizar imagens totalmente acromáticas ou uniformes, criam uma resposta monótona e pouco estimulante, por isso a utilização de imagens com cores ditas neutras, mas que na verdade não o são, é impróprio quando se pretende criar um ambiente colorido e equilibrado. Ter cor, não significa estar “colorido” (Mahnke, 1996). Para concluir, a verdadeira realidade da utilização das cores na publicidade e aquela que todos nós deveríamos saber, é de que um publicitário/criativo, tem que levar em consideração a importância de promover a variedade para atrair e despertar interesse, da mesma forma que para criar uma boa impressão e satisfazer os ensejos e promover o desejo é essencial a unidade (Mahnke, 1996). Muita variedade gera confusão, muita unidade gera monotonia. Para se obter um produto final conciso e apelativo é necessário aplicar a postura Zen da vida, ou seja, no meio está a virtude.
Bibliografia Anya C. Hurlbert, Y. L. (21 de Agosto de 2007). Biological components of sex differences in color preference. Current Biology, 17, R623–R625. Küppers, H. (1992). Fundamentos de la teoría de los colores. México: Ediciones Gustavo Gilli SA. Leon G Schiffman, A. O. (2013). Consumer Behaviour (6 ed.). Australia: Pearson Education. Mahnke, F. H. (1996). Color, Environment, & Human Response. New Jersey, USA: Wiley. Melissa. (28 de Janeiro de 2014). The Origin of the English Names of Colors. Obtido em 14 de Maio de 2015, de Today I Found Out - Feed Your Brain: www.todayifoundout.com/index.php/2014/01/origin-english-names-colors Viaro, M. E. (17 de Agosto de 2009). A origem dos nomes das cores. Obtido em 14 de Maio de 2015, de Mundo Cor - O Portal das Cores: http://www.mundocor.com.br/cores/cor_culturas.asp