l+d luz
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design
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a r q u it et u r a
ISSN: 1808-8996
R$16,00
ESPECIAL LIGHT+building, FRANKFURT ARMAZéM DO BARãO, SãO PAULO HARPA MUSIC HALL, REIQUIJAVIQUE cemitério PARQUE DAS ALLAMANDAS, LONDRINA BC PLACE, VANCOUVER
especial: light+building 2012
Tecnologia e liberdade A cada edição da Light+Building reafirma-se mais o desprendimento entre os processos criativos e os processos de desenvolvimento tecnológico. A miniaturização das fontes de luz, e sua eficiência cada vez maior, permite aos designers atalhos para suas formas, que se tornam assim mais livres. Nesta vertente de possibilidades, cada vez mais a luminária adquire maior personalidade junto aos outros componentes de mobiliário, como se quisesse tornar-se a “cadeira” do século 21. Na outra vertente interessante, as luminárias ditas “técnicas” adquirem uma maturidade cada vez maior, e já se preparam para enfrentar melhor os desafios energéticos que se apresentam. Ainda há muito a fazer, e também muitos descaminhos a trilhar até que se sobressaiam as verdadeiras e precisas respostas, aqueles que realmente conseguem agregar eficiência sem prejuízo das qualidades – tão prezadas – do desenho da luz: conforto, qualidade de cor, uniformidade, e tantas outras. A feira é uma oportunidade de se ver e analisar as diferentes opções – felizes e infelizes – feitas pelos fabricantes. Já se ouve falar, com bastante frequência, dos “100 lm/W” para LEDs. A barreira dos três dígitos foi quebrada, quando há muito pouco se falava e se raciocinava em 40 lm/W. A cada vez que o LED se torna mais eficiente, diminui, além do consumo, o “gerenciamento térmico” por lúmen, portanto, uma dupla vantagem. Menos energia consumida e menos calor a ser dissipado.
Mas a dissipação de calor é ainda o desafio estético e tecnológico. Tornou-se comum ouvir nos estandes a expressão “dissipadores ativos ou passivos” (active / passive coolers), referindo-se às maneiras de se retirar calor do LED, ou por simples convecção, ou por ventoinhas. Estas últimas conseguem aumentar em 50% o fluxo luminoso dos LEDs, mas, claro, consomem energia (pouca) e são mais um item de manutenção. Ainda não está claro se soluções mecânicas se tornarão um padrão ou serão abandonadas no trajeto. Entretanto, não são apenas os engenheiros que se debruçam sobre os dissipadores. Designers também o fazem, e desta forma é que, por exemplo, o miniprojetor da Artemide (Cube – Carlotta de Bevilacqua) usou as aletas dissipadoras de calor de forma ortogonal e geométrica, incorporando a função à estética da peça com excelente resultado. Deixou de ser um tédio caminhar por tantos estandes a apresentar LEDs, LEDs, LEDs. Aos poucos os LEDs azulados e pobres em cor vão dando lugar a outros, cada vez mais adequados ao que esperamos de uma fonte de luz. A “mão invisível” dos lighting designers e do mercado em
Liberdade de criação nas propostas de Arturo Alvarez Morr – a lã e a madeira são referência ao design escandinavo na criação de Christina Liljenberg Halstrøm Mon – Arturo Alvarez – tributo a Piet Mondrian Spline – A-cero, Joaquín Torres y Rafael Llamazares – traço livre na luminária de luz indireta, nas versões de piso e de teto Kite – Arturo Alvarez – formas lúdicas e
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coloridas inspiradas em “pipas”
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Cube, Artemide – desenhados por Carlota de Bevilacqua, que usa as aletas dissipadoras de calor de forma ortogonal e geométrica, incorporando essa função à estética da peça
Pleat Box, Marset – parceria entre o ceramista catalão Xavier Mañosa e o Studio de design Mashallah, de Berlim, essa luminária contrapõe o acabamento rústico e poroso da cerâmica à superfície dourada e brilhante do interior da luminária Kwark, Fabbian – Karim Rashid criou uma estrutura metálica tridimensional e vazada – a luz é refletida na superfície plana do fundo da luminária Lumi, Fabbian – Alberto Saggia & Valerio Sommella – D&G Studio – nova morfologia nessa versão dos clássicos plafoniers em vidro
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geral acaba por impor ao desenvolvimento tecnológico que procure por soluções não apenas mais eficientes, mas, além disso, mais confortáveis. De um jeito ou de outro se pode dizer que temos uma “participação” neste processo, simplesmente por exercermos nossas profissões. E é nesse ponto que a trajetória tecnológica se intercepta com a estética. Outrora era modismo se fazer uma luminária “também na versão LED” – mas era claro o prejuízo estético desta opção. Não mais. Mesmo aquelas que têm oportunidade de ser redesenhadas “também para LED” – como a Tolomeo, a mais revista de todas as peças, ao menos o fazem sem perda do seu sentido original – nesse sentido, sobrevivem. Mas esta é a menor parte da história. O fato é que todos estão procurando novas possibilidades, e não é só o design que ganha com isso – ganham também os interiores, os ambientes, os espaços, que ficam melhores com as novas possibilidades. Em 2010, já se via uma maior e real liberdade de formas decorrentes desta fonte. Agora, esta tecnologia tomou conta dos estandes de design: varetas luminosas, formas orgânicas, rachaduras luminosas e outras surpreendentes apropriações de uma tecnologia que vai finalmente amadurecendo e ganhando leituras a partir de suas características intrínsecas. A mudança de cor, tão festejada em edições anteriores, voltou ao seu tamanho: apenas um recurso, como muitos outros, a ser empregado
TamTam, Marset – Fabien Dumas – essa luminária consiste num conjunto de “tambores” – um elemento central, e 3 ou 5 satélites que se conectam através de um mecanismo que permite 360° de orientação. Em alumínio laqueado e metacrilato difuso Rythm, Vibia – Arik Levy – composta por varetas conectadas por um ponto central; cada vareta pode ser movimentada em torno de um eixo, criando uma grande variedade de composições – verticais ou horizontais. Disponível em 25 diferentes variações, podendo ainda ter sua composição personalizada Bloom, Prandina – pendente para iluminação direta e indireta em vidro soprado
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opalino soprado
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Luce Volante / ManOMan – os elementos pendentes de Ingo Maurer nos transmitem a ideia de leveza, flutuando no espaço. Para iluminação direta e/ou direta e indireta Mino, Aqua Creations – aqui, Ayala e Albi Serfaty revisitam-se a si mesmos. Confeccionadas em seda, material icônico do portfolio de Aqua Creations, apresentam formas geométricas desenvolvidas sobre uma estrutura rígida de policarbonato – ao invés das estruturas metálicas feitas a mão. Em suas versões de maiores dimensões, podem ser utilizadas como divisórias luminosas
IN-EI, Artemide – revisitando os clássicos “Akari” de Isamu Noguchi, Issey Miyaki cria uma família de luminárias que combina a tradição japonesa com novas tecnologias. As formas são criadas em 3D a partir de um programa matemático, e construídas em um tecido reciclado a partir de garrafas PET, utilizando
M i m o sa C lo u ds , A q u a Creations – construída numa
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estrutura esculpida a mão, 78
formada por fios de metal galvanizado revestidos por uma membrana translúcida, nos faz lembrar as esculturas luminosas de Ayala Serfaty “Soma”, em capilares de vidro, apresentadas em Milão em 2007. Cada elemento traz a memória do fazer manual, apresentando sutis variações em sua forma final
em algumas circunstâncias. Já mudar de temperatura de cor, que no fundo é o que interessa, cada vez mais será incorporado ao cotidiano, seja ele corporativo ou residencial. Todos hão de querer – e terão – “Tolomeos” – aqui em sentido figurado – que possam ajustar-se ao clima meteorológico ou psicológico da ocasião. A médio prazo isto terá se tornado banal, e até o pendente da sala de jantar terá este atributo. Os designers incorporarão naturalmente esses recursos, como quem agrega um dimmer ao acendimento. E o que falta ainda ao LED, e o que esperamos e veremos em 2014? Mais vermelho no espectro, espera-se. Ainda não é uma fonte tão bem adaptada à cor da pele, aos marrons, aos tons mais noturnos. Em 2014, esperamos que os LEDs sejam indistinguíveis das halógenas neste quesito. Ainda falta um pouco. E falta o preço cair mais, para diminuir os paybacks – hoje ainda longos - em relação às outras fontes – fluorescentes compactas e vapores metálicos.
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LEDs como fonte luminosa
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Bauhaus, Lumini – produzidas nos modelos
Maxxi Poppy, Viabizzuno – cúpulas
de piso, mesa ou parede, a Lumini apresenta
em fibra de vidro vermelho, para
a família de luminárias Bauhaus, de Fernando
lâmpadas a vapor metálico de 35W,
Prado – agora, em sua versão para LEDs.
70W ou 150W. Desenvolvidas pela Viabizzuno em parceria com o estudio Startt, sediado em Roma. O produto foi desenvolvido para o projeto whatami, vencedor do concurso YAP (young architect program) em 2011, para o museu Maxxi, de Roma (Zaha Hadid) www.fondazionemaxxi.it whatamiproject.blogspot.com
As três luminárias da Artemide apresentadas abaixo ilustram a liberdade de criação, e diferentes olhares sobre as possibilidades tecnológicas da indústria de iluminação New Nature, Ross Lovegrove / base metálica, corpo em termoplástico moldado – iluminação difusa e indireta Empirico Terra, Karim Rashid / polietileno rotacionado moldado – luminária de piso para iluminação difusa Pirce, Giusepe Maurizio Scutellà / disco de alumínio cortado e deformado em espirais. Pendente para
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e desta forma distribuem sua emissão por toda a superfície de peça, sendo por isso muito menos ofuscantes. É provável que esta tecnologia se sobreponha às demais. Mas o que é excitante numa feira como Frankfurt é sair de um raciocínio abstrato e funcional como esse e pouco depois se deparar com gigantescas tulipas vermelhas (Viabizzuno – Maxxi Poppy), como que a dizer o oposto de tudo isso e lembrar que o ambiente externo não é apenas este das vias, ciclovias e vias de pedestres. Existe espaço para o design e para a poesia e é isso que torna a feira sempre tão instigante. (Por Carlos Fortes e Gilberto Franco)
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iluminação indireta
Outra evolução interessante está sendo a da iluminação pública. Ainda será necessária muita “seleção natural” para que os postes públicos com LED sejam realmente agradáveis e não ofusquem quando acesos. Mas temos já algumas pistas. Na primeira geração, descobriuse que era possível orientar e fixar cada LED na direção desejada e, assim, conseguir uma boa curva. Tecnicamente perfeito, mas como ofuscamento um desastre, já que toda a luz para cada ângulo vinha de uma área muito pequena. Mas isso terá de ser abandonado e dar lugar à nova tecnologia de LEDs e colimadores em que cada um apresenta o DNA da peça toda, ou seja, todos emitem o mesmo facho de luz,
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