Revista Sintonia Social - edição 11

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Luz

2020

Batuque Caiçara Segurança Alimentar Maricultura no Litoral Norte Triagem de Resíduos em São Sebastião

Foto: Nívia Alencar

Compostagem em Ilhabela Consciência Negra - Isonomia Étnica

Espaço Batuíra São Sebastião



UTILIDADE PÚBLICA ALERTA: Risco iminente de epidemia de dengue em São Sebastião

Ilhabela vista do Bairro São Francisco, São Sebastião

Olá Leitor Apresento nova edição de Sintonia Social, desta vez com formato maior para valorizar mais os assuntos aqui tratados, que visam exatamente o mote desta mídia: “Por uma sociedade desenvolvida e solidária”. Águas subterrâneas no Litoral Norte; programa de saúde física e mental; Consciência Negra - igualdade entre etnias; O drama de um maricultor - vida marinha da qual dependemos; bitucas de cigarro – quem fuma tem onde descartar este mal; Batuque Caiçara – coisas do Brasil; comida de verdade; compostagem em Ilhabela e triagem de resíduos em São Sebastião, que há 30 anos lançava coleta seletiva no Litoral Norte. São estes temas que trago para sua reflexão neste começo de ano, em que costumamos renovar as certezas e ações de fato para sermos melhores em todos os sentidos. Em 2020 (4 de outubro) teremos eleições municipais. Pela primeira vez, os partidos não poderão fazer alianças para disputar as câmaras municipais – somente para as prefeituras. Mas a mudança real depende da sociedade civil, a meu ver, ou seja, cada um de nós, inclusive frente às urnas eleitorais. Nivia Alencar

A Prefeitura de São Sebastião mantém o combate ao mosquito Aedes Aegypti, mas houve aumento do índice de infestação do inseto transmissor da dengue no último trimestre. No mesmo período, maior incidência da doença no Sudeste do Estado, resultando em risco iminente de nova epidemia em São Sebastião no início de 2020. Agentes da Vigilância Epidemiológica de São Sebastião, vinculada à Secretaria de Saúde (Sesau), visitam os imóveis em busca de criadouros. Em caso positivo da doença, a VE desencadeia controle imediato de criadouros na área em questão. O monitoramento conta com geoprocessamento, que permite visualizar com maior precisão os casos da doença e índices de infestação para o combate à proliferação do mosquito e disseminação do vírus. A maior parte dos focos do mosquito está nos quintais de domicílios. Uso constante de repelentes é recomendável. O Governo Municipal pede à população que redobre os cuidados no combate à dengue: Água acumulada implica risco, portanto: • Garrafas vazias ou baldes virados para baixo • Quintais e ruas limpos, sem entulho e lixo • Pneus guardados em locais cobertos, longe da chuva • Limpos e cobertos caixas d'água, poços, piscinas • Calhas e lajes limpas e desobstruídas • Tonéis e barris de água tampados • Tanques d’água lavados semanalmente com escova e sabão • Terra ou areia nos pratos dos vasos de planta • Descarte objetos em desuso que acumulam água • Lixo em sacos plásticos e lixeira bem fechados

SINTONIA SOCIAL é uma revista da Alencar e Constancio Agência de Jornalismo LTDA/ME (12) 3893-1811 (12) 99144-2739 NS Comunicação Editoração - diagramação - imagens Nívia Alencar - MTb 21.218 e Frank Constancio - MTb 28.786 nscomunicacao.agencia@gmail.com Tiragem: 3 mil exemplares • Edição 11 JAN-2020 • Litoral Norte (SP) SINTONIA SOCIAL | JANEIRO- 2020

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Água subterrânea no Litoral Norte Frank Constancio/NSComununicação

Águas subterrâneas existem sob a superfície do terreno e circulam nos espaços vazios entre grãos que formam as planícies porosas e entre fraturas das rochas da Serra do Mar, por exemplo. Este recurso hídrico é de grande importância e altamente estratégico. Trata-se de reservatório natural, protegido pela superfície arenosa e sedimentar, capazes de armazenar e transmitir água em quantidades que possam ser aproveitadas como fonte de abastecimento. Para alguns municípios do Estado de São Paulo, a água subterrânea é a única fonte de abastecimento. Os principais problemas ligados aos aquíferos são a superexplotação (exploração excessiva neste patrimônio hídrico) e contaminação. Estudos sobre disponibilidade hídrica subterrânea no Litoral Norte mostram excedente hídrico subterrâneo nesta região, porém existem poucos estudos e estes não contabilizam as captações irregulares. Em relação à contaminação, as maiores fontes são postos de gasolina e esgoto (fossas). Infelizmente, nesta região, a água subterrânea é ignorada como fonte de reserva e abastecimento pelas concessionárias e prefeituras. Mas casas, condomínios, hotéis e pousadas, em diversos bairros por todo o Litoral Norte, sem contar com serviço público de saneamento básico, utilizam a água subterrânea como fonte de abastecimento em grande escala sem controle. A maioria absoluta das captações (poços) é irregular, ou seja, sem autorização (outorga) do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (Daee). É de extrema importância o uso consciente e proteção dos aquíferos, por meio da regularização das captações existentes e outorga das novas captações, assim como combater a contaminação dos aquíferos. Alexsandra Leitão e Geólogo Daniel Brandão são geólogos da empresa RHiGeMA – Recursos Hídricos, Geologia e Meio Ambiente

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EDUCADORA FÍSICA LANÇA Treinamento físico e mental Nutrição e atividade física diária para resultados em 30 dias

Regiane Aguilar

Frank Constancio/NSComununicação

Regiane Aguilar, nascida em São Paulo, reside em São Sebastião há três meses. Quiropraxista, ela também atua há 20 anos como educadora física. “Venho neste tempo ajudando pessoas, com treinamento para expansão de consciência”, ela diz, explicando que se transferiu para São Sebastião para ter melhor qualidade de vida e vencer. “Eu me ajudo, ajudando as pessoas”. Regiane tem o objetivo de fazer as pessoas despertarem suas capacidades físicas e mentais, “o que também depende de bons sentimentos como gratidão e respeito”, diz. “Nossos medos desaparecem porque confiamos que a vida tende a ficar melhor”. Ela realizará Treinamento por 30 dias que inclui nutrição e atividade física diária, como práticas para toda a vida para evitar doenças físicas e psíquicas. “Se você se dedicar por 30 dias terá resultados gigantescos”. O treinamento terá grupos de 30 a 50 pessoas partir de 11 anos. Os participantes serão submetidos a consultas e terão programa alimentar de nutricionista. Regiane afirma que o fortalecimento individual começa pelo cumprimento de tarefas, metas a cada dia. As inscrições serão pelo site bootcamptranfpormacao.com.br. BootCamp - Dia 15 de dezembro, aconteceu o treinamento “BootCamp Transformação, em parceria com a Prefeitura de São Sebastião. O evento visa o desenvolvimento físico e mental. “Despertamos as pessoas para enfrentarem as dificuldade em buscas de seus sonhos”, diz Regiane. Os participantes - 120 pessoas atravessaram obstáculos para então buscar seu sonho na metade do percurso representado por um tronco de eucalipto de até 2 quilos. A largada (foto) aconteceu na Praça da Vela, bairro Porto Grande, pela manhã. O secretário de Esportes de São Sebastião, Philipe Marmo, considerou ótimo o evento e prevê a parceria da Prefeitura em mais duas edições em 2020 em outros bairros. SINTONIA SOCIAL | JANEIRO -2020

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Dia da Consciência Negra 365 dias ao ano Texto Nívia Alencar “Minha primeira paróquia fazia parte do Quilombo do Caçandoca (Ubatuba). Tive professores que me ensinaram que acima de tudo está a fraternidade. Estou aqui para desejar Paz, Axé, Shalom e me sentir irmão, construtor de uma cidade onde existam respeito e sentimento fraterno”. As palavras são do padre Alessandro Henrique Coelho, da Igreja Matriz de São Sebastião, ao final do evento que marcou o Dia da Consciência Negra na cidade (20 de novembro), na Capela São Gonçalo. O encontro entre o padre, sacerdotes e sacerdotisas simbolizaram amor e paz entre as religiões. Após o pronunciamento do padre, o sacerdote Ataualpa de Figueiredo Neto, do Candomblé, festejou e pediu aos presentes que se abraçassem, momento de muita alegria. Houve lavagem simbólica do templo e exibição do grupo de Maracatu Odé da Mata que percorreu as ruas do centro, acompanhado pelos integrantes do Candomblé e da Umbanda, com suas vestes tradicionais, até a Rua da Praia. O evento não contou com bom contingente de participantes e público, o feriado também contribuiu com o vazio das ruas no centro, mas o preconceito existe e é visível, o que motivou a presença do padre Alessandro em terreiro de Candomblé, provisório, na capela católica São Gonçalo. A Lavagem da Capela São Gonçalo, organizada pelas lideranças das religiões afro-brasileiras, tem como principal articulador Ataualpa Neto, com apoio da Prefeitura de São Sebastião, da Fundação Educacional e Cultural Deodato Sant’Anna, e da Acubalin (Associação de Cultura Banto do Litoral Norte), por ele presidida. O objetivo é comemorar o mês da Consciência Negra, trazendo para o município a tradição nascida no universo afro-católico da Bahia. A lavagem da escadaria da Igreja Nosso Senhor do Bonfim na Bahia faz parte dos ritos e representações religiPág 6

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Kátia Aparecida de Oliveira e Silvana Cristina Rodrigues

Ataualpa de Figueiredo Neto, sua esposa Tania e Janaína de Figueiredo

osas da Festa que ocorre desde 1754 em Salvador, quando o rito era muito característico nas religiões africanas sendo proibido pela Igreja, em razão de preconceito contra a cultura e religião dos negros escravizados. Hoje, esse ritual simboliza o respeito entre duas matrizes religiosas, católica e afro-brasileira. A água representa purificação nesses dois sistemas religiosos. A imagem do Senhor do Bonfim abarca dois significados: para os católicos, Cristo crucificado e para candomblecistas, Oxalá. Ambos se purificam com a água. Em 2013, esse evento cultural e religioso foi declarado Patrimônio Imaterial Brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (IPHAN). Dia 20 de novembro é uma data importante de combate ao racismo e preconceitos. Segundo, Janaína de Figueiredo, antropóloga pela USP, “o caminho para igualdade racial e combate ao preconceito também passa pelo entendimento de como nossa africanidade foi construída”. Janaína é a idealizadora de Acubalin, fundada em 2003, que nasceu com propósito de trabalhar educação e cultura para valorização do patrimônio Afro-Brasileiro e Africano. “O preconceito, muitas vezes, tem a ver com desconhecimento, por isto a educação pode melhorar a sociedade”, ela diz. Acubalin desenvolveu o projeto “África na Escola”, premiado pelo Ministério da Educação, em 2005. Trata-se de ação em escolas públicas na divisa entre Caraguatatuba e São Sebastião - oficinas com as crianças, de arte e contação de histórias com tema Afro. Janaina entrou para a vida literária há 4 anos, durante seu doutorado, quando pesquisou os mitos afro-bantos. De acordo com ela, existem muitas Áfricas desconhecidas da sociedade brasileira. “A África Banto é muito pouco conhecida. Ela abrange um território entre aproximadamente a República do Congo até a África do Sul, a macro região Banto, como denominada. Grande parte dos povos bantos veio ao Brasil como escravos”, afirma Janaina.

A antropóloga explica que a partir dos bantos, diversas manifestações culturais surgiram no Brasil, como Capoeira de Angola, Maculelê, Congada, Folia de Reis e, no campo religioso, o Candomblé Angola. Explica que o candomblé é dividido em diversas nações (grupos). “Muitas pessoas conhecem as nações de candomblé originadas pelos povos denominados ‘nagô’. Então, Oxossi, Xango, Iemanjá entre outros orixás são mais conhecidos. Kaetumba, DandaLuba, Kabila, e demais, são ‘inkisis’ (orixás) da nação angola pouco conhecidos da sociedade brasileira”.

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Escritora e sua memória afetiva - “Minha ligação com o candomblé é afetiva porque nasci neste meio, desde pequena frequento este universo”, diz Janaina. Aromas, texturas e sons a remetem ao mundo afro religioso. Afirma que a religião para si é outra lente na tarefa árdua de entender o mundo. Cita que somos criados em uma cultura ocidental, monocultura, com viés colonialista. “Nossas mentes são colonizadas”. Para Janaína, o candomblé é uma “subversão” a esta condição. Afirma que o marxismo (Karl Marx 1818-1883) também reflete a cultura ocidental, “criada por homens brancos ocidentais; esta minha percepção me levou a romper com o marxismo, masculinista e fundado na branquitude”. “As feministas negras têm dado muita contribuição sobre outros modelos teóricos. Devemos pensar o feminino negro, as religiões não monoteístas e hegemônicas”. Janaína iniciou militância pelo candomblé a partir de ataques a terreiros. “Sou branca, nunca sofri racismo, mas vivi a intolerância religiosa ligada ao racismo, o que me levou a estudo acadêmico sobre as religiões afro-brasileiras e relações raciais. Tudo isto me fez imergir no candomblé”. Ela finaliza com as palavras de seu pai, Ataualpa Neto ou Tata Kalajacy (como sacerdote): “O Candomblé ama a vida, céu e inferno estão na vida, opta pelo relativismo frente aos conceitos de bem ou mal e sexualidade é fonte de vida e prazer”. Pág 7


Fotos: Cedidas por Juliano Mathion

Lucas de Castro Navarro

Por Nívia Alencar Lucas de Castro Navarro, de Ubatuba, 35 anos, preside a Associação de Maricultores do Estado de São Paulo (Amesp). Residente na Ilha do Mar Virado, Ubatuba, herdou do pai o cultivo de mexilhões em 1980, possivelmente um dos pioneiros em todo Estado. No mesmo ano, sua família sofreu cenário dramático forte derramamento de óleo bruto no mar. “Até hoje há locais mais altos com placas de petróleo”, diz Lucas. Ele lembra que uma empresa estrangeira assumiu lavar a costeira, mas o produto usado para remoção do óleo era ainda mais tóxico, o que provocou extermínio de peixes. “Cresci mergulhando por aqui, a área foi considerada imprópria e a maricultura suspensa por quase 20 anos”. Lucas retomou a maricultura em 2002. “Eu mergulhava e via um mar vazio, sem vida. Descobri que a maricultura tem capacidade impressionante de recuperar a biodiversidade. É incrível a vida que surge numa gaiola de vieira, um grande volume de alevinos nas sombras das algas, a vida que vem numa meia de mexilhões ou sob um tanque de peixe a espera de migalhas de alimentos ou rejeitos da pesca”.

Arrasto e rejeito de pesca - Ele cita o fato de a pesca de arrasto destruir a flora ao fundo do mar, removendo bentons. “Pela malha, aproveitam apenas os camarões, os filhotes de peixes são desprezados. Este rejeito de pesca, em parceria com os maricultores, tem muita utilidade desde que bem armazenado porque não pode apodrecer no convés”. Ele cita às discussões sobre a minuta do Plano de Manejo da APA Marinha, sobre uso do território. “Mantemos resistência para proteger a maricultura. A luta tem sido pesada”, falou antes da votação sobre a minuta (12 de dezembro). Lucas e seu grupo defendem ao menos 1% da APA Marinha Pág 8

Jovem mariculto triste cenário no

Vida marinha dá sinais de de

reduzir impacto sobre est

maricultor e do Litoral Norte para a maricultura. “Somos os agricultores do mar, estamos enquadrados em agricultura familiar”. Pelo texto aprovado o índice é 0,5%, mas toda minuta ainda depende de aval do Conselho de Meio Ambiente (Consema).

Kappaphycus - Conforme a especialista Maria Claudia França Nogueira, engenheira e mestre em aquicultura e pesca, a Kappaphycus alvarezzi melhora seu entorno, tanto para maricultura de moluscos como para a pesca. “Por isso seu cultivo foi autorizado no Litoral Norte paulista e Sul fluminense pela instrução normativa Ibama 185 desde 2008, entre Itaguaí, na Baia de Sepetiba (RJ), e Ilhabela (SP), sujeito apenas à aprovação do Plano de Manejo para ser implementado em Unidades de Conservação”. Maria Claudia também afirma que o cultivo de algas serve como berço de alevinos, a forma embrionária dos peixes. Maria Claudia afirma que “maricultura pode reduzir impacto sobre os estoques pesqueiros”. Ela cita que peixes sempre vão existir, mas o que pode ser comprometido é a SINTONIA SOCIAL | JANEIRO - 2020


Cultivo de algas Kappaphycus alvarezzi, Ilha do Mar Virado, Ubatuba. Projeto piloto em parceria entre Fazenda Marinha Conchal do Mar Virado, de Lucas Navarro, e Instituto de Pesca

or testemunha o Litoral Norte

esequilíbrio. Maricultura pode

toques pesqueiros, dizem

e especialista capacidade de recuperação dos estoques para abastecimento comercial, estudo contínuo do Instituto de Pesca. A especialista acentua que o desequilíbrio da vida marinha é perceptível pela simples pergunta: Hoje temos as mesmas espécies de peixes, do mesmo tamanho, disponíveis, o que era comum para gerações anteriores, de nossos pais?

Vieiras – passado de sucesso - Quanto à produção de vieiras (bivalves), Lucas cita apenas dois laboratórios para reprodução de sementes - Angra dos Reis (RJ) e Florianópolis, este mais focado em ostras e mexilhão. “Há 15 anos dependemos do laboratório de Angra dos Reis, na Baia da Ilha Grande, temos dificuldade de acesso a estas sementes que servem mais aos maricultores do Rio de Janeiro”. Durante anos ele abasteceu restaurantes em São Paulo, vendia até 300 dúzias de vieiras por semana. “Hoje, a venda caiu para zero, o mar está doente, com acidez elevada, mudanças de temperaturas abruptas, salinidade alteradas com maré vermelha, independente da estação do ano”. SINTONIA SOCIAL |JANEIRO -2020

Há três anos, ele não consegue proceder ao plantio de vieiras. “Tenho estoque remanescente que plantei em 2017; cinco dúzias de vieiras apenas para observar a condição do mar. Com excesso de chuva ou calor, muitas morrem e incrustantes novos invadem as gaiolas e reduzem os microorganismos”. Segundo ele, uma manta destes invasores se fixou nos costões, oriundos de tráfego constante de navios. “Se não estivermos protegidos por leis seremos extintos; bivalve é indicador de áreas contaminadas; cultivos próximos a plataformas são interessantes para laudos dos contaminantes”. Lucas cita que outra dificuldade é ter acesso a materiais como gaiolas. “Precisamos importar e somos obrigados a comprar 500 unidades e pagar parcelas que variam de R$ 2 mil a 2.500, conforme variação do dólar. A consequência é usar material inadequado gerador de resíduos”.

Advogdo afirma que aquicultura “não é garantia de biodiversidade” O advogado Eduardo Hipolito do Rego, residente em São Sebastião, foi secretário de Meio Ambiente em São Sebastião governo anterior. “Com Evandro Sebastiane, engenheiro aquícola, promovemos o primeiro laboratório de alevinos do bijupirá em São Sebastião - não mantido na atual gestão”. Enfatiza que a aquicultura é superdefensável, mas não é garantia de biodiversidade. “Há vazio enorme sobre o que é aquicultura e o enriquecimento de biodiversidade, a maricultura é monocultura. Quando se cultiva um único organismo com ração, como o bijupurá, entre outros, há impacto ao meio ambiente, portanto não é a salvação do planeta. O mexilhão, a ostra e crustáceos, em geral, com algumas exceções, são cultivos sem ração, o que é legal e atrai pescadores artesanais para a prática”. Quanto ao arrasto ele cita que tanto o industrial como artesanal são brutais porque não existe outra técnica para comer camarão. “O arrastro artesanal abastece nossas peixarias, em São Sebastião - pescadores do Bairro São Francisco, famílias muito simples, vivem de Seguro Defeso quando a captura de camarão é proibida. Eles têm direito legítimo, assim como também tem direito donos de fazendas de aquicultura”. Eduardo frisa que manter tudo isto com sustentabilidade é o grande desfio. “Quando falamos em território da pesca e APA Marinha, como organismo gestor - a unidade de conservação é muito importante, assim como o plano de manejo, mas com a participação dos atores”. Ele diz que pescadores artesanais fazem barulho porque não são ouvidos. “No Gerenciamento Costeiro em 2004, fizemos área de exclusão de pesca de camarão para recuperação de banco genético da Enseada, São Sebastião. Os estoques de camarão voltaram. Mas proibir tudo sem considerar os atores, não dá”. Pág 9


Fotos: Poiato Recicla e Flow

SE VOCÊ AINDA FUMA, BUSQUE CAIXAS COLETORA DE BITUCAS Bitucas contém quase 9 mil substâncias tóxicas Uma ótima iniciativa é desenvolvida por duas em- Amigos da Praia de Guaecá), em São Sebastião, presas parceiras. Trata-se do Programa de Coleta de além de Marina Porto Ilhabela, Cafeteria Pé de Café, Reciclagem de Bitucas de Cigarro, da Poiato Recicla, Terral Maresias, em São Sebastião. de São Paulo, e Flow Desenvolvimento Sustentável, de São Sebastião.

Conforme Tatiana, o programa também promove educação socioambiental. “Temos a econo-

A empreendedora social Tatiana Prestes de Barros mia circular (*) e o encaminhamento correto destas Araujo, da Flow, explica que caixas coletoras de bitucas bitucas. Cada uma delas contém cerca de 9 mil são instaladas em locais estratégicos. Tais comparti- substâncias tóxicas”, afirma. mentos contém informes sobre o encaminhamento correto das bitucas.

Ainda segundo Tatiana, estudo da Universidade de São Paulo (USP) alerta que duas bitucas

As bitucas são recolhidas a cada mês pela Poiares em 1 litro de água equivalem a 1 litro de esgoto Recicla e destinadas à usina de reciclagem em em termos de DBO (Demanda Bioquímica de OxiVotarantin (SP), onde são removidas substâncias tóxi- gênio), no caso, a redução de oxigênio na água. cas – processo executado pela Universidade de Brasília Em Ilhabela, a Prefeitura abrigou este programa (UnB), que resulta na produção de massa celulósica, em janeiro de 2018. São 130 caixas coletoras matéria-prima para fabricação de papel artesanal.

de bitucas nesta cidade.

No Litoral Norte, o programa é aplicado em Ilhabela e São Sebastião com apoio da Prefeitura de Ilhabela, (*) Economia Circular - Eliminar resíduos e poluição; Samju (Associação de Moradores de Juquehy), Instituto Manter produtos e materiais em ciclos de uso; de Conservação Costeira, Saguaecá (Associação de Regenerar sistemas naturais. Pág 10

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Fotos: PMSS

Batuque Caiçara ... coisas do Brasil Cultura Afro & Caiçara “Batuque Caiçara nasceu ao término de uma roda de três capoeiristas”. Assim lembra um deles, o compositor, cantor e construtor de atabaques e pandeiros, Nivaldo de Sena Barbosa, nascido na Bahia. “Achamos, então, que a roda de samba não devia servir somente ao encerramento da capoeira. Era 2014, estávamos em Ilhabela - Quinzinho, Nenê e eu. A partir daí, tocamos em vários lugares em Ilhabela e São Sebastião”, conta Nivaldo. O samba de roda inclui as mulheres sambadeiras, de saia, preferencialmente. “Nosso samba de roda vem do Recôncavo Baiano, das tradições da Cultura Afro, dos antigos, do terreiro de candomblé e também da capoeira”. Segundo Nivaldo, o samba pode incluir outras formas de concepção. “Assim, trouxemos o samba para o universo caiçara, com sua gente, suas canções, sua canoa, suas histórias, lendas, comida caiçara”. Como muitos encontros na vida, Batuque Caiçara sofreu primeiro rompimento. Alguns integrantes desistiram, sob justificativa de distâncias geográfica. “Prosseguimos nosso projeto com músicos e as sambadeiras que promovem interação com o público”. Elas demonstram que qualquer pessoa pode dançar ao ritmo do samba de roda. Maria Cândida de Sena, de Cruz das Almas (BA), é a mãe inspiradora de Nivaldo. Ele também integra “Maracatu Odé da Mata”, e diz que ritmos convivem em meio a todas as etnias. “Meu tambor pode ser instrumento de percussão de Fanfarra, assim como do Candomblé”. Eu, autora deste texto, tive grato prazer de conhecer Batuque Caiçara em uma noite de inverno, na Casa Caiçara, São Sebastião. O som musical inebriante ultrapassava os limites da casa, onde a alegria reinava porque samba de roda é assim, eleva a alma. Jovem argentino, que tocava guitarra na avenida quase vazia, foi muito bem recebido ao momento na Casa Caiçara regado a café com garapa no fogão a lenha. E nada estava programado... SINTONIA SOCIAL | JANEIRO-2020

Batuque Caiçara, em sua fase inicial, teve pesquisas sobre a cultura Afro e Caiçara. Integrantes do grupo viajaram com este objetivo ao Recôncavo Baiano. Nivaldo tem como sua origem o batuque de Feira de Santana, na Bahia. Em São Sebastião, ele já organizou diversos encontros de capoeira, com samba e públicos do Brasil e do exterior. Como o baiano Nivaldo escolheu São Sebastião para viver? Seu pai, Calisto José Barbosa, morava nesta cidade desde 1977, era pedreiro. Em 1990, resolveu trazer a família. “Minha mãe também veio, mas voltava à Bahia. Somos da roça, em Cruz das Almas, Feira de Santana, cidade de grandes festas juninas, onde minha mãe planta café, mandioca, milho, jaca, mamão, coco, cria galinha, só compra a mistura, e samba muito bem”. Batuque Caiçara atrai novos integrantes que chegam, que vão e que também ficam. Os ensaios acontecem na Casa das Artes ou em quiosques, ambos os lugares na Rua da Praia, São Sebastião, a cada 15 dias. Batuque estará sempre aberto a novos integrantes. Também fazem parte desta trupe: Mariana Paes, artistas plástica, figurinista, oceanógrafa, grafiteira, atriz, docente de artes, nascida na capital paulista, criada em São Sebastião; Marco Antonio Siqueira, psicólogo, nascido em Ilhabela; Juliana de Andrade Souza, bióloga, nascida em Sergipe, está há um ano em São Sebastião. Estreante em Batuque Caiçara em novembro; Paula Cristina Dalla Pozzar de Brito, psicóloga paranaense, está desde menina em São Sebastião; José Roberto Matos, professor, nascido em Minas Gerais, está há 27 anos em São Sebastião; Ubirajara Araujo Junior, nascido e residente em São Sebastião, funcionário da Secretaria Municipal de Turismo, e professor de capoeira; Alessandro Roberto, professor e capoeirista de Ilhabela, Gabriela Cordoni de Lara, podóloga, paranaense, residente em São Sebastião há 36 anos, e Nivaldo de Sena Barbosa. Mais sobre Batuque Caiçara: facebook e Instagram. Pág 11


Segurança Alimentar e Nutricional Por Antonio Marchiori e Soraia de Fátima Ramos A comunidade internacional reconhece o direito humano ao acesso permanente à água e alimentação para a vida saudável. Entretanto, o Relatório Anual Estado de Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (2017), da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), estima que 815 milhões de pessoas estejam subalimentadas. Em 2014, o Brasil conseguiu sair do mapa mundial da fome. Diversas políticas públicas contribuíram para combater a fome e pobreza, melhorando a produção agrícola familiar de produtos diversificados que ajudaram a população de baixa renda a ter melhor alimentação. A reativação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em 2003, e a instituição do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), em 2006 contribuíram para políticas públicas voltadas ao fortalecimento da segurança alimentar e nutricional no país. O conceito Segurança Alimentar e Nutricional abrange não só acesso aos alimentos, mas também qualidade biológica, sanitária e nutricional dos produtos. O acesso aos alimentos deve ser regular e permanente. A produção na roça deve estar amparada em sistemas sustentáveis, como a produção de alimentos orgânicos e práticas agroecológicas que respeitem e conservem o solo, a água e a biodiversidade. Cada região tem sua forma diversa de se alimentar, o que deve ser respeitado. Merenda Escolar - Exemplo importante de política pública para segurança alimentar e nutricional à população é o Programa Nacional de Alimentar Escolar (PNAE). Desde 2009 as Prefeituras são obrigadas por lei a usar pelo menos 30% dos recursos repassados pelo governo federal para comprar da agricultura familiar, dando preferência à produção local e regional. Tal política ajuda na geração de trabalho e renda e Pág 12

contribui para acesso a alimentos de melhor qualidade. A compra local da agricultura familiar favorece a opção pela comida natural no cardápio escolar. A oportunidade de vender para as Prefeituras fortalece a agricultura familiar. A comercialização em circuitos curtos estimula a diversificação da produção – o que beneficia a população local, que passa a ter acesso a alimentos que viajaram menores distâncias a preços mais justos e alimentos mais preservados. Em 2016, Ubatuba recebeu o prêmio Josué de Castro do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, graças à rica diversidade de alimentos locais e aquisição de grande volume para merenda escolar procedente de agricultores familiares deste município. Mudanças nas formas de produção de alimentos nos últimos anos intensificaram uso de combustíveis e agrotóxicos. Cultivos são planejados para único tipo de produto. Esse modelo em larga escala facilitou a produção industrial de alimentos a baixo custo, mas de baixa qualidade nutritiva. Crianças são bombardeadas por propaganda voltada ao consumo de produtos industrializados, do que decorre com ênfase a obesidade infantil. SINTONIA SOCIAL | JANEIRO - 2020


Você tem fome de quê A Educação Alimentar nas Escolas pode dar grande contribuição ao aumento da Segurança Alimentar e Nutricional na nossa região: De onde vem o alimento, como é produzido, porque preferir produção local e como se alimentar para ter mais saúde, são temas para bons hábitos alimentares na rede pública e particular de ensino. Tal desafio deve ser cobrado e praticado pelo país. Todo consumidor tem papel decisivo para estimular a agricultura familiar de nossa região e a produção de alimentos orgânicos. Procure ter mais informações sobre como se alimentar melhor e sobre como é produzido aquilo que você come. Sabendo se alimentar, você pode ajudar a mudar a mudar o mundo!

Antonio Marchiori é engenheiro agrônomo e presidente da Associação Paulista de Extensão Rural. Soraia de Fátima Ramos é pesquisadora e diretora do Instituto de Economia Agrícola SINTONIA SOCIAL | JANEIRO - 2020

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Ilhabela cultiva projeto de compostagem Texto e Fotos: Nívia Alencar

Ação no Hospital Mário Covas é reconhecida pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Centro de Vigilância Sanitária e Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis

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O Hospital Mário Covas, da Prefeitura de Ilhabela, desenvolve projeto de compostagem de materiais orgânicos descartados, após triagem pela cozinha da instituição. A ação começou em agosto de 2018, a cargo do gestor ambiental Luiz Paulo Nogueira de Mattos, especialista em gerenciamento de resíduos. Nascido em São José do Rio Preto (SP), ele reside em Ilhabela há 5 anos. É proprietário da LPA Consultoria Ambiental, prestadora do serviço ao Hospital Mário Covas. Luiz Paulo atuou como gestor ambiental, em multinacional, em São José do Rio Preto, produtora de suco de laranja, com usina de compostagem em larga escala. O adubo decorrente do processo era usado nas fazendas da empresa. No hospital de Ilhabela, o projeto teve início com educação ambiental, especialmente, na cozinha, geradora de resíduos. O adubo gerado nas composteiras do hospital é doado à comunidade local. Trata-se de adubo sólido e líquido. O hospital gera cerca de 20 quilos de resíduos por dia pela cozinha e 1 tonelada/mês em média de adubo. O adubo também é usado nos jardins do hospital e doado aos funcionários da instituição. No início de novembro, houve doação de 150 quilos de adubo e 100 litros de biofertilizante a conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), em Ilhabela, para cultivo de horta. Luiz Paulo explica que adubo líquido, resultante da fermentação do material nas composteiras, é composto pelo hormônio “auxina” que fortalece as raízes das plantas. Desde o início da compostagem no hospital até o momento (novembro de 2019), cerca de 20 toneladas de resíduos da cozinha não foram desperdiçados em aterro de lixo. Luiz Paulo frisa que todo trabalho de compostagem no hospital é feito sob as normas de três instrumentos legais: Resolução 481|Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente); Política Nacional de Resíduos Sólidos (artigo 36, inciso 5º); e Resolução 222 | Agência de Vigilância Sanitária. A Anvisa, por exemplo, proíbe sobra de alimentos de pacientes em composteiras para evitar risco de contágio por manuseio. Todo resíduo usado para compostagem antecede o preparo (cascas de frutas, legumes, ovos, folhas, borra de café, chás).

SINTONIA SOCIAL | JANEIRO - 2020


“O tripé da sustentabilidade é: Inclusão Social, Educação Ambiental e Gerenciamento de Resíduos. O resíduo que era lixo se torna adubo para fertilização e plantio, e volta como alimento às mesas” . (Luiz Paulo Noqueira de Mattos)

Usinas de compostagem são para produção de adubo destinado a hortas, flores e frutos. O oposto são caminhões lotados de lixo rumo a aterros, processo caríssimo e não ecológico. Acima, Luiz Paulo Nogueira de Mattos. Abaixo, composteira coberta de serragem que mantém umidade - Hospital Mário Covas, Ilhabela.

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A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, o Centro de Vigilância Sanitária e a Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis, juntos, contemplam hospitais conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) que mantém práticas ambientais. Pelo segundo ano consecutivo, o Hospital Mário Covas recebe este certificado de reconhecimento. Em 2018, entre 81 instituições do país, Ilhabela ficou entre as 10 melhores. Em novembro, o Hospital de Ilhabela fez parte de sessão de pôsteres da Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis, no Auditório Rebouças, em São Paulo, com a presença convidados do Brasil e exterior. Há dois meses, Luiz Paulo também aplica compostagem em cerca de 40 escolas municipais, incluindo das ilhas do arquipélago. Resíduos da Unidade de Saúde de Barra Velha também abastecem as composteiras do hospital. Ele concorda que usinas de compostagem poderiam ser adotadas em todo Litoral Norte, havendo interesse de gestores públicos. Segundo ele, a Vigilância Sanitária do Estado, neste ano, incluiu compostagem hospitalar para fins de licenciamento anual. Luiz Paulo quer expandir a compostagem nas demais Unidades Básicas de Saúde, criar horta comunitária, com pessoas da terceira idade, e convidar a comunidade para levar seu resíduo orgânico ao Ecoponto da Saúde Verde. Ele também afirma que para ampliar o trabalho de compostagem do Hospital Mário Covas será necessário transferi-lo para área maior a fim de dobrar a capacidade atual de 1 tonelada de adubo/mês. Katia Murayama, nutricionista, é uma das coordenadoras da cozinha do Hospital Mário Covas, onde atua desde julho deste ano. Ela afirma que contribuir para a compostagem ampliou critério na disposição de resíduos. “Talos de legumes e folhagens e algumas cascas e sementes não são mais jogados ao lixo, mas aproveitados no preparo de outros pratos para fins nutricionais”. Pág 15


Centro de triagem, tarefa essencial, ainda longe de ser respeitada A cada um de nós a responsabilidade de cuidar dos resíduos que geramos. Visite a Coperativa de Sucata de São Sebastião e sinta as razões

Há 30 anos, São Sebastião, lançava a coleta seletiva de lixo no Litoral Norte, graças à bióloga Patrícia Blauth, falecida em agosto de 2017 Luciana Costa de Souza é coordenadora do centro de triagem de materiais recicláveis em São Sebastião. Nascida em Palmópolis (MG), reside há 22 anos em São Sebastião. Atua há 20 anos na Copersuss (Cooperativa de Triagem de Sucata União de São Sebastião). São 20 cooperados, a grande maioria mulheres. Um dos principais problemas do centro de triagem é espaço restrito. Caminhões despejam os resíduos no local, formando amontados de sacos e caixas de papelão. Para piorar, muito conteúdo orgânico também chega, gerando infestação de ratos e insetos. “Recebemos fralda descartável, fezes de cachorro e restos de comida”, diz Luciana. Segundo ela, acidente de trabalho é raro porque os trabalhadores usam luvas e botas. “Não usam roupas de uniforme, preferem tecidos mais confortáveis”. Ela afirma que o material triado é vendido a intermediários em Caraguatatuba, comercializam PET em Lorena (SP) e outros produtos na capital. A receita mensal fica em torno de R$ 30 mil. A Prefeitura de São Sebastião aluga o espaço e faz a coleta seletiva. “Pessoas buscam trabalho aqui, mas não temos espaço. Aos finais de ano, quando o volume de resíduos aumenta muito, contratamos reforço para dois turnos de trabalho – 7 às 15h e 15h às 23h”. A carga horária comum é 7 às 17h”. Falta esteira de triagem para favorecer os cooperados que hoje “catam” os produtos em meio a imenso e variado volume. Não há espaço para esteira. O centro de triagem recebe alunos da rede escolar para despertar cidadania. “As crianças perguntam se o lixo da casa delas está aqui, explico que se separam a sucata, o lixo não vem pra cá”. Pág 16

Em área ao fundo do galpão funciona uma só prensa porque o sistema de energia elétrica é insuficiente. Boa parte da área ao ar livre não tem pavimento. Neste espaço são mantidos ainda rejeitos da triagem como latas com restos de tintas e aparelho de TV - aproveitam cobre. Este rejeito é tratado como lixo para aterro. “O que não conseguimos vender os caminhões de lixo levam”, diz Luciana, que espera espaço maior para a Coperssus. SINTONIA SOCIAL | JANEIRO -2020


Fotos: Frank Constancio/NSComununicação

Secretário de Meio Ambiente frisa limitação da Coperssus para compactar materiais

Copersuss: Av. Eng. Remo Correia, 41, centro de São Sebastião

Cooperados na difícil triagem encontram muitos elementos indevidos. Em novembro deste ano, a Copersuss vendeu 107,1 toneladas de sucata Os cooperados recebem valores entre R$ 1,3 mil a R$ 1, 6 mil, em média, com base em horas trabalhadas. O nível escolar varia entre ensino fundamental e médio. Luciana lembra de Nilsete e Jucelia, entre os cooperados, aprovadas em concurso da Prefeitura de Ilhabela, que deixaram a Copersuss. Luciana completou ensino fundamental, tem duas filhas e quatro netos. SINTONIA SOCIAL | JANEIRO -2020

O engenheiro ambiental Daniel Mudat, secretário de Meio Ambiente de São Sebastião, afirma que 8 toneladas em média de materiais recicláveis foram levados a Copersuss, entre janeiro e junho de 2019 - cerca de 1.300 quilos/mês. Ele explica que o mercado compra o material em fardos - pet, papelão e alumínio. “Quanto mais se produz fardo mais aumenta as condições de brigar por preço - questão de oferta e procura”. Daniel reconhece que os cooperados sofrem a limitação operacional por ter apenas uma prensa em operação, o que eles atribuem à falta de espaço. “Eles vendem esse material, em sua grande maioria, para atravessadores em Caraguatatuba, justamente por conta da pequena quantidade. Embora tenha aumentado volume de recicláveis à cooperativa, a capacidade de produzir fardos depende da operação da prensa”. O secretário cita como exemplo: um comprador final, interessado em reciclar plástico ou papelão mandaria um caminhão a São Sebastião, mas para voltar lotado. “Isto muitas vezes não é possível, sem melhores condições de trabalho e equipamentos”. Daniel fala sobre a importância da conscientização acerca dos resíduos domésticos. “Cerca de 20 pessoas vivem do trabalho do Centro de Triagem. Trata-se de família sob fragilidade econômica. Nós, moradores, temos que ao menos separar o material reciclável dos resíduos orgânicos, retirando alimentos que possam deteriorar, causando mal-estar e atraindo roedores. É importante dois compartimentos – para resíduo seco e úmido (reciclável e orgânico)”. Sugere acondicionar lixo comum em sacos pretos. E destaca ser fundamental não dispor no mesmo período ambos os tipo de resíduos sob pena de os trabalhadores da coleta não saberem distingui-los, o que faz todo e qualquer resíduo chegar ao centro de triagem ou ainda recicláveis pararem em aterro sanitário. “Precisamos exercer cidadania até por questão de saúde pública; temos muito a melhor em nossa sociedade”. Segundo a Prefeitura, em volume de lixo comum recolhido, a média no primeiro semestre deste ano foi 3,6 toneladas mês, totalizando 2.970,93 ton. no período Pág 17


Frank Constancio / NS Comunicação

Projeto Mãos que Acolhem oferece ‘café solidário’ às 5ª feiras a pacientes submetidos à quimioterapia e a seus acompanhantes no Hospital de Clínicas de São Sebastião

“Onde encontro um ser mortal, encontro Vontade de Poder” Frase atribuída ao filósofo F. Nietzsche

5 de Dezembro de 1985 Dia Internacional do Voluntariado

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SINTONIA DAS ONGS Centro de Convivência da Terceira Idade Polvo de São Sebastião Rua Eduardo Cássio, 220 Porto Grande (12) 3892-2747 AAMS (Associação de Amparo à Mulher Sebastianense) Rua Nossa Senhora da Paz, 38, Centro, São Sebastião (12) 3892-2202 ASSAE (Associação Sebastianense de Amor Exigente) Rua Ipiranga, 153 - Centro, São Sebastião (12) 3892-2180

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