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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

FREDDY COSME NEIVA RODRIGUES

CIDADE, IDENTIDADE E RENOVAÇÃO URBANA: UMA ANÁLISE DA CIDADE DE TIMÓTEO.

Coronel Fabriciano, MG 2015


FREDDY COSME NEIVA RODRIGUES

CIDADE, IDENTIDADE E RENOVAÇÃO URBANA: ESTUDO DE CASO DA CIDADE DE TIMÓTEO

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial

para

obtenção

do

título

de

Arquiteto e Urbanista, Orientada pela Prof.ª Daniely Borges Garcia.

CORONEL FABRICIANO, MG 2015


“Se queres ser universal, começa por pintar a tua tribo” Liev Tolstoi


RESUMO A ideia inicial para o desenvolvimento deste trabalho, surgiu à partir de observações feitas na cidade de Timóteo, de toda a sua vida, de sua arquitetura, e de suas ruas. Uma cidade industrial, relativamente com uma historia nova, onde muitos alegam não ter uma marca ou identidade, porem a identidade esta lá, e vem se desenvolvendo em todos estes (poucos) anos. Observando em seu presente, espaços públicos mal utilizados, praças, edificações e ate mesmo bairros inteiros com potencialidades, porém, nada explorado, talvez pelo fato de nem os moradores nem os representantes políticos entenderem a essência de cada espaço, mesmo que vivenciem isso todos os dias, evitando assim um melhor uso da cidade. Por meio de tentar entender como se usar melhor essas questões regionais para a valorização do lugar, este trabalho buscara por identidades e potencialidades, resultando em uma proposta que agregue todos esses valores.

Palavras

Chave:

Cidade,

Cultura,

Desenvolvimento,

Planejamento, Requalificação, Renovação Urbana.

Regionalismo,


LISTA DE FIGURAS Figura 01| Rua Belo Horizonte, Desenho: Sãmela Moreira...............................09 Figura 02| Desenho: Filipe Silva........................................................................10 Figura 03| Desenho: André Reis........................................................................10 Figura 04| Flávio Silva .....................................................................................10 Figura 05| Festival Jazz e Blues, 2014 ............................................................23 Figura 06| Festival Jazz e Blues, 2002 ............................................................23 Figura 07| Desenhos Igreja Matriz de São José .............................................24 Figura 08| Desenhos Referentes ao Centro Comercial Acesita .....................25 Figura 09| Desenhos Praça 1º de Maio (Coreto) .............................................26 Figura 10| Desenhos Fundação Aperam .........................................................27 Figura 11| Capela São Jose, Escritório Central Aperam, Rodoviária ..............27 Figura 12| Desenhos “Praça do Coliseu”, bairro Timirim .................................28 Figura 13| Desenho Feira Livre .......................................................................29 Figura 14| Desenho Avenida Bairro Timirim ....................................................29 Figura 15| Desenho Bar Cultura e Cana (bairro Olaria) e Bar do Gentil (bairro Funcionários) ...................................................................................................29 Figura 16| Desenho acesso pelo bairro Cachoeira do Vale ............................30 Figura 17| Desenho Monumento Sinergia .......................................................30 Figura 18| Desenho vista da ponte ..................................................................30 Figura 19| Desenho Usina Aperam .................................................................31 Figura 20| Desenhos Pico do Ana Moura, paisagem natural ..........................32 Figura 21| Desenho referente ao carnaval de Timóteo ...................................33 Figura 22| Detalhe feito por Teixeira para a Acesita ........................................36 Figura 23| Edifício comercial aberto no centro de Timóteo .............................36 Figura 24| Galeria Reis Magos ........................................................................37 Figura 25| Boulevard no centro de Timóteo .....................................................37 Figura 26| Planta geral praça de esportes feita por Teixeira para a Acesita ....26


Figura 27| Detalhe Praça de Esportes para a Acesita, por Teixeira ................27 Figura 28| Planta parcial de Urbanização da Acesita, bairro Funcionários, por Romeu Duffes Teixeira ....................................................................................27 Figura 29| Planta geral de Urbanização da Acesita por Romeu Duffes de Teixeira ............................................................................................................28 Figura 30| Centro Cultural Fundação Aperam Acesita ....................................29 Figura 31| Edifício Comercial ...........................................................................30 Figura 32| Edifício Comercial ...........................................................................30 Figura 33| Edifício Comercial, assinatura do arquiteto ....................................30 Figura 34| Edifício comercial onde inicialmente funcionou o Cine Marabá .....31 Figura 35| Antiga Fazenda Angelina ................................................................31 Figura 36| Escritório Central Aperam ...............................................................32 Figura 37| Capela de São José .......................................................................32 Figura 38| Antigo Colégio Dom Bosco ............................................................33 Figura 39| Antigo Colégio Dom Bosco ............................................................33 Figura 40| Monumento aos 40 anos da ACESITA com vista do Ginásio ao fundo ................................................................................................................33 Figura 41| Coreto presente no centro da Praça 1º de Maio .............................34 Figura 42| Representação do estado de uma das calçadas em Timóteo ........34 Figura 43| “Gente que vem de TimótEo” .........................................................36 Figura 44| Desenho representando o centro norte com os locais de intervenção. Figura 45| Galeria Reis Magos ........................................................................37 Figura 46| Galeria Green Valley ......................................................................37 Figura 47| Entorno da Capela São José ..........................................................38 Figura 48| Domingo é na Feira 1 .....................................................................38 Figura 49| Domingo é na Feira 2 .....................................................................39


SUMÁRIO 1) INTRODUÇÃO ..............................................................................................09 2) CIDADE, IDENTIDADE E IMAGEM .............................................................10 2.1) ARQUITETURA CONTEXTUALISTA ...................................................14 2.2) REGIONALISMO CRÍTICO ..................................................................15 3) PRÁTICAS DE RENOVAÇÃO URBANA.......................................................17 3.1) CIDADES CRIATIVAS .........................................................................18 3.2) ACUPUNTURA URBANA ....................................................................22 4) ESTUDO DE CASO: A CIDADE DE TIMÓTEO ..........................................24 4.1) A ORIGEM DA CIDADE .......................................................................34 4.2) DESENHO URBANO ENCOMENDADO PELA ACESITA ...................35 4.2) MARCOS ARQUITETÔNICOS .............................................................41 5) PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA TCC 2 ..........................................47 6) CONCLUSÃO ..............................................................................................52 7) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................53


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1.0 ) INTRODUÇÃO

A ideia inicial para o desenvolvimento deste trabalho, surgiu à partir de observações feitas na cidade de Timóteo, dos costumes de seus moradores, de sua arquitetura, e de suas ruas. Uma cidade industrial, relativamente com uma história nova, onde muitos alegam não ter uma marca ou identidade, porem a identidade esta lá, e vem se desenvolvendo em todos estes (poucos) anos. Observando em seu presente, espaços públicos mal utilizados, praças, edificações e ate mesmo bairros inteiros com potencialidades, porem, nada explorado, talvez pelo fato de nem os moradores nem os representantes políticos entenderem o quanto o investimentos nesses pequenos locais é importante para a cidade. Então se entra na questão, em uma cidade com poucos anos de vida, existe uma historia a ser explorada? Este trabalho tem como objetivo, tentar apresentar possibilidades de moldar novas possibilidades de uso para Timóteo, tendo como base inicial a própria essência do lugar, aprendendo com sua historia, com seus moradores, com seus costumes, para assim criar algo que represente o usuário, gerando a identificação com o espaço. Em uma primeira parte será abordado sobre teorias dentro da arquitetura contemporânea que fazem relação ao processo de projeto com a identidade e cultura local, da “Arquitetura Contextualista” ao “Regionalismo Crítico” em seguida, o foco ficara a práticas de revitalização urbana e desenvolvimento regional, onde a principal meio de referencia é exatamente a pesquisa da essência do lugar, será analisado as novas praticas ligadas as “Cidades Criativas” e a “Acupuntura Urbana”. Por último será feita uma análise sobre a cidade de Timóteo, tendo como principal referência a pesquisa de como os moradores enxergam a própria cidade, em seguida fazendo levantamento da história de seu desenho urbano e arquitetura, e como esta ultima representa a imagem da cidade e o que influencia em seus moradores.


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2.0 ) CIDADE, IDENTIDADE E IMAGEM Um dos aspectos fundamentais na vida de uma cidade, [...], é o conjunto de recordações que dela emergem, a memória urbana é a realidade que marca nossa própria fugacidade na história, ao mesmo tempo em que anuncia a possibilidade de transcendermos nossa temporalidade individual. ORTEGOSA, Sandra Mara, 2007.

A identidade de um lugar é formada por todas as características presentes no mesmo, por mais sutis que sejam. Segundo Lerner (2014), “a identidade gera o sentimento de pertencimento, a referência que nos orienta enquanto cidadãos”. Ou seja, conhecer os aspectos particulares de cada rua, bairro, cidade ou país, nos ajuda a entendê-los melhor, despertando certa valorização, talvez não sentida antes. Lynch (1960) em seu livro “A Imagem da Cidade”, mostra a importância da forma que a cidade é identificada pelas pessoas. Tendo como base os conceitos de: legibilidade, o qual Lynch (1960) define como “a facilidade com que cada uma das partes pode ser reconhecida, e organizada em um padrão coerente”, ou seja, a forma visual com a qual a cidade se apresenta. A identidade, que Saboya (2008) classifica como a “distinção em relação a outras coisas, seu reconhecimento como uma entidade separada, ou seja, sua identidade” se referindo aos objetos da cidade. A estrutura, que define a relação entre objetos e pessoas dentro do lugar. E a imageabilidade que é a característica de um objeto em passar uma imagem marcante:

Uma cidade com imageabilidade (aparente, legível, ou visível), nesse sentido, seria bem formada, distinta, memorável; convidaria os olhos e ouvidos a uma maior atenção e participação. LYNCH, Kevin, 1960.

Á partir da analise destes conceitos, Lynch (1960) define cinco grupos de elementos presentes em qualquer cidade, essenciais para a identificação de suas principais particularidades: caminhos, limites, bairros, pontos nodais e marcos. Em sua pesquisa, os caminhos se destacaram como o principal elemento de reconhecimento do lugar, considerando que é através deles que as pessoas notam aos elementos da cidade, definindo assim toda a estrutura entre os objetos. Limites são os elementos que limitam de alguma forma a


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passagem, podem ser viadutos, avenidas largas, grandes praças ou edifícios, e leitos de rios. Bairros, segundo Lynch, são regiões em uma cidade que possuam

características

em

comum,

não

se

limitando

a

divisões

administrativas. As características que definem um bairro são inúmeras, vão desde a tipologia e o uso predominante nas edificações, aos costumes de seus habitantes.

Os bairros desempenham papel importante na legibilidade da cidade, não apenas em termos de orientação, mas também como partes importantes do viver na cidade, e podem apresentar diferentes tipos de limites. Alguns são precisos, bem definidos. Outros são mais suaves, indefinidos. Da mesma forma, alguns podem ser “introvertidos”; outros “extrovertidos”. SABOYA, Renato, 2008.

Pontos Nodas, segundo Saboya (2008) fazendo referencia aos conceitos abordados por Lynch (1960), “são pontos estratégicos na cidade, onde o observador pode entrar, e que são importantes focos para onde se vai e de onde se vem”. Funcionam como pontos de referencia que direcionam as pessoas, de forma direta ou indireta, como grandes rotatórias ou pontos de ônibus, ou mesmo centros com uso relevante ou grandes praças. E por fim, os marcos, elementos arquitetônicos ou naturais pontuais de destaque, os quais servem como referencia sendo visto de vários pontos, ou mesmo de um entorno imediato. Para se pesquisar a verdadeira identidade do local e se trabalhar tendo ela como principal referência, o conhecimento de como as pessoas enxergam a própria cidade a partir destes elementos citados é fundamental, com sua pesquisa Lynch (1960) mostra que com a diversidade de elementos em uma cidade, cada pessoa terá como referencia algo próprio com o qual se identifica, e toda essa diversidade junta, representa a imagem com a qual devemos ter como base para se trabalhar o que já esta presente e o que ainda é ausente. Com base na ideia de pesquisar as particularidades de cada lugar, durante a Semana Integrada do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas (UNILESTE), foi realizado uma oficina em que o principal objetivo era localizar e evidenciar, por meio de observação e desenho, a identidade de uma determinada região, o local escolhido foi próximo a


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faculdade, em várias ruas do bairro Universitário, na cidade de Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Foram dados aos participantes matérias para desenho e pranchetas, e em uma caminhada pela rua do bairro, a ideia era que cada um representasse o que havia de mais simbólico e representativo em cada área, e que isso não ficasse apenas na cena representada, mas que estivesse presente também no traço do desenho, para que cada um tentasse entender a essência do lugar.

Fig. 01| Rua Belo Horizonte, Desenho: Sãmela Moreira.

Fonte: Acervo do autor.

Considerando o bairro como um local com uma grande diversidade, de comércios que vão de todos os tipos, a um grande número de moradores, desde pessoas mais velhas, que vivem ali desde quando ainda era uma estrada de chão cercada por algumas casinhas, a muitos universitários moradores em repúblicas. Segundo Lerner (2014) a diversidade tem papel fundamental na vida de um determinado local, gera segurança, gera identidade e principalmente sustentabilidade. Em todos os desenhos fica bem claro como essa mistura representa a principal característica no bairro, as variam tipologias


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Fig. 2| Desenho: Filipe Silva

arquitetônicas, na maioria das vezes, improvisadas

pelos

próprios

moradores, os usos diversos, as ruas sempre movimentadas, ate mesmo o grande número de fiações elétricas aéreas entrelaçadas (Fig. 1 e Fig. 3). Nos desenhos feitos na rua Belo Fig. 3| Desenho: André Reis

Horizonte, a principal rua do bairro, esses detalhes ficam bem claros, principalmente no traço que busco interpretar essa mistura (Fig. 2). Os pequenos bares, sempre cheios e com música alta, foram outra característica fundamental para se representar a identidade do lugar no papel (Fig. 4). A importância de se pesquisar e

Fig. 4| Desenho: Flávio Silva

conhecer todo um contexto histórico de

um

exatamente

determinado entender

espaço todo

o

é seu

sentido inicial, e o que o levou a situação

presente,

e

assim

compreender melhor cada elemento que o cerca. Acima de tudo, pensando primeiramente na população local, buscar quais os principais elementos Fonte: Acervo do Autor

com os quais ela se identifica. A ideia

desta oficina era exatamente mostrar que, uma das melhores formas de se fazer isso, é caminhando pela cidade, e criando o costume de observar de forma mais detalhada elementos que em outra hora poderiam passar despercebidos. Neste pequenos elementos é possível ver que ali existe cultura, uma identidade, e uma historia para se contar. Ortegosa (2007) cita o pensamento de Benjamin para expressar a importância de se conhecer o


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passado, para assim, ser pensado um futuro legitimo para cada espaço: “Cada presente possui uma reserva de passado intacto, sob a forma de constelações históricas especificas que podem ser resgatadas [...], para delas extrair o genuinamente novo”. Um espaço feliz é um lugar que provoca, pacífica e espontaneamente, uma sensação de acolhimento, instigando a troca e a criação, e despertando uma ligação afetiva em quem nele vive, pela memória que persiste nas pedras, solidificando imagens, identidades e signos. BACHELARD, Gaston, 2007.

Como conclusão da oficina, os participantes percebem que, por de trás daquele bairro, considerado por muitos, um lugar sem nenhum qualidade, existe um espaço com muita vida, onde acontecem ações das mais variadas, exatamente pela variedade de pessoas, de classes econômicas, vivendo juntas em um mesmo ponto. Foi possível identificar, mesmo em um pequeno contexto, os elementos citados por Lynch (1960), sendo a Av. Belo Horizonte funcionando como caminho, limite e ponto nodal, e a tipologia variada porem com características próximas de casas e pequenos prédios, e principalmente os bares e pequenos mercados funcionando como marcos, e toda essa relação funciona como se da a característica de um bairro. 2.1) ARQUITETURA CONTEXTUALISTA

Uma das mais recentes teorias em arquitetura contemporânea sobre a questão da relação da cidade com sua arquitetura e identidade é o chamado “Contextualismo”. Segundo Nasbit (2010) esse novo manifesto foi desenvolvido durante os anos 70 por Colin Rowe junto de seus alunos na Cornell University como uma crítica aos problemas da construção de novas edificações no contexto da cidade. Thomas L. Schumacher (1996), o qual foi aluno de Rowe, foi um dos maiores divulgadores da arquitetura contextualista, que se mostrava como uma tentativa de fazer da cidade que conhecemos uma forma viável para um futuro que promete uma imensa expansão urbana, buscando criar um diálogo entre o convencional, já existente e o novo. Abordando sempre pequenos conceitos de Rowe como as “cidades-colagem”, onde segundo


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Nasbit (2010) abordava que: “os espaços sólidos [os volumes dos edifícios] e os espaços urbanos vazios [ruas e praças] podem ser figurativos”, como se o contraste entre um e o outro acrescentasse um valor a mais para a cidade. Além do conceito de “edifícios diferenciados”, muito influenciado pelas ideias de Robert Venturi onde, Nasbit (2010) explica que: “o “edifício diferenciado” resume o ideal e o circunstancial, modificando as condições do local e conciliando muitas influências sem perder a sua “imagibilidade” gestáltica”, dando ênfase na capacidade que o objeto tem de prender o observador. Schumacher (1996) defendia claramente a força que um edifício tinha de se comunicar e unir o seu valor a cidade, porem assumia que toda a valorização dentro de uma comunidade não dependia apenas da arquitetura. Existem uma série de fatores que influenciam a boa imagem de uma cidade, fato evidente dentro dos conceitos de Cidades Criativas, o qual será abordado mais adiante. Porem, mesmo reconhecendo a participação de todos esses elementos, aborda a importância que o arquiteto tem dentro desse contexto:

As pressões econômicas e as preferências dos arquitetos, por exemplo, induzem a padronização das habitações em pacotes infinitamente repetitivos, mais preocupados com o lucro do que com a necessidade [...]. Consequência disso são as estruturas urbanas que nada tem a ver com o ser humano nem com a vizinhança, cuja vida elas interrompem. SCHUMACHER, T. 1996, p. 325

Um exemplo dado por Schumacher (1996): “As áreas de grande atividade, onde novos e importantes espaços foram criados, adaptaram-se ao contexto existente mediante edifícios multifuncionais”. Uma arquitetura feita com base em pesquisas e observações, que tenta reconhecer e abraçar as ações recorrentes em seu entorno, dando assim maior flexibilidade em seu uso é a principal defesa da arquitetura Contextualista, e os arquitetos são os principais articuladores entre esses fatores.

2.2) REGIONALISMO CRÍTICO

O regionalismo crítico incentiva a resistência à homogeneização do ambiente construído, que é um dos resultados da modernização das técnicas construtivas e da industrialização dos materiais


16 NASBIT, Kate, 2010, p. 503

Uma teoria contemporânea envolvendo a valorização da cidade e sua arquitetura, tendo como principal base, as características peculiares do local, é o Regionalismo Crítico. Popularizado por Kenneth Frampton, nos anos de 1980, defende principalmente “uma arquitetura autentica, baseada em dois aspectos essenciais a disciplina: a consciência do lugar e a tectônica”. Segundo Nasbit, de um modo geral: “o regionalismo crítico incentiva a resistência à homogeneização do ambiente construído” tendo como uma de suas bases a utilização de materiais locais, consideração as condicionantes ambientais, valorização de habilidades artísticas locais, consideração com aspectos sociais, junto à uma reinterpretação das influências vindas de fora. E mais uma vez se entra na ideia de que, a principal forma de se pensar em uma arquitetura de qualidade, é ter como base, as questões locais, para assim, torna-la universal não por ser igual as demais, mas por ter características únicas.

Tal regionalismo depende, por definição, de uma associação entre a consciência politica de uma sociedade e a profissão do arquiteto. As precondições para o surgimento de uma expressão

crítica

regional

incluem

não

apenas

certa

prosperidade local, mas também o forte desejo de realizar efetivamente uma identidade. Uma das principais forças motivadoras de uma cultura regionalista é o sentimento anti centrista,

isto

é,

uma

aspiração

por

algum

tipo

de

independência cultural, econômica e política. FRAMPTON, Kenneth, 1983.

Para se desenvolver um Regionalis Crítico, Frampton (1983), afirma que é necessária a ligação entre o setor político e cultural, e mostra um desencanto com a cidade capitalista contemporânea, que segundo ele: “visa reduzir o ambiente a pura mercadoria”, dando como um bom exemplo a cidade de Bolonha, onde foi possível se realizar ações de desenvolvimento regionalista, graças a implantação de uma legislação socialista. Resumidamente, o Regionalismo Crítico tem compromisso com a criação de um lugar.


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3.0) PRÁTICAS EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL Ruas, praças, parques: os espaços públicos são essenciais ao bom ambiente urbano. A forma como são desenhadas e mantidas essas “salas de estar” ao ar livre, e sobretudo, a interfase que a dimensão privada a elas oferece – janelas, “olhos”, permeabilidade ao invés de muros, grades, barreiras – é determinante para a vivacidade do espaço citadino LERNER, Jaime, 2014, p. XV.

As cidades tem como seus principais pontos de encontro, o espaço público, nele acontecem todo o tipo de articulações, conversas, manifestações, e a partir dele em conjunto com a arquitetura, se cria a identidade local. A forma que os arquitetos e urbanistas pensam na cidade, influencia diretamente na forma como ela será usada. Gehl (2014) defende que: “a consideração pelas pessoas no espaço urbano devem ter um papel chave no planejamento urbano e nas áreas edificadas”, de forma que a cidade seja muito mais que apenas um lugar que de prioridade a ruas e carros, a escala humana deve ser o fator principal, uma cidade que convide as pessoas a caminhar por ela:

Em cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis, o prérequisito para a existência da vida urbana é oferecer boas oportunidades de caminhar. Contudo, a perspectiva mais ampla é que uma infinidade de valiosas oportunidades sociais e recreativas apareça quando se reforça a vida a pé. GEHL, Jan, 2014, p.19.

Gehl (2014) ainda afirma que, a condição que a cidade da para os tipos de circulação, tem sempre respostas certas, mais via convida mais carros a circularem, melhores ciclovias, convidam mais pessoas a pedalarem, porém ao se melhorar as condições para o pedestre, a vida na cidade é fortificada.

A diversidade é o que traz a riqueza da mistura, do complementar, do diverso. É expressa nas diferentes etnias, nas diferentes idades, nas diferentes rendas, nos diferentes usos, nas diferentes tipologias que animam o cenário urbano. Conectando-se a dois elementos fundamentais à qualidade de vida urbana: a identidade e a coexistência. LERNER, Jaime, 2014, p. XIII.


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Olhando por esse lado, a principal forma de revitalizar um espaço é, antes de pensar em sua arquitetura, é pensar nas pessoas que ali frequentam, as que já frequentaram, e as que possivelmente irão frequentar. Estimular a diversidade e a versatilidade é um bom caminho.

3.1) CIDADES CRIATIVAS

O mundo está saindo rapidamente da era industrial; qual será sua forma futura e qual será o papel das cidades então?; Qual é a essência da competitividade?; Há uma nova economia emergindo, como ela é e quais são as fontes de sua criação de riqueza?; Qual é o papel da cultura na regeneração urbana?; Serão os artistas e as indústrias criativas os maiores catalisadores da transformação dos lugares em mais criativos?; Que papel os velhos edifícios industriais convertidos em incubadoras das novas indústrias podem desempenhar na regeneração?. LANDRY, Charles, 2011, p 09.

Todos esses questionamentos são feitos por Charles Landry para tentar entender as novas perspectivas que devem tomar as cidades. O mesmo cita o conceito inicial de uma cidade criativa como “um local onde os artistas desempenham um papel central e onde a imaginação definia os traços”, porem, realça que para se obter de fato um espaço criativo, iniciativas devem ser horizontais dentro da cidade, vindas de todos os setores, e que essa qualidade não esta presente apenas na classe artística, mas também no setor público, nas inovações sociais, na área da saúde e ate mesmo dentro da mobilidade urbana. O resultado com o qual se pode chegar com todas essas áreas unidas fica bem claro na citação de Landry (2011) abaixo:

Há debates acalorados acerca dessas colocações. Mesmo assim, ao longo do tempo foi surgindo um repertório nas cidades. Ele inclui características como: na visão estratégica da maioria das cidades é importante desenvolver setores da economia criativa; novos equipamentos icônicos podem ajudar as cidades a entrar na tela do radar e eventualmente podem ajudar a gerar orgulho cívico; atrair nômades do conhecimento e a comunidade de pesquisa é vital; reutilizar antigos edifícios para as atividades da nova economia normalmente cria uma atmosfera viva, e misturar o novo e o antigo geralmente faz diferença; é importante mudar o olhar sobre o ambiente físico das cidades, para criar espaços para a socialização e o convívio, estimulando assim um ambiente criativo. Isso conta,


19 embora cada vez mais os que desenham as políticas também estejam olhando para seu ambiente urbano completo, como um sistema criativo LANDRY, Charles, 2011, p 10.

E mais uma vez entrando na questão da identidade, Landry (2011), enfatiza que para se aproveitar ao máximo a criatividade do espaço, “precisamos considerar seus recursos de modo mais amplo e nos basear na história dos lugares e na evolução de sua cultura. Levar a cultura em consideração nos ajuda a entender de onde um lugar vem, por que ele está como está e como pode criar seu futuro, por meio de seu potencial” e aborda o papel de responsabilidade dos urbanistas tem como administrador e pesquisador dentro desta nova área. A partir dos conceitos de sua “Ecologia Criativa”, John Jowkins (2011) propõe iniciar a ideia de uma cidade criativa tendo como ponto de partida o local favorito de cada um, onde nos sentimos “livre para explorar ideias por meio de aprendizado e adaptação e onde mudar é mais fácil. No nível mais básico, você estará livre de necessidades, medos, censuras e desaprovações. Você estará em um grupo ou comunidade no qual novas ideias são bem-vindas”, sendo assim, afirma que com o tempo, e de forma espontânea, aparecerão vários outros grupos com novas ideias e abertos a novas conversas, e que, com o tempo as pessoas se acostumarão a viver assim, por ser gratificante e produtivo.

Diversidade, mudança, aprendizado e adaptação são os quatro

indicadores de ecologia criativa, e não apenas o urbanismo, mas as pessoas são papel fundamental nessa mudança, assim como mostra Jowkins (2011) ao citar Rochard Florida: “Sem diversidade, sem estranhamento, sem diferença, sem tolerância, uma cidade morrerá. As cidades não precisam de shoppings e centros de convenções para serem economicamente bem-sucedidas, elas precisam ter pessoas excêntricas e talentosas”. Além de enfatizar por si mesmo o quanto é importante que esses movimentos estejam acontecendo em vários pontos da cidade, e não apenas concentradas em apenas um: “Imagine andar por uma cidade; em alguns lugares é um prazer, em outros um aborrecimento. É muito melhor quando há um conjunto de pessoas e atividades diferentes, em vários espaços e locais”.


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Segundo Kageyama (2011), se pode identificar que uma cidade esta sendo criativa, a partir do sentimento vindo de seu moradores e de quem é de fora, de que algo esta acontecendo, e que esse algo parece interessante, e esse sentimento esta presente quando se tem alguns sinais bem claros:

Ao vivenciar a cidade criativa, há traços comuns que de certo modo são óbvios. Grandes espaços públicos, edifícios históricos que nos unem ao passado de nossa cidade, ótima arquitetura que inspira nosso futuro. São parques públicos, ruas que trazem um equilíbrio entre carros e pedestres, lojas e escritórios; é a densidade e é a possibilidade indisciplinada de encontros fortuitos. KAGEYAMA, Peter, 2011, p. 55

Além

de

apontar

certos

elementos

arquitetônicos

essenciais

que

proporcionam, ou simplesmente, incentivam um uso criativa, como:” uma obra de arte pública, um banco confortável, uma cafeteria local, uma árvore bem localizada, [...], uma rua onde adolescentes tentam novas manobras de skate”, e quando a cidade torna todas essas manifestações viáveis, ela esta sim, sendo criativa. Verhagen (2011) define bem alguns fatores que podem acrescentam as cidades, antes de tudo, ela deve ser “verde, limpa e segura”, o que faz ser boa para morar, trabalhar, de divertir, ou simplesmente estar lá. Segundo o próprio, a questão da identidade é de suma importância:

[...]a cidade que consegue contar uma história da melhor maneira possível. A cidade deveria oferecer as características básicas que todos gostamos de ver em uma cidade: ela tem de ser limpa, verde e segura. Acima de tudo, deve ter uma identidade distintiva, oferecer atividade suficiente e dar aos residentes algo que lhes deixe orgulhosos. Todos devem participar e ir à luta. Uma cidade criativa é atraente para todos e é uma cidade com boas oportunidades de desenvolvimento para a economia criativa. VERHAGEN, Evert, 2011, p. 109

Da mesma forma Verhagen (2011) exalta a ligação do espaço público com a arte: “grandes obras de arte no espaço público contribuem fortemente para a identidade de um local”, e que as ruas, praças e parques são os locais onde as pessoas se encontram, e precisam se renovado de acordo com o qual as pessoas vão se renovando.


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Um problema comum no Brasil é o deslocamento de pessoas de pequenas para as grandes cidades, na maioria dos casos, por falta de oportunidades de trabalho em seus locais de origem. Um olhar renovado e criativo em cada cidade poderia abrir o leque de oportunidades dentro da própria, dando aos que poderiam partir a opção de ficar. Como um bom exemplo de renovação criativa, pode ser usada a pequena cidade de Guaramiranga:

Com uma população de cerca de 5.000 pessoas, essa cidadezinha encarapitada no alto do Maciço do Baturité, no Ceará, distam 100 km de Fortaleza e tem características muito peculiares, a começar pelas físicas. Guaramiranga abriga um enclave de Mata Atlântica, hoje área de preservação ambiental e tem um clima condizente com sua altitude e sua vegetação. FONSECA, Ana Clara e URANI, André, 2011, p.34.

No inicio dos anos 2000, a cidade começou a sofrer um processo de transformação, a partir da implantação de um festival de música, o “Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga”. Segundo Fonseca (2011), o evento inicialmente vinha como uma alternativa ao carnaval agitado das cidades vizinhas, além de se servir como apoio ao turismo ecológico, na área de preservação da cidade. A principal ligação com a identidade do local se teve, não só pela valorização do patrimônio arquitetônico e ecológico, Fonseca (2011) aborda sobre a relação coma música: “na primeira metade do século XX, não eram raros os concertos, saraus e tertúlias que, trazidos pelas famílias abastadas com propriedades na região, uniam-se às manifestações locais”. Ao escolher o Jazz e o Blues como estilo principal, a ideia era se criar uma valorização da música instrumental do Ceará, na maioria das vezes, não valorizada como deveria ser. Para o desenvolvimento do festival, foram propostas varias atividades junto à comunidade. Paralelo aos concertos acontece oficinas, atividades voltadas ao ecoturismo, encontro entre talentos regionais e nomes consagrados da música, além de outras atividades, que intensificam o turismo na região ao decorrer do ano.

Em sua 12ª edição, em 2011, novo estudo realizado durante o Festival de Jazz e Blues reiterou a importância de seus impactos econômicos, sociais e culturais. Confirmou, mais do que isso, a relevância de um processo de transformação profundamente ancorado no contexto local, com uma


22 governança que motive as pessoas a se apropriarem de seu futuro e conciliador de benefícios culturais, sociais, econômicos e ambientais. FONSECA, Ana Clara e URANI, André, 2011, p.35.

Fig. 5| Festival Jazz e Blues, 2014

Fig. 6| Festival Jazz e Blues, 2002

Fonte: www.jazzeblues.com.br/portifolio/

Fonseca (2011) deixa claro que independente da escala, toda cidade tem um potencial criativo, porem uma possível consequência seria a gentrificação e a polarização econômica, e indica que uma das formas de solucionar esse problema, seria aproveitar o potencial trago por quem é de fora, mas sempre dando “incentivos e subsídios ao emprego e à moradia da população local”, assim oferecendo condições para que o talento da população local desenvolva junto a cidade.

3.2 ) ACUPUNTURA URBANA

Acredito que algumas magias da medicina, podem, e devem ser aplicadas às cidades, pois muitas delas estão doentes, algumas quase em estado terminal, assim como a medicina necessita da interação entre médico e paciente, em urbanismo também é preciso fazer a cidade reagir. Cutucar uma área de tal maneira que ela possa ajudar a curar, melhorar, criar reações positivas e em cadeia, É indispensável intervir para revitalizar, fazer o organismo trabalhar de outra maneira. LERNER, Jaime, 2011, p. 7.

Com esta frase Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba, introduz seu livro “Acupuntura Urbana”, livro sobre a ideia de ação homônoma criada pelo mesmo, que, como define Howkins (2011), é a ideia de inserção de edifícios


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como eventos na cena urbana para tempera-la. Vindo como uma solução para áreas abandonadas, as “cicatrizes” da cidade segundo Fonseca (2011), ou como diz o próprio Lerner (2011), a prática de “acupuntura urbana” é um campo fértil que trará reações em cadeia positivas:

Muitas cidades hoje precisam de acupuntura urbana, por terem negligenciado suas identidades culturais; outras, por terem negligenciado sua relação com o ambiente natural; outras, ainda, deram as costas às feridas deixadas pelas atividades econômicas. Essas áreas negligenciadas, essas “cicatrizes”, são precisamente os pontos essenciais da acupuntura. LERNER, Jaime, 2011, p. 43.

Lerner (2011) aborda sobre a importância de se conhecer a própria cidade, entrando mais uma vez na questão da identidade do local, o que é desconhecido, não é respeitado. Tendo em consciência a cidade em que vive, também terá qual é o sonho dos moradores, como imaginam o futuro: “Identidade, autoestima, sentimento de pertencimento, tudo isso está intimamente ligado aos pontos de referência que as pessoas têm de sua própria cidade”. A cidade deve oferecer a qualidade de vida que seus moradores necessitam, tornando-a atraente não para turistas, mas para sua população, o exemplo de uma boa relação das pessoas com a cidade, se tornará exemplo, e atrairão turistas.

Uma boa acupuntura urbana seria provocar o conhecimento de cada um sobre sua cidade. Quantas pessoas na verdade conhecem sua própria cidade? Dificilmente alguém respeita o que não conhece. Mas como respeitar se você não entende a sua cidade? LERNER, Jaime, 2011, p. 53.

Lerner, afirma que o primeiro passo para se produzir uma boa acupuntura urbana, é provocando o conhecimento da própria cidade, uma boa escolha é pedindo para que cada um desenhe o próprio local onde vive, a vizinhança, suas referências, para assim se ter uma proximidade com o que a população de fato prioriza, começando de uma pequena a uma larga escala.


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4.0) ESTUDO DE CASO: CIDADE DE TIMÓTEO

Para se iniciar um processo de renovação urbana considerando de fato características locais, deve se entender primeiro, como a população enxerga a própria cidade, quais as principais referencias presentes na memoria do povo e também as faltas delas. Seguindo a ideia proposta por Lerner (2011) em sua acupuntura urbana e a pesquisa feita por Lynch (1960), foi solicitado a 150 pessoas, moradores de Timóteo, e das cidades vizinhas que desenhassem a cidade, suas principais referências visuais e pessoais, e o que gostariam de ver na cidade, à partir desses dados, segundo a visão das pessoas, será apresentado a cidade. A primeira questão, era que cada um desenhasse a principal imagem de referência da cidade, foram muitos os citados, porem, 3 lugares tiveram grande destaque. Em primeiro um marco arquitetônico, a Igreja Matriz de São José, localizada no bairro Timirim, em um ponto estratégico possibilitando sua vista de vários pontos da cidade. Algumas pessoas de cidades vizinhas a tinham como lembrança não por já terem entrado nela, mas por ser o primeiro elemento a chamar atenção dentro da cidade de Timóteo para algumas, outras se lembram de detalhes como a escadaria de acesso a matriz.

Fig. 7| Desenhos Igreja Matriz de São José | Fonte: Pesquisa do autor


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Fig. 8| Desenhos Referentes ao Centro Comercial Acesita

Fonte: Pesquisa do Autor

O segundo mais citado pode ser considerado um caminho, um limite, um ponto nodal e mesmo um marco em si, pois não se trata apenas de uma edificação, mas sim um conjunto de elementos, neste caso, o centro comercial de Acesita, o principal ponto econômico da cidade. Seus vários elementos como calçadas largas decoradas em pedra portuguesa, ruas organizadas, edifícios comerciais abertos, canteiro central com ciclovia, foram por varias vezes citados não de forma individual, mas como uma estrutura, sempre ligados uns aos outros, variando os elementos em cada pessoa. Outros


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elementos mais citados, mesmo que individualmente, fazem parte do centro da cidade. A Praça 1º de Maio, local em que todos se referiram apenas como “Coreto”, foi o terceiro mais citado como referencia visual, porem, foi o mais citado como local onde as pessoas gostam de ir. Este também sempre abordado pelas pessoas ligadas a algum elemento da própria praça ou do entorno imediato. E da mesma forma que toda Alameda 31 de Outubro, se encaixa em varias características, como um marco, por sua presença urbanística marcante, um limite pela longa extensão da praça e um ponto nodal por ser uma referencia a direcionar as pessoas.

Fig. 9| Desenhos Praça 1º de Maio (Coreto)

Fonte: Pesquisa do Autor


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No centro outros pontos foram muito citados, mas em menor número, como a Fundação Aperam Acesita, como ponto de eventos e cultura, o Escritório central como marco arquitetônico, o Ginásio poliesportivo Iorque José Martins, sempre citado de forma indireta nos desenhos, e a rodoviária como ponto de passagem para algumas pessoas entrevistadas de outras cidades, além da capela de São José, próxima a Praça 1º de Maio (coreto).

Fig. 10| Desenhos Fundação Aperam

Fig. 11| Desenhos Capela São Jose, Escritório Central Aperam, Rodoviária.

Fonte: Pesquisa do autor.

Outro bairro com forte presença nas referencias obtidas na pesquisa, foi o bairro Timirim. Além de ter o marco mais citado pelas pessoas, esta presente nele a segunda praça mais citada como ponto de referência tanto visual como local onde as pessoas gostam de frequentar, é a chamada Praça do “Coliseu”,


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ponto com arquitetura marcante pós-modernista, projetada pelo arquiteto Eolo Maia durante os anos 80. Fig. 12| Desenhos “Praça do Coliseu”, bairro Timirim.

Fonte: Pesquisa do autor.

Também foi muito citado a feira livre, que muitos descreveram como um ótimo ponto de lazer onde pessoas de todos os bairros se encontram, além de alguns bares e as ruas do próprio bairro, um dos entrevistados, morador do bairro Cachoeira do Vale, chegou a dizer que gostaria de morar lá, e outro, morador do bairro Alegre, que gostaria de trabalhar ali.


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Fig. 13| Desenho Feira Livre

Fig. 14| Desenho Avenida Bairro Timirim

Fonte: Pesquisa do Autor

Outra característica citada em grande quantidade, mesmo que dividido em vários pontos diferentes, são os bares da cidade, abordado principalmente pelos moradores das cidades vizinhas, alguns chegam a dizer que a cidade tem um ambiente confortável e seguro para se sentar em uma mesa na calçada e beber com os amigos. A maioria dos locais mencionados está nos bairros Olaria, Timirim, e no centro comercial de Acesita. Pontos de encontro como restaurantes, pizzarias e lanchonetes também foram citados, com maior destaque para a região dos bairros Olaria e Funcionários.

Fig. 15| Desenho Bar Cultura e Cana (bairro Olaria) e Bar do Gentil (bairro Funcionários).


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Elementos presentes no acesso a cidade também foram citados como referencias visuais, principalmente por aqueles que apenas passam por Timóteo a caminho de outras cidades. Os citados foram o monumento Sinergia, e os caminhos que ligam Timóteo as duas pontes de acesso à cidade de Cel. Fabriciano. O bairro Cachoeira do Vale também foi lembrado como referência visual a quem esta chegando a Timóteo pela BR 381.

Fig. 16| Desenho acesso pelo bairro Cachoeira do Vale.

Fonte: Pesquisa do Autor.

Fig. 17| Desenho Monumento Sinergia

Fonte: Pesquisa do autor.

Fig. 18| Desenho vista da ponte.


31

Outro marco presente no acesso da cidade e que pode ser visto de vários pontos, é a usina Aperam (antiga Acesita), responsável pelo desenvolvimento econômico inicial da cidade. Alguns representaram empresa como a principal imagem com o qual a cidade se apresenta.

Fig. 19| Desenho Usina Aperam.

Fonte: Pesquisa do autor.

Alguns lugares pouco citados, também tem grande relevância para a cidade, como por exemplo, a Praça 29 de Abril, conhecida como Pracinha de Timóteo e a Igreja Matriz de São Sebastião, localizados na região sul da cidade, a primeira a ser ocupada, onde se originou a Vila de Timóteo. O Forno Hoffman, marco arquitetônico dentro do bairro Novo Horizonte, o atual edifício do Colégio Percival, escola projetada por Eolo Maia onde funcionou o CEFET, e a escola estadual Getúlio Vargas no bairro Funcionários, no bairro Funcionários. Também a estação Ferroviária Mario de Carvalho onde diariamente muitas pessoas pegam o trem de passageiros da Vale foi citado por apenas uma pessoa, morador de Cel. Fabriciano. A paisagem natural também estava bastante presente na imagem que as pessoas tem, mas limitou-se apenas as montanhas com verde dentro da área urbanizada e ao Pico do Ana Moura, este último lamentado pelo seu abandono recente por alguns dos pesquisados. Outras áreas de reserva como o Oikós e o Parque Estadual do Rio Doce em momento algum foram mencionadas. A falta destes últimos mostra certo desconhecimento por parte dos próprios moradores, e uma necessidade maior de divulgação e atividades relacionada a estes lugares, principalmente com relação ao P.E.R.D.


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Fig. 20| Desenhos Pico do Ana Moura, paisagem natural.

Fonte: Pesquisa do autor.

Junto das referências pessoais que foi pedido para cada pessoa, foi solicitado com que cada uma respondesse o que gostaria de ver na cidade. A grande maioria se dividiu em duas questões, uma ligada a infra estrutura da cidade, pedindo mais ciclovias (com mais frequência nos moradores de bairros mais afastados do centro norte), mais cuidado com as calçadas e arborização, e a outra parte se mostrou interessada em eventos culturais nos espaços públicos, alguns citaram inclusive que a cidade poderia ter mais obras de arte espalhadas por suas praças, principalmente ligando a artistas regionais. A volta do antigo Carnaval de Timóteo também foi solicitado por muitos, além da


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reabertura de alguns pontos de lazer, como o antigo clube Choupana, localizado no centro sul, e a revitalização do antigo Mercado central, localizado no centro de Acesita.

Fig. 21| Desenho referente ao carnaval de Timóteo

Fonte: Pesquisa do autor.

Com Base nesta pesquisa, considerando o centro de Acesita com o principal ponto de referência tanto em seus marcos arquitetônicos, no uso, na estrutura da rua, a Alameda 31 de outubro como um dos principais caminhos da cidade, além de todo o centro funcionar como um ponto nodal, considerando que dele sai e vem pessoas de todos os outros bairros da cidade, é um pondo direcionador dentro da cidade. O trabalho de renovação urbana terá foco neste espaço, fazendo referencia não apenas a ele mesmo, mas aos outros pontos importantes da cidade.


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4.1) AS ORIGENS DA CIDADE

Tendo como base como os moradores veem a própria cidade, o próximo passo é entender como ela foi se construindo e se consolidando como a cidade que é hoje. Como muitos sabem, os primeiros moradores da região onde hoje fica a cidade de Timóteo, foram os índios conhecidos como Botocudos, que segundo Sá (2014) foram completamente exterminados com a chegada dos portugueses pelo Rio Doce na região, a procura de riquezas minerais e escravos. Próximo a este período chegou o português Francisco de Paula e Silva Santa Maria, e fundou a Fazenda do Alegra, próximo ao ribeirão conhecido como “Timóteo”. A origem do nome da cidade esta dividida em 2 hipóteses, a mais popular é que o nome teve origem em um comerciante chegado a região na década de 1920, chamado Manoel Timóteo, que tinha tanta influencia na região, que deu seu nome ao “Povoado de Timóteo (Sá, 2014). Outra hipótese é do nome ter como o origem o ribeirão “Timóteo”, nomeado assim por Eshwege, no inicio do séc. XIX (Quecini, 2007). O desenvolvimento da fazenda do Alegre acarretou na fundação da Vila de Timóteo, tendo como provável data de fundação o ano de 1840. Porem ate a década de 1940, não passaria de um vilarejo com no máximo sete ruas em torno de uma igreja e um cemitério, onde se situa hoje a Praça 29 de Abril. Esta condição duraria ate a década de 40, quando o Eng. Alderico Rodrigues de Paulo viu no entorno da região, onde era a fazenda Angelina, o lugar perfeito para a implantação do que seria a maior siderúrgica da América Latina, a Aços Especiais Itabira, ACESITA (Quecini, 2007). Junto ao inicio da construção da usina, iniciada em 1942, os primeiros moradores de Timóteo foram chegando em busca de oportunidades de trabalho, mesmo sem

nenhum

projeto de urbanização

ainda

sendo

desenvolvido, foram erguidas as primeiras ocupações no entorno da futura usina, as chamadas Mundo Vira, Vai quem Quer, e a Vila dos Caixos, o qual segundo Quecini (2007): “as casas construídas com a madeira dos caixotes dos equipamentos dos matérias da usina reforçavam o tom precário e provisório do pretenso núcleo urbano”. E pela necessidade, junto a recém inaugurada capela de São Jose, foram erguidos, no entorno de onde hoje é a


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Praça 1º de Maio, os primeiros galpões comerciais, se iniciava a praça que daria origem ao principal centro comercial, ainda chamado pelos moradores de “praça” quando se referem ao centro da cidade. Com toda esta demanda, em 1946, um projeto de urbanização foi contratado.

4.2) DESENHO URBANO ENCOMENDADO PELA ACESITA

Construir cidades é construir homens. O ambiente urbano que é que plasma o caráter humano, de acordo com a própria feição, para a fealdade ou para a beleza. Para isso temos de principiar pela formação de uma psicologia urbana e anseio cívico TEIXEIRA, Romeu Duffers, 1952. P. 14.

A influência inicial para o projeto de urbanização da ACESITA vem das ideias divulgadas pelo inglês Ebenezer Howard, e seu conceito de cidade jardim, principalmente na questão da proximidade da cidade e seus moradores com a natureza, o uso de grandes avenidas parques e centros comerciais abertos, além do máximo de respeito a topografia e a natureza local. O homem por de trás deste projeto é Romeu Duffes Teixeira, contratado pelo Eng. Alderico Rodrigues de Paulo para o projeto, deixa bem claro em seu Memorial Descritivo todos toda a sua empolgação e conceitos idealizados para o novo empreendimento:

A cidade deveria ser projetada de tal modo que, o operário ao regressar do trabalho cansativo, se esquecesse totalmente, do ambiente trepidante da usina, durante o repouso calmo e confortante, indispensável a refazer suas forças para as novas lutas cotidianas. TEIXEIRA, Romeu Duffes, 1952, p. 2.

É bem clara a preocupação com o bem estar familiar e social dos operários, os lotes são projetados grandes, para que o fundo seja usado para cultivo de hortas e pomar, e para que a frente, com um afastamento indicado de cinco ou quatro metros entre a divisa e a casa, seja usado para jardins, para enfeitar a rua, características ainda visível nos bairros Bromélias, Timirim e Funcionários, este último, sendo o único a ser construído respeitando totalmente o projeto original (Fig. 9). A prioridade para a escala humana foi essencial para o bom


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projeto, em toda a cidade, a calçada é detalhada, com espaço para passei, e espaço para arborização, onde as árvores estão presentes de 5 em 5 metros (Fig. 22) algo possível de se notar em grande parte dos bairros centrais. As alterações no projeto em sua execução foram muitas. O centro inicialmente planejado para onde é o Timirim e Olaria, passou para mais próxima a ACESITA, para, segundo Quecini (2007), a empresa ter um maior controle econômico da cidade, e afasta-la de bairros independentes, como o antigo povoado de Timóteo. Porem as principais características foram adotadas no novo centro, como a avenida parque, os bulevares e os edifícios comerciais abertos (Fig. 23 e Fig. 24), o que garantiu uma maior permeabilidade do espaço público. Fig. 22| Detalhe feito por Teixeira para a Acesita.

Fonte: Arquivo Público Mineiro Fig. 23| Edifício comercial aberto no centro de Timóteo


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Fig. 24| Galeria Reis Magos

Fonte: Acervo do autor.

Fig. 25| Bulevar no centro de Timóteo.

Fonte: Acervo do autor.

Outra preocupação clara para Teixeira era com o lazer dos moradores, projetando pequenas quadras e esportes variados em todos os bairros, além de uma grande praça de esportes, onde hoje funciona como o Clube Campestre. No projeto original este era um espaço aberto, com quadras e


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campos disponíveis para toda a população (Fig. 25 e Fig. 25). Outro elemento respeitado em seu projeto inicial foi o ponto o qual reservou sobre um pequeno morro, o espaço para a grande igreja matriz da cidade (Fig. 27), segundo o próprio Teixeira (1952), além do espaço destinado ao hospital, o qual começou a ser construído em 1957, ambos no bairro Timirim, próximo de onde seria o centro idealizado por ele. Outras recomendações feitas por Teixeira (1952) para garantir uma cidade agradável junto a uma qualidade significativa de vida mais próxima a natureza, era que as fiações para iluminação pública fossem subterrâneas, deixando assim, o espaço livre para o crescimento das copas das árvores, além de apontar como essencial o transporte público adequado para os moradores, de preferencia os de tração elétrica, porem, completa afirmando que caso o orçamento seja pouco, tanto afiação quanto o transporte podem ser feitos no formato convencional. Na visão de Teixeira (1952), via o projeto de urbanização de Acesita com grande responsabilidade, e motivo de grande orgulho por ter participado. Segundo Quecine (2007), não existe mais nenhum dado sobre a participação dele em projetos posteriores envolvendo a cidade, nem mesmo no projeto de modificação do centro para onde se encontra hoje. Fig. 25| Planta geral praça de esportes feita por Teixeira para a Acesita.

Fonte: Arquivo Público Mineiro.


39

Fig. 26| Detalhe Praça de Esportes para a Acesita, por Teixeira.

Fonte: Arquivo Público Mineiro.

Fig. 27| Planta de Urbanização Parcial, bairro Funcionários, por Teixeira.

Fonte: Arquivo Público Mineiro.


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Fig. 28| Planta geral de Urbanização da Acesita por Romeu Duffes de Teixeira

Fonte: Arquivo Público Mineiro


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4.3) MARCOS ARQUITETÔNICOS

Como o foco deste trabalho ficara no Centro Norte da cidade, será destacado alguns elementos importantes presentes na paisagem desde chamado de Centro Comercial Acesita. A própria Alameda 31 de Outubro, junto a praça 1º de Maio (coreto), se destacam não apenas pelos edifícios presente nos entornos, mas por suas próprias formas marcantes na paisagem do centro. A Alameda com seu canteiro central, arborizado, com ciclovia e suas grandes calçadas em suas laterais, onde em alguns pontos, ainda se tem as arvores presentes de 5 em 5 metros, como especifica o memorial elaborado por Duffes Teixeira para toda a cidade.

Fig. 29| Centro Cultural Fundação Aperam Acesita

Fonte: Acervo do autor.

Na Alameda estão o Centro Cultural da Fundação Aperam Acesita (Fig. 29), edifício neocolonial, erguido na década de 50 como casa de hospedes da Acesita, readequado como centro de atividades culturais em 1994. Em seu interior existe um museu, teatro, acontecem cursos e oficinas, além de realizarem eventos foda da edificação como o sarau na praça 1º de Maio, e concertos no bosque (Atlas, Histórico, Geográfico e Cultural do Município de


42

Timóteo, 2014), o Ginásio poliesportivo Iorque José Martins, conhecido popularmente como Ginásio Coberto, inaugurado em 1986, onde já acorreu eventos de todos os tipos para a população, hoje se encontra abandonado. O Edifício residencial Pioneiros ao lado da Fundação Aperam e o Comercial onde fica a popular loja 104 (Fig. 30, 31, 32), projetados pelo arquiteto José Luiz Batista, considerado o primeiro arquiteto a se estabelecer no Vale do Aço e em Timóteo, e responsável por grande parte da arquitetura mais moderna de Timóteo (Quecini, 2007). Este edifício comercial segue a mesma ideia de aberto dos mais antigos, podendo ser considerado assim um exemplo de arquitetura contextualista, já abordada neste trabalho.

Fig. 30| Edifício Comercial

Fig. 31| Edifício Comercial

Fig. 32| Edifício Comercial, assinatura do Arquiteto.

Fonte: Acervo do autor

Seguem o Edifício do Banco do Brasil, e o Hotel Green Valley, primeira construção de grande porte verticalizada da cidade. Os edifícios comerciais “abertos” já citados no texto, o mais novo construído anos 60 e o primeiro, onde ficava o Cine Marabá (Fig. 33), construído nos anos 50, (Quecine, 2007). Vale lembrar que as ruas nas laterais do primeiro citado, ate 10 anos atrás, eram


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calçadões que serviam como grandes praças que uniam os quarteirões, mostrando assim mais um potencial urbanístico existente em Timóteo que foi retirado.

Fig. 33| Edifício comercial onde inicialmente funcionou o Cine Marabá

Fonte: Acervo do autor

Como monumento ao final da alameda, se tem a sede da antiga fazenda Angelina (Fig. 34), primeira residência estabelecida na região central, hoje modificada, e o antigo Mercado Central de Timóteo, ao lado do Camelódromo, onde ainda se localizam alguns comércios tradicionais na cidade, como o Bar do Salles, onde todas as sextas acontecem serestas com músicos bem antigos e experientes da cidade. Fig. 34| Antiga Fazenda Angelina

Seguindo para a praça 1º de Maio,

além

“Ginásio

do

Coberto”,

citado esta

o

moderno edifício do Escritório Central da Aperam (Fig. 35), construído concurso

à

partir de

de

um

projeto

arquitetônico feito no final da .

década de 70, segundo Quecine (2007).


44

Fig. 35| Escritório Central Aperam

Fonte: Acervo do autor.

Seguindo se tem o edifício do antigo Colégio Dom Bosco, com traços modernistas (Fig. 37 e 38) e a pioneira Capela de São José, inaugurada na década de 40 (Fig. 36).

Fig. 36| Capela de São José

Fonte: Acervo do autor.


45

Fig. 37 e 38| Antigo Colégio Dom Bosco Servindo como ponto de referência, a praça 1º de Maio, ou o Coreto, faz jus ao seu papel, a partir dela, se tem a visão de muitos dos elementos citados, de uma ponta a outra. Além de ser uma praça com movimento constante dentro da cidade, dentro dela própria existem mais

dois

referencia, fundado

pontos o

em

de

monumento 1984,

em

homenagem aos fundadores da ate antão ACESITA e aos Fonte: Acervo do autor

40 anos da empresa e o pequeno

coreto que da nome a praça como um todo. Popularmente todo este espaço é conhecido como “coreto”, sendo assim, todo o centro norte de Timóteo é como uma grande praça, e a praça 1º de Maio, é como um grande coreto.

Fig. 39| Monumento aos 40 anos da ACESITA com vista do Ginásio ao fundo


46

Fig. 40| Coreto presente no centro da Praça 1º de Maio

Fonte: Acervo do autor.

Outra referência que merece destaque na região central, são as calçadas ilustradas em blocos portugueses, mesmo que exista grande descaso por parte dos comerciantes e da prefeitura com elas, pois muitas já foram sobrepostas com cerâmicas comerciais, inclusive, algumas com blocos portugueses estampados, e as que ainda sobraram pela cidade, estão em estado de abandono.

Fig. 41| Representação do estado de uma das calçadas em Timóteo

Fonte: Acervo do autor.


47

5.0) PROPOSTA PARA TCC 2 Fig. 42| “gente que veio de TimótEo”

Fonte: www.facebook.com/indiretasmineirasoficial/

São Justamente as lembranças localizadas na região da intimidade que nos dão sentido de valorização dos aposentos, praças, ruas, edifícios e paisagens que constituem patrimônio da história da humanidade, de uma determinada sociedade ou das historias íntimas e individuais. ORTEGOSA, Sandra Mara, 2009.

Como aborda Lerner (2011) em seu livro Acupuntura Urbana, quando as pessoas começam por ter consciência da própria cidade, a identificação com o lugar aumenta, e cada um se põe ao papel de contribuir de alguma forma com o lugar. Pensando nessa valorização do espaço urbano, para primeiro com os moradores e em seguida com pessoas de fora, e seguindo a lógica da “Acupuntura Urbana” e das “Cidades Criativas”, a proposta para o TCC 2 tem o objetivo de requalificação e valorização da cidade a partir de observações feitas pelos próprios moradores. Tendo como local da proposta, o ponto de maior referencia para as pessoas, no caso o centro norte, será realizado em alguns pontos, propostas urbanísticas e paisagísticas tendo em vista, buscar maior qualidade ao se caminhar pelo centro, além da valorização de edifícios


48

presentes no entorno, locais para se ficar, conversar e observar, tendo como uma

das

referencias

artistas

locais

para

contribuição

no

projeto,

potencializando o centro não apenas como local de passagem, mas sim, um lugar onde as pessoas gostam de frequentar e passar um tempo. Junto dessas pequenas intervenções, será elaborado a proposta de um grande equipamento, em um lote próximo aos marcos em volta da Praça 1º de Maio (Coreto) Um centro de referência ao Turismo, que além de contar a historia dos monumentos presentes no próprio centro, trará referencia a outros pontos bastante frequentados e citados na pesquisa como a Feira do Timirim, bares, outros monumentos espalhados pela cidade, e eventos culturais como o Congado de Timóteo, cantata de natal da Fundação Aperam Acesita, e outros eventos produzidos por coletivos independentes da região, além de ponto de informação e divulgação de locais não tão mencionados na pesquisa, como o Parque Estadual do Rio Doce, Oikos, Pico do Ana Moura e a Estrada de Ferro Vitória Minas.

Fig. 43| Desenho representando o centro norte com os locais de intervenção.

Fonte: Acervo do autor.


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Os espaços abertos escolhidos para intervenções com equipamentos urbanos e paisagísticos, serão o edifício comercial do antigo Cinema Marabá com sua Galeria Reis Magos (Fig. 44), a galeria para pedestres Green Valley (Fig. 45), que é um caminho ligando a Alameda ao Coreto, e onde fica o lote escolhido, com testada para 3 lados, tendo a possibilidade de ser uma obra que se abra para a cidade facilitando o acesso das pessoas. E o último ponto é o entorno da Capela de São José (Fig. 46).

Fig. 44| Galeria Reis Magos

Fig. 45| Galeria Green Valley

Fonte: Acervo do autor.

Fig. 46| Entorno da Igreja de São José

Fonte: Acervo do autor.

O objetivo do projeto é mostrar como a valorização dos espaços públicos e das edificações ali presentes, tendo como referência a visão da população local


50

podem criar uma de identificação maior de com a cidade e seus moradores, além valorização econômica considerando o comercio local e os pontos a serem referenciados no centro de apoio ao turismo. Uma boa referencia para a ideia da proposta, é o projeto cultural “Domingo é na Feira!” (Fig. 47, Fig. 48), proposta também para a cidade de Timóteo, que por meio da criação de um corredor Cultural, teve como objetivo além da valorização dos marcos arquitetônico, no caso, os do bairro do Timirim, o fortalecimento da economia local, impulsionada pela feira que acontece aos domingos e quintas-feiras de todas as semanas, por meio de sua divulgação junto a oficinas e parceria com ONGS e grupos culturais da cidade.

Fig. 47| Domingo é na Feira 1

Fonte: Acervo do autor. Fig. 48| Domingo é na Feira


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Estas intervenções criarão uma espécie de circuito que além das intervenções arquitetônicas, será apresentado possibilidades de projetos culturais a serem realizados tanto nas ruas, quanto na nova edificação e mesmo edificações já existentes no centro.

O processo de projeto será dividido em algumas etapas:

1º Etapa: Projeto arquitetônico para espaços abertos e edificação do Centro de Apoio a cultura e ao Turismo.

2º Etapa: Pesquisa de quais seriam os possíveis parceiros dentro da cidade: artesãos, músicos, ONGs, Entidades, empresários, pessoas interessadas no turismo e lazer.

3º Etapa: Elaboração de projetos culturais a serem executados nesses mesmos espaços, formas de divulgação e viabilidade.


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6.0) CONCLUSÃO

O profissional de arquitetura e urbanismo, quando se envolve profundamente com um projeto, provavelmente se surpreende com tanta coisa a se descobrir com aquilo que ele vai representar com o trabalho. A pesquisa profunda cria uma responsabilidade maior sobre o trabalho que será feito. Este trabalho mostrou exatamente o quanto a ideia da identidade do local junto aos costumes do entorno podem se juntar com influências externas de maneira a acrescentar, e não apenas a homogeneizar, No caso de Timóteo, ou Acesita, do centro comercial Centro Norte, ou praça, da Praça 1º de Maio, ou Coreto, os nomes por si só já mostram a diversidade a ser explorada para um futuro potencial, onde a resposta esta na própria historia do local. Uma população que já chegou em busca de algo novo, no caso a abertura de uma nova usina, deve continuar se renovando de todas as formas. O que motivou essa pesquisa foi exatamente o potencial visto pelo autor nessas ruas, e com o trabalho realizado no Tcc 2, o objetivo será alcançar essa valorização dos espaços atribuindo novos usos com referencia aos antigos. Como aborda o conceito das Cidades Criativas, unindo todos os elementos já desenvolvidos no local, vindos principalmente das pessoas, do clima, da natureza nativa, se consegue olhar para frente e pensar em novos futuros para o local trabalhado.


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7.0) REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

CABRAL, Oribes Alvares. Só Pra Não Falar que Não Falei do Tem Nada a Ver: Tem Nada a Ver Bloco Caricato 30 Anos de História.

Empresa das Artes. Timóteo um Município Brasileiro, São Paulo, Editare Editora, 2008

FESSLER, Lilian. Planos e Projetos de Regeneração Cultural: Notas Sobre uma tendência Urbanística Recente.

GEHL, Jean. Cidades Para Pessoas. Perspectiva, 2º ed, 2014.

LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana, Rio de Janeiro, Editora Record, 2011.

LYNCH, Kevin, A Imagem da Cidade, 1960 ORTEGOSA, Sandra Mara. Cidade e Memória: do urbanismo “arrasa quarteirão” a questão do lugar. 2007.

QUECINE, Vanda M. Formação Social e Resistencia Cultural Numa Cidade Empresarial: O Caso do Carnaval de Timóteo. São Paulo.

QUECINE, Vanda M.. Timóteo: O Legado Urbano de um Projeto Industrial, São Paulo, 2007. RÁ, Ana Carla Fonseca e KAGEYAMA, Peter. Cidades Criativas – Perspectivas, São Paulo, Garimpo de Soluções & Creatives Cities Production, 2011.

SÁ, Alessandro de, Atlas Histórico, Geográfico e Cultural do Município de Timóteo, 1º Edição, Ipatinga, Gráfica Art Publish, 2014.


54

TEIXEIRA, Romeu Andrade Duffles. Memorial do Projeto de Urbanização da Acesita, 1952

TOURONO, Fabricio: Mr, e RAYES, Paulo: Dr. Identidade Territorial: um processo de construção, 2011.


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