MERGULHO Piscinas do Poço do Bispo

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MERGULHO Piscinas do Poรงo do bispo

Frederico Reis


MERGULHO Piscinas do Poço do Bispo

Orientadores Inês Lobo Mestrado Integrado Arquitectura

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João Luis Carrilho da Graça Departamento Arquitectura

Pedro Oliveira Universidade Autónoma Lisboa


MERGULHO Piscinas do Poรงo do bispo

Frederico Reis


RESUMO ‘Mergulhar em Lisboa’ é o tema sugerido, que serve como de ponto partida para uma reflexão acerca das inúmeras possibilidades de intervir com um programa de piscinas públicas para Lisboa. Este tipo de estruturas é quase inexistente numa cidade com um enorme culto balnear. A linha de costa Lisboeta, o seu desenho original, as suas várias fases e mudanças, são características únicas que criam momentos de cidade muito particulares. A análise foi feita de Santa Apolónia à Expo, um troço de costa que ficou estagnado no pós-industrialização, deixando para trás um antigo limite rico em edificado patrimonial, invadindo o mar e desenhando a cidade com novos contornos. Deste modo, é abordada a problemática de intervir em lugares consolidados e com contextos patrimoniais. Este trabalho foca-se nestes aspectos, pretendendo recuperar um lugar esquecido no Poço do Bispo, marcando posição no fim da escarpa, acentuando o espírito do lugar, ao requalificar um jardim voltado para o Mar da Palha. A criação de espaços de lazer em grande escala é, assim, a estratégia crucial para a resolução destes lugares adormecidos na cidade. Mergulhar, Lisboa, linha de costa, contextos patrimoniais,

Poço do Bispo, jardim, lazer

ABSTRACT ‘Diving in Lisbon’ is the theme suggested, serving as a starting point for a reflexion about the innumerous possibilities of intervening with a public swimming pool programme for Lisbon. This type of structure is near to inexistent in a city with great seaside cult. The Lisbon shore line, its original design, its different stages and changes, are unique characteristics that create very particular moments in the city. The analysis was done from Santa Apolónia to the Expo, a shore branch that remained stagnated on the post-industrialization period, leaving behind an old limit rich in patrimonial edification, invading the sea and drawing the city with new shapes. Thus, the intervention in places that are consolidated and have a patrimonial context is approached. This work is focused on these aspects, and aims at recovering a forgotten place at Poço do Bispo, presenting itself at the end of the scarp, emphasizing the spirit of the place by re-qualifying a garden turned towards Mar da Palha. The creation of large scale leisure areas is, thus, the crucial strategy for the resolution of these dormant places in the city. Diving, Lisbon, shore line, patrimonial contexts,

Poço do Bispo, garden, leisure


01. Karlovy Vary Pool - Gerd Danigel - 1983


Índice geral 008

MERGULHO (Introdução)

Análise e reflexão escrita 010

Intervir com Património

012 014 018 024

Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal Casa dos Bicos Palácio de São Bento Palácio de Belém

030

Internationale situationniste e o prazer como programa em arquitectura

Índice Fotográfico

Análise do território 040

Aproximação à cidade

042 044 046 048 050 052

Planta da Região Sistema de circulações/mobilidade Sistema ecológico Sistema hidrológico e micro-clima Sistema geomorfológico Sistema aterros

054

Linha de costa, de Santa Apolónia á expo

056 058 060 062

Edificado de valor patrimonial Caminhos do Oriente Plano de aterros Carta topográfica 1904 - 11, Silva Pinto

005 009

01. Karlovy Vary Pool 02. Mergulho

Análise e reflexão escrita

Aproximação ao lugar

029

03. Desenho do Chiado 04. As velhas memórias 05. Casa dos Bicos 06. Casa dos Bicos 07. Palácio de São Bento, antes da construção da fachada actual 08. Palácio de São Bento: jardins 09. Palácio de São Bento: encontro 10. Panorâmica de Lisboa abrangendo a rua de Belém e o palácio de Belém 11. Centro de Centro de informação e Documentação do Palácio de Belém 12. Casa de Férias em Ófir

064 066 070

A Quinta de Marvila A Quinta da Mitra O Palácio da Mitra

076

Paysage

031 033 035 037 039

13. Manifestação em Paris 14. Playtime 15. Cartaz da Internationale Situationniste 16. The Naked City 17. New Babylon Paris

011 013 015 017 019 021 023 025 027

Análise do território

Piscinas do Poço do Bispo 078 080 082 084 092 096

Planta de localização esc 1:10000 Memória descritiva Edifícios referenciais e transportes Planta de Implantação esc 1:2000 Perfis, da linha de comboio ao mar esc 1:2000 Planta de cobertura e espaço público esc 1:1000

098

Axonometria

100 106 112

Plantas esc 1:600 Alçados esc 1:600 Cortes esc 1:600

120

Materialidade e construção esc 1:50

122

Fotomontagens

132

Desenhos

154

Bibliografia

041 055 062 063 065 067 069 071 073 075 077

18. Fotografia aérea de Lisboa 19. Ortofotomapa de Santa Apolónia à Expo 20. Excerto de Carta Topográfica de Lisboa 21. Cem anos da costa oriental 1911-2011 22. Pavimentação da Rua do Açucar 23. Palácio da Mitra 24. Beco da Mitra 25. Palácio da Mitra 26. Palácio da Mitra, vista do jardim 27. Jardim do Palácio da Mitra 28. Jardim e Asilo da Mira

Piscinas do Poço do Bispo 081 083 087 089 091 155

29. Armazéns 30. Ortofotomapa sobre o Poço do Bispo 31. Vista para o terreno de intervenção 32. Comboio e edificio 33. Luz do lugar 34. Watt



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Mergulho Introdução

O ponto de partida para o trabalho surge com o tema “mergulhar em Lisboa”. O objectivo seria criar um espaço lúdico de grande escala, que servisse e resolvesse uma parte da cidade. Numa primeira abordagem elaborou-se um estudo geral a uma escala urbana mais afastada, em que se pode perceber a função de todos os sistemas, entendendo Lisboa como um todo, seguindo-se a compreensão da frente ribeirinha, na sua estrutura e nas suas vivências. A zona oriental foi o território eleito para intervir, sítio este que tem vindo a sofrer alguma falta de dinamismo, entre Santa Apolónia e a Expo, onde se entra num panorama muito diferente do resto da costa. Mais tarde foi decidido intervir em Marvila, possivelmente um ponto fulcral para o começo da resolução dos problemas existentes. A realização do projecto tem uma estrutura e um programa que pretende criar um ponto de partida para o dinamismo gradual da costa oriental de Lisboa. Devido à existência de edificado classificado como património na envolvente do terreno do lugar proposto, faz todo o sentido que um dos temas em foco seja “Intervir com Património”, no âmbito de elaboração de um estudo como forma de entender as várias possibilidades que existem de lidar com este tipo de pré-existências. A proposta de intervenção situa-se no Poço do Bispo, com frente permeável para Rua do Açúcar, junto ao Palácio da Mitra. Este palácio possui um jardim que ficou desqualificado pela indústria que se foi desenvolvendo a partir do séc. XIX. A intenção é devolver a qualidade deste espaço através de um projecto que pretende dinamizar o resto do tecido urbano que o envolve.

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02. Mergulho (fotografia original de: Hengki24 - retirada de deviantart.com)


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Intervir com património Património como pré-existência

A pluralidade de soluções e metodologias para integrar uma intervenção, que crie uma relação com um edifício em específico ou com um contexto urbano, são intermináveis. A intervenção com estes elementos de relevância histórica é hoje, mais do que nunca, um desafio da disciplina de arquitectura, um desafio que visa preservar, respeitar e enaltecer as componentes e os valores de génese da pré-existência. A procura por relacionar a nova proposta arquitectónica com o território, com a envolvente ou com um valor telúrico, que permita justificar opções tomadas e que tornem o edifício num elemento adequado e bem inserido no seu contexto, é um processo de análise e pensamento fortemente sentido na arquitectura portuguesa. Assim, aceitar estas pré-existências como memórias vivas, pró-activas, erguidas no passado e que devem ser adaptadas ao futuro, é um conceito essencial para se poder tirar partido do elemento pré-existente, na procura de conjugar com sucesso os elementos prévios com os novos. “Falar de Património é falar de herança individual ou colectiva. E esta herança tanto pode ser entendida como um legado específico construído por um conjunto objectivo de bens que nos foi entregue pelos nossos antepassados, como pode ser entendida como um conjunto objectivo de bens que constituirá um legado específico a ser por nós entregue aos nossos vindouros.”1 O objectivo desta análise pretende focar-se em dois aspectos principais: O primeiro será o inquérito à arquitectura popular portuguesa, uma breve explicação sobre o tema, o seu objectivo e, por consequência, as bases que este lançou para a procura de hipóteses que permitissem conciliar o racionalismo e funcionalismo modernos com as raízes da arquitectura portuguesa e com a génese do lugar. O segundo, a análise de três exemplos completamente distintos, das pré-existências até às intervenções, cada uma com o seu objectivo. A Casa dos Bicos, intervenção do Arquitecto José Daniel Santa-Rita e Arquitecto Manuel Vicente, o edifício anexo ao palácio de São Bento, Arquitecto Fernando Távora e o centro de documentação e arquivo do palácio de Belém projecto do Arquitecto João Luís Carrilho da graça.

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03. Desenho do Chiado (Álvaro Siza Vieira - 1989 - retirado de “as cidades”)


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Intervir com património

Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal No fim da década de 50, a linguagem moderna generalizada e aplicada indiscriminadamente tornava-se banal. A reivindicação de uma arquitectura moderna como única forma de combate ao regionalismo fascista perdia sentido e surgia a necessidade de encontro de uma via de continuidade e evolução que recuperasse os conceitos de história e tradição e os incorporasse num novo léxico. Acompanhando o contexto internacional, o movimento moderno entrava em crise. Pretendia-se assim encontrar uma solução que conjugasse duas realidades: a visão prática da arquitectura moderna com as origens da arquitectura portuguesa. Em 1948 realiza-se o primeiro congresso do Sindicato Nacional dos Arquitectos (SNA), o qual tinha como objectivo a abordagem da Arquitectura no Plano Nacional. O mesmo acabou por se focar no debate do problema português da habitação e, por consequência, o tema da casa portuguesa. Olhando para trás, Raul Lino já havia reflectido sobre este tema, tendo antes reivindicado a existência de uma linguagem estética para a casa portuguesa. Escreveu, A Nossa Casa – 1918, A Casa Portuguesa – 1929 e Casas Portuguesas – 1933. Fernando Távora, personagem relevante do SNA discordava, em O Problema da Casa Portuguesa de 1947, pondo em causa todas estas ideias, rejeitando os historicismos e os elementos decorativos, que não cumpriam nenhuma função específica. A criação de uma arquitectura atenta ao homem da sua época era a questão essencial, assim como o saber interpretar a história, retirando-se dela os elementos fundamentais para a criação de um edifício coerente, integrado e que respondesse ao problema satisfazendo as necessidades dos vários momentos. Em 1955, sob orientação de Francisco Keil do Amaral, o Sindicato Nacional dos Arquitectos elabora um levantamento com testemunhos e registos fotográficos, ao qual é atribuido o nome de Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa. Este viria a ter um contributo de valor inestimável no conhecimento da arquitectura vernacular portuguesa de Norte a Sul do país, registando materiais, funções e programas, provando a existência de uma pluralidade de soluções possíveis e não uma única fórmula para a casa portuguesa, fortalecendo a ideia de que as premissas para a criação de um edifício estão no lugar. Na consumação de um novo discurso sobre o regionalismo e a “nova” arquitectura portuguesa, integradora de modernidade e herança cultural, Fernando Távora e Nuno Portas seriam personagens centrais, construindo uma reflexão crítica acerca do movimento moderno. O trabalho foi iniciado em 1955 e publicado em 1961. Para uma realização mais eficiente e rápida deste inquérito o país foi dividido por zonas, seis no total,. A cada zona correspondia uma equipa. Zona 1 – Minho, Zona 2 – Trás-os-Montes, Zona 3 – Beiras, Zona 4 – Estremadura, Zona 5 – Alentejo e Zona 6 – Algarve. Fernando Távora, juntamente com Octávio Filgueiras, orientou o grupo responsável pela Região Norte. Os valores da paisagem, do edifício como património e como elemento caracterizador do lugar, seriam aspectos fortemente enaltecidos neste capítulo do livro. O Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa, pretendia demonstrar a pluralidade de hipóteses que havia na arquitectura mais rural, a forma como estava em harmonia com o lugar e com a paisagem, a variedade de situações que esta criava e como se adaptava às diversas necessidades, às técnicas mais características e especificas, história. Também a sustentabilidade e a economia de cada região eram analisadas. A História, a geografia e o clima condicionavam as várias tipologias de edificios ao longo do território português. As bases e as ideias para a criação de um projecto estavam no lugar, seria esta a conclusão mais prática retirada do inquérito. A problemática do lugar, a atenção especial para o espírito, o genius loci, o cruzamento das características da região com a lógica das várias tipologias. Não ignorar os valores passados, as pré-existências mas também não ser tradicionalista. Procurava-se assim uma subtil ligação entre uma proposta moderna e a realidade do lugar.

1. IAPXX, Inquérito à arquitectura do século XX em Portugal, pg. 67, lb. 1/5

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04. As velhas mem贸rias (Ant贸nio Men茅res - 1955 a 1960)


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Intervir com património

Três possibilidades de intervir com património A Casa dos Bicos Construída entre 1521 e 1523, por ordem de Afonso Brás de Albuquerque e destinada à habitação, a casa dos Bicos, ou Casa de Brás de Albuquerque, chega ao século XX como um dos poucos exemplares da arquitectura civil de reminiscências quinhentistas, com influências directas de palácios do renascimento italiano. O edifício está implantado num lote irregular e de pequenas dimensões, estaria na época ladeado por palácios de importantes senhores, característica que hoje já não se verifica. Encastrada na encosta da Sé de Lisboa, ergue-se num terreno até então ocupado por alguns casebres e uma escadaria pública que ajudava a vencer o desnível da encosta. O alçado Sul da casa teria quatro andares enquanto que o alçado Norte assumiria apenas dois. A fachada Sul tem um desenho rico e regrado, em que a regra é imposta pelo chamado “bico”, que assim se revela como um elemento gerador e estrutural e não como simples forro de parede. Os bicos que caracterizam e particularizam este edifício, estão colocados em xadrez, sendo a peça em pedra composta por dois elementos: o bico em forma de pirâmide com base quadrangular (de 28 cm e uma altura de 20 cm) e um bloco quadrangular liso, também de 28 cm. Com o terramoto de 1755, o edifício ficou reduzido a apenas dois dos seus quatro pisos iniciais, e assim permaneceu. Mais tarde existiu uma forte tentativa de integração do edifício no alinhamento do plano Pombalino, contudo o factor importante a realçar é a diferença entre a linha de cércea da Casa dos Bicos e a de todos os edifícios restantes, pertencentes ao mesmo plano urbano. A zona ribeirinha perdeu o seu anterior valor, uma vez que os grandes senhores e nobres que ali habitavam se mudaram para outros bairros, como o Bairro Alto, transformando a zona num centro mercantil. A casa dos bicos é então adquirida por um comerciante de bacalhau, Caetano Lopes da Silva, que transforma a casa num armazém de bacalhau, função que mantém até meados do século XX. No decorrer do século XX, foram três as intervenções de reabilitação e reconversão feitas na Casa dos Bicos. A primeira foi a intervenção do Arquitecto Raul Lino, em 1968, que consequentemente proporcionou obras de consolidação entre 1969 e 1974. A proposta do mesmo consistia em preservar a fachada sul apenas com dois pisos, criando uma ligação da rua do Albuquerque ao Jardim das Cebolas, vencendo a diferença de cotas. O edifício continuou com uma escala muito doméstica que entrava em confronto com o resto da linha ribeirinha, escala que de resto não coincidia com o programa a instalar na casa dos Bicos. A segunda intervenção foi feita pelo Arquitecto José Daniel Santa-Rita com o objectivo de albergar um espaço expositivo para a XVII Exposição de Arte, Ciências e Cultura. Nesta proposta, tal como na de Raul Lino, é possível observar que é mantida a fachada sul com apenas dois pisos, porém, esta difere da proposta anterior pela complexidade do programa e pelo aumento da volumetria do edifício. As escadas longitudinais continuam presentes, se bem que mais recuadas face ao alçado sul do edifício. Foram criados pisos no subsolo, para albergar todo o espaço necessário. Contudo, o projecto continua sem responder ao problema de cérceas originado pelo plano de Pombal.

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05. Casa dos Bicos (Estúdio de Mário de Novaes - 1940)


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Intervir com património

Três possibilidades de intervir com património A solução de José Daniel Santa-Rita e Manuel Vicente Em 1981, o Arquitecto José Daniel Santa-Rita com a colaboração do Arquitecto Manuel Vicente, desenvolveu a nova proposta, que tinha como duas premissas principais devolver a antiga volumetria do edifício e aumentar a linha de cércea, compondo os quatro pisos originais e permitindo criar mais espaço, resolvendo a falta de área para albergar a exposição. O Alçado Sul Através das dimensões da peça que compõe a fachada, com o auxílio de gravuras da época e de outras peças encontradas, os arqueólogos puderam calcular com alguma exactidão a cércea original, assim como a altura dos pisos e a localização dos respectivos vãos. Foram por isso consideradas quatro hipóteses para a resolução desta questão: 1ª - Reprodução exacta do original 2ª - Desenhar à “maneira de” 3ª - Reproduzir elementos tipológicos de modo contemporâneo 4ª - Refazer os dois pisos em falta numa arquitectura mais desmarcada Tomada esta decisão, foi proposto ao Arquitecto António Marques Miguel, que desenhasse os novos vãos, tendo sempre em conta o estudo já realizado da localização dos mesmos. Tudo se regrava pela métrica dada pelos bicos. A moldura do vão é realizada em perfis metálicos com um desenho que representasse, “não uma memória erudita do estudioso, especialista ou intelectual, mas uma memória sedimentada com o tempo.” O Alçado Norte Não havia vestígios de uma fachada original, nem iluminuras e, sobretudo, nem bicos que impusessem um regra forte por onde os arquitectos se pudessem basear e guiar. Não existia nenhuma referência. Assim , a opção tomada é a de construir uma cortina de vidro, com uma caixilharia claramente marcada e acentuada. A fachada norte desta proposta pretende ser um pano de vidro que revela o interior da casa. Assume-se como não sendo permanente na intervenção, está aberta a possíveis alterações, e tenta ser um ténue contentor como se de um écran se tratasse. O interior O programa original da casa dos Bicos, doméstico e privado, era o oposto do novo programa a implantar, o qual se queria amplo e público. Restavam assim poucos vestígios do que tinha sido, em tempos, a configuração original, optando os arquitectos responsáveis por reconstruir todo o interior. Mantiveram apenas dois aspectos importantes do traçado original: a escada e a estrutura de três alas longitudinais. Por falta de referências os arquitectos optaram também por ordenar toda a planta a partir de um ponto central, retirando daí a colocação das escadas, um elemento muito importante no desenho deste interior. De facto, as escadas estão sempre presentes em todos os pisos e assumem-se como elemento central onde, em seu redor, o espaço se desenvolve. O restante espaço, revela-se aberto e sem divisões, de modo a facilitar a implementação do programa para ele previsto. É notório o cuidado que os arquitectos tiveram com os vestígios arqueológicos, sendo que, quando existem, a estrutura implanta-se de modo a possibilitar a sua leitura.

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06. Casa dos Bicos (Santi bcn - retirada de panoramio.com)


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Intervir com património

Três possibilidades de intervir com património O Palácio de São Bento Aquela que é hoje a Assembleia da República começou por ser o convento de S. Bento da Saúde e residência dos frades beneditinos, fundado em 1598. A sua construção, sob desenho e direcção do arquitecto Baltazar Álvares, foi terminada em 1615. O Palácio de S. Bento teve no passado diversas utilizações. Tendo sofrido poucos danos com o grande terramoto de 1755, albergou por razões de segurança, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo que aí se manteve até 1990. Depois da extinção das ordens monásticas em 1834, passou para a posse do estado e foi desde essa data determinado por decreto de lei de D. Pedro IV que seria aí a sede do parlamento, com o nome de “Palácio das Cortes”. As suas obras de adaptação às novas funções foram dirigidas pelo arquitecto Possidónio da Silva. O Palácio teve durante a sua história intervenções de outros notáveis arquitectos do nosso país. A câmara dos Deputados, destruída por um incêndio em 1895, foi substituída por aquela que é hoje a Sala das sessões plenárias, projecto do arquitecto Ventura Terra. A escadaria monumental, concluída em 1938 é projecto do arquitecto Cristino da Silva. O palácio alberga não só intervenções e obras de grandes arquitectos portugueses, mas também de grandes escultores e pintores como Barata Feio ou Columbano Bordalo Pinheiro. Desde 1834 funcionaram neste edifício sucessivamente; as Cortes (até 1910), com duas Câmaras, a dos Pares e a dos Deputados; a Assembleia Constituinte (1911); O Congresso da Republica (1911-1926); a Assembleia Nacional e a Câmara corporativa (19351974); a Assembleia Constituinte (1975-1976); e desde 1976, a Assembleia da República. O Palácio de S. Bento é um vasto edifício com frentes para o Largo de São Bento, Rua Correia Garção, Rua de São Bento, Praça de São Bento, Calçada da Estrela e Jardim da Residência Oficial do Primeiro-Ministro.

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07. Palácio de São Bento, antes da construção da fachada actual (Fotógrafo não identificado - 1898/1908)


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Intervir com património

Três possibilidades de intervir com património Concurso de ideias para o “Novo Edifício da Assembleia da Republica” Lançado no início dos anos noventa do século passado, são hoje escassas as informações disponíveis sobre este concurso que na altura gerou muita polémica e controvérsia. Sobre ele sabe-se que numa primeira pré-selecção de propostas foram escolhidos quatro trabalhos, todos eles aparentemente inspirados na ideia de reservar à nova construção um lugar dominante no conjunto urbano da Praça de São Bento. A comissão que o programa do concurso previra para decidir a final não pode superar o impasse das opiniões geradas no seu seio, acabando por atribuir o 1º Lugar ex-aequo a dois dos projectos, dos arquitectos João Luís Carrilho da Graça e Tomás Taveira. Perante a falta de decisão quanto a um vencedor, o concurso foi anulado e o trabalho encomendado ao arquitecto Fernando Távora. Assim, analisando e comparando as duas propostas vencedoras, a do arquitecto Tomás Taveira e a do arquitecto João Luís Carrilho da Graça, a do primeiro revela uma total falta de sensibilidade pelo lugar, pelo património (o edifício do Palácio de S. Bento), e pela própria instituição Assembleia da Republica. Na proposta do Arquitecto Tomás Taveira, o edifico que este propõe não tenta minimamente estabelecer uma relação com o lugar ou com o edifício pré-existente, sendo completamente descontextualizada. Já a proposta do Arquitecto João Luís Carrilho da Graça, é dotada de uma subtileza claramente superior. Conceptualmente, o arquitecto propõe a existência de dois vazios, que permitem fazer a iluminação do edifício através de luz natural, conseguindo também dar em simultâneo uma grande privacidade às salas. Estes pátios constituídos por espelhos de água ao nível do solo, pretendem estabelecer relações com as árvores existentes na envolvente. Construtivamente, o edifício é revestido em pedra calcária, a mesma pedra usada no palácio de S. Bento e que faz parte da tradição construtiva na região de Lisboa. O arquitecto pretende contrapor a opacidade da pedra à luminosidade e à transparência criada dos pátios. A proposta do Arquitecto Carrilho da Graça, torna-se bem mais coerente, adequando-se melhor ao lugar e ao edifício com que se relaciona, quer pela sobriedade como pela correspondência e relação que se pretende criar entre os dois edifícios, não esquecendo a própria envolvente. Programa exigido O Programa do novo edifício previa que este respondesse a duas funções principais: Gabinetes e Salas de Reunião para 120 Deputados da Assembleia, não existindo já no Palácio espaço suficiente e a Residência Oficial do Presidente da Assembleia da República, sendo este o único, de entre as três maiores figuras do estado português, a não ter residência própria. O programa da Residência oficial era considerado como o de uma embaixada, isto é deveria ter a dupla capacidade de representação oficial e de habitação familiar. A estas duas funções primordiais juntavam-se outras: um bar e um auditório no rés-do-chão; um restaurante, com cerca de 100 lugares sentados, na cobertura; áreas de estacionamento sob o edifício à cota do parque de estacionamento sob o Largo de S. Bento; e uma ligação directa ao Palácio.

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08. Palรกcio de Sรฃo Bento: jardins (Frederico Reis - 2010)


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Intervir com património

Três possibilidades de intervir com património A Solução de Fernando Távora A Solução apresentada pelo arquitecto Fernando Távora procura evocar claramente o antigo edifício da assembleia, tanto pelo seu volume, como pelo ritmo de vãos, material de revestimento utilizado e até pela sua identidade urbana e pelo “digno anonimato” que o edifício assume. Este caminho, o da evocação é claramente assumido pelo arquitecto na memória descritiva como um princípio de projecto e não como um modelo formal, procurando assim um reforço da identidade do novo edifício e uma correcta integração no conjunto. O novo edifício veio aumentar a frente construída, procurando assim uma melhor relação com o edifício existente da assembleia e pretendendo também dar uma melhor leitura aos espaços verdes da Residência do Primeiro-Ministro. O edifício tem assim uma frente Norte-Sul de 73 metros, profundidades variáveis entre os 16 e os 25 metros, e 8 pisos em altura, 3 dos quais subterrâneos para estacionamento e arquivo. Os acessos e as circulações interiores do edifício procuram articular-se com o desenho existente do Largo de S. Bento. Em 58 metros da frente Norte-Sul na parte Norte é colocado o sector dos gabinetes e outros serviços que se articula em torno do núcleo central de acessos que percorre todo o edifício em altura. Assim temos: na 3ª e 2ª caves estacionamentos e centrais de ar condicionado; na 1ª cave arquivos, depósitos e centrais de ar condicionado; no piso 0 a entrada principal, pequeno auditório, bar, esquadra da PSP, segurança e GE; nos pisos 1,2,3 e 4 estão colocados os gabinetes e salas de reunião sendo que a meia altura entre os pisos 2 e 3 esta o corredor de acesso à Assembleia da República; o piso 5 é ocupado por restaurante, cozinha e serviços e, finalmente, a cobertura por máquinas de ar condicionado. A Residência do Presidente da Assembleia é colocada a sul, sem perturbar o conjunto, ganhando um jardim e uma galeria aberta a sul, e conseguindo ao mesmo tempo um conforto e independência próprias. Construtivamente a estrutura em betão armado, assenta pontualmente nas duas primeiras caves para garantir estabilidade ao edifício. Os materiais utilizados foram cuidadosamente escolhidos no sentido de reforçar a dignidade do edifício e assegurar durabilidade, economia e conservação do mesmo sem o incompatibilizar com as funções para as quais se destinava. São disso exemplos, a pedra calcária usada para revestir todo o edifício que lhe confere maior dignidade e que o relaciona com o Palácio de S. Bento, a utilização do latão nas caixilharias e a utilização preferencial de madeiras de qualidade e mármores portugueses nos pavimentos e lambris das novas instalações.

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09. Palรกcio de Sรฃo Bento: encontro (Frederico Reis - 2010)


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intervir com património

Três possibilidades de intervir com património O Palácio de Belém O Palácio de Belém situa-se na zona Sudoeste de Lisboa e foi mandado construír no ano de 1559, pelo fidalgo D. Manuel de Portugal. A sua organização era nitidamente diferente da actual, tendo na altura enormes jardins à beira Tejo, quando a margem do rio era mais próxima da cidade, contudo a volumetria que o define permanece practicamente igual. Mais tarde, no século XVIII o palácio foi adquirido a João da Silva Telo, conde de Aveiras por D. João V, incluindo a respectiva compra toda a propriedade, ou seja, desde as casas nobres à cerca, incluindo foros e numerosas moradas de casas implantadas na encosta de Belém. Foi nesta altura que começaram as transformações no palácio, não apenas a nível estrutural como decorativo e funcional. Os vários ocupantes que foram habitando e frequentando o palácio ao longo do tempo parecem tê-lo marcado com uma vivência palaciana, contribuindo para o enriquecimento arquitectónico - paisagístico que caracteriza ainda hoje o palácio e os seus anexos. A Quinta e o Palácio têm vindo a sofrer obras de remodelação desde o século XVIII, altura em que foram comprados por D. João V. No entanto, no século XIX, parece ter existido uma preocupação ainda maior relativamente à preservação da intimidade e do convívio familiar, tendo-se iniciado no reinado de D. Maria II obras que fizeram com que o Paço de Belém se adaptasse às novas e modernas concepções ditadas pela burguesia. A par das remodelações do Paço de Belém passou também a existir a necessidade de reabilitar velhas construções adjacentes, de forma a que se adequassem à nova vivência. O mesmo projecto ficou a cargo do arquitecto Rafael da Silva Castro, tendo a construção tido o seu inicio entre 1887 e 1890. Incompletas as obras do Anexo (como passou a ser designado) no ano de 1903, foram retomadas pelo arquitecto Rosendo Carvalheira. Após a elogiada remodelação do Paço e a sua funcionalidade, demoliu-se o Palheiro Real e a Cocheira do Ensino, tendo o Picadeiro sido transformado no que é hoje o Museu dos Coches. Reais. As remodelações no Paço e na Quinta continuaram até ao ano de 1910, com a implantação da República. Desde o ano de 1911 que o Palácio de Belém serve como residência oficial dos Presidentes da República. A Arrábida Quando adquirida por D. João V, a escritura de venda da propriedade de Belém incluía, além de uma descrição das casas e dos jardins anexos, uma “Ermida da Arrábida e algumas celas”1 as quais se localizavam a nordeste das principais casas. No entanto, após a compra da Quinta de Belém pelo rei, as mesmas estruturas foram desocupadas e ajustadas de forma a melhor se adequarem ao funcionamento do palácio e aos seus habitantes reais, tendo daí resultado a instalação de uma cozinha, designada em documentos setecentistas por “cozinha da Arrábida”. Existe também o conhecimento da construção de um pequeno anexo de apenas um piso, acrescentado no final do século XIX e que servia, primeiramente para atelier do Príncipe D. Carlos e, mais tarde, como Gabinete de Apoio ao conjugue do Presidente da República e às Casas Civil e Militar do Presidente. Relativamente à existência da antiga Ermida e celas na Quinta, sabe-se apenas, através da Crónica da Província de Santa Maria da Arrábida, datada de 1737 que foi o conde de Aveiras, antigo proprietário e extremamente devoto aos franciscanos arrábidos, quem realizou nas suas casas uma obra piedosa, com o intuito de dar continuidade à acção benemérita que D. Mariana e D. Joana tinham iniciado, hospedando os frades na sua própria casa.

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10. Panorâmica de Lisboa abrangendo a rua de Belém e o palácio de Belém (Paulo Guedes -1947)


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Três possibilidades de intervir com património Ganho em concurso público internacional no ano de 1997, o centro de informação e documentação do palácio de Belém do Arquitecto João Luís Carrilho da Graça, constitui uma obra notável no que respeita a requalificação de um espaço exterior algo descaracterizado, como pela integração num conjunto arquitectónico histórico definido pelo edifício do Palácio de Belém. Este projecto vive muito do seu espaço exterior, contou com a importante colaboração do Arquitecto João Gomes da Silva, que criou o projecto paisagístico desta obra, dando um carácter muito específico ao plano ajardinado existente entre o Palácio e o novo edifício. O programa do edifício está dividido em dois níveis, no superior consta um restaurante com espaços complementares, como cozinha e casa de banho. No piso inferior é criada uma ligação directa ao Palácio de Belém, sendo que depois o programa vai sendo organizado fazendo dele parte a biblioteca/centro de documentação, uma sala de apoio de fotocópias e reprografia e uma pequena sala de conferências, existe também um espaço mais contido de ginásio e de balneários. No livro DSDA . Documentação e Arquivo do Palácio de Belém, de João Luís Carrilho da Graça, Manuel Graça Dias Arquitecto e crítico no texto “Os Novos Lugares Podem Ser”, define a intervenção em três momentos, “a enorme longa parede branca”, “o plano verde” e “o corredor verde limão” que se intersecta com “o pátio castanho corten”. Este projecto começa-se a definir pela criação de um novo plano horizontal, que regulariza uma topografia que anteriormente seria algo desregrada, “o plano verde”, o espaço intermédio exterior de relação com o Palácio de Belém. Neste plano está recortado “o pátio castanho corten” que ilumina e se liga ao “corredor verde limão” destinado ao programa do piso inferior com várias salas viradas a nascente, para um espelho de água atravessado por um percurso pavimentado em basalto. No fim do extenso “corredor verde limão”, no lado oposto à ligação com o Palácio de Belém estão as escadas de acesso ao interior da “enorme longa parede branca”, está à cota do “plano verde” e que vista do exterior neutraliza e entra sub-repticiamente no discurso do jardim, criando uma relação muito limpa com o próprio Palácio e enquadrando a norte a Alto da Ajuda. Esta parede habitável suspensa, é elevada do chão sobre um linear espelho de água iluminando-a interiormente, corresponde ao espaço de restaurante e respectivos programas complementares.

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11. Centro de Centro de informação e Documentação do Palácio de Belém (Paolo di Bacco - 2011)


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Três possibilidades de intervir com património Em suma, reflectindo sobre análise feita pretendeu-se perceber os fundamentos e as bases lançadas pelo Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, com o intuito de dar a conhecer a importância de uma pré-existência, da identidade do lugar, das componentes que o caracterizam, todos estes aspectos de relevância máxima quando se intervém com património. O inquérito foi realizado e publicado entre, 1948 e 1961, constitui uma importante referencia para a identidade da arquitectura portuguesa, ao introduzir premissas lineares, características e únicas no discurso da arquitectura nacional, por mais que variem as épocas ou as linguagens usadas. Os três exemplos apresentados, completamente distintos e díspares no tipo de abordagem, têm sempre uma preocupação em comum, a intervenção não se centra nela própria, antes pelo contrário visa requalificar e enaltecer a pré-existência, relacionando-se sempre com a ideia de que a intervenção que realizam acontece somente para dar resposta a um problema que a pré-existência já não consegue resolver por si só. O primeiro exemplo apresentado, A Casa dos Bicos, polémica pela sua história e pelas várias intervenções a que foi sujeita, pela perda de uma fachada que lhe retirou grande parte da sua traça original, dando origem a uma intervenção que pretendeu restituir na fachada a “ideia” do que esta havia sido. A intervenção do Arquitecto Fernando Távora, personagem forte e influente no Inquérito à Arquitectura, que lançou muitas das bases na contextualização de intervenções arquitectónicas com a identidade do lugar, que fez as primeiras experiencias com este tema na Casa de Férias de Ófir, notabiliza-se pelas suas intervenções em contextos fortemente definidos. O edifício anexo Palácio de São Bento é um óptimo exemplo de sobriedade e respeito pelo edifício patrimonial pré-existente. O Arquitecto João Luís Carrilho da Graça e a sua intervenção nos jardins do Palácio de Belém, demonstram uma possibilidade de intervenção pela limpeza e sobriedade na relação das duas construções. Pretendeu-se assim demonstrar que são inúmeras as possibilidades de interacção com pré-existências, que não existe só uma forma ou formula para se responder a este tipo de problemas. As possibilidades de abordagens a lugares consolidados ou elementos singulares que constituam património não têm limites, interessa (re) dignificar, enaltecendo ou deixando sobressair a sua importância.

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12. Casa de Férias em Ófir (Fernando Távora)


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Internationale situationniste e o prazer como programa em arquitectura Contexto historico-cultural

O final da década de 60 é fortemente caracterizado por anos de agitação, mudança, ruptura e alteração do pensamento. Nesta época a reacção foi muito manifestada e sentida nas ruas. O black power movement começava a insurgir-se, enfrentando fisicamente a polícia e moralmente o estado, clamando pelos direitos civis dos afro-americanos nos Estados Unidos da América. A guerra do Vietname provocou sucessivas contestações, feitas pela juventude que se opunha radicalmente, amotinando-se nas ruas. O peso político do socialismo Estalinista era seriamente posto em causa, começando-se os jovens a aperceber que nem tudo no socialismo era bom. O assassinato de figuras públicas, algumas de forte peso político, como Bobby Kennedy ou Martin Luther King, a voz sonante que sonhava com o fim da repressão afro-americana, calava um país. O caso Tate, mediático pelo fanatismo de uma seita hippie liderada por Charles Manson. A revolta estudantil Francesa em Paris contestava as sociedades modernas, gerando posteriormente um caos grevista que originaria a queda do governo Francês, insurgindo-se contra três entidades reguladoras: a Universidade a Policia e o Estado – Providência. O cartaz francês do Maio de 68, apelava ao facto da beleza da vida não estar na rotina do dia-a-dia, mas sim a atirar pedras à polícia, “la beauté est dans la rue”2 ,ou seja, a praia estava em baixo das pedras que cobriam o chão. As sociedades ocidentais estavam conformistas, mas a juventude representava o lado irreverente destas sociedades. Os filhos daqueles que viveram o pós-guerra sentiam-se descontentes. Por outro lado, nem toda a agitação seria por razões políticas ou de revolta. As primeiras imagens e contactos espaciais da missão Apollo 8 eram reveladas, imagens nunca antes vistas da Terra, uma viagem que iria dar origem ao primeiro passo na lua por Armstrong. Na realidade, o pensamento inconformista, reaccionário e as novas revelações tecnológicas, seriam os factores de propulsão para novas ideias em variadas áreas de criação artística. Os meios de comunicação, informação e publicidade (televisão, jornais, revistas, cartazes, flyers…) cumpriam, mais do que nunca, um papel de divulgação importantíssimo. A música seria sempre uma banda sonora que acompanhava todos estes acontecimentos. O músico Bob Dylan lançava Highway 61 Revisited, lutando ao lado dos pobres, dos “magros” e pelo valor da palavra. Os Doors cantavam Unknown Soldier e Alabama Song, estupidificando e ridicularizando os protagonistas da guerra no Vietname e a segunda grande Guerra. Os Rolling Stones no álbum Beggars Banquet com Sympathy for the Devil, inspirado no estilo de escrita corrosiva de Dylan, falavam dos conflitos no Saigão e do estado geral das políticas internacionais. Os Beatles ganhavam uma nova postura no álbum Revolver, lançavam em 68 o The White Album com a música USSR, uma critica à antiga União Soviética. Serge Gainsbourg provocava uma sociedade conservadora, protectora e moralista em duetos com Brigitte Bardot, comic strip, e no tão celebrizado je t’aime moi non plus, com Jane Birkin, que viria a ser censurado em vários países. Francisco Buarque de Hollanda havia desistido do curso de Arquitectura, agora era músico, o que acabaria por levar a ser exilado do seu país. A postura interventiva e reaccionária das suas músicas fizeram deles personagens importantes na contestação do povo face a um sistema ditatorial. Em Portugal, José Afonso exclamava, Vejam Bem! provocando uma política fascista que o viria a censurar e perseguir.

2. Cartaz do Maio de 68

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13. Manifestação em Paris (Jean-Claude Siene - Maio de 1968)


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Internationale situationniste e o prazer como programa em arquitectura A ruptura com o movimento moderno

Com todo este contexto de mudanças, revelações e revoluções no mundo político e tecnológico e com todas as influências globais que estas exerciam, natural seria que grupos contra-culturais artísticos se emancipassem, criando novas propostas de ruptura e de retrospectiva ao movimento moderno. Esta revisão começa por pôr em causa o arquitecto como “aquele que tudo decide”. A reacção pretende que os arquitectos participem com a população na procura da solução final, não para fazer a grande obra, mas a obra para as pessoas, criando desta forma uma macro estrutura, a qual permitisse a participação dos utentes. Existe um descobrir e um interesse aprofundado por ir aprender, às “arquitecturas sem arquitecto” aos tribalismos e rituais mais primitivos de expressão. A contestação é feita à sociedade conformista moderna, onde tudo era funcional, racional, mas onde ninguém se divertia, ninguém tirava o verdadeiro prazer da vida. O ideal e o modelo de vida Corbusiano só nos levava para espaços verdes. O filme Playtime contesta corrosivamente a sociedade moderna. O livro de 1938 Homo ludens, do alemão Johan Huizinga, descreve um homem que não se sabe divertir, uma figura anti-marxista, que não conhece o lado lúdico e prazeroso da vida. A frase “Homo ludens will no longer make art, but will create everyday life.”3 ilustra bem a mensagem que o realizador tenta passar. Entre 1953 e 1956, a presença de Le Corbusier nos CIAM – Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna – começa a chegar a um fim. O Independent Group, do qual faziam parte Alison e Peter Smithson, procuram rever a doutrina da cultura moderna, retirando muitos dos seus alicerces. O Team X corporizado por arquitectos como os Smithsons, Giancarlo di Carlo ou Aldo Van Eyk, propõem novas formas de olhar para os problemas, e uma análise da cidade a partir das ciências sociais e das artes plásticas. Criam a revista Forum, como um veículo de reflexão, onde afirmam “whatever space and time means, place and ocasion mean more.”4 Os edifícios não se isolam, não são um bloco e adaptam-se ao terreno. Aglutinam as suas funções e relacionam. O espaço de lazer com o espaço de habitar, o espaço verde não é anónimo, o espaço verde tem programa.

3. Fifty Years of Recuperation, pg. 25, lb. 18/19 4. Revista Forum, 1960 – 61, nº3 pg 121

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14. Playtime (Jacques Tati - 1968)


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Internationale situationniste e o prazer como programa em arquitectura Internationale situattioniste e a New Babylon

“Em 1957, e como resultado de um (im) possível encontro multi nacional de artistas, arquitectos, escritores e (psico) geógrafos europeus foi criada a Internationale Situationniste mais interessada na agitação e na propaganda subversiva do que na manutenção de doutrinas consensuais.”5 A Internationale Situationniste foi criada em Julho de 1957, e dissolvendo-se em 1972, por variadas razões, desentendimentos e discórdias internas. Levava a poesia como programa para a realidade, sentindo necessidade de se agarrar à escrita criativa e utópica dos poetas e escritores da sua contemporaneidade, de forma a oferecer novas hipóteses de habitar e viver no mundo de amanhã. Só a poesia lhes podia fazer chegar a consciência da ideia de felicidade, podendo criticar, gozar a sociedade trabalhadora e a modernidade pálida e apática. A procura de atmosferas puramente imaginistas e criativas, tentavam promover uma ideia de vida regida pelo pensamento lúdico, pelo conceito de prazer. Este grupo tentava afastar a sociedade da mediocridade produzida pelos ambientes que a caracterizavam, pelos papeis que estes desempenhavam, onde e como desempenhavam. Procuravam um dia-a-dia de prazer e liberdade sem limites. “When freedom is practiced in a closed circle, it fades into a dream and becomes a mere representation of itself”6 Pretendiam pôr fim à rotina, às raízes com o lugar. Queriam acabar com o círculo fechado e queriam a morte da obediência. A Internationale Situationniste não teve um grande papel na criação artística, apesar do esforço e do trabalho feito por alguns dos seus membros. Este grupo tornou-se mais notório pelo seu papel nas ruas e nos eventos durante o Maio de 68, como também pelas suas ideologias contra-culturais, utópicas e anarquistas. Os Situacionistas foram precursores de novos conceitos de extrema esquerda e de algumas correntes da filosofia contemporânea.

5. Revista J.A. Política, 2008, nº232, pg. 34, lb. 17 6. Fifty Years of Recuperation, pg. 7, lb. 30

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15. Cartaz da Internationale Situationniste (Guy Debord - 1958)


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Internationale situationniste e o prazer como programa em arquitectura Internationale situattioniste e a New Babylon

A criação da teoria e da prática do détournement que consiste, no retorno e na procura de uma matriz direccionada para propósitos, justificações que os sustentem e que lhes permitam viver ou jogar a vida. Pretendem criar a ideia de que a vida funciona como um jogo ou um software numa plataforma aberta. Cada jogador ou ocupante a explora da maneira que quer, funcionando como um estratega que só conhece uma regra do jogo, ser livre. Assim o jogo, que mais tarde Debord definiria como espectáculo, funcionaria reciprocamente com o jogador onde um invadiria o outro, isolando-se e afastando-se da sociedade. “Contemplation of the Situationist International is merely a supplementary alienation of alienated society”7 A corrente Situacionista queria chegar a uma ideia de Urbanismo Unitário, que na realidade não passava por um planeamento urbano como habitualmente, mas sim por um conjunto de vontades e acontecimentos, estes que derivavam da junção da psico-geografia com o détournement. A metáfora ou as aproximações, são sempre os recursos utilizados para a explicação dos conceitos deste grupo. O conceito de Situação traduz-se numa série de momentos no espaço temporal, que funcionam ou que se relacionam de forma harmoniosa. “Situology” é o estudo destes momentos, como series de acontecimentos ou de experiencias únicas, irrepetíveis. “Situology” é uma experiencia de uma Situação, nos seus vários ambientes. Explicando e expondo um exemplo de Jorn, pintor e teórico deste movimento, uma corda que seja sempre a mesma, contÍnua, que seja una e indivisível, que tenha vários ângulos e nós sejam eles quais forem, complexos ou simples, o nó é uma Situação. Aprender a dar um nó fantástico e fabuloso, é como a arte da derive. Elevando assim a dérive ao nível de conceito. A dérive posta em prática acontece quase como uma performance lúdica, ou seja, um momento do jogo, da vida de prazer e de liberdade, um conjunto de gestos ou actos individuais ou colectivos nos diferentes ambientes e situações.

7. Guy Debord, The real split in the international, pg 33, lb. 37

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16. The Naked City (Guy Debord - imagem retirada de: ryanraffa.com)


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Internationale situationniste e o prazer como programa em arquitectura Urbanismo unitário

O urbanismo unitário, como pode ser caracterizado o tipo de planeamento proposto por esta corrente contra-cultural, anunciava a morte da arte no formato que conhecemos, o fim do Arquitecto como figura única da criação do projecto. Na realidade todos seriam arquitectos, numa criação e adaptação consciente de espaços consoante as suas próprias necessidades A New Babylon conceptualmente seria uma cidade que sobrevoa a cidade existente. Acreditam numa cidade criada por quem a vive, daí a relação com a psico-geografia, que procurava entender as necessidades de cada lugar e das pessoas que o habitavam. Nieuwenhusys Constant, nunca se conformou com o facto de tratarem esta sua criação ideológica como uma utopia. Justificava-a com o facto, da aceitação da organização social ser a organização natural. Não é considerada utopia porque não idealiza uma nova organização mas aceita-a como ela é. O espaço utópico é o resultado de uma separação social e espacial, mas a New Babylon é a ordem social. “New Babylon is a seemingly infinite playground. Its occupants continually rearrange their sensory environment, redefining every micro-space within the sectors according to their latest desires. In a society of endless leisure, workers become players and the architecture is the only game in town.”8 Este comentário de Mark Wigley, explica a vontade que estes tinham de criar um mundo apenas direccionado para o prazer e onde o trabalho que anteriormente tinha sido realizado no solo terrestre pelo homem seria posto de parte. A antiga cidade seria agora ocupada por máquinas, que tratariam das burocracias e das necessidades trabalhistas da vida humana. A nova infra-estrutura seria simplesmente direccionada aos prazeres e à dérive lúdica, onde a arquitectura seria um direito e um prazer de todos. A New Babylon crescia consoante as necessidades e a espontaneidade, sempre com a lógica de ser uma unidade indivisível.

8. Mark Wigley, Another city for another life: Constants New Babylon, pg. 9

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17. New Babylon Paris ( Constant - 1963 - imagem retirada de: ryanraffa.com)


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A cidade de lisboa Apróximação à cidade

A costa de Lisboa teve várias mutações ao longo dos séculos. No presente, algumas ruas que hoje existem eram o limite entre a cidade e a praia fluvial do Tejo, como por exemplo alguns troços da Av. 24 de Julho, a Rua da Boavista e Rua de S. Paulo, compreendidas entre Santos e Cais do Sodré, e o “caminho do oriente” formado por várias ruas com o mesmo enfiamento, desenhando uma linha que vai desde a Rua da Alfândega (Terreiro do Paço), passando por outras como a Calçada de Santa Apolónia, a Rua da Madre de Deus, Rua de Xabregas, até à Rua do Açúcar. Com o expansionismo português do séc. XVI, estas praias eram espaços públicos destinadas ao comércio e servia também de zona portuária. Após a catástrofe natural de 1755, foi necessária uma reconstrução de todo o porto, e de grande parte da frente ribeirinha. Para a baixa pombalina contou-se com os planos de Manuel da Maia, Carlos Mardel e Eugénio dos Santos. Coincidentemente, com a revolução industrial, a cidade foi alargando, não só com a construção de indústrias à beira rio, mas também com as vilas operárias, e compreendia as zonas de Alcântara até ao Cais do Sodré, e de Santa Apolónia até à zona que hoje se denomina Expo. Do Cais do Sodré a Santa Apolónia ficou reservada para os edifícios mais notáveis do plano da baixa pombalina. Com o desenvolvimento portuário, e inicialmente industrial, houve a necessidade de alargar o território, e assim o primeiro aterro em 1855 foi construído, planeado pelo eng. José Vitorino Damásio, ligando Alcântara ao Cais do Sodré. Este aterro e os posteriormente construídos acabaram com a praia costeira, que na altura dava azo a epidemias e doenças, por causa das lixeiras nela depositadas. A maior parte dos aterros foram construídos ao longo do séc. XX, com o crescimento do Porto de Lisboa. A Av. Da Índia, Av. 24 de Julho e a Av. Infante D. Henrique são ruas que, ao longo da costa lisboeta, determinam o limite entre a cidade e o porto, separando cada vez mais o contacto directo entre Lisboa e o rio. Na segunda metade do séc. XX, a zona costeira começou a deixar de dar resposta às necessidades industriais, pois o mercado de procura ficou mais exigente e as indústrias já não podiam comportar as novas tecnologias. Assim, grande parte da zona industrial foi transferida para a periferia de Lisboa, em locais como Sacavém e Vila Franca de Xira. Como consequência, a linha férrea foi alargando, e ainda hoje é a ponte entre o porto e as fábricas situadas fora da cidade. Com todos estes acontecimentos, a discrepância entre a costa ocidental e a costa oriental de Lisboa são notórias, considerando que o eixo de separação entre as duas passa no Terreiro do Paço. Na costa ocidental, a saída de muitas fábricas da zona ribeirinha fez com que outros equipamentos tomassem lugar, e por ser uma zona muito próxima do centro e das vias mais movimentados da cidade, ainda existe habitação, e já no séc. XXI muitos edifícios foram reabilitados para este fim. Em Alcântara muitos armazéns ainda funcionam, e os que deixaram de funcionar foram apropriados para outras funções, como por exemplo a Lx Factory. Em toda a Av. 24 de Julho o movimento e vivência de pessoas acontecem tanto de noite como de dia. O panorama muda se olharmos para a parte oriental. A indústria que deixou de funcionar encontra-se devoluta, sendo a Fábrica do Braço de Prata um caso isolado, e as vilas operárias são pontualmente habitadas, maioritariamente por uma faixa etária idosa. Os edifícios notáveis como conventos, igrejas, e palácios funcionam, mas estão condicionados, ou seja, muito fechados para si. Mais do que a Avenida 24 de Julho, a Av. Infante D. Henrique é uma via rápida que faz a ligação até à zona da Expo, e mesmo na ligação até às auto-estradas já é uma alternativa pouco usual. O Parque das Nações é uma área qualificada feita de raiz, que não chega para impulsionar o desenvolvimento no sentido de Santa Apolónia, pois este espaço intermédio tem uma diversidade tal de edifícios, em que se torna complicado intervir.

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18. Fotografia aĂŠrea de Lisboa (fotografia cedida pelo porto de Lisboa)


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A cidade de lisboa Planta de Região Áreas Logísticas O suporte e abastecimento da cidade exige a necessidade da chegada de produtos, o que implica a criação de zonas logísticas especializadas para a armazenagem dos mesmos e a sua posterior distribuição para o resto da região. O estuário do Tejo é a grande porta de entrada por onde chegam estes produtos, transportados por navios, existindo nas suas margens vários pontos de transbordo de contentores – Alcântara, Santa Apolónia, Xabregas – zonas de transbordo de cereais e produtos alimentares, graneis, localizados em ambas margens – Trafaria, Tagol – e pontos de transbordo de combustíveis – Petrogal, Repsol. O aeroporto de Lisboa também é outro grande posto de recepção de mercadorias, que vêm aerotransportadas do estrangeiro, existindo uma grande aérea logística, administrada pela ANA, nos seus limites. Outro local de grande importância logística para a cidade é o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa – M.A.R.L. – que recebe e abastece a cidade de produtos frescos produzidos nos concelhos e zonas próximas. Estes produtos são depois escoados para locais de distribuição – Grandes superfícies – que fazem a venda ao publico, através dos vários eixos viários e ferroviários para os seus vários destinos – Lisboa, Área Metropolitana, Portugal –existindo uma clara articulação entre os dois sistemas. Parques e Jardins O sistema de parques e jardins desenvolve-se a varias escalas, produzindo uma renovação do ar, diminuição da poluição atmosférica, a suavização de temperatura, através da produção de humidade e brisas, necessárias ao conforto e bem-estar. O grande pulmão da cidade - Parque Florestal de Monsanto - é complementado por um conjunto de outras estruturas verdes existentes na cidade – Parque Eduardo VII, Campo Grande, Parque Belavista, Parque Tejo – e outros pequenos jardins de escala mais reduzida – Jardim Gulbenkian, Campo Pequeno, Campo Santana – e outros pequenos jardins locais. O estuário do Tejo é o principal factor de caracterização ambiental da região, abrangendo uma vasta área de zonas protegidas ricas em fauna e flora - sapal, espécies autóctones – fundamentais para o suporte do sistema ecológico da região e para a sustentabilidade de toda a vida humana existente nas suas margens. Hospitais As unidades hospitalares encontram-se espalhadas por vários pontos da cidade, alguns pólos localizados na malha densa da cidade consolidada – Conjunto Estefânia, Santa Marta, São José - apresentam dificuldades de acesso aos veículos de emergência que vêm dos vários concelhos vizinhos, para casos em que é necessária o apoio único dos hospitais de especialidade. A localização de hospitais na proximidade dos grandes eixos viários - IPO, Santa Maria, São Francisco Xavier – e nos concelhos vizinhos – Garcia de Horta, Amadora-Sintra – procuram colmatar este défice e assegurar a prestação de cuidados médicos ao maior número de utentes.

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usos aeroporto de lisboa porto de lisboa áreas logísticas hospitais parques e jardins mobilidade autoestradas + vias rápidas vias principais da cidade transporte público linha de comboio linha tráfego fluvial estação de comboio estação fluvial


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A cidade de lisboa

Sistema de circulções/mobilidade A planta das circulações da cidade de Lisboa divide-se em sistema viário, sistema de transportes e rotas aéreas. O sistema viário é constituído pela rede rodoviária regional e pelo sistema viário urbano principal. O sistema de transportes é constituído por um conjunto de diversas redes; são elas a rede ferroviária regional, a rede de metropolitano, a rede de autocarros e eléctricos e a circulação fluvial. As rotas aéreas correspondem aos cones do Aeroporto de Lisboa. O sistema viário regional inclui auto-estradas e vias rápidas que ligam Lisboa aos vários concelhos periféricos. A Marginal e a A5 ligam a Oeste, a IC19 a Noroeste, a A8 a Norte (Torres Vedras), a A1 e IC2 ao Norte do país (Vila Franca). Para Sul, existem as duas grandes infra-estruturas que ligam a Margem Sul à cidade, a Ponte Vasco da Gama que liga a Este, e a Ponte 25 de Abril que liga a Sul. Duas vias rápidas circulares unem estas várias ligações entre elas, uma exterior à Área Metropolitana (CREL) e uma interior (CRIL) que contorna o limite de Lisboa. A 2ª circular e o Eixo Norte-Sul são as duas artérias rápidas e de grande fluxo que cruzam a cidade, a primeira de Oeste a Este, a segunda como indica o nome, de Norte a Sul. O sistema viário urbano divide-se em dois subsistemas, um principal (laranja) que resolve o trânsito mais intenso e rápido, como por exemplo o eixo Amoreiras – Marquês – Saldanha – Campo Grande ou o eixo da avenida Almirante Reis, e um outro secundário (amarelo) que resolve o trânsito mais local ligando os vários bairros ao resto da cidade. O sistema de transportes é bastante mais complexo, sobretudo por incluir tantas redes de transporte mais regional como local. A rede ferroviária nacional concentra-se sobretudo na Linha do Norte e Linha do Sul tendo como estações principais Oriente, Santa Apolónia e Sete Rios. A rede suburbana liga o centro de Lisboa com as várias periferias a Norte (Linha de Cascais, Linha de Sintra e Linha da Azambuja) e a Sul pela Ponte 25 de Abril. As estações terminais desta rede concentram-se no centro, nas estações do Cais do Sodré, Rossio e Santa Apolónia e algumas nos extremos como Oriente e Algés; Uma linha circular une as várias linhas periféricas e nacionais entre elas, distribuindo-se pelas estações de Campolide, Sete Rios, Entrecampos e Areeiro. Todas estas estações são importantes interfaces de transportes. O metropolitano de Lisboa corre em três eixos principais correspondendo à Avenida da Liberdade – Saldanha – Campo Grande, ao eixo Marquês – Sete Rios – Colégio Militar e à Avenida Almirante Reis; estas ligam o centro (Baixa) à cidade mais a Norte (Avenidas Novas, Alvalade, Benfica). A rede de metro divide-se em quatro linhas, azul (Stª Apolónia – Amadora Este), verde (Telheiras – Cais do Sodré), amarela (Rato – Odivelas) e vermelha (Alameda – Oriente). A última surge como futura circular ligando as três outras linhas entre elas. Os prolongamentos planeados extendem-se para Ocidente até Alcântara e para Norte, para o Aeroporto, Alta de Lisboa, Lumiar ligando depois ao Colégio Militar. A rede de autocarros divide-se em 5 zonas: Marvila – Olivais, Lumiar – Alvalade, Benfica – Carnide, Belém – Ajuda e Centro. A maior parte das linhas atravessa a cidade numa encruzilhada e paragens unindo pontos periféricos ao eixo central Terreiro do Paço – Marquês – Saldanha – Campo Grande; aqui existe uma grande concentração de transportes, mas à medida que nos afastamos do centro e deste eixo, as linhas dispersam deixando algumas áreas da cidade mal servidas. A rede de eléctricos tem vindo a diminuir com o tempo. O eléctrico rápido (15) liga a Praça da Figueira a Algés paralelamente ao Rio Tejo. Uma linha (28) liga as colinas de Lisboa entre os Prazeres e Sapadores, constituindo-se como uma linha turística da cidade. As ligações fluviais à Margem Sul concentram-se em três pontos: Belém que liga a Caci- lhas/Almada, Porto Brandão/Trafaria; Terreiro do Paço que liga ao Barreiro e o Cais do Sodré onde se tende a concentrar as ligações Cacilhas/Almada, Seixal e Montijo. Os cones de aterragem são zonas de protecção direccionadas para as duas pista do Aeroporto de Lisboa. Estas áreas constituem as possíveis rotas que os aviões tomam consoante o vento predominante e a pista de aterragem. Assim nota-se uma grande concentração de transportes no centro sobretudo no grande eixo viário Terreiro do Paço – Marquês – Saldanha – Campo Grande, enquanto que a coroa periférica da cidade é melhor servida pela rede viária rápida. A rede de transportes é mais completa do que a maioria das pessoas pensa; isto talvez se deva ao facto de cada rede pertencer a uma entidade diferente e também de haver pouco dialogo entre elas, deixando assim certos pontos da cidade alienados e isolados. Concluímos que a circulação na cidade se faz segundo eixos marcantes, um paralelo ao rio (Av. 24 de Julho, Av. Infante D. Henrique), outros transversalmente ao rio, pelos grandes vales naturais da cidade (Av. Liberdade – Vale Verde, Av. Ceuta – Vale de Alcântara) e por fim em circulares que unem os anteriores (Av. Berna – Av. João XXI, 2ª circular).

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CRIL

odivelas M

ponte vasco da gama senhor roubado M A1

M ameixoeira

M

M

M lumiar

M

M

M

M

quinta das conchas

oriente M oriente

2ª circular cabo ruivo M

eixo N-S telheiras M

olivais M

M campo grande

chelas

M

cidade universitária M

M

M roma

laranjeiras

M

alvalade

entrecampos M

bela vista M areeiro

entrecampos

M areeiro

campo pequeno M sete rios

M jardim zoológico

M olaias

praça de espanha M

M

s. sebastião campolide

M

alameda

saldanha M

picoas parque M

M

chelas

Marroios M terceira travessia tejo - TTT

M anjos

marquês de pombal M

M

M intendente rato M

M avenida

M

M martim moniz M restauradores rossio

M

rossio

M

M

santa apolónia

baixa- M chiado alcântara-terra

M

M

cais do sodré

M

alcântara-mar

rede viária autoestradas + vias rápidas vias principais da cidade vias secundárias

M praça do comércio

transportes públicos linha de comboio linha de metro linha de tráfego fluvial linha autocarro/eléctrico linha metro almada estação de comboio estação de metro estação de fluvial paragem de autocarro estação de metro almada aeroporto de lisboa canais de aterragem


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A cidade de lisboa Sistema ecológico

A planta do sistema ecológico apresentado tem como objectivo explicar a estrutura verde principal de Lisboa, a forma como este se articula a nível global com os eixos e edifícios principais e também o modo como condiciona o crescimento da cidade. Monsanto é o grande pulmão verde, excêntrico em relação ao município de Lisboa, mas concêntrico à área metropolitana. É ele o responsável pelo sistema verde contínuo pensado para Lisboa nos anos 70. Este sistema seria constituído por duas cinturas verdes que partiam de Monsanto criando um anel periférico que passaria por Carnide, Lumiar, Ameixoeira e Aeroporto e um anel interno que uniria as zonas da Cidade Universitária e Areeiro e terminaria no vale de Chelas. O sistema verde descontínuo é marcado por diversas zonas verdes espalhadas pela cidade que acompanham geralmente as avenidas e ruas principais como são exemplo a Avenida da Liberdade ou as Avenidas Novas. No que diz respeito aos edifícios principais foram identificados aqueles que são considerados grandes equipamentos públicos, geradores de fluxos para a cidade como museus, teatros, hospitais, monumentos, centro comerciais entre outros. É perceptível a existência de um grande pólo na zona histórica da cidade correspondente a edifícios de alto valor patrimonial que se prolonga num eixo perpendicular ao rio constituído por edifícios de uso público relevantes para a cidade, terminando na acentuada presença dos dois grandes estádio de Lisboa – Alvalade e Luz. É ainda marcante a existência de dois pólos, um a ocidente com uma acentuada vertente cultural onde se destacam edifícios como o Centro Cultural de Belém e outro a oriente, fruto da recente organização da Expo 98. Cruzando toda esta informação com os eixos viários principais, é visível que existe uma boa ligação entre os vários pólos, tanto a nível marginal como a nível periférico. Os solos permeáveis são os focos de absorção de água que fazem o seu escoamento para os vales, e localizam-se sobretudo nos planaltos de Lisboa, na zona da Cidade Universitária, no Campo Grande e Aeroporto. Também os cemitérios do Alto de São João, Carnide, Prazeres entre outros são zonas absorventes.

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zonas verdes solos permeĂĄveis linha de costa vias principais edifĂ­cios principais


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A cidade de lisboa

Sistema hidrológico e micro-clima Para a elaboração do estudo do Sistema Hidrológico da Cidade de Lisboa, considerou-se um conjunto de elementos que em conjunto servem para ilustrar e explicar como todo o sistema da água funciona, no que diz respeito à acumulação, drenagem, escoamento e sistemas de informação sobre o clima da região. Esta recolha de informação irá permitir uma análise mais aprofundada sobre como à água exerce a sua acção sobre o território e o condiciona, o que em última análise como instrumento de conhecimento servirá de complemento ao desenho da cidade. Áreas inundáveis As áreas inundáveis na região de Lisboa, correspondem a todas as zonas com declives inferiores a 3% e que dessa forma geram plataformas passíveis de acumulação de águas. A demarcação destas zonas servirá não só para compreender alguns dos problemas que determinadas zonas da cidade têm na sua génese como também permitirá antecipar e resolver alguns problema do projecto. Bacias hidrográficas Existem cerca de 24 bacias hidrográficas que abrangem a totalidade do Concelho com cerca de 8426 ha, correspondendo às zonas de confluencia das àguas pluviais que naturalmente se adaptam às linhas de àgua ou talvegues da morfologia do território. Rede de drenagem principal A rede principal de drenagem é composta por 797 nós (incluindo as cabeceiras, percursos e finais) e 753 troços ligando uma rede que somada atinge 173 km num total de 1430 km. Esta rede com uma idade média de 60 anos compreende 3 sistemas de escoamento de águas, nomeadamente o doméstico (D > 500 mm), o pluvial (D >1000 mm; essencialmento nas zonas de aterro junto ao rio) e o sistema unitário (D >1000 mm; grande parte da rede) que recolhe todos os tipos de águas da cidade servindo um total de 730 mil habitantes (2001). Elementos climáticos: Para a elaboração dos gráficos sobre os elementos climáticos da Região de Lisboa consultou-se as tabelas elaboradas na Estação Metereológica de Lisboa no Jardim Botânico no periodo de 1951 a 1980.

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áreas inundáveis bacias hidrográficas rede principal cabeceira final tipo de sistema doméstico pluvial misto edifícios principais vias principais


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a cidade de lisboa Sistema Geomorfológico

O estudo geomorfológico de Lisboa exposto nesta planta tem como objectivo dar a conhecer aquilo que são as formas do relevo da cidade, modelada ao longo do tempo por processos físicos, químicos, biológicos e antrópicos. O território de Lisboa é formado por diversas camadas com características bem diferentes. A existência de inúmeros vales que marcam profundamente a leitura da cidade são resultado da erosão criada ao longo dos anos pela acção de fenómenos naturais, como a água e o vento, bem como pela acção do Homem, sobre as camadas menos ricas do ponto de vista da sua composição. Deste modo podemos identificar a existência de quatro vales principais, que são os grandes responsáveis pela concentração e escoamento das águas da chuva em direcção à enorme bacia hidrográfica que delimita a margem ribeirinha. O Vale Verde, o Vale de Chelas, o Vale do Trancão e o Vale de Alcântara têm o seu início no interior da cidade, nas várias linhas de água que vão confluindo até ao rio Tejo onde ganham maior expressão. Este último, tal como é perceptível na planta, é aquele que faz a maior recolha de água já que se estende para lá dos limites administrativos da cidade. Para além destes vales principais, existem também outros de menor dimensão como o Vale da Avenida infante Santo, da Rua D. Carlos ou o Vale de Santo António. Todos eles fazem o seu encontro com o rio na direcção Norte-Sul. Os fundos de vale surgem entre os cabeços, as zonas relativamente planas existentes no topo das colinas, marcadas pelas linhas de festo que fazem a marcação dos pontos de maior cota. Aquilo que nos mostra a planta geomorfológica, é a existência de duas áreas maioritariamente planas, a zona de Carnide e o terrapleno do aeroporto. O facto de Monsanto ser uma enorme mancha arborizada num solo com características mais resistentes faz com que se destaque do resto da planta, sem grandes depressões e poucas zonas planas. Através da sobreposição das vias principais e curvas de nível com o sistema geomorfológico, percebemos que do ponto de vista da apropriação e evolução da cidade de Lisboa ao longo dos tempos, os fundos de vale são os locais onde surgem as primeiras ocupações do terreno que se vão estendendo para o interior através de estradas que geralmente acompanham as linhas de água.

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cabeços vales festos principais festos secundários linhas de água edifícios principais vias principais


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a cidade de lisboa Sistema de Aterros

A planta apresentada pretende ilustrar alguns dos elementos de paisagem que constituem e estruturam a cidade de Lisboa. Estão representadas a topografia e as grandes alterações que a esta foram feitas no sistema de grandes movimentações de terras. Os principais foram o aterro ribeirinho, que modificou em toda a sua extensão a relação da cidade com o rio, e o grande terrapleno para a instalação do aeroporto, que se instalou na parte norte do planalto da cidade de Lisboa. Outra movimentação de terra de escala significativa foi a construção do Parque Eduardo VII, que era anteriormente uma pedreira. Está também representado nesta planta o sistema de espaço aberto. A cidade é constituída por uma serie de espaços abertos de pequena ou média escala inseridos no seio da cidade consolidada, que são por vezes unidos por corredores verdes (ruas arborizadas) que permitem a circulação de ar e matéria viva. Como grande motor deste sistema vivo temos o Parque Florestal de Monsanto, que se insere na Serra de Monsanto, localizada no limite poente da cidade constitui-se como uma grande elevação natural visível de quase toda a cidade. Outro grande espaço aberto é o resultante do terrapleno do aeroporto. Além das áreas ocupadas pela logística e pistas do aeroporto, o restante espaço é ocupado por grandes espaços verdes permeáveis. Outro espaço aberto de grande escala é a zona da cidade universitária, que com uma baixa densidade de construção permite a existência de muita matéria orgânica. No Sistema Murário estão representados todos os muros que ao longo dos tempos foram permitindo às populações residentes a ocupação da topografia da cidade. Estão marcadas as Cercas Moura e Fernandina que se constituíram como limite físico da cidade no seu tempo. Destas restam apenas pequenos troços absorvidos pela malha urbana. Num segundo plano estão todos os muros que permitiram o suporte de terras para a ocupação das encostas íngremes das colinas e para a construção de plataformas que são hoje miradouros. Na relação com o rio temos também dois níveis de muros. Um mais antigo, que fazia o suporte das escarpas litorais em contacto com o rio que hoje são na sua totalidade interiores e outro mais recente, o muro de suporte do aterro ribeirinho feito no século XIX que é hoje a fronteira entre a cidade e o rio. Estão também assinalados os grandes muros que foram feitos para suportar grandes infra-estruturas, como o comboio e as vias rodoviárias de maior fluxo. A terminar este capítulo está assinalada a estrada militar que foi construída no final do século XIX inicio do XX, constituindo-se como um elemento de ligação entre os fortes do Campo Entrincheirado de Lisboa, construídos em varias zonas periféricas da cidade para a defesa da capital contra possíveis invasões. A estrada Militar, que passou mais tarde a estrada de circunvalação, marca ainda hoje o limite da cidade de noroeste para sudoeste.

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aterros/terraplenos grandes movimentos de terras sistema principal de espaço aberto áreas verdes de pequena escala grandes abertos com áreas verdes

zonas de baixa densidade sistemas murários Muros Cerca Fernandina Cerca Moura Estrada Militar de Lisboa Fortificações circulação fundamental autoestradas+vias rápidas transportes publicos linha de comboio/tunel


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19. Linha de costa, de Santa Apolónia à Expo (imagem retirada do satélite GeoEye)


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Palácio de Xabregas séc. XVI

Convento de São Francisco de Xabregas 1455

Palácio Marquês de Nisa séc. XVI

Convento do Madredeus 1509

Palácio das Comendeiras de Santos

Panteão Nacional ou Igreja de Santa Engrácia séc. XVI

Igreja de S. Vicente de Fora séc. XVI

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Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição 1960

Palácio Marquês de Abrantes séc. XVII

Palácio da Mitra finais séc. XVII (alterações séc. XVIII)

Convento do Beato 1455

Palácio do Marquês de Lafões 1777

Convento dos Grilos 1664

Palácio de Dom Gastão 1640


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Caminho do Oriente interior - 1835

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Caaminho do Oriente litoral - 1835


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Linha de costa em 1835 Aterro de 1856 Aterro de 1904 | 1907 Aterro de 1980 Aterro de 2000

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20. Excerto de Carta Topogrรกfica de Lisboa (Silva Pinto 1904-1911)

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21. Cem anos da costa oriental 1911-2011


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Aproximação ao lugar A Quinta de Marvila

É à idade média, mais precisamente aos séculos XII e XIII que remontam as primeiras referências documentais relativas a Xabregas. Situada na zona oriental de Lisboa era, nessa altura, uma zona constituída essencialmente por vinhas, olivais e hortas. Muitas dessas propriedades agrárias pertenciam aos Templários, ao frade de S. Vicente de Fora e, por último, à Ordem de Santiago. Após a conquista de Lisboa, no ano de 1147, o rei D. Afonso Henriques fez inúmeras doações de terras às ordens militares e religiosas, assim como à nobreza. Foi no ano de 1149 que o mesmo rei doou à Mitra de Lisboa todas as terras e rendas de Marvila, uma área extensa, entre o Convento do Beato e o poço do Bispo. Um ano depois, o Bispo de Lisboa, D. Gilberto separou metade das terras de Marvila e dividiu-as em 31 porções, concedendo-as por escritura aos cónegos da Sé de Lisboa. A outra parte foi entregue à Mesa Pontificial. Muitas destas terras deram origem a muitas das quintas de Marvila, entre elas a Quinta da Mitra. Mais tarde, já no século XVI, Xabregas era um local frequentado pela corte e pela nobreza que nessa zona foi construindo quintas de recreio e casas de campo. No século XVIII, como consequência do terramoto, algumas quintas nobres foram abandonadas na zona, tendo começado a construção de uma muralha de protecção do rio, na Cruz de Pedra. Em finais do mesmo século, durante o reinado de D. Maria I o estabelecimento das duas primeiras fábricas de estamparias de chitas foram um pretexto para a instalação de muitos outros edifícios fabris, alterando-se por completo o antigo espaço verde de Xabregas. Esta proliferação de edifícios industriais foi favorecida, em 1856 pela inauguração do caminho-de-ferro, estabelecendo-se na zona inúmeros bairros operários. No entanto, o encerramento das actividades industriais no terceiro quartel do séc. XX conduziu à degradação urbana desta zona, sendo o vale de Chelas designado por “cemitério das fábricas”.

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22. Pavimentação da Rua do Açucar (Eduardo Portugal - 1900/1948)


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Aproximação ao lugar A Quinta da Mitra

O Palácio da Mitra situa-se nas terras de Marvila, mais especificamente na antiga Rua Direita do Poço do Bispo, hoje em dia chamada de Rua do Açúcar. Ao se referir à história da Quinta de Marvila ou do Arcebispo, nomes que designavam antigamente as extensões onde se inseria a Quinta da Mitra, Ralph Delgado (1963) refere que a propriedade, inicialmente de grandes proporções foi perdendo ao longo dos anos a sua unidade, subdividindo-se em numerosas parcelas, as quais pertenciam a diferentes proprietários. Foi desta forma que se originaram diversas quintas: Quinta da Mitra, Quinta das Murtas, Quinta do Convento de Marvila, entre outras. A Quinta da Mitra abrangia toda a área entre o Convento do Beato e o Poço do Bispo. No inicio, a Quinta albergou a construção de uma residência de férias. Sempre que surgiam doenças contagiosas os terrenos verdejantes de Marvila eram tidos como um refúgio. Pensa-se que, devido à semelhança com o Palácio de Santo Antão do Tojal também o Palácio da Mitra tenha sido projectado pelo arquitecto italiano Giacomo António Canevari. As remodelações no palácio levadas a cabo por D. Tomaz de Almeida, primeiro Cardeal Patriarca de Lisboa enriqueceram-no com obras de arte, mobiliário e azulejos da época de D. João V. Não tendo o terramoto de 1 de Novembro de 1755 afectado o Palácio da Mitra, este serviu como abrigo às freiras do convento de Santa Mónica. Mais tarde, em 1834, quando foram retiradas às ordens religiosas grande parte das respectivas instalações pelo Regime Liberal, o palácio e a quinta foram incorporados na Fazenda Pública. Os prelados foram autorizados a frequentar o palácio, tendo sido o Cardeal Saraiva, falecido no ano de 1845º último prelado a habitar o Palácio. O Palácio foi vendido 1864 e outra vez em 1874,esta última vez pelo Marquês de Salamanca a Horatio Justus Perry. Tanto numa época como noutra foram realizadas diversas obras que acabaram por implicar a lamentável perda de vários painéis de azulejos. Após a morte de Perry a propriedade, que havia sido hipotecada foi adquirida em 1902 pelo capitalista António Centeno, continuado a viúva de Perry, Carolina Coronado a habitar a casa através de uma cláusula permitida na escritura de venda que determinava que esta a habitasse até ao final da sua vida. Da venda do imóvel de António Centeno nasceu no terreno a Fábrica Seixas, pertencente à sociedade Fuertes & Comandita. A fábrica dedicou-se, até à data do seu encerramento, em 1925 a actividades como a metalurgia, carpintaria, fundição, caixotaria e tanoaria. O palácio voltou desta forma a sofrer alterações e a arte dera lugar à eficácia. Mais tarde alojou ainda uma fábrica de licores, embora não por muito tempo.

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23. Palรกcio da Mitra (Horรกcio Novais - 1948)


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Aproximação ao lugar A Quinta da Mitra

No ano de 1930 foram adquiridos pela Câmara de Lisboa o palácio, a capela, terrenos e anexos com o projecto de ser aí instalado um matadouro público. O mesmo projecto nunca chegou a ser concretizado, tendo assim sido instalada nos terrenos rústicos da Mitra a Estação de Limpeza Oriental e nos barracões anexos da antiga fábrica Seixas um asilo de mendicidade, o Asilo da Mitra. No ano de 1934 o andar inferior do palácio foi ocupado pela Biblioteca Municipal do Poço do Bispo. O projecto foi executado por Fiel Viterbo. Pensa-se que tenha sido esta a época em que a propriedade sofreu as mais destrutivas modificações na estrutura do seu edifício. Também a capela edificada por D. Tomaz de Almeida foi destruída, não tendo sido feito, infelizmente, um levantamento arquitectónico rigoroso e um inventário do seu interior. A perda dos azulejos de inspiração cristã que ornamentavam o palácio foi, talvez, a maior perda do mesmo. Além desta, contribuíram ainda para a descaracterização dos espaços envolventes do palácio, o alargamento da Rua do Açúcar e o aterro fronteiro, local onde foram construídos armazéns no inicio dos anos 50, roubando ao palácio a vista para o Rio Tejo. Também a colocação do muro do fundo, a norte, e o gradeamento moderno a poente descaracterizaram o palácio de outrora. Com excepção do jardim superior, virado a nascente, nada se conservou da antiga propriedade. No ano de 1941, a Câmara Municipal de Lisboa, numa tentativa de valorização do palácio, decidiu nele instalar o Museu da Cidade, o qual passa a ocupar não apenas as instalações do palácio como também o jardim superior. No entanto, na década de 70 o museu passa para o Palácio Pimenta, no Campo Grande. Após a mudança o andar inferior do Palácio da Mitra foi cedido ao grupo “Amigos de Lisboa” que nesse espaço instalaram a sua sede e biblioteca, ficando o andar nobre destinado a cerimónias protocolares da Câmara de Lisboa. Há conhecimento de uma adjudicação datada de 1961 e feita a um empreiteiro ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa para a execução de várias obras de conservação no Palácio da Mitra. Posteriormente, na década de 90, foram remodeladas algumas salas do palácio. Foram também efectuados trabalhos de conservação e restauro. No ano de 2003, após a saída do grupo “Amigos de Lisboa” das instalações do palácio, foram realizadas diversas remodelações no interior do edifício. Apesar de todo o mobiliário, pintura e peças decorativas existentes terem sido preservados, toda a decoração do palácio foi remodelada

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24. Beco da Mitra (Fot贸grafo n茫o Identificado - 1945)


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Aproximação ao lugar O Palácio da Mitra e os jardins

Apesar de não ter ainda merecido a necessária divulgação, o Palácio da Mitra é, segundo Maria João Martins (2004) uma relevante obra do barroco português, podendo mesmo comparar-se ao Palácio das Necessidades e ao Palácio de Santo Antão do Tojal. O alçado nascente do palácio tem um comprimento de vinte e sete metros, apresentando, horizontalmente, uma simetria de formas e volumes quase perfeita, enquadrada no lado direito pelo padrão cego que suporta o jardim superior e no lado esquerdo, pelo muro que fecha o pátio. Outrora, o acesso ao palácio foi antecedido por um cais privativo delimitado por dois obeliscos, cada um decorado com um baixorelevo de mármore representando as Alminhas. O pátio de honra, na altura mais amplo, permitia o acesso à capela e ao palácio situados a norte do pátio. Para poente, na enorme quinta, encontrava-se um imenso arvoredo, encontrando-se no meio deste, tanques e cascatas, hortas ajardinadas e avenidas, entre outros espaços decorados com estátuas e repuxos. No que diz respeito à fachada interna do palácio, esta é mais severa que a da rua, apresentando varandas de sacada rectilínea pouco salientes. Para poente, no seu prolongamento, deveria encontrar-se a frontaria da capela, acerca da qual não se conhece nenhuma imagem. O edifício é composto por dois andares. O inferior denota o aproveitamento de diversas estruturas de construções anteriores, sendo confuso e, por vezes, ambíguo. A entrada não é feita por um átrio mas sim por um largo lance de escada, as quais dão acesso a um fundo patamar por onde, através de um arco, se estabelece lateralmente a ligação com a escadaria nobre. Esta escadaria é considerada a parte mais elaborada e importante do edifício, não apenas em termos espaciais como ornamentais. Relativamente ao jardim, este encontrava-se ao nível do andar nobre, organizado sobre um terraço. A fachada nacente do palácio era delimitada pelo Tejo, existindo, entre ambos não mais do que um passeio público. Antes de terem sido construídos os armazéns e ter sido feito o aterro, o jardim foi, outrora, um agradável logradouro sobre o rio.

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25. Palácio da Mitra (Estúdios Mário Novais - 1943)


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Aproximação ao lugar O Palácio da Mitra e os jardins

O jardim do palácio é constituído por canteiros de buxo organizados “à francesa”, sendo o pequeno lago central um dos elementos que lhe confere cor e dignidade. Apesar de se encontrarem um pouco “violentados” por anteriores restauros duvidosos, os painéis de azulejos que se encontram entre as portas das salas do palácio que abrem para o jardim, assim como o grande painel azulejado, com o objectivo de servir de espaldar a um banco, junto à parede oposta do palácio não deixam, de forma alguma, de ser elementos que uma vida e cor próprias do jardim do palácio da Mitra. Em alguns painéis são combinado elementos rococó com algumas incursões neoclássicas de carácter mais simples. De facto, o jardim é o único espaço no exterior do palácio que preserva parte da história e vivência setecentista que o marcou durante a presença dos arcebispos, uma vivência caracterizada por frequentes e requintadas festas. No entanto, a destruição do jardim localizado no lado poente do palácio, assim como da capela contribuíram para uma enorme e angustiante descaracterização do palácio. Actualmente, o que existe é uma desarmonia instalada, acompanhada por uma lamentável escassez de documentação encontrada, uma vez que parece não ter havido qualquer preocupação em fixar fotograficamente a capela. Nos arquivos da Câmara de Lisboa, a documentação existente em relação ao Palácio da Mitra, mais precisamente no que respeita às suas obras de remodelação é muito pouco consistente e, em relação à capela, praticamente inexistente. Existe sim, o parecer técnico sobre o projecto para vedação do pátio de honra, no qual o arquitecto Pardal Monteiro, responsável pela obra sugere a hipótese de fazer a entrada do pátio pelo topo Sul, dando a possibilidade ao muro de ter proporções mais desafogadas, sendo em parte gradeado. Por motivos desconhecidos e lamentavelmente incompreensíveis, a demolição da capela aconteceu antes de 1936. A capela havia sido a última obra de remodelação levada a cabo séculos antes por D. Tomaz de Almeida, o qual nutria um especial interesse por esta peculiar dependência do palácio. A capela apresentava uma forma elíptica, a qual reflecte as correntes italianizantes características no barroco joanino do segundo quartel do séc. XVIII. Também a sua decoração acusava características joaninas tardias, de cerca de 1740 a 1750.

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00.

26. Palรกcio da Mitra, vista do jardim (Jayme Santos - 1941)


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27. Jardim do Palรกcio da Mitra (Frederico Reis - 2010)


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PAYSAGE Je veux, pour composer chastement mes églogues, Coucher auprès du ciel, comme les astrologues, Et, voisin des clochers écouter en rêvant Leurs hymnes solennels emportés par le vent. Les deux mains au menton, du haut de ma mansarde, Je verrai l’atelier qui chante et qui bavarde; Les tuyaux, les clochers, ces mâts de la cité, Et les grands ciels qui font rêver d’éternité.

I would, to compose my eclogues chastely, Lie down close to the sky like an astrologer, And, near the church towers, listen while I dream To their solemn anthems borne to me by the wind. My chin cupped in both hands, high up in my garret I shall see the workshops where they chatter and sing, The chimneys, the belfries, those masts of the city, And the skies that make one dream of eternity.

II est doux, à travers les brumes, de voir naître L’étoile dans l’azur, la lampe à la fenêtre Les fleuves de charbon monter au firmament Et la lune verser son pâle enchantement. Je verrai les printemps, les étés, les automnes; Et quand viendra l’hiver aux neiges monotones, Je fermerai partout portières et volets Pour bâtir dans la nuit mes féeriques palais. Alors je rêverai des horizons bleuâtres, Des jardins, des jets d’eau pleurant dans les albâtres, Des baisers, des oiseaux chantant soir et matin, Et tout ce que l’Idylle a de plus enfantin. L’Emeute, tempêtant vainement à ma vitre, Ne fera pas lever mon front de mon pupitre; Car je serai plongé dans cette volupté D’évoquer le Printemps avec ma volonté, De tirer un soleil de mon coeur, et de faire De mes pensers brûlants une tiède atmosphère.

It is sweet, through the mist, to see the stars Appear in the heavens, the lamps in the windows, The streams of smoke rise in the firmament And the moon spread out her pale enchantment. I shall see the springtimes, the summers, the autumns; And when winter comes with its monotonous snow, I shall close all the shutters and draw all the drapes So I can build at night my fairy palaces. Then I shall dream of pale blue horizons, gardens, Fountains weeping into alabaster basins, Of kisses, of birds singing morning and evening, And of all that is most childlike in the Idyl. Riot, storming vainly at my window, Will not make me raise my head from my desk, For I shall be plunged in the voluptuousness Of evoking the Springtime with my will alone, Of drawing forth a sun from my heart, and making Of my burning thoughts a warm atmosphere.

Charles Baudelaire, Fleur du mal, 1857

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LANDSCAPE

William Aggeler, The Flowers of Evil (Fresno, CA: Academy Library Guild, 1954)


28. Jardim e Asilo da Mira (Frederico Reis - 2010)


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Piscinas do Poço do bispo Planta de localização

A zona oriental, antes da revolução industrial, era uma extensa área de quintas, palácios, igrejas e conventos, onde passava o “caminho do oriente”, designado pela Rua Madre de Deus, Rua de Xabregas, Calçada de D. Gastão, Rua do Grilo (onde ainda hoje existem o Convento do Grilo e o Palácio do Duque de Lafões), Rua do Beato (local do Convento do Beato), Rua do Açúcar (Palácio da Mitra), até à Praça David Leandro da Silva. No final do séc. XVIII, grande parte da frente marítima de Lisboa, nomeadamente entre Xabregas e Marvila, foi palco de construção fabril, no seguimento desse impulso, houve a necessidade de ganhar mais território em benefício da cidade para a construção do porto. Muitas destas fábricas foram erguidas de raiz, outras aproveitaram-se de palácios existentes para o seu funcionamento. O primeiro aterro construído neste troço de linha de costa foi em 1835, consolidando o designado “caminho do oriente”, e acabando com a praia fluvial. Os edifícios notáveis que ainda hoje restam, fruto da revolução industrial, são a Fábrica do Braço de Prata, onde funcionava outrora em 1869 a Oficina de Pirotecnia, e em 1908 a fábrica de material de guerra, o edifício Abel da Fonseca que em 1917 era o grande armazém de vinhos, o Palácio da Mitra que a partir de 1850 foi apropriado pela Fábrica Seixas, e a Vila Pereira que serviu de habitação aos operários das fábricas do lugar. Com o desenvolvimento tecnológico e com a falta de resposta às necessidades das indústrias rudimentares, estas foram transferidas para a periferia de Lisboa, com melhores condições tecnológicas, e também por uma questão de melhorar a salubridade do ar na cidade. Muitas das fábricas foram abandonadas progressivamente, estagnando lentamente a vida de Marvila. Não obstante, as vilas continuaram a ser habitadas pela população que foi ficando no lugar, tornando-se cada vez mais envelhecida. No entanto, o porto de Lisboa desenvolveu-se cada vez mais, sendo local de estacionamento de contentores e de cargas e descargas de barcos, separando a cidade do Tejo. Todas estas premissas reflectiram-se no presente. Hoje em dia a costa oriental de Lisboa sente a falta do dinamismo que a costa ocidental vive. Na Rua do Açúcar ainda existe algum movimento regular, porém sente-se muito a presença de edifícios da era industrial sem interesse e alguns deles degradados. O Palácio da Mitra é um dos edifícios notáveis, que como analisado anteriormente, está muito virado para si. Esta rua culmina na Praça David Leandro da Silva, um espaço com alguma vida impulsionada pelo Clube Oriental, pelo mercado de frutas que funciona no edifício Abel da Fonseca, pelas paragens de transportes públicos, e pelo sombreamento de árvores onde existe alguma vivência por parte de idosos ou raros trabalhadores do local, espaço público este que é único na envolvente. A Rua Pereira Henriques era a antiga forma de se chegar do interior da cidade ao mar. Tem duas vias perpendiculares entre si, uma paralela à linha férrea e outra perpendicular à linha de costa. Os edifícios presentes nesta rua estão muitos deles devolutos, outros são habitações em condições precárias. O quarteirão do lado da vila Pereira mantém ainda algumas características do desenho original, com elementos referenciais para o património de Marvila. As duas vias encontram-se num ponto onde está situado um edifício que ficou embargado pelos caminhos-de-ferro de Portugal. Com o decorrer dos anos, o interior do quarteirão e o que seriam outrora hortas e espaços de cultivo, começaram a ser invadidos por barracões e construções precárias. Do outro lado da rua, existe uma grande quantidade de armazéns que é desproporcionada em relação à malha urbana, implantada nos antigos terrenos dos jardins pertencentes ao Palácio da Mitra, cujas fachadas são maioritariamente cegas. A necessidade de intervir com um projecto de conteúdo público seria importante para impulsionar o dinamismo do quarteirão e das ruas que o envolvem, e mesmo no resto da costa oriental.

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Piscinas do Poço do bispo Memória Descritiva

Poço do Bispo, o nó de ligação entre o centro e a zona oriental de Lisboa, o nó quase esquecido do fim de Marvila, o lugar desocupado pelo habitante e com uma forte memória quase de ruína palaciana, perdida entre o caos deixado por uma industria estagnada. A linha de comboio, o palácio da mitra e os seus jardins são os elementos que funcionam como pré-existências mais fixas do lugar. Os caminhos-de-ferro de Lisboa, a poente, eram a melhor maneira de se chegar a Lisboa por terra. Mantêm-se activos e foram muito importantes para o desenvolvimento da zona do ponto de vista industrial. O Palácio da Mitra, construído nos finais do século XVII, sendo alterado no século XVIII, tem um grande jardim, a uma cota mais alta, que se transformava numa mata. A norte estendia-se até à Rua Pereira Henriques e a poente chegava a atravessar a linha de comboio. Estes jardins tinham uma grande diversidade de elementos vegetais, como também poços ou lagos que funcionavam quase como espelhos de água. O lugar do projecto tem duas ruas principais, faz frente com a Rua do Açúcar e é ladeada pela Rua Pereira Henriques. A Rua do Açúcar, uma rua quase de nível mas algo instável. A rua que é definida por uma linha, um limite, o fim da escarpa. A Rua do Açúcar é cruzada por várias outras ruas perpendiculares. A Rua do Açúcar chegou a ser mar e foi pavimentada em 1944. Acaba na Praça David Leandro da Silva. A Rua Pereira Henriques era uma das ruas principais para se chegar de Marvila ao mar em 1904. Tem uma grande diferença de cotas, numa das pontas o limite é a linha do comboio, onde se cruza com a Rua Direita de Marvila, na outra ponta termina na doca, estendendo-se até ao mar. A área de implantação tem um edifício industrial construído sobre a zona norte dos antigos jardins do palácio da mitra, um edifício sem grande valor do ponto de vista arquitectónico. Um edifício em alvenaria de pedra rebocada, com estrutura em madeira, construído nos finais dos anos quarenta do século passado. Deste edifício deve-se enaltecer a luz, condição natural lugar, e uma vista urbana/industrial, frente a um imenso plano de mar, o mar da palha. O ambiente, a atmosfera histórica com várias mudanças ao longo dos anos, com muitas pré-existências que enriquecem o lugar, tornam-no único. Uma história que fez uma paisagem e que se pretende que o continue a fazer. Um lugar qualificado por vários momentos que fariam sentido engloba-los na estratégia de projecto, olhando de um ponto de vista quase holista, em que o todo é mais do que a soma das partes, também as cidades e os lugares, funcionam quase como organismos vivos que vão crescendo e evoluindo, vivendo como um. As piscinas do Poço do Bispo, são o projecto a apresentar, pretendem assim acentuar ou realçar o espírito do lugar, um projecto que qualifique um momento quase esquecido da costa de Lisboa. Poder habitar o edifício em todos os seus momentos e fazer com que este seja o resultado de uma resposta a um programa para o lugar. Permitir que existam momentos que despoletem relações entre o interior e o exterior, entre o projecto e a sua envolvente, um projecto que esteja bem inserido e resolva problemas do ponto de vista urbano. O programa sugerido é um complexo de piscinas com tanques de competição e aprendizagem. Também um tanque exterior, a piscina lúdica, que se torna o ponto de união destes dois mundos, do projecto com o lugar. A estratégia global do projecto, pretende devolver ao lugar qualidades que este veio a perder ao longo dos anos. A implantação Pretende-se que haja uma certa permeabilidade entre os antigos jardins do palácio da mitra, agora reabilitados, e a Rua Pereira Henriques, criando essas relações através de cotas comuns de ambas e vencendo os desníveis através rampas. Recuperar e reabilitar este jardim deixado um pouco à margem da cidade, assim sendo, o recurso à estratégia dos jardins e terraços tão característicos dos edifícios de tipologia conventual e palaciana implantados ao longo do limite da escarpa, antiga costa lisboeta, torna-se uma estratégia de projecto. A base do projecto passa pela criação de duas plataformas, dois níveis, uma de jardim e outra de piscinas, este último é o mais alto, estão sobre muros de pedra. A plataforma de jardim, mais protegida, tem um cariz mais intimista. A plataforma superior, contém as piscinas viradas para o mar da palha. Sobrevoando estas plataformas e elevada do chão, uma peça em betão aparente, um “L” com o corpo mais extenso paralelo à Rua Pereira Henriques, fazendo frente aos edifícios, protegendo do movimento da rua e dos ventos de Norte, que são uma condição natural problemática da zona, permitindo também que haja uma boa exposição solar. O outro corpo da peça, é dirigido às piscinas cobertas, beneficia de uma boa luz natural. Construtivamente procurou-se utilizar materiais que fizessem sentido, que integrassem e que respondessem correctamente aos desafios construtivos, aspectos como o tipo de construção local revelaram uma grande importância no desenvolver do projecto. A construção deste edifício pode ser dividida em duas partes, a das plataformas em pedra calcária de liós, para os muros de suporte e outros acabamentos como os pavimentos. A segunda parte em betão, para a peça que sobrevoa as plataformas e respectivos elementos estruturais. A madeira de riga seria o outro elemento a aplicar em muitos dos acabamentos interiores, como também em muitas das peças dos balneários.

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29. ArmazĂŠns (Frederico Reis - 2010)


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1. Local de intervenção 2. Palácio da Mitra 3. Asilo da Mitra 4. Doca do Poço do Bispo 5. Abel Pereira da Fonseca 6. Palácio Marquês de Abrantes 7. Igreja e Convento de Nossa Senhora da Conceição 8. Fábrica do Braço de Prata Caminhos-de-ferro Linha de eléctrico (desactivada)

30. Ortofotomapa sobre o Poço do Bispo (retirada do satélite GeoEye)


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31. Vista para o terreno de intervenção (Frederico Reis - 2010)


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32. Comboio e edificio (Frederico Reis - 2010)


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33. Luz do lugar (Frederico Reis - 2010)


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Rua do Açucar

Piscinas do Poço do Bispo

Pátio do Palácio da Mitra

Edifício da Camara Municipal de Lisboa

Jardim das Piscinas

Caminhos-de-ferro Linha do Sado

Rua Direita de Marvila

Caminhos-de-ferro Linha de Cintura

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Palácio da Mitra


Pontรฃo da doca

Doca do Poรงo do Bispo

Via Infante D. Henrique

Mar da Palha


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Via Infante D. Henrique

Doca do Poรงo do Bispo

Pontรฃo da doca

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Mar da Palha


Linha de comboio

Piscinas do Poço do Bispo

Rua Direita de Marvila

Linha de comboio

Entrada das Piscinas

Rua Pereira Henriques

Rua do Açucar

Palácio da Mitra Palácio Marquês de Abrantes


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Caminhos-de-ferro Linha do Sado

Asilo da Mitra

Rua Pereira Henriques

Rua Capitão Leitão

Beco da Mitra

Palácio da Mitra

Avenida In

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Rua Pereira Henriques

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Bairro Pereira Henriques

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Rua do Açu

Igreja e C onvento de N Senhora da Conc ossa eição

Praça David Leandro da

Silva

Abel Pereira da Fonseca


MERGULHO Piscinas do Poço do Bispo

Piscinas do poço do bispo Axonometria 1. Café | Bar 2 . Piscina Exterior 3. Balneários | Piscina exterior 4. Entrada 5. Balneários | Piscinas interiores 6. Piscina | 25 metros 7. Piscina | 50 metros 8. Restaurante

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Piscinas do poço do bispo Plantas

Piso 1 | Plataforma de jardim É a primeira plataforma do edifício, intermédia em relação ao plano da Rua do açúcar e ao plano das piscinas. Caracterizada por ser a plataforma de jardim, para onde está virado um café /restaurante e onde assentam as rampas e escada de transição das cotas superiores e inferiores. Funciona como um pátio entre muros de pedra calcária (lioz) e entre dois edifícios, o antigo a nascente (Palácio da Mitra), a poente o novo edifício (das piscinas do Poço do bispo). Dotado de uma boa exposição solar de sul, virado para a cidade de Lisboa e resguardado dos ventos de norte. O jardim é composto por um grande plano de relva fina atravessados por faixas de percurso em pedra, pretende-se assim que seja uma extensão do café/restaurante para o exterior. Um espaço composto por várias espécies de árvores como a nespereira (Eriobotrya japonica), azinheira (Quercus ilex), ameixoeira-dos-jardins (prunus cerasifera), platano (platanus hybrida), Freixo (Fraxinus angustifolia), carvalho-alvarinho (Quercus robur), Jacarandá (Jacaranda mimosaefolia) e a oliveira (Olea europaea). O acesso à área técnica das piscinas também pode ser feito a este nível.

1 - Jardim 2 - Restaurante 3 - Cozinha 4 - Sanitários 5 - Armazém 6 - área técnica (piscinas cobertas) 0 1

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Piscinas do poço do bispo Plantas

Piso 2 | Plataforma das piscinas Definida por um grande plano horizontal onde se desenham os tanques, a plataforma das piscinas, assente sobre muros de pedra constrói o segundo nível do edifício. O nível em que se inserem as piscinas, duas interiores e uma exterior, três planos de água em que a intenção é a de se abrir a possibilidade de não haver limite entre interior e exterior. Existe a esta cota a ligação à Rua Pereira Henriques, o ponto de entrada é definido por uma grande peça de betão, um espaço exterior coberto elevado do chão, uma marcação que funciona como abrigo, protegendo o utilizador dos ventos de Norte e da relação próxima à passagem de carros na Rua Pereira Henriques, agora atenuada pelo estreitamento da via. No ponto de entrada são abertas duas possibilidades, a dos balneários exteriores para os utilizadores das piscinas lúdicas e a entrada para o interior do edifício, onde estão as piscinas de competição e aprendizagem. Piscinas exteriores. Os balneários seguem uma métrica de organização regular, situados entre a estrutura que suspende a barra. O vazio que fica entre as cápsulas é ocupado pelo espaço de chuveiros, são descobertos e recebem luz zenital directa. A piscina exterior tem 2600m2 um grande plano de água envolvido por uma área de solário. Piscinas interiores. O átrio de entrada, feito e pé direito duplo tem iluminação zenital e um grandfe vão aberto para os tanques interiores. Esta é também a zona da recepção, bengaleiros, administração e de acesso aos balneários. Os espaços administrativos estão virados para a Rua Pereira Henriques, contudo são protegidos por uma grande viga que define a peça de entrada. Os balneários funcionam por cápsulas, com a zona de duches a meio, é lida como um volume de madeira entre paredes de betão, recebe luz zenital através dum lanternim num espaço de pé direito duplo. Os dois tanques interiores, um de 50x25m o outro de 25x15m, o maior dirigido à competição, o mais pequeno às aulas de aprendizagem. Pretende-se que haja a possibilidade desta área se estender para o espaço das piscinas exteriores.

4 - Instalações sanitárias 8 - Entrada 9 - Recepção 10 - Arrumos 11 - Bengaleiro 12 - Sala de reuniões 13 - Acesso aos balneários 14 - Enfermaria 15 - Balneário 16 - Balneário deficientes 17 - Piscina olimpica 18 - Piscina 12 metros 19 - Balneários exteriores 20 - Solário 0 1

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Piscinas do poço do bispo Plantas

Piso 3 | Piso das bancadas O último dos pisos do edifício, está inserido na peça de betão que se implanta sobrevoando a plataforma das piscinas. Tem uma entrada para as pessoas que vêm da parte alta de Marvila, na continuação da Rua Pereira Henriques, no troço paralelo à linha do comboio. No interior deste espaço existe um contacto visual estabelecido pelo pé direito duplo do piso inferior, recebendo também a mesma luz zenital que ilumina a entrada da plataforma das piscinas. A entrada para o espaço de bancadas é feito por um grande plano de vidro que se estende a toda a largura deste corpo. As bancadas estão dispostas ao longo de todo o comprimento do espaço de piscinas e de ambos os lados. A iluminação deste espaço é a mesma do espaço das piscinas, sendo sempre feita entre vigas. No lado oposto ao da entrada existe um restaurante, em que o acesso pode ser feito pelo piso inferior ou pelo espaço das bancadas. O restaurante abre uma excepção no volume, pela criação de um vão virado para a cidade de Lisboa, para a zona ocidental e para a antiga extensão da Quinta da Mitra, este vão é protegido por uma viga elevada a um metro e dez do chão, sendo que a perspectiva para o exterior é apenas feita quando o utilizador se senta.

4 - Instalações sanitárias 8 - Entrada 22 - Acesso ao piso inferior 23 - Administração 24 - Bancadas 25 - Restaurante 26 - Balcão 0 1

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Piscinas do poço do bispo Cortes

O edifício divide-se em duas partes principais, a inferior em pedra liós e a superior em betão aparente. Este limite é feito e sentido no plano das piscinas, o plano horizontal onde todo o programa se organiza. A métrica do edifício é toda ela feita através de uma divisão de 50 em 50 cm criando dois espaçamentos entre vigas. Ao longo da barra paralela à Rua Pereira Henriques estão de 5 em 5 m, no corpo que cobre as piscinas interiores de 2,5 em 2,5 m. Desta forma permite-se criar dois tipos de ambientes e de iluminação diferentes, cada um deles adaptado ao seu espaço. A iluminação dos lanternins e feita através de uma cobertura inclinada em policarbonato, interiormente a luz é filtrada por uma tela de teflon. A estrutura da peça toda feita em betão pré-esforçado, assente pontualmente na plataforma de pedra. Os materiais predominantes no projecto, são o betão, a pedra calcária de liós nos pavimentos de toda a plataforma das piscinas e a madeira de Riga para acabamentos e nas peças dos balneários.

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Piscinas do poço do bispo Corte Construtivo escala 1:50

01. Geodreno 02. complexo de impermeabilização, tela betominosa e manta drenante 03. Caixa de brita 04. Tout-venant 05. Membrana de separação 06. Laje térrea em betão armado 07. Camada impermeabilizante em filme plástico 08. Betonilha armada de regularização 09. Acabamento em resina epoxy autonivelante 10. Isolamento térmico e absorção acústica, celenite 75mm 11. Laje em betão armado 300mm 12. Caleira de recolha de águas 13. Grelha aço inox 14. Enchimento em betão leve com pendente 15. Tela de impermeabilização 16. Pedra calcária, liós 17. Caleira em betão pré-fabricado 18. ponto de iluminação 19. Lajeta de betão pré-fabricado 20. Isolamento térmico, roofmate 70mm 21. Sistema de fixação para pré-fabricados tipo halfen 22. Estrutura das bancadas em betão armado 23. Caixilho tipo vitrocsa 24. Corrimão metálico 25. Fixadores para betão in situ 26. Parede estrutural em betão pré-esforçado 350mm 27. Tela impermeabilizante em pvc 28. Isolamento térmico, wallmate 75mm 29. Parede Interior em betão armado 125mm 30. Perfil metálico em C 280 31. Caleira metálica 32. Rufo em zinco Metálico 33. Sistema de fixação para betonagens in situ 34. Calços de borracha 35. Tela em teflon tipo ferrari 36. Estrutura de esticadores para teflon 37. Iluminação de bancadas, luzes flurescentes 1200mm 38. Peça metálica 39. Claraboia em policarbonato tipo OBL 40. Viga em betão armado 500mm 41. Iluminação das piscinas

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MERGULHO Piscinas do Poรงo do Bispo

Desenho 01. Estudos, proposta fase 03

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MERGULHO Piscinas do Poรงo do Bispo

Desenho 02. Estudos de vรฃos e luz

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MERGULHO Piscinas do Poรงo do Bispo

Desenho 03. Estudos de volumes, encontro de planos

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MERGULHO Piscinas do Poรงo do Bispo

Desenho 04. Vรฃos, luz e passagens

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MERGULHO Piscinas do Poço do Bispo

Desenho 05. Organização de cápsulas 01

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MERGULHO Piscinas do Poço do Bispo

Desenho 06. Organização de cápsulas 02

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MERGULHO Piscinas do Poรงo do Bispo

Desenho 07. Estudos de volumes e estrutura

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MERGULHO Piscinas do Poço do Bispo

Desenho 08. Tempo, método e trabalho

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MERGULHO Piscinas do Poço do Bispo

Desenho 09. Métrica e estrutura

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Desenho 10. Estudos, balneรกrio exterior

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Desenho 11. Entrada

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BIBLIOGRAFIA SINDICATO NACIONAL DOS ARQUITECTOS, Actas do I Congresso, Lisboa: SNA, 1948 SINDICATO NACIONAL DOS ARQUITECTOS, Arquitectura Popular em Portugal. Volume 1 e 2, Lisboa: SNA, 1961 IAPXX, Inquérito à arquitectura do século XX em Portugal , Lisboa : Ordem dos Arquitectos, 2003 AA.VV., Fernando Távora, Lisboa: Editorial Blau, 1993 TAVORA, Fernando, Da Organização do Espaço, Porto: FAUP publicações, 2004 Casa de Férias em Ofir, Lisboa: Editorial Blau, 1992 Távora, Fernando, 1923-2005 Ampliamento del parlamento portoghese = Addition to the portuguese parliament / Fernando Távora. - In:Casabella CARRILHO, João Luís Carrilho da, Palácio de Belém, Presidência da república, Centro de Documentação e Informação; Garagem e jardins. - In:Arq./a . - Lisboa . - A. 2, n. 12 (Março-Abril 2002), p. 24-31 VICENTE, Manuel, Da métrica dos bicos / Manuel Vicente. - In:Jornal de arquitectos . - ISSN0870-1504 . - Lisboa . - N. 213 (Nov. Dez. 2003), p. 101-109 CARITA, Helder, Elementos para um estudo da Casa dos Bicos , Lisboa : Pisa-Babel, 1983 FERNANDES, José Manuel, Lisboa : arquitectura & património, Lisboa : Livros Horizonte, 1989 LINO, Raul, Projecto de complementação da Casa dos Bicos, Lisboa: 1879-1974 DEBORD, Guy, La Société du Spectacle. Paris: Editions Gallimard, 1992 FRANK, Thomas, The conquest of Cool, Buisness Culture, Counterculture, and the Hip Consumerism. Chicago: The University Of Chicago Press, 1997 SADLER, Simon, The situationist City. Cambridge: The MIT Press, 1994 RISSELADA, M; HEUVEL, D. (editors), TEAM 10, 1953-81, in search of a utopia of the present. Rotterdam: NAI Publishers, 2006 URFALINO, Philippe, L’invention de la politique culturelle. Paris: Hachette Littératures, 2004 MONTANER, Josep Maria, Depois do movimento moderno. Arquitectura da segunda metade do século XX. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, S.A., 1989 WARK, McKenzie, Fifty Years of Recuperation. New York: The Temple Hoyne Buell Center for the Study of American Arquitecture, 2008 GRANDE, Nuno, J.A. Política. Lisboa: Ordem dos Arquitectos – Centro Editor Livreiro da OA, 2008 CARITA, Helder, CARDOSO, Homem, O Tratado da Grandeza dos Jardisn em Portugal ou da Originalidade e Desaires desta Arte, Lisboa, Círculo de Leitores, 1990 CONSIGLIERI, Carlos, RIBEIRO, Filomena, VARGAS, José Manuel, ABEL, Marília, Pelas Freguesias de Lisboa - Lisboa Oriental, Lisboa, Câmara Municipal - Pelouro da Educação, 1993 MARTINS, M.J., O Palácio da Mitra, Lisboa, Sete Caminhos, 2004 MECO, José, “ O Palácio da Mitra em Lisboa e os seus Azulejos - I” , in LISBOA Revista Municipal, Ano XLVI, 2ª Série, Nº 12, Lisboa, Edição da C.M.L. - D.S.C-C. - Repartição de Acção Cultural, 2º Trimestre de 1985 STOOP, Anne de, Quintas e Palácios noa Arredores de Lisboa, Porto, Livraria Civilização, 1986 SIZA, Álvaro, obras e projectos, 2001-2008. Madrid - In:El croquis, N. 140, 2008


34. Watt (fot贸grafo n茫o identificado)




DA/UAL


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