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Potencial turístico

no ‘Saint Bartholomew’, um hospital que tem 500 anos e existe em Londres até hoje. Médicos, auxiliares, enfermeiros, tudo foi importado de lá”, conta

Estrutura

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A estrutura do hospital era composta por oito enfermarias, com oito leitos cada, sala de cirurgia com capacidade de realizar todo tipo de procedimento da época, e outros equipamentos importantes “Existia uma farmácia que manipulava a grande maioria dos remédios e era considerada a melhor de Minas Gerais Além disso, a estrutura era composta também por salas de radiologia, enfermagem, reuniões, para curativos, pequenas cirurgias, biblioteca, depósito geral, louçaria, cozinha, refeitórios, laboratório de análises clínicas, lavanderia e costuraria Em um nível mais baixo, localizavam-se os consultórios médicos, com entrada independente dos doentes, que eram feitas pela frente do hospital”, lembra

Raios-X

Conforme conta o ex-diretor, o aparelho de raios-X foi descoberto em 1895, na Alemanha, e após oito anos uma máquina para a realização do exame já estava no Hospital da Morro Velho “A unidade foi a segunda do Brasil a ter esse equipamento. Entretanto, as radiografias eram enviadas a Londres, porque não tinham médicos que sabiam fazer a leitura. Demorava seis meses para fazer esse percurso de fazer as imagens, enviá-las a Londres, obter o laudo e retorná-lo Era uma coisa totalmente nova, mas com o tempo, os médicos aprenderam a ler Até 1928 todos os médicos que atuavam no hospital eram ingleses, somente após essa data que a instituição começou a ter esses profissionais brasileiros”

Cirurgias

Todas as cirurgias que na época eram realizadas em

Londres, também eram feitas no hospital da mineradora. “Cirurgias clínicas, de tórax, neurológicas, pediatria, parto, úlceras, remoção de tumores de abdômen, amputações, tudo que era possível na época. A sala de operações era a mais moderna que existia no país A mesa de madeira conseguia realizar todos os movimentos necessários para uma boa cirurgia. Em cada sala tinha uma lareira que era acesa durante as intervenções cirúrgicas realizadas em tempo de frio”, lembra. O hospital era exclusivo para atendimento aos trabalhadores das minas, mas, durante a construção da capital mineira, ele atendeu também as autoridades, entre outros trabalhadores, que atuaram na criação de Belo Horizonte “Nesse período foi feito um apartamento, modulado, somente para atender esse público” Em 1967, o hospital encerrou os procedimentos mais incisivos, mas seguiu com todos os outros atendimentos até 1995, quando a Morro Velho encerrou as atividades do hospital, segundo conta Dr Ricardo

Nossa Senhora de Lourdes

Na época em que foi criado o Hospital da Morro Velho, existia outro hospital na cidade, responsável pelo atendimento ao restante da população Em 1937, o Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada instalou uma estrutura ainda bem acanhada, que funcionava em uma casa pequena na rua Tiradentes, no centro de Nova Lima, conforme afirma Dr Ricardo Somente em 1980 foi criada a Fundação Hospitalar Nossa Senhora de Lourdes (FHNSL). “No período que o Hospital da Morro Velho foi criado, a população era muito pequena, não chegava a quatro mil habitantes e a sua maioria trabalhava nas minas, que era atendida pelo hospital da mineradora”

Direção do hospital

Dr Ricardo Salgado, nascido em Belo Horizonte, e sobrinho do então superintende da Morro Velho, Cecil Jones, que inclusive foi prefeito de Nova Lima, iniciou seus trabalhos como médico no hospital em dezembro de 1973. “Em abril de 1974 meu tio me convidou para assumir a direção do hospital Só deixei a função em 1995, quando fecharam o equipamento. Dentro do terreno do hospital existiam duas casas, a do diretor e do vice-diretor Portanto, também morei no local por 13 anos” O médico, que atualmente é aposentado e tem como hobby a pesquisa por assuntos relacionados a Nova Lima, foi também secretário de Saúde e de Meio Ambiente da cidade, entre 1989 a 1997.

Acervo

Segundo Dr Ricardo, a mineradora vendeu grande parte do mobiliário do hospital e muitos utensílios foram doados ao Hospital Nossa Senhora de Lourdes “Quando da montagem do Centro de Memória, entregamos tudo catalogado para a Fabíola Félix, responsável pela montagem do centro” O acervo histórico do hospital está aberto gratuitamente à população para visita no Centro de Memória da AngloGold Ashanti, localizado na Casa Grande, no bairro Boa Vista, em Nova Lima As visitas gratuitas ao Centro de Memória podem ser agendas pelo telefone 3589-1716, WhatsApp 9 7200-7978 ou pelo e-mail centrodememoria@anglogoldashanti com O funcionamento é de quarta-feira a domingo, das 8h às 12h, e das 13h às 16h30

Dias atuais

Ainda segundo a AngloGold, atualmente o prédio do antigo do hospital abriga o Centro Técnico de Operações (CTOP) da mineradora, sendo posto de trabalho de diferentes áreas da empresa como TI, Meio Ambiente, imobiliário, pesquisa mineral, jurídico, entre outras “Portanto, trata-se de um imóvel em uso, sem definições sobre a comercialização”, afirma a empresa.

Apagamento da história

Dr Ricardo afirma que o local, sem o devido tombamento, e desapropriação pela prefeitura, para que se instale algo turístico e cultural no imóvel, a cidade corre o risco de apagar parte da história da medicina brasileira “O local onde o prédio está erguido é único. A estrutura tem uma personalidade normanda, estilo arquitetônico muito utilizado na Inglaterra naquela época Do lado de fora é uma casa de campo, estilo das que podem ser encontradas no bairro Quintas, mas gigante A mata que fica ao redor está intacta; de lá podemos ver jacu, quati, mão pelada (guaxinim) e até onça. Por dentro, um lugar adaptado para hospital É lindo Se Nova Lima permitir que o prédio seja alterado, cometerá um crime inestimável com a história da cidade e do Brasil”, considera

Tombamento

Por fim, Dr Ricardo salienta que dois similares desse modelo de hospital foram construídos posteriormente na África, mas sobreviveu somente o prédio de Nova Lima, o que o torna único em todo o mundo A Prefeitura de Nova Lima disse que o Hospital da Morro Velho é inventariado pelo município e está com o processo de tombamento aberto, uma vez que o Conselho de Patrimônio reconhece a importância histórica do imóvel e tem o interesse em preservá-lo O próximo passo é a elaboração do dossiê de tombamento O Governo Municipal também afirmou que a utilização do espaço pelo Poder Público, por meio de possível aquisição, ainda está sendo estudada

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