2 minute read

CAR NA VAL

Cidades desencantadas

O desencanto das cidades é uma produção incessante do Poder Público, conforme afirma o historiador Luiz Simas O encantamento das ruas vem de corpos transgressores: com o toque do berimbau, os acordes do cavaquinho, as palmas e o canto da capoeira e do samba, já proibidas pelo Estado; com as fitas coloridas do congado e o toque firme do tambor, que se transvestiram de santos católicos para sobreviverem; assim como a umbanda e candomblé que tiveram, com aval do Estado, e ainda tem, seus ebós nas encruzas depredados; ou até mesmo com as cores do grafite que quebram a selva de pedra. A repressão do Estado contra os agentes que encantam as ruas não é aleatória: recai sobre corpos negros, responsáveis pela criação da tecnologia ancestral de manterem África viva em diáspora, por meio dessas manifestações culturais

Advertisement

Enegrecer é preciso

Não é à toa que em Nova Lima não tenha vestígios dos territórios negros, como Timbuctu, ou que as grandes obras da cidade sejam reverenciadas por serem “inglesas”, apesar de terem sido construídas com mão de obra, inteligência e expertise negra. O apagamento é um projeto político. Mas, como diz o samba-enredo da Unidos do Rosário, o samba venceu Apesar de dois anos de pandemia da Covid-19 impedir a festa, entre outros ataques que o Carnaval sofreu durante sua história, ele (sobre)vive Por isso, não é à toa o embranquecimento dos territórios carnavalescos, vide as rainhas das grandes escolas de samba; narrativa que já se repetiu com a capoeira, samba, umbanda e candomblé

tambor, logo existo”

Quando o repique chama a bateria para começar o desfile na rua Santa Cruz, o coração pulsa mais rápido e aquela rua desencantada e sem graça, é terreirizada Nova Lima, assim como o Brasil, é uma grande encruzilhada de saberes “Esse ponto de encontro que é a encruza, é o lugar da disponibilidade para que as coisas aconteçam, as pessoas se encontrem e a vida se encante Não precisamos ser eurocentrados, como se a Europa fosse o umbigo do mundo e nós meras ramificações dessa centralidade Penso, logo existo Sim, evidentemente Mas bato tambor, logo existo”, salienta o historiador.

Senso de comunidade

Diante de um cotidiano que massacra os corpos, mente e alma na exploração do trabalho, o Carnaval restaura o protagonismo daquilo que o país tenta domesticar e eliminar; traz à tona o pertencimento em relação àquilo que nos constitui como comunidade tão mutilado pelo sistema Mas é preciso estar atento, exatamente pela característica apropriadora do capitalismo “A festa vira mercadoria e os corpos em festa viram corpos consumidores Já a festa como um evento da cultura é orgânica, passa de geração para geração, não é estática evidentemente, mas de certa maneira dá sentido à vida das comunidades”

Edição Especial

Nesta edição, o jornal A Banqueta de Notícias traz detalhes sobre os bastidores do Carnaval. Desejamos que, a cada ano, mais organizações se envolvam para que a festa não se torne um espetáculo raso apenas para fins turísticos e movimentação da economia; mas sim para conectar as comunidades, com arte, beleza e raízes fortes

Jornal A Banqueta de Notícias - 665ª Edição

BEX Edições Ltda CNPJ: 11 160 970/0001-70

Fale conosco: 31 3541-5701 / 98569-2926 ou abanqueta@gmail com

Diretor: Frederico Sarti Mendes - Jornal associado ao SINDIJORI

Jornalista responsável: Mariana Lacerda

Redação: Maria Caroline de Freitas, Mariana Lacerda e Natália Leocádia

Diagramadoras: Sonia Souza, Tatiana Dias, Tyllye Melo

Comercial: Clauzy Barbosa: 99847-9631-Efigênia Veloso: 98848-4388

O Tempo Serviços Gráficos Tel : (31) 2101-3544 | 16 000 exemplares

Contato: 31 3541-5701

O jornal A Banqueta de Notícias se exime de qualquer responsabilidade sobre opiniões e pontos de vistas expressos em artigos, anúncios e publicações assinadas que exprimam conotações políticas, religiosas ou sociais, por não refletirem as convicções desta diretoria Reservamo-nos o direito de erro gráfico

This article is from: