SIEGE OF HATE EM ROTA DE COLISÃO
2017
SIEGE OF HATE EM ROTA DE COLISÃO
Publicado por GRIND AGES Copyright © SIEGE OF HATE, 2017 Todos os direitos reservados. Textos: George Frizzo Lucas Gurgel Bruno Gabai Introdução por LEONARDO PANÇO Projeto Gráfico, diagramação e capa por George Frizzo Revisão por Rafaella Ribeiro, DIego Vinhas e Bruno Gabai Fotos por George Frizzo, Bruno Gabai, Saulo Oliveira, Lucas Gurgel, LARISSA Andrade, LUCIANA PIRES, bruna torrezani, Thiago dias, thales gore, Alessandro Santana, Jacqueline Sales Abreu, Anderson Lopes, Mauricio Curi Huaiqui (CL) e Gimena Cuenca (AR). Desenho por Carlos Henrique Guabiras http://blogdoguabiras.blogspot.com.br/
Ficha Catalográfica Bibliotecária Perpétua Socorro Tavares Guimarães CRB 3/801-98 F 921 s Frizzo, George Siege of hate. Em rota de colisão / George Frizzo, Lucas Gurgel, Bruno Gabai; Introdução por Leonardo; Desenho por Carlos Henrique Guabiras. - Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2017. 198p.: il. Isbn: 978-85-420-1033-6 1. Viagens 2. Narrativas de viagens I. Gurgel, Lucas II. Gabai, Bruno III. Título
CDD: 910.4
Resoluçoes para uma turnê Hardcore na Europa por Leonardo Panço
Levar, no máximo, uma toalha de banho, afinal você provavelmente mal vai usá-la. Três camisas pretas já devem dar conta do recado para os 30 dias de shows. Toca todos os dias com a mesma, tira, põe para secar, põe uma já seca. No outro dia, faz tudo igual. Então, capaz que três já é demais. No primeiro dia, depois de horas tentando colocar todo o equipamento na van, no momento em que tudo encaixar como um Lego, fotografa e guarda. Porque, mesmo no último concerto, você ainda não vai lembrar o que entra onde e como fazer para encaixar o banquinho da bateria naquele espaço que, obviamente, não foi feito para ele. Pense positivo, good vibrations, para que nenhum show seja desmarcado. Se isso acontecer, você não tem o que comer nem onde dormir, então vai precisar da boa vontade de quem já te hospedou e estava esperando que você já estivesse de saída. A turnê é na Europa, vai ser tudo bom. E aquele dia em Touluse que não tinha água no prédio? E dormir dentro do cofre em um banco invadido na Holanda? E a temperatura de zero grau e neve caindo na beira da estrada? E se perder por Praga tendo que pedir informação sem falar tcheco? E as cervejas que se leva na viagem porque não consegue beber tudo quando se ganha no show? E as duas horas para achar o lugar da apresentação em Viena? Levou mais tempo que viajar da Alemanha. As conversas em vários idiomas que você nem domina, mas todos se entendem. Mas teve aquele dia de pura emoção em que todos esperaram para te ver depois de meia-noite em uma segunda-feira que vocês atrasaram. Os amigos são gentis, prestativos e “bebuns”.
ENJOY YOUR LIFE... ...AND GRIND! TOUR 2009 Rumo ao Velho Continente
ENTRE CAFÉ E LISTAS Enquanto o café na xícara ao lado do monitor do computador de desktop esfria, vasculho a mente listando todos os detalhes importantes, coisas a serem feitas, para podermos viajar tranquilos. Não que seja algum bicho de sete cabeças realizá-las, com exceção de algum trabalho ainda por acabar e convencer o cliente de que está bom e não precisa de retoques. Mas, no geral basicamente seguir a lista de “coisas por fazer” e tentar riscar o máximo de itens possível. Claro que cada um de nós possui sua própria lista particular, alguns itens mais sérios que outros, como fazer a mudança para a casa nova esse fim de semana, que deve estar na lista do Bruno (sim, ele mudou de casa duas semanas antes de viajar pra tour, deixando parte da arrumação da casa nas mãos da esposa). Em comparação, na minha, tem itens bizarros, como passar as entrevistas do Mário Gomes que estavam nas fitas k7 para CD (serviço pra um amigo e que não podia deixar de fazer antes de viajar e que eu me diverti muito) e terminar a arte de um cartaz de um show de Rock.
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Não faço ideia do que pudesse ter nas listas do Saulo e do Lucas. Mas, com certeza, também devia ter sua importância. É nesse clima que se segue o mês que antecede nossa viagem. Muitos objetivos, itens na lista a cumprir antes de embarcar. Esperança de não deixar nada não feito e poder seguir a viagem despreocupado, cuidando somente do que for aparecendo na estrada. Parece utópico, né? No decorrer do mês, a comunicação interna da banda aumenta. A cada dois dias nos falamos pelo telefone, sempre cobrando coisas ou dando satisfação de outras. Pela NET, também funciona da mesma forma, a troca de e-mails aumenta, sempre sugerindo planos ou alterações no trajeto da viagem, geralmente com arquivos de mapas e cartazes em anexo. Nosso disco, previsto pra sair no mês anterior (dois meses antes da viagem), atrasou e só saiu uma semana antes da viagem. Tenso! Quase que íamos sem. O que seria realmente muito ruim para a tour. Além das ajudas de custo (cachês) recebidas a cada show, é o material pra venda, como discos, camisetas, bottons, adesivos, pôsteres, discos de outras bandas etc. que faz o investimento retornar aos poucos. É importante não esquecer alguns detalhes antes de viajar. Basicamente informações de todo o rolê e dos shows, como nome do lugar, endereço, telefone, como chegar, horário da casa abrir, horário da passagem de som, horário de início do seu show, tempo da apresentação, programação do evento, informação sobre as bandas de abertura (se tiver), nome do produtor, e-mail, telefone e quanto de grana pra banda, isso é importante ser fechado com antecedência. Informações secundárias, como: comida (se normal ou vegetariana), acomodação (onde dormir), endereço (caso não durma no próprio local onde aconteceu o show) e, também importantíssimo, se o lugar de dormir for outro, como chegar ao sleeping place, devem ser acertadas justamente para evitar dores de cabeça e mal entendidos. Afinal, cansado após o show, ninguém vai curtir ficar perdido numa noite fria entre o lugar da apresentação e o de dormir. A seguir um exemplo: 10
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SHOW LATINO GRIND PARTY INFOS: - Data: 07 de outubro. - Local: Klub Motoráj, Praga, Republica Tcheca. - Chegada: Seria melhor vocês estarem aqui às 18h. - Cuidado, porque há muitos carros na estrada a essa hora. - Soundcheck/Passagem de som: Não tem. - Comida: Não vegetariana. - Portas: Abrem às 18h. - Início do show: 20hr - Tempo do setlist (duração): 40 min. - Outras Bandas: Clytor, Onanizer e Into Sickness - Fim do show: Será uma festa Hardcore-Punk e terminará tarde. - Acordo: 100 euros (no mínimo). Acima, é só um exemplo de como organizar as informações de cada show. É claro que ninguém ganha mil euros num show de Grind/Hardcore desses e, quase sempre alguma dessas informações, geralmente passadas pelo promoter do show, não bate com a realidade, seja o número de bandas, seja o horário do início do evento ou mesmo informações de como chegar ao lugar. O lance é checar direito tudo antes de viajar, principalmente o endereço e as direções a tomar.
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RUMO AO VELHO CONTINENTE Nosso voo sairía às 20 horas, mas resolvemos chegar cerca de 3 horas antes (uma hora a mais do que o exigido para voos internacionais) para evitar qualquer tipo de constrangimento que o check-in internacional pudesse dar. Sugestão que eu mesmo dei e que acabei não seguindo, me atrasando absurdamente, depois de receber várias ligações desaforadas do pessoal que já tinha chegado ao aeroporto. “Culpa da internet”, pensava. Muita coisa a resolver, muitos mapas para imprimir, regras, acordos de viagem, cartas convite (sim, tivemos duas que nunca foram solicitadas por nenhuma autoridade), que ainda estavam no computador. Na medida em que íamos nos distanciado de casa, as dúvidas iam surgindo. Mentalmente, eu ia revisando tudo o que havia conversado nos ensaios; sobre documentação, bagagens e, principalmente, boas maneiras em terras estrangeiras. Nota mental muito importante: estar sempre com o passaporte bem guardado, não deixá-lo simplesmente jogado na bolsa ou no meio dos instrumentos, é o documento que nos dará acesso aos países. Só isso já é muito! De repente, lembrei o estresse que rolou em uma viagem pela Áustria, um amigo de uma banda simplesmente esqueceu onde havia deixado o passaporte. Já estávamos nos preparando pra sair do lugar onde havíamos pernoitado. O plano era seguir cedo o caminho para a cidade do próximo show. O estresse foi grande. Colchões foram revirados, livros, roupas de dormir, equipamento, remexidos. Algumas horas depois, descobrimos que o passaporte estava em um dos vários bolsos da própria calça dele. Acontecer coisas assim pode fazer com que toda uma tour bem planejada vá por água abaixo ou, no mínimo, deixar alguns de mau-humor o resto do dia. E como é fácil ficar de mau humor em turnês com bandas. (Frizzo) No embarque, a preocupação maior era com as bagagens, com o excesso de coisas que levávamos. Quilos de merchandising, sacos 12
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de camisa com as datas da tour, vários CDs com capas que poderiam ser consideradas “ofensivas”, nossas roupas, objetos pessoais, equipamento, instrumentos, peças de bateria que geralmente são os itens mais pesados, um monte de mochilas. Com receio de pagar excesso de bagagem, a estratégia foi dividir tudo, assim diluiríamos o peso das bagagens de cada um. O que aconteceu? Simplesmente nada. Tudo foi lindamente despachado para Portugal. Nem em nossa conexão Lisboa/Cidade do Porto, um voo nacional, o limite de bagagem cai 10 quilos, tivemos problemas. Já em terras portuguesas era chegado o momento da conexão para a cidade do Porto. Ainda em Lisboa, passamos pelo detector de metais. Nesse momento, ao buscar seus pertences de metal, o Bruno se dá conta de que esqueceu o celular dentro do avião, mas, graças à solícita ajuda da funcionária do aeroporto, em poucos minutos o “telemóvel”, como diziam os portugueses, voltava às mãos de seu legítimo dono.
PORTUGAL O primeiro show foi incluído praticamente de última hora na programação, pouco antes de fecharmos todo o trajeto da tour. Teríamos que descer em Lisboa como entrada na União Europeia. Conseguimos, sem custo adicional, uma escala em Porto, cidade na qual tínhamos amigos do Brasil, como caminho para Frankfurt, na Alemanha, onde tínhamos um show marcado e também pegaríamos a van e o backline. Na conexão em Lisboa, as quase duas horas de espera passaram bem rápido. O que inicialmente seria só um ponto de passagem, acabou se tornando um show, exatamente o primeiro da tour “gringa”. No preço das passagens, tanto fazia se nossa troca de aeronave durasse algumas horas, o que normalmente acontece, ou um dia inteiro, que foi o que fizemos. Logisticamente, um show na cidade do Porto era 13
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complicado. Descer de tão longe geograficamente, com a van alugada na Alemanha, para shows em Portugal ou Espanha. Faríamos um ziguezague. Sem contar o tempo gasto na estrada. Tinha tudo pra não rolar, mas o show rolou. A cidade do Porto vista de cima é muito bonita, mesmo passando uma imagem de pequena cidade do interior europeu, entretanto funciona e tem hábitos de uma cidade grande, reforçando seu status de segunda maior cidade do país, ficando atrás somente de Lisboa. Chegamos à cidade um pouco antes da hora do almoço e, como o show seria só à noite, teríamos o resto do dia para conhecer a cidade, “turistar”, no melhor sentido da palavra. Nossa anfitriã, Larissa, amiga brasileira de longa data que morava em terras lusitanas, foi nos resgatar no aeroporto. Larissa é casada com Felipe, um português nativo e também headbanger, ambos nos hospedaram magnificamente em seu pequeno e simpático apartamento em Matosinhos. Foi Felipe que botou a maior pilha pra gente fazer esse show em Portugal, quando soube por meio da Larissa que viríamos pra Europa. O português também ajudou no contato com o Hugo, do Metal Point Café, lugar do nosso primeiro show. A fome era grande por causa da viagem cansativa. Nossos anfitriões nos levaram pra almoçar uma legítima bacalhoada portuguesa, “com certeza”, nada mais justo do que começarmos a tour com um prato típico local. Eu poderia tecer vários elogios ao quitute português, mas vou me conter, porque se cada comida diferente que a gente comesse nessa tour eu comentasse com requintes culinários, provavelmente teria que mudar o foco do livro pra comida, ao invés de música. Até já comentei que seria um trabalho dos sonhos escrever guias de turismo-gastronômico, como o Marco, personagem de Dario Grandinetti, em “Fale com Ela”, do Almodóvar. (Frizzo) No restaurante tinha televisão, nem demos bola. O pratão de bacalhau trouxe a alegria a todos, mas o peixe levou a nocaute nossos estômagos, literalmente, e, depois de tentar me manter acorda14
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do em vão e cochilar na mesa várias vezes entre a conversa que se tentava prestar atenção, resolvemos voltar ao pequeno apartamento para tirar a sesta dos justos e cansados. Facilmente nos espalhamos pelo temporário QG português. Estávamos nos sentindo em casa. Dividimos as tarefas da tarde: eu e o Saulo tiraríamos um cochilo, o Bruno checaria os e-mails e o Lucas iria ao correio enviar o material de sua banda, Clamus, e do S.O.H. para algumas revistas portuguesas, que obviamente custava mais barato mandar dali do que do Brasil, pagando tarifa nacional. Rá! Já estávamos oficialmente na Europa, embora as conversas paralelas e os nomes nos sinais e placas possam servir muito bem em qualquer cidade brasileira. Salvo o forte sotaque português “de Portugal” falado pelo povo, a comunicação é perfeita. Claro que algumas palavras possuem significados completamente diferentes, como a frase “esperar na fila do ônibus ou do metrô”, na língua lusa vira “esperar na bicha do autocarro ou do comboio”, o que soa muito estranho para nós. E assim fomos de autocarro e depois pegamos um comboio para o lugar do show. Após um ônibus e duas linhas de metrô, chegamos ao Metal Point. Como só iríamos pegar a van e o backline pro show de Frankfurt no dia seguinte, essa etapa lusitana da turnê fizemos de transporte público, só com os instrumentos de corda e o básico da bateria. E lá fomos nós tirar um som na Galeria Stop, Sala 8 localizada na Rua do Heroísmo. Nós é que éramos os heróis, recém-chegados do Brasil carregando nas costas instrumentos pela rua. Chegamos ao Metal Point. O espaço era uma sala comercial no meio do shopping. Surreal. Não era nem bar, embora tivesse um balcão onde serviam bebidas, mas o local parecia um salão de festas. O palco era um batente de dois degraus com equipamento montado. Tudo parecia de acordo. Era cedo, ainda 5 horas da tarde e o show só seria às 10. Com bastante tempo ainda pela frente, largamos o equipamento e fomos conhecer um pouco a cidade do Porto, o que o curto tempo permitiria. 16
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Desde que haviamos chegado, Felipe e Larissa faziam propaganda de uma suculenta iguaria conhecida pelo nome de Francesinha, um prato local bastante apreciado que, reza a lenda, foi criado pelas tropas napoleônicas na época da Guerra Peninsular. Por mais estranho que pudesse parecer brasileiros comerem uma “Francesinha” em solo português, a gente não pôde deixar de conferir o prato. Depois de alguma caminhada, estávamos no pequeno restaurante Buffet Fase. Pequeno é modo de dizer, minúsculo. Não aconselhado a quem seja claustrofóbico. No final, deu tudo certo e conseguimos uma mesa que coubessem todos no simpático estabelecimento. Recortes de jornal emoldurados decoravam a parede como troféus. O lugar é bem famoso por suas Francesinhas. Assim, a expectativa aumentava proporcionalmente à fome. A iguaria definitivamente nos surpreendeu, um sanduichão recheado de carnes, linguiça e muito queijo, coberto por um molho a base de vinho e whisky, rodeado por batatas fritas como se fosse uma ilha paradisíaca. Como diz um dos clássicos clichês do fastfood: “amamos muito tudo isso”. Estava divino! Pediríamos dois se não tivesse um show pra fazer, pois nunca se sabe o que vai acontecer depois do show. Show? No caminho entre a Francesinha e o Metal Point, fizemos uma turistada para matar o tempo, conhecemos a prefeitura de Porto, a estátua de Dom Pedro II e a Estação de São Bento, que liga de trem a cidade ao resto da Europa e tem na parede e no teto um painel monstruoso, feito em azulejos, pintado pelo pintor português Jorge Colaço.
01. OUT - Metal Point Café Concerto - Porto Headbangers pelo shopping. O show aconteceria em uma das salas do centro comercial. Depois das 19h, horário que as lojas fecham. O lugar fica bem escuro e com os fumantes e o gelo seco, a sala fica muito esfumaçada. Recebemos a visita do nosso amigo de longa data e brasileiro Fábio Andrey. 17
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No início dos anos 90, Fábio cantou e tocou guitarra na primeira banda que montei com o Bruno, a Insanity. Essa banda chegou até a lançar um CD com ele cantando e tocando, entretanto alguns anos despois acabou. (Frizzo) Fábio há seis anos mora na cidade do Porto. Seu humor ácido continua o mesmo de sempre, e foi logo nos contando os shows que já havia assistido em Portugal: Soulfly, Machine Head, Fear Factory, Slayer entre outros. Uma galera animada já se aglomeraria no pequeno espaço/sala do show. Completando com o pessoal das duas bandas de abertura, davam umas cinquenta pessoas. Preocupação? Nenhuma. A cerveja era um euro. O bar servia Kalimocho, bebida muito popular entre os Punks europeus, principalmente espanhóis e portugueses. Consiste simplesmente em vinho barato misturado com coca-cola ou alguma tubaína de cola referente e vinho (do Porto?) em uma caixona tetrapack de 5 litros grátis para as bandas. As três primeiras cervejas eram grátis pras bandas. Me senti um punk europeu e fui direto no Kalimocho. Tomei uns cinco copos, acho eu. Não lembro muito bem, né? Quem bebe sofre esses lapsos mentais às vezes. Minha preocupação ia além de ficar contabilizando bebida, regra que iria levar pro resto da tour. Outra preocupação era tentar acertar todas as notas em meio à cortina de fumaça que invadia o pequeno palco. Não que alguém tivesse realmente notado alguma nota fora do tom, às vezes errar faz parte do espetáculo. Ou então vira Jazz. As pessoas pulavam, agitavam e se batiam em frente ao palco. Estava tudo certo. O rock às vezes te permite essas coisas. (Frizzo) Eu ainda estava com meu relógio biológico embaralhado, e, antes de começar a apresentação do S.O.H., aproveitei para tirar uma soneca no camarim. Não tardou para que viessem me fotografar na posição que mais tarde passariam a chamar de ponto de interrogação, postura que deixaria qualquer ortopedista de cabelo em pé. (Lucas) 18
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O show foi foda. O primeiro fora do país, o primeiro na Europa e o primeiro da tour. Pessoas agitando as cabeleiras, fumaça em cima do palco, entre uma música e outra, vários goles de cerveja. O show ainda não tinha acabado e, no finalzinho, Fábio pegou a guitarra do Bruno, que vai pra bateria, Saulo saiu pra tomar uma cerveja. Relembramos os velhos tempos tocando “Night of the Living Dead”, um dos “clássicos” do Insanity. Show encerrado e estávamos muito felizes pelo show, pelo público e, principalmente, por ter realizado o sonho de qualquer banda, que era, além de conseguir ser muito famoso e agarrar as groupies e tomar todas, tocar em outro país ou mesmo continente. Apesar do pouco público, as bandas de abertura, PHD e The Endgate, aqueceram os presentes que ficaram ainda mais exaltados com a estreia do S.O.H. na Europa fechando a noite. Terminado o show, o produtor não tinha articulado uma carona de volta; nos viramos pegando um táxi por conta própria até o apartamento da Larissa para, no dia seguinte, seguir viagem rumo a Frankfurt. Antes de dormir, aproveitamos alguns momentos na internet, mandando notícias a familiares e amigos. A noite estava realmente fria. A mudança de temperatura do frio da rua e sereno que caía para o calor humano do Metal Point com fumaça dos cigarros impregnado na roupa não era nada saudável pra ninguém, com certeza. O primeiro a sentir foi o Bruno, quase rouco, no dia seguinte logo tratou de se cuidar, preocupado com o que sofreria sua garganta nos próximos shows. Levantar o acampamento cedo. O voo para Alemanha estava marcado para 11:55, e já eram 10:30 quando nos despedimos da Larissa e do Felipe.
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