Em debate na fsa membros da comissao estadual da verdade denunciam os crimes cometidos pela ditaduta

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EM DEBATE NA FSA MEMBROS DA COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE DENUNCIAM OS CRIMES COMETIDOS PELA DITADUTA MILITAR 27/03/14 NÚCLEO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS (NELAM)

Dando continuidade ao Ciclo de Debates sobre os 50 anos do golpe empresarial-militar, o NELAM recebeu no Auditório da FAFIL o presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, Deputado Adriano Diogo-PT/SP, e Ivan Seixas, importante ativista dos direitos humanos e membro da Comissão Estadual da Verdade. Ambos viveram intensamente os anos de luta contra a ditadura militar. Foram presos e torturados pelo regime. Seixas ingressou na luta armada aos 15 anos, foi preso aos 16 junto com seu pai Joaquim e sua mãe Fanny, e viu seu pai ser assassinado na sua frente. Seixas relatou como foi construído o golpe de 1964. Afirmou que é preciso compreender a conjuntura política nacional e internacional do pós-IIa Guerra Mundial e o contexto da Guerra Fria, onde os Estados Unidos vão se organizar para derrubar governos democráticos, populares e progressistas na América Latina, para defender os interesses das empresas multinacionais estadunidenses. Os governos dos EUA sempre foram patrocinadores do terrorismo de Estado e de golpes contra qualquer nação que procura construir um projeto de desenvolvimento econômico, social e político soberano, autônomo, independente. Falou das tentativas de golpe contra Getúlio Vargas em 1954 (interrompido com o suicídio do presidente), contra a posse de Juscelino Kubitschek (presidente) e João Goulart (vice) em 1956, contra a posse de João Goulart em 1961 (após a renúncia de Jânio Quadros) e, finalmente, do golpe contra as forças democráticas e populares em 31 de março de 1964. Seixas destaca que o golpe foi antipopular, antidemocrático e antinacional. Foi um golpe contra as forças de esquerda, em especial os comunistas, que sempre estiveram, no Brasil, na linha de frente das lutas democráticas.


Em sua exposição, Adriano Diogo leu um manifesto assinado por mais de 140 organizações políticas e sociais que estão convocando uma grande manifestação no dia 31 de março, 09h00, na Rua Tutóia, 921, em São Paulo. Segundo ele neste local foram torturados cerca de 8 mil brasileiros, homens e mulheres que faziam parte da resistência popular e operária contra a ditadura. Era uma das sedes do Departamento de Operações e Informações- Centro de Operações de Documentação e Informação (DOI-CODI) e da Operação Bandeirantes (OBAN), uma ação conjunta das polícias e do exército para capturar os revolucionários que lutavam por justiça e democracia. No manifesto, além de críticas à ditadura, defesa da abertura de todos os arquivos públicos (das forças armadas, das polícias civil e militar, etc.) que contenham informações sobre o período de 1964-1985, esclarecimento sobre as prisões ilegais, torturas, sequestros e desaparecimento dos corpos de militantes de esquerda, preocupações com o autoritarismo e a violência praticada hoje pelas polícias militares e com o ambiente de repressão e criminalização dos movimentos sociais, dos sem terra, dos sem teto, dos que lutam pelo passe livre ou contra a Copa do Mundo de 2014. Nessas manifestações muitos foram presos ilegalmente e estão sendo julgados acusados de crimes que constam no Código Penal. Outras medidas repressivas contra os movimentos sociais denunciadas no manifesto é a formação, pelo exército, de Batalhões de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), uma tropa de choque especializada em “distúrbios urbanos” e a Lei Anti-Terrorismo, que está sendo aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, em atendimento a uma exigência da FIFA para a realização da Copa.


Adriano Diogo e Ivan Seixas.

Ambos disseram que as Comissões Estaduais e a Comissão Nacional da Verdade tem como objetivo realizar uma ampla e profunda investigação sobre as circunstâncias das mortes, sequestros, torturas, prisões, desaparecimento de cadáveres e outras situações completamente irregulares e ilegais cometidas massivamente por agentes públicos civis e militares entre o período de 1946 a 1988, com destaque para os anos 1964-1985. A primeira fase é a investigação, colher o maior número possível de dados e informações com sobreviventes e testemunhas e através de pesquisa em livros, revistas, arquivos e documentos sobre a época. Toda essa informação será analisada pelos membros da Comissão, que pode convidar e/ou convocar pessoas para depor sobre determinadas situações que necessitam de maior esclarecimento. Diogo e Seixas fazem parte da Comissão criada pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), que tem o nome de Rubens Paiva, deputado que foi preso e desaparecido pelos órgãos da repressão, devido a sua luta contra o golpe.


O coordenador do NELAM, prof. Marcelo Buzetto (professor do curso de Relações Internacionais), mediador do debate, considerou muito importante a presença de estudantes e professores de vários cursos e faculdades, e destacou que a escolha dos dois debatedores não foi só por serem membros da Comissão Estadual da Verdade mas também pela sua história de luta pelas transformações sociais e sua coerência na defesa dos direitos da classe trabalhadora e das forças populares. Lembrou o teatrólogo e poeta alemão Bertold Brecht, que dizia que “há homens e mulheres que lutam toda a vida, e esses são imprescindíveis” para a construção de uma nova sociedade, mais justa e democrática.

Estudantes e visitantes fazem perguntas e contribuem para o debate.

Ao final do debate o prof. Marcelo anunciou a presença do fotógrafo Douglas Mansur,um dos maiores fotógrafos de lutas e movimentos populares do Brasil, com amplo conhecimento e participação em mobilizações históricas da classe trabalhadora e informou que o NELAM vai convidar a comunidade acadêmica da FSA para organizar uma Comissão da Verdade da FSA, visando contribuir para esse esforço de recuperar a memória da época da ditadura e fazer justiça aos homens e mulheres que perderam a liberdade e a vida organizando a resistência operária, popular e democrática. A ideia é construir um coletivo de estudantes, professores e funcionários interessados nesse trabalho de investigação e pesquisa histórica e, a partir daí, promover um encontro com membros da Comissão Estadual da Verdade para ver como podemos fortalecer esta iniciativa aqui na região do Grande ABC. Hoje, dia 27 de março, o tema será “Brasileiras, Guerrilheiras, Revolucionárias: o papel das mulheres na resistência à ditadura”, com Vivian Mendes, do Movimento de Mulheres Olga Benário. O debate de hoje será no Auditório da FAECO, 19H30. Contamos com a presença de tod@s.


COORDENAÇÃO DO NELAM COMISSÃO ORGANIZADORA DO CICLO DE DEBATES “50 ANOS DO GOLPE EMPRESARIAL-MILITAR” Abaixo mais fotos do evento:

Heloísa (2AR), Camila (2AR) e Juliana (formada em RI), estudantes do NELAM, com Ivan Seixas e Adriano Diogo.


Ivan, Fernando Cayres(C.A. VIII de abril-Faeco), Maycon Annibal (C.A. VIII de abril-Faeco), Adriano, Prof. Marcelo (NELAM) e Carlos (NELAM)





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