Por que existem divergências nos Evangelhos? (Extraído do livro Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Editora Vida.)
Os críticos são rápidos em citar os relatos aparentemente contraditórios dos evangelhos como uma evidência de que não são dignos de confiança em informação precisa. Mateus diz, por exemplo, que havia um anjo no túmulo de Jesus, enquanto João menciona a presença de dois anjos. Não seria isso uma contradição que derrubaria a credibilidade desses relatos? Não, mas exatamente o oposto é verdadeiro: detalhes divergentes, na verdade, fortalecem a questão de que esses são relatos feitos por testemunhas oculares. De que modo? Em primeiro lugar, vamos destacar que os relatos do anjo não são contraditórios. Mateus não diz que havia apenas um anjo na sepultura. Os críticos precisam acrescentar uma palavra ao relato de Mateus para tornálo contraditório ao de João.1 Mas por que Mateus mencionou apenas um anjo, se realmente havia dois ali? Pela mesma razão que dois repórteres de diferentes jornais cobrindo um mesmo fato optam por incluir detalhes diferentes em suas histórias. Duas testemunhas oculares independentes raramente vêem todos os mesmos detalhes e descrevem um fato exatamente com as mesmas palavras. Elas vão registrar o mesmo fato principal (i.e., Jesus ressuscitou dos mortos), mas podem diferir nos detalhes (i.e., quantos anjos havia no túmulo). De fato, quando um juiz ouve duas testemunhas que dão testemunho idêntico, palavra por palavra, o que corretamente presume? Conluio — as testemunhas se encontraram antecipadamente para que suas versões do fato concordassem. Desse modo, é perfeitamente racional que Mateus e João difiram — os dois estão registrando o depoimento de testemunhas oculares. Talvez Mateus tenha mencionado apenas o anjo que falou (Mt 28.5), enquanto João descreve quantos anjos Maria viu (Jo 20.12). Ou talvez um dos anjos tenha se destacado mais do que o outro. Não sabemos com certeza. Sabemos simplesmente que tais diferenças são comuns entre testemunhas oculares. À luz dos diversos detalhes divergentes do NT, está claro que os autores não se reuniram para harmonizar seus testemunhos. Isso significa que certamente não estavam tentando fazer uma mentira passar por verdade. Se estivessem inventando a história do NT, teriam se reunido para certificar-se de ser coerentes em todos os detalhes. Está claro que tal harmonização não aconteceu, e isso confirma a natureza genuína das testemunhas oculares do NT e da independência de cada autor.
Ironicamente, não é o NT que é contraditório, mas sim os críticos. Por um lado, os críticos afirmam que os evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) são por demais uniformes para serem fontes independentes. Por outro lado, afirmam que eles são muito divergentes para estarem contando a verdade. Desse modo, o que eles são? São muito uniformes ou muito divergentes? Na verdade, achamos que são a mistura perfeita de ambos, a saber: são tanto suficientemente uniformes e suficientemente divergentes (mas não tanto) exatamente porque são relatos de testemunhas oculares independentes dos mesmos fatos. Seria de esperar ver o mesmo fato importante e detalhes menores diferentes em manchetes de jornais independentes relatando o mesmo acontecimento. Se você não acredita em nós, então entre na Internet hoje e procure três histórias independentes sobre um mesmo fato nos jornais. Escolha uma história da agência Reuters, uma da AP e talvez outra da UPI, ou quem sabe de um repórter freelance. Todas as histórias terão alguns dos fatos mais importantes, mas poderão incluir diferentes detalhes menores. Na maioria dos casos, os relatos serão complementares, em vez de contraditórios. Da mesma forma, todos os evangelhos concordam sobre o mesmo fato principal: Jesus ressuscitou dos mortos. Eles simplesmente possuem diferentes detalhes complementares. Simon Greenleaf, professor de direito da Universidade de Harvard que escreveu um estudo-padrão sobre o que constitui evidência legal, creditou sua conversão ao Cristianismo ao seu cuidadoso exame das testemunhas do evangelho. Se alguém conhecia as características do depoimento genuíno de testemunhas oculares, essa pessoa era Greenleaf. Ele concluiu que os quatro evangelhos "seriam aceitos como provas em qualquer tribunal de justiça, sem a menor hesitação".2 O resumo é este: concordância nos pontos principais e divergência nos detalhes menores é da natureza do depoimento de testemunhas oculares, e essa é a própria natureza dos documentos do Novo Testamento.
Notas: 1V:
GEISLER & HOWE, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e "Contradições" da Bíblia, p. 25. 2The
Testimony of the Evangelists (O Testemunho dos Evangelistas); reimpressão, Grand Rapids, Mich.: Baker, 1984, p. 9-10.
Mais informações: Norman Geisler e Frank Turek, Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu, Editora Vida.
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