Superinteressante Magazine

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ART EDITION+GRAPHIC DESIGN BY BRUNO OLIVEIRA


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A agricultura que dispensa agrotóxicos e fertilizantes é a que mais cresce no mundo. Mas esses alimentos realmente fazem bem para você e para o meio ambiente?

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batalha para alimentar a humanidade acabou. Centenas de milhões vão morrer nas próximas décadas, apesar de todos os programas contra a fome”, escreveu o biólogo americano Paul Ehrlich em seu best seller A Bomba Populacional, de 1968. Não era à toa. O número de pessoas no mundo chegava a assustadores 3,5 bilhões, e, de fato, não existia terra suficiente para alimentar esse povo todo. Mas Ehrlich, você sabe, errou. Ele não acreditava que um daqueles programas contra a fome daria certo do jeito que deu. Era a Revolução Verde, um movimento que começou nos anos 40. O revolucionário ali foi bombar a agricultura com duas novidades. A primeira foram os fertilizantes de laboratório. Criados no começo do século 20, esses compostos químicos funcionam como um esteróide para as plantas, turbinando o crescimento delas com 3 nutrientes fundamentais: nitrogênio, potássio e fósforo. A segunda novidade eram os pesticidas e herbicidas químicos, capazes de destruir insetos, fungos e outros inimigos das lavouras com uma eficiência inédita. E o resultado não poderia ter sido melhor: com essa dupla no front, a produtividade das lavouras cresceu exponencialmente. Tanto que, hoje, dá para alimentar uma pessoa com o que cresce em 2 mil metros quadrados. Antes, eram necessários 20 mil. A química salvou a humanidade da fome. Mas cobrou seu preço. Os restos de fertilizantes, por exemplo, tendem a escapar para rios e lagos próximos às


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plantações e virar comida para a vegetação aquática. Resultado: as algas se multiplicam a rodo e, quando finalmente morrem, sua decomposição consome o oxigênio da água. Os peixes acabam sufocados. Além disso, os fertilizantes aumentam a produção de óxido nitroso, um gás emitido pelo solo e que representa 5% das emissões relacionadas ao efeito estufa. Com os pesticidas é pior ainda. Eles não são terríveis só contra os insetos que destroem lavouras, mas também contra borboletas, pássaros e outras formas de vida que não têm nada a ver com a história. A biodiversidade ao redor das fazendas fica minguada. Mais: quando os agricultores exageram na dose, sobram resíduos nos alimentos; toxinas que, segundo alguns estudos, podem causar câncer. Diante disso, muitos consumidores partiram para uma alternativa: os alimentos orgânicos, que dão um chega pra lá nos pesticidas e fertilizantes químicos em nome de integrar a lavoura com a natureza.

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O que é um orgânico, afinal?

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Mais do que um meio de produção diferente, esse tipo de agricultura é uma filosofia. Começou em 1940, quando o botânico inglês Albert Howard (1873-1947) sugeriu que as lavouras deveriam ser tratadas como florestas, como “organismos” capazes de se sustentar sem a química. Ali, então, os fertilizantes de laboratório cedem lugar a adubos como esterco e restos de vegetação. Os dois são fontes naturais daqueles nutrientes básicos, só que bem menos concentrados que os fertilizantes químicos – por isso, aliás, a agricultura orgânica não produz vegetais tão grandes quanto os da convencional. Bom, no lugar dos pesticidas sintéticos entram seres vivos – vespas para combater insetos comedores de cana, joaninhas contra pulgões de hortaliças, e por aí vai. Mais: a rotação de culturas também serve como “pesticida” ali. Se você reveza uma plantação de milho com uma de legumes, por exemplo, não deixa nem as pragas que gostam de milho nem as chegadas em


As fazendas orgânicas deixam até 5 vezes menos resíduos nocivos em rios e lagos. Os peixes agradecem. legumes dominar a lavoura. Mas não fica nisso. Para ter mais produtividade, a agricultura orgânica também usa pesticidas menos “verdes”, como enxofre e inseticidas à base de plantas. A diferença é que eles devem ter origem natural e não causar problemas à saúde ou ao meio ambiente. Mas há controvérsias. Hoje, quem indica as substâncias que podem entrar nessa lavoura é a Federação Internacional da Agricultura Orgânica (Ifoam), com sede em Bonn, na Alemanha. Mas as regras que ela define não são universais: cada lugar se regula como quiser. E aí vêm alguns conflitos. Nos EUA, por exemplo, o governo deixa os cultivadores de orgânicos usar um mineral chamado nitrato chileno. É um fertilizante 100% natural, só que na Europa foi considerado tão nocivo ao meio ambiente quanto os artificiais. E acabou banido. Já o Brasil só vai ter uma lei federal para reger seus orgânicos em 2007. Por enquanto, quem dita os parâmetros são entidades privadas. “Nos guiamos pelo padrão de exigências mais alto que houver em cada caso”, diz o agrônomo Gwendal Bellocq, gerente do Instituto Biodinâmico (IBD), a maior dessas organizações no país. A idéia, afinal, é manter portas abertas nesses dois mercados. Não é à toa: as vendas mundiais desses alimentos cresceram 20% ao ano nesta década. E a área dedicada à agricultura orgânica no mundo quadruplicou.

Eles ajudam o ambiente?

Eles viraram moda de vez. Seu apelo como algo mais saudável e menos agressivo ao meio ambiente casou direitinho com o clima de “consciência ecológica” dos últimos tempos. E eles entraram para a lista de consumo das pessoas que reciclam seu lixo, apóiam fontes alternativas de ener-

gia e tiram a bicicleta da garagem para não colaborar com o efeito estufa. Ok. Mas até que ponto isso faz sentido? Depende. Os fertilizantes artificiais são responsáveis por 60% das emissões de óxido nitroso. É um gás barra-pesada para o aquecimento global: 1 tonelada dele tem o mesmo potencial de esquentar a atmosfera que 310 toneladas de dióxido de carbono. E agora olha isto: as fazendas dos EUA produziram 690 mil toneladas do óxido em 2004. Isso dá uma emissão equivalente à de 55 milhões de carros – ou 40% mais que toda a frota brasileira. A fonte desse gás é o nitrogênio, principal componente dos fertilizantes químicos. Então os defensores da agricultura orgânica alegam que seus adubos são inofensivos para a atmosfera. Só que um estudo feito neste ano pela Universidade Stanford, dos EUA, mostrou que plantações orgânicas e convencionais produzem a mesma quantidade de óxido nitroso. Essa mesma pesquisa, no entanto, foi favorável aos orgânicos. Mostrou que a quantidade de nitrogênio que vai parar na água, aquela que asfixia os peixes, é até 5,6 vezes maior na agricultura convencional. A vida aquática agradece. Mais: a produção industrial de fertilizantes químicos gera CO2 , pois as máquinas que fazem isso são movidas a combustíveis fósseis, como carvão e petróleo. E os adubos da agricultura orgânica não. Outro ponto para ela? Mais ou menos. O Instituto de Pesquisa em Política Alimentária Internacional (IFPRI) calculou quanto dióxido de carbono os caminhões que transportam comida da fazenda para o mercado gastam no trajeto e chegou a um resultado curioso: eles liberam mais CO2 durante o trajeto do que a indústria emite para fazer os fertilizantes usados nos alimentos que estão na caçamba. Conclusão: do ponto de vista das emissões de carbono, é melhor comprar alimentos convencionais de produtores vizinhos do que orgânicos de longe. Para eles, só valeria a pena comprar estes últimos se eles forem produzidos a menos de 20 qui-

CARNE VERDE Nem só da horta vivem os orgânicos. Essa filosofia também se aplica à criação de animais. As regras são alimentar os bichos só com comida orgânica e nunca usar nada artificial, como hormônios de crescimento e antibióticos (que só entram quando a vida do animal está em risco). Mas a grande diferença aqui é que os produtores de carne, leite e ovos devem propiciar uma vida bacana para os bichos. Assim: enquanto as galinhas das granjas comuns passam a vida confinadas num espaço igual ao desta página, as orgânicas ficam ao ar livre durante o dia, ciscando atrás de insetos e minhocas. O resultado, segundo uma pesquisa feita pela Universidade Metropolitana de Londres, em 2004, é uma carne com 25% menos gorduras. Também há peixes orgânicos – quase todos salmões e trutas criados em fazendas de piscicultura. Os salmões convencionais, por exemplo, vivem sob uma densidade equivalente a uns 25 quilos de peixe por metro cúbico. Já os orgânicos têm o dobro do espaço. Seja como for, do mesmo jeito que acontece na agricultura, nem todos esses produtos são iguais. O leite orgânico que um americano bebe, por exemplo, é diferente do de um europeu. É que o produto só ganha esse status no Velho Continente se as vacas de onde ele sai estiverem comendo só vegetais orgânicos há pelo menos um ano. E as ruminantes da América do Norte só precisam de 6 meses de dieta orgânica para o leite delas sair nos conformes.


SUPERORGÂNICOS Se boa parte dos consumidores tem um pé atrás com os transgênicos, os adeptos da agricultura orgânica têm os dois. Nada mais antinatural que colocar os genes de uma espécie em outra, não é? É, mas a própria agricultura, orgânica ou comum, não tem nada de “natural”. Todas as espécies que cultivamos hoje são fruto de uma engenharia genética à moda antiga. Quer dizer: os agricultores foram selecionando os melhores espécimes de cada planta, geração após geração, para conseguir vegetais cada vez maiores e mais robustos. Só que muita coisa acabou perdida nesse processo. Pense no arroz. Existem mais de 80 mil tipos de semente dele. Boa parte é selvagem, nunca foi cultivada. Só que, entre essas variedades esquecidas, existem muitas com “genes bons” – que deixam alguns tipos de arroz matuto mais resistentes ao clima e a certas pestes que o nosso. Mas cruzar essas variedades da planta no braço para turbinar o arroz comum é um processo de tentativa e erro, coisa lerda, que pode levar décadas. Mas a ciência deu um jeito de acelerar o negócio: pegar arroz selvagem, detectar os “genes bons” que têm ali e transferilos, no laboratório mesmo, para o nosso bom e velho arroz doméstico. Um dos objetivos aí é criar “superorgânicos”: vegetais tão robustos que, em tese, dispensem fertilizantes e pesticidas químicos. Tudo isso está em fase de testes, mas uma coisa é fato: a Revolução Verde dos orgânicos está para chegar.

lômetros da sua mesa. Se no Brasil isso já é difícil, no mundo desenvolvido é quase impossível: Europa e EUA consomem 97% dos orgânicos plantados no mundo. E metade da produção sai da América Latina, da Ásia e da Oceania.

São melhores para a saúde?

Quando se fala em pesticidas, os benefícios da agricultura orgânica para o ambiente são mais claros. Por exemplo: algumas fazendas do estado de São Paulo começaram a produzir cana seguindo os princípios orgânicos. E pesquisas constataram que a biodiversidade ao redor delas é 3 a 4 vezes maior que a das áreas que plantam cana pelo método convencional. Tudo graças a cuidados sutis. “A agricultura orgânica desenvolve pesticidas bem seletivos. Posso pegar um fungo que ataca um tipo de inseto, mas que não faz mal para outros animais. Já os pesticidas normais não. Eles eliminam tudo o que tiver por perto”, diz o agrônomo Luiz Cláudio Meirelles, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Outra motivação de quem opta pelos orgânicos é não comer veneno como tempero. Mas para alguns especialistas isso é paranóia. Primeiro, porque o pesticida mais tóxico da história, o DDT, foi proibido na maior parte do mundo – no Brasil, em 1985. Segundo, porque qualquer agrotóxico passa por testes antes de ser aprovado. “E a última etapa é justamente verificar a quantidade de resíduos que ele deixa”, diz Jorge do Vale Oliveira, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), em Campinas. “Se ela ficar além do que é considerado seguro para a saúde, o produto não é liberado”, completa. Mas a tal “quantidade segura” pode significar muito. Tanto que alguns toxicologistas defendem uma tese radical. Para eles, mesmo se os resíduos estiverem em concentrações baixíssimas, dentro do que os padrões internacionais entendem como seguro, os pesticidas podem, sim, causar câncer. Pelo menos em crianças, já que elas são alvo fácil para substâncias tó-

É o mercado mais cool do mundo: bono vox lançou uma grife de roupas feitas só com algodão orgânico. xicas. Isso fez com que a Alemanha lançasse uma lei exigindo que toda comida infantil seja 100% orgânica. Outro problema é quando não usam o veneno do jeito que deveriam. A Anvisa, por exemplo, analisou 4 mil amostras de alimentos vendidos in natura nos supermercados entre 2001 e 2004. Metade tinha resíduos. Dessas, um terço apresentava ou mais restos de pesticida do que a lei permite ou agrotóxicos proibidos (veja o resultado completo em www.superinteressante.com.br). “Os maiores riscos estão nas plantas folhosas, como o alface, e naquelas que a gente come com casca e tudo, como o morango. Se você tem acesso a uma produção orgânica desses vegetais, vai ter uma exposição menor a pesticidas. É um fato”, diz Meirelles. Seja como for, também não falta gente que consome orgânicos simplesmente porque os considera mais nutritivos. Não há consenso na comunidade científica sobre o assunto, já que a maioria acha que faltam estudos mais complexos. Mas algumas pesquisas concluíram que os orgânicos, em geral, têm mais vitamina C e minerais, além de trazer até 50% mais fenólicos – substâncias com potencial de reduzir a incidência de doenças cardíacas e de certos tipos de câncer. Motivo: os fazendeiros orgânicos pegam uma determinada cultura e escolhem as variedades mais fortes, resistentes a doenças, enquanto os produtores comuns, armados de pesticidas e fertilizantes poderosos, miram naquelas que crescem mais.

Eles vão dominar geral?

Por essas, eles estão ganhando cada vez mais mercado. Mas ainda são coisa para poucos – como a produtividade orgânica é de 50% a 20% menor, eles custam cerca de um terço a mais. Sem falar que a maior parte dos países tem menos de 0,5% de sua área agricultável dedicada aos


para saber mais www.ifoam.org Página do Ifoam, que regula a agricultura orgânica. www.ibd.com.br Site do Instituto Biodinâmico.

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orgânicos. Só que a imagem toda bacana deles impulsiona uma baita indústria. Existem até megarredes de supermercados dedicadas a eles, como a Whole Foods, com 183 lojas nos EUA e na Inglaterra, que vende de vinho e pizzas congeladas até cosméticos com o valioso selo de “orgânico”. Selo que também está nas etiquetas de uma grife criada por Bono Vox, do U2. É a Edun (nude, ou “nudez”, ao contrário), que vende camisetas chiques feitas de algodão orgânico. Tantas possibilidades de lucro, você sabe, aumentam o risco de trapaças. As regulamentações internacionais pedem que a lavoura orgânica seja fiscalizada só uma vez por ano pelos institutos que certificam essas fazendas – como o alemão Ifoam e o brasileiro IBD. Desse jeito, alguns agricultores podem usar substâncias químicas escondidos e driblar a produtividade capenga dos orgânicos para encher os bolsos. O inglês Francis Blake, ex-inspetor da britânica Soil Association (“Associação do Solo”), a maior certificadora de orgânicos do Reino Unido, admitiu recentemente: “O processo de inspeção não é completamente à prova de falhas. Funciona na base da confiança”. Essa baixa produtividade, por sinal, é o grande problema da agricultura orgânica. Segundo o húngaro Vaclav Smil, um dos maiores especialistas no assunto, o mundo é pequeno demais para que ela substitua de vez a convencional. O agrônomo calcula que os adubos orgânicos não dariam conta de fertilizar nem metade do que plantamos hoje – principalmente por causa da criação de bichos, já que vão até 50 quilos de vegetais para obter 1 quilo de carne. Quer dizer: a gente até poderia viver num mundo orgânico, mas só se largasse os cheeseburgueres, filés à parmegiana... Bom, vamos parar esta reportagem por aqui. Deu fome.

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Pôster

euRopA oCIdenTAL Lucia e alejandro são os campeões de audiência na espanha. Na França, ganham Lucas e Léa, na alemanha, Hannah e Leon e na itália, Maria e giuseppe.

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FoNte instituto Nacional de estatística (espanha), institut National de la Statistique et des Études Économiques (França), site Beliebte Vornamen (alemanha) e site About.com (itália).

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Comparamos os dados de vários distritos do país: William, Samuel, alexis, Lea, Jade e rosalie ficaram entre os top 10. FoNte régie de rentes Québec, Service alberta, bC vital Statistics agency, Nova Scotia vital Statistics, Manitoba vital Statistics e government of Saskatchewan.

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Joshua é o nome mais registrado nos nascimentos de meninos desde 1999 (antes disso, Michael reinava absoluto). entre as meninas, emily lidera a lista desde 1997.

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FoNte Servicio de registro Civil e identificación (Chile), registro Civil de buenos aires e site Babycenter.

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Jack ganha na inglaterra e no País de gales, mas perde para Lewis na escócia e Sean na irlanda. entre as garotas, os nomes mais comuns entre os bebês são grace (inglaterra e gales), Sophie (escócia) e Sarah (irlanda).

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Nossa lista considerou registros do Chile e da argentina e uma pesquisa feita em 20 países de língua hispânica. Santiago e Sofia estão entre os mais usados.

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FoNte uK Statistics authority.

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FoNte administração de Seguridade Social.

edição rodrigo ratier (rratier@abril.com.br) texto NaiLa oKita design e ilustração bruNo oLiveira

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poRTugAL Cadê o Manuel e o Joaquim? Não estão nem entre os 10 mais – o 1º lugar é Miguel e o 2º é João. Catarina ganha entre as meninas, mas Maria vem logo em seguida.

FoNte Site Baby Name Facts.

Nos registros de 2007, o tradicional José perde até para Kauã (19º) e Yasmin (25º). os nomes mais populares entre os meninos da nova geração são João e gabriel. Maria e ana são os mais freqüentes entre as meninas. FoNte Certifixe.

nomes do mundo


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le[^c S c c _ m H[ [pcN f_e f[ f oe[m a[fc ^ [m ei N [ cf cd[ ^[mb[ G [ e[Gcf_ [ \ [ a[ Petr, bence, Jan e Luka são os nomes de meninos mais populares no Leste europeu. Jana, anna e Nika são femininos. FoNte Czech Statistical office, index.hu, Ministry of interior and administration of the republic of Poland e Statistical office of the republic of Slovenia.

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os dados vêm da Nigéria , de israel e da turquia. apesar da lenda, nada comprova que Maomé seja o nome mais comum do mundo. FoNte embaixada da Nigéria no brasil (Nigéria) e site Baby Name Facts (israel e turquia).

áFRICA subsAARIAnA grande parte dos países desta região não tem registros ranqueados. os nomes que compõem esta área do mapa vêm da Nigéria.

FoNte embaixada da Nigéria no brasil.

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o campeão Xing pode ser usado tanto para meninos quanto para meninas. o 2º, 3º e 4º lugares – Jia-Li, da-Xia e Chan – são exclusivamente femininos.

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FoNte Site All Baby Names.

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arti e Kade são os nomes de meninas mais populares da indonésia, o país mais populoso da região. FoNte Site Baby Name Network.

ÍndIA anjali e Naima são muito usados em meninas. Nikhil e talan são os nomes mais populares entre os meninos. FoNte Site Baby Names Country.

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os dados se referem a Lituânia (onde os mais populares são Lukas e Kamile), armênia (com Narek e Milena) e rússia (com dasha e aleksei). FoNte Statistikos departamentas, Panorama - armenian information Portal e site Popular Baby Name.

JApÃo aoi é nome de menina. Hiroto e Haruto são os mais usados em meninos nos últimos anos. FoNte Seguradora Meiji Yasuda.

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Na austrália, o país mais populoso do continente, a maioria dos meninos se chama Jack. entre as mulheres, o nome campeão é Chloe. FoNte NSW registry of births, deaths & Marriages e Northern territory government.

Portugal sem Manoel? EUA sem John? O mundo já não é mais o mesmo. Vasculhamos dezenas de pesquisas e censos nacionais para compor o mosaico dos nomes mais populares da nova geração.


CIÊNCIA

E

ugenia: o termo é definido pelo dicionário como “ciência do aperfeiçoamento da raça”. Lembra os nazistas e a busca de Hitler pela “raça pura” – na visão dele, a ariana. A idéia da eugenia continua sendo praticada no mundo, mas não em humanos. Apesar de muitos deles não gostarem do termo, os criadores de cachorros entendem do riscado. Eles aperfeiçoam as raças, mantêm as características que gostam e separam, descartam ou castram os indivíduos que não se enquadram no padrão. Agora os criadores de cães têm uma nova ferramenta: testes de DNA. Não mais apenas para conferir o pedigree (espécie de certificado de procedência) mas para detectar se um cão tem as características desejáveis, até mesmo antes de nascer. O whippet, raça magricela da categoria dos galgos, usado em corridas caninas, é a primeira cobaia das novas experiências. Após descobrirem recentemente qual é o gene que faz o bicho mais rápido que outros da mesma raça, os criadores querem criar cães cada vez mais velozes. Cogita-se até fazer uma liga própria para os novos cachorros, talvez os primeiros da era dos supercães. E, se a ciência pode ser aplicada na velha

1 Yann Arthus-Bertrand/CORBIS/LatinStock


O whippet, campeão das corridas de cachorro, é alvo de experiências genéticas.

Manipulação genética causa revolução nos canis: agora as raças podem ser moldadas com base no DNA. Será que isso um dia pode chegar aos humanos?

TEXTO PEDRO BURGOS

DESIGN E ILUSTRAÇÃO BRUNO OLIVEIRA EDIÇÃO MARCOS NOGUEIRA (marnogueira@abril.com.br)


arte da criação canina – bem como em outros animais –, por que não na moldagem de indivíduos humanos? Aí é que mora o perigo.

O lobo domado

Você consegue imaginar um poodle convivendo numa savana junto de leopardos ou um pit bull brigando por alimentos com javalis? Se não dá para visualizar isso na cabeça, há um motivo: os cachorros não existiam na natureza até o homem pegar para criar alguns lobos mais simpáticos. Pode-se dizer que o Canis lupus familiaris – aí inclusas todas as raças – é uma espécie desenhada pelo homem, bem antes do surgimento dos laboratórios ou mesmo de qualquer noção científica. Diverge-se sobre a data exata (alguns dizem que foi há 15 000 anos, outros há 100 000), mas sabe-se que em algum momento os lobos começaram a se aproximar dos nossos antepassados pré-históricos, provavelmente na Ásia. A teoria mais aceita diz que os bichos gostavam de comer a carniça de animais caçados pelos homens. A maioria dos animais se espantava quando alguém chegava perto, mas alguns poucos não se incomodavam e começaram a rondar as aglomerações humanas. Foram ficando. Os dóceis eram domesticados, os bravos voltavam à selva. De tanto cruzar lobos bonzinhos entre si, eles já nasciam acostumados com o homem, até porque eram alimentados e bem tratados. Os cães (que ainda não tinham esse nome) desenvolveram uma nova característica, não presente nos lobos: a capacidade de interpretar o comportamento humano. Tendo um animal dócil nas mãos, o homem colocou-o para trabalhar, privilegiando o cruzamento entre cães mais úteis, um darwinismo forçado. “As raças antigas foram criadas porque o homem precisava de alguma função específica. Para isso ele foi cruzando animais com as características desejadas”, explica Dan Wroblewski,

1

CÃOKENSTEIN Como a mão dos criadores molda as raças de cachorro.

Dogo argentino Um verdadeiro supercão de guarda. Na “receita” da raça estão o dogue alemão (para a altura), o pointer (para o bom faro), o irish wolfhound (para a rapidez) e o bóxer (para a força).

Pharaoh hound Uma obra de arte. Pensava-se que era uma raça antiga, pois uma cabeça igual aparece em pinturas egípcias. Na verdade, criadores europeus desenvolveram a variedade só pela diversão estética.

Bloodhound Raça criada há 1 000 anos, mistura de cães com narinas muito abertas. É a raça que tem o melhor olfato e até hoje é usada na polícia para rastrear criminosos – consegue identificar o cheiro humano mais de 4 dias depois.

veterinário e criador de São Paulo. Dan cria o border collie, cão que é o resultado do aprimoramento genético desenvolvido ao longo de centenas de anos entre os criadores de gado da Escócia e da Inglaterra. Os fazendeiros foram cruzando raças diferentes até conseguirem apurar a visão, a agilidade e a pronta obediência a comandos de humanos. “Alguns rebanhos na Inglaterra ficam em áreas extensas, de difícil acesso, e só são viáveis por causa do cachorro. Ele tem diversas vantagens: diminui o número de empregados das fazendas, não tem férias e não fica doente”, diz o veterinário. Outras raças foram desenvolvidas para a caça, para atacar outras pessoas, fazer companhia ou pela simples curiosidade estética e resultaram em animais bastante distintos – alguns de aparência bizarra. Em todo o processo, a mão do homem esteve presente. Ou você acha que do lobo chegaríamos ao pequeno chihuahua sem interferência? Com a diversidade de cruzamentos e o isolamento geográfico – alguns bichos ficaram por muito tempo restritos a determinadas regiões do mundo – já existem centenas de raças, divididas em 10 grupos segundo uma classificação internacional, dependendo da utilidade original do cão. Nos últimos dois séculos, houve uma profusão de novas raças, mas mais recentemente a ênfase maior é no aprimoramento das já existentes.

O poder do DNA

Atualmente, o “aprimoramento” significa criar cachorros apenas com as características definidas, dentro dos padrões estabelecidos pelas associações de criadores. Se sair em uma ninhada um cachorro fora da cor normal, ou com um comportamento atípico, ele não irá cruzar com outros para não passar adiante um padrão “defeituoso”. “É preciso que esse aprimoramento seja feito dentro de

BLOODHOUND 3

DOGO ARGENTINO

PHARAOH HOUND 2

1 Yann Arthus-Bertrand/CORBIS/LatinStock 2 Mary Altaffer/AP 3 Robert Dowling/CORBIS /LatinStock


um sistema ético”, afirma Márcia Bertero, criadora paulista que E com os humanos? introduziu o pastor australiano no Brasil. “Ouço histórias terríCachorros não são, obviamente, o que faz correr os rios de dinheiro investidos em pesquisa genética. Nos últimos anos, veis de criadores que querem um padrão de beleza e sacrificam têm sido descobertos quais são os genes que provocam a precães que nascem fora disso. É um horror.” disposição humana a várias doenças, principalmente a alguns Para manter as raças “puras”, alguns países e o estado americano da Califórnia têm leis que determinam a castração de tipos de câncer e males hereditários. Será que é possível – e animais vendidos a não-criadores. Ocorre desejável – que usemos nas pessoas o mesmo que, em nome dessa pureza, muitos criadoprincípio do melhoramento canino de agora? res apelam para o cruzamento consangüíEm tese, um casal em posse desse conheciSpringer neo – o incesto parece não ser tabu para os mento pode escolher o sexo ou a cor dos spaniel cães (ou pelo menos para seus criadores) – e olhos de um filho antes da concepção. várias doenças hereditárias vão sendo perA comunidade científica afasta a adoção É um bom exemplo de como petuadas. Algumas raças são fadadas à catada lógica do canil em famílias humanas. “Em a criação “incestuosa” pode rata, à displasia ou a algum tipo de câncer. breve o médico vai ter condição de alertar perpetuar doenças dentro um casal que tiver o gene de uma doença e Mas, com a decodificação do DNA dos cade uma raça. Esse spaniel chorros, anunciada em 2005, e a contínua orientá-lo a não ter filho”, diz Denise de Ancostuma desenvolver identificação de características hereditárias, drade Oliveira, pesquisadora de melhoraepilepsia, hérnia de disco, tornou-se possível evitar que as doenças semento animal da UFMG. “Mas ainda assim a displasia da retina e surdez. jam passadas para os filhotes. Para tanto, são pessoa pode tomar a decisão de ter o filho ou feitos testes que verificam que cachorros são não. Em animais você pode não acasalar, ou Jack Russel potenciais reprodutores. Como já acontece até matar”. Segundo a cientista, a ética na terrier com bois e cavalos, também foi possível idenárea humana é distinta. “Tem o peso da sotificar outras características genéticas além ciedade, da igreja etc.”, afirma. Foi desenvolvido no século das doenças – para a alegria dos criadores, Em reportagem sobre o aprimoramento 18, com patas curtas, em sua eterna busca de um animal melhor. genético dos whippets, o jornal americano para caçar raposas O whippet com o par de genes “certo” conThe New York Times ouviu cientistas inte(ele entrava na toca delas). segue correr a mais de 50 km/h, mas com a ressados em testar os atletas para tentar Recentemente virou presença de outro gene, igualmente comum, descobrir se há algo no DNA que explique moda nos haras do Brasil, o cachorro nasce musculoso demais, um pessoas supervelozes, como os cachorros. pois o cão persegue os ratos pouco gordo – e lento. Com o teste de DNA O que será feito desse conhecimento é uma que atormentam os cavalos. para provar essa e outras características esincógnita. “Estamos próximos a uma mudança radical na maneira que aplicamos a téticas, como a cor do pêlo, parece que finalmente o homem vai evitar o acaso da genética na nossa sociedade”, disse Mark Dobermann natureza e conseguir o que sempre buscou: Neff, geneticista da Universidade da CaliUm coletor de impostos as raças perfeitas e iguais. “As tecnologias fórnia. “É melhor que sejamos confrontados alemão ficou 30 anos relacionadas ao cão vêm avançando muito, primeiro com os problemas quando eles encruzando raças de cachorros a genética é manipulada em todos os níveis”, volvem nossos bichos de estimação do que bravos até conseguir o quando eles dizem respeito à gente.” afirma Cláudio de Almeida, árbitro de comdobermann para intimidar petições do Kennel Club de São Paulo. “Há os devedores. Foi usado rações que fazem as cadelas ter mais filhotes para saber mais fêmeas, por exemplo. Se houver a possibilipelos nazistas e virou www.acb.org.br dade de o criador ter essa tecnologia do DNA, Associação Cinológica do Brasil. sinônimo de cão assassino. sem dúvida há o interesse.”

DOBERMANN JACK RUSSEL TERRIER

SPRINGER SPANIEL 4 5

45 Luigi Mamprin 6 Dave King/GettyImages

6




[COMPORTAMENTO]

Para alguns, trabalhar é passar 8 horas – ou mais – sofrendo torturas.


DÁ PARA SER

FELIZ NO TRABALHO?

O trabalho já era. Não acabou, mas virou outra coisa. Trinta ou 40 anos atrás, ele era só um ganha-pão. Hoje, virou um meio para obter sucesso e autorealização. O problema é que quase nunca isso acontece... Alarmados com o estresse e a frustração de profissionais de todas as áreas, filósofos e cientistas tentam resolver a inquietação: o que esperar do trabalho neste século? TEXTO CARLA ARANHA

DESIGN BRUNO OLIVEIRA

ILUSTRAÇÃO PAULO ARTHUR (MAQUETE) E SANDRO CASTELLI

FOTOGRAFIA MARCELO ZOCCHIO










[ESPECIAL]

De Serra Leoa ao Nepal, da Colômbia à Palestina, pelo menos 21 nações usam crianças em suas guerras.


>>SEM CRIANÇAS, NÃO SE FAZEM GUERRAS. SÃO ELAS QUE LIMPAM CAMPOS MINADOS, ENTREGAM MENSAGENS SOB FOGO, PRESTAM FAVORES SEXUAIS. SE VOCÊ ESTAVA PREOCUPADO COM A VIOLÊNCIA DOS VIDEOGAMES, BEM, A REALIDADE É MUITO PIOR.

E

m janeiro, o Tribunal Criminal Internacional (ICC, na sigla em inglês) anunciou que dará início ainda neste ano a seu primeiro julgamento. Na cadeira dos réus estará Thomas Lubanga Dyilo, 46 anos, líder da União de Patriotas Congoleses, que tomou parte na guerra civil de seu país. Seu maior crime: recrutar meninos como soldados. Na estimativa da ong britânica Human Rights Watch, algo entre 200 000 e 300 000 crianças participam atualmente de guerras em 21 países em todo o mundo. Estão concentradas na África, onde lutam mais de 100 000 crianças, mas escapam a qualquer estereótipo. Podem ser encontradas tão longe quanto no Nepal, nas guerrilhas maoístas, e tão perto quanto na Colômbia, onde estão em guerrilhas de esquerda e grupos paramilitares de direita. Um menino palestino armado com bombas – em março de 2004 a Força de Defesa de Israel prendeu um suicida de 12 anos a caminho de uma missão – é considerado combatente infantil. O Exército russo pôs rapazes de 14 anos para lutar na Chechênia.

TEXTO PEDRO DÓRIA DESIGN BRUNO OLIVEIRA EDIÇÃO SÉRGIO GWERCMAN (sgwercman@abril.com.br)

MENINOS SOLDADOS 1 Joel Rabine/AP


>>CRIANÇAS DÃO ÓTIMOS SOLDADOS.

OBEDECEM AOS ADULTOS SEM QUESTIONÁ-LOS.

E SÃO INCONSEQUËNTES: NÃO TÊM MULHERES OU FILHOS PARA QUEM VOLTAR.

O soldado mirim

Embora ongs batam na tecla dos meninos-soldados faz anos, o movimento internacional para terminar com a prática só começou recentemente. Em junho, o Tribunal Especial para Serra Leoa, ligado à ONU, considerou culpados 3 líderes militares. Foi a primeira vez que uma corte internacional condenou alguém pelo crime de recrutamento infantil. As penas, ainda não anunciadas, devem ser de prisão perpétua. Os julgamentos de Lubanga – que está para começar – e de Charles Taylor, ex-ditador da Libéria, são outros indícios de que há uma mudança de postura. Ainda este ano, o Congresso dos EUA deverá votar uma lei que proíbe o país de vender armas para nações que tenham crianças no campo de batalha. Parte da mudança de postura tem nome: Ishmael Beah. Seu livro Muito Longe de Casa, lançado neste ano, é o primeiro testemunho para o público geral de como é ser um menino-soldado. Capturado pelo Exército de Serra Leoa aos 13 anos, Beah lutou até os 16. Por causa de sua capacidade de expressão, foi escolhido porta-voz das crianças levadas para a guerra. Falou à Assembléia Geral da ONU, a chefes de Estado, a grupos de diplomatas com condições de interferir. Deu visibilidade ao problema. O testemunho pessoal impacta. Na primeira vez que saiu em batalha, apavorado com um AK-47 nas mãos, Beah viu o amigo Josiah, de 11 anos, levar um tiro no rosto. Daí Beah matou sua primeira vítima, um soldado ligado às tropas antigoverno que recebeu um tiro certeiro. Os meninos de Serra Leoa, durante a guerra civil que dividiu o país entre governo e rebeldes estimulados pela ditadura de Charles Taylor, na vizinha Libéria, viviam de fugir, famintos e apavorados, do Exército ou de seus oponentes. Para Beah, como para tantos outros, o recrutamento forçado ao menos representou o fim dessa fuga – e a possibilidade de comida todos os dias.

Não é difícil transformar crianças em máquinas de guerra. Guerras são confusas. Aldeias são invadidas repentinamente, há pânico, as pessoas fogem. Crianças se perdem de seus pais quase sempre. Ou então os vêem ser assassinados. Quando o número de civis mortos é muito alto, isso é um indício de que há mais órfãos prontos para o recrutamento. As guerras contemporâneas são particularmente especializadas nesse quesito. Na 1ª Grande Guerra, civis representavam perto de 5% das vítimas. Na 2ª, foram 48%, inclua-se na conta vítimas do Holocausto. Atualmente, civis representam cerca de 90% das vítimas, segundo a revista The Economist. Na prática, há cada vez mais crianças disponíveis para recrutamento. Crianças órfãs ou que se perderam dos pais são como bichos acuados. Integradas a um grupo armado, sentem-se protegidas. Além de comida, há um ambiente de

camaradagem e fidelidade. Uma nova família – daí a crueldade do processo. Crianças envolvem-se emocionalmente. No caso de Beah, os meninos eram contemplados com uma dieta de pólvora misturada com cocaína para animá-los ao combate e cigarros de maconha para esfriar depois. O tempo de entretenimento era gasto assistindo a projeções de Rambo e filmes do gênero. As crianças gostavam de imitar o herói. Há outro motivo para haver tantas crianças envolvidas em combates armados. Conflitos internos, com o tempo, tendem a exterminar jovens. É preciso substituí-los. Graças ao parco controle de natalidade, crianças são muitas em países pobres. Homens mais velhos, poucos. Crianças tendem a obedecer a adultos sem questioná-los com facilidade. E crianças não se preocupam. Não têm mulheres ou filhos para quem voltar. Portanto, são in-

Ishmael Beah, o portavoz do movimento: hoje, ele mora em Nova York. Aos 13 anos, matava rebeldes em Serra Leoa.

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ONDE ESTĂƒO Confira em que paĂ­ses os meninos-soldados lutam.

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Forças governamentais que utilizam soldados menores de 18 anos.

conseqĂźentes em batalha. Em guerras civis sanguinĂĄrias, nas quais exĂŠrcitos regulares nĂŁo lutam, sĂŁo exatamente soldados inconseqĂźentes o que se busca.

Muito alĂŠm da Ă frica

A imagem tipicamente africana do menino com um AK-47 nas mĂŁos nĂŁo representa todas as crianças combatentes. Nem sempre elas estĂŁo em batalha. É comum que sirvam para testar campos minados – ou para plantar minas. TambĂŠm fazem o trabalho domĂŠstico: cozinham, lavam, passam. SĂŁo mensageiros – daĂ­, tĂŞm a missĂŁo de atravessar distâncias pequenas sob fogo cerrado. E prestam serviços sexuais, tanto meninos quanto meninas. Em lugares como o AfeganistĂŁo ou certas regiĂľes da Ă frica ĂŠ comum encontrar comandantes militares que iniciaram a carreira na infância. É tudo o que sabem fazer. Desde 1987, de acordo com nĂşmeros da ONU, 2 milhĂľes de crianças morreram em guerras. O nĂşmero nĂŁo inclui, por exemplo, o perĂ­odo final da guerra entre IrĂŁ e Iraque, quando praticamente todos os soldados envolvidos eram adolescen1 Christophe Ena/AP

Grupos armados que utilizam soldados menores de 18 anos.

tes. Mas, se hoje esses sĂŁo nĂşmeros que causam repulsa, o emprego de menores ĂŠ caso corriqueiro na histĂłria. A Berlim na qual o ExĂŠrcito Vermelho entrou em 1945 era defendida por rapazes da juventude hitlerista. No levante do Gueto de VarsĂłvia, em 1943, meninos estavam envolvidos – como estiveram em quase todos os movimentos de resistĂŞncia aos nazistas. Mas isso nĂŁo vem daĂ­. Os escoteiros nasceram quando o coronel britânico Robert Baden-Powell recrutou meninos para servirem de sentinelas durante a 2ÂŞ Guerra dos BĂ´eres, na Ă frica do Sul, no fim do sĂŠculo 19. Crianças lutaram na Guerra Civil dos EUA. Nas Cruzadas – uma delas, a de 1212, foi chamada de Cruzada das Crianças. Em Esparta, o recrutamento se dava na infância. Davi – aquele, o que venceu Golias –, quando aparece pela primeira vez na BĂ­blia, ĂŠ um menino-soldado. A convicção de que o recrutamento infantil deve ser interrompido ĂŠ bastante recente. A readaptação de Ishmael Beah Ă sociedade durou 7 meses. Ele nĂŁo sabia mais dormir numa cama e era dependente quĂ­mico. A sua turma foi uma das primeiras

* NĂşmeros nĂŁo disponĂ­veis

de meninos-soldados com a qual o Unicef lidou. Os garotos, viciados em violência, espancavam os funcionårios do centro. Mas Beah ao menos tem uma história com final feliz. Hoje, aos 27 anos, ele vive no bairrro do Village, em Nova York, na casa de Laura Simms, uma contadora de histórias que perdeu a família entre perseguiçþes anti-semitas e o Holocausto. Os dois se conheceram porque Laura presta serviços para a ONU ajudando crianças a contar a história da vida delas para lidarem com traumas. Mas nem sempre Ê assim. Sabe-se tão pouco a respeito do número de crianças no campo de batalha que mesmo uma organização como a Human Rights Watch não consegue precisar o número entre 200 000 e 300 000. Enquanto isso, em Mianmar, na à sia, o recrutamento Ê legal a partir dos 12 anos. para saber mais Muito Longe de Casa Ishmael Beah, Ediouro, 2007.

DĂŠ SUA OPINIĂƒO Participe do fĂłrum sobre esta reportagem em: superinteressante.com.br.

Fonte: Coalition to Stop the Use of Child Soldiers e Human Rights Watch.

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COMPORTAMENTO

E U Q POR


S I A S A C S O E

? M A G I BR Os motivos são muitos. Mas há 5 que quase sempre estão por trás de todos os outros. Vale a pena refletir sobre eles antes de fechar o tempo. TEXTO CARLA ARANHA DESIGN BRUNO OLIVEIRA FOTOGRAFIA NINO ANDRÉS EDIÇÃO MARIANA SGARIONI

A

discussão parece começar do nada. O motivo, muitas vezes banal – como a tradicional toalha molhada deixada em cima da cama –, é capaz de desencadear uma avalanche de acusações que não tem hora para acabar. Pior: no fim das contas, ninguém se lembra direito por que a briga começou e onde é que ela vai parar. Mas o desgaste que o episódio provoca fica por muito tempo e pode causar marcas muitas vezes irreversíveis. Quando o assunto é relacionamento, esse tipo de quebra-pau não é novidade nenhuma. Brigar dói, cansa, causa tristeza depois, além de ser chato pra burro. Mesmo sabendo disso, por que raios os casais ainda insistem em brigar tanto? É claro que tudo depende da situação – até porque há casos em que uma boa discussão é necessária para acertar os ponteiros. “Muitas vezes, o conflito é legítimo, e afastá-lo é que seria uma má política”, afirma a terapeuta de casais Andréa Seixas Magalhães, da PUC-RJ. Convenhamos: aquele modelo de casal dos anos 50, em que as brigas eram raríssimas – até porque a maioria dos problemas acabava debaixo do tapete –, não deixou saudades. Para o casal de psicanalistas franceses Jacques e Claire Pujol, todo relacionamento vivo tem lá seus momentos de colisão. “Os dois parceiros não são semelhantes, suas esperanças não são idênticas e as frustrações surgem quando as necessidades não são satisfeitas”, dizem. Até aí, tudo normal. O estranho, diz a psicanalista americana Mary Jacksch, é usar uma briga para lavar-roupa suja, apontando com o dedo em riste o que se considera que sejam os piores defeitos do parceiro. Pode parecer utópico, mas os psicólogos garantem que é possível discutir sem agredir ou magoar, focando na queixa em questão – que pode ser legítima. “É um treinamento, mas as pessoas podem, sim, se esforçar para manter o respeito e tentar resolver o problema, em vez de partir para o ataque.”(Veja quadro na página 78.) Já que a maior parte dos conflitos poderia – e deveria – ser evitada, selecionamos, com a ajuda de especialistas, 5 motivos um tanto comuns de brigas de casais. Pense bem se você já esteve nestas situações. Ah, sim: e esqueça a toalha molhada, por favor. Provavelmente ela nada tem a ver com a razão da sua implicância e do seu mau humor.


COMO BRIGAR ∙ Tudo bem, você

tem um conflito a resolver. Mas tem certeza de que sabe qual é o problema? Antes de sentar para conversar, é bom ter claro o que deseja abordar. ∙ Procure manter-

se focado no tema que está sendo discutido. Querer falar de tudo o que incomoda, e não apenas de um assunto, pode atrapalhar. ∙ Ser respeitoso,

mesmo no meio de uma discussão, é meio caminho andado para ter uma conversa construtiva. ∙ Em vez de acusar

o parceiro, explique como você se sente em determinado tipo de situação que o desagrada. É a melhor maneira de ser ouvido. ∙ Esteja preparado

para realmente ouvir o outro e rever as próprias posições, se for o caso. A idéia, afinal de contas, não é impor o seu ponto de vista, e sim dialogar.

1. ENGOLIR SAPO FAZ PARTE

2. O OUTRO NÃO VAI MUDAR

3. FILHOS IMITAM PAIS

Uma das principais características das relações dos dias de hoje é que estamos priorizando apenas o que nos dá prazer, evitando percalços inerentes a qualquer história amorosa. Como ninguém é perfeito, é lógico que os conflitos não demoram a aparecer. É o que afirma o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, autor do livro O Amor Líquido. Segundo ele, “queremos tudo para ontem e de preferência sem dores de cabeça”. Refletir sobre a sociedade que tem entre seus valores o consumo e o descartável ajuda a entender o fenômeno. O antropólogo Edgar de Assis Carvalho, da PUC-SP, também atribui ao estímulo consumista o nascimento de uma nova maneira de pensar, em que importaria mais colecionar namoros do que ter um casamento só, para a vida toda. “Uma cultura consumista favorece o produto pronto para uso imediato e resultados que não exijam esforços muito prolongados”, diz Bauman. Trocando em miúdos: apesar de não ser uma máquina, a pessoa que está a seu lado também pode dar defeito. A diferença é que pode valer bem mais a pena investir no seu conserto em vez de jogála no lixo e rapidamente procurar outra nova.

Um dos fenômenos que mais contribuem para o desequilíbrio das relações é o que os especialistas chamam de um tipo de complexo de My Fair Lady – peça de Bernard Shaw que deu origem a um premiado filme dos anos 60, em que um homem faz de tudo para transformar o objeto de seu interesse, uma humilde vendedora de flores, em uma educada senhora da alta sociedade. Na peça, o final da história não é nada feliz: o casal não termina junto, pois a mocinha vai embora e o homem fica a ver navios. Para a psicanalista americana Mary Jaksch, especializada em relacionamentos, é exatamente isso que acontece quando se aposta em uma mudança de estilo de vida e até de personalidade do parceiro. Mais: acreditar que o outro vai se moldar ao que o companheiro deseja, como se fosse o barro nas mãos do escultor, é meio caminho andado para a frustração e uma vida a dois repleta de desentendimentos. “Nesses casos a raiva e o desapontamento tomam conta e as brigas se sucedem”, diz ela.

Segundo Jacques e Claire Pujol, quem briga muito também pode estar repetindo um comportamento herdado dos pais, na infância. “As crianças têm uma tendência a absorver e até imitar o que vêem os pais fazendo, por isso, pais que discutem com freqüência, e na frente dos filhos, podem estar transmitindo um modelo que mais tarde essa criança irá repetir na idade adulta”, diz Claire. É a cena clássica da família briguenta das comédias de pastelão, em que a mãe ameaça o pai com um rolo de macarrão, ele dá um berro, ela grita de volta e no final – espera-se – eles fazem as pazes com juras de amor. Na televisão ou no cinema até pode parecer engraçado. Mas, para quem passou a vida assistindo a episódios de violência (mesmo que tenha sido apenas verbal) dentro de casa, a história é outra. “É preocupante. A criança pode crescer achando que aquilo é o normal”, diz Claire Pujol. Se a sua família sempre foi briguenta, lembre-se que é você quem escreve a sua história depois de adulto – e é possível escolher uma vida diferente, em paz.


4.TOLERAR É PRECISO no site

Veja o que rolou nos bastidores deste ensaio fotográfico

Se não houver muita paciência para resolver os espinhos comuns da vida a dois, nada vai para a frente. “Não é fácil dividir a vida com alguém que certamente terá hábitos diferentes dos seus e uma outra personalidade. Sem flexibilidade e uma certa dose de paciência, a tendência é haver muitas discussões”, diz Andréa Seixas Magalhães. A psicóloga Claire Pujol lembra também que cada um tem as próprias expectativas sobre o parceiro. “É um contrato de relação não escrito, mas que existe”, diz ela. Algumas vezes um ou outro irá furar alguma cláusula – isso é normal. E é claro que em muitos momentos será preciso conversar. Mas deixar o sangue ferver não ajuda em nada.

5.RELACIONAMENTO COMO NÃO NÃO É TRABALHO BRIGAR Um alto nível de exigência e rapidez pode ser muito útil no ambiente de trabalho, mas nada tem a ver com a natureza dos relacionamentos, que têm seu próprio tempo e são uma construção diária, a ser feita tijolo a tijolo. “Qualquer relação humana é algo que evolui no dia-a-dia, no próprio ritmo, que não tem nada a ver com a cobrança do mundo capitalista, onde sempre tem que se produzir algo”, diz Andréa Magalhães. Querer que tudo se resolva logo e ainda colocar prazos para que determinadas atitudes se produzam no relacionamento são maneiras de agir que não funcionam. Pior, elas criam um clima de estresse que pode estragar os bons momentos. Pressionar, exigir e cobrar simplesmente são verbos que não se encaixam na sutileza inerente ao amor.

∙ Atacar o parceiro

é a melhor maneira de não resolver um conflito. Xingamentos e agressões devem ficar de fora da discussão. ∙ Se você estiver

alterado, prestes a explodir, é melhor deixar a conversa para depois, para não correr o risco de perder a cabeça. ∙ Nunca parta para

as ameaças. Se você está procurando melhorar o relacionamento, para que dizer, sem uma reflexão prévia, que quer terminar? Só irá piorar a situação. ∙ Ridicularizar

o outro também está fora de questão. Não há justificativas para humilhar alguém, mesmo que você esteja com muita raiva da pessoa. ∙ Usar um tom

para saber mais Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos Zygmunt Bauman, Jorge Zahar, 2004. O Potencial Criativo do Conflito no Casamento Jacques Pujol, Claire Pujol. Vida, 2001. Aprenda a Amar Mary Jaksch, Publifolha, 2007.

1 Produção Carolina Agresta. Agradecimentos: Livraria Pop, Universo Fantasias e Keiko Sports.

imperativo, tipo “você tem que fazer isso ou aquilo”, só serve para colocar o outro na defensiva. E não é isso que você quer, certo?














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