Bons Ventos no Semi-Árido A experiência da ONG Catavento Comunicação e Educação Ambiental na mobilização de radialistas do interior cearense pelos direitos da primeira infância
Bons Ventos no Semi-Árido A experiência da ONG Catavento Comunicação e Educação Ambiental na mobilização de radialistas do interior cearense pelos direitos da primeira infância
Sistematização e texto: Immaculada Lopez Edição: Fernanda Favaro Leitura crítica: Ismar de Oliveira Soares e Rosa Lúcia Moyses Projeto gráfico: Fernando Vianna Revisão de texto: Renato Potenza Apoio técnico: Priscila de Andrade Fernandes Fotos: Divulgação Catavento
Ficha Catalográfica elaborada pelo Centro de Documentação da Fundação Abrinq _____________________________________________________ L14c Lopez, Immaculada Bons Ventos no Semi-árido: A experiência da ONG Catavento Comunicação e Educação Ambiental na mobilização de radialistas do interior cearense pelos direitos da primeira infância. Immaculada Lopez – São Paulo: Fundação Abrinq, 2007. ISBN 85-88060-22-1 1. Mídia comunitária. 2. Família I. Título.
CDD: 370.28
02.05.07 000001 _____________________________________________________ Bibliotecária – Elisangela Alves Silva – CRB8/7126
Todos os direitos desta obra reservados à Fundação Abrinq Avenida Santo Amaro, 1.386 Vila Nova Conceição – CEP 04506-001 São Paulo – SP www.fundabrinq.org.br
Bons Ventos no Semi-Árido A experiência da ONG Catavento Comunicação e Educação Ambiental na mobilização de radialistas do interior cearense pelos direitos da primeira infância.
Assessoria de Captação de Recursos Assessor: Victor Alcântara da Graça Equipe: Cristiane D. Rodrigues, Fernanda Pereira Bochembuzo, Marina Biagioli Manoel, Milene de Oliveira Sousa Silva, Silvia Troncon Rosa e Tatiana Cristina Antunes da Silva Assessorias de Relações Institucionais e Técnico-Jurídica Assessora: Daniela de Aquino Coelho Assistentes: Ester Gammardella Rizzi, Fernanda Reis Guarita, Helder Delena e Tatiana de Jesus Pardo
Conselho de Administração Presidente: Carlos Antonio Tilkian Secretária: Maria Ignês Bierrenbach Membros: Albertina Duarte Takiuti, Antonio Carlos Ronca, Boris Tabacof, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, Daniel Trevisan, Eduardo José Bernini, Eduardo Resende Melo, Heloisa Sampaio Machado, João Nagano Júnior, José Carlos Grubisich, José Eduardo P. Pañella, José Roberto Nicolau, Lourival Kiçula, Luiz Henrique Proença Soares, Paulo Afonso Garrido de Paula, Paulo Saab, Regina Helena Scripilliti Velloso, Renata Camargo Nascimento, Roberto Teixeira da Costa, Synésio Batista da Costa, Therezinha Fram e Vitor Gonçalo Seravalli
Direito à Proteção Integral Coordenadores: Abigail Silvestre Torres (programa Prefeito Amigo da Criança e projetos De Olho no Orçamento Criança e Presidente Amigo da Criança) e José Carlos Bimbatte Jr (programas Empresa Amiga da Criança; Adotei um Sorriso e Prêmio Criança) Equipe: Adelaide Jóia, Ana Aparecida Frabetti Valim Alberti, Andrea Santoro Silveira, Daniela Queiroz Lino, Elaine Cristina Rodrigues Barros, Eliana Maria Ribeiro Garrafa, Ivone Aparecida da Silva, Márcia Cristina Pereira da Silva Thomazinho, Maria Francisca Palma Pinto, Mônica Takeda, Priscila de Andrade Fernandes e Roberta Soares Rossi
Conselho Fiscal Membros: Audir Queixa Giovanni, Francisco da Silva Coelho, José Francisco Gresenberg Neto e Márcio Ponzini Conselho Consultivo Presidente: Jorge Broide Vice-presidente: Miriam Debieux Rosa Membros: Antônio Carlos Gomes da Costa, Araceli Martins Elman, Dalmo de Abreu Dallari, Edda Bomtempo, Geraldo Di Giovanni, Isa Guará, João Benedicto de Azevedo Marques, Lélio Bentes Corrêa, Leoberto Narciso Brancher, Lídia Izecson de Carvalho, Magnólia Gripp Bastos, Mara Cardeal, Maria Cecília C. Aranha Lima, Maria Cecília Ziliotto, Maria de Lourdes Trassi Teixeira, Maria Machado Malta Campos, Marlova Jovchelovitch Noleto, Melanie Farkas, Munir Cury, Norma Jorge Kyriakos, Oris de Oliveira, Percival Caropreso, Rachel Gevertz, Rosa Moyses, Rubens Naves, Silvia Gomara Daffre, Tatiana Belinky e Vital Didonet
O Catavento agradece a participação de profissionais e estagiários que fizeram e fazem o Comunicando Saberes, Realizando Sonhos: O rádio no fortalecimento das competências familiares e municipais, e que contribuem para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes do semi-árido brasileiro: Alessandra Oliveira, Ivna Bessa, Luciana Machado, Ludovica Duarte, Mayra Pontes, Renata Soares.
Comitê Gestor
Catavento
Coordenador Geral e Presidente do Conselho de Administração: Carlos Antonio Tilkian Coordenador Financeiro e Presidente da Instituidora: Synésio Batista da Costa Secretária do Conselho de Administração: Maria Ignês Bierrenbach Presidente do Conselho Consultivo: Jorge Broide
Rua Costa Barros, 1088 - casa 14 - Centro Fortaleza - Ceará CEP 60160-280 Tel: (85) 3252-6990 Site: www.catavento.org.br Email: catavento@catavento.org.br São Paulo, junho de 2007.
Superintendência Executiva Superintendente: Sandra Amaral de Oliveira Faria Superintendente Adjunto: Fernando Teixeira Mendes Filho Secretaria: Rita Bassani Martins e Sandra Silva
Sumário Introdução
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O que é o projeto 13 Metodologia 25 Linha de ação 1: Encontros com as famílias 33 Linha de ação 2: Sensibilização e articulação dos radialistas 39 Linha de ação 3: Produção de programas para o rádio 49 Quem é a Catavento
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Contexto
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Impactos
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Ao vento
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Bibliografia
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Anexos
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Introdução Em agosto de 2004, a jovem jornalista Mayra Pontes Coutinho, nascida e formada na capital cearense, viajou pela primeira vez à cidade de São Paulo. Foi participar da cerimônia de entrega do Prêmio Criança 2004, uma iniciativa da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Lançada em 1989, a premiação busca reconhecer experiências exemplares na proteção integral da infância e adolescência no país. A partir de 2002, a atenção do prêmio voltou-se à primeira infância, fase da vida que vai de 0 a 6 anos de idade, sendo selecionados 15 finalistas em 2004 em quatro temas (Educação Infantil; Saúde do Bebê, da Gestante e da Criança; Convivência Familiar; e Convivência Comunitária). Mayra chegou a São Paulo representando a equipe de um dos finalistas: o Projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos: o Rádio no Fortalecimento das Competências Familiares, realizado pela ONG Catavento Comunicação e Educação Ambiental, de Fortaleza (CE). Iniciado em 2002, o projeto busca sensibilizar radialistas do interior cearense para fortalecer a família em suas competências. Consolidado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) – www.unicef.org.br –, o conceito de competências familiares diz respeito aos “conhecimentos, saberes e habilidades – somados à afetividade e a atitudes e práticas das famílias – que facilitam e promovem a sobrevivência, o desenvolvimento, a proteção e a participação das crianças de 0 a 6 anos”. Satisfeita com a oportunidade de relatar a experiência da Catavento e conhecer outras ações desenvolvidas no país, Mayra recebeu uma grande surpresa: o Comunicando Saberes, Realizando Sonhos venceu no tema Saúde do Bebê, da Gestante e da Criança. Os aplausos chegaram a toda a equipe na capital cearense, que acompanhava atenta a transmissão da cerimônia pela internet. Para além do reconhecimento e incentivo ao seu trabalho, a Catavento recebeu, com o prêmio, um novo desafio: participar de um processo de sistematização da experiência para promover sua disseminação. Desde 2002, este passou a ser um dos objetivos primordiais do Prêmio Criança, na certeza de que as experiências vencedoras apresentam um valioso potencial de disseminação e contribuição com as políticas públicas da área. A sistematização é entendida como um processo de produção de conhecimento a partir da prática, com envolvimento essencial de seus vários atores. Coletivamente, eles são incentivados a rever, refletir e compreender os aprendizados da trajetória do projeto. Nesse caminho, é possível aprofundar conceitos, organizar metodologias, aprimorar práticas e fundamentar uma disseminação. Durante oito meses, a equipe da Catavento teve oportunidade de refletir de forma coletiva e organizada sobre a prática exercida. Perguntas como: Qual a essência de nosso trabalho? O que provocamos na vida das pessoas? O que, da nossa experiência, pode ser útil para outros projetos? – orientaram a discussão. Os relatos e as análises permitiram que crenças e valores compactuados pela equipe fossem explicitados e consolidados.
Durante a sistematização, o projeto estava em sua terceira fase e foi possível acompanhar a equipe da Catavento em sua viagem a São Gonçalo do Amarante, no interior do Ceará. Lá, foram realizadas duas rodas de conversa com famílias moradoras do município, bem como uma oficina com radialistas da região. Aproveitando a ocasião, no final das atividades os participantes foram convidados a refletir sobre o projeto e contribuir com o processo de sistematização. Para completar o levantamento de informações sobre a iniciativa, tarefas foram combinadas com a equipe da Catavento. À distância, o trabalho continuou até janeiro de 2005, quando ficou pronta a primeira versão deste texto, discutida com especialistas da área. Ocorreu, então, um encontro para uma rodada final de reflexões. A partir daí, foi lapidado o texto agora apresentado, que soma diferentes visões e dimensões do projeto, com foco e propósito explícitos: revelar os tesouros e desafios da iniciativa Comunicando Saberes, Realizando Sonhos para que possa soprar novos ventos e contribuir para a melhoria da vida de mais e mais crianças brasileiras.
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O que é o projeto Som de cadeira balançando. Ao fundo, som de menino brincando. Radioatriz (papel de avó):
CUM SAÚDE DE MININO PEQUENO NUM SE BRINCA. NO MEU TEMPO, PROTEGER DE SARAMPO, CATAPORA, PAPERA ERA SORTE. MAIS SEGURO MERMO ERA CUIDAR DEPOIS QUE ADOECIA. AÍ HAJA CHÁ E REZA. ISSO QUANDO OS BICHIM NUM MORRIA OU FICAVA ALEJADO MODE AS DOENÇA.
HOJE AS COISA TÃO MAIS FÁCIL. CLEITO, MEU NETO, TUMÔ NUM SEI NEM QUANTAS VACINA. UMAS EM GOTA, OTRAS EM INJEÇÃO, ERA VACINA DE TUDO QUE ERA JEITO. E HOJE TAÍ, SADIO, E NUM PÁRA QUETO. Radioator (papel de menino):
ANDA, VÓ, VOZINHA, VEM CONTAR UMA HISTÓRIA PRA MIM. Radioatriz (papel de avó):
TÔ INDO MEU NETO, TÔ INDO.
Vinheta de passagem Locutor:
PROVIDENCIAR PARA QUE AS CRIANÇAS RECEBAM TODAS AS VACINAS NECESSÁRIAS À SUA SAÚDE, ANTES DO PRIMEIRO ANO DE VIDA. ISSO É COMPETÊNCIA FAMILIAR.
Vinheta de encerramento Locutor:
PROJETO COMPETÊNCIAS FAMILIARES E MUNICIPAIS. REALIZAÇÃO UNICEF, SECRETARIAS DE SAÚDE E EDUCAÇÃO DO ESTADO E ONG CATAVENTO. COM O APOIO DESTA EMISSORA.
(Fim)
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Com duração de um minuto, esta mensagem – chamada, no meio radiofônico, de spot – se espalha pelas ondas do rádio do interior cearense. As famílias moradoras da região são estimuladas a falar, ouvir e discutir seu papel no desenvolvimento integral das crianças de 0 a 6 anos de idade. Elas participam do Projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos: o Rádio no Fortalecimento das Competências Familiares, realizado pela ONG Catavento Comunicação e Educação Ambiental. Com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ), a Catavento produz e distribui spots e programas sobre competências familiares e municipais para dezenas de emissoras do estado. De outubro de 2002 a janeiro de 2005, foram alcançados 52 municípios do semi-árido cearense marcados pelas piores posições no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A linguagem, a cultura e a visão de mundo do local tornam-se ingredientes essenciais para afirmar a riqueza e a potencialidade dessa região do país. Eis uma crença fundamental do projeto: o semi-árido é viável. Seu principal propósito é favorecer a troca de saberes entre as famílias para que possam desempenhar com plenitude suas competências na atenção à primeira infância. Esta é outra certeza da equipe: a família é competente. Além de serem o principal público do conteúdo radiofônico produzido, pais, mães, avós, avôs, tios e tias participam da iniciativa por meio de depoimentos gravados em seus municípios. Este material é aproveitado num programa de rádio semanal, com duração de dez minutos, chamado Conversa em Família, produzido pela Catavento com apoio dos radialistas. A estratégia escolhida para garantir que esses conteúdos tenham espaço nas rádios foi sensibilizar os radialistas para semear a temática das competências no dia-a-dia de sua programação. Principais protagonistas do projeto, os radialistas são envolvidos por meio de oficinas de formação realizadas em seus municípios e do envio de matérias de sua autoria para o programa Conversa em Família. Revelase a terceira “aposta” do projeto: o radialista é transformador. Espalhados pelo interior, comprometidos com sua profissão e respeitados pela comunidade, os radialistas apresentam valioso potencial de mobilização e desenvolvimento local. Movido pela valorização do semi-árido, da família e do radialista, o Projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos abre um caminho criativo à conquista de uma vida melhor para mais crianças no país.
Parceiros Estratégicos • Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) – Parceiro responsável pelo financiamento e acompanhamento do projeto. • Secretarias de Saúde do estado e dos municípios – Parceiras na execução do projeto, responsáveis pela capacitação dos profissionais da área de saúde e sensibilização das famílias no tema das competências familiares e municipais. A parceria se dá, também, por meio de apoio logístico para os encontros com as famílias, incluindo a mobilização das famílias pelas agentes comunitárias de saúde e a disponibilização de local para os encontros. • Emissoras de rádio – Parceiras na veiculação gratuita do material produzido pelo projeto e no incentivo e liberação de seus profissionais para participarem das oficinas promovidas pela Catavento. • Radialistas – Parceiros na co-produção do programa de rádio Conversa em Família e na inclusão da temática em seu trabalho.
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HISTÓRICO Baseado na certeza de que as famílias detêm conhecimentos, saberes e habilidades que facilitam e promovem a sobrevivência, o desenvolvimento, a proteção e a participação das crianças de 0 a 6 anos, o conceito de competências familiares surge como uma nova perspectiva no entendimento do desenvolvimento da criança e na luta por seus direitos. Elaborado pelo Unicef em 2001 e 2002, a partir de um intenso debate com 164 instituições e especialistas de todo o país, ele trata de diferentes aspectos da vida da criança, incluindo cuidados no pré-natal, parto e pós-parto, prevenção de doenças e garantia de alimentação adequada, proteção contra abuso e negligência, prevenção de acidentes, participação ativa dos homens no cuidado e educação infantil e garantia de registro civil para todas as crianças. Em paralelo, desenvolve-se o conceito de competências municipais, que se refere às políticas, serviços e atividades intersetoriais e integradas no município que concretizam os direitos da criança e garantem às famílias as condições necessárias para o pleno exercício de suas competências em relação aos filhos. A família afirma-se como protagonista importante nas ações voltadas à infância. “Há muito tempo fala-se em fortalecer a família e nos últimos 20 anos isto se intensificou. Mas o Brasil ainda está aprendendo a trabalhar na nova abordagem de respeito aos saberes de cada família”, avalia Halim Girade, Oficial de Projetos do Unicef Brasil. Percebe-se que é preciso envolver a família como uma forma de respeitar as características de cada criança, cultura e realidade, além de garantir a oportunidade de fazer com que seja agente de seu próprio desenvolvimento. Na prática, impõe-se a necessidade de ouvir, fortalecer e construir, com a família, os seus conhecimentos. Em sintonia com essa estratégia, o Unicef lançou no Ceará, ainda em 2002, um projeto para fortalecimento das competências familiares e municipais. A Catavento – atuante desde 1995 em projetos de comunicação educativa na temática ambiental – passou a desenvolver o componente “comunicação” desse projeto. O rádio foi escolhido como mídia estratégica. “Havia a percepção de que era importante usar todos os meios de comunicação para trabalhar as competências junto às famílias. Além do mais, o Unicef já tinha uma experiência positiva com capacitação de radialistas”, conta Francisca Maria Oliveira Andrade, Oficial de Projetos do Unicef para o Ceará e Rio Grande do Norte. Nasceu assim, em outubro de 2002, o projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos: o Rádio no Fortalecimento das Competências Familiares, dirigido a radialistas e famílias do Ceará. De maneira complementar, também com apoio do Unicef, a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), em parceria com a Fundação Instituto Cearense de Saúde Reprodutiva (FICSAR), iniciou uma ação dirigida a agentes de saúde, lideranças comunitárias, profissionais e gestores dos municípios sobre a temática das competências familiares e municipais. “O projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos está em sintonia e sinergia com a proposta política do Estado e com a do município, no enfoque da educação e dos direitos da criança”, avalia Diva de Lourdes Azevedo Fernandes, do Núcleo de Normatização da Atenção à Saúde da Criança da Sesa. Se, por um lado, a
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ação da Sesa cria condições mais favoráveis para as famílias compreenderem as mensagens veiculadas no rádio pela Catavento, por outro, essas mensagens reforçam o conteúdo trabalhado pela secretaria junto aos agentes de saúde. Para a Catavento, o projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos representou a estréia de uma ação focada essencialmente nos direitos da infância. No Programa de Formação e Mobilização S ocial para a Convivência com o Semi-Árido: 1 Milhão de Cisternas Rurais, iniciado em 2000, a organização já havia incluído a preocupação com o universo infantil, mas sem uma dedicação central à temática. A oportunidade bateu à porta e a Catavento a abraçou com força. A equipe identificou-se com a luta pelos direitos da infância e a transformou num dos focos de atuação estratégicos da organização – tanto que a realização de processos formativos com crianças e adolescentes do semi-árido conquistou espaço central na missão da instituição. Atualmente, a equipe participa ativamente de diferentes fóruns locais e regionais de defesa dos direitos da criança e do adolescente, como o Fórum Estadual para Erradicação do Trabalho Infantil e Amparo ao Trabalhador Adolescente do Ceará, o Fórum Permanente de ONGs em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ceará (FDCA) e o Fórum Cearense de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, e cada vez mais aprofunda sua atuação na área. Depois do Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, a Catavento tem elaborado e desenvolvido diferentes projetos com o tema. Destaca-se o Eu Prometo já Morreu. A Construção da Cidadania Política pelaComunicação Educativa, idéia premiada pela Rede ANDI Brasil (www.andi.org.br) – articulação de agências de notícias pelos direitos das crianças e dos adolescentes – que desencadeou a integração da Catavento à rede. O projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos está sendo desenvolvido em fases, com intervalos de alguns meses, sempre apoiado pelo Unicef. O custo anual médio de cada fase é de R$ 102 mil. A cada fase, são somados novos municípios, emissoras e radialistas, ampliando a produção e distribuição dos programas. Em paralelo, está em curso a renovação do formato das oficinas e produtos, fruto do amadurecimento da iniciativa. Apesar de comemorar mais de dois anos de trabalho realizado, a Catavento coloca-se o desafio de buscar alternativas para o desenvolvimento futuro e contínuo do projeto.
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Saúde em ação A Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), em parceria com a Fundação Instituto Cearense de Saúde Reprodutiva (FICSAR), participa do Projeto Fortalecimento das Competências Familiares e Municipais em Municípios Cearenses, do Unicef. Dirigido a famílias que tenham gestantes e crianças de 0 a 6 anos acompanhadas pelo Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), pelo Programa de Saúde da Família (PSF) e por instituições de ensino de educação infantil, entre outras, o projeto visa contribuir para a redução de doenças e da mortalidade materna e infantil e para o desenvolvimento integral das crianças. O projeto começa com um seminário de sensibilização, que aborda a necessidade dos cuidados com as gestantes e crianças de 0 a 6 anos, visando estabelecer uma rede municipal de proteção. Em seguida, inicia-se a qualificação dos técnicos do Programa de Saúde da Família e da Área de Educação em conteúdos que podem contribuir para o fortalecimento das competências familiares e municipais. Então, são oferecidos aos agentes comunitários de saúde todos os conhecimentos e materiais de instrução para que incorporem, na rotina de suas visitas às famílias, os conteúdos relativos à proteção familiar e à responsabilidade municipal. Por último, acontece a avaliação das atividades. Além da realização de grupos focais, os municípios envolvidos respondem a um formulário elaborado pela equipe do projeto.
Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará
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OBJETIVOS Objetivo Geral O projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos: o Rádio no Fortalecimento das Competências Familiares nasce com o objetivo de favorecer a troca de saberes entre famílias na realização de suas competências sobre o desenvolvimento infantil, usando como estratégias o fortalecimento do papel dos radialistas e a valorização da cultura local. Objetivos Específicos • Sensibilizar famílias, gestores municipais, profissionais do Programa de Saúde da Família (PSF) e do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), ligados à rede pública de saúde, para a importância do fortalecimento das competências familiares. • Potencializar as ações das equipes de saúde por meio de mensagens radiofônicas sobre a temática das competências familiares e municipais. • Realizar oficinas de capacitação para radialistas sobre o papel do rádio no fortalecimento das competências familiares. • Possibilitar a troca de saberes entre grupos de mães e pais, de diferentes realidades e contextos, valorizando e fortalecendo suas competências.
“O projeto é de fortalecimento das competências porque a gente parte do princípio que as famílias já são competentes. Apenas ajudamos que elas se reconheçam como competentes naquilo que fazem. Ninguém melhor para cuidar da criança do que a família .” Maria Renata Soares do Nascimento, jornalista da Catavento
LINHAS DE AÇÃO A atuação da Catavento começa com a definição dos municípios a serem alcançados em cada uma das três fases do projeto – que foram de outubro de 2002 a fevereiro de 2005 desde o lançamento da iniciativa. Esse trabalho é feito pela Secretaria Estadual de Saúde (um dos parceiros estratégicos do projeto), que escolhe as localidades com o índice mais alto de mortalidade infantil da região.
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A equipe, então, agrupa os municípios e desenha a melhor logística para as viagens, pois parte essencial do projeto acontece localmente. A partir daí, o trabalho se organiza em três principais linhas de ação: . Encontro com as famílias: em cada município visitado, são organizados encontros com as famílias moradoras no local. Essa ação acontece em parceria com a secretaria municipal, mobilizada pela secretaria estadual. O grupo é convidado a refletir sobre sua prática na atenção às crianças. A conversa é registrada em áudio e se torna valiosa matéria-prima para o programa de rádio Conversa em Família, produzido pela Catavento. . Sensibilização e articulação de radialistas: radialistas da região são convidados pela equipe da Catavento para uma oficina de um dia no município visitado. Em grupo, conversam sobre o tema das competências familiares e desenvolvimento infantil e as diversas possibilidades para inserção da temática na programação rotineira de suas emissoras. É um momento privilegiado de sensibilização e construção de vínculos. Após a oficina, a articulação dos radialistas é fomentada por diferentes ações da Catavento, tais como a distribuição da Cartilha para Radialistas, a veiculação de matérias produzidas pelos radialistas no programa Conversa em Família, a organização de um concurso de matérias, a distribuição mensal do boletim impresso Sintonia Criança e a realização de um seminário regional. . Produção de programas: a partir da conversa gravada com as famílias e matérias enviadas pelos próprios radialistas, a equipe da Catavento produz uma série de spots e o programa semanal Conversa em Família. Esses produtos são distribuídos às emissoras mobilizadas, que veiculam o material gratuitamente.
PRODUTOS DE COMUNICAÇÃO As atividades junto às famílias, radialistas e ouvintes resultam na elaboração, de maneira participativa, de quatro principais produtos de comunicação: . Spots: com duração de 60 segundos, essas peças foram produzidas pela equipe da Catavento na primeira e terceira fases do projeto. Cada uma é dedicada a um tema das competências familiares, com linguagem e formato diferenciados. . Programa Conversa em Família: principal produto do projeto, o programa é elaborado pela equipe da Catavento com participação dos radialistas. Teve um período experimental na primeira fase, consolidou-se na segunda com dez minutos de duração e voltou a ser produzido na terceira. . Cartilha para Radialista: material de formação destinado aos radialistas e produzido pela equipe da Catavento no final da primeira fase. . Boletim Sintonia Criança: jornal informativo produzido pela equipe da Catavento e distribuído mensalmente a todos os radialistas participantes da sensibilização.
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LINHA DO TEMPO 1990 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é aprovado no Brasil em concordância com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança. 1991 É produzido, pela Rádio Universitária FM, da Universidade Federal do Ceará, o primeiro programa de rádio Catavento de Educação Ambiental, embrião da organização. 1995 Dois jornalistas que produziam o programa de rádio Catavento se juntam a outras pessoas e fundam a organização não-governamental sem fins lucrativos Catavento Comunicação e Educação Ambiental. 1998 Último ano de veiculação do programa Catavento de Educação Ambiental. Inicia-se um período de debates internos sobre os rumos da organização. 2000 Inserção da Catavento no Programa 1 Milhão de Cisternas Rurais, coordenado pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA). O programa educativo de rádio passa a ser reconhecido como instrumento de trabalho preferencial da organização. 2002 Apresentação do conceito de competências familiares e competências municipais pelo Unicef, bem como o lançamento do Programa Fortalecimento das Competências Familiares e Municipais. Outubro – lançamento da primeira fase do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, envolvendo 20 municípios. O projeto marca a entrada da organização na temática da infância e adolescência. 2003 Fevereiro – final da primeira fase do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos. Aprovação do projeto Eu Prometo Já Morreu no Concurso Rede ANDI Brasil de projetos de comunicação e educação. O projeto selecionado marca o início de ações de intervenção direta da organização com crianças e adolescentes do semi-árido Julho – lançamento da segunda fase do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, envolvendo mais dez municípios.
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2004 Ingresso da Catavento como agência de notícias do Ceará na Rede ANDI Brasil - Comunicadores pelos Direitos da Criança e do Adolescente, presente em 11 estados do Brasil. Fevereiro – final da segunda fase do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos. Início da participação da Catavento no Fórum Estadual para Erradicação do Trabalho Infantil e Amparo ao Trabalhador Adolescente do Ceará, no Fórum Cearense pela Erradicação da Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente e no Fórum Permanente de ONGs em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ceará (FDCA). A Catavento recebe o Prêmio Criança 2004, da Fundação Abrinq, na categoria Saúde do Bebê, da Gestante e da Criança, com o projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos. Agosto – lançamento da terceira fase do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, envolvendo mais 15 municípios. Dezembro – realização do I Seminário de Conselheiros e Radialistas pelo Desenvolvimento Infantil, em Fortaleza (CE), reunindo parte dos radialistas participantes do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos. 2005 Fevereiro – final da terceira fase do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos.
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FASES Out/2002 a fev/2003 – O projeto começa mobilizando radialistas de 20 municípios com o objetivo de potencializar a discussão sobre o tema das competências familiares e municipais entre os próprios radialistas, gestores municipais e famílias, por meio de oficinas de sensibilização com os profissionais do rádio, conversas gravadas com famílias e produção de spots, além da produção de uma cartilha impressa direcionada aos radialistas. Jul/2003 a fev/2004 – Além de manter a articulação com o grupo envolvido na primeira fase, a equipe amplia a discussão para outros dez municípios. Nessa etapa, oficinas de sensibilização com os novos radialistas e gravação de mais conversas com famílias são realizadas. Além disso, o programa de rádio semanal Conversa em Família e o informativo impresso mensal Sintonia Criança começam a ser produzidos. Set/2004 a fev/2005 – Mais 15 municípios são alcançados pelo projeto, somando 45 no total. Acontece uma nova rodada de encontros com as famílias e oficinas com os radialistas. Além do programa semanal Conversa em Família, é produzida uma nova série de spots. Outra novidade é a realização de um seminário regional em Fortaleza com radialistas participantes das três fases do projeto. Ago/2005 a dez/2005 (previsão) – O foco da nova fase é fortalecer a articulação dos radialistas participantes do projeto até então. Continuarão a ser distribuídos boletins informativos, spots e programas de rádio, mas os radialistas vão participar da discussão e definição dos temas por meio de reuniões telefônicas. Outra novidade é o registro em vídeo dos encontros com as famílias para a produção de um vídeo-documentário, bem como de programas de 30 segundos para futura transmissão por canais de televisão
As fases em números
*Além dos 45 municípios formalmente selecionados pelo projeto, mais oito acabaram envolvidos, com emissoras locais veiculando o material produzido: Acaraú, Canindé, Iguatu, Nova Russas, Pereiro, Quixadá, Sobral e Varjota.
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SÍNTESE DOS RESULTADOS • • • • • • • •
45 municípios cearenses envolvidos 65 emissoras de rádio mobilizadas 19 oficinas realizadas com 237 radialistas 19 encontros realizados com 143 familiares 200 exemplares de cartilha distribuídos 54 spots produzidos 45 programas de rádio produzidos 13 informativos impressos produzidos
ALCANCE GEOGRÁFICO
Obs.: Aparecem como “outros municípios” as localidades que não constam da lista inicial de alcance do projeto, mas acabaram envolvidas pela ação multiplicadora dos radialistas. Ao mudar de emissora, alguns, por exemplo, solicitam que também passem a receber o material.
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Metodologia CONCEITOS NORTEADORES O projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos: o Rádio no Fortalecimento das Competências Familiares desafiou a equipe da Catavento com novas idéias e percepções. Pela primeira vez, ela se viu diante de conceitos como “competência familiar” ou “adulto cuidador”. O próprio entendimento de criança, família e saúde acabou sendo renovado, em sintonia com o pensamento emergente sobre desenvolvimento infantil e sobre direitos da infância. Hoje, a prática da equipe está alicerçada em conceitos claros do processo comunicativo e da relação com o outro. Alguns conceitos norteadores do projeto:
Criança A criança é reconhecida como sujeito de direitos, deveres e vontades. Não é um ser que “virá a ser”, mas que já é. Em outras palavras, não é um “adulto em miniatura”, mas sim uma pessoa que vive uma fase de vida própria e que exige proteção especial. No relatório Situação Mundial da Infância 2005, o Unicef afirma justamente que a infância tem “um significado que vai muito além do que apenas o espaço entre o nascimento e o início da vida adulta, a infância está relacionada ao estado e à condição de vida de uma criança: envolve a qualidade desses seus anos de vida”. E ressalta que, apesar da divergência de definições, há um entendimento compartilhado de que “a infância implica um espaço separado e seguro, delimitado com relação ao espaço da vida adulta, no qual a criança pode crescer, brincar e se desenvolver”. Por outro lado, é certo que a criança não é “um objeto passivo de caridade, mas sim um ator capacitado para intervir em seu próprio desenvolvimento”.
Primeira infância A faixa etária de 0 a 6 anos é destacada como fundamental para o desenvolvimento integral e saudável da pessoa. O Unicef, no relatório da Situação Mundial da Infância 2005, destaca: “desde o primeiro dia de vida, a criança tem direito à moradia, saúde, alimentação, educação, segurança, brincadeiras, mas também respeito, dignidade, convivência familiar e comunitária e de estar a salvo de todas as formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. “E não só nas questões de saúde ou alimentação, mas no amor e carinho”, ressalta a jornalista Mayra, coordenadora do projeto em sua terceira fase. E continua: “Sempre se bate muito na tecla de que a criança tem que estudar, ter médico... mas também é muito claro que a criança precisa de amor. Desde pequenininha, da barriga, ela precisa ser desejada”. Já está cientificamente comprovado que, em nenhuma outra fase da vida, a pessoa se desenvolve tão intensamente como nos meses da gestação e nos primeiros anos da infância. As últimas descobertas da neurociência revelam que as crianças nascem com quase todas as células cerebrais necessárias para seu desenvolvimento. O que faz diferença é o estabelecimento de ligações (chamadas
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sinapses) entre essas células. Cada toque, cada olhar, cada estímulo provoca essa interação. Uma célula chega a se ligar com outras 15 mil células. Se uma criança não recebe carinho, não brinca ou se movimenta, ela deixa de realizar essas sinapses, que não terão mais chance de acontecer. Isto porque esse processo não é linear. As sinapses se estabelecem intensamente nos primeiros seis anos de vida, especialmente nos três primeiros, continuam com menos entusiasmo até a adolescência e depois decrescem. É por isso que os primeiros anos de vida merecem atenção e proteção especial.
Criança saudável O conceito de saúde é compreendido de forma ampla, envolvendo diferentes dimensões da vida da criança – física, emocional, psíquica. Seu direito à saúde, portanto, vai muito além do necessário combate às doenças. Inclui a prevenção e principalmente a promoção de seu bem-estar integral e contínuo. “Criança saudável não é só aquela que não está anêmica, que não tem verme ou piolho. Não é aquela criança coradinha. É bem mais do que isso”, destaca a jornalista Renata, coordenadora do projeto em sua segunda fase. “É a criança que brinca, que se relaciona com outras, que se sente capaz. É aquela que sabe que é importante para a família e tem alguém que se preocupa com ela”, diz Renata. Família A família é percebida como ambiente natural para o crescimento e o bem-estar de seus membros, especialmente da criança. Mas, para além do conceito tradicional de “pai, mãe e filhos”, a família é entendida como o núcleo no qual a criança está inserida, que inclui um adulto cuidador, que nem sempre é o pai ou a mãe biológica. Em diferentes estudos, evidencia-se cada vez mais que as famílias se estruturam e se organizam de formas variadas. Há famílias com muitos, poucos ou nenhum filho, que podem ser biológicos ou adotivos. A mãe ou o pai pode ter se casado mais de uma vez – surgem, então, novos irmãos. Muitas vezes, moram junto com primos ou tios. A chefia da casa ainda pode ser do pai, mas cada vez mais é assumida pela mãe ou avó. Adulto cuidador Para garantir um ambiente protetor, afetuoso e estimulante para a criança, bem como seu acesso à escola e ao posto de saúde, é fundamental o papel do adulto cuidador. Este nem sempre é a mãe ou pai. Às vezes, é a avó, o tio, a madrinha. A responsabilidade é de todos, inclusive dos vizinhos. “É como em uma comunidade indígena, em que a criança é responsabilidade de toda a tribo. Você também é responsável pelo filho do seu vizinho, assim como seu vizinho vai ser responsável pelo seu filho quando você precisar sair”, explica Mayra. O atendimento às necessidades físicas de um bebê – ser alimentado, limpo, aquecido, colocado para dormir – é fundamental, mas não suficiente. Esperase que o cuidador crie vínculos afetivos contínuos com a criança, permitindo que ela reconheça a voz, o cheiro e o colo do adulto, valorizando assim a continuidade dos laços. Para estabelecer essa cumplicidade, é necessário que o cuidador leve em conta os ritmos e as preferências da criança, bem como seus estados físicos e emocionais, sendo capaz inclusive de reconhecer sinais de sofrimento.
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Competências familiares “São as práticas e os cuidados que a família deve ter para colaborar com o desenvolvimento da criança”, resume Renata. Consolidado pelo Unicef, esse conceito se refere aos conhecimentos, saberes e habilidades das famílias que facilitam e promovem a sobrevivência, o desenvolvimento, a proteção e a participação das crianças de 0 a 6 anos. No relatório Situação Mundial da Infância 2005, o Unicef ressalta: “Sabemos que a prática de ‘cuidar e educar’ se inicia e ocorre na família, primeiro espaço de convivência e lugar privilegiado para o desenvolvimento integral da criança. No meio familiar são formados os primeiros conceitos, e os pais são os primeiros e melhores educadores e cuidadores de seus filhos. Sabemos também que 80% dos cuidados com a saúde da criança acontecem no lar.” Competências municipais Também proposto pelo Unicef, o conceito de competências municipais referese às políticas, serviços e atividades intersetoriais e integradas no município que concretizam os direitos da criança e garantem às famílias as condições necessárias para o pleno exercício de suas competências. “Não adianta nada a gente dizer que é importante a criança ser socializada se o poder público não disponibiliza espaços de socialização. É lógico que se houver uma brinquedoteca, um parquinho, uma escola de qualidade essa socialização vai ser melhor”, exemplifica Edgard Patrício de Almeida Filho, coordenador da Catavento. Comunicação e educação A comunicação é entendida como um processo responsável, que não apenas informe, mas também promova a formação, discussão e reflexão contínua entre as pessoas sobre seu cotidiano e qualidade de vida. Edgard explica que o caráter educativo está no propósito de permitir a reflexão de quem ouve. “Você não chega com verdades, mas estimula que, a partir daquela informação que a pessoa capta, ela reflita sobre o assunto”, afirma. Um aspecto importante da comunicação educativa, o “escutar para dialogar” garante voz e ouvidos para todos. “Ao escutar, você se torna aberto para aprender outras coisas”, esclarece Edgard. “Vamos escutar e fazer com que as pessoas se escutem também. Elas falam, a gente escuta; a gente fala, elas escutam; aí todos se escutam e se reconhecem, porque estão escutando a si mesmos. Nasce, portanto, o diálogo.” Diversidade de vozes Torna-se essencial dar voz a múltiplas opiniões e visões de mundo – tanto as oficiais e acadêmicas, como as populares e anônimas. “A gente não escuta só o saber reconhecido dos graduados. A gente vai atrás dos saberes geralmente não valorizados, das pessoas comuns”, explica Mayra. Em outras palavras, o projeto não busca uma fonte com um suposto saber autorizado e exclusivo para falar sobre um assunto, que dá a palavra final. “Se é para falar sobre alimentação, não precisa ser só a nutricionista, pode chamar alguém da Pastoral da Criança ou mesmo uma mãe”, conta. Produção de saberes Cada pessoa é reconhecida como produtora e detentora de saberes próprios. Mayra exemplifica: “Não nos colocamos como ‘profissionais formados da capital’ que estão indo ensinar. Ao contrário, a gente também aprende muito com os radialistas. Muitas vezes eles nem estudaram rádio-jornalismo, mas têm uma prática muito boa. A gente chega lá e vê como eles são importantes para aquele município. O mesmo acontece com as famílias. Você percebe que são pessoas sábias, sejam alfabetizadas ou não, tenham instrução ou não. A nossa postura é de respeito.” 27
Convivência com o semi-árido O semi-árido é assumido como cenário sócio-político-cultural-ambiental do projeto. Ele não é entendido como uma realidade fatalmente negativa. Por décadas, o êxodo foi encarado como a única perspectiva de mudança para a população da região, mas nos últimos anos afirma-se justamente o contrário: é possível e viável construir uma vida digna no semi-árido. A equipe da Catavento comunga dessa convicção e também ressalta que não é uma realidade homogênea. Inclui tanto o agreste pernambucano, como a zona da mata paraibana. No próprio Ceará há municípios no sertão, no litoral e na serra úmida. O semi-árido é plural e deve ser entendido na sua diversidade, sem estereótipos. Valorização da cultura local Para buscar caminhos de desenvolvimento sustentável para o semi-árido, tornase essencial valorizar a cultura e história locais, além das tecnologias e métodos alternativos de produção. É nessa perspectiva que a Catavento se relaciona com as famílias e os radialistas, aprendendo a ouvir o diverso, respeitando e valorizando sua forma de se comunicar, olhar o mundo e sobreviver.
“Se você observar, as ações do projeto são muito simples. Conversar com um grupo de famílias, fazer uma oficina para radialistas, produzir os programas... são coisas simples. O diferencial é como essas atividades acontecem.” Edgard, coordenador da Catavento
A EQUIPE A equipe que dá vida ao Comunicando Saberes, Realizando Sonhos compõe-se essencialmente por três pessoas: um coordenador, um jornalista e um estagiário. Com os apoios estratégico, técnico e administrativo da organização, esse grupo é um núcleo coeso que compartilha trajetórias de vida e visões de mundo parecidas. Com raízes familiares no interior cearense, convergem na paixão pelo rádio e no compromisso com a justiça social. Na primeira fase, o coordenador foi Edgard Patrício de Almeida Filho, um dos fundadores e atual diretor da Catavento, Maria Renata Soares do Nascimento ocupou a função de jornalista, e Mayra Pontes Coutinho, a de estagiária. Na segunda fase, Renata assumiu a coordenação, e Mayra passou à função de jornalista. Na terceira fase, foi a vez de Mayra tornar-se coordenadora, acolhendo Luciana Chagas Machado como jornalista. O desenho da equipe tem sido repensado continuamente. Composta basicamente por jornalistas – profissionais ou em formação –, a equipe tende a se abrir para profissionais de outras áreas. Em diferentes projetos, a Catavento tem fortalecido o viés pedagógico de sua intervenção, tanto no planejamento quanto na execução e avaliação das atividades com o público. No caso do Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, a inserção de um pedagogo e um psicólogo ajudaria a melhorar a dinâmica com as famílias e com os radialistas e a intensificar a troca de saberes. 28
Outro desafio interno da instituição relacionado à atuação das equipes é a busca de uma maior integração entre os projetos da própria Catavento. Diferentes equipes lidam com a temática dos direitos da criança e com a produção de programas de rádio. Estas já iniciaram ações de aproximação para trocar experiências e potencializar suas ações, como, por exemplo, a realização de um seminário regional que reuniu radialistas e conselheiros – públicos-alvo de dois diferentes projetos. Entretanto, é apontada a necessidade de uma integração mais sistemática para garantir a otimização de recursos e a ampliação de resultados.
QUEM SOMOS “Sou Edgard Patrício de Almeida Filho. Nasci em 16 de abril de 1965. Minha família é de Madalena, que antes era distrito de Quixeramobim. Vim para Fortaleza com 7 anos por causa do estudo. E aqui em Fortaleza ficavam apenas os filhos. Éramos 14 irmãos. A gente compreendeu muito cedo que tinha que se virar um pouco sozinho e que papai e mamãe faziam grande sacrifício para manter a gente aqui em Fortaleza. Minha mãe era dona de casa e papai trabalhava em agricultura e pecuária. Em 1985, eu entrei na universidade. Era o boom da computação, eu fui me influenciando e fiz Computação. Ao mesmo tempo, eu escrevia e as pessoas gostavam. Então eu comecei a colaborar com um jornal lá de Quixeramobim. Saí da Computação, passei um ano trabalhando na área e prestei vestibular para Comunicação. Comecei e realmente me identifiquei. Especialmente quando fiz a disciplina de rádio-jornalismo. Nessa época, nossa professora desenvolvia um trabalho junto às rádios comunitárias aqui em Fortaleza. Foi quando nasceu o programa Catavento e depois a ONG Catavento.” Um dos fundadores da ONG Catavento, Edgard participou da concepção e coordenação inicial do projeto. Participa da diretoria colegiada da organização.
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“Meu nome é Maria Renata Soares do Nascimento. Eu nasci em 11 de outubro de 1977, em Fortaleza, de uma família de quatro irmãos. Sempre gostei de escrever, sempre fui boa em redação e as pessoas diziam: ´Vai ser jornalista quando crescer´. Mas no dia de fazer o vestibular eu estava decidida a fazer Engenharia Civil, não tinha nada a ver com Comunicação. E aí, de última hora, eu mudei de idéia e marquei o número 12, que era o código do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará. Aí, pronto, de lá para cá resolvi assumir a profissão. Me formei em 1999, e um dos meus primeiros empregos foi na Assessoria de Imprensa da Secretaria de Recursos Hídricos do Governo do Estado, e lá eu estava lendo o jornal e vi uma matéria sobre o Programa 1 Milhão de Cisternas Rurais, que tinha a participação da Catavento. Fiquei apaixonada pelo programa. Meus avós moram no interior do Ceará, eu passei minha infância e minhas férias inteiras com eles, em Itapipoca, região norte. Um lugar sem energia, que tinha que puxar água pra tomar banho... Então, a possibilidade de trabalhar na região, focalizando a convivência com o semi-árido me tocou muito. E fui atrás.” Renata começou no projeto na função de jornalista e passou a coordenadora na segunda fase. Em 2004, deixou o projeto para ser a jornalista responsável pela participação da Catavento na Rede Andi. Faz parte da diretoria colegiada da organização.
“Meu nome é Mayra Pontes Coutinho. Nasci em 23 de março de 1981, em Fortaleza. Meus pais são do interior. Meu pai é de Independência e minha mãe é de São Benedito. Na época do vestibular, queria História, pensei também em Direito, mas fui pra Comunicação. O período da faculdade foi muito bom, mas só me identifiquei pra valer com o curso quando descobri o rádio. O rádio era muito mais vivo, com mais interação com o público.” Mayra entrou no projeto como estagiária, passou ao cargo de jornalista na segunda fase e, na fase seguinte, assumiu a coordenação. Hoje participa da diretoria colegiada da organização.
“Meu nome é Luciana Chagas Machado. Eu tenho 22 anos. Eu nasci em Fortaleza, em 23 de novembro. Minha família é toda do Ceará. Minha mãe é de Limoeiro do Norte, município que ainda não conheci. Meu pai é da capital. Eu estou me formando na Universidade Federal do Ceará, no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Eu adoro rádio. Sem querer eu me vi no final da faculdade tendo feito todas as cadeiras de rádio, me vi de repente trabalhando numa rádio também. Acho que é porque o rádio é um veículo de alcance muito grande, passa informação de uma forma rápida, direta.” Luciana é estudante de Comunicação e integrou a equipe do projeto na sua terceira fase.
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EQUIPE BÁSICA • Coordenador – Produção e locução do programa Conversa em Família, produção dos spots, produção do jornal Sintonia Criança, produção e facilitação das oficinas com os radialistas e das reuniões com as famílias, gravação de CDs e articulação por telefone das rádios participantes do projeto. O coordenador também tem a função de acompanhar a parte financeira do projeto, por meio da definição e monitoramento dos gastos e produção de relatórios. O coordenador é o responsável pela prestação de contas junto ao financiador. Formação: jornalista. Dedicação: 5 horas/dia. • Jornalista – Desempenha as mesmas funções do coordenador, excetuando a parte relacionada aos recursos financeiros. Formação: jornalista. Dedicação: 5 horas/dia. • Estagiário – Auxilia na produção e distribuição do programa Conversa em Família e do jornal Sintonia Criança, bem como na organização dos encontros e oficinas. Formação: estudante de Jornalismo. Dedicação: 4 horas/dia.
ESTRUTURA NECESSÁRIA • 2 a 3 computadores ligados à Internet – para a produção de textos, pesquisa de informações e troca de e-mails/ • Gravador de CDs – para reproduzir CDs com programas • Impressora – para preparar etiquetas, roteiros, material para oficinas • Linha telefônica – para agendar os encontros e articulação dos radialistas e realização das entrevistas com especialistas • Gravador portátil – para registrar as entrevistas • Câmara fotográfica – para registrar as atividades • Estúdio de áudio completo – para gravar e editar os produtos
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Linha de ação 1 : Encontros com as famílias AS FAMÍLIAS As famílias participantes do projeto espelham a população geral do semi-árido brasileiro. Em nenhum momento foi levantado pela Catavento o perfil específico do grupo envolvido, mas segundo Edgard: “Esse perfil já está muito interiorizado na equipe por termos trabalhado no Programa 1 Milhão de Cisternas Rurais, quando tivemos acesso a pesquisas e estatísticas sobre o perfil da população do semi-árido como um todo. E temos nossa história familiar pessoal, que nos permitiu conhecer essa realidade de perto.” A luta pela sobrevivência marca o cotidiano dos moradores. Apesar de não ser regra, há muitas famílias numerosas, em que a mulher desempenha um papel essencial. “A figura da mulher é muito forte. São elas que criam os filhos, que movem as famílias. São mulheres guerreiras. Muitas vezes, criam sete, oito filhos, sozinhas, pois os maridos foram para a capital e não voltaram mais”, conta Renata. No sustento da família, os idosos também desempenham um papel importante, pois não raramente a aposentadoria (como agricultores) é a única renda garantida na casa. Alguns recebem salário como funcionário público e outros poucos, do comércio. Muitos ainda vivem da agricultura. Renata diz que, às vezes, a pessoa rica da cidade é agente de saúde, que recebe um saláriomínimo. “É considerada rica porque no final do mês tem aquele dinheiro certo, o que é uma coisa rara”, conta. Este é, talvez, o maior desafio estrutural do projeto, e que pouco depende da ação exclusiva da Catavento: o enfrentamento da miséria. O fortalecimento das competências familiares não caminha separado das competências municipais e da realidade sócio-econômica da comunidade. Nas palavras de Renata: “O café da manhã das crianças era café com farinha de água. E quando não tinha café, eles bebiam água e pronto. Então a gente ficou se questionando se a pessoa vai prestar atenção naquilo que a gente estava falando no rádio se ela está morrendo de fome.” E continua: “Num dos encontros com as famílias, perguntamos: – Qual seu maior sonho? E uma das mães disse: – Eu queria ser assalariada. É gente muito pobre, e que às vezes quer muito pouco. A gente ficou se perguntando de que forma a gente vai contribuir.” A troca de saberes, portanto, precisa vir aliada a programas contínuos de geração de renda e trabalho para as famílias.
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OS ENCONTROS O projeto começa com a definição dos municípios cujas emissoras serão envolvidas pela equipe em cada fase. Nem todos os municípios são visitados. Mas, onde ocorre a visita, são organizados – em parceria com as secretarias municipais de saúde – encontros com as famílias moradoras do local. As famílias, juntamente com os radialistas, despontam como personagens centrais do projeto. Além de serem o público principal dos programas de rádio produzidos, são fontes valiosas da programação. Em média, de 10 a 12 mães, pais, avós, avôs, tias, tios e gestantes moradoras do local, além de agentes de saúde, são convidados a conversar e refletir sobre suas práticas na atenção às crianças na primeira infância. Na composição do grupo, a equipe da Catavento depara-se com um desafio sociocultural bastante enraizado nas comunidades, para o qual ainda não encontrou solução: a pouca participação masculina. Apesar de insistir no convite amplo para pais, avôs e tios, a equipe ainda não consegue garantir a voz masculina nos programas da mesma forma que acontece com as mães, tias e avós. O encontro tem a duração de duas horas e acontece em espaços públicos (geralmente, um posto de saúde ou uma escola) do município ou distrito rural. A conversa é registrada em áudio e aproveitada no programa de rádio Conversa em Família, produzido pela organização. Confirmada a parceria de transmissão com a rádio local, as famílias têm a chance de ouvir o resultado na programação da emissora.
OBJETIVOS • Fortalecer as competências familiares dos participantes, estimulando-os a perceber sua participação cotidiana no desenvolvimento dos filhos. • Promover a troca de saberes entre os participantes, que falam, ouvem e refletem sobre as práticas uns dos outros. • Dar voz à comunidade no rádio, garantindo a participação das famílias no programa Conversa em Família, bem como nos spots.
METODOLOGIA 1. Definição de logística para viagens Com base na lista de municípios contemplados em cada fase, a equipe desenha a agenda das viagens. O primeiro passo é escolher os municípios de posição mais central e com mais fácil acesso de ônibus. Nessas cidades, acontecem os encontros com as famílias moradoras no local e as oficinas com os radialistas dali e de cidades vizinhas. 2. Convite por meio das agentes de saúde A equipe telefona para a secretaria de saúde do município, procura falar com o secretário ou a secretária e pede para que a secretaria entre em contato com as agentes de saúde do Programa de Saúde da Família (PSF), porque são elas que conhecem as famílias. Os municípios geralmente já participam do projeto do Unicef e muitas vezes já receberam a formação da secretaria da saúde. A receptividade, portanto, costuma ser muito boa. São propostos dois encontros
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– um pela manhã e outro pela tarde – com 10 a 12 pessoas atendidas pelo PSF, de duas comunidades diferentes. Pede-se que sejam convidados adultos de diferentes famílias.
3. Dinâmica de conversa O encontro com as famílias não é uma oficina: é uma conversa. Normalmente, vão ao encontro as mulheres da família – mães, avós e tias. O marido costuma estar na roça, e a participação masculina fica por conta dos avôs aposentados. Reunido o grupo, sempre que o espaço permite, é formada uma roda. A conversa começa com uma apresentação da equipe, explicando o motivo do encontro, o que são o projeto e o programa de rádio. É ressaltada a idéia de que todo mundo tem um saber próprio e que esse saber pode servir para outras pessoas refletirem sobre suas práticas com as crianças. Em cada encontro, são abordados de cinco a seis tópicos ligados ao tema das competências familiares, como certidão de nascimento, brincadeira, deficiência física, alimentação, vacinas, amamentação. A equipe leva um roteiro com questões-chave a serem propostas de cada tópico, mas fica sempre atenta aos assuntos trazidos pelo grupo.
4. Abertura para discussão A equipe provoca a discussão e fica no papel de mediadora. Nestes momentos, é comum os relatos das mães mais experientes serem acompanhados com atenção pelas mães de “primeira viagem”. Diante das colocações, a equipe convida os demais a concordar ou discordar. Aproveita um ponto importante e pergunta: – Vocês acham que isso é importante? Em nenhum momento, a equipe diz que uma postura está errada. Ela estimula a discussão e deixa as outras mães se posicionarem e até se contraporem. A divergência de opiniões entre os participantes do grupo permite a reflexão.
Check-list para os encontros • Contato com a secretaria de saúde do município para o oferecimento de um espaço para a realização das reuniões e para a mobilização das famílias participantes • Gravador, fitas e pilhas • Máquina e filme fotográfico • Passagens de ônibus • Reserva em pousada • Roteiro para conversa
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Voz da Comunidade - Alguma de vocês já tinha participado de um programa de rádio? - Não, nunca. - Vocês acham que isso que a gente conversou é assunto para rádio? - Com certeza. - Vocês ouvem bastante rádio? - Sou ligada direto, todo dia. - Às vezes, nem sempre. - E vocês ouvem as famílias falando no rádio? Vocês têm espaço pra se expressar no rádio? - Não! - Quem vocês acham que pode falar sobre isso? É só o especialista, o médico? - Eu não sou doutora, mas acho que todas nós podemos falar, dar opinião e dizer o que é importante. Conversa da equipe da Catavento com famílias em São Gonçalo do Amarante, em setembro de 2004.
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Linha de ação 2: Sensibilização e articulação dos radialistas Os radialistas são considerados os mais importantes protagonistas do projeto. Eles são o público das oficinas de sensibilização, colaboradores dos programas produzidos e, principalmente, os multiplicadores permanentes da temática das competências familiares nas ondas do rádio. O ponto de partida é o mapeamento das emissoras e radialistas da região abordada e o convite para participar da oficina de sensibilização. Terminada a atividade, a Catavento tenta se manter como articulador do grupo, telefonando, perguntando, fazendo circular informações. Os radialistas participam enviando reportagens para o programa Conversa em Família, os quais passam a receber semanalmente para transmitir em suas emissoras. O material produzido pelos radialistas faz parte do Concurso de Matérias. Em paralelo, os radialistas recebem o Sintonia Criança, boletim impresso mensal, com notícias do projeto e da temática. Para os participantes da primeira e da segunda fase do projeto, também foi distribuída a Cartilha para Radialistas. Na terceira fase, por sua vez, foi organizado um seminário regional em Fortaleza com todos os envolvidos. Em síntese, a abordagem junto ao grupo acontece por meio das seguintes ações: Realização de Oficina de Sensibilização Produção dos spots e programas de rádio Produção do boletim Sintonia Criança Produção da Cartilha para Radialistas Realização do Concurso de Matérias Realização de seminário com os radialistas Apesar da diversidade e criatividade de ações, vale apontar desafios reconhecidos pela Catavento, apesar de sua superação não depender apenas da equipe, mas também das emissoras e dos próprios profissionais. Nas três fases, por exemplo, conquistou-se o envolvimento pessoal dos radialistas, que criaram vínculo com a equipe do projeto e compromisso com a temática das competências. No entanto, falta avançar na articulação dos radialistas entre si, com iniciativas de troca e parcerias entre o próprio grupo. O objetivo é que haja a formação de uma rede de radialistas pela infância no Ceará, na qual a Catavento reconhece seu papel de catalisador. Dois passos podem ser dados nessa direção: dar continuidade à formação dos radialistas e iniciar a discussão sobre a rede com o próprio grupo. 39
OS RADIALISTAS Como no caso das famílias envolvidas no projeto, ainda não foi realizada pela equipe uma pesquisa específica sobre o perfil dos radialistas, e também faltam levantamentos acadêmicos ou oficiais sobre o grupo. Revela-se, entretanto, um retrato desenhado a partir da observação das comunidades e do diálogo com os próprios profissionais. Na maioria, os radialistas são homens, de várias idades. Alguns bem jovens, outros com mais de 60 anos. Raros possuem diploma universitário. Muitos não têm nem mesmo o ensino médio completo. A maioria trabalha em emissoras pequenas, com estrutura precária – sem gravador, linha telefônica ou acesso à Internet. Várias dessas emissoras são comunitárias, nem todas legalizadas. Apesar dos baixos salários, alguns sobrevivem da profissão, enquanto outros a conciliam com funções como professor ou funcionário público municipal. Quando começam no rádio, raramente largam. Vão de cidade em cidade, abrindo emissoras, participando de diferentes projetos. Eles se tornam referência na sua comunidade, sendo reconhecidos na rua, admirados pelos jovens, procurados quando há problemas. Gostam muito do que fazem e desenvolvem, de um jeito ou de outro, o sentido social do seu trabalho.
AUTO-RETRATO Impactos do projeto na voz dos radialistas. “Meu nome é Geraldo Tabosa Filho, nascido no dia 26 de janeiro de 1963, em Fortaleza, capital do Ceará. Eu era professor de Educação Física, mas como havia muitas dificuldades para desenvolver a minha profissão no interior, surgiu o rádio e decidi levar adiante. Eu fiz o curso da Universidade do Vale do Acaraú, numa parceria com o Sindicato dos Radialistas. Me sindicalizei e exerço essa profissão há 13 anos. Hoje eu tenho um programa na rádio Guanacés AM e dirijo uma rádio comunitária ligada a uma associação de moradores do bairro de Bela Vista. Somos campeões de audiência dentro da cidade.” “A primeira lição que tive no curso de rádio foi que, a partir do momento em que falo num microfone, eu passo a fazer parte da família de quem me escuta. E como posso tratar com desdém a quem eu quero bem? Sem o ouvinte, eu não sou nada. Quem me escuta é a razão de ser do meu trabalho. A gente tem que ter o cuidado de ser educador, evangelizador, formador de opinião. Caso contrário, não compensa a despesa com energia ou com a pilha de quem está ouvindo a gente. Acho que o papel do radialista é ser o grande companheiro do ouvinte.” Geraldo trabalha na Rádio Bela Vista FM, de Itapajé “Sou Francinaldo de Souza, conhecido como França Júnior. Nasci em 11 de março de 1971, em Campina Grande, Paraíba. Hoje eu moro em Paracuru, no interior do Ceará. Em novembro de 2004, vou fazer 16 anos trabalhando em rádio. Ainda adolescente, quando conseguia captar um sinal de uma rádio – principalmente de uma rádio FM –, me sentia maravilhado. Foi aumentando minha paixão e, de repente, pintou a oportunidade. Nunca fiz curso de radialista, nem tenho curso superior. A minha formação é só o segundo grau.”
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“Do meu ponto de vista, o que faz com que as rádios pequenas do interior tenham a simpatia, a audiência da população é esta se sentir representada. Sente que alguém está falando por ela. O rádio tem que exercer seu papel social. Lógico que ele tem que se auto-sustentar, mas ele tem principalmente que executar o papel social de cobrar, esclarecer, reivindicar, direcionar, educar.” França Júnior dirige a Rádio Mar Azul FM, de Paracuru “Sou Geann Duarte, tenho 27 anos, trabalho desde 1993 com rádio. Nasci em Fortaleza, mas logo fui para Paraipaba, onde moro até hoje. Vim de uma família de pai agrônomo e mãe dona de casa. Em 1995, eu fiz o curso de rádio-jornalismo no Sindicato, fiz também um curso para locutor e outro para operador. Tenho também curso básico de inglês, além de conhecimentos de dicção, impostação de voz e técnica de microfone. Hoje estou como diretor de programação da 94 FM de São Gonçalo, além de um estúdio de gravação onde produzo material político, propagandas para carro de som... Faço também parte da Associação de Artistas de Paraipaba.” Geann trabalha na Rádio 94 FM, de São Gonçalo do Amarante “Meu nome completo é Francisco Henes Ferreira Cunha. Sou natural de Crateús, região central do estado do Ceará. Só vim a nascer lá, pois passei minha infância e minha adolescência em Nova Russos. A minha família não é de radialistas. Meu pai é fazendeiro, e minha mãe professora. Comecei no rádio quase que por acaso. Quando concluí o ensino médio, surgiu uma oportunidade e fui aprovado. Comecei na recepção, depois passei para o laboratório da emissora pra fazer um trabalho de voz, dicção, leitura... Então comecei a apresentar um programa de madrugada até ganhar um programa pra fazer à tarde. Fiz curso de radialismo no Sindicato. Em 1999, comecei a faculdade de Matemática, em Sobral, e concluí em 2003, mas nunca deixei o rádio.” “Cada vez mais, tenho a consciência de que eu desempenho um papel importante como um simples comunicador, trabalhando numa simples emissora de rádio, num município simples também, pequeno, pobre. Eu tenho um papel grandioso. Eu tenho acesso a outros veículos – jornais, TV, Internet – e consigo passar pra essas pessoas através de um microfone. O rádio chega onde nenhum outro veículo consegue chegar. O acesso ao rádio é muito simples, muito barato e todo mundo consegue.” Ferreira Cunha trabalha na Rádio Cultura AM, de Pararucu “Eu queria aqui falar sobre minha pessoa, José Valderico Carneiro Nunes, conhecido como Derico Nunes. Sou filho de São Luís do Curu. Nascido filho de agricultor, graças a Deus. Trabalho na FM 104,9 Liberdade. Tenho 50 anos, e o rádio apareceu em minha vida de repente. Há mais de dez anos, fui convidado pra trabalhar na 101. Faço esse trabalho sem nenhum retorno financeiro, apenas contribuindo pra minha cidade. Eu sou diretor de esporte do município, eu faço parte do Fundef, sou membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável, da Associação do Meio Ambiente do meu município e outros órgãos. A gente se orgulha de ser cidadão curuense. Eu me sinto uma pessoa responsável pelo desenvolvimento do meu município e gosto de trabalhar com a criança, o adolescente e a família.” Derico Nunes atua na Rádio FM Liberdade, de São Luís do Curu
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OFICINA DE SENSIBILIZAÇÃO O QUE É Definiu-se como ação primordial criar um espaço de encontro e troca presencial com os radialistas sobre as competências familiares e o desenvolvimento infantil. Pensou-se, assim, em oficinas, com seis horas de duração, sempre aos sábados. A estratégia deu certo. As oficinas tornaram-se um momento privilegiado de sensibilização para o tema e construção de vínculo com a equipe. São convidados a participar os radialistas de emissoras comunitárias ou comerciais da região. O convite é feito por telefone pela própria equipe da Catavento, que mapeia as emissoras e seus profissionais. Em média, participam dez radialistas, na maioria homens.
OBJETIVOS • Despertar os radialistas para a temática das competências familiares, chamando sua atenção para práticas e saberes que já fazem parte do cotidiano da sua própria família e dos ouvintes. • Estimular a inclusão da temática das competências familiares e a valorização da voz da comunidade na programação rotineira das emissoras. • Estimular a participação dos radialistas na formatação e na produção de conteúdo do programa Conversa em Família, incluindo o envio de sugestões, críticas e matérias. • Valorizar o papel social do radialista e fortalecer seu compromisso com a temática da infância. • Promover o encontro e a troca de informações entre os radialistas e despertar sua percepção como partes de uma rede de profissionais.
METODOLOGIA Definição de logística para viagens É a mesma dos encontros com as famílias. Sensibilização da diretoria da emissora O contato inicial da Catavento é com a diretoria da emissora. Por telefone, a conversa começa com apresentação do projeto, destacando o nome do Unicef, que já é uma referência forte entre as emissoras da região por conta de outros trabalhos realizados pela instituição, em especial a campanha Criança Esperança. Para sensibilizar o diretor, é ressaltado que o município está participando do projeto por ter um dos menores IDH do estado, que a conquista de uma melhor qualidade de vida para as crianças é uma responsabilidade de todos, e que o rádio tem uma função muito importante nesse processo. Nesse momento, além de propor que os radialistas da casa participem da oficina (sendo liberados de um dia de trabalho), a Catavento convida a emissora a veicular gratuitamente o material produzido pelo projeto – spots e edições semanais do Conversa em Família. 42
Contato pessoal com o radialista Dado o sinal verde pela diretoria da emissora, a equipe busca construir um vínculo direto com o radialista. Telefona para o estúdio ou até mesmo para sua casa e confirma sua presença. Para garantir a participação, é oferecida uma ajuda de custo para o transporte, além de almoço e lanche. Encontro presencial Em vez de apenas telefonar e enviar material pelo correio para o radialista, a equipe aposta no encontro presencial como base fundamental para estabelecer o vínculo e garantir um compromisso mais consciente e participativo com a temática. Valorização da profissão A oficina começa com uma rodada de apresentação da equipe, do projeto e de todos os participantes. Em seguida, a primeira questão proposta diz respeito à profissão: O que é ser radialista no semi-árido? Em grupos, discutem as dificuldades, responsabilidades e potencialidades da sua atuação. Escolhem, então, diferentes formatos (a maioria opta por reportagem ou encenação teatral) para dividirem a discussão com todos. O intuito é promover um primeiro entrosamento entre os participantes, além de despertar cada um para a relevância de seu trabalho. Desde o início, busca-se valorizar o que fazem, demonstrar que são os protagonistas do processo e que não estão na oficina para “aprender”, e sim para trocar.
Sensibilização pessoal para as competências O tema seguinte é o das competências familiares e municipais e os direitos das crianças e adolescentes. É distribuído material impresso com a lista de competências, mas o formato não é de “aula”. Em vez de transmitir informações, busca-se despertar novos entendimentos a partir de situações já vivenciadas no cotidiano do grupo. É um simples “descortinar”, um ajudar a perceber, ligando o conceito de competências, que pode ser novo, com práticas já conhecidas do grupo. Inicialmente, a discussão era focada no profissional diante do microfone, mas logo a equipe percebeu que era necessário abordar também seu papel de pai, tio, irmão. Desta forma, o tema das competências ganhou vida, e o profissional é tocado de forma mais marcante, provocando a mudança de postura necessária.
Partindo para a prática O passo seguinte é um exercício de como incorporar a temática das competências no dia-a-dia do rádio. Cada grupo lê um bloco da lista de competências e escolhe a mais interessante. Juntos, os participantes escolhem um formato, que pode ser entrevista, reportagem ou comentário e o encenam, mostrando como a competência escolhida seria abordada. Terminadas as apresentações, todos analisam conjuntamente as produções. Essa atividade foi a alternativa encontrada pela equipe para que os radialistas pudessem descobrir diferentes caminhos de inserção da temática em seus programas, independentemente de qual tipo fosse. A oficina foi importante, pois ajudou-os a perceber como podem falar das competências familiares em programas de naturezas tão diversas, como esportivo, político ou até mesmo policial.
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Também é no momento da oficina que a produção do programa Conversa em Família é compartilhada com os radialistas. “Não queremos que ele seja parceiro apenas na transmissão do programa, mas também na sua produção”, diz Renata. Todos são estimulados, ao voltar às suas emissoras, a produzir e enviar para a Catavento matérias sobre a temática. Recebidas pela equipe da organização, elas são editadas e incluídas no Conversa em Família.
“Precisamos de uma mudança de postura do radialista. Não adianta nada ele falar bem no microfone, mas sair pra rua e agredir uma criança. Ou chegar em casa e maltratar o filho .” Renata “Um radialista com três filhos pode falar de competências familiares com mais propriedade do que nós. Apenas ajudamos a ´cair a ficha´ .” Renata “A oficina não é uma aula, com a gente na frente de um quadro negro, ensinando algo. É, sim, uma roda, uma conversa.” Mayra
Check-list das oficinas com radialistas • Contato telefônico com a secretaria de saúde municipal para disponibilizar um espaço para a realização da oficina • Convite por telefone para que dois ou três representantes de cada rádio participem da oficina • Material para oficina (pastas com lista de competências, apresentação da ONG Catavento, resumo do projeto, papel e canetas) • Gravador, fitas e pilhas • Máquina e filme fotográfico • Passagens de ônibus e reserva em pousada • Lanche para os radialistas e reserva de restaurante para almoço com o grupo
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CONCURSO DE MATÉRIAS A proposta de um concurso de matérias radiofônicas sobre as competências familiares e municipais surgiu logo na primeira fase do projeto – e repetiu-se na terceira fase. O intuito foi identificar e premiar o radialista que mais se empenhou na produção de matérias enviadas para a Catavento e veiculadas no programa Conversa em Família, sobre o tema “desenvolvimento infantil”. Os trabalhos foram avaliados por uma banca julgadora formada por Kátia Patrocínio (professora da disciplina de rádio nas Faculdades Nordeste – Fanor e nas Faculdades Integradas do Ceará – FIC), Rosane Nunes (jornalista, especialista em assessoria de imprensa e professora da disciplina de rádio da Universidade Federal do Ceará) e Tati Andrade (oficial de projetos do Unicef ). Foram observados os seguintes critérios: conteúdo da matéria, abordagem, qualidade da produção e diversidade de fontes. O primeiro colocado recebeu R$ 500, o segundo, R$ 300, e o terceiro, R$ 200. Na sua primeira edição, o grande vencedor foi Rogilson Oliveira Brandão, da Rádio São Pedro, de Tejuçuoca. Na segunda, foi a vez de Agneton Matos, da Rádio Cariús FM, de Cariús.
MATÉRIA PREMIADA “O concurso da segunda fase teve como ganhador o radialista Rogilson Oliveira Brandão, do município de Tejuçuoca. Ele enviou uma matéria apresentando um projeto da prefeitura no qual um morador da comunidade construiu uma carroça, encheu-a de livros, papel, lápis, canetinha, pôs um bode pra puxar e vai toda quinta-feira à tarde para a praça da matriz. Aí as crianças vão pegar os livros, ler, brincar... E tem uma equipe que fica animando, organizando a atividade. Com esse projeto, a freqüência da biblioteca do município aumentou e a evasão escolar diminuiu! Ele entrevistou a coordenadora do projeto, conversou com uma das crianças. A matéria estava grande, mas muito boa. Então, a gente cortou em blocos, foi intercalando com o restante do programa e pôs ela inteira no ar”, Renata.
CARTILHA PARA RADIALISTAS As atividades da primeira fase incluíram a produção, pela equipe da Catavento, de um material de apoio dirigido aos radialistas envolvidos no projeto, a fim de fixar e ampliar os conteúdos apresentados na oficina. Por opção da equipe, a Cartilha para Radialistas ficou pronta apenas no final da primeira fase, sendo distribuída no início da fase seguinte para as duas turmas de participantes. “A gente não queria chegar com a cartilha pronta”, justifica Edgard. “Queríamos que ela fosse construída a partir do processo das oficinas com os radialistas, afinal são eles que difundem a temática das competências familiares através do rádio”, afirma. Com tiragem de 200 exemplares e um projeto gráfico atraente, a cartilha esclarece o conceito de competências, traz depoimentos dos radialistas sobre o dia-a-dia profissional e o papel social do comunicador, além de variados exemplos e sugestões levantadas pelos próprios radialistas de como inserir a temática das competências familiares nos diferentes tipos de programação das rádios. 45
BOLETIM SINTONIA CRIANÇA Na segunda fase do Comunicando Saberes, surgiu o boletim impresso Sintonia Criança com o objetivo de contribuir com a articulação entre os radialistas participantes. Além de manter a temática em pauta e fazer circular informações sobre o projeto, o boletim busca que os participantes se reconheçam como parte de um mesmo desafio. A idéia inicial era que os próprios radialistas mandassem textos, artigos, matérias, mensagens de um município para o outro, e a equipe da Catavento apenas organizasse e publicasse essa produção. Mas, no decorrer do projeto, a equipe preferiu priorizar o envio de matérias para o programa de rádio e acabou assumindo a apuração e a edição do material do boletim. Distribuído mensalmente, o informativo reúne notícias sobre o projeto, uma matéria especial sobre as competências familiares e municipais, curiosidades históricas sobre o rádio no país, depoimentos dos radialistas sobre o cotidiano e o papel social do profissional, além de informações sobre os direitos da infância. Com layout simples, impressão em preto e branco, numa folha frente e verso, o boletim é xerocado e enviado pelo correio para os radialistas.
Check-list para produção dos boletins • Escolha do tema principal (geralmente o mesmo utilizado em alguma edição do programa) • Produção de notas sobre o andamento do projeto e coleta de depoimentos dos radialistas participantes • Diagramação • Impressão ou xerox • Impressão de etiquetas • Distribuição pelo correio
SEMINÁRIO REGIONAL Entre as atividades da terceira fase do projeto, foi incluída a realização de um seminário regional com os radialistas sensibilizados em todas as fases. O evento foi uma iniciativa conjunta de dois projetos da Catavento: o Comunicando Saberes, Realizando Sonhos e o Bom Conselho a Gente Faz, reunindo radialistas e conselheiros tutelares. O I Seminário Conselheiros e Radialistas pelo Desenvolvimento Infantil aconteceu nos dias 16 e 17 de dezembro de 2004, na capital cearense. No total, 25 radialistas e 13 conselheiros tutelares de diferentes cidades do estado participaram das palestras, oficinas e plenárias sobre o
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tema do desenvolvimento infantil, os direitos das crianças e adolescentes e o papel dos conselhos tutelares. Todos receberam passagem e hospedagem para participar do evento. Além de trazer convidados para ampliar as reflexões, o seminário buscou criar momentos de troca de experiências entre os radialistas e fortalecer o vínculo do grupo com o projeto e o compromisso com a temática da infância. No último dia do seminário, foram formadas equipes de trabalho mistas, reunindo conselheiros e radialistas, para que fossem pensadas estratégias de colaboração mútua. Entre outras propostas, vale destacar: • Inclusão do tema dos conselhos na programação realizada pelo radialista, esclarecendo os ouvintes sobre o que é o conselho tutelar, suas atribuições, suas dificuldades, seu trabalho do dia-a-dia. • Divulgação no rádio das ocorrências envolvendo as crianças e os adolescentes do município. • Realização de debates no rádio com autoridades competentes. • Envolvimento dos radialistas nas mediações realizadas pelos conselhos junto aos demais atores locais. • Promoção de palestras pelos conselheiros em escolas e comunidades e sua transmissão pelos radialistas, mobilizando a sociedade.
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Linha de ação 3: Produção de programas para o rádio SPOTS Som de neném chorando Radioator: - OLHE DONA RITA, ACABA DE NASCER A MAIS NOVA CIDADÃ DA CIDADE DE SERRA AZUL DO SUL. E É MINHA FILHA! Radioatriz: - ELA É LINDA, SEU JAIME! JÁ TEM NOME? Radioator: - TEM ATÉ SOBRENOME! É MARIA ALICE SILVA DOS SANTOS. AMANHÃ EU VOU NO CARTÓRIO REGISTRAR MINHA CAÇULA. VOU GARANTIR LOGO A CERTIDÃO DELA, PRA NUM ACONTECER O QUE ACONTECEU COM O ZEZINHO. ELE QUASE PERDE A MATRÍCULA NA ESCOLA, PORQUE NUM TINHA A CERTIDÃO. Vinheta de passagem Locutora: - GARANTIR A CERTIDÃO DE NASCIMENTO GRATUITA PARA A CRIANÇA, NOS PRIMEIROS DIAS DE VIDA. ISSO É COMPETÊNCIA FAMILIAR. Vinheta de encerramento Locutora: - PROJETO COMUNICANDO SABERES, REALIZANDO SONHOS: O RÁDIO NO FORTALECIMENTO DAS COMPETÊNCIAS FAMILIARES. REALIZAÇÃO: UNICEF, SECRETARIAS DE SAÚDE E EDUCAÇÃO DO ESTADO E ONG CATAVENTO, COM O APOIO DESTA EMISSORA. (Fim) 49
O QUE É Formato comum na programação do rádio, o spot é uma locução curta, com mensagem objetiva, muito usado nas campanhas publicitárias e educativas. Já na primeira fase, o primeiro produto radiofônico do projeto foi uma série de 38 spots, cada um com duração de um minuto e dedicado a uma competência familiar ou municipal. Na segunda fase, decidiu-se investir na produção do Conversa em Família e nenhum spot foi feito. Mas uma nova safra – com 16 edições – foi produzida na terceira fase do projeto. O roteiro, a gravação dos spots e a distribuição dos CDs às emissoras participantes do projeto são responsabilidades da equipe da Catavento. Cada emissora pode transmitir o material várias vezes durante a programação, sem horário determinado.
ROTEIRO • • • • • •
Vinheta* de abertura Trecho da entrevista ou radioteatro sobre a competência em foco Vinheta de passagem Locução anunciando a competência em foco Vinheta de encerramento Locução anunciando o nome do projeto, seus realizadores e apoiadores
* Vinheta é o termo técnico referente a uma gravação curta feita previamente para ser veiculada no meio de um programa. Ela pode conter apenas o nome da emissora, um trecho de música ou até uma pequena mensagem, ou chamada. Ela pode marcar o início de um programa, o final ou ainda fazer a passagem entre um bloco e outro de conteúdo.
LINGUAGEM Radioteatro Na primeira fase, os spots foram realizados no formato de radioteatro. “Radioteatro é uma dramatização de um fato real. Ao lado da radionovela ou telenovela, é uma das variações do drama – um gênero referência das matrizes culturais da América Latina –, também marcada pela oralidade”, explica Edgard. A partir da temática das competências, a equipe criou diferentes personagens, falas e situações cotidianas e contratou radioatores para interpretar as mensagens. “Chegava o ator e perguntava: – Esse personagem, como ele é? Alto, baixo? Novo, velho? Como ele se veste?”, conta Renata. “E a gente ia descrevendo... A imagem da personagem “Vó Dita” pra mim, por exemplo, era uma velhinha com aquelas blusas de manga comprida, como minha bisavó se vestia”, diz.
Voz das famílias Por sugestão dos radialistas, a segunda série de spots foi produzida a partir das falas das próprias famílias, gravadas durante os encontros nos municípios. O sucesso do quadro Trocando Saberes, do programa Conversa em Família, reforçou a nova opção. Para os spots, foram extraídos pequenos trechos dos depoimentos reais, seguindo o tema escolhido.
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Check-list para produção dos spots • Escolha do tema e leitura (livros, ceais e relatórios sobre a temática) • Produção do roteiro • Gravação da locução e edição no estúdio • Gravação das cópias para distribuição do programa • Produção de capas para os CDs • Impressão das etiquetas • Distribuição pelo correio
PROGRAMA DE RÁDIO CONVERSA EM FAMÍLIA Técnico MÚSICA INFANTIL
Locutora 1 OLÁ, PESSOAL! ESTAMOS DE VOLTA PARA CONVERSAR MAIS UM POUQUINHO SOBRE COMPETÊNCIAS FAMILIARES. Locutora 2 HOJE VAMOS FALAR SOBRE A IMPORTÂNCIA DE UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS. Técnico MÚSICA INFANTIL Locutora 1 TODO MUNDO JÁ SABE QUE O LEITE MATERNO DEVE SER O ÚNICO ALIMENTO DADO AO BEBÊ NOS PRIMEIROS SEIS MESES DE VIDA. Locutora 2 DEPOIS DESSA IDADE, OUTROS ALIMENTOS PODEM SER INCLUÍDOS, NÃO ESQUECENDO QUE A MAMA DEVE CONTINUAR ATÉ OS DOIS ANOS OU MAIS. Técnico Vinheta do projeto Locutora 1 A ALIMENTAÇÃO DAS CRIANÇAS NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA CONTRIBUI TANTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO CORPO COMO PARA O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL E PSICOLÓGICO. 51
Locutora 2 A MÉDICA PEDIATRA E SUPERVISORA DO PROGRAMA DA CRIANÇA, DO GOVERNO ESTADUAL, DOUTORA DIVA FERNANDES, FALA PRA GENTE AGORA SOBRE ALIMENTAÇÃO INFANTIL. Técnico Trechos da entrevista Locutora 1 O IDEAL SERIA QUE TODAS AS FAMÍLIAS TIVESSEM VARIEDADE DE ALIMENTOS PARA OFERECER ÀS CRIANÇAS. INFELIZMENTE, ESSA NÃO É A REALIDADE DE UM GRANDE NÚMERO DE FAMÍLIAS. Locutora 2 É O CASO DA IÊDA MARIA DE SOUZA, QUE TEM 33 ANOS E SETE FILHOS PARA CUIDAR. Técnico Trecho da fala das famílias Locutora 1 SABENDO DAS DIFICULDADES QUE MUITAS FAMÍLIAS ENFRENTAM PARA ALIMENTAR BEM AS CRIANÇAS, NÓS CONVERSAMOS COM A NUTRICIONISTA SUÊDA PINHEIRO. Locutora 2 A IÊDA VAI MOSTRAR PRA GENTE QUE É POSSÍVEL GARANTIR UMA ALIMENTAÇÃO MAIS RICA, VALORIZANDO OS ALIMENTOS DA REGIÃO E APROVEITANDO ESPAÇOS COMO O QUINTAL, QUE EM QUASE TODA CASA TEM. Técnico Trechos da entrevista Técnico Vinheta do projeto Intervalo
Locutora 2 O CONVERSA EM FAMÍLIA ESTÁ DE VOLTA. HOJE NOSSO ASSUNTO É ALIMENTAÇÃO INFANTIL. Locutora 1 QUANDO FALAMOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO, INCLUÍMOS, ALÉM DOS ITENS QUALIDADE E QUANTIDADE, OUTRAS PREOCUPAÇÕES. Locutora 2 É IMPORTANTE QUE PAIS E MÃES ESTABELEÇAM UMA DISCIPLINA ALIMENTAR, COM HORÁRIOS E LOCAIS FIXOS. ESTA DISCIPLINA VAI SER ESSENCIAL PARA QUE AS CRIANÇAS SE TORNEMADULTOS MAIS SADIOS. Locutora 1 O MOMENTO DAS REFEIÇÕES TAMBÉM É APROPRIADO PARA ESTREITAR OS LAÇOS FAMILIARES. PERGUNTAR COMO FOI O DIA DO FILHO, BRINCAR COM O BEBÊ. ESSA INTERAÇÃO ENTRE OS MEMBROS DA FAMÍLIA AUMENTA O AMOR-PRÓPRIO DA CRIANÇA. 52
Técnico Vinheta Locutora 2 A NUTRICIONISTA SUÊDA PINHEIRO ENSINA AGORA PRA GENTE COMO APROVEITAR MELHOR ALGUNS ALIMENTOS MUITO ENCONTRADOS NO CEARÁ. Técnico Trechos da entrevista Locutora 1 A NUTRICIONISTA SUÊDA FALOU, A GENTE DEVE APROVEITAR MAIS OS ALIMENTOS SIMPLES, COMO O JERIMUM, A BANANA E TODOS OS OUTROS QUE COMEMOS DIARIAMENTE. Locutora 2 PARA SABER COMO É A REALIDADE DAS FAMÍLIAS DOS MUNICÍPIOS DO INTERIOR DO CEARÁ, VOCÊ FICA AGORA COM O QUADRO TROCANDO SABERES. Técnico Vinheta do quadro Trocando Saberes. Técnico Trechos das falas das famílias. Locutora 1 PEGUE PAPEL E CANETA PARA ANOTAR O TELEFONE DO PROGRAMA CONVERSA EM FAMÍLIA. BASTA LIGAR E DAR A SUA OPINIÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL. Locutora 2 A LIGAÇÃO É GRATUITA. ANOTA AÍ: (NÚMERO DO TELEFONE) ESTAMOS ESPERANDO A SUA LIGAÇÃO. Locutora 1 O CONVERSA EM FAMÍLIA FICA POR AQUI. A GENTE VOLTA NA PRÓXIMA SEMANA, NESSE MESMO HORÁRIO. Locutora 2 O CONVERSA EM FAMÍLIA É UM PROGRAMA PRODUZIDO PELA PARCERIA ENTRE RADIALISTAS, UNICEF E ONG CATAVENTO COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. A GENTE SE ENCONTRA NA PRÓXIMA SEMANA. ATÉ LÁ Técnico MÚSICA INFANTIL
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O QUE É Principal produto do projeto, o Conversa em Família é um programa de rádio temático, semanal, com dois blocos e duração total de dez minutos. Ele surgiu na segunda fase do projeto, quando a equipe da Catavento roteirizou, gravou e editou 28 edições, distribuídas semanalmente em CD às emissoras envolvidas. Na terceira fase, mais 16 programas foram distribuídos. O material é entregue gratuitamente, com a sugestão de que as emissoras o veiculem sempre no mesmo dia e horário para cativar os ouvintes. O embrião da iniciativa surgiu ainda na primeira fase, quando foram feitos sete programas de cinco minutos, aproveitando as falas gravadas com as famílias. Considerados pilotos, esses produtos comprovaram a importância de potencializar a voz das famílias, mas indicaram que era necessário complementá-las com entrevistas e reportagens, aprofundando a abordagem das competências familiares. Críticas e sugestões dos radialistas foram acolhidas, sendo fundamentais para lapidar programa a programa. Chegou-se, assim, ao formato concretizado na segunda fase. Dividida em dois blocos, cada edição é dedicada a um tema diferente. A equipe pesquisa o assunto, realiza entrevistas com especialistas, recebe matérias prontas dos radialistas e faz a edição final. O coração do programa é o quadro Trocando Saberes, editado a partir das conversas gravadas com as famílias nos municípios. É a própria dupla de jornalistas da equipe que faz a locução do programa.
ROTEIRO • • • • • • • • •
Música de abertura “Olá” dos locutores Abertura apresentando o tema e destaques do dia Vinheta de passagem Entrevista com “especialista” – médico, pedagogo, psicólogo, agente de saúde, as próprias mães Intervalo com opção de um spot de 1 minuto Matéria do radialista ou bloco Trocando Saberes Convite para participação por telefone ou correio Vinheta de encerramento
LINGUAGEM O respeito ao vocabulário, ao sotaque e ritmo regionais norteia a produção dos textos de locução, bem como a edição das entrevistas e falas das famílias. Não é seguida a tendência, vinda dos grandes meios de comunicação, de impor o sotaque e estilo de Rio de Janeiro e São Paulo. Ao mesmo tempo, não é forçado um sotaque regional caricaturado. Simplesmente respeita-se o jeito de se expressar dos entrevistados e locutores. Além de valorizar a diversidade cultural, o respeito à linguagem local permite que as famílias se reconheçam no programa e nos assuntos discutidos. Essa opção ganha ênfase sendo o rádio o veículo em questão, pois, nele, oralidade e informalidade prevalecem. A seguir, alguns exemplos:
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Valorização da oralidade - Oi pessoal! Estamos de volta com o programa Conversa em Família. - Oi, gente! Tudo bem? Como vocês sabem, toda a semana o programa Conversa em Família fala sobre algum tema relacionado às competências familiares. (Trecho da locução do programa Conversa em Família dedicado ao tema da importância de convivência entre as crianças) Valorização da informalidade - Ter uma horta ou fruteiras no quintal traz um bocado de vantagens pra saúde e pro bolso da família. (Trecho da locução do programa Conversa em Família dedicado ao tema da alimentação saudável da criança)
Check-list para produção dos programas • • • • • • • • •
Escolha do tema e leitura (livros, sites e cartilhas sobre a temática) Edição das conversas com as famílias para o quadro Trocando Saberes Entrevista com especialistas Produção do roteiro Gravação da locução e edição no estúdio Gravação das cópias para distribuição do programa Produção de capas para os CDs (importante para a distribuição) Impressão das etiquetas Envio para a distribuição
“A gente apresentava o programa, os radialistas escutavam, e quando chegava o bloco das famílias, o Trocando Saberes, eles se entreolhavam, ficavam empolgados... Eles gostavam até mais do que quando era matéria de outro radialista. Eles queriam ouvir mais as famílias falando...” Mayra
Concurso com os ouvintes A inquietação de saber se o programa estava ou não sendo veiculado pelas emissoras e ouvido pelas famílias motivou a equipe a fazer um concurso com os ouvintes durante a primeira fase. A campanha durou dez dias e durante o período a equipe recebeu 137 ligações. Ao final, um kit de livros infantis foi sorteado entre os participantes, e a emissora mais citada recebeu um gravador de mesa, e o radialista, um gravador portátil. “A estratégia do concurso – “ligue, participe e concorra” – tem muito a cara do rádio. Desde o primeiro programa, a gente convidava o público a participar, mandar opinião, mas isso só aconteceu com o concurso”, diz Renata.
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Quem é a Catavento O Projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos precisa ser compreendido no contexto da instituição onde surgiu e se desenvolve. Criada em 1995, a organização não-governamental sem fins lucrativos Catavento Comunicação e Educação Ambiental dedica-se ao desenvolvimento local por meio de projetos de comunicação educativa. Atua no estado do Ceará a partir de quatro eixos temáticos: Desenvolvimento Sustentável, Mobilização Social, Infância e Adolescência e Identidade Cultural. Missão Contribuir para a compreensão do papel educativo da comunicação, priorizando os processos formativos com crianças e adolescentes do semi-árido e buscando a democratização da produção e do acesso ao conhecimento. Visão Tornar-se uma organização reconhecida e requerida nas discussões e ações que envolvam comunicação e educação no semi-árido. Principais objetivos • Possibilitar a apropriação dos princípios e técnicas da comunicação pelas comunidades, organizações e movimentos sociais • Possibilitar a troca de saberes entre comunidades • Incentivar a participação da criança e do adolescente na construção da cidadania • Potencializar o processo de aprendizagem por meio da comunicação
PRIMEIROS VENTOS “Em 1988, na época da gestão da Maria Luiza Fontenele, do PT, começou aqui em Fortaleza um movimento de fortalecimento das rádios comunitárias. Houve, inclusive, uma cooperação da Universidade Federal do Ceará, onde eu estudava, com a prefeitura, para dar assessoria a essas rádios. Foi fundado na faculdade o Centro de Produção em Comunicação Alternativa (Cepoca), e eu me engajei. Naquela época, alguns de nós, estudantes, tivemos a idéia de fazer um programa em formato de radiojornal. A gente queria algo bem dinâmico e fomos, então, conversar com o diretor da rádio universitária. Ele gostou da idéia, mas disse que a rádio não tinha estrutura pra gente fazer um radiojornal como queríamos, de periodicidade diária, com reportagens de rua... E lançou a idéia: ´– Por que vocês não fazem uma radiorrevista semanal sobre o meio ambiente?´. Isso foi em 1991, início de todo o movimento para a “EC0 92”. A gente topou e estreou o programa Catavento. Em 1995, começamos a sentir necessidade de financiamento próprio, independente da universidade, e achamos que o caminho era criar uma instituição para poder fazer convênios, contratos e tudo o mais. Fundamos, então, a ONG Catavento. Ela nasceu dessa necessidade de institucionalizar o programa, que continuou até 1998. Nos dois anos seguintes, a equipe se dispersou. A atuação da organização começou a se firmar um pouco mais tarde, em 2000, com o Programa 57
1 Milhão de Cisternas Rurais, financiado pelo Ministério do Meio Ambiente. Até então, a gente não tinha conseguido um financiamento de longo prazo. Assumimos, no projeto, os componentes de comunicação e mobilização, financiados pelo Unicef Recife. Alugamos uma sala, compramos equipamentos e começamos a veiculação do Rádio Cidadão, que foi o primeiro produto forte do projeto. A estréia foi em 17 de junho, Dia Internacional de Combate à Desertificação. “Foi um projeto importantíssimo, que deu ao grupo uma cara de entidade, com atividades sistemáticas. A gente ficou no projeto até agosto de 2002, e logo começaram a surgir outras oportunidades, como o Comunicando Saberes, Realizando Sonhos.” Edgard
VALORES INSTITUCIONAIS A atuação da Catavento é pautada em crenças e valores que revelam um entendimento amplo da realidade social, ambiental e política em que está inserida. Evidencia-se, também, uma compreensão inovadora de gestão e desenvolvimento institucional. Esses componentes contribuem de forma decisiva para a qualidade e os resultados do trabalho desenvolvido.
Compromisso político O compromisso com a transformação da realidade social motiva e orienta o trabalho da equipe, estimulada constantemente a refletir sobre o sentido político do seu trabalho. A função social que buscam fortalecer no trabalho dos radialistas é, antes de tudo, assumida pelos próprios comunicadores da Catavento. Desde o início de suas trajetórias profissionais, cada um deles optou por uma prática ética e cidadã. Articulação com movimentos sociais Um aspecto do compromisso da Catavento com a transformação social é seu envolvimento com movimentos e redes sociais, buscando maior impacto na sua intervenção. A Catavento participa ativamente da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), do Fórum Cearense pela Vida no Semi-Árido e da Rede Cearense de Socioeconomia Solidária, além dos fóruns diretamente ligados aos direitos da criança e do adolescente, como o Fórum Estadual para Erradicação do Trabalho Infantil e Amparo ao Trabalhador Adolescente do Ceará, o Fórum Permanente de ONGs em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ceará (FDCA) e o Fórum Cearense pela Erradicação da Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente.
Gestão participativa O compartilhamento das decisões entre a equipe faz parte da rotina dos projetos da instituição. O poder não está concentrado na figura de um único presidente, mas nas mãos de uma diretoria colegiada, com seis integrantes. O investimento no desenvolvimento da equipe também se revela na oferta das novas oportunidades de trabalho para as pessoas que já atuam na organização. Um exemplo ocorre no próprio Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, no qual Renata e, depois, Mayra passaram de jornalistas a coordenadoras do projeto. Hoje, ambas fazem parte da diretoria colegiada da instituição. 58
PRINCIPAIS PROJETOS DA CATAVENTO Além do Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, a Catavento tem se dedicado a outros projetos e programas que reforçam seu compromisso com a infância, a convivência com o semi-árido e o uso do rádio para mobilização social. São eles: Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: 1 Milhão de Cisternas Rurais. Desenvolvido em parceria com a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) de 2000 a 2002, o programa trabalhou com a formação de famílias em convivência com o semi-árido e com a construção de cisternas. A Catavento desenvolveu o componente de Comunicação e Mobilização Social do programa, produzindo um jornal impresso, boletim eletrônico e programa de rádio que chegou a ser veiculado por 148 emissoras de 11 estados do semi-árido. Projeto Dom Hélder Câmara: linhas afirmativas de geração, comunicação e cultura A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário desde 2002. Nela, a Catavento realiza a formação de jovens comunicadores populares, articula um grupo de agentes jovens de desenvolvimento humano, realiza pesquisas sobre a juventude rural, trabalha com a implantação de radioescola e rádios comunitárias nos assentamentos e produz, junto com os comunicadores populares, um programa semanal de rádio, chamado Conversa em Alpendre, que focaliza a convivência com o semi-árido. Eu Prometo já Morreu: a construção da cidadania política pela comunicação educativa. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação do Município de Canindé em 2003. A Catavento realizou a formação de 29 candidatos a prefeito-mirim do município. A formação envolveu direitos da criança e do adolescente, política cidadã e comunicação educativa. Da formação, resultou um plano de governo coletivo que foi transformado em spots para conhecimento da comunidade. Bom Conselho a Gente Faz: apoio à formação de conselheiros tutelares pelo rádio. Desenvolvido em parceria com o Unicef desde 2004. Serão produzidos programas de rádio discutindo as principais dúvidas sobre o trabalho realizado pelo conselheiro tutelar. Essas dúvidas foram sistematizadas com base em uma pesquisa realizada com 150 conselheiros de 30 municípios do Ceará. Também serão produzidos spots para comunicar à comunidade as principais atribuições dos conselhos tutelares e de quais serviços pode dispor. Agência Catavento de Notícias – Rede ANDI Brasil – Comunicadores pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Desenvolvida em parceria com a Comunidade Européia desde 2004, a Agência Catavento cria uma série de produtos que servem para a articulação com os jornalistas, no intuito de melhorar a qualidade da cobertura que estes profissionais fazem sobre os direitos da criança e do adolescente. Também executa diversas ações de formação de estudantes universitários dentro do mesmo objetivo.
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Centro Público de Referência em Economia Solidária – Núcleo de Comunicação, Mobilização Social e Inclusão Digital. A iniciativa, desenvolvida em parceria com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) desde 2004, é um centro de comercialização de produtos solidários e formação de consumidores e produtores em economia solidária. A Catavento é responsável pelo planejamento de comunicação do Centro, ainda em implantação. Segura essa Onda: radioescola na gestão sociocultural da aprendizagem. Desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação e Assistência Social de Fortaleza (Sedas) desde 2003, o projeto concretiza-se com a formação de educadores e estudantes para a utilização da radioescola como ferramenta pedagógica, dentro de uma compreensão sociocultural da aprendizagem. A partir dessa primeira experiência, o Segura essa Onda passa a ser uma linha de ação estrutural na Catavento, sendo desenvolvido em alguns municípios, em parceria com prefeituras e ONGs, e dentro do Projeto Dom Hélder Câmara. Rádio e Memória: matrizes culturais e história do rádio no Ceará. Desenvolvido em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de 2003 a 2004. A Catavento fez o resgate da história do rádio no Ceará nos anos de 1928 a 1948, por meio de pesquisa direta em jornais e relatos de vida de profissionais que participaram dessa época do rádio.
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Contexto A VIDA NO SEMI-ÁRIDO “Com as viagens do projeto, a gente teve oportunidade de conhecer um Ceará que a gente não conhecia. A gente viajou para alguns municípios em período de seca, então a vegetação era uma, depois a gente voltava, meses depois, e a vegetação já era outra porque tinha chovido. O Nordeste tem essa capacidade de se erguer e se transformar com um pinguinho de água.” Renata O semi-árido é mais do que um cenário para a atuação da Catavento. É a realidade a partir da qual a equipe constrói seus objetivos, conceitos e metodologias, sempre na certeza de que é possível conviver com as características da região. Esta postura converge para uma nova forma de olhar e de se relacionar com o semi-árido que tem se fortalecido nos últimos anos junto à sociedade civil e ao governo. Historicamente, as condições climáticas tornaram-se a justificativa de uma situação de extrema exclusão social, que afeta especialmente as crianças e os adolescentes que nascem e crescem na região. Em 2003, o Unicef publicou o relatório Crianças e Adolescentes no Semi-Árido Brasileiro, fazendo uma pintura inquietante dessa realidade – um panorama desses dados será apresentado a seguir. Entretanto, cada vez mais a responsabilidade por essa situação está sendo atribuída à falta de investimentos em infra-estrutura, à ausência de políticas básicas de saúde, educação e assistência social e à escassez de programas de geração de emprego e renda. Em vez de ser uma paisagem fatalmente desoladora, o semi-árido começa a ser entendido como um cenário econômico e socialmente viável, com potencial humano e riqueza natural e cultural. Desde 1999, essa postura tem sido defendida e amadurecida pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) – www.asabrasil.org.br –, que reúne mais de 600 organizações em torno do desenvolvimento sustentável da região, entre elas a ONG Catavento. Um importante passo nessa direção ocorreu em abril de 2005, quando sociedade civil, governo federal, governos estaduais e agências internacionais se uniram para celebrar o Pacto Nacional – Um mundo para a criança e o adolescente do semi-árido. Ele traduz um esforço conjunto para colocar a infância e a adolescência no centro da agenda política dos estados ligados ao semi-árido.
O QUE É O SEMI-ÁRIDO Oficialmente, o semi-árido corresponde a 841.260,9 quilômetros quadrados da região Nordeste do país, somados a mais 54.670,4 do estado de Minas Gerais e caracteriza-se por apresentar reservas de água insuficientes em seus mananciais. Segundo a Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), essa região deve ser 63
olhada de forma ampliada, considerando também o critério político que define o Polígono das Secas: área que repetidamente sofre com o fenômeno das secas e, por conta disso, recebe verbas oficiais específicas, além de 25 municípios do estado do Maranhão que também convivem com a estiagem, mas não são incluídos na lista oficial. Considerando essa região ampliada, o semi-árido inclui 1.400 municípios, com 1.161.845 quilômetros quadrados e cerca de 26,4 milhões de brasileiros, segundo dados do IBGE, Censo 2000 e IPEA. No total, 42% desses municípios têm menos de 10 mil habitantes e uma taxa de urbanização média de 57,8%. Vale ressaltar que não existe pouca água no semi-árido brasileiro, mas um regime hídrico irregular, além de uma distribuição desigual das chuvas na região. A maioria das regiões semi-áridas no mundo possui uma precipitação média anual entre 80 e 250 mm, enquanto o semi-árido brasileiro possui uma média de 750 mm. Isto representa cerca de 700 bilhões de metros cúbicos de chuva por ano, equivalentes a 20 vezes o volume de água da barragem de Sobradinho, o maior reservatório de águas do Nordeste. Numa lógica excludente, no entanto, a seca tornou-se sinônimo de miséria e, hoje, o semi-árido concentra os piores indicadores sociais do país. No total, 75% dos mil municípios brasileiros com os piores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) estão no semi-árido. Não há nenhum município da região entre os 500 mais bem posicionados. Entre outros componentes, o IDH-M é calculado com base nas taxas de esperança de vida ao nascer, alfabetização de adultos, escolarização e renda per capita.
Semi-árido no Brasil • • • •
52,2% da população nordestina vive no semi-árido ampliado 25,4% dos municípios brasileiros estão no semi-árido 72% dos municípios nordestinos estão na região Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí são os estados que proporcionalmente possuem mais municípios na região
Fonte: Crianças e Adolescentes no Semi-Árido Brasileiro, Unicef, 2003
Baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) • • • •
75% dos 1.000 piores IDH-M brasileiros estão no semi-árido 68% dos 500 piores IDH-M brasileiros estão no semi-árido 58% dos 100 piores IDH-M brasileiros estão no semi-árido 60% dos 10 piores IDH-M brasileiros estão no semi-árido
Fonte: Pnud, Relatório do Desenvolvimento Humano, 2003 www.unpd.org.br
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SER CRIANÇA NO SEMI-ÁRIDO Em todo o semi-árido, a população é relativamente mais nova do que a média brasileira. Enquanto no país 35,9% da população tem menos de 17 anos, no semiárido esse total cresce para 41,3%, 15,3% dos quais estão na primeira infância. São 4 milhões de crianças entre 0 e 6 anos vivendo na região.
Água e esgoto O acesso à água, rede de esgoto, energia, infra-estrutura e comunicação revela-se muito mais difícil nessa região do que no restante do país. Quase a metade das crianças e adolescentes (42,1%) não tem acesso à rede geral de abastecimento de água, poço ou nascente, em sua casa ou no entorno. A falta de água implica muitas horas por mês na busca desse produto essencial à vida. O acesso à água, entretanto, é só uma das pontas do sistema de abastecimento. A outra é o saneamento. O acesso à rede de esgoto no semi-árido também está abaixo do nível nacional. Enquanto 18,7% das casas das crianças e adolescentes brasileiros não têm rede de coleta, fossa séptica ou rudimentar, no semi-árido a proporção chega a 38,4%. No semi-árido rural, essa taxa alcança 66,5%. Fonte: Censo 2000 (IBGE)
Renda e trabalho Segundo o Censo 2000 (IBGE), 51% das famílias do semi-árido ganham até um salário mínimo, e outras 14% não têm rendimento. Isto certamente compromete o acesso a bens e serviços essenciais. Menos de 30% das famílias que vivem no semi-árido rural têm acesso à geladeira ou freezer, já incorporados ao cotidiano de praticamente 80% das crianças e adolescentes brasileiros. Mais de 90% das famílias não dispõem de linha telefônica – mesmo a metade dos 20% mais ricos da região não conta com esse serviço. A exclusão digital também é generalizada: menos de 3% das famílias com crianças e adolescentes têm acesso ao computador. Educação O analfabetismo ainda desponta como um dos principais problemas da região. Em 72% dos municípios, a taxa de alfabetização das pessoas com mais de 15 anos não passa de 70%. A taxa brasileira nessa faixa etária é de 87,3%. Mais de 98% das cidades do semi-árido ainda têm mais de 10% das pessoas entre 7 e 21 anos fora da escola. É importante ressaltar que a possibilidade de uma criança entre 7 e 14 anos não ser alfabetizada é duas vezes maior no semi-árido do que no restante do país. De todos os brasileiros entre 12 e 17 anos não alfabetizados, 43% vivem no semi-árido. Fonte: Censo 2000 (IBGE) Desigualdades A situação de pobreza também é mais acentuada no semi-árido. Cerca de 75% das crianças e adolescentes do semi-árido vivem em famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo. Na zona rural, o total cresce para 88%. No Brasil em geral, o total é de 45% e na zona rural, 74% . Como no restante do país, a questão racial intensifica a desigualdade: 83,5% das crianças e adolescentes negros do semi-árido são pobres. Entre os brancos, a proporção é de 68%. Fonte: Censo 2000 (IBGE) 65
Ser criança e adolescente no semi-árido • 74,6% em famílias com renda per capita inferior a meio salário mínimo • 42,1% sem rede de abastecimento de água, poço ou nascente, em sua casa ou no entorno • 38,4% sem rede de esgoto, fossa séptica ou rudimentar • 70% sem geladeira ou freezer • 90% sem linha telefônica
Fonte: Tabulação especial da amostra do Censo 2000 (IBGE)
PRIMEIRA INFÂNCIA NO SEMI-ÁRIDO Mais de 4 milhões de crianças até 6 anos vivem no semi-árido, representando 15% da população local. Para a maioria desses meninos e meninas, nascer e viver seus primeiros anos de vida não é tarefa nada fácil. Do acesso da mãe ao pré-natal ao registro civil, os direitos da criança são constantemente desrespeitados. Saúde Mais uma vez, em relação ao Nordeste como um todo, a região do semi-árido concentra os índices mais graves relacionados à saúde: quase 60% das mortes de mulheres devido a problemas na gravidez e mais de 50% das mortes de crianças menores de 1 ano acontecem na região. No total, 95% das cidades do semi-árido têm taxa de mortalidade infantil superior à média nacional e 65% pior que a dos estados do Nordeste. Antes de completar um ano, ainda morrem 65 crianças a cada 1.000 nascidas vivas. E o mais alarmante é que, nos últimos anos, essa taxa não tem acompanhado o decréscimo da curva nacional. Se isso tivesse acontecido, estaria em torno de 50 por 1.000 – o que ainda seria uma média elevada. De acordo com os dados de 2001 da rede hospitalar do Sistema Único de Saúde (SUS), as principais causas de internação para menores de 1 ano são doenças diarréicas, pneumonias e afecções perinatais. Calcula-se que uma parcela importante dessas hospitalizações está diretamente relacionada às más condições estruturais da região, como difícil acesso à água limpa, precária rede de esgoto ou até mesmo pouco acesso à informação sobre amamentação e pré-natal. Calcula-se que uma amamentação adequada pode reduzir em até 20% os óbitos de crianças menores de 1 ano, além de trazer benefícios para o resto de suas vidas.
Educação No semi-árido, surpreendentemente, a educação infantil está numa situação um pouco melhor do que a média nacional. Enquanto, no Brasil, 39% das crianças de 4 a 6 anos não freqüentam a escola, segundo dados do Censo 2000, no semi-árido esse percentual cai para 36%. 66
Essa diferença é ampliada em relação à escolaridade da mãe: enquanto no Brasil 56,8% das crianças entre 4 e 6 anos têm mães sem instrução ou com menos de um ano de estudo, no semi-árido a taxa cai para 51,6%. Segundo o Unicef, esses indicadores podem sinalizar que as famílias do semi-árido dão maior valor à educação nos primeiros anos de vida, abrindo um caminho estratégico para mudança de comportamento e melhoria de condições de vida da geração futura.
Direitos negados • Em 90% dos municípios da região, menos de 50% das gestantes realizam as seis consultas de pré-natal recomendadas pela Organização Mundial da Saúde • Em apenas 35% dos municípios da região todas as crianças até 6 anos estão imunizadas contra sarampo e DTP • Em quase 30% dos municípios da região não há hospitais e, portanto, falta a retaguarda médico-hospitalar adequada para o parto e nascimento
Fonte: Crianças e Adolescentes no Semi-Árido Brasileiro, Unicef, 2003
COMUNICAÇÃO MAIS EDUCAÇÃO NO BRASIL Tanto no semi-árido como em outras realidades de injustiça social, a comunicação tem sido somada à educação na busca de direitos para todos. A Catavento acredita nesta estratégia de transformação social e, como tal, participa de uma ampla rede de experiências que unem educação, tecnologias de comunicação e conquista de cidadania. Pelo menos nas últimas três décadas, a aproximação entre o campo da Educação e da Comunicação tem ocorrido em ambas as direções. De um lado, importantes pensadores e ativistas do universo educacional têm despertado para o valor pedagógico das práticas comunicativas. Entre eles, destaca-se a contribuição de Paulo Freire. “O que efetivamente caracterizou o pensamento freiriano foi ter intuído que uma educação autêntica e libertadora deveria converter-se num processo comunicativo”, explica o Prof. Dr. Ismar de Oliveira Soares, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). O professor aponta a importância do conceito de “comunicação dialógica”, desenvolvido por Paulo Freire, que se baseia no diálogo entre iguais e na participação de ambos os lados na construção do conhecimento. No âmbito do ensino formal, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) consolidaram o aprendizado de linguagens e competências comunicativas como item fundamental no preparo do aluno para a vida e cidadania. Edgard, da 67
equipe da Catavento, faz questão de lembrar que já na década de 50 as escolas radiofônicas – que se propunham a realizar educação formal pelo rádio com o método Paulo Freire – desempenharam um trabalho significativo no semi-árido. No sentido inverso, o campo da Comunicação também tem se aproximado da Educação. O professor Ismar relata que o primeiro movimento surgiu no interior do próprio sistema de comunicação. “Nos anos 70, por exemplo, enquanto os meios de comunicação sofriam violenta censura por parte do regime militar, ganhou fôlego uma prática jornalística que consistia em romper a tradição dos textos noticiosos, “objetivos”, pra introduzir histórias de vida e reportagens em profundidade, com forte denúncia social. Não era apenas uma questão de estilo, mas um novo compromisso de um grupo de jornalistas com a população, oferecendo elementos para a formação de juízos.” Já no final dos anos 70, início dos 80, começou um movimento dentro dos próprios movimentos populares, que decidem não mais esperar por uma mudança dos meios de comunicação. Eles mesmos passaram a produzir jornais e boletins mimeografados e dão voz à chamada “imprensa alternativa”, com expressa intenção educativa. Um número significativo de centros de documentação dava apoio e treinamento aos comunicadores populares. O professor Ismar ressalta que, nesse contexto, um novo equipamento torna-se acessível: a câmera de vídeo. “Já por volta de 1985, mais de 50% das organizações dos movimentos populares passaram a usar o vídeo para documentar suas intervenções”. A década de 90, por sua vez, trouxe a popularização da informática e da Internet, abrindo outros caminhos de expressão participativa. O entrosamento da comunicação com a educação, e vice-versa, revelou-se tão intenso que fez emergir a proposta de um novo campo de conhecimento: a Educomunicação. Em 1997, um grupo de especialistas de 12 países da América Latina chegou à conclusão de que essa nova área de intervenção social teria densidade e legitimidade próprias. A Educomunicação define-se como conjunto de ações que permitem aos educadores, comunicadores e outros agentes sociais promover e ampliar ambientes comunicativos abertos e criativos, visando ao exercício pleno da democracia e cidadania. Diferentemente dos projetos de comunicação educativa em geral (que englobam os mais variados esforços educativos da mídia), as experiências educomunicativas apresentam um compromisso evidente com a construção da cidadania. Isto se confirma em alguns aspectos obrigatórios, que são observados também na concepção e na prática do Comunicando Saberes, Realizando Sonhos: • A mera busca de audiência e satisfação do mercado dá lugar à conquista de cidadania, tanto na escolha dos temas, fontes e enfoques. • Todos os pólos (como os radialistas, as famílias ou as agentes de saúde) são envolvidos no processo da comunicação, que não fica mais restrito a uma prática de profissionais especializados. • Em diferentes níveis e intensidades, exerce-se uma gestão democrática da comunicação. É garantida, por exemplo, a participação de todas as pessoas da equipe na formulação e desenvolvimento do projeto. São acolhidas e consideradas as sugestões e críticas dos diferentes públicos envolvidos. É assegurado espaço para a produção dos próprios radialistas e a voz das famílias. • A tecnologia é entendida como ferramenta essencial da comunicação, mas tem sua importância redimensionada. O ponto principal não é garantir a presença 68
da tecnologia por si só, mas promover uma mediação tecnológica. Seu uso deve ser norteado por questões-chave, como, por exemplo: Quem tem acesso ao equipamento? Que uso é feito dele? Para quê?
PROTAGONISMO DO RÁDIO No encontro da Comunicação com a Educação, o rádio tem despontado como personagem-chave. Não é de hoje que o radialista é reconhecido como aliado poderoso na construção da cidadania. Desde meados da década de 80, por exemplo, o Unicef elegeu a formação de radialistas e a distribuição de material radiofônico como uma de suas principais estratégias na defesa dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. Mais de mil profissionais de rádio foram capacitados ao longo de quatro anos no projeto Rádio pela Infância, que representa uma escolha por uma produção mais democrática do conhecimento e também uma aposta no engajamento pessoal dos profissionais de comunicação. Da mesma forma, a articulação de radialistas tem sido promovida por organizações ambientalistas, do movimento de mulheres ou de prevenção à Aids, entre outras, como caminho para formar novos padrões de comportamento e contribuir para a melhoria das condições de vida de milhões de pessoas. A opção pelo rádio justifica-se por sua universalidade, imediatismo e proximidade com o público. Ao mesmo tempo, a oralidade e a informalidade, características do jeito de ser brasileiro, ampliam sua participação na vida das pessoas. É um “bom companheiro”, a qualquer hora, em todo lugar. A presença do rádio nas casas do interior cearense é afirmada por toda a equipe da Catavento. Já na justificativa inicial do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos, a organização ressalta que o alto índice de analfabetismo, o pouco hábito de leitura e o alto custo das publicações afastam a população local da mídia impressa, enquanto o rádio, ao lado da televisão, está presente em grande parte dos lares. A Catavento destaca que a presença do rádio no Nordeste pode ser considerada mais representativa do que no Brasil como um todo. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (PNAD), realizada pelo IBGE em 2003, 90% dos domicílios brasileiros têm televisão e 87,8% têm rádio. Ao focalizar o Nordeste, entretanto, o rádio supera a presença da televisão: são 80,3% de domicílios com rádio e 80,1% com televisão. Na zona rural, especialmente, onde nem todos têm acesso à energia elétrica, o rádio afirma-se como relevante fonte de diversão, informação e serviço. Faltam pesquisas que indiquem sua influência no cotidiano dos brasileiros, mas a observação da rotina das cidades e vilarejos é bastante reveladora. Segundo a equipe da Catavento, passear pelas ruas do interior significa ouvir o som das transmissões saindo das casas, tocando nos bares, lojas e praças. A presença do rádio também se evidencia pela popularidade dos radialistas. “Em todas as cidades que visitamos, as pessoas sabem o nome do radialista, cumprimentam como se fosse uma pessoa da casa”, conta Renata. Entretanto, também se observa que o papel do rádio entre os jovens, que já nasceram convivendo com outros meios de comunicação, não é tão marcante quanto nas gerações anteriores. Além da universalidade de acesso, o rádio destaca-se por sua produção e transmissão descentralizada e capilar. Segundo dados oficiais de 2004, operam no país 2.223 emissoras FM (freqüência modulada), 1.707 emissoras OM (onda média) e 2.207 rádios comunitárias. Cabe avaliar, entretanto, a qualidade da programação que se espalha pelas emissoras. No interior cearense, por exemplo, ela é hoje 69
regida por pelo menos duas “ditaduras” comerciais: os programas policiais e as músicas de forró. Outro ponto de observação importante é a concentração das licenças nas mãos de grupos políticos e econômicos locais. Nesse cenário, despontam como força de mudança as emissoras comunitárias. O movimento das rádios comunitárias intensificou-se em todo o país a partir dos anos 80, integrando a luta pela democratização dos meios de comunicação. Mais do que garantir acesso universal às mídias, é reivindicada a democratização da gestão e da produção da comunicação, conferindo-lhe um caráter popular, descentralizado e participativo. As rádios comunitárias nascem pelas mãos de sindicatos de trabalhadores, movimentos e pastorais sociais e representam uma alternativa às forças políticas tradicionais, dando voz aos trabalhadores, às mulheres, às crianças. No final dos anos 90, a sociedade civil conquistou a regulamentação das rádios comunitárias, com a promulgação da Lei 9.612/98, seguida do Decreto 2.615/98 e da Norma 02/98. Segundo o Ministério das Comunicações, rádio comunitária “é um tipo especial de emissora de rádio FM, de alcance limitado a, no máximo, 1 quilômetro a partir de sua antena transmissora, criada para proporcionar informação, cultura, entretenimento e lazer a pequenas comunidades”. Ela não pode ter fins lucrativos, nem vínculos partidários, religiosos ou de outro tipo. Oficialmente, apenas as fundações e associações comunitárias sem fins lucrativos, legalmente constituídas e registradas e com sede na comunidade em que pretendem prestar o serviço, podem se candidatar a esse tipo de emissora. A vitalidade das rádios comunitárias reorientou inclusive a estratégia de sensibilização do projeto Comunicando Saberes, Realizando Sonhos. “No começo, pensamos em articular as rádios maiores, comerciais, na perspectiva de alcançar mais municípios. Mas, ao longo do processo, percebemos que as rádios comunitárias eram muito mais ricas, tinham mais abertura para veicular nosso programa, permitiam uma relação mais próxima com os radialistas. Além do mais, parece que as pessoas se identificam, ouvem mais a rádio comunitária”, destaca Mayra. Essa presença se confirma na fala da agente de saúde Simone Lima de Sousa, que participou do encontro das famílias no distrito de Pecém, em São Gonçalo do Amarante, em 2004: “A gente tinha uma rádio comunitária aqui no distrito, e a população sentiu muito quando fechou, porque era um meio de comunicação muito importante na região. Quando havia uma campanha de vacinação, a gente ia, divulgava na rádio e a população toda sabia. Você chegava nas casas e quase todo mundo estava sintonizado na emissora”.
“Até entrar na faculdade, eu passava minhas férias na casa de meu avô. Então, acompanhei todas as transformações da casa dele. Quando eu era criança, ela era de taipa, não tinha banheiro, a gente fazia xixi atrás da casa de farinha. Não tinha energia. Um dia, os filhos fizeram um mutirão e construíram uma casa de alvenaria, já com banheiro. Aí o filho que foi pra São Paulo mandou dinheiro pra ele comprar uma geladeira, depois teve fogão a gás. Mas o rádio sempre esteve presente. Primeiro um radinho, depois um aparelho melhor e hoje ele tem um microsystem, que os filhos mandaram.” Renata 70
Evolução dos meios de Comunicação Penetração dos meios de comunicação no país Usufruiu recentemente pelo menos uma vez nos últimos... Televisão 81% 1 dia 98% 7 dias Rádio 57% 1 dia 88% 7 dias Jornal 52% 7 dias Cinema 13% 1 mês
Fonte: Grupo Mídia (www.anatel.gov.br)
Evolução do NÚMERO DE RádioS e TVS Brasil Nordeste 1996 2004 1996 2004 Rádios FM (Freqüência Modulada) 1.285 2.223 269 512 Rádios Onda Média 1.576 1.707 391 421 Rádios Onda Curta 35 66 3 1 Rádios Onda Tropical 80 75 8 6 Rádios comunitárias - 2.207 - 755 Geradoras de TV 258 449 60 84 Retransmissora de TV 7.749 9.878 1.533 1.986
Fonte: Ministério das Comunicações e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
NÚMERO DE RádioS e TVS em 2004 Ceará Nordeste Brasil Rádios FM 110 512 2.223 Rádios OM 92 421 1.707 Rádios OC -- 1 66 Rádios OT -- 6 75 Rádios comunitárias 134 755 2.207 Geradoras DE TV 12 86 449 Retransmissora de TV 341 1.986 9.878
Fonte: Ministério das Comunicações e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), 2004.
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Conhecer e compreender o impacto de suas atuações é um desafio permanente para todas as iniciativas sociais e parece intensificar -se quando não há uma relação direta entre Impactos a ação e o público final, como no caso das famílias ouvintes dos programas produzidos pela Catavento. “A gente quer que a criança sinta o reflexo desse Ainda não se sabe o perfil, odegrau tamanho dessa audiência. trabalho. Onem primeiro é o radialista. Se ele atua como disseminador dessa discussão, você chega até Também nunca foi feita umaSepesquisa sobrea gente a recepção dos as famílias. as famílias incorporam, chega às crianças.”ou Renata programas pelos ouvintes o .impacto produzido nas famílias entrevistadas e nos radialistas sensibilizados. O próprio Conhecer e compreender o impacto de suas atuações é um desafio permanente papel atual do rádio nessas é pouco para todas as iniciativascomunidades sociais e parece intensificar-se quando não estudado, há uma relação direta entre a ação e o público final, como no caso das famílias ouvintes seja por universidades, pesquisa ou movimentos dos programascentros produzidos pelade Catavento. sociais. De qualquer maneira, a Catavento temTambém um nunca grande Ainda não se sabe o perfil, nem o tamanho dessa audiência. foi feita uma pesquisa sobre a recepção dos programas pelos ouvintes ou o desejo de começar a produzido conhecer esse impacto e reconhece a impacto nas famílias entrevistadas e nos radialistas sensibilizados. O próprio papel atual do rádio nessas comunidades é pouco estudado, seja por Secretaria de Saúde (por meio dosouagentes comunitários) universidades, centros de pesquisa movimentos sociais. De qualquer maneira, a Catavento tem um grande desejo de começar a conhecer esse impacto e como parceiro estratégico para juntocomo às famíreconhece a Secretaria de Saúdeuma (por meiopesquisa dos agentes comunitários) parceiro estratégico para uma pesquisa junto às famílias. lias. Por enquanto, a certeza do rumo certo vem pelos relatos colhidos pelo caminho Por enquanto, a certeza do certo vem relatos – seja na interação comrumo as famílias entrevistadas, agentes pelos de saúde, radialistas ou parceiros institucionais. O principal objetivo do projeto – o fortalecimento das colhidos pelo caminho – familiares seja –na interação com as famílias competências começa a se concretizar com o despertar de um novo entendimento do que é o desenvolvimento infantil e o papel dos adultos nesse entrevistadas, agentes de saúde, radialistas ounovoparceiros processo. A mudança de percepção, acompanhada por um comportamento, insparece acontecer em todos os atores do projeto, tendo a própria equipe como titucionais. O principal objetivo do projeto – o fortalecimenponto de partida: to das competências familiares – começa a se concretizar tenho uma sobrinha em casa e, quando comecei com o despertar de “Eu um novo a pensar sobre asentendimento competências, percebi ado real que é o deimportância do projeto. O projeto não trabalha com um senvolvimento infantil e o papel dos adultos nesse processo. assunto qualquer. Não é só falar, falar, falar. É vivenciar isso no dia-a-dia. Eu chegava em casa e elaum me pedia A mudança de percepção, acompanhada por novo compra brincar e eu sempre deixava pra depois. Eu tive que portamento, parece mudar acontecer emAgora, todos os atores a minha postura. não importa se estou do projecansada ou ocupada, tento sempre parar e dedicar um to, tendo a própria equipe como ponto de partida: tempo pra ela.” Mayra “Eu tenho uma sobrinha em revêem casaseuse,valores quando afalam pensar Os radialistas também e atitudes. comecei Durante as oficinas, de suas famílias e percebem que cada um tem muito a fazer no seu papel de pai, sobre as competências, percebi a real importância do projetio, irmão e também de comunicador. to. O projeto não trabalha com um assunto qualquer. Não é só 73 falar, falar, falar. É vivenciar isso no dia-a-dia. Eu chegava em
“Esse curso trouxe pra todos nós que trabalhamos em rádios comunitárias a maneira mais fácil de transmitir para as famílias mais carentes que as crianças têm seus direitos. Aprendemos que as famílias devem procurar os direitos de cada criança e também saber educá-las. Deixar a criança brincar, acompanhar a criança na escola, no parque... Aprendemos também que os pais devem dedicar mais tempo às crianças.” Rogilson Oliveira Brandão, radialista da emissora 104,9, em Tejuçoca Na outra ponta, muda a percepção das famílias ouvintes. Ao trazer assuntos pertinentes, de forma criativa e consistente, os programas produzidos pelo projeto incentivam reflexões e novas posturas. Entretanto, esse processo não acontece de forma automática, linear ou homogênea. Cada vez mais é sabido que os processos de comunicação se somam a outros processos educativos para contribuir com mudanças de comportamento. De qualquer forma, o projeto faz a sua parte. “Não é possível isolar os resultados da ação do rádio. Mas é possível perceber nas falas das famílias envolvidas a influência das mensagens veiculadas no rádio. Nestes municípios ocorre uma maior ampliação desses conhecimentos.” Diva de Lourdes Azevedo Fernandes – Núcleo de Normatização da Atenção à Saúde da Criança – Secretaria Estadual de Saúde do Ceará (SESA). A veiculação dos spots e do programa Conversa em Família contribuiu com a diversificação e qualificação dos programas das emissoras, dando uma opção de conteúdo com qualidade para o público local. Num contexto de carência técnica e editorial da programação em geral, o material distribuído pelo projeto torna-se muito bem-vindo pelos radialistas e ouvintes. “A gente só escuta notícia ruim. Não tem programa construtivo. O que está acontecendo com as famílias, com o ancião, com a criança, com o bebê recém-nascido, com a gestante, com o hipertenso? Eu queria que falassem disso numa rádio.” Maria José Oliveira, 52 anos, moradora do distrito de Pecém, São Gonçalo do Amarante. As famílias se surpreendem ao encontrar no rádio a temática das competências familiares e municipais pertencentes ao seu cotidiano. Durante o concurso promovido entre os ouvintes, foi possível perceber como os temas repercutem nas famílias: “Gostei muito do programa que falou da importância do registro de nascimento. Tinha uma época que os pais não colocavam os filhos na escola porque não eram registrados.” Iraci, ouvinte de Quixadá. “Gostei principalmente do programa que falou do entrosamento das crianças com outros meninos de sua idade, porque é muito importante para o desenvolvimento delas.” Diele Eufrásio, ouvinte de Tejuçuoca. “Achei legal principalmente o programa que tratou da atenção do pai com o filho, porque assim a criança se sente mais amada.” Maria Geilânea Vicente Ferreira, ouvinte de Irapuan Pinheiro. Os radialistas descobrem que podem e devem fazer a inserção das competências familiares e municipais na sua programação. Além da veiculação do Conversa em Família e dos spots produzidos pela Catavento, eles criam caminhos próprios para apresentar a temática de forma rotineira e não pontual. Isto revela que realmente interiorizaram e amadureceram as discussões.
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O doutor Lima, por exemplo, radialista veterano no município de Cruz, negociou com o diretor de sua emissora uma ampliação de 20 minutos do Conversa em Família, somando meia hora de programa. Toda semana, ele leva pessoas da sua própria comunidade para continuar a conversa sobre o tema. Há também o exemplo de Boa Viagem: “O Leobétil é um radialista lá de Boa Viagem. A primeira vez que a gente viu, não podia imaginar como ele ia aproveitar o conteúdo da oficina. Quando voltamos lá, soubemos que agora ele sempre começa o programa assim: – Você, papai, mamãe, que está me ouvindo neste momento, que está levando seu filho pra escola, você já deu um beijo no seu filho? Você já disse que ama o seu filho, que ele é importante pra você?” Renata Outra demonstração de que a oficina realmente gera um aprendizado é que o tema acompanha os radialistas em suas andanças. Um dos participantes, ao mudar de município, telefonou para a Catavento pedindo material para transmitir na nova emissora. Outro exemplo é de um radialista do município de Cruz, professor de Educação Física, que levou a temática para a escola, fazendo com que os professores passassem a transmitir o programa em sala de aula e discutir com os alunos. Principal fruto do trabalho com os radialistas, a inserção da temática na rotina das rádios resulta do sucesso da dinâmica da oficina. Os participantes realmente encontram na oficina um raro espaço de encontro, conversa e troca de experiências, gerando vínculo com a equipe da Catavento e o embrião da desejada rede de radialistas. “A gente tem que correr muito pra manter uma rádio no interior do Ceará. A gente não tem tempo de curtir esses momentos, poder encontrar e conversar com outros radialistas.” Tabosa Filho, Rádio Bela Vista FM, Itapajé. “Eu achei muito interessante essa forma de aprendermos a fazer as coisas fazendo, na prática mesmo. Foi uma experiência muito interessante no sentido da troca de experiências de vocês conosco.” Antônio Barbosa Oliveira, Rádio Novo Tempo, Sobral. Além dessa oportunidade de encontro e troca de experiências, o projeto acerta na valorização da profissão. Postura que se inicia na oficina, mas estende-se nas edições do boletim informativo, nos telefonemas dados pela equipe, na transmissão do material produzido pelos radialistas. Eles são reconhecidos na importância de seu trabalho e estimulados a exercer seu papel social, como mostra o depoimento abaixo: “Vocês estão mostrando ao radialista que ele tem um papel bonito. Um papel mais importante que apenas anunciar músicas, mas também falar das crianças e adolescentes – que são nossos próprios filhos, porque radialista tem filho também.” França Júnior, Rádio Mar Azul FM, Paracuru. Da mesma forma, as famílias envolvidas são fortalecidas no seu papel. Os encontros gravados abrem espaço de voz às famílias. Poder falar e ser ouvido com respeito é recebido como uma oportunidade valiosa pelos moradores. Saber que alguém está interessado na sua experiência de vida, na realidade de sua casa e do lugar onde mora faz as pessoas se sentirem valorizadas.
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“As famílias agradecem por termos ido lá. Como se agradecessem por serem ouvidas. Duas ou três vezes, chegaram a bater palmas.” Renata Outro objetivo primordial do projeto, a AO VENTO entre as famílias, começa nesses encontros. Momento inédito na vida da maioria dos participantes, ele se transforma numa oportunidade de troca e aprendizado sobre suas competências na atenção aos filhos. Apesar de pertencerem à mesma comunidade, as famílias percebem que vivem trajetórias e fases de vida diferentes e podem aprender umas com as outras.
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“A Maria José já tem filho de 31 anos, enquanto eu sou mãe de um bebê de quase três meses. Foi bom a gente poder trocar figurinhas.” Antônia Eline Andrade do Vale, 19 anos, moradora do distrito de Pecém, São Gonçalo do Amarante. “Gostei de falar das minhas experiências. Meus filhos já estão criados, mas tem os filhos das outras mamães, pequenininhos, que são nosso futuro.” Maria José Oliveira, 52 anos, moradora do distrito de Pecém, São Gonçalo do Amarante.
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Conhecer e compreender o impacto de suas atuações é um desafio permanente para todas as iniciativas sociais e parece intensificar -se quando não há uma relação direta entre Ao vento a ação e o público final, como no caso das famílias ouvintes dos programas produzidos pela Catavento. Cada conversa gravada com as famílias e novo programa que vai ao ar têm contribuições concretas do Projeto Comunicando Saberes, Realizando Ainda não se sabesignificado o perfil, nem o tamanho dessa audiência. Sonhos: o Rádio no Fortalecimento das Competências Familiares para a conquista de uma vida melhor no semi-árido cearense. Afinal, com valor próprio, cada Também nunca foi feita uma pesquisa sobre a recepção dos intervenção social se completa na interação com o contexto e com outras somando-se a uma dinâmica social ampla e complexa. De diferentes programas pelosiniciativas, ouvintes ou o impacto produzido nas famídireções, bons ventos ganham força e revelam que a paisagem é tão árida quanto depende das escolhas semeadas. lias entrevistadasfértil.eTudo nos radialistas sensibilizados. O próprio Nas suas três apostas iniciais – o semi-árido é viável, a família é competente e o papel atual do rádio nessas comunidades é pouco estudado, radialista é transformador –, a Catavento não está sozinha, nem é a primeira. Sua concepção, prática e postura convergem para outros esforços de mudança social. seja por universidades, centros de pesquisa ou movimentos O recente lançamento do Pacto Nacional – Um mundo para a criança e o adolescente do semi-árido confirma que a infância dessa região do país precisa sociais. De qualquer maneira, a Catavento tem um grande de atenção especial imediata e que o novo olhar sobre o semi-árido deve ser cada vez mais de todos. Nesse caminho, o desenvolvimento de projetos de educação desejo de começar a conhecer esse impacto e reconhece a é reconhecido como estratégia essencial para superar o êxodo rural e a crença na impossibilidade de vida digna na região. É vital valorizar a história e a cultura Secretaria de Saúde (por meio dos agentes comunitários) locais. O fortalecimento das famílias e dos radialistas moradores do interior – na sua forma de ser, se expressar e agir – contribui com esse movimento. como parceiro estratégico para uma pesquisa junto às famíA aposta nos “adultos cuidadores” como agentes competentes para a proteção lias. e o desenvolvimento das crianças também se revela irreversível. Apesar de ainda não haver medições de impacto, já são percebidos resultados inéditos na Por enquanto, a certeza do rumo certo vem pelos relatos melhoria de vida das crianças. Resultados que poderiam não ser alcançados se os investimentos fossem exclusivos no fortalecimento das estruturas públicas. colhidos pelo caminho – seja na interação com as famílias O projeto optou não só pela família, mas também pela figura do radialista. Mais um caminho sem volta, pois a prática da comunicação participativa e entrevistadas, agentes de saúde, radialistas ou parceiros insdescentralizada tem se confirmado como eixo propulsor de relevantes mudanças sociais nas últimas décadas. titucionais. O principal objetivo do projeto – o fortalecimenAo sistematizar a experiência do Projeto Comunicando Saberes, Realizando to das competências familiares – começa a se concretizar Sonhos: o Rádio no Fortalecimento das Competências Familiares, a ONG e a Fundação Abrinq buscam compartilhar conceitos, metodologias e com o despertarCatavento de um novo entendimento do que é o deaprendizados e colaborar com a construção de alternativas. senvolvimento infantil e o papel dos adultos nesse processo. De diferentes maneiras, organizações sociais ou até mesmo governamentais poderão se apropriar deste conteúdo. Em especial, poderá ser aproveitado por A mudança de percepção, acompanhada por um novo comquem já atua no campo da comunicação e da infância no semi-árido brasileiro. Entretanto, a essência da iniciativa pode ser recriada por projetos atuantes em portamento, parece acontecer em todos os atores do projeoutras regiões do país, com diferentes temas e públicos. São sementes que merecem ser espalhadas: valorizar a cultura local, respeitar o saber de cada um, to, tendo a própria equipe como ponto de partida: ouvir e fortalecer o outro. “Eu tenho uma sobrinha em casa e, quando comecei a pensar sobre as competências, percebi a real importância do projeto. O projeto não trabalha com um assunto qualquer. Não é só 79 falar, falar, falar. É vivenciar isso no dia-a-dia. Eu chegava em
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Conhecer e compreender o impacto de suas atuações é um desafio permanente para todas as iniciativas sociais e parece intensificar -se quando não há uma relação direta entre Bibliografia a ação e o público final, como no caso das famílias ouvintes dos programas produzidos pela Catavento. BARBERO, Jesús Martín. De los medios a las mediaciones: comunicación, cultura y Barcelona: Gustavoo Gili,tamanho 1987. Ainda não se sabehegemonia. o perfil, nem dessa audiência. BARROS FILHO,uma Clóvis de.pesquisa “Agenda setting e educação”. & Educação.dos Também nunca foi feita sobreComunicação a recepção Nº 5. USP/Editora Moderna. programas pelos ouvintes ou o impacto produzido nas famíCANCLINI, Nestor Garcia. “El consumo sirve para pensar”. Dia-Logos de la 30, 1991. lias entrevistadascomunicacion. e nos Nºradialistas sensibilizados. O próprio CARNEIRO, Moaci Alves. Temas de educação comunitária. Petrópolis:estudado, Vozes, 1988. papel atual do rádio nessas comunidades é pouco CASTORIADIS,centros Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. 2. ed. São Paulo: seja por universidades, de pesquisa ou movimentos Paz e Terra, 1986. sociais. De qualquer maneira, a Catavento tem um grande DAMASCENO, Maria Nobre. “A problemática dos saberes no contexto das racionalidades: subsídio para o estudo do saber da práticae social”. In: O saber social a desejo de começar a conhecer esse impacto reconhece da prática docente (relatório de pesquisa). UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Faculdade de Educação. Fortaleza: (mimeo.). Secretaria de Saúde (por meio dos1996agentes comunitários) FREIRE, Paulo & GUIMARÃES, Sobrepesquisa educação (diálogos). 2. ed. Rio às de famícomo parceiro estratégico paraSérgio. uma junto Janeiro: Paz e Terra, 1986. lias. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. Por enquanto, a certeza do rumo certo vem pelos relatos FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 2. ed. Porto: Afrontamento, 1975. colhidos pelo caminho – seja na interação com as famílias FURTADO, Eliane Dayse Pontes. O saber popular e sua relação com os saberes curriculares (texto entrevistadas, agentes demimeo.). saúde, radialistas ou parceiros insGRANDSTAFF,objetivo Marvin. Educação não-formal: algumas– indicações para seu uso. titucionais. O principal do projeto o fortalecimenComparative Education Review. Vol. 20, nº 03, october/1976. to das competências familiares – começa a se concretizar GUTIERREZ, Francisco. Linguagem total: uma pedagogia dos meios de Paulo: Summus, 1978. com o despertarcomunicação. de umSão novo entendimento do que é o deHURTADO, Carlos Educar dos para transformar, transformar para educar: senvolvimento infantil e oNuñes. papel adultos nesse processo. comunicação e educação popular. Petrópolis: Vozes, 1993. A mudança de percepção, acompanhada por um novo comILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1973. portamento, parece acontecer em todos os atores do projeKAPLÚN, Mário. Producción de programas de radio: el guión – la realización. 1973. to, tendo a própria equipe como ponto de partida: LA BELLE, Thomas J. Nonformal education and social change in Latin America. UCLA Latin American Studies. Vol. 35. UCLA Latin American Center Publications. University of California, Los Angeles, 1976.
“Eu tenho uma sobrinha em casa e, quando comecei a pensar LIMA, Venício Artur de. Comunicação e cultura: as idéias de Paulo Freire. 2. ed. Rio de Janeiro: Pazpercebi e Terra, 1984. a real importância do projesobre as competências, to. O projeto não trabalha com um assunto qualquer. Não é só 81 falar, falar, falar. É vivenciar isso no dia-a-dia. Eu chegava em
LOPES, Maria Immacolata Vassalo. O Rádio dos pobres: comunicação de massa, ideologia e marginalidade social. São Paulo: Loyola, 1988. MATA, Maria Cristina. “Radio: memorias de la recepcion. Aproximaciones a la identidad de los sectores populares”. Dia-Logos de la comunicacion. Nº 30, 1991. NEUMANN, Laurício. Educação e comunicação alternativa. Petrópolis: Vozes, 1990. Núcleo de Comunicação e Educação (NCE – ECA/USP). Educomrádio.centro-oeste – Diálogos Educomunicativos – Fascículo 1. ALMEIDA FILHO, Edgard Patrício de. Confiança e credibilidade: encurtando as distâncias na educação pelo rádio. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Dissertação de Mestrado, 1999. PIOVESAN, Ângelo. “Rádio-educativo: avaliando as experiências das décadas 60/70”. In: Comunicação e educação: caminhos cruzados. São Paulo: Loyola, 1986. SOARES, Ismar de Oliveira (coord.) – Caminhos da Educomunicação. São Paulo: Editora Salesiana, 2001. SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: ou a emergência do campo da interrelação Comunicação/Educação. Relato de pesquisa (mimeo.). TARDIF, Maurice & OUELLET, Elizabeth. O saber: uma breve visão de conjunto de um campo emergente. Trad. Jacques Therrien (mimeo.). THERRIEN, Jacques et al. Educação e hegemonia: o trabalho e as práticas socioeducativas no campo (relatório de pesquisa). Universidade Federal do Ceará/ Faculdade de Educação. Vol. II. Fortaleza, junho/1992 (mimeo.). THERRIEN, Jacques et al. O saber social da prática docente (relatório de pesquisa). UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ/FACULDADE DE EDUCAÇÃO. Vol. I. Fortaleza, julho/1996 (mimeo). Unicef. Crianças e Adolescentes no Semi-Árido Brasileiro. 2003 Unicef. Situação Mundial da Infância 2005. 2004.
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Conhecer e compreender o impacto de suas atuações é um desafio permanente para todas as iniciativas sociais e parece intensificar Anexos -se quando não há uma relação direta entre a ação e o público final, como no caso das famílias ouvintes dos programas produzidos pela Catavento. ANEXO Ainda não se sabe o1 perfil, nem o tamanho dessa audiência. Também nunca foi feita uma pesquisa sobre a recepção dos DO PROJETO programas pelosRADIALISTAS ouvintesPARTICIPANTES ou o impacto produzido nas famí56 radialistas lias entrevistadasFasee1 –nos radialistas sensibilizados. O próprio Abelardo Martins Araújo – União do Vale FM 105,1 é – Cruz papel atual do rádio nessas comunidades pouco estudado, Alfredo Alves Neto – Rádio Jornal – Canindé Ângela Paula Francisco Saturnino Líder – Acopiara seja por universidades, centros de– Rádio pesquisa ou movimentos Antônia Neila Ferreira de Sousa – Rádio Difusora Cristal – Quixeramobim Antôniomaneira, Barbosa Oliveira – a Rádio Novo Tempo FM – Sobral sociais. De qualquer Catavento tem um grande Antônio dos Santos de Oliveira Lima Neto – FM 06 de Abril – Cruz Antônio Elias M. Barbosa – 104,9 FM Apuiarés – Apuiarés e reconhece a desejo de começar a conhecer esse impacto Antônio Francisco Alves de Macêdo (Tony Alves) – Rádio Jornal – Iguatu Antônio Leonídio de Oliveira (Leo Bétio) – Rádio Liberdade – Boa Viagem Secretaria de Saúde (por meio dos agentes comunitários) Antônio Marcos da Silva – Iguatu Antônio Marcos Sousapara – Rádio São Francisco – Canindé como parceiro estratégico uma pesquisa junto às famíAntônio Neto Gomes Freitas (Duda do Elo Amigo) – Jucás Carlos Roberto Chaves – Rádio Jornal – Canindé lias. Carlúcio Campos – Rádio Universitária – Sobral Clóvis Henrique Almeida – 104,9 FM Apuiarés – Apuiarés Por enquanto, a certeza do r Barbosa ANEXO 1 (H2) Denílson Eufrásio da Silva – Retiro FM 104,9 – Tejuçuoca Eucivanda Bezerral Maciel – Rádio Campo Maior – Quixeramobim Francimar de O. Lima (Francimar Lima) – Rádio Difusora Cristal – Quixeramobim Francimario Batista – Sucesso FM – Jucás CE Francisca Esterlita Mota Mattos – Retiro FM 104,9 – Tejuçuoca Francisco Aderir Martins – Rádio Jornal – Canindé Francisco Josenir Silva Nascimento – Rádio Sertão FM Francisco Wellington Firmino – Rádio Novo Tempo FM – Sobral Gabriela Rock’s – Jacarequara FM 104,5 – Jijoca Gerlane Maria Sousa Mota – Tejuçuoca FM 105,5 – Tejuçuoca Isaura Reis de Oliveira Filha – Rádio Campo Maior – Quixeramobim Josafar Vitório de Souza – Rádio Cultura de Quixadá – Quixadá José Gerardo Miguel Bernardo - Rádio Novo Tempo FM – Sobral José Guedes Costa - Prefeitura Municipal - Iguatu José M. de Lima Júnior- Laser FM 104,9 - Quixeramobim – CE José Marcio Silva Sousa - Rádio São Francisco - Canindé José Silvanir Soares - Rádio Cidade de Iguatu - Iguatu José Stepheson Alves de Carvalho (Técio Júnior) - Iguatu José Wagner Freitas – Elo Amigo - Quixelô José Willame M. Fernandes (Jotha Willame) - Rádio Difusora Cristal – Quixeramobim Josefa Iara Pereira da Silva – Rádio Líder FM 105,1 – Iguatu Josefa Martins da Rocha – Rádio Cultura de Quixadá – Quixadá Francisco Pereira da Silva (Juca Branco) – AM Difusora
RADIALISTAS PARTICIPANTES DO PROJETO (H3) Fase 1 – 56 radialistas
Abelardo Martins Araújo – União do Vale FM 105,1 – Cruz Alfredo Alves Neto – Rádio Jornal – Canindé Ângela Paula Francisco Saturnino – Rádio Líder – Acopiara Antônia Neila Ferreira de Sousa – Rádio Difusora Cristal – Quixeramobim Antônio Barbosa Oliveira – Rádio Novo Tempo FM – Sobral Antônio dos Santos de Oliveira Lima Neto – FM 06 de Abril – Cruz 83 Antônio Elias M. Barbosa – 104,9 FM Apuiarés – Apuiarés
Maria Adriana Mendes da Silva – Retiro FM 104,9 – Tejuçuoca Maria Claudiana Braga Freitas – Rádio São Francisco – Canindé Maria Cleomar Duarte Gomes – Jucás Maria Sandra da Costa – FM Itarema 104,9 – Itarema Maria Socorro Costa e Silva – Rádio Campo Maior – Quixeramobim Martin Lutero de Lima Nunes – Iguatu Maurício Aureliano Moreira – Rádio Novo Tempo FM – Sobral Mazenir Ferreira – Jacarequara FM 104,5 – Jijoca Narcélio da Mata e Silva – Jucás Nílson Silveira – União do Vale FM 105,1 – Cruz Odair José Pereira da Silva – 104,9 FM Apuiarés – Apuiarés Paulo Henrique Pinto Alves – Tejuçuoca FM 105,5 – Tejuçuoca Rogilson Oliveira Brandão – Rádio 104,9 Tejuçuoca – Tejuçuoca Susana Lúcia Ferreira Britto – Rádio Cultura de Quixadá – Quixadá Tadeu Fonseca – Rádio Liberdade – Boa Viagem Valdenir Luiz – FM Itarema 104,9 – Itarema Wilker Douglas – Jacarequara FM 104,5 – Jijoca Wilson de Mesquita M. Neto – São Pedro FM 104,9 – Tejuçuoca Fase 2 Abelardo Martins Adelmo Ferreira Lino – Iguatu Adelmo Rodrigues Feitas – Ponte Nova Adriana Silva de Oliveira – Jucás (idem) Agneton Alves de Matos – Cariús Alfredo Alves Neto – Rádio Jornal de Canindé – Canindé Amarildo Pinheiro Lima – Piquet Carneiro Ana Carla de Maria – Santana do Acaraú Ana Lúcia S. Ribeiro – Acaraú Ana Rita – Rádio FM Itarema Andréia Lima Pontes – Frecheirinha Ângela Paula Francisco Saturnino – Acopiara Antônia Neila Ferreira de Sousa – Rádio Difusora Cristal Antônio Augusto Filho – Cariús Antônio Bezerra Neto – Jucás Antônio dos Santos de Oliveira Lima Neto – FM Seis de Abril – Cruz Antônio Leonídio Lopes de Oliveira – Ponte Nova Antônio Marcos da Silva – Iguatu Antônio Marcos Sousa – Rádio São Francisco de Canindé Antônio Neto Gomes Freitas – Jucás Caetano Fernandes – Cariús Carlos André Alves Cruz – Tejuçuoca Carlos Roberto Chaves – Rádio Jornal de Canindé – Canindé Clóves Henrique Almeida Barbosa – Apuiarés Daíla Pereira de Almeida – Banabuiu Damasceno – Piquet Carneiro Daniela de Souza Lima - Instituto Elo Amigo – Acopiara Denílson Eufrásio da Silva – Retiro FM 104,9 – Tejuçuoca Edmar Gomes Sousa – Tejuçuoca Erandir Vaz de Lima – Frecheirinha Eucivanda Bezerral Maciel – Rádio Campo Maior – Quixeramobim Evaldo Duarte Teixeira – Tejuçuoca Francimar de O. Lima (Francimar Lima) – Rádio Difusora Cristal
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Francimario Batista – Sucesso FM – Jucás Francisca Esterlita Mota Matos – Tejuçuoca Francisca Francineuma Matias de Sales – Piquet Carneiro Francisco Aderir Martins – Rádio Jornal de Canindé – Canindé Francisco Antônio de Oliveira Sousa – Pedra Branca Francisco Cléber Carvalho Melo – Pires Ferreira Francisco das Chagas F. Barroso – Tejuçuoca Francisco Eudes Azevedo de Sousa – Pires Ferreira Francisco Flávio Pereira Ibiapina – Santana do Acaraú Francisco Gilmário Marques Brás – Quixadá Francisco Narcélio de Andrade – Itarema Francisco Stênio Pires Rodrigues – Itarema Francisco Wélio Ferreira – Irapuan Pinheiro Francisval de Alencar Pereira – Quixadá Gerardo Gadelha Pinto – Boa Viaginha Gerlane Maria Sousa Mota – Tejuçuoca Gernailton Rabelo Monte – Piquet Carneiro Hedevaldo Holanda Cruz – Tejuçuoca Ilana Maria dos Santos de Sá – Quixadá Isaura Reis de Oliveira Filha – Rádio Campo Maior – Quixeramobim Ithiany Ferreira da Silva – Iguatu Janelene da Silva Sousa – Boa Viagem Joaquim Tabosa Ferreira – Rádio Fecapes Josafar Vitório de Souza – Rádio Cultura de Quixadá – Quixadá José Airton Alves Júnior – Banabuiu José Irineu Braga – Santana do Acaraú José Laércio da Silva Vitoriano – Piquet Carneiro José Machado de Lima Júnior – Banabuiu José Marcio Silva Sousa – Rádio São Francisco de Canindé José Nilson Silveira – Cruz José Oderno dos Santos – Morrinhos José Vidal de Araújo Júnior – Santana do Acaraú José Wagner Freitas – Quixelô José Willame M. Fernandes (Jotha Willame) – Rádio Difusora Cristal Josefa Iara Pereira da Silva – Rádio Líder FM 105,1 – Iguatu Josefa Martins da Rocha - Rádio Cultura de Quixadá – Quixadá Juca Branco – AM Difusora Júlio Lopes de Sá Leitão – Acaraú Luiz Rodrigues Flores – Piquet Carneiro Márcia Rodrigues Mota – Tejuçuoca Marcos Henrique Alencar – Pedra Branca Mardonisa Cruz da Silva – Tejuçuoca Maria Adriana Mendes da Silva – Tejuçuoca Maria Augusta Freitas Dinis – Apuiarés Maria Claudiana Braga Freitas – Rádio São Francisco de Canindé Maria Cleomar Duarte Gomes – Jucás Maria Edleda Andrade – Morrinhos Maria Eridânea da Costa Furtado – Itarema Maria Gabriela da Silva – Gijoca de Jericoaquara Maria Ivonete Barbosa Silva – Tejuçuoca Maria Rute Soares Silva – Quixadá Maria Sandra da Costa Souza – Itarema Maria Socorro Costa e Silva – Rádio Campo Maior – Quixeramobim Maria Socorro Farias Cabral – Milha
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Maria Vanderlândia Menezes (Aninha) – Cruz Marileuda Martins da Mota – Tejuçuoca Marlúcio Filintro da Silva – Irapuan Pinheiro Mayana Araújo Batista – Iguatu Mazenir Ferreira – FM 105,5 – Gijoca Michele Silva Lima – Banbuiu Narcélio da Mata e Silva – Jucás Nilda Maria Barbosa da Silva – Cariús Odair José Pereira da Silva – 104,9 FM Apuiarés Paulo Gerfson de Lima – Milha Paulo Roberto Feitosa – Morrinhos Régis Braga – Cruz Ricardo Soares dos Santos – Apuiarés Roberto Tavares Pires – Itarema Rogilson Oliveira Brandão – Tejuçuoca Sandra Linhares de Melo – Boa Viaginha Severino Freire de Lima – Cruz Susana Lúcia Ferreira Britto – Rádio Cultura Quixadá – Quixadá Tadeu Fonseca Pires – Boa Viaginha Tereza Maria Carneiro – Morrinhos Trisllanda Moura de Sousa – Morrinhos Valdênio Márcio Ribeiro – Acaraú Valdenir Luiz – FM Itarema 104,9 – Itarema Valdenir Venâncio Rodrigues – Boa Viagem Wilker Douglas Ribeiro Silva – Gijoca de Jericoaquara Fase 3 Abelardo Martins – Rádio União do Vale – Cruz Abimael de Castro – Rádio Líder De Paraipaba – Paraipaba Agneton Alves de Matos – Rádio Cariús FM – Cariús Alex – Rádio Umaitá – Senador Pompeu Álvaro Ângelo – Rádio Genoveva FM – Bela Cruz Amarildo Pinheiro – Rádio Tempo – Piquet Carneiro Antônio Edilson Correia – Rádio Jornal – Iguatu Antônio Leobétil – Rádio Liberdade AM – Boa Viagem Antônio Ribeiro Teixeira – Rádio FM do Povo – Itatira Augusta Diniz – Rádio FM Apuiarés 104,9 – Apuiarés Carlos Alberto de Freitas - Cafita Carlos Alberto Fonteles – Rádio Cidade – Cruz Carlos Audi – Rádio Sertões de Mombaça – Mombaça Chagas Mendes – Rádio Difusora de Nova Russas – Nova Russas Cícero de Sousa – Rádio Centro – Frecheirinha Dr. Lima – Rádio FM 6 de Abril – Cruz Elaine Nogueira – Rádio Mandacaru FM – Solonópole Elisvânia Lopes – Rádio Jornal de Canindé – Canindé Eraclides Pontes Forte – Rádio Forte da Cidade – Tejuçuoca Evaldo Duarte Teixeira – Rádio São Pedro – Tejuçuoca Fernando Filho – Rádio FM Paramoti – Paramoti Flávio Ibiapina – Santana do Acaraú Fran Filho – Rádio Pioneira Fm – Choro França Júnior – Rádio Marazul – Paracuru Francis Alencar – Rádio Pereiro FM – Pereiro
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Francisca Maria de Almeida – Rádio Lages – Acopiara Francisca Pereira Borges – Rádio Araras Norte – Varjota Francisco Carloto – Rádio Vanguarda AM – Caridade Francisco de Assis Belchior – Rádio Cultura – Quixadá Francisco Flávio Vieira Da Silva – Rádio Esperança FM – Catarina Francisco Henes Ferreira Cunha (Ferreira) – Rádio Cultura – Paracuru Francisco Wélio Ferreira – Rádio Tataíra FM – Irapuan Pinheiro Geann Duarte – Rádio FM São Gonçalo Do Amarante – São Gonçalo Do Amarante Gema Galgâni Cunha Braga – Rádio Regional – Sobral Geovane Severo – Rádio Sertão FM – Madalena Ivonildo Silveira – Rádio Nova FM – Solonópole Jandeir Alves Costa – Rádio Vale do Quincoê – Acopiara Jeová Barros – Rádio Cidade – Iguatu João Paulo Teixeira Paulino – Rádio São Francisco – Canindé Joaquim da Mota Neto (Jaquinha) – Rádio Natividade – Umirim Joaquim Tabosa Ferreira – Rádio Fecapes – Marco Joel Oliveira – Rádio Guanacês AM – Itapajé Johnatan Guilherme Oliveira – Rádio Clube Via Cabo – Acopiara Johnatan Lessa – Rádio 97 FM – Quixeramobim José Oderno dos Santos – Rádio Princesa Do Norte – Morrinhos José Valderico Carneiro Nunes (Derico) – Rádio FM 104.9 Liberdade São Luís do Curu José Vilmar Inácio Botão – Rádio Sertão Central – Senador Pompeu Jota Silva – Rádio Difusora de Solonópole AM (Cachoeira) – Solonópole Luciano Augusto – Rádio Asa Branca – Boa Viagem Luis Gonzaga A. Vasconcelos (Maninho) – Rádio Cidade – Irauçuba Mardonisa Cruz da Silva – Rádio São Bento – Tejuçuoca Maria Cleomar Duarte – Rádio Sucesso – Jucás Maria Sandra da Costa Souza – Rádio FM Itarema – Itarema Maria Socorro Farias – Rádio Capitão Mor – Milha Paulo Andrade – Rádio Difusora do Vale Do Acaraú – Acaraú Pinto Carneiro – Rádio Nossa Senhora das Graças – Graça Sebastião Paulino – Rádio Tropicália – Iguatu Raimundo Juderlan Bezerra de Brito – Rádio Laser FM – Banabuiú Régis Andrade – Rádio Antena Centro FM – Quixeramobim Régis Braga – Cruz Tabosa Filho – Rádio Bela Vista FM – Itapajé Tâmer Sancho Tony Oliveira – FM Opção – Pedra Branca Tupinambá Aquino (Zeca Aquino) – Rádio Tupinambá AM de Sobral – Sobral Vera Sousa – Rádio Participativa – Piquet Carneiro Violeta Câmara – Rádio Difusora Cristal – Quixeramobim Wagner Santos – Rádio FM Cidade – Cariré Wilker Douglas – Rádio Jacareguara FM – Jijoca
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ANEXO 2
Competências familiares Competências familiares na atenção às crianças pequenas são os conhecimentos, comportamentos, práticas e habilidades das famílias que facilitam e promovem a sobrevivência, o desenvolvimento, a proteção e a participação das crianças.
Quais são . Providenciar que as gestantes tenham acesso a serviços de pré-natal com atenção integral e com exames complementares, a um parto humanizado, com profissionais capacitados, e a um pós-parto de qualidade. . Garantir a participação do pai ou de algum membro da família no pré-natal, parto e pós-parto. . Saber reconhecer sinais de alerta e perigo durante a gestação, parto e pós-parto. . Assegurar que a criança tenha garantido o registro civil e a certidão de nascimento gratuitos assim que nascer. 5. Providenciar para que as crianças sejam totalmente imunizadas (BCG, DPT, OPV, e sarampo) antes do primeiro ano de vida. 6. Oferecer amamentação exclusiva até os 6 meses, e continuada até os 2 anos de idade. Aproveitar o momento da amamentação para fortalecer os vínculos mãe/criança. 7. Começar a alimentação complementar aos 6 meses e oferecer alimentos ricos em nutrientes e preparados de modo adequado e saudável, sem abandonar a oferta de leite materno até os 2 anos ou mais. Aproveitar os momentos das refeições para aumentar as inter-relações familiares. 8. Garantir que as crianças recebam quantidades adequadas de micronutrientes (vitamina A e ferro especialmente), tanto na alimentação normal como através da alimentação suplementar. 9. Manter mãos sempre limpas, antes da preparação de alimentos e antes de alimentar as crianças, principalmente após a defecação. 0. Proteger as crianças e gestantes em áreas atingidas por malária (com uso de mosquiteiro impregnado) ou por dengue com outros métodos de proteção. . Reconhecer quando crianças doentes precisam de tratamento em hospitais ou centros de saúde. . Seguir dicas de saúde. . Continuar a alimentação e oferecer bastante líquido, inclusive leite materno às crianças doentes. . Oferecer tratamento adequado em casa às crianças com infecção. 5. Estabelecer e manter uma rotina de atividades familiares. Fazer as mesmas atividades todos os dias nas mesmas horas. 6. Falar e ler para a criança e dar-lhe o máximo de materiais impressos (com figuras e texto), para lhe estimular a linguagem e prepará-la para a leitura. 88
7. Passar tempo com a criança. Para conhecer a criança, é importante reservar algum tempo, mesmo que sejam alguns minutos, para passar somente com ela. 8. Assegurar que a criança tenha brinquedos e outros objetos com os quais poderá interagir. Crianças precisam manipular coisas e explorar seu mundo. 9. Escutar a criança e encorajar a sua participação em decisões de família desde bem pequena. 0. Procurar oportunidades para a criança se socializar com outras crianças de sua idade, para brincar e aprender como reagir reciprocamente em situações sociais. . Estabelecer redes informais com outros membros da família e vizinhos para cuidar das crianças em situações excepcionais ou imprevistas (doença, greve na creche ou escola, ausência dos pais, etc.). . Identificar espaços pedagógicos adequados de qualidade, que estimulem a participação, para que as crianças tenham garantidos seus direitos enquanto a mãe ou outros membros da família estiverem trabalhando, identificando pessoas responsáveis e reconhecidas pelas crianças. . Evitar que as crianças entrem em contato com os efeitos danosos do álcool e outras drogas (durante a gestação e amamentação, brigas familiares e violência intrafamiliar). . Identificar e saber como acessar e assegurar em sua vizinhança e em seu município os serviços não existentes, mas necessários, que podem contribuir para o cuidado e desenvolvimento de suas crianças. 5. Priorizar os cuidados com as crianças no orçamento familiar.
Texto distribuído pela Catavento para os radialistas participantes das oficinas, a partir dos conceitos do Unicef.
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ANEXO 3
Competências municipais Competências municipais são as diversas atividades ou serviços, sob responsabilidade dos municípios, que concretizam os direitos da criança e que garantem às famílias as condições necessárias para o pleno exercício de suas competências em relação aos seus filhos.
Quais são . Oferecer serviços de pré-natal, parto e pós-parto de qualidade e humanizado, em unidades de saúde e hospitais, com profissionais capacitados, qualificados e com condições de trabalho que assegurem um nascimento seguro. . Ter serviços de saúde que estimulem a participação do pai e de membros das famílias no pré-natal, parto e pós-parto, informando a importância para a criança e mãe desse envolvimento familiar. . Ter políticas de implantação e implementação do Programa de Saúde da Família – (PSF), do Programa de Agentes Comunitários de Saúde – (PACS) e da Pastoral da Criança, que informem e construam com as famílias os saberes no fortalecimento das competências familiares. . Garantir que a criança tenha assegurado o direito ao registro civil e certidão de nascimento gratuitos em postos avançados em hospitais, maternidades e dos cartórios de registro. 5. Ter unidades de fácil acesso com serviços de atenção integral à saúde, que garantam que as crianças sejam completamente imunizadas (BCG, DPT, OPV e anti-sarampo). 6. Garantir que os programas PSF, PACS e Pastoral da Criança orientem sobre amamentação exclusiva até os 6 meses e continuada até os 2 anos e que os hospitais-maternidade do município conquistem o título de “Hospital Amigo da Criança”. 7. Garantir que as unidades de saúde, o PSF, o PACS e a Pastoral da Criança tenham profissionais qualificados na orientação dos pais em relação ao desmame e à alimentação complementar. 8. Garantir que as unidades de saúde tenham profissionais qualificados na orientação em micronutrientes na alimentação normal e estoques necessários de vitamina A e ferro, especialmente. 9. Garantir que os programas de saúde destinados à população, especialmente o PSF, o PACS e a Pastoral da Criança, tenham projetos de higiene de qualidade. 0. Garantir que, em áreas atingidas por malária, as crianças e gestantes tenham acesso ao mosquiteiro impregnado e outros métodos de proteção. . Garantir que as crianças doentes tenham fácil acesso a unidades de saúde, sejam centros de saúde ou hospitais qualificados para o seu atendimento. . Garantir que as famílias tenham acesso a profissionais que as orientem nos procedimentos, dicas, práticas e atitudes em relação a situações de saúde. . Garantir que as famílias tenham acesso a profissionais que as orientem em como oferecer atenção as suas crianças, especialmente na oferta de líquidos e leite materno. 90
. Garantir que as famílias tenham acesso a informações de como oferecer tratamento adequado em suas casas para as crianças com infecção. 5. Garantir que as famílias tenham acesso a informações qualificadas sobre a importância de manter uma rotina de atividades familiares, por exemplo, de higiene pessoal matinal, hora do banho e hora de dormir. 6. Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância da conversa e leitura para as crianças e acesso facilitado a revistas, livros ou figuras, ou mesmo a creches e pré-escolas de qualidade ou outra forma de organização comunitária que favoreçam essas práticas. 7. Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância de dedicar ou passar algum tempo com a criança e somente com ela. 8. Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância da criança ter brinquedos, seja em casa ou mesmo em brinquedotecas, creches e pré-escolas de qualidade ou outra forma de organização comunitária que favoreçam esse processo. 9. Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância de escutar a criança e garantir a sua participação em decisões da família desde bem pequena. 0. Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância da criança ter oportunidades de se socializar com outras crianças de sua idade, para brincar e aprender a como reagir reciprocamente em situações sociais, seja em casa, em creche e pré-escolas de qualidade ou outra forma de organização comunitária que favoreçam essas práticas. . Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância de estabelecer redes informais com outros membros da família e vizinhos para cuidar das crianças em situações excepcionais ou imprevistas assim como facilitar a existência dessas redes. . Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância de estabelecer redes formais com outros membros da família e vizinhos, tais como clubes de mães, para cuidar das crianças em situações de rotina assim como facilitar a existência dessas redes. . Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre os efeitos danosos do álcool e outras drogas, através da mídia, encontros comunitários e profissionais do PSF, do PACS e da Pastoral da Criança. . Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre como acessar e assegurar os serviços existentes que podem contribuir para atenção integral as suas crianças, através dos profissionais do PSF, do PACS e da Pastoral da Criança, mídia, clubes de vizinhança ou outros. 5. Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre como exigir e assegurar a existência de serviços existentes que podem contribuir para a atenção integral as suas crianças, através dos profissionais do PSF, do PACS e da Pastoral da Criança, mídia, clubes de vizinhança ou outros. 6. Garantir que as famílias tenham acesso a informações sobre a importância de que o principal provedor da criança tenha controle do orçamento e dos recursos financeiros do lar.
Texto distribuído pela Catavento para os radialistas participantes das oficinas, a partir dos conceitos do Unicef.
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ANEXO 4 Pacto Nacional Um mundo para a criança e o adolescente no Semi-árido Considerando os Objetivos do Milênio assumidos pelo Governo Brasileiro junto à ONU no ano 2000; Considerando as realidades socioeconômica, cultural e ambiental do semi-árido brasileiro, a representatividade de sua população e as potencialidades ali existentes; Considerando que crianças e adolescentes representam 41,3% da população dessa região e que esse segmento é mais vulnerável aos desafios ali vivenciados; Os Governadores dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais e o Governo Federal resolvem firmar o compromisso de promover estratégias para fortalecer, nos municípios do semi-árido brasileiro, um conjunto de ações integradas a partir das diferentes áreas das políticas públicas de cada Estado, articulando-as com as federais e municipais, com o objetivo de melhorar a situação das crianças e adolescentes. Com a denominação de Pacto Nacional - um mundo para a criança e o adolescente no Semi-árido, esse processo de mobilização e ação baseiase na integração de esforços dos governos federal, estaduais e municipais, bem como da sociedade civil, a partir da definição de metas a serem alcançadas como forma de: · Promover o direito à vida de forma saudável e sustentável; · Garantir o acesso à educação de qualidade; · Proteger as crianças e adolescentes contra maus-tratos, exploração e violência; · Combater a AIDS e a infecção por HIV. Os Governadores comprometem-se ainda a criar, em cada estado, em interação com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, um comitê de mobilização dos municípios e monitoramento das metas e indicadores municipais, para o melhor desempenho deste Pacto. Brasília, 17 de junho de 2004.
Fonte: www.unicef.org/brazil/semi_arido
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