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Conceição Oliveira

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Xavier

Xavier

CONCEIÇÃO OLIVEIRA pintura | escrita

Pormenor I, 2017 Técnica mista s/tela 600x500

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Detail 1-Frida Khalo, 2019 Técnica mista s/tela 600x500 Conceição Maia Rocha de Oliveira nasceu em Aveiro, Portugal, onde reside.

Estudou artes na Escola Industrial e Comercial de Aveiro (4 anos) tendo tido mestres de renome.

Nos seus horizontes, a carreira docente. É diplomada pela Escola do Magistério Primário e pela Alliance Française. Cursou humanidades até ao 12º ano nos Liceus de Aveiro e frequentou Línguas e Literaturas na U. de Coimbra. É Licenciada em Português/ Francês pela U. de Aveiro.

Exerceu docência durante 38 anos. Sempre escreveu. Publicou em Jornais Escolares, Diários e Informativos. É autora de livros (poesia, conto, Infantojuvenil) e coautora em Antologias/Coletâneas, Agendas e Revistas Culturais - Portugal, Brasil, Moçambique, Roménia e Equador.

Aposentada em 2010, dedica-se à escrita, à tertúlia poética/literária e à pintura, conciliando expressões artísticas. Sempre pintou. Aos fins de semana e nas férias dava azo à paixão pelas artes plásticas.

Expôs pela primeira vez em 1984 no Salão Cultural de Aveiro, Edifício Fernando Távora. Frequenta, desde 2014, os Cursos Livres da Cooperativa Árvore, no Porto. Integrada em diversas associações, participou e participa em inúmeras coletivas de pintura: Portugal, Espanha, França. Concretizou uma dezena de exposições individuais em diversas cidades portuguesas. Recebeu prémios literários - Portugal e Brasil.

Três das suas obras pictóricas foram premiadas – Portugal e França.

Pormenor (1) Pretende salientar a exuberância (pelos acessórios) da atriz e cantora, Carmem Miranda. Pintura a três dimensões. Técnica mista sobre tela (utiliza diversos tecidos: linhos, serapilheira, rendas, areia, colas, gesso, tintas e outros materiais em relevo.

Détail (1) – destaca pormenores de relevo em Frida Kallo – vestuário, acessórios de penteado, mas também males de corpo e de alma. Pintura a três dimensões. Técnica mista sobre tela (coberta com diversos tecidos, colas, gesso, tintas e outros materiais em relevo).

O meu lado feminino…

Toda a humanidade está ligada ao fenómeno natural que não é mais do que a junção do pólen - em voo ou em queda do Androceu para se instalar, transformar e renascer num novo habitáculo a que chamamos gineceu. Vida vegetal, em tudo semelhante à vida animal da qual somos parte integrante. E é esse pequeno fio, baba invisível a olho nu, que opera transformações a que o vento, chuva, insetos, não sendo alheios, mas obreiros, numa mesma missão a génese, a construção de um novo ser a perpetuar a espécie que, ao vir à luz, traz consigo duas marcas: a do masculino, e a do feminino - representando um só ser indivisível. Assim, levemente pensando, me sinto envolvida pelos dois lados da questão - a que chamamos vida.

Mas é nos passos deselegantes, masculinizados, quando apressada, ou em correria, que sinto o masculino que me habita. Todavia, fiel depositária das tradições célticas, celebrando a vida em danças de roda e sementeira, recetáculo de pólen, esse o lado feminino que há em mim. Para além da maternidade, um caminhar lado a lado, convivendo com características semelhantes mas diferentes ao mesmo tempo. Quando me sinto Mater famílias, sou o feminino por inteiro.

Paradoxalmente, o meu lado mais feminino não surgiu na infância, mas sim na adolescência quando quis imitar a mãe e a irmã mais velha calçando sapatos de salto alto. Também no ruborizar das faces ao cruzar-me com um rapaz, coisa rara à época, já que a separação de géneros nas escolas e liceus era a ideologia do regime, que culminava na razão do velho ditado popular “O fruto proibido é sempre o mais apetecido”.

O maio de 68 que trouxe uma maior consciencialização do papel e do valor da mulher na sociedade e a luta pela libertação do jugo masculino. Talvez o contributo para acentuar em mim esse lado, ainda que juvenil, para uma alma feminina que urgia preservar, mas com todos os direitos. Os valores vigentes foram então equacionados, não invertidos, porque aí teríamos o contrário daquilo que se defendia – a igualdade de género. E seria mau, muito mau, mau de mais, passar de dominadas a dominadoras. Sou filha e irmã dessa geração que viveu e promoveu a grande transformação social e que foi o movimento feminista que lutou pelas conquistas que hoje usufruímos.

Contudo, é na implacabilidade e na rigidez de ideias - reveladas na grande maioria do masculino – que sinto habitar um invólucro mais espiritual e afetivo onde encontro, fundeado, um lado mais feminino e próximo de Ying.

Vezes há, porém, em que ocupo o outro lado, sem remorsos; na precisão e na frieza do real, na palavra certeira a colocar ordem nas coisas, e de onde o afetivo se arreda. A esta junção, eu chamo - Viver em harmonia Kármica.

Conceição Oliveira

Quando a consciência desperta para o feminino.

Ligada à simbiose genética sou ínfima molécula de uma humanidade à deriva jangada de pedra em busca de abrigo e de harmonia cósmica. E é nos momentos de comunhão com a terra oferecida à sementeira que a criação dá largas ao voo seguras - as raízes no meu chão. E quando o céu se abre a libertar a claridade retida e dos sulcos do mar a água recolhida desabrigo-me. E deixo cair a última nuvem de mim. Louvando e confiando na complacência da Magna Mater (pela natureza esfuziante) pressinto auras de luz de onde desabrocha o meu lado mais feminino. Desnudo o âmago, sou inteira. Borboleta, crisálida, lagarta, e todas as fases da vida. E quando um filho menino me diz – mãe - és o meu porto seguro eu sinto nesse afago ao coração porventura o mais sincero naquele amplexo puro de um amor gerado e parido depois de um outro tão intenso e diferente (como um raio de sol no meio do escuro) e ambos, sonata, adágio, canção. E no côncavo dos espelhos da humanidade desperto o consciente e absorvo da vida a verdadeira intenção. Onde mergulha e se expande o meu eu feminino

Conceição Oliveira

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