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Manuela Barroso

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Xavier

Xavier

MANUELA BARROSO escrita

LUMINESCÊNCIAS

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Um trabalho poético numa incursão gnóstica, de um percurso embalador na busca incessante pela ansiada harmonização do ser e pelos desafios da nossa condição. Esta é dorida incerteza que brota do mistério que faz de todos nós criaturas que se sentem interpeladas pelos desafios da nossa condição em palavras de grito e silêncio, harmonia e paz. Mbarroso Maria Manuela Barroso Nogueira Martins Ferreira de Castro nasceu em Terras de Bouro, distrito de Braga -Portugal.

Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde se licenciou em Filologia Românica, tendo aí efectuado o Curso de Ciências Pedagógicas.

Leccionou no Ensino Secundário as disciplinas de Português e Francês nas cidades de Aveiro, Braga e Porto.

Iniciou-se pelo mundo das palavras só depois do tempo dedicado à Educação, isto é, depois de 2008.

Publicou:

- “Inquietudes” Poesia, 2012 – Edium Editores - “Laços”, dueto Poesia, 2014 – Editora Versbrava

- Em 2012 foi premiada no 8º Concurso Poético pelo Grupo de Poetas Livres de Florianópolis;

- Em 2014 foi premiada no Concurso Poético, referido no ponto anterior. - Fez parte da Coletânea “Talentos Ocultos”- Poesia

- Co - fundadora do Grupo “Asas de Poesia”- Sessões regulares na Câmara Municipal da Maia

-Faz parte da Gazeta de Poesia Inédita - Colabora em Escritas.org

-Colaborou em mais de uma dezena Antologias de diversas Editoras

-Partilha as suas palavras com o público desde 2010 nos blogs: reflexoesfloridas e anjoazul

A TI, MULHER, ESTE MEU GRITO!

Vou descendo com o sol ansiando a paz do fim do dia. Uma espécie de embriaguez entorpece o raciocínio na fuga vertiginosa da tarde com os seus olhos mornos que se vão pintando no crepúsculo. Tudo se encerra com a vinda da noite: Lar-Colmeia- Paz! Não é luz, não é sol nem é a vida que enche o templo de algumas abelhas carregando colmeias de mel. Não! São colmeias vazias ou cheias de favos de amargo e falso mel...

E a minha alma vagueia, inquieta, na leitura destes sorrisos azedos, sufocando os olhos de mel no vazio do pólen que antes se diluiu nos vapores do vento. E ela sorri, veste a mesa de suor, despe a cama de lágrimas... Já não é ela... ...É uma coisa de gente, gente que não é coisa, gente que já foi gente... Hoje é ferida que ninguém vê e em breve uma escara ferrada no corpo que já não dói porque nem sente. Já não vive... ...É uma anta ambulatória com sorrisos amargos... O doce sorriso esconde-se na chaga que esconde na culpa dessa maldição que se esconde e aninha na colmeia podre com mel suicida.

Mas o sorriso vai rolando pela face, misturando-se com as lágrimas no compasso desta morte lenta. ...E já não é coisa nem é gente. Já nem sente! É fantasma de mulher- moribunda na flor desflorida do seu martírio. ...E o sorriso azedo rasgou-lhe as pétalas, sugou-lhe o perfume para verter o ácido neste mel sádico na pele macia e quente de mulher que já não é gente!

Nesta raiva com que fico. Neste amor que te dedico. A ti, mulher, este meu grito!

MULHER

Recuso-me a partir o meu caminho é aqui.

Dói-me o cansaço das pedras caladas no refúgio do olhar dói-me o esgoto da prepotência veleiro nas tempestades no regato cristalino dói-me a nobreza da vida na condição de ser mulher doem-me as estátuas nas esquinas em granito a pedir pão dói-me o bolor da harmonia onde o sim é querer [dizer] não.

Doem-me os corpos jazidos em leitos de podridão onde o amor é compasso notas soltas, solidão. Dói-me o fogo de lar em chamas de exaustão ordens impostas à pressa vendaval turbilhão.

Máscaras de cinza pousada nas ruínas do coração onde adormecem as lágrimas na sede de fogo sem amor e sem paixão.

A ti, que dormes acordada na noite da escuridão a ti, que choras em silêncio no brinquedo do teu corpo que tantas vezes diz não a ti, onde os frutos nascem comendo da tua seiva a ti, que te “honram” com a tua mutilação a ti, que te proíbem de seres tão “impura” na fruta quente e madura a ti, que te olham como brinquedo humano a ti, que tudo lembras o profano

...Levanta-te e anda mulher! Um dia comerão os frutos só os que tu colheres e tua vontade e alma der.

Manuela Barroso

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