ISSN 1984-4700
A n o I V | N º 1 | J u n h o d e 2 0 1 2 Uma publicação da Fundação Lauro Campos
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ECOSOCIALISTA
Rio+20: Ecossocialismo ou Redução de Danos por Paulo Piramba Sociedade contemporânea e crise ecológica: universalismo ou questão de classe? Por Rodrigo Santaella Os ecossocialistas e a unidade necessária Por José Romari Dutra da Fonseca Entrevista Michael Löwy critica Rio+20 e a propaganda da ‘economia verde’ A economia cinzenta pode virar verde? Por Marcos Arruda e Sandra Quintela Brasil 2012: diagnóstico de injustiça socioambiental e perspectiva de luta ecossocialista Por Beto Bannwart e Georgia Mocelin Os venenos que o capitalismo nos serve Por Luiz Felipe Bergmann A hora do veto ao novo Código Florestal Por Ivan Valente Entrevista Osmarino Amâncio Plano de manejo invade reserva extrativista O desafio da construção de um mandato municipal ecossocialista Por João Alfredo Telles Melo
ECOSSOCIALISMO OU BARBÁRIE
Fundação do Setorial Ecossocialista do PSOL Curitiba, dias 1º, 2 e 3 de abril de 2011
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ECOSOCIALISTA A n o I V | N º 11 | J u n h o d e 2012 U m a p u b l i c a ç ã o d a Fu n d a ç ã o L a u ro C a m p o s
Sumário Revista Ecossocialista: Uma ferramenta de luta, um sonho realizado de (e para) Paulo Piramba
4
Paulo Piramba Rio+20: Ecossocialismo ou Redução de Danos
6
Sociedade contemporânea e crise ecológica: universalismo ou questão de classe? Por Rodrigo Santaella
7
Os ecossocialistas e a unidade necessária Por José Romari Dutra da Fonseca
9
A economia cinzenta pode virar verde? Por Marcos Arruda e Sandra Quintela
11
Entrevista | Michael Löwy critica Rio+20 e a propaganda da ‘economia verde’
13
Brasil 2012: diagnóstico de injustiça socioambiental e perspectiva de luta ecossocialista Por Beto Bannwart e Georgia Mocelin
15
A resistência à instalação da Companhia Siderúrgica de Ubu (csu) Por Maria Helena Rauta Ramos, Arthur Moreira e Ricardo Nespoli
17
Os venenos que o capitalismo nos serve Por Luiz Felipe Bergmann
18
A hora do veto ao novo Código Florestal Por Ivan Valente
20
Entrevista | Osmarino Amâncio: Plano de manejo invade reserva extrativista
23
Territórios tradicionais
27
O desafio da construção de um mandato municipal ecossocialista Por João Alfredo Telles Melo
29
Mudanças climáticas e as cidades Por Alexandre A. Costa
33
Políticas públicas municipais Por Gert Schinke
35
Um programa ecossocialista para as cidades
40
Rio+20, Cúpula dos Povos e ideologia ambiental do capital: Um tributo (urgente!) a Paulo Piramba Por Miguel Borba de Sá
42
Fundação do Setorial Ecossocialista do PSOL
45
Não à energia nuclear no Brasil
48
ISSN 1984-4700
Apresentação
Apresentação
Revista Ecossocialista: Uma ferramenta de luta, um sonho realizado de (e para) Paulo Piramba
Nascido Paulo Roberto Ribeiro Guimarães, Piramba foi militante socialista desde os 14 anos e, nessa época, no movimento estudantil, participou da resistência à ditadura militar. Mais tarde, no final dos anos 70, participou intensamente da mobilização pela fundação do Partido dos Trabalhadores, onde
(*03/10/1956; +23/07/2011)
foi filiado e militante até o início de 2003. No PT fez O Setorial Ecossocialista Paulo Piramba do
civilizacional planetária, como a que a humani-
PSOL presta homenagem, nesta construção a
dade – e a natureza, como um todo – se deparam
várias mãos, através da Revista Socialismo e
nesta quadra histórica.
parte da organização do setorial de meio ambiente. Além disso, foi assessor da bancada do partido na
Liberdade, ao grande inspirador, articulador e
Temos, portanto, noção do limite que é a
animador deste coletivo. É unânime entre nós
compilação de textos, dado o desafio que se
o reconhecimento do papel de Piramba na or-
coloca para a sociedade humana e os ecosso-
desde 2001, colaborou na construção do 1º Manifesto
ganização dos ecossocialistas do PSOL, daí ter
cialistas, em particular. Mas não fugimos a ele e
Ecossocialista lançado no primeiro Fórum Social
sido unânime também a indicação de seu nome
buscamos – neste mosaico de artigos – contem-
como patrono do setorial nacional.
plar o que, pelo menos, consideramos essencial
No 1º Congresso Nacional do PSOL no RJ,
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ecossocialista
Mundial, realizado em Porto Alegre, também em 2001. Ajudou na organização e legalização do PSOL, onde se
neste momento.
Piramba articulou uma reunião de ecossocia-
Assim, o leitor – e militante das boas causas
listas para debater a viabilidade de um setorial
ecológicas, populares e socialistas – vai encon-
próprio. Em torno de 40 pessoas participaram
trar nesta revista desde a discussão de cunho
do e das suas plataformas eleitorais. Como membro da
dela, base para a lista nacional dos ecossocia-
mais teórico acerca do ecossocialismo na
Rede Ecossocialista Internacional, cooperou no avanço
listas do PSOL, que existe até hoje. Esta reunião
crítica à civilização do capital, até os temais
ocorreu ao ar livre, à sombra de uma bela man-
mais correntes – e preementes – da conjun-
da discussão ecossocialista em fóruns nacionais e internacionais.
gueira, no intervalo do 1º congresso, na UFRJ
tura, como o debate sobre o novo Código
Esta revista tem o sabor de sua coletividade. Vários de seus
Praia Vermelha. Paulo Piramba escreveu um
(Anti)Florestal, os agrotóxicos, a territo-
companheir@s de luta, de militância e de utopia, guerrilheir@s do
texto lindo sobre esta reunião e postou na lista
rialidade e a questão nuclear, dentre
ecossocialista. Depois disso ficou mais fácil
outras pautas da luta socioambiental e
articular o setorial. O resto da história tod@s
ecossocialista.
filiou. Participou da elaboração do programa do parti-
twitter, do chopp e de samba escrevem – ou são entrevistados – neste número: Michael, de Paris; Osmarino, do Acre; Ivan, Beto, Georgia e
conhecemos, passamos mais alguns anos ten-
Também presente, na revista, o debate sobre
tando construir o setorial, sempre com Piramba
o grande embate (em que pese o trocadilho)
Portanto, como expresso no título, esta
à frente, e, finalmente em 2011, ele nasceu no
acerca da economia verde, novo nome do “de-
publicação é um sonho realizado de nosso
Rio; Baguinha da Bahia; Zé Fonseca, de Porto Alegre; João Alfredo e Alexandre, seus eco-irmãos das Dunas Brancas de Fortaleza
I Encontro de Ecossocialistas do PSOL, em
senvolvimento sustentável” do “capitalismo
ecocamarada Paulo Piramba; é uma revista
(por quem ele era apaixonado, cearoca da gema, como se definia), além do Santinha; e, também, seu filho-enteado, Miguel Borba
Curitiba, com a apresentação da resolução,
verde” ou “ecocapitalismo” (aquilo que Piramba,
dele, vez que suas reflexões sempre estão a nos
pelo próprio Piramba, no Diretório Nacional do
há um ano atrás, já nos advertia, acerca de uma
inspirar, e para ele, nessa homenagem saudosa
PSOL, formalizando o setorial como instância
mera política de “redução de danos”).
e dolorida, de uma perda irreparável para a luta
São textos banhados de sangue, suor e lágrimas: lutas, sambas e alegrias. Assim como foi Piramba. Assim como ficará –
ecossocialista, pois @s que lutam sempre são
sempre – em nossa memória seu inconformismo, seu companheirismo, sua animação e seu humor ácido e sincero.
no (e do) partido.
Mas, como boa ferramenta, a revista se
Mari de Sampa; Gert, de Floripa; Luiz Felipe, do Paraná; Sandra, do
(Mig), em cujo artigo encontramos as digitais e genes herdados das palavras e lutas de Piramba.
insubstituíveis, como nos ensinava Brecht.
Todo este processo foi testemunhado pela
propõe também a enfrentar o tema das elei-
maioria dos que hoje integramos o setorial e
ções municipais, com vários artigos voltados
Paulo Piramba era o representante do RJ na
sua coordenação nacional, e escrevemos nesta
para o debate de políticas públicas de cunho
coordenação. Função ainda não substituída por
revista; a primeira de uma série – esperamos
ecossocialista para as cidades, tanto no âmbito
outro militante.
– de debates sobre a temática ecológica e so-
parlamentar como em sede do executivo.
A importância desta sua trajetória se ex-
cialista, que é lançada na Cúpula dos Povos,
Reconhecemos que é preciso transitar do global
pressa na decisão unânime na reunião do se-
durante a Rio + 20.
para o municipal, entendendo que nossa luta
torial no 3º Congresso do PSOL (que queremos
Sabemos da amplitude e do alcance dos
se dá no “quintal” do planeta em que vivemos,
PeSOL – Partido Ecossocialismo e Liberdade)
João Alfredo, Beto e Luciene, em nome da Coordenação Nacional do Setorial Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL e de tod@s que acreditam e lutam por
temas relacionados à ecologia e ao socialismo
que são nossas urbes, nossas comunas, nossa
de da r ao setor ia l seu nome: SETORI A L
uma sociedade política e radicalmente democrática; étnica, cultural e sexualmente diversa; socialmente justa e igualitária, ambientalmente justa e sus-
ecológico, especialmente, em tempo de crise
megalópoles.
ECOSSOCIALISTA PAULO PIRAMBA do PSOL.
tentável: a sociedade ecossocialista planetária.
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Ano IV • Número 11
PAULO PIRAMBA: PRESENTE! ATÉ QUANDO: SEMPRE!
Junho de 2012
5
RIO
Paulo Piramba
+20
Luta de classe
Rio+20: Ecossocialismo ou Redução de Danos Nem bem começaram as articulações da so-
O centro do debate proposto pela ONU na Rio+20
provoca no planeta, até os que consideram que sem
ciedade civil em torno da Conferência das Nações
não é o meio ambiente, mas o desenvolvimento sus-
o questionamento a ele, e a sua superação, é impos-
Unidas sobre Desenvolv imento Sustentável –
tentável, ou melhor, avaliar se a agenda proposta na
sível pensar na sobrevivência da biodiversidade e
Rio+20, eis que surgem as primeiras divergências
Eco 92 para a construção de um modelo sustentável
das espécies, entre elas a humana.
entre as organizações, movimentos sociais e outros
de desenvolvimento, além dos mecanismos apro-
Estes últimos, entre os quais nos incluímos, de-
atores envolvidos. A começar pelo título, que carre-
vados por ela, como o Protocolo de Kyoto, foram
fenderam um formato politicamente mais definido,
ga consigo uma armadilha e uma polêmica que se
vitoriosos.
evidentemente aberto a diversidade de idéias, desde
Sociedade contemporânea e crise ecológica: universalismo ou questão de classe?1 Por Rodrigo Santaella
garantia diversas condições materiais de vida
sim do capitalismo tardio, para usar a expres-
nestas sociedades: saúde, segurança, educação,
são de Fredric Jameson, no qual as mudanças
Além das cada vez mais explícitas demons-
direitos trabalhistas, etc. À luz desses fenôme-
são mais difusas, e o capitalismo se dissolve
trações das tendências ao esgotamento do
nos e da crise do “socialismo real”, passou-se
também na esfera cultural, tornando esta um
a questionar a centralidade da contradição
pilar fundamental de sustentação do sistema 2.
capital-trabalho para o desenvolvimento das
Há inovações, há diferenças, mas a dinâmica
sociedades.
do sistema e suas contradições fundamentais
meio-ambiente em diversos sentidos, o
Além disso, certamente embalados pela perspec-
que numa perspectiva crítica e de superação da
tiva de novas fontes de lucro, não faltarão aqueles a
ação nefasta do capital sobre a natureza, recursos
debate do ecossocialismo faz-se urgente
Cunhada e usada pela primeira vez no Relatório
proporem novas formas e mecanismos paliativos,
naturais e espécies.
também porque grande parte da esquer-
Br undt la nd, publicado em 1987 e elaborado
com fracasso anunciado semelhante ao do natimor-
E que o caminho da redução dos danos provo-
pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
to Protocolo, cujo “mercado regulador de emissões
cados pela ação do Capital sobre o Sistema Terra,
Desenvolvimento da ONU, a expressão “desenvol-
de carbono” nem regulou, nem reduziu as emissões,
certamente nos levará, em um futuro próximo a,
de fazê-lo por ter acreditado na ideia de
vimento sustentável” foi uma tentativa de criticar
servindo apenas para dinheiro trocasse de mãos nas
além de sacrificar e extinguir anualmente centenas
o modelo de desenvolvimento capitalista hegemô-
asas da especulação.
de espécies como hoje em dia, a abrir mão também
mantém no interior do movimento ambientalista: o assim chamado “desenvolvimento sustentável”.
Desse processo majoritariamente europeu,
não se alteram.
surgem diversas correntes teóricas – pós-mate-
Como mostrava Daniel Bensaid, continua
rialismo, teoria dos “novos movimentos sociais”,
impossível escapar dos efeitos concretos da
pós-industrialismo, etc – que influenciaram
subalternidade e da dominação com uma sim-
que este é um tema pós-material, que
muito as ciências sociais e a militância política,
ples mudança de discurso ou de vocabulários,
não tem relação direta com a contradição
muito além das fronteiras do velho continente,
se a correlação de forças na sociedade não for
infelizmente. Apesar das inúmeras diferen-
alterada. Ainda hoje há classes subalternas, que
ças entre elas, todas consideram um declínio
compõem grande parte destes novos movimen-
da marxista se afastou dele e se absteve
nico, mesmo sem dizer o seu nome. Nas próprias
Dessa forma, é previsível que o sistema ONU,
de várias centenas de milhões de habitantes do
palavras do Relatório, apontar para “o desenvolvi-
os governos e as grandes corporações tentem, de
planeta desprovidos de água e alimento, morrendo
capital-trabalho e com o desenvolvimento
mento que satisfaz as necessidades presentes, sem
toda forma, impedir que a Rio+20 seja uma nova
aos milhares por conta de doenças ligadas à falta
do capitalismo.
das lutas relacionadas ao trabalho, uma cisão
tos, e ainda hoje “o projeto de ‘mudar o mundo’
comprometer a capacidade das gerações futuras de
COP 15. Lá, na cidade de Copenhague, em 2009, a
de saneamento (6.000 por dia), vivendo e traba-
Por outro lado, muitas das organizações que
entre estas e as ‘novas’ formas de luta, além de
apoia-se em uma classe particular portadora
suprir suas próprias necessidades”.
Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças
lhando em situação altamente precarizada social
se construíram a partir da questão ambiental
compartilharem o pressuposto de que há uma
de universalização concreta”. Dentre as mais
Contudo, ao não questionar as bases constituin-
Climáticas embalada pela divulgação do Relatório
e ambientalmente.
acreditam, de fato, que não há relação direta
ruptura entre uma forma de sociedade que
diversas novas questões surgidas no último
tes do capitalismo, promotor do desequilíbrio do
do IPCC, publicado em 2007, e que pela primeira vez
Defendem também que, neste particular mo-
com o modo de produção capitalista, e a tratam
seria moderna, industrial, ou de valores mate-
quarto do século XX, a questão ecológica parece
Sistema Terra, o conceito de desenvolvimento sus-
demonstrava a relação entre a escalada do aqueci-
mento onde está em jogo qual o futuro da humani-
de forma separada das questões materiais, do
rialistas, para outro modelo de sociedade, que
entrar aqui como ponto fundamental para con-
tentável acabou por ser apropriado por ele, a ponto
mento global e a ação humana (melhor dizendo,
dade, é mais adequado a organização daqueles que
trabalho, e da produção, concentrando-se prin-
seria pós-industrial, pós-materialista ou mesmo
tribuir com este debate. Ela carrega consigo um
de se transformar hoje na senha para identificarmos
a ação do capitalismo), foi transformada em uma
“não tem voz”, para darem um sinal claro de que ou
cipalmente nos indivíduos e no fortalecimento
pós-moderna. Busca-se superar a noção de que
potencial de universalização aparente, mas que
as iniciativas de quem, pressionado pela magnitu-
reedição das manifestações ocorridas em Seattle
mudamos o modelo, ou não haverá futuro virtuoso
de medidas quase que simbólicas por parte de
a classe é central tanto para a análise das novas
parece poder realizar-se apenas se for conduzida
de da destruição e das catástrofes ambientais, é
em 1999, quando de uma reunião da Organização
para a grande maioria da população da Terra.
levado a assumir aparentemente “responsabilida-
Mundial do Comércio.
empresas. Este é o caso dos diversos Partidos
formas de luta social, desde uma perspectiva
e concebida por essa classe particular, portadora
E, por último, que se a experiência dos Fóruns
do potencial de universalização concreto. Daí a necessidade de debater as origens da crise
Verdes pelo mundo, de muitas ONGs, de grandes
teórica, quanto para a própria mudança social,
des ambientais” – para exorcizar outra expressão
Mais do que isso, a primeira atividade promo-
é importante, e deve ser mantida, é necessário
corporações privadas, ou movimentos que se
de uma perspectiva militante.
mentirosa. Tudo isso, é claro, sem alterar os padrões
vida pela Cúpula dos Povos da Rio+20 por Justiça
também reconhecer que seu próprio formato, e o
utilizam desta pauta simplesmente em busca de
A realidade dos países periféricos, todo o
socioambiental existente atualmente e das
de espoliação e de lucro inerentes ao capitalismo.
Social e Ambiental, nome provisório do evento
amplo perfil dos participantes, impedem quais-
diferenciar-se de outros setores das classes do-
debate acerca do colonialismo, o neoliberalis-
nuances da pauta dos movimentos ambientais,
Nessa esteira de pequenos sofismas e grandes
da sociedade civil a ser organizado em paralelo à
quer definições políticas mais claras. E, em con-
minantes do país, como o chamado “movimento
mo hegemônico no fim do século XX em grande
para enfatizar a permanência da importância
mentiras podemos incluir o capitalismo verde
Rio+20, mostrou que, mesmo neste evento alternati-
trapartida, organizar uma ação planetária contra
Marina Silva” atualmente no Brasil.
parte do mundo e seu crescimento nos últimos
da classe como categoria fundamental para a
(ecocapitalismo) e o greenwashing (ecobranque-
vo, a disputa vai ser grande. No Seminário realizado
esse modelo de desenvolvimento morbidamente
Em geral, essas perspectivas estão associa-
anos na Europa, e a própria crise econômica ini-
análise dessas novas questões.
amento), como tentativas de dar uma aparência
no Rio no começo deste mês, a discussão sobre o
sustentável, que sinalize aos filhos de Seattle e
das às correntes de pensamento que sustentam
ciada em 2008, além dos movimentos recentes
A busca da solução para os problemas so-
ecológica responsável a atividades, produtos e ser-
formato da Cúpula e sobre o seu perfil esteve no
Copenhague – ecologistas, feministas, anarquistas,
que as mudanças ocorridas no mundo, princi-
dos países árabes e das ocupações de praças na
cioambientais em alternativas de mercado e a
viços inerentemente devastadores. Neste processo
centro do debate.
trabalhadores, estudantes, pacifistas, socialistas,
palmente a partir da segunda metade do século
Europa seriam suficientes para derrubar essas
associação do problema com falta de vontade
etc. – que a Cúpula dos Povos é um chamado à luta.
XX, criaram um novo modelo de sociedade.
perspectivas. Não se trata de nenhum tipo de
individual ou coletiva em solucioná-lo relaciona-
As respostas produtivas à crise do sistema dos
ruptura com o capitalismo, com a exploração
-se com a recusa dos setores dominantes em
é possível, até, que modos de produção e práticas
Parte dos presentes defendeu um formato se-
escandalosamente daninhas ao ambiente sejam
melhante ao dos Fóruns Sociais Mundiais, isto é, a
substituídas por outras aparentemente mais limpas,
de uma “feira de idéias” aberta a um espectro mais
Postado por Paulo Piramba às 12:37 de 20 de julho
anos 1970, aliadas à capacidade de pressão das
de classe, mas sim do desenvolvimento cada
perceber que as origens do problema ecológico
mas que, ao serem utilizadas sem que se mexa no
amplo, desde aqueles que consideram que, dada a
de 2011 http://ecossocialismooubarbarie.blogspot.
classes trabalhadoras europeias no contexto
vez mais complexo deste sistema. O mundo
estão no modo de produção capitalista. Quando
cerne do modelo econômico, acabarão também por
hegemonia capitalista, é preciso negociar a redu-
com/2011/07/rio20-ecossocialismo-ou-reducao-de.
da Guerra Fria, geraram um crescimento das
que dá origem a esses “novos” movimentos
Marx e Engels caracterizaram o proletariado
provocar passivos ambientais.
ção dos danos que o modo de produção capitalista
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classes médias e o chamado Welfare State, que
não é pós-industrial ou pós-moderno, mas
como o sujeito revolucionário no século XIX,
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Ano IV • Número 11
Junho de 2012
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Movimento
Luta de classe
Os ecossocialistas e a unidade necessária
além da posição estrutural ocupada por essa
Se o capitalismo explora os recursos naturais
vinculado à luta de classes do que a produção e o
classe no sistema produtivo, o fez porque este
e os trabalhadores indefinidamente, a resposta
consumo no sistema capitalista. Este se caracte-
era o setor da população, nos países pioneiros
que deve ser dada à crise ecológica é também
riza por adequar toda a sua estrutura econômica,
do capitalismo mundial, que tinha menos a
uma resposta social. Daí a necessidade de
política, e de valores culturais à exploração de
perder com a derrocada do sistema. No debate
caracterizá-la como crise socioambiental. Só
uma classe sobre outras, materializada no lucro
acerca das soluções da crise socioambiental
existe uma resolução da questão ambiental se
da burguesia. E tanto essa exploração, que em
atualmente, as classes dominantes do sistema
houver revolução na questão ambiental. E esta
primeira instância sempre foi a da natureza,
capitalista tem praticamente tudo a perder no
só é possível, por sua vez, por meio de uma re-
quanto a adequação do sistema a ela, são a causa
O passar do tempo tem deixado im-
que diz respeito a privilégios materiais, o que
volução social, na qual as classes subalternas,
primordial da crise vivida atualmente. Deixar de
mostra os problemas de considerar-se este
que vivem do trabalho das mais diversas formas
lado, tratar como menor, considerar um desvio
portantes lições para aqueles que
debate como sendo responsabilidade de todos,
possíveis – e em grande parte das vezes das
pequeno-burguês ou simplesmente ignorar estas
dedicam suas vidas a uma causa
e mais equivocado ainda esperar dos setores do-
formas mais degradantes possíveis – a partir das
questões, faria do marxismo um método de aná-
coletiva. A principal delas é aquela de
minantes soluções ou participação em acordos
mudanças provenientes do capitalismo tardio,
lise impreciso da realidade, e da ideia socialista
plausíveis para a questão.
tomem o poder e acabem com a exploração de
um anacronismo na atualidade.
experimentar muitas lutas e obter raras e
Por José Romari Dutra da Fonseca
A crise socioambiental tem origem no modo
classe. A partir daí poderia ser possível o esta-
Num período em que se apregoa o abandono
parciais vitórias. É diante dessas experiên-
de produção do sistema capitalista e na sua
belecimento de um sistema no qual a relação
da noção de totalidade, o debate ambiental tem
cias avassaladoras em que se apresenta
ânsia infinita por aumentar a mais-valia, e
dos seres humanos com a natureza possa ser
o potencial de trazer de volta a realidade para os
consequentemente o lucro. A mais-valia ab-
estabelecida de forma sustentável e equilibra-
debates políticos e acadêmicos contemporâneos.
soluta cresce no aumento direto do tempo de
da. É justamente da necessidade da revolução
A crise socioambiental está intrinsecamente
batalhas ambientais que
trabalho humano em relação a seu pagamento,
socialista para a resolução da questão ecológica
vinculada ao modo de produção capitalista e à
os ecossocialistas devem se
e a mais-valia relativa cresce, aumentando-se o
que vem o termo “ecossocialismo”.
manutenção dos interesses das classes dominan-
um quadro de derrotas em
pronunciar. Sobre fracassos, o antropó-
nível de exploração sobre os “recursos” naturais
O sujeito das transformações ambientais
tes nesse sistema, e atinge mais diretamente jus-
disponíveis, seja na elaboração de máquinas
deve ser justamente formado pelas classes ex-
tamente as classes oprimidas por este sistema. A
logo, educador e sociólogo Darcy Ribeiro
mais eficientes, seja na potencialização da uti-
ploradas pelo capitalismo mundial. Todos os
contradição entre capital e trabalho continua a
escreve sobre os seus, dizendo que esses
lização direta da natureza.
mecanismos de autorreprodução do capital,
se desenvolver, e pode ser apontada como causa
Já em 1804, Earl of Lauderdale mostrou que
entre eles o de colocar os recursos naturais como
principal dos efeitos da crise socioambiental que
as riquezas individuais podem ser aumenta-
potencializadores da exploração dos trabalha-
atinge de forma mais direta as classes subal-
que detestaria estar no lugar
das com a destruição das riquezas coletivas,
dores só podem ser combatidos com uma plena
ternas de todo o mundo. Desconsiderar essas
produzindo a escassez, e Marx corroborava
solidariedade de classe. Muito provavelmente,
questões consiste manter a reprodução de um
dos vencedores. Esta
com suas críticas sobre a relação inversamente
estes setores dos explorados do mundo estão
sistema extremamente opressor em todos os
proporcional entre riquezas individuais e ri-
concentrados nos países periféricos, onde a
sentidos e, mais do que isso, em colocar em risco
ponde à convicção
quezas públicas. Além disso, Marx sustentava
exploração do trabalhador acontece de forma
a continuidade da sobrevivência de grande parte
que a natureza, sob um sistema de produção
mais intensa e nos muitos casos em que esses
da humanidade neste planeta.
de quem viveu a vida
generalizada de mercadorias, era meramente
países têm abundância de “recursos” naturais,
considerada um “presente grátis” – um recurso
os interesses da burguesia internacional na
Notas
abundante – ao capital, e consequentemente
exploração cada vez menos maquiada de seus
1 Esta é uma versão reduzida de um texto mais apro-
apropriada por este. Ora, se existe uma parte do
ecossistemas e de suas populações em um só
fundado que ainda não foi publicado.
trabalho humano que não é paga e é expropria-
processo, tem ficado cada vez mais claros. Os
2 Para um aprofundamento deste debate, ver Fredric
da pelo capitalista, este também é considerado
problemas ambientais atingem muito mais
Jameson, Pós-modernismo: a lógica cultural do capita-
um “presente” para o capitalista. À contradição
diretamente às populações pobres, às classes
lismo tardio. São Paulo: Editora Ática, 2007.
O Brasi l, pela sua condição de
entre capital e trabalho, portanto, se soma à
subalternas, do que às dominantes, o que res-
3 Os debates acerca das conexões entre as contradi-
ainda se constituir um grande
contradição entre capital e natureza, já que a
salta ainda mais o caráter de classe da questão
ções capital-trabalho e capital-natureza estão funda-
celeiro de recursos naturais é
natureza é apropriada e o trabalho não pago é
ambiental contemporânea.
mentados principalmente nos textos de Daniel Tanuro,.
visto, junto com alguns outros
se constituíam em suas vitórias, e
afirmativa corres-
inteira do lado certo, combatendo as injustiças sociais. Entretanto, não é satisfatória a simples resignação a cada derrota sentida.
expropriado pelo capitalista, num mesmo pro-
É impossível pensar a crise socioambiental
Ecosocialismo o Barbárie. Montreal: Les Editions
países periféricos, como um dos alvos
cesso de reprodução do capital. A apropriação
atual, portanto, sem vinculá-la ao modo de pro-
Ecosocieté, 2011; John Bellamy Foster, Why Ecological
principais de atração da especulação, explora-
dos “recursos” naturais se soma à exploração
dução capitalista e ao nível quantitativo e quali-
Revolution?, Monthly Review, 2010; e nas obras de Marx,
ção e depredação de seus ativos naturais, com
humana, no processo de reprodução indefinida
tativo de consumo que reina sobre esse sistema
principalmente a Crítica ao Programa de Gotha, Ridendo
poucas e frágeis restrições legais e pela facili-
do sistema do capital.
em larga escala. E não há nada de mais material e
Castigat Mores, 1999.
dade de arranjar parceiros no governo, quase
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Movimento
ECONOMIA
sempre pronto a entregar os bens naturais. São
atingem as grandes corporações, detentora de
Urge que os lutadores da causa ambiental,
exploradores capitalistas de todas as estirpes, à
poderes extremos, capazes de produzir o mal
de todos os matizes, compreendam que a
espreita em toda parte do mundo por iniciativas
de forma globalizada.
onda destruidora não dá espaço para divisões,
A economia cinzenta pode virar verde? Por Marcos Arruda e Sandra Quintela1
e oportunidades propiciadas pelo governo e le-
A luta ambiental, que é em defesa da vida
mesmo considerando existir respeitáveis di-
gisladores dispostos a dilapidar um patrimônio
no sentido lato sensu, onde alguns milhares
ferenças, que vão desde a caracterização da
que é de toda uma nação.
de homens e mulheres dedicam-se quase que
crise ambiental, passando pelo modo de como
“A Rio+20 será um ponto de partida”, disse
Pelo papel ocupado na economia capitalista
exclusivamente em suas militâncias, tem nos
atacá-la, indo até o fulcro central da questão.
global, importante alvo da rapinagem, princi-
mostrado uma conta onde aparece predominan-
O tempo decorrido depõe contra aqueles
Maria Luíza Viotti, embaixadora brasileira
palmente pelas suas riquezas naturais, há de
temente um grande e insofismável acúmulo de
que buscam motivos ideológicos para não
se eleger o Brasil como o país que os ambien-
derrotas. A avalanche furiosa do desenvolvimen-
formação de frentes de luta, em vista de quão
gociações em temas como água, oceanos e
talistas de todo o mundo devem travar aquela
to econômico capitalista, com incidência negati-
drástica é a situação. Não se trata de alian-
que deve ser a mais importante e simbólica
va no índice de Desenvolvimento Humano, tem
ça político eleitoral programática.Importa
segurança alimentar estão partindo quase
batalha planetária em defesa da natureza, e
deixado abatido o ânimo de muitos lutadores
que saibamos com quem podemos trilhar
por decorrência em defesa da vida. Pra tanto, é
e desestimulado a presença de outros novos
os caminhos em defesa da vida, bem como
nas Nações Unidas, lembrando que as ne-
da estaca zero”.
preciso que se tenha um correto diagnós-
o possível trajeto que se possa fazer
E isto, vinte anos depois da Rio92...
tico do governo brasileiro e suas relações
juntos. A opção de se arvorar na máxima
Este fato sublinha a importância de que a No pouco espaço deste artigo, vamos ao
sementes, biodiversidade, oceanos, flores-
políticas e econômicas, associado com
Aqueles que têm a convicção que a estratégia é
sapiência das questões ambientais, bem
Cúpula Oficial da Rio+20 faça uma avaliação
setores do grande capital, sempre ávidos
ecossocialista, devem responder pela principal tarefa
como se escudando só em argumentos
crítica dos resultados práticos de 20 anos de
por derrubar leis ou instituir outras, que
que é a do convencer os demais “caminhantes”
ideológicos, excluindo a companhia de
Conferências e acordos internacionais, para
Quem promove a proposta de mudan-
de vida de uma sociedade livre. Privatizá-los
beneficiem suas atividades destruidoras
a ir até o fim desta longa e dura jornada,
diferentes, certamente determinará que
identificar os avanços, os retrocessos e as
ças na econom ia mu nd ia l sob o nome
é condicionar a vida humana e de todo o
do meio ambiente e que proporcionem
fundamentalmente incidindo sobre uma possível
tudo continue exatamente como está. Se
áreas estagnadas, para detectar as causas e
de Economia Verde são os países ricos,
Planeta a megacorporações cuja motivação
ganhos fáceis aos seus executivos e princi-
maioria de militantes sem definições políticas de
a situação ambiental brasileira se apre-
definir as estratégias de ação, as metas e as
acompa nhados pelas elites dos ‘pa íses
é o lucro e a acumulação de capital.
palmente aos seus acionistas parasitários.
caráter estratégico.
essencial, que é a pergunta do título.
tas, atmosfera. 3 Esses bens formam a rede
senta severa e preocupante, incluindo
formas de torná-las compulsórias. Nada disso.
em desenvolvimento’, inclusive o Brasil.
Com a dispersão e a consequente
para quem sequer é de esquerda, e se
Os oficialistas (ONU, governos do mundo rico,
O bloco oficialista, além de cancelar do
fragilização daqueles que se dedicam a
o desenvolv imentismo é meio e f im
corporações transnacionais) decidiram can-
programa o balanço crítico dos 20 anos
Dar preço a esses bens naturais e aos ‘ser-
Que mudanças vão ser negociadas na Rio+20 para realizar esse objetivo?
defesa da natureza, amplos setores do mercado
atores. Lamentavelmente esse quadro negativo
para todas as ações de governo e seus sócios
celar este tema do programa da Cúpula Oficial,
de tratados internacionais, substituiu a
viços ambientais’,4 dando ao setor privado o
explorador dos recursos naturais, em toda a sua
não tem alterado o modo de operar para a ob-
privados, somos impelidos até por força da
deixando dois outros: Economia Verde e um
retórica do Desenvolvimento Sustentável
controle sobre esses bens e ‘serviços’ a fim
amplitude, se sentem fortalecidos a ousar sem
tenção de possíveis e necessárias vitórias. Esta
necessidade a alterar o modo de operar.
novo órgão de governança ambiental na ONU.
pelo eufemismo Economia Verde. É que
de lucrar com eles
limites. Contratam técnicos a peso de ouro,
situação sugere que os lutadores ambientalistas,
Aqueles que têm a convicção que a es-
O pretexto é que “é hora de olhar para
Desenvolvimento Sustentável está identifi-
Menos que gerar produtos reais, desen-
incluindo cientistas e pesquisadores voltados
igualmente, estejam mostrando resignação,
tratégia é ecossocialista, devem responder
frente e construir o futuro”... Nada mais hipó-
cado com aqueles 20 anos de tratados, cujos
volver um mercado fictício de títulos e cer-
para o capital, para assumir o ridículo papel
mesmo em ver o inimigo agigantar-se em sua
pela principal tarefa que é a do convencer
crita. Pois o passado foi tecido por três outras
resultados são fracos, nulos ou negativos.
tificados financeiros que serão negociados
de contraditar estudos e pesquisas científicas
sanha destruidora, se retroalimentando dessa
os demais “caminhantes” a ir até o fim desta
Cúpulas do gênero, mais outras Conferências
Caso vingue, a Economia Verde imporá à
pelos bancos, os mesmos que provocaram
consolidadas, que dão conta das consequências
barbárie. Não se pode admitir que se prolongue
longa e dura jornada, fundamenta lmente
sobre temas sociais e ambientais específicos,
humanidade um ciclo parecido com o da
a crise financeira de 2008 e que receberam
da ação desastrosa do homem no planeta.
esta situação de inércia da sociedade, associada
incidindo sobre uma possível maioria de
e os resultados concretos são predominan-
revolução dos agrotóxicos do pós-guerra,
trilhões de dólares de fundos públicos 5
Em sendo verdadeiros os escritos de cem
e estimulada pela desinformação, e a fragmenta-
militantes sem definições políticas de cará-
temente fracassos, que ampliam as ameaças
que recebeu o nome simpático e enganoso
por cento dos cientistas ligados a defesa da
ção desordenada de militantes, ONGs e demais
ter estratégico. Por fim, há que se afirmar a
ligadas às mudanças climáticas, ao desmata-
de Revolução Verde.
natureza, dando conta das consequências da
organismos sociais. A absoluta ausência de um
todos os lutadores e a todas as lutadoras da
mento e à consequente savanização e deserti-
A premissa desta proposta é que a crise
biologia sintética, nanotecnologia, genômica)
intervenção humana no planeta e do decor-
organismo centralizador dos principais dirigen-
causa ambiental que, fora de uma sociedade
ficação de regiões antes florestadas, ao degelo
ambiental resulta de a humanidade não
Impor um regime de transferência de
rente caos ambiental que comprovadamente
tes e lutadores sociais, em nível nacional, produz
sem classes, onde o povo organizado de posse
das calotas e das geleiras, à escassez crescente
tratar a Natureza como capital. A proposta
tecnologia que submeterá países do sul
estamos presenciando, faz com que esta insu-
por si, uma profunda incapacidade de altera-
de plenos poderes, incluindo os meios de
de água potável, à expansão da contaminação
da Economia Verde consiste em completar
ao controle monopólico da megaindústria
portável situação exija daqueles, em qualquer
ção dessa situação com uma correspondente
produção, em que determine o seu caminho,
por agrotóxicos das águas, solos e alimentos,
o triângulo de poder do capitalismo: nos
sobre o uso de tecnologias não testadas
grau de consciência, que pensem e atuem para
inalteração na correlação de força. A criação de
não haverá solução para os sérios problemas
à acelerada redução da biodiversidade. Em
ângulos três mercadorias – o ser humano, as
Construir um mecanismo de governança
romper com esta insana lógica de destruição.
uma “mesa única” nacional unificando todas
ambientais vividos, e que por certo invia-
síntese, é a vida no Planeta que está, e vai
máquinas e agora a Natureza, – e no centro
‘verde’ mais centralizado no quadro a ONU,
O modelo e padrão de desenvolvimento e
as agendas ambientais, compostas por homens
bilizará parte importante da vida em nossa
continuar sob ameaça, sem que os principais
o capital. O objetivo da Economia Verde é,
que privilegia o setor privado e as institui-
consumo experimentado nos EEUU, irradiado
e mulheres, ONGs e organismos da sociedade,
generosa GAIA.
responsáveis queiram ir às suas raízes, que
pois, a criação de um ambiente propício para
ções de Bretton Woods, garantindo o con-
para outros países como o Brasil, se sustenta
dispostos a um enfrentamento de novo tipo, po-
estão plantadas no modelo de desenvolvi-
o investimento privado nos bens comuns da
trole privado do ambiente, dos bens naturais
na irracionalidade capitalista, onde se incluem
deria se traduzir em uma substantiva mudança
José Romari Dutra da Fonseca – Coord.Nac.
mento centrado no mercado, no lucro e no
Natureza que escaparam de ser privatizados
e das mudanças climáticas, e deixando de
as crises econômicas mundiais que pouco
nos resultados até então negativos.
Ecossocialista – POA – RS
crescimento econômico ilimitado.
na Rio92: conhecimentos tradicionais, água,
lado as populações empobrecidas
2
Desenvolver ‘tecnologias limpas’ e ativá-las antes de serem testadas (Geoengenharia,
.
10
Ano IV • Número 11
Junho de 2012
11
I Entrevista I
ECONOMIA Desenvolver, no quadro da ONU, indica-
de ‘política compensatória’. Com uma mão
• Que se proíbam a Geoengenharia e os pro-
dores e medidas que criem as bases para um
ávida o grande capital se apropria dos bens
dutos transgênicos, que implicam riscos
mercado mundial de “serviços ambientais”
naturais e do trabalho humano, repassando
ainda desconhecidos e geram monopólios
e ecossistemas, quantificando, precificando,
os custos para os consumidores, às comuni-
corporativos à custa da dependência dos
privatizando e financeirizando as várias fun-
dades locais e aos governos. Com a outra mão
agricultores familiares;
ções da Natureza.
elas passam algo do seu excedente para obras
• Que os serviços básicos sejam controlados
Michael Löwy critica Rio+20 e a propaganda da ‘economia verde’ Em junho, o Brasil sedia a Rio+20, a cúpula
industrializados do Norte,
e das minas, ou pelo agro-
mundial de meio ambiente, um dos temas
principais responsáveis do
negócio da soja, do óleo de
desastre ambiental – “lidaram
palma e do gado. Há alguns
com o tema”, desenvolveram,
anos, Lawrence Summers,
Em suma, a economia globalizada, que já
sociais e melhoras do ambiente. Mas isso não
é cinzenta pelas desigualdades sociais, pela
faz parte da sua lógica. Tais benfeitorias são
• Que se respeitem os direitos dos povos
privação dos direitos da maioria empobre-
como um aditivo do contrato principal com
tradicionais, incluindo consulta livre,
da edição 180 de Caros Amigos, que está nas
cida do Planeta e pela poluição e destruição
os acionistas, que é maximizar os ganhos
prévia e informada para que não sejam
bancas. A cúpula já divide opiniões, como
em pequena escala, fontes
economista americano, num
ambiental que está ameaçando a vida, tende
destes e crescer sempre mais .
mercantilizadas as florestas, as águas, o
a do pesquisador Michael Löwy, um dos
energéticas alternativas, e
informe interno para o Banco
introduziram “mecanismos
Mundial, explicava que era
de mercado” perfeitamente
lógico, do ponto de v ista
ineficazes para controlar as
de uma economia racional,
emissões de CO2. No fundo,
enviar as produções tóxicas
O que você espera da Rio+20, tanto do
continua o famoso “busines as
e poluidoras para os países
ponto de vista das discussões quanto da
usual”, que, segundo cálculo
pobres, onde a vida humana
a ficar ainda mais cinzenta: o verde nominal
6
Sob a forte influência dessas corporações,
pelo Estado social e não privatizados;
solo e o subsolo
os Estados nacionais e a ONU renunciam ao
• Que o principal sujeito do desenvolvi-
entrevistados da reportagem publicada na
seu mandato democrático, protegendo o in-
mento e gestor da sustentabilidade sejam
revista. A entrevista é de Bárbara Mengardo.
A Economia cinzenta pode virar verde?
teresse privado nas tomadas de decisão sobre
as comunidades locais, instrumentadas e
Quando células do organismo desandam a
política econômica, energética, de transporte,
educadas para tais fins.
crescer e a se multiplicar desordenadamente,
saneamento, habitação, etc. Mantendo o PIB
ocorrem tumores que podem ser fatais para
como medida da riqueza da nação, o Estado
Notas
eficácia de possíveis decisões tomadas?
dos cientistas, nos levara a
tem um preço bem inferior:
a vida do organismo. Na economia não é
consagra a economia voltada para o lucro
Matéria publicada no Jornal dos Economistas do
Nada! ou, para ser caridoso, muito pouco, pou-
temperaturas de 4° ou mais
simples questão de cálculo
diferente. No sistema do capital, as grandes
a qualquer preço e para a acumulação de
Rio de Janeiro – junho de 2012
quíssimo… As discussões já estão formatadas
graus nas próximas décadas.
de perdas e lucros.
empresas industriais, comerciais, de serviços
capital como atividade dominante da vida
– principalmente os bancos -, e o agronegócio,
da sociedade.
é uma tentativa de esconder o cinza real.
7
precisam crescer sempre ou desaparecerão. Elas não definem um ponto ótimo a partir do
Que economia pode ser verde?
pelo tal “Draft Zero”, que como bem diz (in-
Por outro lado, o mesmo sis-
1 M a r c o s A r r u d a e S a n d r a Q u i n t e l a
voluntariamente) seu nome, é uma nulidade,
Em comparação a 1992, a sociedade está
tema econômico e social – temos que chamá-lo
Socioeconomistas do PACS, Instituto Políticas
um zero à esquerda. E a eficácia, nenhuma,
muito mais ciente da necessidade de proteção
por seu nome e apelido: o capitalismo – que des-
Alternativas para o Cone Sul, Rio de Janeiro.
já que não haverá nada de concreto como
do meio ambiente. Esse fato poderá influir
trói o meio-ambiente é responsável pelas brutais
Agradecemos a Pablo Solón, da Bolívia e ao Grupo
obrigação internacional. Como nas conferên-
positivamente nas discussões da Rio+20?
desigualdades sociais entre a oligarquia finan-
qual produzem e vendem o suficiente e usam
Em dezembro de 2010, a Conferência dos
os excedentes para investir em qualidade e
Povos sobre Mudança Climática e Direitos da
ETC, do Canadá pela inspiração.
cias internacionais sobre o câmbio climático
Esta sim é uma mudança positiva! A opinião
ceira dominante e a massa do “pobretariado”.
para estimular a criação de outras empresas
Mãe Terra, com 9 mil delegados e 35 mil par-
2 Ver a Cartilha “Economia Verde: Nova Cara do
em Copenhagen, Cancun e Durban, o mais
pública, a “sociedade civil”, amplos setores da
São os dois lados da mesma moeda, expressão de
que fortaleçam a cadeia produtiva, em busca
ticipantes, lançou a Declaração dos Direitos
Capitalismo”, Rede Jubileu Brasil – no prelo.
provável é que a montanha vai parir um rato:
população, tanto no Norte como no Sul, está
um sistema que não pode existir sem expansão
de atender melhor as necessidades humanas.
da Mãe Terra. Uma Assembleia da ONU apro-
3 Em 1992, as corporações originárias dos países
vagas promessas, discursos, e, sobretudo, bons
cada vez mais consciente de necessidade de
ao infinito, sem acumulação ilimitada – e por-
Isto é coisa da Economia Solidária.
vou por consenso a expressão Mãe Terra. A
ricos negociaram o controle de 23,8% de toda a
negócios ‘verdes”. Como dizia Ban-Ki-Moon,
proteger o meio ambiente – não para “salvar a
tanto sem devastar a natureza – e sem produzir
As grandes empresas são intensivas no
Declaração apresenta propostas concretas
biomassa do planeta.
o secretário das Nações Unidas – que não tem
Terra” – nosso planeta não está em perigo – mas
e reproduzir a desigualdade entre explorados e
uso de capital, de bens naturais e de ener-
para um desenvolvimento fundado na sobe-
4 O conceito de ‘serviços ambientais’ é questio-
nada de revolucionário – em setembro 2009,
para salvar a vida humana (e a de muitas outras
exploradores.
gia. A economia comandada por elas visa o
rania dos povos, no reconhecimento do di-
nável, pois não se trata de serviços realizados por
“estamos com o pé colado no acelerador e nos
espécies) nesta Terra. Infelizmente, os governos,
lucro para si e por qualquer meio. É isso que
reito destes a desenvolver-se com soberania,
pessoas, e sim bens que a Terra oferece a todos os
precipitamos ao abismo”. Discussões e inicia-
empresas e instituições financeiras internacio-
Estamos em meio a uma crise do
explica práticas como a de financiamento de
justiça social e sustentabilidade ambiental.
seres vivos, entre eles os humanos.
tivas interessantes existirão sobretudo nos
nais representados no Rio+20 são pouco sen-
capital. Quais as suas consequências
campanhas eleitorais, propinas a políticos
Entre elas:
5 Já estão em marcha mecanismos como o comér-
fóruns Alternativos, na Contra-Conferência
síveis à inquietude da população, que buscam
ambientais e qual o papel do
para compra de favores, envelhecimento
• Que os orçamentos militares e de defesa
cio de créditos de carbono, o REDD (que recompensa
organizada pelo Fórum Social Mundial e pelos
tranquilizar com discursos sobre a pretensa
ecossocialismo nesse contexto?
artificial de produtos de consumo para
se destinem à preservação da Natureza, a
florestas conservadas com títulos que são compra-
movimentos sociais e ecológicos.
“economia verde”. Entre as poucas exceções, o
A crise financeira internacional tem servido de
acelerar a demanda por novos produtos,
fim de tornar viável uma economia de alta
dos por empresas com recursos do Banco Mundial
governo boliviano de Evo Morales.
pretexto aos vários governos ao serviço do sistema
destruição parcial ou total de ecossistemas
equidade social e vida de qualidade para
e negociados nos mercados de capitais) e outros.
Desde a Eco 92, houve mudanças na
e biomas, especulação financeira, imobi-
todos (bem viver), de baixo carbono, de
6 Ve r c o m o i l u s t r a ç ã o o “ R e l a t ó r i o d e
maneira como os estados lidam com
Como a destruição do meio-ambiente
tes necessárias para limitar as emissões de gases
liária e com produtos agrícolas, e outras.
baixa intensidade energética e de baixo uso
Insustentabilidade da Vale”, publicado em Junho
temas como mudanças climáticas,
relaciona-se com a desigualdade social?
com efeito de serra. A urgência do momento – um
Então surge a necessidade de empresários
dos bens naturais comuns;
de 2012 pela A rticulação Internaciona l dos
preservação das florestas, água e ar, fontes
As primeiras vítimas dos desastres ecológicos
momento que já dura há alguns anos – é salvar
Atingidos pela Vale, Rio de Janeiro.
energéticas alternativas, etc.? Se sim, o
são as camadas sociais exploradas e oprimidas,
os bancos, pagar a dívida externa (aos mesmos
de empurrar para “mais tarde” as medidas urgen-
íntegros promoverem os valores éticos e
• Que as dívidas sociais e ecológicas sejam
convocarem a classe do capital a posturas
reparadas gerando recursos para esse
7 Ver como ilustração os textos retrógrados
quão profundas foram essas mudanças?
os povos do Sul e em particular as comunidades
bancos), “restabelecer os equilíbrio contábeis”,
de responsabilidade social e ambiental. Mas
mesmo fim;
e perversos da Câmara e do Senado que visam
Mudanças muito superficiais! Enquanto a crise
indígenas e camponesas que vêem suas terras,
“reduzir as despesas públicas”. Não há dinheiro
reformar o Código Florestal Brasileiro em favor
ecológica se agrava, os governos – para come-
suas florestas e seus rios poluídos, envenenados
disponível para investir nas energias alternativas
dos ruralistas.
çar o dos Estados Unidos e dos demais países
e devastados pelas multinacionais do petróleo
ou para desenvolver os transportes coletivos.
esta responsabilidade é um aspecto marginal da atividade empresarial, uma espécie
12
• Que se promova a soberania alimentar em oposição ao agronegócio;
Ano IV • Número 11
Junho de 2012
13
RIO
Michael Löwy O ecossocialismo é uma resposta radical tanto à
“verde”, para encher os tanques dos carros – em
biodegradáveis, enquanto as empresas se
crise financeira, quanto à crise ecológica. Ambas
vez de comida para encher o estômago dos fa-
utilizam do fato de serem supostamente
são a expressão de um processo mais profundo:
mintos da terra.
“verdes” como ferramenta de marketing.
Brasil 2012: diagnóstico de injustiça socioambiental e perspectiva de luta ecossocialista
Concordo com esta crítica. Os responsáveis do
a crise do paradigma da civilização capitalista industrial moderna. A alternativa ecossocialista
Quem seriam os principais agentes na
desastre ambiental tratam de culpabilizar os
significa que os grandes meios de produção e de
luta por uma sociedade mais verde, o
cidadãos e criam a ilusão de que bastaria que os
crédito são expropriados e colocados a serviço
governo, a iniciativa privada, ONGs,
indivíduos tivessem comportamentos mais eco-
da população. As decisões sobre a produção e o
movimentos sociais, enfim?
lógicos para resolver o problema. Com isso tratam
consumo não serão mais tomadas por banquei-
Salvo pouquíssimas exceções, não há muito a
de evitar que as pessoas coloquem em questão o
ros, managers de multinacionais, donos de poços
esperar dos governos e da iniciativa privada: nos
sistema capitalista, principal responsável da crise
A Rio+20 é um evento da Organização das
de petróleo e gerentes de supermercados, mas
últimos 20 anos, desde a Rio-92, demonstraram
ecológica. Claro, é importante que cada indivíduo
pela própria população, depois de um debate
amplamente sua incapacidade de enfrentar os
aja de forma a reduzir a poluição, por exemplo,
Nações Unidas – ONU, que marca uma
democrático, em função de dois critérios fun-
desafios da crise ecológica. Não se trata só de
preferindo os transportes coletivos ao carro
série de Conferências Mundiais sobre Meio
damentais: a produção de valores de uso para
má-vontade, cupidez, corrupção, ignorância e
individual. Mas sem transformações macro-
Ambiente, desde Estocolmo em 1972, Rio
satisfazer as necessidades sociais e a preservação
cegueira: tudo isto existe, mas o problema é mais
-econômicas, ao nível do aparelho de produção,
do meio ambiente.
profundo: é o próprio sistema que é incompatí-
não será possível brecar a corrida ao abismo.
em 1992, Quioto em 1997, entre tantas
vel com as radicais e urgentes transformações
+20
Por Beto Bannwart e Georgia Mocelin
outras. O Brasil, sede do Encontro, continua
O “rascunho zero” da Rio+20 cita
necessárias.
Quais as diferenças nas propostas que
diversas vezes o termo “economia verde”,
A única esperança então são os movimentos
querem, do ponto de vista ambiental,
mas não traz uma definição para essa
socais e aquelas ONGs que são ligadas a estes
realizar apenas reformas no capitalismo e
expressão. Na sua opinião, o que esse
movimentos (outras são simples “conselheiros
as que propõem mudanças estruturais ou
safios ecológicos da atualidade, e institu-
termo pode significar? Seria esse conceito
verdes” do capital). O movimento camponês –
mesmo a adoção de medidas mais “verdes”
cionalmente, na contramão de um modelo
suficiente para deter a destruição do
Via Campesina -, os movimentos indígenas e
dentro de outro sistema econômico?
planeta e as mudanças climáticas?
os movimentos de mulheres estão na primeira
O reformismo “verde” aceita as regras da “eco-
Não é por acaso que os redatores do tal “rascu-
linha deste combate; mas também participam,
nomia de mercado”, isto é, do capitalismo; busca
incontestável o retrocesso do governo nas
exponencial e destrutivo, típico do modelo de
nho” preferem deixar o termo sem definição,
em muitos países, os sindicatos, as redes ecoló-
soluções que seja aceitáveis, ou compatíveis, com
décadas passadas, mas bastante reforçado pelo
bastante vago. A verdade é que não existe “eco-
gicas, a juventude escolar, os intelectuais, várias
os interesses de rentabilidade, lucro rápido, com-
questões ambientais, com a flexibilização
nomia” em geral: ou se trata de uma economia
correntes da esquerda. O Fórum Social Mundial
petitividade no mercado e “crescimento” ilimita-
de leis e o desmonte dos órgãos e meca-
capitalista, ou de uma economia não-capitalista.
é uma das manifestações desta convergência na
do das oligarquias capitalistas. Isto não quer dizer
nismos de controle e fiscalização do Estado.
No caso, a “economia verde” do rascunho não
luta por um “outro mundo possível”, onde o ar, a
que os partidários de uma alternativa radical,
é outra coisa do que uma economia capitalista
água, a vida, deixarão de ser mercadorias.
como o ecossocialismo, não lutam por reformas
O país dá sinais de estar sendo afetado pela
No entanto, contraditoriamente, o que se
valor agregado e com preços instáveis, mas
apresenta, na prática, ainda é mais do mesmo.
de forte rentabilidade para a burguesia, o que
sendo um país de profundas desigualdades sociais, extremamente vulnerável aos de-
de desenvolvimento que se sustente, pois é
da vida no planeta Terra, e a convicção de que fazemos parte do Todo, ser humano e natureza.
avanço do sistema financeiro e tecnológico. De fato, a política do governo é para sermos um potente e barato fornecedor mundial de
O neodesenvolvimentismo ruralista
commodities, matérias primas com bai xo
que permitam limitar o estrago: proibição dos
conjuntura global da crise, que se apresenta de
lucro e rentabilidade algumas propostas téc-
Como você analisa a maneira como a questão
transgênicos, abandono da energia nuclear, de-
forma sistêmica, civilizatória, e se manifesta
O governo democrático popular de Dilma-
impulsiona as forças do capital a se deslocar
nicas “verdes” bastante limitadas. Claro, tanto
ambiental vem sendo tratada pela mídia?
senvolvimento das energias alternativas, defesa
de maneira complementar em seus aspectos
Lula, que faz uma década, revela-se uma forma
degradando áreas, expulsando comunidades
melhor se alguma empresa trata de desenvolver a
Geralmente de maneira superficial, mas existe
de uma floresta tropical contra multinacionais
sociais, econômicos, políticos e ecológicos.
de social-liberalismo expansionista e subim-
e comprometendo a base de recursos naturais
energia eólica ou fotovoltaica, mas isto não trará
um número considerável de jornalistas com sen-
do petróleo (Parque Yasuni!), expansão e gra-
Concretamente, avança uma compreensão
perialista, um modelo de acumulação e expan-
da qual dependemos todos. Esse processo
modificações substanciais se não for ampla-
sibilidade ecológica, tanto na mídia dominante
tuidade dos transportes coletivos, transferência
difusa das questões socioambientais. Eventos
são constante, excludente e destrutivo, em que
produtivo de reprimarização da economia é
mente subvencionado pelos estados, desviando
como nos meios de comunicação alternativos.
do transporte de mercadorias do caminhão para
catastróficos recentes, como Fukushima e a
a natureza é vista como entrave ou recurso, e o
impulsionado principalmente pela bancada
fundos que agora servem à indústria nuclear, e se
Infelizmente uma parte importante da mídia
o trem, etc. O objetivo do ecossocialismo é o de
Região Serrana do Rio de Janeiro, legitimam
ser humano, como mão de obra barata.
ruralista, que é a representação dos latifundi-
não for acompanhado de drásticas reduções no
ignora os combates sócio-ecológicos e toda crí-
uma transformação radical, a transição para um
a luta dos movimentos sociais, as denúncias
Nos meandros da governabilidade brasilei-
ários do agronegócio no Congresso Nacional.
consumo das energias fósseis. Mas nada disto é
tica radical ao sistema.
novo modelo de civilização, baseado em valores
de ambientalistas, da comunidade científica
ra triunfam vigorosos os interesses do capital,
Avançam as privatizações, com extrema
de mercado que busca traduzir em termos de
de solidariedade, democracia participativa,
e de relatórios periódicos da ONU, e eviden-
principalmente do sistema financeiro, dos
concentração de terra, renda e poder, impon-
mercantil e rentabilidade do capital. Outras pro-
Você acredita que, atualmente, em prol da
preservação do meio ambiente. Mas a luta pelo
ciam os impactos das mudanças climáticas,
ruralistas, das empreiteiras, da especulação
do direitos de propriedade e cobrando royal-
postas “técnicas” são bem piores: por exemplo,
preservação do meio ambiente é deixada
ecossocialismo começa aqui e agora, em todas as
assim como uma percepção generalizada do
imobiliária e das grandes multinacionais,
ties sobre os elementos da natureza. Decisões
os famigerados “biocombustíveis”, que como
apenas para o cidadão a responsabilidade
lutas sócio-ecológicas concretas que se enfren-
processo de fragilização em nossas condições
em detrimento dos interesses da classe tra-
estratégicas sobre o uso dos espaços e recur-
bem o diz Frei Betto, deveriam ser chamados
pela destruição do planeta e não para as
tam, de uma forma ou de outra, com o sistema.
de existência material.
balhadora.
sos obedecem principalmente os interesses
“necrocombustiveis”, pois tratam de utilizar os
empresas? Em São Paulo, por exemplo,
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508288-michael-loewycritica-
solos férteis para produzir uma pseudo-gasolina
temos que comprar sacolinhas plásticas
rio20eapropagandadaeconomiaverde
possível sem romper com a lógica de competição
14
Ano IV • Número 11
De fato, aumenta a consciência da impor-
Uma espécie de neodesenvolvimentismo,
tância do equilíbrio ecológico na preservação
com a gana ultraprodutivista de crescimento
Junho de 2012
econômicos, a lógica do capital que privilegia o lucro em detrimento à vida.
15
RIO
+20
Injustiças socioambientais
Paraíso ameçado
A resistência à instalação da Companhia Siderúrgica de Ubu (csu)
Assim sendo, a problemática ecológica não
Esse modelo capita lista gera injustiça
pode ser apenas uma questão tática, pontual e
socioambiental: muita riqueza para poucos
setorizada, mas sim tem de ser compreendida
e riscos e impactos negativos que afetam o
como estratégica, global, sistêmica e inter-
coletivo, mas em diferente intensidade,
dependente, pois se trata da continuidade de
pois no contexto em que exclusão
nossa existência na Terra.
social e degradação ecológica se
É urgente uma ruptura radical com a ideolo-
entrelaçam, os mais atingidos são
gia produtivista, de crescimento ilimitado e de
as populações vulneráveis, mar-
progresso linear, típica da lógica do mercado,
ginalizadas, que vivem
do lucro como fim em si mesmo.
Por Maria Helena Rauta Ramos, Arthur Moreira e Ricardo Nespoli
Rio Benevente, que hoje abastece a população
Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (GAMA), a
de municípios da região. Isso sem considerar a
Associação de Pescadores de Ubu e Parati, a
população que migrará desordenadamente atrás
Rede Alerta Contra o Deserto Verde, o Diretório
A ecologia se mostra um campo em dis-
A luta contra mais um “grande projeto”
dos empregos, o que aumentará ainda mais a
Central dos Estudantes da Universidade Federal
nas periferias e áreas de
puta, onde avaliamos como insuficientes as
demanda. Como se trata de uma indústria al-
do Espírito Santo, outras entidades e militantes
risco.
propostas ecocapitalistas, que se satisfazem
Se acreditássemos na grande mídia e nos
tamente poluidora, ainda agrava a poluição da
da causa socioambiental se engajaram na defesa
água da região com metais pesados (já causada
da população e do meio ambiente de Anchieta.
em péssimas condições,
ao tentar humanizar e dar uma maquiagem
Tr at a-s e t a mbém de
seria uma maravilha. Afinal, são 20 mil em-
verde ao sistema.
racismo ambiental, pois a
Na superação do sistema capitalista, a tran-
exploração e a opressão são
órgãos públicos de política ambiental, tudo pregos prometidos, mais desenvolvimento
pela mineradora Samarco).
A Chapada do Á, área em que pretende instalar-
Esta é outra preocupação trazida pelo projeto de
-se a siderúrgica, hoje é ocupada por uma comu-
instalação da CSU. Um crescimento populacional
nidade tradicional descendente de indígenas. São
repentino e sem planejamento, que nas estimativas
cerca de cem famílias que não querem sair de onde
direcionadas a comunidades
sição ao ecossocialismo se dá com planificação
específicas, etnias e classes
democrática, socialista e ecológica, com polí-
que são propositalmente afetadas pela sua
ticas públicas participativas em que todas as
nidade única de “atrair investimentos”. Essa é
da empresa mais do que dobrará a população, tende
cresceram, mas têm enfrentado o acintoso assédio
a propaganda feita pela Vale para defender o
a dar péssimas condições aos migrantes e ampliar
da empresa, que quer comprar as terras a qualquer
a desigualdade socioeconômica no local.
custo. Para apoiar seu “parceiro”, o Governo já de-
para a cidade e para a região e uma oportu-
fragilidade: a classe trabalhadora em geral,
Francisco, e pela defesa de uma matriz ener-
áreas, programas e projetos sejam repensados
e os pobres, negros, indígenas, ribeirinhos e
gética diversificada, fizeram parte dos debates
pelo viés socioambiental.
quilombolas, em particular, com consequentes
no encontro de fundação do Setorial Nacional
Uma de nossas tarefas militantes é a de
desastre socioambiental que ela está prestes
impactos diretos e nefastos em suas condições
de Ecossocialistas do PSOL, que se realizou em
mapear os conflitos socioambientais de nossas
a patrocinar em Ubu, município Anchieta-ES.
de vida, saúde, moradia e trabalho.
Curitiba, em abril de 2011.
realidades locais, na elaboração de um pro-
Essa apropriação privada de um dos litorais mais belos do Espírito Santo por empresas de capital
cretou, sem fundamento legal, que as terras seriam de utilidade pública.
estrangeiro começou na Ditadura Militar, sem qual-
A nossa luta é grande e buscamos aliados que
Denunciamos a concentração de poder,
De lá pra cá, seguimos avançando e ocu-
grama político de realidade concreta, para
A cidade já sofre os efeitos da presença da Samarco,
quer consulta à população capixaba. Desse tempo
nos apoiem impedindo o avanço das forças des-
terra e recursos nas mãos da classe dominante;
pando importantes espaços com essa pers-
combater o caos urbano e as injustiças no
outra grande mineradora. O ar, segundo relatório
para os dias atuais, a empresa justifica novos empre-
trutivas do capital, que por onde passa deixa atrás
a imposição brutal de deslocamentos popu-
pectiva de luta, partindo do princípio que um
uso da terra e recursos, com a canalização de
do Instituto Estadual do Meio Ambiente (IEMA)
endimentos, isso porque, dada a lógica própria do
de si populações no limite de pobreza máxima um
lacionais para construção de barragens, me-
dos grandes desafios é renovar e atualizar o
indignações e a convergência de projetos, na
quando da proposta de instalação da siderúrgica
capital, “[...] a acumulação não passa de reprodução
quadro de doenças, e situações de calamidade social
gaobras, megaeventos, ou para a especulação
pensamento da esquerda, na construção de
construção de um movimento de massas, com
chinesa Baosteel (também em parceria com a Vale),
do capital em escala que cresce progressivamente. O
que somos incapazes de estimar. Caso essa onda
imobiliária; a implantação de monoculturas,
uma crítica anticapitalista radical, que busque
verdadeiro potencial transformador.
já encontra-se na máxima saturação de partículas
círculo em que se move a reprodução simples muda,
de “desenvolvimento e de criação de empregos”
ou pastagens para gado; a contaminação por
redefinir a trajetória e os objetivos do socia-
Estamos engajados em ecologizar o debate,
em suspensão. O porto de Ubu, um dos motivos da
então, sua forma e transforma-se [...] em espiral” (1987,
continue, os seus efeitos nocivos serão cada vez
agrotóxicos e/ou indústrias poluentes; a apro-
lismo em um contexto ecológico. Buscamos
em demonstrar a importância e a compreensão
instalação da CSU no local, é dragado a cada dois
p. 677). E, valendo-se da “vocação do município”,
mais visíveis. Isso só torna mais necessária nossa
priação indevida de conhecimentos tradicio-
reorientar o modelo de desenvolvimento, os
estratégica da ecologia política do ecossocia-
anos, devastando a vida marinha do local, destruin-
tornada por ela mesma “própria para a indústria de
árdua tarefa de dizer não aos “grandes projetos” e
nais para patenteamento, enfim, combatemos
meios de produção e consumo, de forma a
lismo ao PSOL, aos militantes de esquerda e
do corais (únicos animais que contribuem para
mineração e siderurgia”; e em nome dos empregos
lutar por uma outra sociedade que seja radicalmente
a mercantilização da vida.
manter a capacidade de suporte do planeta, ou
aos movimentos populares. Em paralelo, atu-
a redução do efeito estufa), prejudicando a pesca
que oferece a população local, argumentos que são
democrática, ambientalmente justa e livre de todas
seja, os fluxos de matéria e energia na natureza,
amos para politizar, ideologizar as questões
artesanal da região, que já sofre com a alteração
assumidos também pelos demais atores capitalistas
as opressões. Uma sociedade ecossocialista!
preservando todas as formas de vida em prol
ambientais e debater o socialismo junto aos
da rota dos cardumes, devida ao movimento de
do ramo, e por seus aliados que ocupam o Estado
“Grande projeto” foi uma expressão criada
das futuras gerações.
ecologistas, no convencimento de que a luta
navios, e com a contaminação das espécies ma-
(IEMA e IBAMA). Mas não é bem isso. As atividades
para definir os empreendimentos que causaram
Perspectiva de luta ecossocialista O ano de 2011 ficou marcado pela ascensão de movimentos sociais e revolucionários
Entendemos que a raiz da degradação
ecológica, para ser consequente, tem de en-
rinhas devida aos frequentes derramamentos de
tradicionais do município são a agricultura familiar
grandes impactos socioambientais e, como foram
mundo afora, e no Brasil, particularmente, a
ambiental é a mesma da exclusão social: é o
frentar e buscar superar o sistema capitalista.
óleo. Contraditoriamente, a instalação da primeira
e orgânica, pesca artesanal, turismo sustentável
instalados na época da ditadura civil-militar, tive-
questão ecológica dominou a pauta de inú-
sistema capitalista!
A luta ecológica é radical e anticapitalista!
poluidora pretende servir de justificativa para a
com suas belas praias e montanhas, onde residem
ram apoio do governo.
A alternativa é ecossocialista!
instalação de uma segunda – que, pasmem, ainda
descendentes de imigrantes italianos.
meras manifestações, principalmente contra
Militamos, portanto, pelo Ecossocialismo,
o projeto de alteração do Código Florestal (PL
teoria política libertária, de vanguarda, sín-
1.876/99) e a construção de hidrelétricas, como
tese entre o socialismo e a ecologia, resposta
Beto Bannwart – Membro da Coordenação
Belo Monte, Jirau, Santo Antônio, entre outras,
de superação e alternativa ao capitalismo,
Naciona l do Setor ia l Ecossocia l ista Pau lo
que avançam destrutivamente.
esse sistema predatório que faz um duplo
Essas bandeiras, somadas à luta contra usinas nucleares, a transposição do Rio São
16
Este processo, porém, não está ocorrendo
Maria Helena Rauta Ramos Doutora em Serviço
sem crítica e resistência. Várias entidades da
Social pela PUC-SP e militante do P-SOL Anchieta
Outra grande ameaça sofrida pela população
sociedade civil e movimentos sociais perce-
Arthur Moreira Advogado sindical e membro do
Piramba e do Núcleo Ecossocialista PSOL/SP
é quanto ao abastecimento de água. Indústria
beram o desastre socioambiental que está por
Diretório Estadual do P-SOL ES
movimento de opressão e exploração, do ser
Georgia Mocelin – Militante do Setorial Ecos
de intensiva exploração hídrica, a CSU pretende
vir com a instalação deste “grande projeto”. A
Ricardo Nespoli Bancário e Secretário de Formação
humano e da natureza.
socialista e do Núcleo Ecossocialista PSOL/SP
usar para seu processo produtivo a bacia do
Associação de Moradores de Chapada do Á, o
Política do P-SOL Vitória-ES
pretende lançar seus detritos no mar, segundo o
Ano IV • Número 11
próprio projeto.
Junho de 2012
17
Agricultura
Agricultura
Os venenos que o capitalismo nos serve A produção de alimentos à base de agrotóxicos e o debate de alternativas
condiz com a realidade. Depois de
podem viabilizar essa política são:
60 anos da chamada “revolução
1) inverter a balança dos financia-
verde”, o mundo ainda tem um
mentos, aplicando a maior parte
bilhão de famintos.
do orçamento público destinado à
Sem dúv idas, a produção de
produção agrícola à agricultura fa-
alimentos no sistema agroecológico
miliar e à produção agroecológica;
é melhor para a saúde humana. Os
2) subsidiar fortemente os produtos
Maior consumidor de agrotóxicos do mundo é
empecilhos que se colocam para
agroecológicos à custa da taxação
mais um dos títulos indesejáveis que o Brasil
a generalização do consumo é o
dos produtos convencionais; 3) im-
ostenta. Nada mais adequado para um país
seu preço mais elevado e a produ-
posição dos custos dos problemas
que tem nas monoculturas de soja, milho e
tividade, que historicamente foi
de saúde provocados pelos agrotó-
cana-de-açúcar e na criação de bovinos o carro
menor em comparação à produção
xicos à indústria química, para que
chefe da economia.
convencional.
esses se expressem no preço final
Por Luiz Felipe Bergmann
O agronegócio é a forma que o capitalismo
Entretanto, a questão da pro-
do produto, o que torna os preços
assume no campo, com concentração de ca-
dutividade da agroecologia já con-
dos agroecológicos mais atrativos
pitais e necessidade de expansão constante,
segue resolver. Por exemplo: Na
e economiza orçamento público
com a exploração intensiva da terra, o aumento
Ba hia, em 2005, a produção de
gasto no tratamento às vítimas dos
da fronteira agrícola e a busca do aumento da
cebola orgânica obteve 38 toneladas
venenos; 4) o Estado, especialmente
produtividade a qualquer custo. A missão do
por hectare, enquanto a produzida
na esfera municipal, deve privilegiar
agronegócio é produzir mercadorias, e não ali-
no sistema convencional rendeu 20
a compra de produtos agroecoló-
mentos. E como todo investimento capitalista,
toneladas. O tomate orgânico pro-
gicos, por exemplo, para merenda
exige-se previsibilidade e certeza de retorno.
uso desses produtos, seja através da isenção
mercado trazem-nos embutidos. É um custo
duzido na região de Araraquara já alcançou os
de energia, como é o caso da soja, milho e
escolar e restaurantes populares, o que estimula
Para evitar que as pragas e os fungos destruam
de impostos, seja ao condicionar o financia-
assumido por toda a sociedade, mas que não
mesmos índices de produtividade daquele do
cana-de-açúcar. Com isso se evitará também
os produtores do entorno das cidades.
a fonte dos lucros, recorre-se a venenos, ou
mento de lavouras no sistema convencional ao
é diretamente percebido pela mesma.
sistema convencional. O feijão, em produção
o desmatamento e destruição de biomas como
agrotóxicos.
uso de agrotóxicos e adubos químicos. Para a
experimental da ESALQ, de Piracicaba, atingiu
a Amazônia e o cerrado.
A solução agroecológica
3.500 quilos por hectare, quando uma boa safra
O modelo de produção agroecológico, fa-
Com a defesa dessas med idas, dent re outras, daremos uma contribuição importante na luta pelo ecossocialismo.
A compreensão da organização e do fun-
safra 2011/2012 o governo federal destinou 107
cionamento do capitalismo no campo, as
bilhões de reais para o agronegócio e apenas
Em contraposição à agricultura convencio-
suas técnicas, e as consequências para o meio
16 bilhões de reais para a agricultura familiar
nal tem se desenvolvido a agricultura agroeco-
Os preços mais elevados representam um
trando mais viável em pequenas propriedades,
Luiz Felipe Bergmann – militante ecossocialista
ambiente, para a saúde humana e os impactos
e orgânica, privilegiando esse modelo de pro-
lógica. O objetivo da agroecologia é, partindo
estímulo ao agricultor. Em dezembro de 2005
pode contribuir decisivamente para a solução
do PSOL Paraná
na economia, é de fundamental importância
dução, que destrói a saúde e o meio ambiente.
da realidade social e dos aspectos culturais,
o saco de 20 Kg de cebola orgânica era vendido
dos problemas sociais no campo e ser um fator
para aqueles que se colocam a perspectiva da
Os efeitos deste modelo de agricultura para
desenvolver uma agricultura que preserve o
a R$ 36,00, enquanto o da convencional era
estimulador da reforma agrária. Os dados do
Fontes
construção de uma sociedade politicamente
a saúde humana são trágicos: acidentes de tra-
meio ambiente, para a obtenção de resultados
comercializado por R$ 8,00. O tomate orgânico
Censo Agropecuário de 2006 revelam a sua
SOARES, Wagner Lopes – “Uso dos agrotóxicos e
importância, pois é o que produz a absoluta
seus impactos à saúde e ao ambiente: uma avalia-
maioria dos alimentos como, por exemplo,
ção integrada entre a economia, a saúde pública,
considera 2.500 kg por hectare.
zendo uso intensivo de mão de obra e se mos-
democrática, socialmente justa e ecologica-
balho na aplicação de venenos, intoxicações de
socioeconômicos, com a participação política
apresentou preço 73% superior ao produzido
mente sustentável, ou seja, uma sociedade
populações inteiras quando da pulverização de
dos agricultores.
com venenos.
ecossocialista.
lavouras, neoplasias e malformações, dentre
É uma ciência que procura fornecer princí-
O Censo Agropecuário de 2006 comprova a
87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho,
a ecologia e a agricultura”
outros. Inúmeros estudos científicos apontam
pios ecológicos para a relação entre homem e
importância da agricultura familiar, produtora
38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo, 58% do
http://w w w.organicsnet.com.br/2011/05/agri-
que há uma relação direta entre o uso de vene-
natureza, buscando a produtividade agrícola,
da maior parte dos alimentos, e a que produz
leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves e
cultura-agroecologica-pode-dobrar-producao-
nos e o aumento das doenças.
a inclusão social e a preservação da natureza.
os orgânicos, sendo responsável por 87% da
30% dos bovinos.
-de-alimentos-em-dez-anos/
A dimensão do problema A monocultura e o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos andam lado a lado. De
Os custos sociais do uso dos agrotóxicos,
É importante reconhecer que estamos falando
produção de mandioca, 70% da produção de
2002 para 2011 o consumo de fertilizantes no
especialmente aqueles com as intoxicações e o
de uma ciência, posto que o discurso capitalis-
feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz,
Brasil passou de 4.910 milhões de quilos para
tratamento das enfermidades daí decorrentes,
ta tenta passar a ideia de que só a agricultura
21% do trigo e, na pecuária, 58% do leite, 59%
Para os socialistas é questão das mais im-
6.743 milhões de quilos, e o de agrotóxicos de
bem como os danos ambientais (contaminação
convencional apóia-se na ciência e na técni-
do plantel de suínos, 50% das aves e 30% dos
portantes o combate à produção convencional
http://w w w.ufrgs.br/agroecologiabr/concei-
599,5 milhões de litros para 852,8 milhões de
do solo, do lençol freático, dos rios e lagos,
ca, enquanto a agroecologia seria um modo
bovinos.
e a defesa da produção agroecológica.
tos_de_agroecologia.htm
litros. O agronegócio usa 936 mil toneladas de
extermínio de predadores naturais), segundo
atrasado e primitivo de produzir. E mais, o
Esses dados mostram que, mais do que pos-
Devemos exigir do Estado o compromisso
http://www.agrisustentavel.com/san/tomato.htm
veneno por ano, o que representa praticamente
Soares, não são contabilizados no processo
discurso de que as técnicas agrícolas baseadas
sível, é necessário partir para a adoção de um
de desenvolver iniciativas políticas que fortale-
http://mundoorgnico.blogspot.com.br/2009/04/
20% do consumo mundial.
produtivo. Nem os preços dos agrotóxicos
no monocultivo, no uso de venenos e adubos
modelo de produção agrícola que privilegie o
çam a produção agroecológica, inclusive como
feijao-organico-tem-produtividade-acima.html
O Estado assume seu papel de “gerente
ref letem esses custos, tampouco os preços
químicos, são fundamentais para produzir
cultivo de alimentos saudáveis, em detrimento,
meio de evitar inúmeros e graves problemas à
www.embrapa.gov.br
dos negócios da burguesia” ao estimular o
dos produtos agrícolas colocados à venda no
os alimentos que a humanidade precisa não
do uso das terras agricultáveis para a produção
saúde humana. Alguns dos instrumentos que
http://www.abrasco.org.br/
18
Ano IV • Número 11
Junho de 2012
http://www.cpatsa.embrapa.br/imprensa/noti-
Algumas propostas
cias/producao-organica-supera-a-produtividade-da-cebola-convencional/
19
Código Florestal
Código Florestal
A hora do veto ao novo Código Florestal Por Ivan Valente
recuperação, somente os topos de morro usados na produção de lenhosas (uvas, maçãs, etc).
Descentralização administrativa ambiental Outra linha estruturante do novo Código
A bancada ruralista, financiada e composta
Outra mudança feita, que explicitamente
Florestal é a que devolve aos Estados o poder de
por representantes do agronegócio, con-
homenageia os ruralistas, foi retirar do texto
definição sobre a necessidade de recuperação
do Senado a observação de que devastações em
das APPs. A medida enfraquece a normatização
Áreas de Preservação Permanente localizadas
e a fiscalização nacional, além de comprometer
final de abril, um texto para o novo Código
dentro de Unidades de Conservação não podem,
toda a lógica do SISNAMA (Sistema Nacional de
Florestal que provocará o maior retrocesso
em hipótese alguma, serem consideradas áreas
Meio Ambiente). A ideia é que cada estado avalie
consolidadas. Ou seja, o Senado obrigava a
suas “peculiaridades” e defina se determinada
seguiu aprovar no Congresso Nacional, no
em termos de preservação ambiental da história do Brasil. Contrariando a já recuada posição do governo federal e literalmente passando o trator por cima das minoritárias preocupações ambientalistas que se manifestaram no Parlamento brasileiro, os rura-
recuperação dessas áreas em qualquer caso.
área degradada deve ou não ser recuperada, in-
Ao retirar essa observação do texto, a bancada
dependentemente de os biomas atravessarem as
ruralista anistiou de outra forma os desma-
fronteiras administrativas da federação. Assim,
tamentos em áreas consideradas prioritárias
chegaremos ao absurdo de as margens de um
para o meio ambiente – e, justamente por isso,
determinado rio serem recuperadas numa certa
consideradas Unidades de Conservação.
medida dentro de um estado e, em outra, no
Segundo levantamentos de especialistas,
estado vizinho.
essa mudança acerca da recuperação das áreas
Deixar para os estados resolverem essa ques-
listas comprovaram sua sanha incontrolável
consolidadas deixará de reflorestar 330 mil qui-
tão significa, na prática, fortalecer a defesa da
pelo lucro imediatista. E mais, deixaram
lômetros de APPs desmatados no país. Assim,
autonomia do proprietário rural para definir
todo este território irá deixar de ser considerado
como ocupar o solo da porteira de sua fazenda
passivo ambiental.
pra dentro, como se isso não tivesse qualquer
claro quais os interesses que falam mais alto no Congresso Nacional.
As áreas de apicuns e salgados – regiões
consequência do ponto de vista da preserva-
no entorno dos manguezais, ocupadas para
ção ambiental do conjunto daquele bioma ou
Além de manter a anistia para aqueles que
a produção de camarão – também deixaram
região. É uma lógica que favorece o descon-
desmataram ilegalmente até 2008, o texto do
de ser consideradas APPs. O texto do Senado,
trole do poder público e privilegia o vale-tudo
impactos do relatório original de
relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG),
que trazia um capítulo inteiro sobre o uso sus-
da propriedade privada, ignorando a previsão
Aldo Rebelo e havia sido pactua-
que saiu vitorioso, tem eixos estruturantes
tentável dos apicuns e salgados, limitando sua
constitucional de respeito à função social da
do dentro do governo.
que ampliam significativamente o impacto
ocupação em 10% na região amazônica e em
propriedade.
ambiental do novo Código e colocam o direito
35% no restante dos mangues, se transformou
A proposta também pode levar a uma “cor-
cada ruralista, suprapartidá-
à propriedade como máxima inquestionável
em um único artigo dentro do capítulo de “área
rida fiscal ambiental”, onde Estados ofereçam
ria, retomou seu radicalismo,
pelo poder público.
de uso restrito”. O texto aprovado, que atendeu
melhores condições de desmatamento com o
enfrentou o governo e desaca-
A primeira linha mestra do novo Código
ao lobby dos produtores de camarão, diz que
objetivo de atrair empresas para suas regiões.
tou a Presidência da República,
reduz as Áreas de Preservação Permanente
os apicuns e salgados podem ser totalmente
Uma legislação de âmbito estadual também está
rasgando os acordos feitos no
(APPs) que, desmatadas ilegalmente, devem ser
ocupados, desde que se faça o Zoneamento
mais suscetível a pressões políticas e econômi-
Senado. O novo relator do pro-
recuperadas. A versão do Senado já era recua-
Econômico e Ecológico da região.
cas de segmentos locais (fazendeiros e especu-
jeto na Câmara, que é da base
lação imobiliária), com enormes prejuízos ao
do governo e membro da Frente
De volta à Câmara, a ban-
da, cancelando as multas dos desmatadores e
A decisão deixa de lado os avisos da comu-
liberando a recuperação para propriedades de
nidade científica de que a carcinicultura nessas
até quatro módulos fiscais. Mas agora a regra é a
áreas seria responsável por inúmeros impactos
A cereja do bolo deste aspecto veio com
ção ambiental e o direito a crédito e incentivos
Trata-se de uma lógica totalmente irrespon-
elaboração de um texto que permitisse a volta
impunidade geral, com total flexibilização para
ambientais sobre os manguezais, causando
a aprovação de um destaque, apresentado
do governo para esta recuperação. Antes, só
sável e antipedagógica, que passa uma mensa-
de medidas ainda mais predatórias ao texto
as chamadas “áreas consolidadas”, em todo tipo
desmatamento e bloqueio dos fluxos das águas
pelos ruralistas, que impedirá que o Cadastro
teria direito a acessar esses recursos públicos o
gem muito clara de impunidade para o país.
do Código Florestal, deixando claro que os
de propriedade.
para essa zona, além da contaminação do lençol
Ambiental Rural seja disponibilizado na inter-
proprietário que fizesse o Cadastro Ambiental
Nós, ambientalistas, já não tínhamos acordo
objetivos da bancada ruralista não admitiriam
Entre as APPs que não precisarão mais ser
freático das áreas onde se realiza o cultivo,
net, bloqueando a transparência e fiscalização
Rural e apresentasse um cronograma de recu-
com o texto do Senado, que anistiava os desma-
qualquer possibilidade de freio à expansão do
recuperadas estão os topos de morro usados
matando peixes e caranguejos e inutilizando a
das propriedades pelo poder público.
peração no Plano de Regularização Ambiental.
tadores e permitia novas derrubadas através de
agronegócio.
para pecuária. O texto do Senado, por exemplo,
água para o consumo humano. O impacto nos
Agora, basta assinar um documento de inten-
uma série de flexibilizações no Código até então
O recado foi dado ao governo de maneira
considerava como área consolidada, liberada de
mangues será brutal.
ções que os recursos serão liberados.
em vigor. Mas era um texto que reduzia alguns
bem direta: a bancada ameaçou votar contra
20
meio ambiente e a toda a sociedade.
Por fim, outra medida estruturante do texto aprovado é quebrar a relação, prevista na
Ano IV • Número 11
versão do Senado, entre o tempo de recupera-
Junho de 2012
Lógica predatória imediatista
Parlamentar da Agropecuária, incumbiu-se da
21
I Entrevista I
Código Florestal a Lei Geral da Copa, de interesse direto do
um pretenso desenvolvimento econômico
evitar maiores desgastes internacionais diante
Planalto, caso o novo Código Florestal, com
acima das condições de vida e do equilíbrio
do aumento do desmatamento que as mudanças
as alterações propostas por Piau, não fosse
sócio-ambiental.
do texto trarão.
Plano de manejo invade reserva extrativista
aprovado. A ameaça ocorreu no momento em
Frente a esse movimento, o governo ficou de
Mudanças no Código Florestal deveriam
que o governo considerava o adiamento da
mãos atadas. Ao apostar e sustentar um modelo
ca m i n ha r no sent ido de moder n i zá-lo e
votação para depois da Rio+20, a Conferência
econômico fundado na atividade agroexporta-
aperfeiçoá-lo à luz dos avanços científicos
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
dora, o governo tornou-se refém dos desman-
acerca da preservação da natureza, da ques-
Sustentável, que acontecerá em junho deste
dos dos ruralistas. Por trás do discurso de apoio
tão climática e das funções institucionais das
madeireiras não estão respeitando sequer a
defendendo a preservação das reservas extrati-
a no no Rio de Janeiro. Para o governo, o
ao pequeno agricultor e à agricultura familiar,
APPs e Reservas Legais; de ampliar a educação
técnica da extração do plano de manejo. De
vistas. Colega de Chico Mendes, que foi assas-
adiamento da votação permitiria evitar o
quem saiu ganhando mais uma vez foram
ambiental dos produtores e da população em
acordo com a regra, não é permitido retirar
sinado em 1988, ele fala sobre a amizade com o
constrangimento de explicar publicamente
os nefastos interesses em prol da exploração
geral. Mas o que foi aprovado é um convite à
nenhuma árvore com menos de 40 cm de di-
seringueiro e das dificuldades enfrentadas por
como pretende manter seu compromisso in-
acelerada dos recursos naturais. Interesses
impunidade e representa uma drástica flexi-
âmetro. Hoje, eles estão tirando as varinhas
conta da defesa do meio ambiente. “Nós sonhá-
ternacional de redução de 38% na emissão de
estes que, há anos no país, via incentivos e
bilização da lei ambiental.
finas e fazendo corte raso. Então, milhões de
vamos com educação de qualidade para o nosso
CO2 até 2020 aprovando medidas de flexibili-
privilégios governamentais ao agronegócio, já
metros cúbicos estão saindo de forma legal e
povo, com o desenvolvimento de pesquisas para
zação da legislação ambiental, que ampliam
tem provocado desastrosas consequências am-
ilegal”, afirma.
desenvolver os biomas. Mas nós fomos traídos
o desmatamento e reduzem a recomposição
bientais nas regiões de expansão da fronteira
da cobertura florestal no país.
agrícola, sobretudo na Amazônia.
Entrevista especial com Osmarino Amâncio
Veta, Dilma! Para barrar as alterações aprovadas na
Em entrevista concedida à IHU On-Line
por esse pessoal. Hoje, vamos ter que começar
Câmara e no Senado, o único caminho é a mo-
por telefone, ele conta que a maioria dos
tudo de novo, mas agora o confronto é contra
Mas a pauta da Rio+20 não faz parte das
O projeto aprovado no Congresso sim-
bilização e a pressão popular pelo veto integral
seringueiros se opõe ao manejo da madeira,
aqueles que criaram leis que criminalizam o
preocupações dos ruralistas. E para provar até
boliza, assim, um retrocesso ambiental não
ao projeto. Um veto parcial servirá apenas para
mas acabam aderindo ao projeto por causa
nosso movimento, e que exportam os nossos
que ponto estava preparada para o confronto
somente pelas mudanças previstas pela atual
criar uma cortina de fumaça e uma aparência de
da pressão governamental. “Quando um se-
meios de sobrevivência”, desabafa.
com o governo, a bancada valeu-se de uma
reforma do Código Florestal. Tal como colo-
equilíbrio e amenização dos danos criados pela
ringueiro não aceita participar do manejo,
aliança com membros da bancada evangélica
cado no Congresso, a aprovação do projeto
nova Lei. Não há como combinar preservação e
ele tem dificuldade de vender seu produto, de
e de partidos da oposição para, na mesma
do Deputado Piau também consolida uma
desmatamento. Nessa disputa, é preciso ter lado.
semana, aprovar na Comissão de Constituição
incapacidade crônica do governo de colocar
Às vésperas da Conferência das Nações
e Justiça a PEC 215, uma emenda constitucional
limites à bancada ruralista e abre a porteira
Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável,
que transfere do Executivo para o Congresso a
para novas propostas de fragilização da pro-
que ocorrerá no Rio de Janeiro em junho deste
competência sobre a demarcação e a homolo-
teção ambiental no Brasil.
ano, a Presidenta Dilma deve ser lembrada de
Vale lembrar que a anistia aos desmatado-
seus compromissos, assumidos em campanha e
A aprovação da PEC 215, que coloca em
res não apareceu apenas nessa última versão
em agenda oficial internacional, contra a amplia-
risco a sobrevivência de diversas populações e
do texto aprovada na Câmara. A proposta
ção do desmatamento e pela redução da emissão
acirra o conflito fundiário já existente, é a ex-
do Senado já anistiava os desmatadores ao
de gases de efeito estufa. Não queremos ser um
pressão da força e da intenção do movimento
perdoar as multas, eliminar a recomposição
país a serviço dos interesses de uma elite agrária-
que a bancada ruralista começa a colocar em
de Reserva Legal para propriedades de até
-exportadora. Nossa prioridade deve ser a vida,
prática: os constrangimentos legais ao cres-
4 módulos e criar conceitos vagos e amplos
e a vida pede o veto ao novo Código Florestal.
cimento do agronegócio devem desaparecer,
de áreas consolidadas. Assim, a anistia não
A entrega de nossas florestas ao agronegó-
e as questões ambientais, sociais, culturais e
está apenas na indefinição das APPs, ela é
cio não pode passar despercebida. A Rio+20
mesmo diplomáticas, terão que ficar para um
parte estruturante de todo o novo Código
e as mobilizações da Cúpula dos Povos por
segundo plano.
Florestal, que veio à tona justamente para
Justiça Social e Ambiental, contra a mercan-
regularizar aqueles que descumpriram a lei.
tilização da vida e em defesa dos bens comuns
Levantamento recente da imprensa revelou
são a oportunidade de mostrarmos que o povo
A mudança do Código Florestal é apenas
que 15 deputados e 3 senadores tem multas
o primeiro passo para uma ampla reforma da legislação, que também inclui a PEC 215, a
gação de terras indígenas e quilombolas.
Agenda ruralista
“Nós, que sempre trabalhamos preservando a floresta, estamos sendo criminalizados; somos vítimas de uma política de extermínio”, denuncia o seringueiro.
Confira a entrevista.
escoar sua produção”, informa. Os seringuei-
Qual a situação das reservas extrativistas?
ros que participam do manejo da madeira
O que tem impedido a preservação delas?
recebem um auxílio financeiro, o chamado
Osmarino Amâncio – Hoje, a situação das
programa Bolsa Verde, para não extraírem
reservas extrativistas é muito complicada por
recursos da floresta. Somente em Brasileia,
causa da nova política de economia verde im-
no Acre, mais de cem famílias já assinaram o
plantada pelos governos do Acre, Amazonas e
Bolsa Verde. “Querem que os seringueiros e os
Pará. O grande projeto de extração de madeira
índios se conformem com este programa. (...).
no Acre é um dos principais empecilhos para
No estado do Amazonas, a cada trimestre os
que as reservas extrativistas possam se conso-
seringueiros recebem 340 reais de bolsa e, no
lidar, já que o governo fez grandes empréstimos
Acre, eles recebem 300 reais. Ou seja, cada um
com bancos mundiais.
recebe em média 100 reais por mês para não
De acordo com esta política de economia
interferir na floresta, não matar mais a nossa
verde, todos os produtos têm que ter selo de
caça, não tirar mais a madeira para construir
exportação, o chamado selo FSC, que foi criado
uma casa”, ressalta.
através do Sistema Nacional de Unidade de
Ele ta mbém cr it ica a Lei de Florestas
Conservação e incentivado no ministério sob
Públicas, sancionada em 2006, quando Marina
o comando de Marina Silva, quando ela criou
A proposta de sustentabilidade defendida por
Silva era ministra do Meio Ambiente. “A Lei de
a lei de Florestas Públicas. Essa lei dá uma
brasileiro não quer essa mudança do Código
Osmarino Amâncio e Chico Mendes, de gerar
Florestas Públicas está privatizando a flores-
concessão de uso de determinada área florestal
aplicadas pelo IBAMA e serão beneficiários
Florestal e que a verdadeira defesa da sobera-
riquezas através da produção diversificada sem
ta, porque mais de 50 milhões de hectares de
por um período de 40 anos. No caso do Acre,
pela anistia aprovada no novo Código.
nia nacional está na luta contra a submissão
ameaçar a floresta, está sendo substituída pelo
áreas florestais são utilizadas para abastecer
se a pessoa pegar uma área de terra para fazer
da nação aos interesses do agronegócio.
plano de manejo da madeira, que avança nos
o mercado da economia verde através do
o manejo sustentável de 500 mil hectares, ela
estados do Acre, Pará e Amazonas. De acordo
manejo madeireiro, do REED, do mercado de
recebe uma concessão por 40 anos. Depois
carbono”, aponta.
desse período, a concessão pode ser renovada
formulação de um Código de Mineração – que
A preocupação maior da gestão Dilma,
deverá expandir a área extrativista no Brasil
portanto, manifestada no voto contrário do PT
–, a reforma da Lei das Águas, a alteração do
ao relatório de Paulo Piau, não foi garantir a
Ivan Valente é deputado federal, membro da
com Osmarino, somente no Acre já existem
conceito de “trabalho degradante” no Brasil,
preservação ambiental e eliminar a anistia do
Frente Parlamentar Ambientalista e presidente
quase 200 pla nos de ma nejo distribuídos
Osmarino Amâncio nasceu no Seringal Bela
por mais 30 anos. Então, a Lei de Florestas
entre outras iniciativas que buscam colocar
texto, mas sim criar um discurso que ajude a
nacional do PSOL
em um milhão de hectares da f loresta. “As
Flor e há mais de cinquenta anos vive no Acre
Públicas está privatizando a floresta, porque
22
Ano IV • Número 11
Junho de 2012
23
I Entrevista I
Osmarino Amâncio
mais de 50 milhões de hectares de áreas flores-
Que porcentagem da área de unidade de
governo diz que duzentas famílias da reserva
Em que consiste a política de reservas
vivo da castanha, do látex, da caça, dos
tais são utilizadas para abastecer o mercado da
conservação já foi desmatada no Acre?
extrativista terão de fazer o plano de manejo
extrativistas que o senhor ajudou a
produtos que vendo. Não preciso des-
economia verde através do manejo madeireiro,
Osmarino Amâncio – Hoje, no Acre, um milhão
ou perderão a concessão. Como nós não temos
elaborar junto com o Chico Mendes?
matar a área para sobreviver. Se eu vivo
do REED, do mercado de carbono.
de hectares da floresta está sofrendo o impac-
nenhuma assistência técnica para fazer o
Osmarino Amâncio – Nossa proposta
de ovos, por que vou matar a galinha?
Querem que os seringueiros e os índios se
to do manejo madeireiro e já existem quase
plano de manejo, o governo quer nos convencer
era reaproveitar a madeira que caia
Sustentabilidade é isso: diversificar a
conformem com o Bolsa Verde. O seringuei-
200 planos de manejo. A política de mercado
a conceder a nossa concessão para as madei-
por causa do vento. Nosso objetivo era
produção de uma região, fazer ela gerar
ro sempre viveu da pesca, da caça, e tira a
proposta pela economia verde é a principal
reiras. Assim, elas ficariam responsáveis pelo
desenvolver pesquisas e tecnologias
riqueza, gerar economia sem ameaçar
madeira para a sua sobrevivência. Nós, que
responsável por essa situação, porque ela é
manejo. Apesar de haver uma resistência muito
que pudessem modernizar o processo
a fonte de renda. Só que o manejo da
sempre trabalhamos preservando a floresta,
fundamentada nos interesses das madeireiras,
grande, seringueiros desinformados assinam
produtivo. No Brasil, ainda exporta-
madeira e a construção das hidrelétri-
estamos sendo criminalizados; somos vítimas
das barragens, do etanol, dos transgênicos.
o Bolsa Verde. No município onde eu moro,
mos a castanha porque não existem
cas estão destruindo a fonte de renda
mais de cem famílias assinaram o termo do
usinas desse tipo. Já foram feitos mais
de muitas pessoas e ameaçando a vida de gerações futuras.
de uma política de extermínio. No estado do Amazonas, a cada trimestre os seringueiros
Como está sendo feito o
programa Bolsa Verde. Esse documento deter-
de vinte estudos com a castanha, e se
recebem 340 reais de bolsa e, no Acre, eles re-
manejo comunitário?
mina que, a partir desse ano, ninguém poderá
comprovou que os nutrientes de três
cebem 300 reais. Ou seja, cada um recebe em
Osmarino Amâncio – Ele é organizado pelo
fazer um roçado, ninguém poderá pescar sem
castanhas equivalem a um bife de 300
Como vêm acontecendo a
média 100 reais por mês para não interferir na
governo estadual, que credencia as madeirei-
ter permissão, ninguém poderá derrubar uma
gramas. Entretanto, não existe um
exploração da madeira e o avanço
floresta, não matar mais a nossa caça, não tirar
ras que vão comprar madeira. É o governo que
árvore. Ocorre que, de acordo com o docu-
trabalho para introduzir a castanha na
do agronegócio na cidade de
mais a madeira para construir uma casa. A
determina para onde a madeira é exportada.
mento, o Bolsa Verde será distribuído somente
merenda escolar, por exemplo. Nós co-
Brasileia, onde o senhor vive?
região da Amazônia virou um marketing, uma
Recentemente o governo do estado organizou
durante dois anos, e os seringueiros não têm
memos qualquer porcaria e deixamos
Osmarino Amâncio – O agronegócio
propaganda de exportação dos meios naturais.
setenta grandes marceneiros que fizeram parte
direitos adquiridos. Teremos de cumprir várias
de comer um alimento saudável, sem
precisa continuar destruindo a floresta
Já estão até vendendo o ar que respiramos.
de uma comitiva; ela foi para a Itália fazer
determinações, mas nós nunca cometemos
agrotóxicos, totalmente orgânico. 95%
para plantar cana-de-açúcar e produzir
uma turnê comercial para vender madeira
crimes ambientais; basta ver que a floresta
do açaí é perdido porque não tem uma
etanol. Hoje, a China já comprou 500 mil
Como avalia a atuação da ex-ministra do
brasileira na Europa. Tudo em nome do manejo
está de pé. O seringueiro resistiu e foi contra a
tecnologia para aproveitar as polpas
hectares para trabalhar a soja não trans-
Meio Ambiente, Marina Silva, em relação
sustentável.
destruição da floresta. Quando criamos a re-
da fruta. O açaí combate o colesterol
gênica em terras brasileiras. Ora, eles já
serva extrativista, determinamos que ninguém
e uma série de doenças. Assim como
são donos de quatro milhões de hectares na Amazônia! Para piorar a situação,
às questões ambientais, considerando sua trajetória nos seringais?
Algum seringueiro participa desse manejo?
poderia desmatar mais do que 10% daquela
a castanha e o açaí, existem mais de
Osmarino Amâncio – A Marina não só assi-
Osmarino Amâncio – Alguns participam. O
área. Então, o estado do Acre só tem 90% das
cem produtos que podem ser comercializados
fomos traídos por esse pessoal. Hoje, vamos
ainda existem projetos como o de Carajás, que
nou a Lei das Florestas Públicas, mas também
governo deu cargo comissionado para pa-
florestas em pé por conta dessa determinação.
sem risco de ameaçar as fontes de renda e sem
ter que começar tudo de novo. Mas agora o
visa a exploração mineral nessa área.
tentaram assinar a Lei dos Transgênicos na
rentes do Chico Mendes apoiarem o discurso
Quando fizeram o manejo madeireiro, nós
ameaçar as gerações futuras. Mas esse projeto
confronto é contra aqueles que criaram leis
Todos os projetos voltados para a Amazônia,
ocasião de sua gestão do Ministério do Meio
do manejo sustentável. Mas a maioria dos
perdemos o cont role da f loresta, porque
não é implantado pelo governo. Como não dá
que criminalizam o nosso movimento e que
como a construção das barragens, o avanço das
Ambiente. A Lei de Florestas Públicas apro-
seringueiros não aceita o manejo sustentável.
não temos mais o direito de entrar na área.
lucro para o grande empresário, não é viável.
exportam os nossos meios de sobrevivência.
madeireiras, da mineração, o projeto de agri-
vou o plantio de monocultura para toda a
Ninguém sabe até quando a nossa pressão será
Quando percebemos, já era um deserto o que
Antes de morrer, Chico Mendes escreveu um
nossa região e aprovou a soja transgênica. O
possível, porque eles estão nos privando de
antes foi floresta. Os engenheiros florestais
sonho dizendo que em 2020 iriamos come-
Qual a situação da reserva
Ministério do Meio Ambiente, junto com o
uma série de direitos humanos. Quando um
argumentam que a floresta se recompõe em 30
morar o aniversário da primeira Revolução
extrativista Chico Mendes?
Quantas toneladas de madeira saem
governo Lula, institucionalizou e privatizou
seringueiro não aceita participar do manejo,
anos. Recentemente um pessoal foi à floresta
Socialista Mundial. Nessa sociedade não iria
Osmarino Amâncio – De um milhão de hec-
ilegalmente do Acre? Como os governos
todo o potencial natural daquela região com as
ele tem dificuldade de vender seu produto, de
medir a idade das árvores, e a árvore mais
existir explorados nem exploradores; ninguém
tares da reserva extrativista Chico Mendes,
federal e estadual se manifestam diante da
novas leis organizadas pelo agronegócio, pela
escoar sua produção.
nova tem duzentos anos de existência. Nós já
destruiria o grande potencial natural; todos
3% foi desmatado. Nós tínhamos o direito de
exploração ilegal de madeira na região?
Monsanto, pela Aracruz e pelo grande capital.
Fora das reservas existem os planos de assenta-
encontramos um Cumaru Ferro que tem mil
seriam solidários e companheiros. Ele encer-
desmatar 10%, de acordo com o plano de uti-
Osmarino Amâncio – Eles oficializam o que
É complicado, porque esse pessoal (Lula e
mento extrativista, onde o governo implantou
anos de existência. A Engenharia Florestal está
rou o texto dizendo: “Vocês me desculpem,
lização. Hoje, se as 600 famílias aderirem ao
é ilegal. Até dez anos atrás era ilegal retirar a
Marina) veio do seio da luta operária. Marina
manejo em áreas que estão devolutas e são
confundindo a ciência com a disciplina edu-
pois eu estava sonhando quando escrevi esses
plano de manejo, vivendo com 100 reais por
madeira da floresta. Então, o que o governo fez?
entregou todo o patrimônio para ser detonado
consideradas dos fazendeiros. Então, os fa-
cacional, está arriscando. Eu perguntei para
acontecimentos que eu mesmo não verei, mas
mês, não podemos afirmar que percentual da
Criou um selo. Quem o compra pode retirar a
pelas multinacionais e por uma série de ONGs
zendeiros retiram a madeira e, depois, fazem
um técnico se ele acreditava nessa questão
tenho o prazer de ter sonhado”. Ele escreveu
floresta irá ser mantido em pé. Estou sendo
madeira de qualquer forma. As madeireiras
que, na época do conflito estavam do nosso
a fazenda, a pastagem.
da sustentabilidade com a mercantilização
isso quando ajudamos a fundar o PT, quando
condenado pelo ICMBio a pagar uma multa
não estão respeitando sequer a técnica da ex-
da natureza, e ele disse que era um risco, mas
tinha a esperança de que o governo Lula chega-
de 63 mil reais, porque retirei madeira para
tração do plano de manejo. De acordo com a
lado, mas hoje brigam para oficializar o selo
cultura, vão acabar com os recursos naturais.
FSC para a exportação dos produtos. Todos os
Como os seringueiros de Brasileia têm
que precisávamos arriscar. Temos que nos
ria ao governo e faria a reforma agrária e lutaria
fazer uma casa para eu morar. Para você ter
regra, não é permitido retirar nenhuma árvore
que estavam do nosso lado contra a depredação
se posicionado em relação à extração da
opor a essa política de mercado, porque todo
para que a Amazônia não fosse privatizada.
uma ideia, eu tenho mil e duzentos hectares
com menos de 40 cm de diâmetro. Eles estão
da Amazônia hoje entraram no mercado para
madeira orientada pelo governo estadual?
o potencial da f loresta está sendo leiloado
Nós sonhávamos com educação de qualidade
de floresta, e as árvores têm mais de cem anos.
tirando as varinhas finas e fazendo corte raso.
mercantilizar o potencial da floresta, onde está
Osmarino Amâncio – Muitos seringueiros
pelas empresas que hoje se instalam ao longo
para o nosso povo, com o desenvolvimento de
Conheço pessoas que estão com noventa anos
Então, milhões de metros cúbicos estão saindo
o maior banco genético e biológico do planeta.
estão aderindo ao plano de manejo, porque o
da estrada do Pacífico [1].
pesquisas para desenvolver os biomas. Mas nós
e ocupam aquela área muito antes de mim. Eu
de forma legal e ilegal.
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Ano IV • Número 11
Junho de 2012
25
I Entrevista I
Territórios
Territórios tradicionais
Quem fiscaliza esse processo é o governo. O
durante muito tempo. Já tive seguranças da
Acre temos um ditado que é utilizado para
correto seria ter uma fiscalização independen-
Polícia Federal por mais de dois anos. Consegui
falar de uma pessoa muito amiga. Chama-se
te, pois o governo não vai punir ele próprio. O
sobreviver a tudo isso, mas alguns companhei-
de txai, que quer dizer “o que me completa”,
pior é que não sabemos para onde está indo
ros não conseguiram, como o Chico Mendes e
“a outra metade”. Então, o Chico Mendes era
o dinheiro dessa madeira. Além de haver um
Wilson Pinheiro.
um tipo de “outra metade”, o movimento sabia
processo de corrupção, há desvio de dinheiro.
Não consigo sobreviver num centro urbano.
disso. Todos os amigos que perdemos tinham
Outro problema é que, hoje, o governo não
Já recebi propostas para sair do Acre, mas só
qualidades, e um complementava a qualidade
está mais criando reserva extrativista, porque
sou feliz se ficar lá. Minha mãe está sempre
do outro.
A luta ecossocialista que esta revista vem
Há duas formas contraditórias de se relacio-
encontram dificuldades de implantar o plano
angustiada. Eu saí de casa com quatorze anos
O Chico Mendes foi uma árvore frondosa,
saudar e apresentar, tem como fundamento a
nar com a diversidade: a Tolerância, que não é
de manejo. Por isso investem em outras moda-
de idade para ev itar que meus familiares
como Wilson Pinheiro, como a Ir. Dorothy,
construção de uma sociedade global baseada
ignorar os conflitos, mas compreendê-los como
lidades, como o Projeto de Desenvolvimento
fossem agredidos, para evitar que eles sofres-
que morreram pela nossa causa. Mesmo sem
no respeito à sociobiodiversidade e na valoriza-
necessários, e a Dominação, que busca acabar
Sustentável – PDS, criam florestas nacionais e
sem qualquer problema. Entretanto, temos
ter uma formação catedrática, essas pessoas
ção de uma relação sustentável com os outros
com o conflito anulando o outro, atitude que tem
estaduais. O bioma extrativista é a única área
que lutar, mesmo sabendo das consequências.
tinham uma sensibilidade, eram humildes.
elementos da natureza, na certeza de que nós
aver com a lógica do ‘des’envolvimento.
que não é desmatada, porque o seringueiro
Todo mundo que foi assassinado naquela
Hoje sinto o Chico Mendes junto comigo, sinto
somos também, parte desta.
e o índio não destroem a floresta, visto que
região tinha consciência do perigo que estava
Wilson Pinheiro, sinto todo esse pessoal. Para
Nesse sentido, é parte central de nossa
do o “envolvimento”, rompe-se com a lógica
precisam dela e estão acostumados a conviver
sofrendo. A Ir. Dorothy Stang sabia que isso
mim eles não morreram; estão nas coisas que
tarefa a defesa dos diversos modelos culturais
de um lugar onde ocorrem relações próprias.
na sombra.
iria acontecer com ela, o Chico Mendes sabia,
defendenderam, estão nas nossas conquistas.
de relação com a natureza que apresentam
‘Des’envolvimento é o discurso do “outro”, que
No ano passado, o governo deu dinheiro para
e eu sei que pode acontecer comigo. Agora, o
um forte respeito para com a “mãe-terra”,
chega para que o “envolvimento” seja do seu modo.
as pessoas comprarem arame e gado. Então,
que vou fazer? Entrar num mosteiro, virar um
Quais são hoje as principais
termo defendido pelos povos andinos. Assim,
Essa é a forma da ordem capitalista, que é
é difícil tentar manter uma cultura quando
monge e ficar orando? Eu tenho que ajudar a
lutas dos seringueiros?
a defesa dos territórios tradicionais, sejam
a territorialidade dominante, que procura se
o agronegócio vem com tudo, dizendo que a
mobilizar os meus companheiros, as minhas
Osmarino Amâncio – Hoje, gostaríamos de
indígenas, quilombolas, extrativistas etc.,
legitimar como “moderna”, desqualificando
saída é o criame de gado, plantação da soja
companheiras e tentar ver se criamos condi-
ter uma educação de qualidade no seringal,
constitui-se pauta permanente da agenda
qualquer outra. Elemento central é a sobrepo-
transgênica, a produção de etanol, a exporta-
ções de fazer uma aliança entre os moradores
porque lá as pessoas só terminam a quarta
ecossocialista.
sição do valor de troca sobre valor de uso, tudo
ção da madeira. Temos que responsabilizar o
do campo e da cidade, já que agora a respon-
série do ensino fundamental. Gostaríamos
Esses povos, com suas práticas milenares ou
passa ser medido pelo preço, não mais pela sua
Estado por esses crimes ambientais.
sabilidade é de todos.
de ter um projeto educacional para que as
seculares, muito têm a nos dizer. Abandonados
efetiva função e necessidade. Assim, quem tem
pessoas compreendessem a i mpor tâ ncia
e oprimidos pelo sistema do lucro e seus gover-
o dinheiro exerce o poder.
Nesse sentido, a Rio+20 apenas irá consolidar o
“O homem vive da natureza, isto é, a natureza é o seu corpo, e ele precisa manter com ela um diálogo continuado para não morrer” Karl Marx
Termo muito apropriado, visto que tiran-
Territórios e territorialidades
mercado da economia verde na floresta. Temos
O senhor sempre morou no seringal?
daquele potencial biológico. Uma das nossas
nos, que comumente os enxerga como entraves
de participar do evento para denunciar todas
Osmarino Amâncio – Eu nasci e me criei na flo-
principais lutas é conseguir instalar uma
aos seus projetos, é fácil notar como as áreas
O território, além da dimensão biológica, ha-
portanto, é evidente que a globalização econô-
essas questões e para dizer que as agências
resta; nasci no Seringal Bela Flor e cresci na co-
escola de Ensino Funda menta l completo
que ainda apresentam grande riqueza ecológi-
bitat, é o lugar onde certas práticas e determina-
mica a desvaloriza quando desenraiza a cultura.
financiadoras estão contribuindo com seus
locação Revolta. Atualmente moro no Seringal
dentro da floresta.
ca, são justamente aquelas em que esses povos
dos comportamentos corporificados emprestam
Nesse sentido é fundamental o combate severo à
subsídios para o aquecimento global, para a
Humaitá, na colocação Pega Fogo. Estou com
Outro objetivo é tentar interromper o manejo
e comunidades estão presentes.
sentido à vida, onde os corpos carregam seus
lógica desenvolvimentista dominante, inclusive
destruição de culturas que têm o potencial de
54 anos e, se eu pudesse, nunca tinha me en-
madeireiro daquela região. Precisamos organi-
Aliada a essa imensa diversidade socio-
ritmos e valores, até porque só se apropria daqui-
nesse governo, que é a favor dessa lógica, das
curar várias doenças, como o câncer.
contrado com essa tal de civilização.
zar as oposições sindicais, porque hoje o movi-
cultural e ecológica do Brasil, temos uma
lo que tem/faz sentido, habitus. Assim, território é
grandes corporações do campo e da cidade, em
mento sindical na área rural é coordenado pela
extraordinária diversidade fundiária, até re-
o lugar de vizinhança, de amizades e inimizades,
especial o agronegócio e os bancos.
de parentesco, de proteção, enfim, de vida.
Mas é a cultura que dá significado à natureza,
O senhor já sofreu três atentados e
Pode nos falar sobre sua convivência
CUT, que vive em “lua de mel” com o governo e
centemente pouco conhecida e, mais ainda,
sua casa já foi incendiada cinco vezes.
com o Chico Mendes?
esquece que a função do movimento sindical é
pouco reconhecida pelo Estado que aponta
Território é o espaço apropriado, logo, é uma
Rousseau, que afirmou que “a origem da desi-
Como se sente em relação à segurança
Osmarino Amâncio – Para mim é muito forte
reivindicar investimentos do governo.
que a questão fundiária vai além da mera dis-
construção histórico-social, sendo o reconhe-
gualdade entre os homens foi quando o primeiro
por conta desta luta, considerando
fa lar da minha conv ivência com o Chico
tribuição de terras, pois está centrada na forma
cimento alheio a garantia da soberania sobre
cercou um pedaço de terra, disse ser dele e houve
que vários líderes que reivindicam
Mendes, porque eu ficava na casa dele em
Nota
de ocupação e na afirmação territorial. Dentro
determinada área. Assim, Território não é algo
idiotas suficientes para acreditá-lo”, e disse mais,
melhorias no campo e denunciaram
Xapuri, no Acre. Ele foi o primeiro secretário
[1] Estrada do Pacífico ou Rodovia Interoceânica
do marco legal, é necessário o ordenamento
que “contém” a sociedade que o criou, são partes
“quantos crimes, quantas desgraças e horrores
irregularidades já foram assassinados?
geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
é uma estrada binacional que liga o noroeste do
e reconhecimento territorial, especialmente
de um só relacional. Toda sociedade ao instituir-
teria poupado aquele que, arrancando as esta-
Osmarino Amâncio – O seringueiro não tem
Éramos tão amigos que se eu namorava uma
Brasil ao litoral sul do Peru através do estado
quanto à homologação de terras indígenas, à
-se, institui, no mesmo movimento, o seu espaço.
cas, tivesse gritado: não ouçam esse impostor;
outra opção. Ele tem que criar um mecanis-
menina do Seringal e o Chico Mendes namo-
brasileiro do Acre. A parte da Estrada do Pacífico
titulação de quilombos, à criação de Reservas
O Território comporta diversas posições,
estais perdidos se vos esqueceis de que os frutos
mo de sobrevivência e é isso o que fazemos.
rava com a irmã dela.
que fica dentro do território brasileiro é identifi-
Extrativistas, além da implantação de “assen-
os lugares de onde cada um vê, o outro ou a si
da terra pertencem igualmente a todos nós, e
Quando viajo, fico tenso, porque não sei o
Ele tinha uma sabedoria ímpar. Era um diri-
cada como BR-317, enquanto no Peru é chamada
tamentos de reforma agrária”, na verdade é
mesmo, onde é visto. Os processos de territoria-
de que a própria terra é de ninguém!”. Assim,
que vai acontecer com a minha família, com
gente que nasceu para organizar as pessoas,
apenas de Carretera Interoceanica (em espanhol).
uma outra Reforma Agrária, mais ampla. Essa
lização, possibilitam alterações tanto de limites
ele afirma que a questão da territorialidade e
a minha casa. Os agressores fazem terrorismo
para analisar a conjuntura. Falar do Chico
Entrevista publicada no site http://www.ihu.
luta é pela reafirmação do tão propagandeado
quanto de modos de relação internos. O que pode
do acesso aos recursos naturais (a terra princi-
psicológico. Eu já sofri pressão psicológica
Mendes é como falar da minha vida. Lá no
unisinos.br
“Brasil Plural”.
vir à tona, inclusive, de forma violenta.
palmente), está na base dos problemas sociais.
26
Ano IV • Número 11
Junho de 2012
Lembramos então do filósofo Jean-Jacques
27
Territórios
Cidades
O papel da política
Do Global para a Cidade:
Essa luta trás no seu seio, além da
Há vários projetos de mundo, cada
própria questão da posse da terra,
qual se relacionando com o espaço a seu
questionamentos a dois outros temas
modo. Porém, nosso planeta é limitado
fundamentais ao sistema capitalista:
e o projeto hegemônico, que domina
a propriedade e o uso comum da
tanto pela imposição ideológica quanto
terra, que fere o conceito base do sis-
pela força, pressupõe o crescimento,
tema que hoje impera que é a proprie-
sem limites, de suas fronteiras. É uma
dade privada dos meios de produção,
necessidade crucial ao sistema capi-
e o deslocamento para esses grupos
talista que, para manter seu nível de
do poder de decidir sobre a forma
vida, que é cada vez mais consumidor
mais adequada aos costumes de se
de recursos naturais e produtor de resí-
apropriar de seu território. Porém, é preciso ter ev idente
duos, necessita do uso de outras áreas,
O desafio da construção de um mandato municipal ecossocialista Por João Alfredo Telles Melo
“É necessário participar de todas as lutas [...]; como por exemplo, [...] a defesa de uma parte da natureza que esteja ameaçada por um projeto comercial destrutivo. É importante ir construindo a relação entre as lutas sociais e as ambientais, pois elas tendem a concordar, unidas ao redor de objetivos comuns” (Michael Löwy, “Ecologia e Socialismo”).
essas comumente ocupadas há muito, por outras
mariscagem artesanais e de agricultores fami-
que a territorialidade hegemônica avança
culturas, geralmente em relação de convivência
liares, periferias, favelas etc., ocorrendo tanto
sobre nossas mentes, passamos a defender
sustentável com os recursos naturais.
no meio rural quanto no urbano. Essas ações
suas ideias, especia lmente a propriedade
São impostas, assim, à diversos povos e
vêm sempre aliadas a um elemento comum
privada, o poder das cercas, a força da grana.
comunidades, em particular às tradicionais,
para garantir essa lógica dominante, que é
Compreender que forma e conteúdo são in-
diversas formas de uso do espaço, que não
o discurso do progresso, tão fácil de difusão
terligados, que fins e meios são inseparáveis
raramente, exigem sua expulsão, tendo que
quanto vazio de significado.
é fundamental. A passagem de determinada
Não há dúvidas de que o mundo está imerso
1. A Crise Global
são o superaquecimento da Terra e as mudanças
Na verdade, o aquecimento global e as mu-
climáticas. A divulgação, em fevereiro de 2007,
danças climáticas são apenas a face mais visível
do 4º. Relatório de Avaliação das Mudanças
de uma crise maior, que se relaciona à atual
Climáticas do IPCC (Painel Intergovernamental
configuração do modo de produção capitalista,
de Mudanças Climáticas, em sua sigla em
com seu modelo de desenvolvimento, a um só
inglês), causou um grande impacto, dadas suas
tempo fossilista e produtivista-consumista, e
gravíssimas conclusões, ao observar, sobre as
um modo de vida das elites econômicas mun-
mudanças no clima e seus efeitos, que o aque-
diais baseado no consumo perdulário, que são, a
cimento do sistema climático é inequívoco e
um só tempo, ambientalmente insustentáveis e
que suas causas, ligadas à emissão de gases do
socialmente injustos; não só em escala regional
efeito estufa (GEEs), são antropogênicas e não
ou nacional, mas em nível planetário.
naturais e que seus impactos sobre a natureza
John Bellamy Foster, autor do clássico “A
e a sociedade já se fazem sentir (disponível em:
Ecologia de Marx: materialismo e natureza”,
http://www.ipcc.ch/publications_and_data/
em um instigante artigo, intitulado “Organizar
ar4/syt/en/spm.htm).
a Revolução Ecológica” (disponível em http;//re-
abandonar os locais onde construíram suas
É a imposição de uma territorialidade sobre
condição a uma identidade político-cultural
em uma crise socioambiental planetária de
histórias, suas subjetividades e onde sempre
outras. Afinal território é construído e conhece
não é automática, as diferenças só se mostram
proporções ainda não vividas pela sociedade
Não há um dia em que não se observe a
sistir.info/mreview/revolução_ecologica.html),
estiveram seus ancestrais.
alterações a partir da correlação de forças e do
nas lutas concretas.
humana. Sua face mais visível, mas não única,
ocorrência em qualquer parte do mundo de
lista os sinais de advertência da crise ambiental
Vários são os novos envolvimentos, geral-
grau de poder de coerção exercido pelos anta-
E eis que se apresenta o papel dos mo-
algum fenômeno climático-ambiental extremo:
global, a demonstrar a insustentabilidade do
mente levados com grande carga de propaganda
gonistas. E como sabemos que a distribuição de
v imentos socia is: recusa r o luga r socia l-
secas, tufões, enchentes etc., fenômenos que
percurso da humanidade nestes tempos atuais,
positiva. Entre os mais comuns podemos citar
poder em nossa sociedade é nada democrática,
mente “im”posto, contrapor o POSSÍVEL ao
têm sido cada vez mais intensos e recorrentes,
dentre os quais se destacam, além do aqueci-
a mineração, a criação de lagos artificiais, a
é fácil perceber o quanto saem prejudicados
PROVÁVEL, assumir o papel de “des”ordeiro,
a ponto de um termo do vocabulário de guerra
mento global, os que se seguem:
deposição de lixo, a produção em larga escala,
esses povos e comunidades.
ou seja, opor-se ao futuro que já está inscrito na
ter sido adaptado para o repertório ecológico: o
“O planeta está a enfrentar escassez de água global
ordem estabelecida pelos “outros”, ser portador
“refugiado climático” ou “refugiado ambiental”,
devido à extração de aquíferos insubstituíveis, os quais
de uma nova ordem. Recolocando em pauta,
que já se conta em milhões no planeta. A Cruz
constituem a maior parte do abastecimento de água
seja agropastoril, industrial, ou outra qualquer, instalação de áreas de lazer e outros empreendi-
A luta por territórios tradicionais
mentos. Mas também a imposição de Unidades
Porém, a situação não é tão tranquila como
como tema obrigatório da agenda do campo
Vermelha Internacional, que publicou, em 2001,
fresca do mundo. Isto coloca uma ameaça à agricultura
de Conservação, quando não considerem a
desejam os opressores, a luta popular vem en-
de poder, não apenas a garantia de livre acesso
o “Relatório Mundial de Desastres”, estima a
global, a qual tornou-se uma economia bolha baseada na
existência de um modo de vida que contribuiu
cravando, aproveitando as fissuras desse mesmo
aos recursos naturais básicos, mas, sobretudo,
existência de 25 milhões de refugiados climáti-
exploração insustentável das águas subterrâneas. Uma em
com a manutenção daquela riqueza ecológica a
Estado, instrumentos de resistência contra-
o reconhecimento formal de suas identidades
cos atualmente, com uma projeção de mais de
cada quatro pessoas no mundo de hoje não tem acesso a
ser protegida.
-hegemônica, sendo o melhor exemplo o reco-
coletivas, de seus territórios e das normas
200 milhões em 2050 (acesso em: http://www.
água potável (Bill McKibben, New York Review of Books,
nhecimento legal dos territórios tradicionais.
estabelecidas pelos costumes tradicionais,
ifrc.org/publicat/wdr2001/).
25/Setembro/2003).
Para tanto, fazem uso de recursos retóricos, para impor-se ante culturas diferentes. São ideias
Nesse sentido, a identidade étnica e tradi-
quase sempre não escritas, e atos cotidianos
que vão impondo-se como VERDADE, atingindo
cional tem se apresentado como uma fronteira
que disciplinam as relações comuns com e no
até mesmo membros dos grupos oprimidos.
política materializada a fim de reafirmar di-
território, a territorialidade tradicional.
Mitos como raça, vazios demográficos, preguiça
reitos. A identidade coletiva é fundada tanto
Assim, o setorial ecossocialista do PSOL,
natural, entre outras são usados para difundir
na autodefinição, quanto em práticas político-
apresenta essa garantia dos territórios aos
uma hierarquia que lhes assegure superioridade.
-organizativas, em sistemas produtivos intrín-
povos e comunidades t radiciona is como
Natureza e povo são degradados em nome de
secos (unidade de trabalho familiar, critérios
parte fundamental das necessárias e urgentes
uma cultura, um modo de viver, dito superior.
ecológicos) e em símbolos próprios que podem
Reformas Urbana e Agrária, que devem aliar à
Nós, ecossocialistas, reclamamos: nenhuma
inclusive evocar uma ancestralidade legítima,
redistribuição dos espaços o efetivo cumpri-
diferença autoriza hierarquia.
mas que marcam sobretudo, uma política de
mento de seus papeis social e ambiental.
São diversos os exemplos afetando povos
diferenças face a outros grupos e uma relação
negros, indígenas, comunidades de pesca e
conflitiva com as estruturas de poder do Estado.
28
AUTOR
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cidades
Cidades 2. A cidade e sua gestão
é que a Prefeita Luizianne apresenta proposta
Nessa gestão que se encerra, apenas uma
grande aquário na Praia de Iracema – ameaçam
de criação de um novo órgão de planejamento,
área em Fortaleza foi decretada para fins de pre-
a moradia de comunidades seculares da cidade,
o IPLANFOR.
servação, por parte do Executivo Municipal (já
como é o Poço da Draga.
[....] “A extinção de espécies é a mais elevada em 65 mi-
“visão de mundo” – sobre o entendimento das
lhões de anos, com a perspectiva de extinções progressivas
causas dessa crise, que confronta, em matizes
A cidade de Fortaleza, com seus 2,5 milhões
à medida que forem removidos os últimos remanescentes
diferenciados, capitalistas “verdes” versus
de habitantes, é a capital de maior densidade
dos ecossistemas intactos . A taxa de extinção já está a
“ecossocialistas”, ou seja, a disputa sobre pro-
demográfica do país (8.001 hab/km2), sendo
Pode-se afirmar que a política urbano-am-
que a Área de Relevante Interesse Ecológico das
Aliás, o impacto das chamadas obras da
aproximar-se 1000 vezes da “referência” (“benchmark”)
jetos de sociedade (e de civilização, portanto),
o 10º. PIB Nacional. Detém o 7º maior poder
biental do governo petista de Luizianne Lins
Dunas do Cocó foi criada pelo legislativo): a de
Copa do Mundo de Futebol de 2014 já se faz
ou taxa natural ( Scientific American, Setembro/2005). [....]
o que terá impactos sobre a superestrutura
de compra do país, sendo o primeiro destino
(que se encerra neste ano) só fez agravar esses
Sabiaguaba, com a criação do Parque das Dunas
sentir em outras comunidades pobres de
jurídica, como se verá adiante
turístico do Nordeste. No entanto, ostenta índi-
problemas estruturais. À falta de planejamento
e de uma APA (Área de Proteção Ambiental) no
Fortaleza, como as que estão às margens da
seu entorno.
linha de ferro que sai do Porto de Mucuripe,
De acordo com um estudo publicado em 2002 pela National Academy of Sciences, a economia mundial ex-
A compreensão dos que se reivindicam her-
ces sociais vergonhosos, como o fato de apenas
(o Plano Diretor, aprovado há mais de três anos,
cedeu a capacidade regenerativa da terra em 1980 e em
deiros da utopia (no sentido positivo do termo)
46% da população ser beneficiada com serviço
nunca foi regulamentado), soma-se uma postu-
Além de não ter uma política de proteção
ameaçadas que estão de remoção sem que
1999 ultrapassou-a em 20 por cento. Isto significa, segun-
igualitária do Século XIX, à qual se agrega o eco-
de esgoto, tendo a cidade caído – entre 2003 e
ra extremamente permissiva da Secretaria do
das áreas verdes, Fortaleza não possui um
haja uma política municipal que respeite, mi-
do os autores do estudo, que “seriam precisas 1,2 terras,
logismo da contemporaneidade, é a de que, nas
2009 – do 5º para o 32º lugar no país em sanea-
Meio Ambiente e Controle Urbano (SEMAM),
planejamento de tráfego que seja viável, do
nimamente, os direitos humanos, em especial,
ou uma terra por cada 1,2 anos, para regenerar o que a
precisas palavras do Manifesto Ecossocialista
mento básico, conforme o Diário do Nordeste
na concessão de autorizações para as obras de
ponto de vista da mobilidade, e sustentável,
o direito de moradia das milhares de famílias
humanidade utilizou em 1999” (Matthis Wackernagel,
Internacional, “o atual sistema capitalista não
de 27.09.2011 (http://diariodonordeste.globo.
construção civil, onde o exemplo mais emble-
no aspecto ambiental. A ausência de ciclovias
que ali residem há décadas.
et. al, “Tracking the Ecological Overshoot of the Human
pode regular, muito menos superar, as crises
com/materia.asp?codigo=1047970).
mático é a licença para a Torre do Iguatemi, às
e ciclofaixas planejadas e interligadas (apesar
É nesse quadro de profundas injustiças so-
Economy,” Proceedings of the National Academy of Sciences,
que deflagrou. Ele não pode resolver a crise
Do ponto de vista do ambiente natural, dois
margens do Rio Cocó, em área de preservação
da lei do Sistema Cicloviário ter sido aprovada
cioambientais e de uma gestão voltada para os
09/Julho/2002)”.
ecológica porque fazê-lo implica em colocar
dados chamam atenção, segundo o Inventário
permanente e nos limites do Parque Ecológico
pela Câmara) e a falta de prioridade ao trans-
interesses do capital, em especial, o imobiliário,
O que ocorre é que, como adverte um ma-
limites ao processo de acumulação – uma opção
Ambiental de Fortaleza: o fato de que a cidade
do mesmo Rio.
porte público têm transformado a cidade em
que se insere o mandato de vereador do Partido
nifesto que foi assinado por 29 cientistas mun-
inaceitável para um sistema baseado na regra
detém apenas 7% aproximadamente de co-
Obras nas dunas da Praia do Futuro, in-
um verdadeiro caos urbano.
Socialismo e Liberdade (PSOL), iniciado em 1º
diais e que foi publicado na revista Nature, de
‘cresça ou morra’” (Michael Löwy, Ecologia e
bertura vegetal e de que se tem menos de 4m2
vestigadas pela Operação Marambaia, de-
A questão dos resíduos sólidos é outro
24.09.2009 (conforme noticia Rogério Tuma,
Socialismo, 2005, p. 86).
por habitante de área verde. Aliás, é o Blog do
sencadeada pela Polícia Federal; doação de
modelo do descaso. Não se criou ainda, um
de janeiro de 2009.
na Carta Capital do dia seguinte, em sugestivo
Trata-se, portanto, não só de uma crise
Inventário que observa que “um dos aspectos
área verde de loteamento na Água Fria, para
processo de coleta seletiva e sequer um decre-
3. Buscando construir um mandato ecológico,
artigo intitulado “Antropoceno, a era da des-
ambiental e social, mas uma crise da própria
que mais nos destaca, além das dimensões
a construção do prédio do TRE; autorização
to, para determinar a separação dos resíduos
popular e socialista
truição”), “as atividades diárias dos 6 bilhões
civilização do capital, de sua lógica econômi-
urbana, ambiental, econômica, social e popu-
para o aterramento de uma lagoa na Serrinha,
sólidos nas repartições municipais, foi assi-
A visão que orienta o mandato parlamentar
de humanos resultam por si em uma força ge-
ca, de seu modelo de desenvolvimento, de seu
lacional, se refere a ausência de um Sistema de
para a construção do Carrefour em frente ao
nado pela prefeita, como solicita, há anos, o
“Ecos da Cidade”, do PSOL, em Fortaleza, é a de
ofísica capaz de mudar completamente a Terra,
modo de vida e de seus valores, que engendram,
Planejamento e Gestão, que configura a nossa
Aeroporto Pinto Martins; destruição da Praça
movimento dos catadores. Tem-se apenas, um
que – como já afirmado – a humanidade está na
equivalente às grandes forças da natureza”
a um só tempo, uma desigualdade social cada
própria imperícia quanto a ordenar e estruturar
31 de março, com a retirada de quase quarenta
pequeno e dedicado trabalho, nessa área de
esquina de uma crise de fundo civilizacional,
(acessível em http://www.cartacapital.com.br/
vez mais abissal entre uma “oligarquia global”
o territorial municipal e assim planejar nosso
árvores, para a instalação temporária do Cirque
resíduos, que tem sobrevivido muito mais pela
manifestada, em seu aspecto socioambiental,
app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=5132).
(cuja renda de seus 500 mais ricos supera a dos
futuro” (http://inventarioambientalfortaleza.
du Soleil; autorizações para supressão de árvo-
persistência de servidores municipais do que
por um lado, pelo aquecimento global e as mu-
Edgar Morin e Anne-Brigitte Kern, no belo
416 milhões mais pobres) e os mais de 1 bilhão
blogspot.com.br/2011/06/minh.html).
res em vias públicas e em bosques particulares
propriamente por ser uma política pública de
danças climáticas daí decorrentes, e, por outro,
“Terra-Pátria” (2005, p. 94), ainda na década
de humanos que sobrevivem com menos de 1
Diz mais, sobre Fortaleza: “somos a única
(calcula-se que se perdem 300 árvores por mês
toda a gestão.
pela fome e pela miséria humana. Fenômenos
de 90, do século passado, ao analisar a “agonia
dólar por dia, e a destruição acelerada das bases
grande cidade em todo o Brasil, no presente,
em Fortaleza) são outros péssimos exemplos
Por último, até mesmo uma conquista im-
causados pelo mesmo modo de produção ca-
planetária” conceituam o estado da arte da
naturais que sustentam a vida em nosso pla-
que não possui um contexto de planejamen-
da má gestão ambiental de Fortaleza, para não
portante do movimento popular, que foi a cria-
pitalista que ameaça a vida – em todas as suas
“Terra-Pátria” e da “Humanidade-comunidade
neta (Hervé Kempf, Como os Ricos Destroem o
to urbano e gestão, embora há 30 anos atrás
falar no abandono de praças, parques e jardins.
ção das chamadas Zonas Especiais de Interesse
formas – neste pequeno planeta azul. Traduzir
de destino” como “policrise” ou “conjunto
Planeta, 2010, p. 65). Crise essa que se manifesta,
com a consolidação do IPLAM/ Instituto de
A recuperação do Passeio Público e do Parque
Social (ZEIS), se encontra ameaçada: a falta de
essa compreensão em atos de um mandato es-
policrístico”, num entrelaçamento das crises
evidentemente, nas grandes metrópoles e, em
Planejamento Municipal e instituição do Fórum
Rio Branco são exceções em meio ao descaso
sua regulamentação, grandes projetos impac-
pecificamente municipal daria a oportunidade
do desenvolvimento, da modernidade e das
especial, em Fortaleza.
Adolfo Herbster para debates dos problemas ur-
com o ambiente natural e cultural.
tantes – como a proposta da construção de um
de atualizar, numa perspectiva ecossocialista, a
sociedades; uma crise civilizatória, portanto.
banos, fossemos considerados pioneiros e uma
Configurada a crise (“policrise”), que é
das principais referências nacionais” (idem). Só
social, ambiental e planetária, é preciso que
no apagar das luzes de seu segundo mandato,
consigna: pensar globalmente, agir localmente.
se advirta, por oportuno, que há uma disputa de natureza ideológica – ideologia aqui como
30
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Junho de 2012
31
cidades
Clima
A essa visão ecológica e socialista, agregou-
entorno do Açude Santo Anastácio, no campus
nega os mínimos direitos de segurança e apoio
-se – a partir do programa de governo apresen-
da Universidade Federal do Ceará; projeto esse
para o tráfego. Foi criada a campanha “Por um
tado
ainda em tramitação.
Trânsito Gentil e Sustentável” (“Sou bom/boa
por Renato Roseno em 2008 – a luta pela
Mudanças climáticas e as cidades Por Alexandre A. Costa
defesa e ampliação dos direitos e o alargamento
A parceria com movimentos sociais e ONGs
da participação popular; exemplo disso é a pro-
rendeu ainda, a apresentação de um projeto
Na defesa por moradia, o mandato tem
posta apresentada de realização de um plebis-
de lei que declara como patrimônio natural de
procurado se solidarizar ativamente com
Como tenho afirmado em diversos textos, a
cito para que a população de Fortaleza decida
Fortaleza os botos-cinza, cuja pequena popu-
todas as comunidades que lutam pela criação
sobre a construção do polêmico “Acquario
lação de 40 indivíduos se encontra ameaçada
– ou regulamentação – das Zonas Especiais de
questão climática põe em evidência, como
Ceará”, que consumirá 250 milhões de reais dos
pelas grandes obras de aterros hidráulicos nas
Interesse Social (Zeis), como a do Lagamar,
poucas, a desigualdade em escala mundial.
cofres públicos estaduais.
Praias de Iracema e da Beira-Mar.
apreensiva com as obras pa ra a Copa do
Os capitalistas, os ricos, dos países centrais
motorista, respeito pedestre e ciclista”).
Assim é que, ainda que nos marcos do mu-
Em conjunto com o movimento de catadores
Mundo, e a do Serviluz, cuja comunidade foi
nicípio e com as limitações de um mandato
(as), conseguiu-se aprovar três projetos – infe-
vitoriosa na luta pela preservação da praia do
são historicamente aqueles que emitem gases de efeito estufa em grande escala. O
urbanos. Evidentemente, alterações nos padrões
quarto das emissões antrópicas de gases de efeito
climáticos podem potencializar esses impactos
estufa. Neste aspecto, cabe destacar o peso do
e introduzir outros novos.
automóvel nas emissões. Estimativas mundiais
Neste ponto, cabe assinalar que a relação
dão conta que veículos leves respondem por
entre as mudanças climáticas e as cidades é uma
44,5% da energia utilizada no setor de transporte,
via de mão dupla, que envolve, além dos impactos
quase o dobro dos caminhões (leves e pesados),
mencionados, o papel central que as próprias
o quádruplo do setor aéreo e mais de sete vezes
cidades cumprem nas alterações do clima (o que
a dos ônibus. Apesar de haver diferenças entre os
inclui a escala local, mas que é fundamentalmen-
rendimentos dos motores de veículos de diferen-
te relevante para a escala global).
tes naturezas, isso já dá uma ideia da importância
parlamentar de oposição pela esquerda, pro-
lizmente, ainda não cumpridos (com exceção,
Titanzinho, ameaçada pela construção de um
curou-se confrontar – na ação parlamentar – a
em parte, do Legislativo) que tratam da coleta
grande estaleiro que forneceria navios para
crise socioambiental com o domínio do capital.
seletiva e da destinação dos resíduos sólidos de
a Petrobrás.
Do global para o local e do local para o global,
condomínios, da administração pública, aqui
Tudo isso, sem esquecer de estar presente
no entendimento sistêmico de que tudo está
inclusa a Câmara Municipal, para associações
e apoiar todas as greves e mobilizações do
de carbono mais de 100 vezes maior do que
de efeito estufa (com destaque
relacionado e em movimento.
e cooperativas, através do Projeto Câmara
ser vidores municipais – aí incluídos o(a)s
para o dióxido de carbono, mas
Ambiental.
professore(a)s (protagonistas de jornadas de
a média dos habitantes de Moçambique,
Enfrentar – e derrotar – o capital imobiliário,
habitante médio de países como os EUA, o Canadá e a Austrália apresenta uma “pegada”
para assegurar às atuais e futuras gerações a
Para garantir uma educação efetivamente
lutas heroicas) –, que conseguiram arrancar
Somália, Afeganistão, Mali, Etiópia... E de
preservação de 15 hectares das milenares dunas
cidadã, foi proposta – e aprovada – a criação
importantes conquistas salariais, através da
maneira cruel, os impactos das mudanças
vegetadas às margens do rio Cocó (por meio da
de semanas temáticas no calendário escolar
realização de audiências públicas e da par-
criação, de forma inédita, por Projeto de Lei, da
municipal para tratar do meio ambiente, dos
ticipação em comissões de mediação junto à
Área de Relevante Interesse Ecológico, a ARIE
direitos humanos e da diversidade sexual, cuj@s
administração.
das Dunas do Cocó), significou a materializa-
patron@s escolhid@s para nomear essas datas
O mandato tem consciência de que essas
ção desse discurso, através de um processo de
foram, respectivamente, Chico Mendes, Frei
vitórias não teriam sido possíveis se não tives-
mobilização que reuniu intelectuais, pesquisa-
Tito e Janaína Dutra.
se se articulado com os diversos movimentos
Daí, o primeiro aspecto que consideraremos é a contribuição urbana para as emissões de gases
incluindo também o metano, o óxido nitroso e outros). Cerca de metade da humanida-
climáticas tendem a incidir de forma muito mais intensa precisamente sobre os pobres dos países pobres; sobre aqueles que não se beneficiaram do “desenvolvimento” proporcionado pelo desvario fóssil.
dores, jovens, moradores do bairro e movimen-
Para combater os engarrafamentos e lutar
sociais da cidade, se não tivesse sabido utilizar
tos ecológicos e sociais, cuja pressão sobre os
por uma mobilidade urbana ecológica, alcan-
dos mecanismos de participação popular do
vereadores foi fundamental para vencer o lobby
çou-se a aprovação (ainda que com alguns
próprio legislativo (especialmente, as audiên-
A relação entre o clima e os assentamentos
repense imediatamente a questão
da especulação imobiliária, tanto na Câmara,
vetos prefeiturais) da criação, em Fortaleza,
cias públicas), se não tivesse uma assessoria
humanos é multifacetado e mesmo a varia-
da mobilidade urbana. O transpor-
como no Judiciário (onde os especuladores
de um sistema cicloviário (integrado por ciclo-
técnica, política e militante que soube intera-
bilidade natural do clima já é suficiente para
te coletivo, as ciclovias, etc. devem
procuraram abrigo).
vias, ciclofaixas e bicicletários, além da edu-
gir com todos esses movimentos.
trazer impactos importantes sobre as cidades.
ser incentivados, em detrimento
do transporte particular nas emissões globais, o que impõe que se
A vitória da ARIE das Dunas do Cocó (ainda
cação para o trânsito). Afinal, são pelo menos
Afinal, um mandato parlamentar é um
A ocorrência de eventos extremos de precipi-
do transporte individual, especial-
que os inimigos do verde estejam no Judiciário
150 mil trabalhadores (as) que se transportam
instrumento de uma luta bem maior, pela
tação – bem mais relevantes sobre as cidades
mente os carros de luxo e de mais
tentando anulá-la) estimulou professores
por meio ciclístico, em uma cidade que lhes
realização de uma nova sociabilidade, que
localizadas nos trópicos, como Fortaleza do
de vive em cidades. Isso por si só já é um indicati-
alta cilindrada. A radical coletivização do proces-
universitários a apresentarem ao mandato
possa vir a ser, a um só tempo, ecologicamente
que variações de temperatura – geralmente
vo da grande contribuição que os assentamentos
so de transporte, enfim, precisa ser acompanha-
a proposta – de pronto acolhida – de criação
sustentável; socialmente justa e igualitária;
evidencia os típicos problemas dos assenta-
urbanos trazem para a emissão de gases de efeito
da de uma ainda mais radical descarbonização,
de uma unidade de conservação semelhante
cultural, de orientação sexual e etnicamente
mentos urbanos, ao colocar em risco as vidas
estufa. Mas a contribuição dos centros urbanos
ou seja, a substituição da fonte energética tanto
para proteger a “matinha do Pici”, que fica no
diversa; política e radicalmente democrática:
de moradores de áreas próximas a rios, morros
para a elevação da concentração desses gases não
do transporte individual quanto coletivo. Nesse
a sociedade ecossocialista.
e encostas, ao amplificar o caos no transporte,
pode ser tratada de forma linear. Por exemplo, nas
contexto, uma variedade de outras tecnologias,
32
ao criar condições para proliferação de vetores
cidades se concentra o consumo e, portanto, a
ou mais provavelmente uma combinação delas,
João Alfredo Telles Melo Advogado, Professor de
associados a doenças epidêmicas. Outro aspecto
geração de resíduos sólidos, que leva a emissões
pode se candidatar a substituir os combustíveis
Direito Ambiental da Faculdade 7 de Setembro,
importante a ser considerado são as migrações
elevadas de metano.
fósseis. Na verdade, o uso limitado e combinado
Mestre em Direito Público pela Universidade
decorrentes de eventos climáticos como gran-
O setor de transportes, seja interno às próprias
de agrocombustíveis, biomassa, hidrogênio,
Federa l do Cea rá, Vereador pelo PSOL em
des secas e enchentes que hoje e no passado,
cidades, seja na forma de ligação entre estas
veículos elétricos, etc., junto à coletivização e
Fortaleza e membro da Coordenação do Setorial
levam ao deslocamento de pessoas, não raro de
e as áreas mais remotas também é relevante.
racionalização do transporte pode levar a cortes
Ecossocialista do partido
áreas remotas, para os grandes assentamentos
Globalmente, ele responde por mais de um
gigantescos nas emissões.
Ano IV • Número 11
Junho de 2012
33
Cidades
Clima Nas cidades, uma fração não desprezível de
Como frisado de início, a migração popu-
inexorável da eventual inviabilização da ma-
emissões, particularmente se a fonte de geração
lacional é uma possível consequência de mu-
nutenção do modo de vida tradicional dessas
Políticas públicas municipais
for fóssil (isto é, via termelétricas a carvão, pe-
danças climáticas no campo e na zona costeira.
comunidades. A elevação do nível dos oceanos
tróleo ou gás), está associada ao uso de energia
Sabe-se que a elevação na temperatura e mudan-
também pressionará os habitantes da orla ma-
elétrica. É preciso atentar para o fato de que quan-
ças nos padrões de precipitação e evapotranspi-
rítima em cidades litorâneas como Fortaleza.
tidades perdulárias de energia são gastas para
ração podem levar à inviabilização de culturas
Como bem coloca o quarto relatório do IPCC,
iluminação e ambientação (no caso brasileiro e,
tradicionais (o milho, no semiárido nordestino,
os impactos das mudanças climáticas sobre a
obviamente, de Fortaleza, resfriamento), quando
por exemplo, é possivelmente uma cultura
saúde humana são complexos, pois envolvem
soluções arquitetônicas permitiriam o uso de luz
a merecer atenção nesse sentido), tornando
aspectos que vão do estresse térmico à proli-
e ventilação naturais, levando à redução do con-
crítico o sustento de populações no campo.
feração de vetores de doenças como dengue e
um ponto de vista muito particular, de
Outro aspecto que deve ser dosado nesse
as associações comunitárias, conselhos, enti-
sumo de energia elétrica, o que seria um óbvio co-
Ainda que projeções possam apontar até para
leishmaniose, ao aparecimento de condições
molho é o discernimento quanto a bandeiras
dades ecológicas e tantas outras. É a ante-sala
-benefício. Na verdade, em geral, muitas emissões
um aumento da precipitação sobre o Nordeste
propícias para a difusão de doenças possivel-
partida absolutamente conflitante com a
“estratégicas”, daquelas tomadas como “tá-
da corrupção, porquanto dificulta o controle
poderiam ser evitadas com base num uso racional
Brasileiro (há na verdade grande espalhamento
mente influenciadas por alterações no ciclo
e eficiente de energia elétrica desde residências a
e, portanto, forte incerteza, nessas projeções),
hidrológico, como o cólera.
prédios comerciais. Este pode perfeitamente ser
não há garantias de melhores condições para a
Por fim, mas longe de menos importante, é
ampliado através de políticas de incentivo, junto
agricultura tradicional, dado que esta depende
preciso mencionar a questão dos eventos ex-
com sansões ao perdularismo energético.
não só do total médio de chuvas, mas de sua
tremos. Uma atmosfera mais aquecida é capaz
mais acentuado na rapina dos recursos
Ainda no que diz respeito à questão energé-
distribuição no espaço e no tempo (esta pode
de armazenar mais vapor d’água o que, além de
naturais, comparada às duas décadas an-
Não por acaso, na era lulo-petista, as enti-
tica, apostando-se na possibilidade de que os
se concentrar em poucos eventos severos), da
amplificar o efeito estufa, deixa mais matéria
dades locais de todos os movimentos sociais
custos se reduzam com a produção em escala,
variabilidade interanual (alternância de anos
prima disponível para a formação de grandes
teriores da era lulo-petista. Ainda assim,
um caminho viável pode ser o de que as cidades
secos e chuvosos), da evapotranspiração, que é
tempestades. O uso de modelos de resolução
embora em campo bem definido, o “olhar
mesmas gerem parte expressiva da energia que
função de outras variáveis climáticas, etc.
mais fina nas projeções climáticas, além da
ecossocialista” apresenta uma miríade de
dadas com as políticas públicas emanadas
alternativas que os inúmeros cenários nos
pelo governo federal, quando implementa uma
Por Gert Schinke*
viável, inteligível para o povo leigo em técni-
um intermediário, que suga o poder de mobi-
cas, em legislações, avesso que é a “doutores”
lização do “cliente”, subtraindo-lhe cidadania,
Ao abordarmos as políticas municipais sob
e iluminados de todo tipo, muitas vezes em
poder de reivindicação direta diante das auto-
a ótica dos “ecossocialistas”, estaremos
franco exercício público de descarrego emo-
ridades nas três esferas do poder, e, o que é pior,
cional frente ao povo simples que os assiste
ao mesmo tempo esvazia a organização cole-
hipnotizado, por vezes irritado.
tiva em torno das entidades locais de pressão,
inexoravelmente olhando as mesmas de
visão desenvolvimentista do capitalismo
social sobre o Estado, sobre os representantes
brasileiro que, sob a batuta do PT, envere-
dos movimentos sociais, ao final, todos os
dou nos últimos anos para um viés ainda
agentes envolvidos no processo político. “Não dê o peixe, mas o caniço para pescar.”
foram esvaziadas no seu poder de pressão política, fenômeno que caminha de mãos
consomem, através de painéis solares e aero-
Ao mesmo tempo, a elevação do nível
análise de observações do final do século XX
geradores de pequeno porte sobre os tetos de
dos oceanos e sua acidificação podem trazer
e início do século XXI corroboram com a ideia
construções de diversas naturezas.
consequências gravíssimas sobre atividades
de que um planeta mais aquecido também será
apresentam no cotidiano da cidade, do
Outro aspecto não menos importante é o
como a pesca artesanal, a coleta de moluscos e
um planeta com mais tempestades severas.
bairro, da vila, da comunidade local onde
ticas”, que se colocam no horizonte de curto
eleitorado com vistas a perpetuar-se no poder
das áreas verdes e corpos d’água no interior das
crustáceos, etc. Para se ter uma ideia, dois dos
Inundações, alagamentos, deslizamentos deve-
prazo, quando não “para ontem”. É destas, as
ad infinitum. Essa corrente é muito difícil de
cidades. Ambos têm propriedades interessantes
principais suportes ao ecossistema marinho, no
rão ser mais frequentes, atingindo em cheio as
as pessoas vivem a maior parte de suas
“para ontem e hoje”, que tratamos aqui, justo
quebrar, especialmente se nos ativermos à
para a mitigação do efeito de microescala da
caso os recifes de coral e os manguezais – que
populações vulneráveis dos centros urbanos.
vidas. Não se trata aqui, pois, de apresentar
aquelas que estão no limite das possibilida-
tradição da política nacional, impregnada do
“ilha urbana de calor” (isto é, o aquecimento
juntos funcionam como uma espécie de rede de
Novamente, a face cruel da contradição entre o
um receituário de políticas públicas, mas
des concretas do capitalismo
mais arcaico clientelismo
maior da cidade em relação às vizinhanças),
restaurantes, motéis e berçários – estão entre os
fato de os benefícios do desenvolvimento movido
atender de pronto, como o
político. O lulo-petismo,
além de se constituírem em pequenos estoques
mais criticamente atingidos pelas alterações de
a combustíveis fósseis serem apropriados por
sim, de enumerar algumas observações
antes baluarte do protesto,
grande escala nos oceanos. A produção do exoes-
uns – uma minoria – e os impactos, sofridos por
tiradas da nossa militância junto às comu-
concretiza em outras regiões
de carbono. Uma política de defesa da manu-
mundo afora. Essas propostas
guardião da moralidade e
tenção, preservação e ampliação dessas áreas
queleto pelos corais é fortemente comprometida
outros – uma maioria.
nidades com as quais convivo, à luz desse
reunidas conformarão, com
tutor da reserva crítica aos
traz uma série de co-benefícios com implica-
em águas mais ácidas (resultado da dissolução
É sob essa ótica, portanto, de mitigação das
as devidas adaptações, a pla-
governos burgueses e ao
ções diretas na qualidade de vida da população
de CO2) e o manguezal é empurrado para dentro
emissões locais, de luta pela redução das emis-
“olhar ecossocialista”, sempre sujeito, por
taforma eleitoral a ser agitada
Estado, hoje se alimenta
habitante de assentamentos urbanos.
do continente pela alteração na salinidade e
sões globais e de uma política de adaptação com
pressuposto, às adaptações necessárias da
nas eleições municipais que
daquilo que antes comba-
O segundo aspecto diz respeito aos impactos,
pela própria elevação do nível do mar eventu-
ênfase na proteção aos de baixo, que devemos
realidade que se apresenta em cada local
se aproximam.
tia e pratica uma forma de
e estes se manifestam de diversas formas, sendo
almente deparando-se, além da dificuldade
pensar a política das cidades para o clima. O
as mais diretas migrações, saúde, conforto tér-
natural de migração de um ecossistema inteiro
princípio-base é a justiça climática, isto é, quem
Brasil afora.
mico, poluição, eventos extremos, além de outras
em curtas escalas de tempo, com a própria ocu-
se beneficiou das emissões, que arque com os
De outra parte, uma coisa é “teoria”, es-
indiretas, indo da segurança alimentar à geração
pação humana. Em nosso caso, é preciso estar
custos da mitigação e adaptação; quem é mais
pecialmente aquela gerada na academia com
política centenária forjada pela estrutura de
de energias por fontes renováveis, sensíveis à
atento para os impactos sobre os habitantes do
vulnerável e foi excluído desse processo que
propósitos meramente acadêmicos. Outra
dominação social e política da burguesia e
Vejamos, pois, o que acontece no meio
mudança climática (com destaque para a hidro-
semiárido e das cidades do interior, além dos
receba proteção prioritária ante os impactos.
coisa é “prática”, proposta concreta, voltada à
seus aliados, é o esquema mental que traça o
dos pescadores artesanais. Um barco = um
eletricidade que depende dos estoques hídricos
moradores da zona costeira, particularmente
Daí, que se possa desdobrar esse princípio em
realidade fática, material, que exige criação,
caminho tradicional para o encaminhamen-
registro na Zona de Pesca = uma “parelha”.
nos reservatórios que, por sua vez, são função
os que dependem da pesca. Um aumento da
propostas de políticas públicas.
adaptação da teoria. Portanto, menos discur-
to da maior parte das políticas públicas no
Uma parelha = quatro a oito embarcados,
da vazão afluente – isto é, da água que chega – e,
pressão migratória sobre a região metropolitana
so, mais proposta. E, em nosso caso, para não
âmbito local, do bairro, da cidade, da região.
ou mais, dependendo do tamanho do barco.
portanto, em última instância, das chuvas).
de Fortaleza pode surgir como consequência
parecermos um “ET”, há que se propor coisa
Na maioria dos casos ele é operado através de
Cada tripulante, um registro de “pescador
34
Alexandre A. Costa é
Ano IV • Número 11
Junho de 2012
série de políticas tipicamente clientelistas – as “bolsas” de todo tipo, objetivando ampliar seu
governança que não deixa
A clientela política O “clientelismo”, chaga
nada a desejar aos anteriores. Antes pelo contrário, o faz com mais refinamento e esmero.
35
Cidades
Cidades
artesanal” no Sindicato local. Quem sabe
definidas: recursos naturais finitos no planeta;
conclusão mais provável que você chegará é de
simples assim. Os primeiros se colocam facil-
têm em comum a ampliação de espaço viário
O automóvel ainda governa as mentes dos
qual é o tamanho do barco? Quem sabe se a
o convívio e respeito a todas as demais espécies
que, via de regra, elas não se lastreiam nesses
mente na perspectiva do adversário, tomando
especialmente para automóveis, um tanto para
governantes e da grande maioria da população,
“parelha” realmente é formada por pescadores
vivas no mesmo; o respeito à forma de funcio-
princípios, quando não colidem frontalmente
sua iniciativa como válida, como inevitável,
o transporte de massas, mas passam solene-
hipnotizada pelo seu fetiche, roubando precio-
artesanais? Quem controla o tempo de filiação
namento da ecosfera em toda a sua plenitude;
com os mesmos.
como dada, enquanto nós NÃO a tomamos
mente ao largo do cálculo energético que esses
so espaço urbano da bicicleta, do pedestre, da
ao sindicato antes de receber o “defeso” por
a conservação da energia, dentre outros. Esse
Num cenário onde se pode, grosso modo,
como dada, sequer como válida, porque discor-
paisagem, da tranquilidade na urbe. Se isso já é
parte do Ministério da Pesca? Nesse obscuro
amalgamento político-filosófico conspira fron-
distinguir dois campos bem nítidos no movi-
damos por princípio,de sua implementação. É
difícil, o que dirá aventar a tese da “mobilidade
mundo criou-se uma sofisticada “indústria do
talmente com o modo de reprodução do capital
mento ecológico, de um lado os “verdes”, em
o caso, por exemplo, de inúmeros empreendi-
humana”, conceito que vai além da eficiência
defeso” que se vale de “atravessadores”, agen-
que exige constante crescimento e consumo,
essência reformadores capitalistas, exímios
mentos imobiliários hoje tão comuns em todos
energética, do espaço urbano, mas propõe em
ciadores de amigos, parentes, fantasmas, que
daí o porquê das propostas de “decrescimento
praticantes de perfumaria sócio-ambiental
os cantos do país, avançando por sobre as APP’s
complemento aos quesitos anteriores, um novo
lhes vendem “inscrições de pesca artesanal”
econômico”, de limitações compulsórias de
e de “maquiagem verde”, propaladores do
a revelia da legislação. Os “verdes” estarão
“design” dos equipamentos, com vistas a pro-
burlando a legislação em aberto conluio com os
consumo, entre outras coisas, que pregamos
onipresente “desenvolvimento sustentável”,
mais preocupados em firmar algum TAC, em
piciar o maior conforto e segurança possível
dirigentes sindicais, com os fun-
e de outro lado, os “ecos-
arranjar alguma “compensação ambiental”,
aos usuários. Hoje a maior parte da frota de
cionários do Ministério da Pesca,
socia l ist a s”, em essência
nós em protestar contra a efetivação do empre-
ônibus do país roda com carrocerias monta-
arregimentando falsos pescado-
anti-capitalistas, é funda-
endimento, salvo situações muito específicas.
das sobre chassis de caminhão, pasme, uma
res artesanais aos milhares país
menta l dist ing uir mos até
A adesão ao status quo, ao franco colabora-
aberração sob todos os pontos de vista, menos
afora, pessoas que estão de bem
onde ca m in ha mos ju ntos
cionismo, é o caminho de rotina, seja nos
o financeiro, é óbvio, trazendo um sobre-lucro
com o mundo e com o governo
com os primeiros, já que os
fóruns e conselhos de direito, seja através de
sistemas de transporte acarretarão no futuro
às concessionárias. O “ônibus de passageiro”
lula-dilma, por receberem uma
temos como companheiros
projetos patrocinados por empresas públicas
próximo. Sob um olhar ecológico, esse critério
é um veículo desenhado com outro sistema de
verbinha que lhes não é de direi-
de muitas lutas no movimen-
e privadas. Esse processo de cooptação, para-
deveria estar presente, uma vez que ignorado,
suspensão, mais molejado, mais suave, do que
to. No anzol do defeso, voto certo
to social. Enquanto aqueles
lelamente ao implementado pelo clientelismo
implica obviamente em incremento no uso de
este montado na maioria das “carroças” hoje
pa ra quem ta mbém ma ma no
dão ênfase ao trabalho ins-
lulo-petista, antes reportado, arrebentou com
energia. Isso, por sua vez, interessa aos seto-
em operação nas cidades.
Estado, assim como o funcionário
tituciona l, à segmentação
o poder de crítica e mobilização do movimento
res econômicos que as produzem, inclusive
A proposta da TARIFA ZERO, por outro
de alto escalão que não trabalha e
da luta ecológica, à adesão
ecológico nos últimos anos, razão pela qual
nossa estatal maior – PETROBRÁS, cuja meta
lado, também esbarra em políticas públicas
assim mesmo ganha.
fácil aos governos que lhes
minguaram as entidades ecológicas, grande
é crescer e se globalizar cada vez mais, e se
totalmente focadas no custo/benefício empre-
Uma característica das mais perversas do
em nossas plataformas políticas gerais. Mas
oferecem emprego e carregam um viés de
maioria das quais hoje não passa de meras
transformar numa grande gigante de energia e
sarial do negócio “transporte urbano de pas-
clientelismo é o ritual de bajulação e “puxa-
como essas “bandeiras genéricas” se traduzem
comportamento elitista e individualista (a
prestadoras de serviços de marketing para
petróleo do mundo, fazendo jus ao sexto lugar
sageiros”, quando em realidade, deveríamos
-saquismo” em relação às autoridades, o qual
em coisas miúdas, se espelham em políticas
marca tão comum do “eco-super-homem”), nós
grandes empresas e governos. Não por acaso,
que o país hoje ocupa no ranking mundial dos
desconstruir o “negócio” e propor o “serviço
ele só vem a acentuar, exacerbando ainda
públicas que os governos podem (digo “po-
ecossocialistas estamos muito mais voltados
mas resultante desse fenômeno de cooptação
PIB’s. Se todos esses bilhões fossem gastos pre-
público”, nesse caso, gratuito. Não por acaso,
mais a hipocrisia que ronda o “fazer política”,
deriam”, caso quisessem) implementar nas
à organização popular, ao fortalecimento das
pessoal e institucional, que nos defrontamos
ferencialmente em transporte de massas com
as empresas de ônibus, assim como as de coleta
quando cria um mundo de ilusões em torno
cidades, nas pequenas comunidades? Como
organizações de base, à junção de forças com
com tantos escândalos de corrupção envol-
equipamentos que embarcam tecnologias de
de lixo, são as maiores contribuintes das cam-
de reivindicações que jamais são cumpridas,
trazer o horizonte estratégico para próximo,
outros movimentos sociais que se colocam na
vendo “ong’s”, muitas das quais envolvendo
ponta, que economizam energia e que utilizam
panhas eleitorais dos partidos burgueses, aí
e cujo resultado mais palpável é o total des-
propósitos ligados a questões ambientais.
menos recursos naturais, já teríamos um ponto
incluídos PT, PCdoB e os demais da base aliada
traduzi-lo do genérico distante para o espe-
transformação social, e, via de regra, carrega-
crédito da POLÍTICA, que sempre deveria ser
cífico na atualidade? É um verdadeiro desafio
mos menos as tintas no individualismo, ainda
escrita e praticada com letras maiúsculas.
que exige constante análise, perseverança e
que também esteja presente. Há, portanto, uma
Nessa linha de raciocínio enveredaremos pela
criatividade.
clara diferença de postura.
do governo federal, assim como
O ponto de chegada
os situados no campo da direita.
Vejamos o setor de mobili-
A “contribuição” amarra esses
filosofia, pano de fundo da boa política e que
Como havia alertado, não pretendo trazer
Mas, estilos e posturas a parte, quando
dade urbana, um bom exemplo
governos com a “concessão”,
sempre está presente, até mesmo nas relações
um “receituário” para cada setor, mobilidade,
nos confrontados com questões que colocam
d ia nte da s próx i ma s mega-
e esta se perpetua ad infini-
mais rastaqueras que se apresentam no dia a
planejamento urbano, saúde, pretensão esta
um claro embate diante dos governos e auto-
-festanças – Copa e Olimpíadas.
tum, calcada no princípio da
dia da vida pessoal e da luta de classes, ainda
que humildemente deixo de
ridades, nós normalmente
Todos os governos, indistinta-
“ex ploração dos ser v iços de
que às vezes de forma dissimulada.
lado. Uma coisa é certa: se
percebemos a diferença nos
mente das esferas de domínio,
transporte público”, embora já
você observar quais políticas
posicionamentos: enquan-
estão patrocinando obras que
se tenha provado taxativamente
O ponto de partida
públicas são propostas para
to os “verdes” tratarão de
supostamente melhorarão os
que a TARIFA ZERO é hoje viável
O olhar ecossocialista funde dois caminhos
um determinado setor, qual-
minimizar os danos ine-
padrões de qualidade hoje ofe-
orçamentária e legalmente, na
que já andaram, mas que por um bom tempo
quer que seja, cer ta mente
vitáveis de alguma coisa a
recidos à população.
não andam mais separados – a luta pelo so-
você poderá analisá-las à luz
causar grande impacto eco-
cialismo democrático (ainda julgo necessário
dos princípios que orientam
lógico, nós estamos lá para
PAC destinados a essas obras, de enormes anéis
de encontro com nossa proposta. Mas não é
lonadamente implementada. Assim como o
justapor esse adjetivo) e o ecologismo, visão de
o ecossoc ia l i smo, a lg u n s
denunciar que não se pode
viários, de expansão de metrôs, de trens me-
isso que acontece, e tão pouco acontecerá,
SUS da saúde, ela é perfeitamente assimilável
mundo particular que parte de premissas bem
dos quais alinhavei acima. A
permitir a coisa acontecer,
tropolitanos, de ampliações viárias aqui e ali,
infelizmente, em futuro próximo.
pelo capitalismo brasileiro dado a imensa
36
Ano IV • Número 11
Mercadante aplaude o novo Ecosport
brasileiros, ainda que seja esca-
Os recursos bilionários do
Junho de 2012
grande maioria dos municípios
37
Cidades
Cidades
riqueza produzida na sexta economia mundial.
básico, como vista há pouco. O Estatuto da
metro quadrado de terreno que o capital se
instrumento desprezado que fica a mercê
Esbarra, por certo, muito mais em problemas
Cidade, segunda lei em importância no mu-
reproduz na cidade tão bem quanto através
das negociatas entre o Prefeito e a Câmara
políticos e culturais do que propriamente
nicípio, somente superada pela Lei Orgânica
da apropriação da mais valia, em meio a um
de Vereadores, palco de todo tipo de mara-
financeiros. Mereceria, isto sim, uma grande
Municipal – LOM, trouxe uma melhora no
ambiente diverso da relação capital-trabalho
cutaia, ainda que disciplinado pela Lei de
campanha nacional, assim como se deu com
padrão da discussão do ordenamento urbano e
que se apresenta numa fábrica. A apropriação
Responsabilidade Fiscal. Mas esta não é o
o SUS.
da transparência das ações e políticas públicas
de espaços urbanos, dos recursos naturais pre-
bastante para discutir prioridades que inte-
Se você olhar para o que hoje se implemen-
nessa área, mas há muito que nele melhorar,
sentes e próximos da urbe, através dos meios
ressam na disputa pela riqueza à disposição
ta na saúde, setor totalmente vinculado ao
como advogo desde quando surgiu. Hoje o EC
à disposição da especulação imobiliária, são
no município. A lega-se, por exemplo, que
de saneamento básico, você chegará a óbvia
já está totalmente assimilado à dominação
fenômenos do capitalismo atual que, assim
atualmente não se pode mais criar parques
conclusão de que sequer “saúde” é praticada.
política das elites locais, modus operandi no
como o capital financeiro, mais sustentam
naturais sem que se tenha o dinheiro para
Basta partir da informação de que cada real
qual elas se mostram extremamente eficientes
sua reprodução no mundo de hoje. E como
indenizações de áreas privadas à disposição.
investido em saneamento básico poupará
– “como aplicar a lei deixando de aplicá-la na
ele, todo o sistema de dominação presente nas
Ora, se nunca há dinheiro à disposição, não
quatro a serem gastos inevitavelmente em
prática”, perpetuando, assim, o jogo
se cria parque algum, simples assim.
saúde pública, hoje em franco declínio na
de faz-de-conta e, como de resto, es-
Enquanto isso há dinheiro à disposição
qualidade dos seus serviços. Paralelamente, o
vaziando o respeito pelas legislações
para contratar empreiteiras para fazer
setor privado está “bombando” como nunca.
hoje existentes. Mais uma vez, nesse
qualquer coisa imprestável, absoluta-
No saneamento básico, primo pobre da saúde,
quesito, nosso olhar ecossocialista
mente inútil, por vezes para o Prefeito
o quadro que se apresenta hoje no país é ver-
se distancia dos meros reformistas
deixar uma “marca” para a história. Argumento falacioso, portanto.
gonhoso, é assustador, ainda que acolhendo
http://mosal-movimentosaneamentoalternat.blogspot.com/
de plantão alinhados com a maquia-
inovações legais, como a recente aprovação
Comparativo entre dois modelos: o mapa na direita foi gerado numa oficina popular do MOSAL
gem verde, pois a estes não interessa
Haveriam muitos outros exemplos a
a ampla participação popular que
trazer para evidenciarmos como o “olhar
do Plano Nacional de Saneamento Básico e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, leis que já
de água e do seu ciclo natural; da reinserção
em sintonia com os interesses dos grupos em-
muitas vezes tenciona contra a es-
ecossocialista” produz um olhar particu-
se sabe, em grande parte, ficarão no papel. Esse
local dos efluentes gerados no tratamento; da
preiteiros, como mais uma vez se evidencia na
peculação imobiliária, além de con-
lar sobre as políticas públicas municipais
CPMI que vasculha as contas da Delta.
fiarem aos mecanismos de mercado
em um contexto que cruza olhares de
é um território no qual a esquerda, de
utilização de mais mão-de-obra ao invés de mega-equipamentos. A
Em meio a todas essas discussões, aflora a
a tarefa de regular o espaço urbano,
“verdes” e de gente de “esquerda” de
quem interessa grandes obras
questão do planejamento urbano, setor este
apostando que o capitalismo possa
diversos matizes e correntes políticas,
talvez por imaginar que, ao
que movimentam enormes
que no Brasil apresenta características muito
com os mesmos “frear” a especulação imobi-
regiões onde esse fenômeno tem maior peso na
via de regra ainda muito impregnadas por
trabalhar em torno de polí-
somas e dispensam mão-
peculiares, ou seja, o déficit de planejamento
liária. A realidade evidencia o contrário.
economia, notadamente no litoral brasileiro e
visões dogmáticas que alimentam ilusões no
ticas públicas nessa área, se
-de-obra na sua posterior
urbano, aqui entendido como um conceito que
Os Planos Diretores, instrumentos que
nos impenetráveis clusters interioranos reser-
desenvolvimentismo rapinador da natureza
distancia da clássica luta de
operação?
combina participação popular e gestão inte-
dialogam com todos os setores da vida de uma
vados à burguesia. Nesse contexto, a discussão
e apostam na evolução histórica determinis-
Nesse setor vale chamar
grada de todos os vetores que o compreendem,
cidade, oferecem uma oportunidade única
em torno das ZEIS, por exemplo, aprofunda
ta do capitalismo, sem se dar conta que não
atenção para o trabalho feito
entre os quais, as questões de saneamento
modo geral, pouco transita, e que alimenta imenso preconceito,
classes aprendida no cânone
para os ecossocialistas, pois eles colocam
o abismo entre os “verdes” e os “ecossocia-
haverá luta de classes se não houver mais vida
por um pequeno grupo de mi-
sobre a mesa a discussão em torno do modelo
listas”, na medida em que os primeiros nor-
no planeta. Ainda que brilhante, Marx não
litantes ecologistas em Florianópolis,
de cidade, o atual e o que se deseja no futuro,
malmente tomam essas áreas como entraves
conseguiu vislumbrar em meio ao capitalismo
bilidade, injetarão bilhões do PAC em enormes
através do MOSAL – Movimento Saneamento
de que tipo de sociedade se almeja no futuro,
às propostas ecológicas de ocupação do solo
um mundo no qual a própria vida estaria ame-
complexos de coleta e tratamento de esgotos
Alternativo, que aliou teoria e prática de uma
dando lugar a atual forma de organização e
urbano, enquanto para nós esse “zoneamento
açada, e, assim como Giordano Bruno e outros
nas grandes cidades, obras estas que passam
forma totalmente inédita ao organizar “ofi-
ocupação do solo. Assim como nos demais
especial” é fundamental para tirar a pressão
que morreram por combater dogmas, suas
totalmente ao largo dos princípios ecológicos,
cinas populares” em torno de esgotamento
setores, mais uma vez nos confrontamos com
em cima das mesmas, minimizando as “ocu-
vidas não impediram que estes caíssem mais
princípios estes que, acima de tudo, pregam
sanitário e resíduos sólidos. Provou-se, através
o olhar tecnocrático impregnado com cheiro
pações necessárias” dos pobres desprovidos
adiante. Vivemos essa encruzilhada histórica
respeito às bacias hidrográficas, como, inclu-
destas oficinas que o leigo, cidadão que muitas
de capital, com o olhar preconceituoso da
de áreas habitáveis e dinheiro próprio para
em um momento determinante para assegurar
sive, manda a lei. Como inúmeros exemplos
vezes sequer imagina como é uma rede de
academia carente de contato com o povo,
adquirir terrenos regularizados. As políticas
a perpetuação da vida no planeta nas próximas
atestam país afora, essas obras partem de um
esgoto, pode perfeitamente se encontrar com
como algum nariz torcido de certo tipo de
de “habitação de baixa renda” são, portanto,
décadas e que vislumbra no horizonte a utopia
conceito tecnocrático arcaico e descartado em
a sua realidade, formular a melhor política de
militante de esquerda que não quer dialogar
tão importantes quanto as políticas de “áreas
ecossocialista.
muitos lugares no mundo: o modelo centraliza-
saneamento básico em seu bairro ou cidade
com sua comunidade, imaginando “perder
verdes” nas cidades, pois fortemente interliga-
do de tratamento de esgotos, na contramão do
com base em princípios ecológicos, e, o que é
tempo com uma discussão inútil de plane-
das, em suas causas e em suas consequências
Gert Schinke, 56, h istor iador, membro da
que preconiza o sistema descentralizado, este
ainda mais positivo, libertar-se dos grilhões
jamento urbano”, supostamente inócuo na
sócio-ambientais.
Coordenação Nacional do Setorial Ecossocialista,
sim, calcado nos princípios ecológicos da con-
acadêmicos e tecnocráticos dos burocratas
luta de classes em seu entender. É na disputa
Aqui também não podemos nos esque-
servação de energia; da preservação das fontes
de plantão que ditam as regras nesse setor,
pelo território, na apropriação do estoque do
cer do “esquecido” orçamento municipal,
marxista. Leitura equivocada, erro crasso. As obras voltadas a saneamento básico, assim como na mo-
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Ano IV • Número 11
Junho de 2012
Presidente do INMMAR, Coordenador Geral da FEEC-SC.
39
CIDADES
CIDADES
Um programa ecossocialista para as cidades Uma visão ecossocialista
Direito à cidade
para mudar as cidades
Pode parecer um absurdo, mas, definiti-
A cidade é uma expressão da vida. Seus
vamente, a cidade não é para todos. É para
serviços mal distribuídos, o abandono de suas
poucos. Esses poucos são, geralmente, os mais
praças, o descaso de suas ruas e os moradores
ricos. Os trabalhadores costumam morar em
deixados em suas calçadas contam a triste
zonas periféricas e trabalhar no centro. Na
história de como a lógica do capital condicio-
Mobilidade
Plano Nacional de Saneamento (PLANASA),
Diariamente, todos nós geramos lixo. E
Quantas horas ficamos parados no trânsito
implantado em meados dos anos 70. Essa po-
cada vez em maiores quantidades. Mas o que
periferia, não há escolas de qualidade, não
todos os dias? Nas grandes cidades, esse tempo
lítica de centralização do esgoto doméstico
muitos não sabem é que grande parte daquilo
nou a vida urbana. Em lugar de construirmos
há hospitais grandes, não há fácil acesso ao
pode ser maior do que aquele dedicado à nossa
gera altos custos de implantação, operação
que chamamos de lixo, ainda apresenta grande
espaços que favoreçam o encontro, a criação,
transporte; área de lazer então, é luxo! Ou seja,
família. O modelo atual de cidade ― pensado
e manutenção; e baixa eficiência. Entre as
potencial de utilização como matéria-prima.
o lazer e o trabalho coletivo, criamos áreas que
apesar desse trabalhador ir para as regiões
para o automóvel e não para as pessoas ― leva
desvantagens, podemos destacar a carência
Após a redução das quantidades e a reutilização
servem apenas à multiplicação do lucro e à
centrais diariamente, ele não usufrui de seus
a essas situações absurdas. Além da grande
de atendimento nas áreas periféricas, a ele-
dos materiais, a implantação de programas de
acumulação do capital. Para os seres humanos,
benefícios. Assim, as coisas boas da cidade não
quantidade de carros, o ar poluído tem um
vada demanda energética e, principalmente,
coleta seletiva em parceria com as cooperati-
restou a adaptação.
são para todos, são para os poucos que no dia
efeito drástico sobre a saúde da população,
o “desperdício” de nutrientes como nitrogê-
vas de catadores é fundamental para alterar o
a dia podem pagar para morar em locais com
aumentando significativamente as internações
nio, fósforo e potássio, que, em quantidades
quadro atual de desperdício em nossas cidades.
boa infraestrutura.
por doenças respiratórias.
abundantes nos esgotos domésticos, acabam
Essa categoria, cuja participação muitas vezes
As pessoas se acostumaram à falta de espaços públicos para encontrar com os amigos ou levar as crianças para brincar, ao tempo
Nós queremos u ma cidade onde cada
Precisamos de uma cidade que inverta esta
sendo desidratados e encaminhados para
é abafada pelo lobby das grandes empresas de
perdido no trânsito, à escassez de transporte
cidadão possa acessar esses equipamentos
lógica, dando prioridade aos transportes pú-
aterros sanitários. Essas substâncias fazem
limpeza urbana, é a principal responsável pelos
público, à falta de vagas em creche, à depreda-
públicos. Existem dois caminhos possíveis:
blicos de qualidade, com opções que reduzam
muita falta na agricultura, visto que o solo
índices elevados que o Brasil apresenta na reci-
ção das escolas, à precariedade do atendimen-
um é quebrar com a lógica da especulação
poluentes ou não os emitam, como as bicicletas.
brasileiro é pobre em nutrientes. Daí a neces-
clagem de alguns materiais, como o alumínio.
to em hospitais públicos. De tão marcadas pelo
imobiliária e tornar o centro um local mais
O transporte é um dever do Estado e um direito
sidade constante de adicionar fertilizantes e
barato e, assim, acessível. Um segundo cami-
do cidadão, e deve ser acessível a todos. Não há
adubos na terra.
nho é levar os serviços públicos de qualidade
apropriação do espaço urbano e das opções
Muitas tecnologias conhecidas como “siste-
Para que todas essas soluções sejam pos-
para cada região urbana e/ou rural, ou seja,
que a cidade oferece sem a possibilidade de um
mas naturais” podem ser usadas em pequenos
síveis, é fundamental que a participação dos
descentralizar o centro! Para isso, o Estatuto
deslocamento rápido, barato e de qualidade.
municípios, impulsionando uma alternativa
cidadãos nos processos de definição das po-
da Cidade precisa sair do papel e se tornar
Sem isso, a cidade fica socialmente segregada
“tecnológica” sustentável sob a ótica da des-
líticas públicas municipais seja incentivada.
uma realidade.
(o que, provavelmente, corresponde a vontade
centralização do tratamento, barateando o
Com a redemocratização do país, ganhou
política de alguns setores e correntes políticas).
custo de implantação e operação, promovendo
força o movimento de criação de conselhos
a devolução dos nutrientes ao solo com manejo
em vários setores, e, dentre eles, um espe-
adequado e baixa demanda energética.
cífico, para tratar das questões ambientais,
sistemático desrespeito às suas necessidades e pelo descaso com a implementação de soluções que possam melhorar significativamente as suas condições de vida, as pessoas deixaram de sonhar com a possibilidade de outro mundo. A naturalização do caos urbano é também a descrença de que tudo pudesse ser diferente. É preciso reacender na população das cidades a vontade de construir uma v ida
Em vez das cidades de luz arrojando-se aos céus, boa parte do mundo urbano do século XXI instala-se
O Estatuto, aprovado em julho de 2001, criou alguns instrumentos legais capazes de
Recursos naturais
transformar os ambientes urbanos. O Plano
Participação popular
Diretor é o principal deles. A elaboração e
Ainda que muitos acreditem que o meio am-
Além dos problemas relacionados com a
normalmente chamado no âmbito municipal
aplicação popular dos Planos Diretores pode
biente esteja somente nas florestas ou nas áreas
redução da qualidade das águas, outro aspecto
de Conselho de Defesa do Meio Ambiente
servir para que a ocupação da cidade não seja
rurais, nossa vida nas cidades depende que as
importante é a drenagem urbana, ineficiente
(CONDEMA). É tarefa do PSOL, enquanto um
ditada exclusivamente pelos interesses do
condições ambientais sejam favoráveis. Assim
na maioria das vezes. Com o aumento da área
novo partido contra a velha política, poten-
capital especulativo, que é quem ganha com
como a poluição do ar, o despejo de grandes
impermeável dos solos urbanos, as grandes
cializar a atuação destes conselhos, trazendo
a remoção de favelas para a periferia, com a
quantidades de esgotos das casas e indústrias
quantidades de água das chuvas provocam
a população para participar desses espaços,
sobreposição de uma área verde por uma nova
nos rios prejudica a manutenção dessas con-
inundações e alagamentos, fazendo com que
principalmente os que moram nas periferias
ponte e com a construção de edifícios cada vez
dições em níveis adequados à nossa qualidade
muitas pessoas percam suas moradias; e. até
de nossas cidades. Só com o apoio e com a
mais altos. Um programa ecossocialista deve
de vida, além de inviabilizar o seu uso como
mesmo, suas vidas. Grandes obras, como os
parceria da sociedade poderemos concretizar
Como dissemos, a vida é o centro de nossos
lutar pela elaboração e efetiva implementação
espaço de lazer.
piscinões, além de consumirem muitos recur-
nossas bandeiras e nossas propostas ecosso-
esforços e entendemos que a cidade tem que ser
dos planos diretores. E para que neles estejam
A grande ineficiência e crônica carência nos
sos, muitas vezes não conseguem solucionar
cialistas, vencendo a resistência dos grandes interesses econômicos.
digna. E a dignidade passa por uma completa inversão da lógica que determina a organização do espaço urbano. Seres humanos e meio ambiente devem interagir num ciclo de reprodução e acumulação não do capital, mas da vida. Essa é a proposta do ecossocialismo
na miséria, cercada de poluição, excrementos e deterioração.
para as cidades!
Mike Davis – Planeta Favela Soluções ecossocialistas para as cidades
viva, plural, dinâmica, promovendo uma boa
Apresentamos a seguir algumas soluções
incluídas as diretrizes que garantirão a arbo-
serviços de saneamento ambiental, notada-
o problema. É necessária uma política que
integração entre as necessidades humanas e
ecossocialistas, possíveis e palpáveis, para as
rização urbana. Ou a forma como lidaremos
mente no que se refere à coleta e tratamento de
garanta a manutenção e a ampliação das áreas
as condições ambientais.
questões que vivenciamos cotidianamente.
com o lixo que geramos.
esgotos, foi e continua sendo promovida pelo
permeáveis em nossas cidades.
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Ano IV • Número 11
Junho de 2012
Núcleo Ecossocialista do PSOL-SP
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RIO
+20
RIO
Rio+20, Cúpula dos Povos e ideologia ambiental do capital:
+20
Tive o privilégio de conviver com Paulo Piramba por aproximadamente vinte anos. Mais do que meramente conviver, tenho orgulho de poder afirmar, sem receio de exagerar, que fui de fato criado por
Um tributo (urgente!) a Paulo Piramba
Piramba, mais do que por qualquer outra pessoa neste mundo desde meus oito anos de idade,
Por Miguel Borba de Sá
debate ambiental para perceber que o antigo
do trabalho, recursos naturais e apropriação
quando ele se tornou companheiro de minha mãe.
discurso capitalista de negação das mudanças
privada das riquezas produzidas. Se abrirem
Qualquer semelhança entre meu estilo polêmico de
Fa lta pouco para o início da Conferência
climáticas já ficou para trás faz tempo. Não esta-
mão disso, vão ter que abrir mão de seu poder de
escrever e o dele, entre nossos estilos contundentes
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
mos mais na era em que as grandes corporações
classe, algo que está fora de cogitação. Resultado:
de atuar politicamente e, principalmente, em nossa
Sustentável – Rio+20. Como era de se esperar, a
capitalistas encomendavam trabalhos “científi-
a ideologia (falsa consciência?) dominante no
intransigência contra a classe dominante não são,
disputa pelo senso comum já está acirrada: de
cos. para mostrar que a crise ambiental era uma
momento é aquela que jura ser viável à união
portanto, meras coincidências. Nossas diferenças
um lado, os variados propagandistas do capital
“invenção” ou “exagero” dos ambientalistas. Não
entre preservação ambiental em harmonia com
também sempre foram muitas, não há dúvidas; nem
e suas mirabolantes propostas rumo a um “ca-
estamos mais na época em que a preservação do
a interminável acumulação do capital.
eu tenho a pretensão de comparar minha errática
pitalismo verde”; de outro, todos aqueles que
meio ambiente causava pânico nos gerentes e
não acreditam nessas falsas soluções e insistem
detentores do capital.
Mas isso é possível? Evidentemente que
militância com a biografia revolucionária que ele foi
não. Rosa Luxemburgo já nos avisava sobre
capaz de construir. A tristeza de não mais estarmos
Muito pelo contrario, hoje em dia são as
essa impossibilidade há exatamente 100 anos
juntos envolvidos na expectativa e mobilização rumo
próprias empresas, em especial aquelas mais
atrás. Mesmo sendo ignorada pelo que cha-
à Rio+20 e à Cúpula dos Povos é quase diária e difícil
Simples assim? Certamente esse quadro é
poluidoras, que estão empenhadas em adotar
mava de ‘marxismo oficial’ dos homens da II
de expressar... Assim, peço para que não considerem
mais complexo, pois existem inúmeras posições
uma imagem ambientalmente “sustentável”. O
Internacional, ou seja, pelo reformismo de seu
este texto como um tributo a Paulo Piramba. O único
intermediárias – dirão rapidamente os críticos
exemplo do visionário político-empresário Al
tempo, Rosa mostrou que o capitalismo precisa
tributo digno que pode ser feito não virá de um
do dualismo acima apresentado. Ora, é claro que
Gore chama atenção: aclamado como porta-voz
sempre manter aquilo que Marx chamara de “acu-
texto, nem mesmo de um que seja de qualidade
existem! São exatamente tais posições interme-
da “consciência ambiental”; ganhador de prêmio
mulação primitiva . Isso significa que a expansão
infinitamente superior ao apresentado acima:
diárias, indefinidas e mescladas – por vezes con-
Nobel por revelar uma “verdade inconveniente”
do capitalismo para novas dimensões seria um
como todos que o conheciam minimamente devem
fusas ou perdidas diante do atual bombardeio de
aos seus colegas burgueses; o ex-vice-presidente
processo necessário e contínuo, até que o planeta
concordar, a única homenagem possível a ele será
informações vindas dos ‘especialistas’ em meio
dos EUA continua sendo acionista em diversas
se esgotasse – ou que a revolução social interrom-
uma poderosa e radical mobilização popular, contra-
ambiente – que estão em disputa no momento.
empresas de petróleo. Contradição? Nem tanto.
pesse este movimento. Confiante na vitória da
hegemônica e, por que não, socialista, no próximo
Diante disso, a tarefa dos socialistas radicais
Caso isolado? Menos ainda. No Brasil, o caso
classe trabalhadora, Rosa acreditava que a revo-
mês de junho e nas lutas que virão em diante. É
é impedir a formação do consenso em torno
emblemático da mineradora VALE fala por si só:
lução viria antes da barbárie socioambiental...
somente assim que Piramba estará de verdade
do capitalismo verde, que visa apresentar suas
uma das empresas mais destrutivas do país é
Às vésperas da Rio+20, o raciocínio de Rosa
“soluções” de mercado, soluções “criativas” ou
precisamente aquela que publica os mais belos
Luxemburgo – e do teimosamente luxemburguis-
meramente tecnológicas para conquistar o senso
relatórios de sustentabilidade e mais investe em
ta Paulo Piramba – tornam-se mais atuais e ur-
comum mediante aquilo que Paulo Piramba
programas sócio-ambientais para mitigação dos
gentes do que nunca. A batalha ideológica sobre
chamou de estratégia de “redução de danos”:
danos causados por suas atividades predatórias.
a possibilidade ou não de um “capitalismo verde”,
sob quais métodos e a partir de quais estraté-
Cúpula dos Povos: disputa por hegemonia
Carioca, cuja inauguração “coincidentementeC
reformado e sustentável, é o que está em jogo.
gias culturais, midiáticas, jurídicas e políticas
para legitimar o capital
foi marcada para praticamente a mesma data de
em lutar por uma superação revolucionária do modelo econômico dominante.
manter o sistema de classes intocado e tentar
Atualidade de Rosa Luxemburgo
mitigar seus piores efeitos . 1
Em outras palavras, se em tempos anteriores
x Captura Corporativa
A questão é saber em qual arena este jogo será disputado. Pois engana-se quem pensa
“PRESENTE”.
conseguir-se-á forjar o consenso sobre sua “necessidade”.
Como na Rio+20 oficial não haverá muita
abertura da Cúpula dos Povos.
coisa em jogo em termos de embates políticos-
Desde o início do processo de construção da
os socialistas radicais se opuseram às propostas
Fica claro, então, que a distinção entre eco-
que esse será o tema do debate entre chefes
Assim, diante da já conhecida e anunciada
-ideológicos ou espaço para paradigmas distin-
Cúpula dos Povos, tanto as grandes empresas
social-democratas de um “capitalismo com rosto
nomia do carbono e economia verde não engana
de Estado e governo no Riocentro, sede do en-
captura corporativa dos espaços multilaterais
tos das conhecidas políticas privatizantes de
quanto o próprio governo tentaram interferir
humano”, hoje temos a obrigação de nos insur-
mais a ninguém, pois os porta-vozes da própria
contro da oficial da Rio+20. Lá, segundo aviso
que se repetirá na Rio+20, sobra para a Cúpula
cunho neoliberal, é na tentativa de confundir
no processo de inúmeras maneiras. Algumas
girmos contra as propostas de um “capitalismo
burguesia, como o Banco Mundial, já nos in-
dado pela presidenta Dilma Rousseff em seu
dos Povos – espaço paralelo de encontro e mo-
a opinião pública disputando mensagens e
ONGs apareciam nas reuniões de preparação
com raiz verde”. Se for verdade que a história se
formaram que ambas caminham juntas. Em
encontro com a “sociedade civil” no último
bilização da sociedade civil – a tarefa de discutir
conteúdos da Cúpula dos Povos que o capital
da Cúpula com propostas “pragmáticas, que
repete duas vezes, conforme Marx ironicamente
2010, cada dólar investido por esta instituição
Fórum Social, em Janeiro de 2012, na cidade
se o capitalismo verde é de fato uma opção a ser
está jogando sua cartada hegemônica mais
deviam evitar o “ideologismo, e ultrapassar
assinalou, então continuamos na mesmíssima
em energias renováveis teve como contraparte
Porto Alegre, uma discussão sobre o capitalismo
levada a sério ou rechaçada em prol de uma saída
importante na conjuntura atual. Garantir que
as posturas “retrógradas e “ultrapassadas da
luta; primeiro contra a tragédia reformista, depois
outro dólar investido em carvão ou petróleo. Não
“não duraria nem cinco minutos . A questão,
revolucionária. Por isso a Cúpula dos Povos é
as mobilizações da sociedade civil não sejam
esquerda tradicional. Quantas vezes os repre-
contra a farsa do ambientalismo de mercado .
poderia ser diferente, pois são economias capita-
para eles, é saber como implementar a chamada
tão importante e tem sido tão disputada, antes
muito radicais é tão importante para a classe
sentantes dos movimentos sociais mais sérios do
listas, antes de tudo: baseiam-se na exploração
economia [capitalista] verde: qual velocidade,
mesmo de começar.
dominante quanto será a abertura da Bolsa Verde
país tiveram que ouvir verdadeiras “aulas sobre
2
Não é preciso ser profundo conhecedor do
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Ano IV • Número 11
Junho de 2012
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RIO
+20
CARTA DE CURITIBA
Fundação do Setorial Ecossocialista do PSOL
como a organização política, o trabalho de base
Povos foram sábios e eficazes na resistência a
ou passividade em nossas mobilizações de re-
e a educação popular não eram mais importan-
mais esta investida, e imediatamente lança-
sistência ao modelo dominante. Tais estratégias
tes hoje em dia, pois agora as “redes sociais” e a
ram nota pública rechaçando a participação
buscam apenas a “redução de danos’, mas nem
internet fariam o trabalho de conscientizar os
naquilo que consideraram “monólogos. – e não
isso chegam a alcançar na prática. Servem,
“indivíduos e democratizar a informação...
diálogos! – com cartas marcadas com o único
isso sim, para desviar nossas atenções sobre o
Quantas vezes os representantes de comu-
intuito de legitimar as ações de um governo
sistema como um todo e desmerecer como “utó-
Os e as militantes ecossocialistas do Partido
com que estejamos, anualmente, sacando 25 e
com menos de um dólar por dia. A renda das
nidades agressivamente impactadas por mega
já marcado pelo vergonhoso desmonte do
picas” quaisquer propostas revolucionárias.
30% de nosso capital natural. A salubridade para
500 pessoas mais ricas do mundo é maior do
empreendimentos industriais ou pela expansão
Código Florestal e pelas atrocidades de Belo
Esse modelo tem nome: capitalista. Quem
Socialismo e Liberdade (PSOL), reunidos (as)
crianças, idosos, mulheres e homens é perma-
que a das 416 milhões mais pobres do planeta.
do agro-negócio tiveram que escutar que não
Monte, para ficarmos apenas com os casos
não estiver disposto a encará-lo de frente ou
em Curitiba nos dias 1, 2 e 3 de abril de
nentemente ameaçada e degradada por conta
Em nosso país, cuja formação histórica,
havia mais razão para a retórica belicosa da
mais gritantes.
estiver ativamente empenhado em convencer
2011, se dirigem ao conjunto do partido, aos
de vetores de doenças infecto-contagiosas, da
socioeconômica e cultural foi fundada na
contaminação da água, do ar e dos alimentos,
monocultura de exportação, na escravidão,
luta de classes, pois o meio ambiente seria um
É de se esperar que tais embates continuem
os que mais sofrem de que é o aprofundamento
“problema de todos e a Cúpula dos Povos deveria
até que a Cúpula dos Povos e a Rio+20 cheguem
deste regime que lhes trará alguma solução,
simplesmente expressar “um mosaico de vozes,
em junho próximo. Isso de certa forma é bom,
deveria procurar seus pares em outros locais,
elevar a “pluralidade, à categoria de meta política
pois uma democracia mais polarizada deixa
como o forte de Copacabana e o Riocentro,
máxima, acima até mesmo da transformação
mais explícito quais atores e posições estão
onde as elites globais estarão reunidas para
social. Quantos debates para saber se a Cúpula
envolvidas na luta de classes. A luta tampouco
traçar seus planos de expansão para cima de
dos Povos poderia ter uma posição política
mais e mais esferas da vida social e do
firme, apontando culpados pelas crises
mundo natural.
movimentos sociais, ecológicos, socioam-
mas, principalmente, pela irresponsabilidade
na sistemática superexploração dos povos
bientais e à sociedade, para, analisando a
do poder público e dos agentes capitalistas na
indígenas, afrodescendentes e na rapina de
atual crise planetária, propor ao partido e aos
gestão de programas e projetos ambientalmente
nossa natureza, o PAC – com seus megaem-
degradantes, além do histórico sucateamento
prendimentos ecologicamente insustentáveis
dos sistemas públicos de saúde.
e socialmente injustos – é, atualmente, a face
movimentos uma reflexão e uma agenda de lutas comuns.
A tudo isso se somam as últimas catástrofes
mais visível de nosso “desenvolvimentismo”.
ambientais, como a da região serrana do Rio de
Hidrelétricas e grandes empreendimentos
atuais ou, pelo contrário, se ficaria para
Às vésperas da Rio+20, o raciocínio de Rosa
Mas isso não será tão simples, pois
Não há dúvidas de que estamos imersos em uma
Janeiro e a do acidente nos reatores nucleares de
tais como Belo Monte, Jirau, TKCSA, CSU, a
sempre como mero “comitê facilitador das
Luxemburgo – e do teimosamente luxemburguista
eles virão para disputar o nosso território
crise ambiental planetária de proporções ainda
Fukushima, cujas conseqüências trágicas ainda
transposição no rio São Francisco, com seu re-
diversas expressões fragmentadas da socie-
Paulo Piramba – tornam-se mais atuais e urgentes do
também. O Aterro do Flamengo e suas
não vividas pela sociedade humana. Sua face
não temos como dimensionar o alcance.
pertório de agressões socioculturais, étnicas e
dade civil. Quantas vezes teve-se que ouvir
que nunca. A batalha ideológica sobre a possibilidade
adjacências serão espaços em disputa,
mais visível, mas não única, são o superaqueci-
Configurada a crise (“policrise”), que é social,
ambientais; a ampliação do programa nuclear,
que não podíamos fechar as portas para
ou não de um “capitalismo verde”, reformado e
e nessa disputa pela Cúpula dos Povos o
mento da Terra e as mudanças climáticas. Não há
ambiental e civilizacional, há uma disputa de
mesmo após a contaminação em Caetités e a
empresários “progressistas”, que não podía-
sustentável, é o que está em jogo.
embate de classes deixará sua marca na
um só dia em que não se observe a ocorrência em
natureza ideológica sobre o entendimento das
tragédia de Fukushima; o ataque à legislação
história: cabe a nós fazer com que esta
qualquer parte do mundo de algum fenômeno
suas causas e métodos de enfrentamento, que
ambiental, configurada na proposta Aldo-
seja uma marca de transformação e superação.
climático-ambiental extremo. Fenômenos cada
confronta, em matizes diferenciados, capitalis-
ruralista do Código Florestal, mas, também,
vez mais intensos e recorrentes a ponto de um
tas “verdes” versus “ecossocialistas”, ou seja, a
na flexibilização do licenciamento ambiental
mos só criticar eternamente, sem considerar propostas “realistas como a “responsabilidade
irá terminar no dia 23 de junho. Mas fato é que
social corporativa, ou que a “economia verde”
os embates até lá deixarão marcas profundas no
era uma oportunidade para a sociedade civil
senso comum e lançarão as bases sobre as quais
Notas
termo do vocabulário de guerra ter sido adap-
disputa sobre projetos de sociedade e, portanto,
– além da agenda excludente das obras da Copa
construir alternativas também...
o capital conseguirá, ou não, construir seu tão
1 Para um exemplo emblemático – e honesto – de
tado para o repertório ecológico: o “refugiado
de civilização.
do Mundo e Olimpíadas – demonstram até onde
Felizmente, conseguiu-se repelir a grande
desejado consenso em torno das suas “soluçõesI
como essa estratégia é bem vinda pelos intelectuais
climático” ou “refugiado ambiental”, que já se
maioria destas tentativas de invasão capitalista
de mercado. Temos muito trabalho até lá e por
orgânicos do capital, ver a reveladora entrevista de
conta em dezenas de milhões no planeta.
do processo de preparação da Cúpula dos Povos.
todos esses motivos a conjuntura atual é das
Delfim Neto n’O Globo, em 28/04/12, disponível
mais decisivas.
A compreensão dos que se reivindicam herdeiros da utopia igualitária do Século XIX, à qual
o capital, pelos seus governos e suas empresas, pretendem chegar em nosso país.
N o entanto, o aquecimento global e as
se agrega o ecologismo da contemporaneidade,
Denunciamos e combatemos as relações
em: http://oglobo.globo.com/rio20/brasil-ganhou-
espúrias e corruptas dos agentes públicos com
mudanças climáticas são apenas a face mais
é a de que, nas precisas palavras do Manifesto
visível de uma crise maior, que se relaciona à
Ecossocialista Internacional, “o atual sistema ca-
os grandes grupos financeiros, industriais,
Povos for apenas daquele tipo ambíguo e superfi-
-mais-consciencia-ecologica-diz-delfim-net to-
atual configuração do modo de produção ca-
pitalista não pode regular, muito menos superar,
empreiteiros e do agronegócio que financiam
o ataque do capital não parou, nem irá reduzir
cial ao estilo Marina Silva, a classe trabalhadora
-4766502?service=print
2 Karl Marx. O 18 Brumário de Luís Bonaparte
pitalista, com seu modelo de desenvolvimento
as crises que deflagrou. Ele não pode resolver a
suas campanhas eleitorais para depois cobrar o
seu ímpeto.
terá sofrido um enorme revés. O risco do “ma-
(várias edições disponíveis online).
produtivista-consumista, baseado na matriz
crise ecológica porque fazê-lo implica em colo-
preço amargo da destruição e da inviabilização
O governo brasileiro, que atualmente faz
rinismo” – combinação de crítica ao desenvol-
energética fóssil e um modo de vida das elites
car limites ao processo de acumulação – uma
de todas as formas de vida.
do nosso país um dos Estados nacionais mais
vimentismo petista com toques pragmatismo
http://www.culturabrasil.pro.br/zip/18brumario.pdf
econômicas mundiais baseado no consumo os-
opção inaceitável para um sistema baseado na
eficientes na tarefa de garantir a acumulação
mercadológico tucano, envoltos por uma figura
tensivo e perdulário, que são, a um só tempo e em
regra ‘cresça ou morra’”.
capitalista, percebe que não pode deixar a
messiânica dotada de compaixão e benevolência
Miguel Borba de Sá é professor de Relações
todas as escalas, ambientalmente insustentáveis
Cúpula dos Povos obter grande projeção na
carismática – é real e pode colocar todos os es-
Internacionais das universidades Candido Mendes
e socialmente injustos.
sociedade ou na mídia. Assim, rapidamente
forços de construção da Cúpula dos Povos, como
e PUC-Rio, além de assessor técnico do Instituto
Outros sinais dessa crise são a escassez da
preparou uma estratégia de esvaziar a Cúpula
espaço realmente dos povos, em risco.
Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS,
A autonomia do espaço, mesmo que a duras penas, foi mantida. Ao fim, a economia verde
Se a mensagem dominante na Cúpula dos
foi explicitamente rechaçada pela Cúpula. Mas
3 matéria da Verena! Estou tentando achar o link.
Denunciamos os discursos e as práticas supostamente voltadas para a preservação
Trata-se, assim, não só de uma crise am-
de ecossistemas, mas cuja retórica esconde
biental e social, mas uma crise da própria civi-
nefastos interesses pela exploração acelerada
lização do capital, de sua lógica econômica, de
dos recursos naturais e a conseqüente desa-
água, onde uma em cada quatro pessoas no
seu modelo de desenvolvimento, de seu modo
gregação dos diversos biomas e modos de vida
e con f u nd i r o senso comu m at ravés dos
P recisamos ter o máximo de cuidado com
mas os argumentos contidos neste artigo são de
mundo de hoje não tem acesso a água potável; a
de vida e de seus valores que engendram, a um
humana a eles associados. Esse conjunto de
“Diálogos com a Sociedade Civil na Rio+20 .
as apropriações que diversos atores tentarão
responsabilidade exclusiva do autor e não refletem
extinção das espécies, que é a mais elevada em
só tempo, uma desigualdade social cada vez
práticas ecocapitalistas baseiam-se em cons-
Mais uma vez, as organizações, movimentos,
fazer da Cúpula e não nos deixar levar por
necessariamente as posições de nenhuma dessas
65 milhões de anos; e a ruptura da capacidade
mais abissal entre uma oligarquia global e os
tatações genéricas e, muitas vezes, distorcidas
sindicatos e redes constituintes da Cúpula dos
estratégias de domesticação, individualização
instituições.
regenerativa da terra, que se deu em 1980 e faz
mais de um bilhão de humanos que sobrevivem
a partir dos grandes processos ambientais e
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CARTA DE CURITIBA
CARTA DE CURITIBA
significam, no limite, uma estratégia global
sociais passa a ser apoiado por forças marca-
como todas as demais formas de vida. Esse ser
Nossa inserção institucional deve ocorrer
trabalho, os despejos e remoções forçadas de
brasileiros, com garantia da participação públi-
para conduzir a política ambiental em direção
das pelo conservadorismo mais reacionário, a
em processo, em construção, tem como pre-
em todos os espaços de discussão das políticas
comunidades pobres, o estímulo à prostituição
ca qualificada na gestão e integração aos modos
à segregação social e espacial e ao desarranjo
irresponsabilidade ambiental e a corrupção,
missas a igualdade social, a sustentabilidade
públicas, tanto nos conselhos e comissões
e tráfico de mulheres e crianças, bem como à
de vida das comunidades locais.
das áreas ecologicamente mais importantes
vemos que o embate se dá contra dois campos
ecológica, a defesa da diversidade em seus
oficiais como nos fóruns temáticos dos mo-
redução da biodiversidade;
e preservadas.
que, apesar de eleitoralmente antagônicos, são
aspectos biológico, social, étnico e cultural,
vimentos sociais;
cada vez mais próximos nos interesses e nos
além de um novo modo de vida, fundado na
objetivos que perseguem.
premissa do “ser” sobre o “ter”.
Denunciamos, também, os traidores das grandes causas da esquerda que, entre a ga-
Frentes de luta e propostas de ação:
Por uma reforma agrária ecológica e uma
As comunidades atendidas e atingidas pelos
reforma urbana inclusiva e ambientalmente
grandes empreendimentos, obras de infra-es-
responsável! Contra o Deserto Verde, as mono-
trutura, planos diretores urbanos, unidades de
culturas e a especulação imobiliária!
rantia dos direitos das classes trabalhadoras
Só um partido que se reivindique da tra-
Os ecossocialistas propõem uma atuação
Denúncia e combate permanente à tentativa
conservação e projetos agroindustriais devem
Mobilidade humana é uma condição funda-
e a aliança com a burguesia internacional,
dição anticapitalista, mas que tenha rompido
transversal, pois a luta ambiental deve intera-
de flexibilização da Polítca Ambiental, notada-
ter garantida sua participação qualificada,
mental para o futuro da sociedade e isso significa
optaram por esta última e se transformaram
com as experiências autoritárias, burocráticas
gir com os diversos movimentos que compõem
mente a revisão do Código Florestal, reforçando
continuada e legitimada em todas as suas fases,
um apoio irrestrito a movimentos contra a cares-
nos principais fiadores da desgraça e da des-
e predatórias do chamado “socialismo real”
a luta pela emancipação social, incluindo as
o ato nacional já convocado pelos movimentos
desde os diagnósticos até as medidas para tra-
tia dos transportes públicos (movimentos pelo
truição ambiental. É preciso lembrar que a
– um partido que dialogue e interaja com as
organizações que levantam as bandeiras da
sociais no dia 07/04/2011 em Brasília, os atos
tamento dos impactos.
passe livre e pela tarifa zero), além da luta por
opção pelo crescimento econômico indiscri-
comunidades tradicionais e os movimentos
reforma agrária e da reforma urbana, a luta
estaduais convocados para o dia 28/04 e a atu-
Ampla mobilização para enfrentar a questão
uma gestão mais transparente dos sistemas de
minado está diretamente ligada à adaptação
sociais, ecológicos e socioambientais – pode
sindical e da juventude, bem como dos mo-
ação do Deputado Federal Ivan Valente, com
nuclear e barrar o programa nuclear brasileiro
transporte urbano, a integração entre os diversos
da economia brasileira para pagamento dos
fazer face a esse processo de degradação e
vimentos contrários ao racismo ambiental e
sua crítica constante e contundente a mais esse
através do parlamento e dos movimentos so-
modais e o fim da dependência do rodoviarismo.
juros da dívida pública, pois a maior parte da
configurar alianças táticas e estratégicas para
pela igualdade e equidade racial e de gênero.
ataque do Capital ao meio ambiente;
ciais! Pelo descomissionamento de Angra 1, 2
Ainda no âmbito das cidades, o lixo e demais
grande produção é voltada para a exportação.
a luta ecossocialista.
Nossas principais diretrizes de organização:
Acompanhamento, denúncia e resistência
e 3! Pelo cancelamento de novos projetos de
resíduos sólidos constituem um desafio inadiá-
A exportação de commodities é também ex-
É verdade que o Ecossocialismo ainda é
É urgente e necessária a construção do
às arbitrariedades e desvios dos projetos, das
usinas nucleares e do uso militar de artefatos
vel. É preciso atacar com adequada didática os
portação de água, energia e vida do nosso povo
uma promessa, uma aposta, mas é uma neces-
programa ecossocialista como forma de qua-
obras e impactos do PAC, inclusive na prepa-
e reatores!
aspectos degradantes do sistema produtivo, tais
e dos nossos ecossistemas. Numa conjuntura
sidade premente para garantir nossa sobrevi-
lificar melhor o debate interno ao partido e a
ração para os megaeventos, principalmente
Ampliar as áreas protegidas por unidades
como a irresponsabilidade das empresas com as
onde um governo construído a partir das lutas
vência enquanto espécie e sociedade, assim
sua relação com a sociedade;
no que tange à degradação das condições de
de conservação nos diversos ecossistemas
embalagens de seus produtos e a ausência de políticas sérias de reciclagem, valorização e proteção aos profissionais da limpeza urbana e da catação. As zonas costeiras devem ser geridas como bem público inalienável e como santuário da vida. Portanto, repudiamos toda e qualquer atividade que cause constrangimentos à pesca e à navegação artesanal; ao uso público das praias e demais bens naturais litorâneos; ou a ameaças aos patrimônios genéticos marinhos e estuarinos. Pelo reconhecimento e demarcação de territórios quilombolas, terras indígenas e reservas extrativistas! Contra o Racismo Ambiental! Contra a Criminalização dos movimentos sociais e as prisões políticas de lideranças e militantes! Afinal o que se coloca para a humanidade é o desafio da constituição dessa nova sociedade que possa vir a ser, a um só tempo, politicamente democrática, socialmente justa e igualitária, cultural e etnicamente diversa e ambientalmente sustentável. Assim, na esteira de Löwy, poder-se-ia atualizar a consigna de Rosa Luxemburgo para “Ecossocialismo ou Barbárie”! Em memória de Chico Mendes e Irmã Dorothy Stang
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NUCLEAR? Não!
NUCLEAR? Não!
Não à energia nuclear no Brasil
presente para decidir sobre
9 Mundo afora, a energia nu-
sua utilização. Estima-se em
clear está sendo abandonada
6 bilhões de toneladas de re-
por parte de países que impor-
1 É certo que necessitamos de energia para
síduos radioativos produzidos
tam grande parte de energia
nossa sobrevivência e bem estar: produzir
até os dias atuais. A par da sua
pa ra seu consumo próprio.
alimentos, produtos e equipamentos a serviço
duração, soma-se o problema
Recentemente foi o caso da
de mais qualidade de vida, nos proporcionar
ainda não resolvido quanto à
Suíça e da Alemanha, que de-
mobilidade para usufruir de liberdade, conhe-
acomodação segura dos rejei-
sativará seus nove reatores
cer o mundo, abraçar a felicidade. Quando a
tos com maior radioatividade,
ainda em funcionamento, até
energia que utilizamos, porém, compromete o
soluções que envolvem desde
2022. A Itália seguiu essa his-
bem estar das futuras gerações, estamos diante
a construção de mega-bunkers
tór ica decisão, media nte o
de um sério problema ético. Garantimos a nós
em minas profundas e de silos
inquestionável resultado de um
o que não podemos garantir a elas. Pior, com o
em montanhas, a complexas
uso da energia nuclear assinamos uma fatura
acomodações em profundezas oceânicas,
acréscimo de energia somente na reforma de
amplamente favorável ao abandono da energia
que elas inexoravelmente pagarão com enorme
todas elas altamente custosas e questionáveis
antigos geradores nas usinas hidrelétricas e
nuclear naquele país, também carente de fontes
custo – cuidar de rejeitos tóxicos perigosíssimos
quando à sua suposta “absoluta segurança”.
mais um tanto em melhorias nas redes de dis-
externas para suprir sua demanda de energia.
tribuição, tecnologicamente ultrapassadas, e
Os exemplos acima atestam que em países nos
os quais permanecerão nessa condição por uma
plebiscito que se posicionou
eternidade. A equação do uso da energia nuclear
6 A construção de centrais nucleares envolve
que tem gerado constantes apagões por todo
quais a democracia participativa alcança as de-
começa pela ética, que, para nós, coloca *A VIDA
um fator normalmente afastado da opinião
país. Diante dos números e dos fatos, abrir mão
cisões energéticas, os governantes não relutam
SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR, *paradigma
pública – a vulnerabilidade militar, pois se
de Angra III, além de desligar Angra I e Angra
em decidir pelo abandono de origem nuclear.
que deveria orientar todas as nossas decisões.
tornam alvos privilegiados diante de qualquer
II, em nada comprometeria o desempenho e
Esse terrível “legado” que deixamos para as
conflito sério. Contra esse fator não há antídotos
produção de energia no país que, aliás, está
10 Recente pesquisa de opinião realizada pelo
futuras gerações, é fazê-las cuidar de um pas-
confiáveis, e a forma de mascará-los é propor
sobrando nos dias atuais, conforme atesta o
IBOPE, parte brasileira da pesquisa global
sivo associado à morte - atitude anti-humana e
investimentos correspondentes na área militar,
próprio Ministério de Minas e Energia.
sobre o assunto, divulgada em abril do corrente
antivida em todos os sentidos, injustificável sob
sofisticando os sistemas defensivos e de ataque,
ano, constatou que 54% dos brasileiros são
todos os pontos de vista, mesmo sob o olhar de
falacioso. Ao se computar toda a produção de
eventos que mais ficaram em nossa lembrança,
incluindo aí, o emprego de armas nucleares,
8 A forma como é gerenciado o sistema elé-
contra o uso da energia nuclear para geração
uma pretensiosa racionalidade científica.
gases, notadamente o CO2 produzido ao longo
a par das vozes que defendiam sua incolumida-
submarinos nucleares e sistemas de escudos de
trico brasileiro está mais para uma impene-
de eletricidade, resultado que se alinha com
da construção, operação e desmonte de uma
de a acidentes operacionais e ocasionados por
mísseis, nada que na prática afasta por comple-
trável “caixa-preta” do que para uma gestão
a opinião no mundo todo depois dos recentes
2 Diante de outras alternativas energéticas, o
usina nuclear, chega-se a conclusão de que a
forças da natureza, como mais uma vez, se viu
to as ameaças que sobre elas pairam. Em ver-
transparente em um país dito democrático, o
eventos no Japão. De outra parte, 57% afirma-
custo/benefício da energia nuclear é altamente
apregoada “energia limpa”, além de terrivel-
desmentir nos eventos trágicos em Fukushima.
dade, o antídoto só faz incrementar ainda mais
que comprova a tese de que vivemos em uma
ram “estarem preocupados com um acidente
negativo. O ganho líquido de energia, estimado
mente tóxica, é também suja quanto à produção
a soma das vulnerabilidades de um país. Como
democracia de fachada e salienta a importân-
nuclear no país”, o que reforça os indícios
em apenas 25% do que total gerado é tão irrisó-
de gases do efeito estufa. A falácia está em re-
5 A longevidade de uma central nuclear é
alvos militares privilegiados que são, passam a
cia que tem a bandeira de controle social sobre
sobre o péssimo gerenciamento da questão
rio, que não compensa o enorme investimento
tratar apenas a energia gerada isoladamente do
curta (30 anos), e, considerando todas as suas
ter um status de segurança ainda mais obscu-
o Estado e as políticas públicas, no caso, na
nuclear em nosso meio, sob todos os pontos
aplicado, o qual inclui o tempo necessário
contexto da construção das instalações e com-
fases, o tempo de geração é quase o mesmo
ro e elevado, tornando o controle social sobre
área energética. Um núcleo hermeticamente
de vista – planejamento, financeiro, segu-
para gerenciar o armazenamento final do lixo
plexa gestão para sua obtenção, além daquela
que o tempo de planejamento da construção,
esse sistema ainda mais difícil. Normalmente,
fechado de tecnocratas enclausurados em
rança, operacional, solução para os rejeitos
radioativo, assim como todas as peças da estru-
posteriormente gasta em sua desmontagem e
sua construção propriamente dita, o plano de
o “pacote atômico” é legitimado com o rótulo
alguns poucos órgãos do Estado – Ministério de
radioativos. Cientistas de todo mundo também
tura dos reatores. Investimento esse, no caso
“eterna guarda” dos rejeitos finais.
desmonte, o desmonte propriamente dito, a
patriótico de “orgulho nacional”, fator de pro-
Minas e Energia - MME, Empresa de Pesquisas
vêm se posicionando contra o uso da energia
disposição dos rejeitos e seu guarnecimento
jeção política do país no cenário internacional.
Energéticas – EPE, Comissão Nacional de
nuclear, como foi o caso dos ganhadores do
Energia Nuclear – CNEN e a Agência Nacional
Prêmio Nobel Alternativo, em manifesto con-
do Brasil, de origem exclusivamente pública. Deixa-se de investir em escolas, portanto, para
4 A história da obtenção de energia através da
seguro. Comparando-se nossa curta escala
investir em uma central nuclear. Diante dos
fissão atômica compreende uma vasta e trágica
temporal civilizatória com o tempo de efetiva
7 A proporção das energias renováveis na
de Energia Elétrica - ANEEL, decide arbitrária
junto feito em 29.04.11, a partir de Hamburgo
avanços tecnológicos obtidos na geração de
coletânea de acidentes que deixaram milhares
anulação da radioatividade produzida pelos
matriz energética brasileira é uma das maio-
e unilateralmente sobre os modelos, o volume
e Estocolmo, assinado por 50 personalidades,
energia eólica, solar e de biomassa, atualmente
de pessoas mortas e deformadas e imensos
rejeitos atômicos, pode-se afirmar com toda
res do mundo dentre as maiores economias
de produção e a gestão do sistema energético
exigindo o banimento da energia nuclear no
a energia nuclear é a mais cara do ponto de vista
territórios estéreis em várias partes do mundo,
segurança, que os mesmos são de duração
da atualidade, sendo que a energia nuclear
nacional. No caso da energia nuclear, ainda se
planeta, seguidos de manifestações semelhan-
financeiro, portanto, claramente antieconômi-
v irtua lmente impenetráveis e fortemente
permanente, certamente para dezenas de
representa menos de 3% do total. Bastaria
valem do manto do sigilo em função do fator de
tes, também aqui no Brasil.
ca sob o prisma “estritamente capitalista”.
guarnecidas a *manu militari*, além de inúteis
gerações vindouras. O decaimento radioati-
que investimentos há muito reivindicados
“segurança nacional”, pelo fato de envolver a
para utilização na agricultura, por exemplo.
vo (meia vida) da maior parte dos materiais
fossem feitos em eficiência energética a fim
construção do submarino nuclear por parte da
Setorial Ecossocialista Paulo Piramba
3 O argumento de que a energia nuclear
Um legado de desastres continuados, Three
utilizados soma milhares de anos, um pesado
de compensar essa pífia produção. Cálculos
Marinha, assim como os reatores de pesquisa
Apresentado no 3º Congresso Nacional do PSOL
não gera gases do efeito estufa, é claramente
Mile Island, Chernobyl, Goiânia, estão entre os
legado transferido para quem sequer hoje está
indicam que se obteria seguramente 10% de
que lhes darão suporte.
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Expediente
FUNDAÇÃO LAURO CAMPOS
Organizadores Luciene Lacerda João Alfredo Telles Melo
Diretoria
Assistente editorial Sérgio Granja Bruno Mattos Coordenação Nacional do Setorial Ecossocialista Paulo Piramba • PSOL Beto Bannwart • SP Gert Schinke • SC João Alfredo Telles Melo • CE José Romari Dutra da Fonseca • RS Luiz Felipe Bergmann • PR Ricardo Nespoli • ES Ronaldo Freitas Oliveira • BA Jorge Borges • RJ Suplentes Israel Dutra • RS Ivanildo • PR Georgia Mocelin • SP Arnaldo Fernandes • CE Projeto gráfico, editoração e direção de arte Fernando Braga (21) 8893 7235 Jornalista responsável Marco Antônio Pelaes Costa RG 335421RS Revisão Silvia Mundstock Produção Executiva Silvia Mundstock Endereço Av. Rio Branco, 185, Sala 1525 Centro, Rio de Janeiro – RJ CEP 20.040-007 Fone (21) 2215 2491
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Presidente de honra Oraida Policena de Andrade Campos DIRETORIA EXECUTIVA Diretor Presidente Carlos Roberto de Souza Robaina Diretor Técnico Luiz Arnaldo Dias Campos Diretor Financeiro Rodrigo da Silva Pereira CONSELHO DE CURADORES Presidente Mário Agra Junior Vice-presidente José Enrique Morales Bicca Membros titulares Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho Ewerson Claudio de Azevedo Ema Regina Greber Carneiro Breno de Souza Rocha Antonio Jacinto Filho Membros suplentes Israel Pinto Dornelles Dutra Juliano Medeiros Honório Luiz de Oliveira Rego CONSELHO FISCAL Presidente Antonio Carlos de Andrade Membros titulares Alexandre Varela Luciana Gomes de Araújo Membros suplentes Jaqueline Teresa Aguiar João Batista Oliveira de Araújo
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ISSN 1984-4700
A n o I V | N º 1 | J u n h o d e 2 0 1 2 Uma publicação da Fundação Lauro Campos
R
e
v
i
s
t
a
ECOSOCIALISTA
Rio+20: Ecossocialismo ou Redução de Danos por Paulo Piramba Sociedade contemporânea e crise ecológica: universalismo ou questão de classe? Por Rodrigo Santaella Os ecossocialistas e a unidade necessária Por José Romari Dutra da Fonseca Entrevista Michael Löwy critica Rio+20 e a propaganda da ‘economia verde’ A economia cinzenta pode virar verde? Por Marcos Arruda e Sandra Quintela Brasil 2012: diagnóstico de injustiça socioambiental e perspectiva de luta ecossocialista Por Beto Bannwart e Georgia Mocelin Os venenos que o capitalismo nos serve Por Luiz Felipe Bergmann A hora do veto ao novo Código Florestal Por Ivan Valente Entrevista Osmarino Amâncio Plano de manejo invade reserva extrativista O desafio da construção de um mandato municipal ecossocialista Por João Alfredo Telles Melo
ECOSSOCIALISMO OU BARBÁRIE