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Exclusão, inclusão e engagement: batuta pela qual se regem as gestoras nacionais

NÚMERO 47 NOVEMBRO E DEZEMBRO 2022 .

FUNDOS DESTACADOS PELOS SELECIONADORES PORTUGUESES: O ANO DOS MULTIATIVOS FLEXÍVEIS

EM MAIS UMA SONDAGEM SOBRE OS FUNDOS DESTACADOS DO ANO, SÃO VÁRIAS AS TENDÊNCIAS QUE FICAM EVIDENTES. A MAIS RELEVANTE, A LIDERANÇA. ENTREVISTAS HUW DAVIES, JUPITER AM THOMAS MOORE, INVESCO NEGÓCIO DESAFIOS DE UMA BANCA PRIVADA EM MUTAÇÃO LEGISLAÇÃO NOVO REGIME DE COMERCIALIZAÇÃO TRANSFRONTEIRIÇA DE OICVM ESTILO COSTA RICA AUTOMÓVEIS CLÁSSICOS

EXCLUSÃO, INCLUSÃO E ENGAGEMENT

A BATUTA PELA QUAL SE REGEM AS GESTORAS NACIONAIS

Política de sustentabilidade, política de investimento sustentável ou mesmo política ESG, são vários os nomes dados ao documento que as entidades gestoras de fundos mobiliários nacionais disponibilizam no seu website. Dissecamos agora as principais semelhanças e diferenças no que se refere à política de investimento.

27/09/2022 12:21 A principal limitação que carateriza a abordagem ESG prende-se com a falta de informação disponível ou mesmo falta de uniformização da mesma. Na tentativa de colmatar este defeito, o Parlamento Europeu lançou em novembro de 2019 um regulamento que visa a divulgação de informações relacionadas com a sustentabilidade no setor dos serviços financeiros. Uma das alíneas presente no documento visa informar os investidores finais “sobre a forma como os intervenientes no mercado financeiro e os consultores financeiros integram os riscos relevantes em matéria de sustentabilidade, significativos ou potencialmente significativos, nos seus processos de tomada de decisões de investimento”. A referida alínea exige ainda às entidades a partilha desta informação nos seus websites.

Ao todo, conseguimos recolher dos respetivos websites de entidades gestoras de fundos mobiliários informação relativa a nove entidades nacionais que partilham claramente o impacto que a política de sustentabilidade tem no seu processo de investimento. Na sua génese, atendendo à imposição de regulamentação a cumprir, os documentos tendem a ser muito homogéneos. A maioria das entidades conta com critérios de exclusão e até critérios de inclusão, no entanto, apenas quatro têm expressa na sua política de sustentabilidade a vontade de contribuir para um mundo mais ESG através da participação ativa nos segmentos onde investe o seu capital - o chamado engagement.

Não obstante, é importante fazer uma ressalva. Pelo conhecimento que a FundsPeople tem de todas estas entidades gestoras, uma coisa será

POLÍTICAS DE INVESTIMENTO SUSTENTÁVEL DAS ENTIDADES GESTORAS

ENTIDADE GESTORA EXCLUSÃO INCLUSÃO ENGAGEMENT

“(...) não serão consideradas como elegíveis para investimento empresas com um nível de exposição de receitas relevantes a indústrias consideradas socialmente controversas”.

“(...) aprova restrições específicas ao universo de investimentos, relacionadas principalmente com empresas significativamente envolvidas, direta ou indiretamente, nestas atividades e a controvérsias classificadas como “muito severas”.”

“(...) evita investir em qualquer entidade ou empresa cuja principal atividade comercial ofereça ou envolva a promoção, produção, distribuição ou comercialização de produtos ou serviços relacionados com (…)”

“Análise de exclusão, aplicada principalmente às empresas, dependendo da natureza dos negócios que realizam ou porque identificaram riscos, através de possíveis controvérsias das empresas analisadas”.

“(...) é desenvolvida uma política de exclusão nas áreas empresariais que têm um elevado impacto ambiental, social ou económico (...)”.

“(...) evita investir em qualquer entidade ou empresa cuja principal atividade comercial ofereça ou envolva a promoção, produção, distribuição ou comercialização de produtos ou serviços relacionados com (…)” “(...) serão privilegiadas, em cada um dos setores de atividade, empresas com um rating ESG mais elevado”.

“(...) selecionando preferencialmente aquelas que incorporem fatores ESG nos seus processos de investimento e que desenvolvam mecanismos de envolvimento”.

“(...) dedica atenção prioritária na execução de decisões de investimento, sem prejuízo das especificidades da política de investimento de cada organismo de investimento coletivo ou carteira gerido (...)”

“Análise do comportamento dos emissores em relação a diferentes critérios ambientais, sociais e de governo corporativo”.

“Consiste na tomada de decisões baseadas numa seleção de investimentos com a melhor pontuação ou classificação ESG”

“(...) dedica atenção prioritária na execução de decisões de investimento, sem prejuízo das especificidades da política de investimento de cada organismo de investimento coletivo ou carteira gerido (...)” “(...) é aprofundado o âmbito das interações e votações de acionistas com as empresas alvo de investimento em matérias ESG”.

“(...) promove o diálogo ativo com as entidades e os gestores de ativos, quer diretamente, quer participando em ações coletivas destinadas a adotar as medidas necessárias à modificação de práticas ou atividades polémicas (...)”.

“(...) privilegia o investimento em empresas que adotam as melhores práticas ao nível dos critérios ESG (...)”

n.a

“(...) consubstancia as ações previstas em matéria de execução do direito de voto e de diálogo ativo com as empresas em que investem (...)”

n.a

Fonte: Informação recolhida do documento partilhado no website de cada uma das entidades gestoras. n.a - não apresenta.

OS CRITÉRIOS QUE RESTRINGEM O UNIVERSO DE INVESTIMENTO DAS ENTIDADES GESTORAS SÃO MUITO SIMILARES

comum a todas: o dever fiduciário de cuidar da melhor forma do dinheiro dos seus clientes - de propocionar um retorno adequado ao risco - sobrepõe-se ao seu papel de potencial impulsionador de um mundo mais sustentável. O que fica claro também é que algumas entidades encaram de forma mais robusta os riscos ESG na sua própria definição de risco e, portanto, parte desse dever fiduciário.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Os critérios que restringem o universo de investimento das entidades gestoras são muito similares. Na política de sustentabilidade da Santander AM podemos ler: “Os fundos procuram não investir em valores mobiliários de empresas ou países que incorram em práticas que violam tratados internacionais e em empresas direta ou indiretamente envolvidas em certas atividades”.

O critério de exclusão ambiental é, em linhas gerais, aplicado a empresas que operam no setor das armas e munições, energético (principalmente carvão térmico e petróleo), jogo, tabaco e pornografia. A nível social, os investidores procuram afastar-se de empresas com

problemas de discriminação baseada no género, direitos humanos, normas laborais na cadeia de abastecimento, trabalho infantil e escravidão e/ou empresas que não atentam à gestão do capital humano, nomeadamente na saúde e segurança no trabalho e na formação do mesmo. Por fim, o critério de governance filtra empresas que não protegem os direitos dos acionistas, com uma fraca estrutura de remuneração, um défice na composição dos órgãos de administração e que não cumprem as suas obrigações fiscais.

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Os critérios de inclusão são o passo seguinte na política de sustentabilidade das entidades gestoras. A Sixty Degrees afirma que “todas as decisões de investimento para a aquisição de ativos para os fundos sob gestão deverão ser efetuadas considerando os riscos de sustentabilidade que resultarem de uma avaliação promovida pela sociedade ou por terceiros, através de ratings disponíveis no mercado”.

No fundo, as empresas mais eficientes energeticamente, que melhor tratam o seu capital humano e com for-

HÁ A NECESSIDADE DE CAUTELA PARA QUE UM MOVIMENTO VANTAJOSO PARA TODOS NÃO SE TORNE NUM PASSO DEMASIADO GRANDE ENTIDADES

tes medidas de gestão organizacional, são na maioria das vezes as empresas com melhor base para gerar retornos no longo prazo. A Caixa Gestão de Ativos leva este critério mais longe e determina que as suas carteiras sob gestão discricionária sejam constituídas por, pelo menos, 85% de ativos com rating ESG.

ENGAGEMENT

Resta destacar as quatro entidades que, para além de um critério de exclusão e um critério de inclusão, procuram também impactar o universo onde investem os ativos que lhes são confiados.

A BPI Gestão de Ativos expressa claramente esta vontade: “Um diálogo construtivo pode promover a melhoria das características ambientais e sociais das entidades onde os fundos investem, bem como a gestão de riscos ou o governo corporativo”. Esta atua principalmente através de três vertentes: acompanhamento constante das principais questões (desempenho financeiro e não financeiro, estrutura de capital e impacto ESG), diálogo com as várias entidades e o exercício dos direitos de voto associados às ações detidas.

A Caixa Gestão de Ativos, a GNB Gestão de Ativos e a Bankinter Gestão de Ativos visam aprofundar as interações e votações com as empresas alvo de investimento em matérias ESG.

Expressar as suas políticas sustentáveis foi apenas um dos desafios já enfrentados por parte das entidades gestoras. Com a pressão exercida pela regulação, cada vez mais aumenta o esforço necessário para satisfazer os requisitos básicos e, consequentemente, os custos associados. Há a necessidade de cautela para que um movimento bom e vantajoso para todos não se torne num passo demasiado grande para as pernas das entidades.

A OPINIÃO DE

PALOMA TORRES Vendas de ETF e fundos indexados, UBS AM Iberia

OBRIGAÇÕES DE BANCOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA FORMA POSITIVA DE DIVERSIFICAR UMA CARTEIRA

Os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (BMD) são instituições financeiras supranacionais dedicadas a fornecer financiamento e know-how para projetos de desenvolvimento económico e social. Foram fundados por estados soberanos que contribuem com capital e oferecem garantias que permitem aos BMD angariar fundos nos mercados de capitais internacionais a taxas atrativas. Dado que os BMD são organizações sem fins lucrativos, podem então conceder empréstimos a países menos desenvolvidos em condições atrativas. Por exemplo, o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, parte do Grupo do Banco Mundial, é o mais antigo BMD. O seu mandato é ajudar a promover o desenvolvimento económico e ajudar a erradicar a pobreza a nível global. Está empenhado em apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. As obrigações dos BMD representam uma oportunidade de investimento sustentável em dívida denominada em dólares de alta qualidade. As obrigações BMD também são fonte de diversificação, dada a amplitude e a variedade das atividades dos BMD nos diferentes países em desenvolvimento. Além disso, as obrigações dos BMD têm apresentado a longo prazo características de rendibilidade/ risco semelhantes com as obrigações do tesouro americano. Como tal, as obrigações dos BMD desempenham numa carteira um papel diversificador e defensivo, além de gerarem um impacto positivo numa perspetiva de sustentabilidade.

DIOGO GOMES, CRM SÉNIOR, UBS AM IBERIA

As carteiras 60/40 estão de volta?

As perspetivas macroeconómicas continuam a ser incertas, a combinação de um abrandamento do crescimento e de uma inflação persistente faz-nos pensar que a volatilidade nos mercados vai continuar. No nosso cenário central de final de ano, atribuímos as mesmas probabilidades a uma recessão, período de estagnação ou aterragem suave da economia. As consequências para o mercado destes cenários diferem muito. É por isso que o nosso foco está nas estratégias de valor relativo, mais resilientes neste tipo de entorno.

Na UBS AM acreditamos que o elemento chave no atual conjuntura económica é que a inflação é demasiado alta. Embora alguns dos componentes da inflação na sequência da pandemia e da guerra na Ucrânia já estão a diminuir, outros, como os alugueres e os serviços básicos, estão a aumentar.

Por outro lado a atividade económica está a abrandar. A subida das taxas de juro afetou o investimento imobiliário e a produção industrial, esta ultima também se vê afetada pela mudança do padrão de consumo de bens para serviços, além de um excesso de stocks.

Os bancos centrais estão sob pressão, a inflação é demasiado elevada e, em algumas economias como os EUA e o Reino Unido, o mercado de trabalho também está sob pressão. É pouco provável que a Reserva Federal mude de rumo enquanto as pressões salariais não diminuam substancialmente. Por conseguinte, é pouco provável uma inversão das política monetária a curto médio prazo.

A Europa fez um trabalho extraordinário com o aumento das reservas de gás natural, o que poderá permitir mitigar os possíveis efeitos negativos da crise energética durante o inverno. Não obstante, grande parte do modelo de negócio da região passa por desenvolver grandes excedentes comerciais que dependem em parte do gás russo de baixo custo para uso industrial, mas os dias em que a energia era barata já se foram há muito. Por conseguinte, consideramos que a Europa terá de estimular o crescimento de outra forma, ou arriscar-se a um novo período de baixa atividade. É importante que os governos europeus assumam uma posição orçamental mais pró-ativa. Mais importante ainda, a Europa deixou de exportar as suas poupanças para o resto do mundo, uma mudança estrutural que implica um aumento das rentabilidades a nível global.

Por outro lado, a prioridade política da China neste momento é a estabilidade. O crescimento nesta região apresenta um padrão de para/arranca devido a medidas Covid zero, que deverão continuar pelo menos até à primeira metade de 2023. Pequim insiste por outro lado em corrigir os excessos no imobiliário, setor que deverá sofrer um declínio estrutural como motor de crescimento.

COMO É QUE ESTE CENÁRIO AFETA AS CARTEIRAS?

Neste contexto, acreditamos que as ações vão continuar num ambiente volátil. A intenção da Reserva Federal de manter políticas monetárias restritivas e arrefecer a atividade, limita as potencias subidas, enquanto que a resiliência dos resultados das empresas sustenta as presentes valorizações. Historicamente, quando o sentimento está em níveis tão baixos, os retornos futuros são positivos, mas em última análise, o que prevalece são as condições macroeconómicas. A taxa de juro final da Reserva Federal funciona como uma referencia para as demais classe de ativos, condicionam evolução do dólar e as condição sine qua non para que possa haver uma subida sustentada das valorizações.

A boa notícia é que depois da excecional correção que assistimos no mercado obrigacionista pela subida de taxas por parte dos bancos centrais, houve um aumento de atratividade deste mercado e do monetário numa perspetiva de investimento. E, daqui para a frente, isso deverá criar um contexto muito mais positivo para carteiras diversificadas 60/40.

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