SiMUR: Uma Experiência Participativa no Monitoramento de Uso de Recursos Naturais

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Documentos Técnicos FVA - Número 5

SIMUR: UMA EXPERIÊNCIA PARTICIPATIVA NO MONITORAMENTO DE USO DE RECURSOS NATURAIS

Marcelo Augusto dos Santos Jr. Simone Iwanaga Sérgio Henrique Borges Marcelo Paustein Moreira Carlos César Durigan Francisca Saldanha Fabiano Lopez da Silva

REALIZAÇÃO:

APOIO:

MANAUS

AMAZONAS AGOSTO 2018

BRASIL


A FVA é uma organização civil de inovação socioambiental que alia conhecimento tradicional e técnico-científico para a promoção de alternativas adequadas ao desenvolvimento socioeconômico regional sustentável.

Presidência José Luís Campana Camargo Vice-Presidência José Antônio Alves Gomes CONSELHOS Conselho Curador Manoel de Jesus Masulo da Cruz Marco Aurélio Bolognese Muriel Saragoussi Rodrigo Durães Fugii Sérgio Henrique Borges Conselho Fiscal Jorge Lima Daou Fred Andres do Couto Silva Cleucilene da Silva Nery COORDENAÇÃO EXECUTIVA Coordenador Executiva Fabiano Lopez da Silva Coordenadora Executiva Adjunta Ana Cristina Ramos de Oliveira PROGRAMAS Desenvolvimento Institucional Ana Cristina Ramos de Oliveira Ana Karina Ferreira de Pontes Célio Ribeiro dos Santos Joicicleide da Silva Batista Tatianna Portes Comunicação | Mosaico do Baixo Rio Negro Ana Cíntia Guazzelli Conservação para Gente Marcelo Mendes do Amaral Kiviane Castro Ribeiro Maria da Saúde Barbosa da Silva

Gente para Conservação Maria Inez Waak Adriana Rodrigues Saraiva Odiel Brindeiro Sousa Tatiana Rodrigues Boletta Amanda Nogueira Araújo Arianny Simões de Araújo Eide Lima da Silva Maia Itaciara Dias João Pedro Rebelo dos Santos Karolina Maria de Araújo Cordeiro Maickson dos Santos Serrão Pâmela Souza Suzana Machado da Silva Thessyvanda Torres da Cunha Valéria Marques Batista Valquiria Gomes Coelho Vanessa C. de Lima Vanessa Costa Silva Zevaldo Luiz Rodrigues de Sousa Geopolítica da Conservação Fabiano Lopez da Silva Ana Cíntia Guazzelli Francisca Saldanha Pablo Pacheco Lab. de Geoprocessamento Marcelo Augusto dos Santos Jr. Heitor Paulo Pinheiro Francisco Oliveira Sousa Júnior Ingrid Silva de Freitas*

Coordenação Geral Fabiano Lopez da Silva Coordenação Editorial Ana Cíntia Guazzelli Equipe SiMUR Marcelo Augusto dos Santos Jr. Simone Iwanaga Sérgio Henrique Borges Marcelo Paustein Moreira Carlos César Durigan Francisca Saldanha Fabiano Lopez da Silva Revisão Ana Cíntia Guazzelli Projeto Gráfico Simone Iwanaga Diagramação e Capa Artur Sgambatti Monteiro Sílvio Eduardo Sarmento Fotos Acervo FVA Patrocínio Gordon and Betty Moore Foundation

*estagiários

Observatório da Região Metropolitana de Manaus Artur Sgambatti Monteiro Igor Matheus Ferreira da Silva* EXPEDIENTE Sistema de Monitoramento de Uso de Recursos Naturais no Rio Unini – SiMUR. Descrição parcial de dados – Recursos naturais e Produtos agrícolas 2008 a 2016 Agosto 2018

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A série Documentos Técnicos FVA tem como objetivo divulgar resultados de experiências, estudos e análises realizados no escopo das ações da Fundação Vitória Amazônica, com a participação de especialistas e instituições parceiras. Documentos Técnicos FVA é uma publicação sem periodicidade, impressa e em formato eletrônico. Comissão editorial: Ana Cíntia Guazzelli Ana Cristina Ramos de Oliveira Artur Sgambatti Monteiro Fabiano Lopez da Silva Marcelo Mendes do Amaral Marcelo Augusto dos Santos Junior

SANTOS JR., Marcelo Augusto dos et al. SiMUR: uma experiência participativa no monitoramento de uso de recursos naturais. / Marcelo Augusto dos Santos Jr.; Simone Iwanaga; Sérgio Henrique Borges; Marcelo Paustein Moreira; Carlos César Durigan; Francisca Saldanha; Fabiano Lopez da Silva 2018. – Manaus: FVA, 2018. 31p.: il. (Documentos Técnicos FVA, 5) 1. SiMUR – Amazonas. 2. Rio Unini – Recursos Naturais 3. Monitoramento I. SANTOS JR., Marcelo Augusto dos. II. IWANAGA, Simone; III. BORGES, Sérgio Henrique; IV. MOREIRA, Marcelo Paustein; V. DURIGAN, Carlos César; VI. SALDANHA, Francisca; VII. SILVA, Fabiano Lopez da. VIII. Fundação Vitória Amazônica. IX. Título. X. Série. CDD 333.751 Ficha Catalográfica: Marcelo Augusto dos Santos Jr.

A reprodução total ou parcial desta obra é permitida, desde que citada a fonte.


Documentos Técnicos FVA 4 - 2018


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SUMÁRIO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

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PARTE 1. METODOLOGIA - SIMUR

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PARTE 2. FREQUÊNCIA, INTENSIDADE E ÁREA DE USO DOS RECURSOS NATURAIS

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PARTE 3. DIVERSIDADE DE RECURSOS NATURAIS UTILIZADOS PELAS COMUNIDADES DA

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BACIA DO RIO UNINI PARTE 4. USO DE RECURSOS NATURAIS ANIMAIS

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PARTE 5. RECURSOS NATURAIS DE IMPORTÂNCIA COMERCIAL

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PARTE 6. FAUNA DE INTERESSE PARA A CONSERVAÇÃO

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PARTE 7. O SIMUR EM NÚMEROS ATUALIZADOS

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FOTOGRAFIAS

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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

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SiMUR: uma experiência participativa no monitoramento de uso de recursos naturais



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ÍNDICE DE FIGURAS

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1. Bacia do rio Unini, área de atuação do SiMUR.

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FIGURA 2. Grade de células de 2km das localidades potenciais para a coleta de recursos

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naturais. FIGURA 3. Frequência de visitas às localidades da grade de 2km para coleta de recursos

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naturais. FIGURA 4. Intensidade pontual por unidade de área dos registros dos recursos coletados.

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FIGURA 5. Área utilizada para coleta de recursos naturais estimada a partir da densidade

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kernel. FIGURA 6. Totais e médias anuais dos recursos declarados de 2009 a 2016.

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FIGURA 7. Os 10 recursos naturais mais declarados no SiMUR.

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FIGURA 8. Percentual de citações por tipo de ambiente.

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FIGURA 9. Médias mensais do número de indivíduos por família para recursos terrestres.

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FIGURA 10. Médias mensais do número de indivíduos por família para recursos aquáticos.

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FIGURA 11. Intensidade pontual por unidade de área dos registros de quelônios aquáticos.

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FIGURA 12. Intensidade pontual por unidade de área dos registros de animais terrestres.

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FIGURA 13. Número médio de antas coletadas por família.

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FIGURA 14. Potencial médio de famílias entrevistadas que declararam anta.

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FIGURA 15. Número médio de queixadas coletados por família.

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FIGURA 16. Percentual médio de famílias entrevistadas que declararam queixada.

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FIGURA 17. Número médio de irapucas coletadas por família.

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FIGURA 18. Percentual médio de famílias entrevistadas que declararam irapuca.

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FIGURA 19. Percentual médio de famílias entrevistadas que declararam tracajá.

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FIGURA 20. Percentual médio de famílias entrevistadas que declararam tracajá.

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FIGURA 21. Área utilizada para coleta de cipó-titica.

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FIGURA 22. Área utilizada para coleta de cipó-timbó-açu.

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FIGURA 23. Produção de cipós por família na comunidade de Terra Nova.

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FIGURA 24. Produção de cipós por família para a bacia do rio Unini.

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FIGURA 25. Ariranha.

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FIGURA 26. Onça-pintada.

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FIGURA 27. Gavião-real.

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FIGURA 28. Peixe-boi.

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SiMUR: uma experiência participativa no monitoramento de uso de recursos naturais



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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

A gestão de áreas protegidas onde habitam povos tradicionais envolve processos decisórios complexos e que devem ser subsidiados por conhecimento local. Nesse sentido, o Sistema de Monitoramento do Uso de Recursos Naturais (SiMUR) surgiu como uma ferramenta de apoio à gestão do uso dos recursos naturais nas unidades de conservação (UCs) do rio Unini. Funcionando desde 2008, o SiMUR iniciou como um projeto da Fundação Vitória Amazônica (FVA), em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Centro Estadual de Unidades de Conservação do Amazonas (CEUC) e a Associação de Moradores do Rio Unini (AMORU), com apoio financeiro da Fundação Gordon & Betty Moore e do Projeto Corredores Ecológicos. O objetivo do SiMUR é subsidiar a gestão dos recursos naturais do rio Unini e de suas UCs a partir do conhecimento provido pelos moradores das 10 comunidades tradicionais do rio. Desta forma, o SiMUR vem como uma abordagem para auxiliar a gestão das UCs por meio da coletividade, participativa e de interação entre comunitários, técnicos e cientistas. Vale ressaltar que o sistema não é uma ferramenta de fiscalização ou de denúncia. Ele é caracterizado por: ser participativo, incluindo a atuação de moradores, pesquisadores e gestores das UCs; incluir a maior diversidade possível de recursos que estejam sob uso; ser padronizável; gerar informações aplicáveis à gestão de recursos naturais; gerar informações aplicáveis à gestão das UCs; ter custos dimensionados de forma razoável; ter estrutura modular e ser replicável. A informação é gerada e os resultados são compartilhados periodicamente com moradores, lideranças comunitárias e gestores das UCs. Com a informação gerada foram desenvolvidas estratégias, produtos e trabalhos para: • Gestão de unidades de conservação: Zoneamento da RESEX Unini (2012) para o Plano de Manejo da reserva (ICMBio); Proposta de redelimitação dos limites do Parque Nacional do Jaú e RESEX Unini (2012); Estratégias de beneficiamento e comercialização da castanha-da-Amazônia em parceria com a Cooperativa Mista Extrativista do Rio Unini – COOMARU (2013); Diagnóstico da produção de farinha de mandioca e sua distribuição pelas comunidades do rio Unini (RESEX Rio Unini – Eletrobrás); Oficinas participativas para identificar grupos-alvo de monitoramento para os protocolos complementares (Programa de Monitoramento in situ da Biodiversidade – ICMBio); Proposta de manejo e boas práticas no extrativismo de cipós e proposta para implantação de uma fábrica de beneficiamento de cipós para produção de vassouras (Fundo de Promoção Social, 2017); Projeto de Extrativismo Orgânico Sustentável da Castanha-da-Amazônia (RECABAAM, 2018); Subsídios para rodadas de negócios e negociações de mercado sobre a produção de castanha-da-amazônia (2018); • Projetos de pesquisa e dissertações de mestrado subsidiados com dados e informações geradas por meio do SiMUR: Monitoramento e manejo de cipó-titica (Heteropsis flexuosa) e cipó-timbó-açu (Heteropsis jenmanii) (FVA – FAPEAM, 2013); Relatório de impacto das UCs do programa ARPA na economia local (M. Amend, Programa ARPA, 2014); Parasitas gastrointestinais dos taiaçuídeos com interesse cinegético no PARNA Jaú, Barcelos, AM (L. R. Menegaldo – PPGMV/UNESP, 2014); Avaliação preliminar para potencial projeto de monitoramento de onças-pintadas nas bacias dos rios Unini e Jaú (J. Pezzuti, Núcleo de Estudos Amazônicos, UFPA, 2014); Castanheiros e Castanhais da Bacia do Rio Unini (dissertação de mestrado de A. F. C. Zingra, PPGCASA, UFAM, 2014); Proposta de manejo do pirarucu (Arapaima gigas) (2013); Proposta de manejo da castanha-da-amazônia (Bertholletia excelsa) (2014); Challenges of Participatory Community Monitoring of Biodiversity in Protected Areas in Brazilian Amazon, e Programas de monitoramento participativo como ferramentas para a gestão adaptativa de unidades de conservação do Amazonas (Artigo e tese de doutorado de D. C. Costa, PPGCASA, UFAM, 2018); Gestão de recursos comuns: regras de uso e padrões de captura de quelônios no baixo Rio Negro, AM (dissertação de mestrado de R. K. Acosta, CDS, UNB); • Estudos técnicos e apresentações em eventos: IV Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social (IV SAPIS), UFPA, Belém (2009); Unini: o rio da sustentabilidade, bases socioambientais para a gestão da bacia do rio Unini e de suas unidades de conservação (publicação institucional, FVA, 2011); V Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e SiMUR: uma experiência participativa no monitoramento de uso de recursos naturais


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INTRODUÇÃO

Inclusão Social (V SAPIS), UFAM, Manaus (2011); IX Semana de Ciência e Tecnologia do Amazonas (2012); II Encontro Internacional da Rede Ibero-americana de Investigação em Ambiente e Sociedade (2013); Série Técnica FVA nº 1 (publicação institucional, FVA, 2014); Seminário Internacional de Monitoramento Participativo para o Manejo da Biodiversidade e de outros Recursos Naturais (SIMPAR, 2014); Seminário Internacional sobre Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia (SIGAP, 2015); Fortalecimento Territorial e a Cadeia de Valor da Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) na Bacia do Rio Negro: o caso Unini (capítulo de livro: “Alimentos bons, limpos e justos: ampliação e qualificação da participação da agricultura familiar brasileira no movimento Slow Food”, Slow Food Brasil, UFSC, SEAD, no prelo); • Prêmios recebidos: Prêmio Nacional de Biodiversidade - menção honrosa (2015); Concurso de blogposts Ideação no tema “Inovação e Ecoeficiência na gestão e no monitoramento ambiental” (2016). A abordagem participativa adotada no SiMUR gera informações relevantes para a gestão de recursos locais focando na produção, extração e conservação de produtos da biodiversidade. O monitoramento de biodiversidade em larga escala representa um desafio muitas vezes logístico (envolvendo grandes extensões territoriais) e financeiro. Envolver as populações locais tradicionais no processo de coleta de dados, análises e aplicação dos resultados permite compreender melhor as dinâmicas locais do uso de recursos naturais. Assim pode ser aliado o conhecimento tradicional e científico em função de objetivos comuns. Neste sentido, o SiMUR representa uma valiosa ferramenta de monitoramento participativo que pode ser replicada em outras regiões da Amazônia.

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PARTE 1

PARTE 1

METODOLOGIA - SIMUR

A bacia do rio Unini cobre aproximadamente 2,6 milhões de hectares e inclui parcialmente ou totalmente três UCs: Parque Nacional do Jaú (PARNA do Jaú), na Reserva Extrativista Rio Unini (RESEX Unini) e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDS Amanã) (Figura 1). O SiMUR opera no PARNA do Jaú, na RESEX Unini e na RDS Amanã e as famílias participantes fornecem informações sobre os recursos naturais que foram utilizados por elas. Estas informações são organizadas e integradas a uma base de dados. Estes dados são coletados mensalmente em forma de entrevistas mensais realizadas por moradores voluntários que são capacitados e treinados para atuarem como monitores do SiMUR. As entrevistas seguem protocolos específicos para registrar grupos de recursos utilizados na região (Borges et al. 2014): 1. Peixes (pesca de peixes); 2. Quelônios aquáticos (pesca de indivíduos e coleta de ovos de quelônios aquáticos); 3. Caça (abate de fauna de mamíferos, aves, crocodilianos, serpentes e um quelônio terrestre); 4. Recursos vegetais (coleta de

recursos madeireiros e não madeireiros); 5. Peixes ornamentais; 6. Fauna especial (vestígios e encontros sem abate de 27 espécies de interesse para a conservação); 7. Produtos agrícolas (produção nos roçados); 8. Roçados novos (abertura de novas áreas para o plantio); 9. Predadores (formulário anexo ao de caça que registra dados adicionais de contexto de abate de 10 espécies, com foco especial em grandes predadores). A participação e adesão das famílias ao SiMUR é totalmente voluntária e não obrigatória. Os dados coletados no SiMUR representam declarações espontâneas das famílias participantes ao monitor, com base em recordações do que foi coletado, abatido, produzido ou vendido, dentro de um intervalo definido de tempo (um mês) e um lugar. São utilizados mapas para que o comunitário indique o local onde coletou determinado recurso natural. São dois mapas da bacia do rio Unini: o primeiro é dividido em células regulares (quadrados) de 2km x 2km (grade de 2km) e o segundo é dividido em células regulares de 5km x 5km (grade de

FIGURA 1. Bacia do rio Unini, área de atuação do SiMUR.

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PARTE 1

5km); as células de ambas as grades são numeradas independentemente. Registros próximos à comunidade são marcados no mapa com a grade de 2km (Figura 2) e os distantes à comunidade (e.g. próximo às cabeceiras dos rios) são marcados na grade de 5km. Os monitores são escolhidos pelas próprias comunidades e posteriormente são capacitados pela FVA para a realização das entrevistas. Por se tratarem de dados declaratórios e provenientes de entrevistas recordatórias, os resultados podem ser limitados e devem ser interpretados com cuidado devido a este viés de amostragem. Além disso, é importante levar sempre em consideração que estes dados representam uma amostra da dinâmica do uso de recursos naturais na bacia do rio Unini, ou seja, uma fatia da realidade local.

Uma vez que o número de famílias residentes na bacia do rio Unini varia anualmente, há uma variação relacionada a esta flutuação no número de famílias participantes do SiMUR. Isto influencia diretamente nas quantidades totais dos recursos registrados. Por esse motivo, sempre é importante olhar os dados relativizados pelo número de famílias declarantes de determinados recursos. A variação no número de famílias residentes na bacia do rio Unini deve-se ao fato de comunidades novas surgirem e outras serem abandonadas; famílias que se unem ou se separam; famílias que se mudam para fora da bacia do rio Unini e famílias que retornam, entre outras causas.

FIGURA 2. Bacia do rio Unini, área de atuação do SiMUR.

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PARTE 2

PARTE 2

FREQUÊNCIA, INTENSIDADE E ÁREA DE USO DOS RECURSOS NATURAIS

Para estimar quais localidades da grade de 2km x 2km são mais utilizadas para a coleta de recursos naturais, calculamos a frequência de utilização (visitas) àquela localidade com base nos dados de uso de recursos que possuem informações georreferenciadas. Os resultados indicam que as localidades da grade mais próximas às comunidades são as mais utilizadas e as localidades mais distantes são menos utilizadas (Figura 3). Para avaliar a concentração espacial dos registros de coleta, utilizamos a abordagem de densidade kernel para os pontos de coleta de recursos. O produto desta análise é um mapa com a intensidade de pontos por unidade de área. O resultado evidenciou que áreas próximas às comunidades são as mais intensamente usadas (Figura 4), ou seja, nelas está concentrada

a maioria dos pontos georreferenciados dos recursos coletados, indicando que os comunitários, na maioria das vezes que saem para coletar recursos, o fazem em áreas próximas às suas comunidades. Na estimativa da área utilizada pelos comunitários para a coleta de recursos, fizemos a vetorização da densidade kernel e calculamos a área em quilômetros quadrados (Figura 5). Alternativamente, calculamos a área de uso baseada na área e quantidade de células com registros da grade de 2km x 2km. Em acordo com as estimativas, a área utilizada para a coleta de recursos naturais foi respectivamente 2.293 km2 e 2.656 km2.

FIGURA 3. FREQUÊNCIA DE VISITAS ÀS LOCALIDADES DA GRADE DE 2KM PARA COLETA DE RECURSOS NATURAIS.

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PARTE 2

FIGURA 4. INTENSIDADE PONTUAL POR UNIDADE DE ÁREA DOS REGISTROS DOS RECURSOS COLETADOS.

FIGURA 5. ÁREA UTILIZADA PARA COLETA DE RECURSOS NATURAIS ESTIMADA A PARTIR DA DENSIDADE KERNEL.

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PARTE 3

PARTE 3

DIVERSIDADE DE RECURSOS NATURAIS UTILIZADOS PELAS COMUNIDADES DA BACIA DO RIO UNINI Para estimar a diversidade de recursos utilizados, inicialmente realizamos uma contagem por grupo de tipo de recurso. Em seguida, para entender a distribuição quanto aos totais, médias anuais e variação interanual dos recursos declarados pelas comunidades, realizamos uma contagem usando os nomes dos recursos declarados pelos comunitários e calculamos a média anual por comunidade utilizando (Figura 6). O total de recursos para o período igual a 160 e o total de famílias declarantes variou de 10 a 48 famílias por comunidade.

Para saber quais os recursos potencialmente mais importantes em termos de número de declarações, realizamos a contagem dos registros por recurso. Estes 10 recursos representam de 3% (pacuí) a 20% (piranha) do total de registros (45.154) (Figura 7).

FIGURA 6. TOTAIS E MÉDIAS ANUAIS DOS RECURSOS DECLARADOS DE 2009 A 2016.

FIGURA 7. OS 10 RECURSOS MAIS DECLARADOS NO SIMUR.

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PARTE 4

PARTE 4

USO DE RECURSOS NATURAIS ANIMAIS

A fim de estimar a diversidade de ambientes explorados para a coleta de recursos, realizamos a contagem dos totais de declarações por ambiente e calculamos a frequência de registros com os ambientes declarados para extração de recursos animais (Figura 8). Verificamos também a distribuição das coletas quanto à sazonalidade. Para isso, calculamos as médias mensais de indivíduos por família para recursos aquáticos e terrestres, e a varia-

ção interanual. Resultados para recursos terrestres e aquáticos considerando somente indivíduos (informações de ninhos ou ovos de quelônios não estão incluídos) são apresentados nas Figuras 9 e 10. O consumo de recursos aquáticos aumenta no segundo semestre do ano quando o clima é de baixa precipitação ou estação seca; já o consumo de recursos terrestres é mais constante, mas tende a diminuir também no período de seca.

FIGURA 8. PERCENTUAL DE CITAÇÕES POR TIPO DE AMBIENTE.

Para estimar área de uso na coleta de espécies dos sistemas aquático e terrestre nos anos de 2009 a 2016, calculamos inicialmente a densidade kernel dos registros georreferenciados de quelônios aquáticos e de animais terrestres e posteriormente realizamos a vetorização destas densidades. Em acordo com as estimativas, a área utilizada para a coleta de recursos naturais foi respectivamente 1.533km2 para quelônios aquáticos (Figura 11) e 1.525km2 para animais terrestres (Figura 12). Para estimar o uso de espécies representativas dos sistemas

aquático (irapuca, tracajá e cabeçudo) e terrestre (anta e queixada), nos anos de 2009 a 2016, calculamos médias anuais do número de indivíduos declarados por família participante para dados de anta, queixada, irapuca e tracajá, e sua variação entre as comunidades. Incialmente, para dados de anta, queixada, irapuca e tracajá, contabilizamos somente o número de indivíduos obtendo a produtividade média e o percentual de famílias declarantes em relação às entrevistadas em cada mês-ano, e a variação entre comunidades (Figuras 13 a 20).

FIGURA 9. MÉDIAS MENSAIS DO NÚMERO DE INDIVÍDUOS POR FAMÍLIA PARA RECURSOS TERRESTRES.

FIGURA 10. MÉDIAS MENSAIS DO NÚMERO DE INDIVÍDUOS POR FAMÍLIA PARA RECURSOS AQUÁTICOS.

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PARTE 4

FIGURA 11. INTENSIDADE PONTUAL POR UNIDADE DE ÁREA DOS REGISTROS DE QUELÔNIOS AQUÁTICOS.

FIGURA 12. INTENSIDADE PONTUAL POR UNIDADE DE ÁREA DOS REGISTROS DE ANIMAIS TERRESTRES.

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PARTE 4

FIGURA 13. NÚMERO MÉDIO DE ANTAS COLETADAS POR FAMÍLIA.

FIGURA 14. PERCENTUAL MÉDIO DE FAMÍLIAS ENTREVISTADAS QUE DECLARARAM ANTA.

FIGURA 15. NÚMERO MÉDIO DE QUEIXADAS COLETADOS POR FAMÍLIA.

FIGURA 16. PERCENTUAL MÉDIO DE FAMÍLIAS ENTREVISTADAS QUE DECLARARAM QUEIXADA.

FIGURA 17. NÚMERO MÉDIO DE IRAPUCAS COLETADAS POR FAMÍLIA.

FIGURA 18. PERCENTUAL MÉDIO DE FAMÍLIAS ENTREVISTADAS QUE DECLARARAM IRAPUCA.

FIGURA 19. PERCENTUAL MÉDIO DE FAMÍLIAS ENTREVISTADAS QUE DECLARARAM TRACAJÁ.

FIGURA 20. PERCENTUAL MÉDIO DE FAMÍLIAS ENTREVISTADAS QUE DECLARARAM TRACAJÁ.

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PARTE 5

PARTE 5

USO DE RECURSOS NATURAIS ANIMAIS

Calculamos a área utilizada para extração de cipós por meio da vetorização da densidade kernel dos registros georreferenciados declarados. O resultado desta análise são mapas de área de uso de cipós titica e timbó-açu nos anos de 2009 e 2016 para a comunidade Terra Nova e/ou na bacia do rio Unini (Figura 21 e 22). Estimamos a produtividade de cipós de 2009 a 2016 por meio das médias anuais (kg/família) produzidas de cipós titica e timbó-açu na comunidade Terra Nova e/ou na bacia do rio Unini. Os cipós titica e timbó-açu constituem-se como os produtos extrativistas comercializados mais importantes na bacia do rio Unini. As famílias que declararam esses cipós representaram cerca de 54% do total de famílias participantes do SiMUR. Terra Nova é a maior comunidade produtora de cipós, respondendo por 53% do total produzido no período de 2009 a 2016. A produção média por família produtora/ano no Terra Nova foi de 283kg, enquanto que a média para a bacia foi de 176kg. Segundo relato de moradores, algumas famílias deixaram de coletar cipós em 2015 ou coletaram menos ao verificar

muitas raízes secas (mortas). Este foi o ano com alta incidência de incêndios florestais no baixo rio Negro. A produção anual média por família produtora na comunidade de Terra Nova em 2016 foi menor em comparação ao ano de 2009, mas tende a manter-se estável (Figura 23). Para a bacia do rio Unini, a produção anual média por família produtora em 2016 também foi inferior ao ano de 2009 (Figura 24).

FIGURA 21. ÁREA UTILIZADA PARA COLETA DE CIPÓ-TITICA.

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PARTE 5

FIGURA 22. ÁREA UTILIZADA PARA COLETA DE CIPÓ-TIMBÓ-AÇU.

FIGURA 23. PRODUÇÃO DE CIPÓS POR FAMÍLIA NA COMUNIDADE DE TERRA NOVA.

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FIGURA 24. PRODUÇÃO DE CIPÓS POR FAMÍLIA PARA A BACIA DO RIO UNINI.


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PARTE 6

PARTE 6

FAUNA DE INTERESSE PARA A CONSERVAÇÃO

As famílias participantes do SiMUR geraram entre 2009 e 2016, 7.304 registros diretos e indiretos de 24 espécies da fauna consideradas ameaçadas, quase ameaçadas, com histórico de sobre-exploração, raras ou de distribuição geográfica pouco conhecida na região. Isso representa 932 registros/ano, 94% deles direto (baseado em avistamentos). Esse conjunto de registros não inclui os que envolvem abate. Por meio dos registros obtidos nas entrevistas do protocolo que trata de fauna de interesse para conservação, calculamos as taxas mensais dos registros de 2009 a 2016 referentes a estas quatro espécies (Figura 29 a 32). Destacamos a seguir informações de quatro espécies emblemáticas escolhidas para esta análise:

• Ariranha: Em perigo (IUCN), vulnerável no Brasil (ICMBio 2014), histórico local de sobre-exploração (interesse comercial) e perseguição; • Onça-pintada: Quase ameaçada (IUCN), vulnerável no Brasil (ICMBio 2014). Histórico local de sobre-exploração (interesse comercial) e perseguição; • Gavião-real: Quase ameaçada (IUCN), não listada no Brasil. Histórico local de sobre-exploração (interesse comercial) e perseguição; • Peixe-boi: Vulnerável (IUCN), vulnerável no Brasil (ICMBio 2014). Histórico de sobre-exploração (interesse comercial), consumo local.

FIGURA 25. ARIRANHA

FIGURA 26. GAVIÃO-REAL

FIGURA 27. ONÇA-PINTADA

FIGURA 28. PEIXE-BOI.

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PARTE 7

PARTE 7

O SIMUR EM NÚMEROS ATUALIZADOS

Em dezembro de 2018, o SiMUR atingirá 10 anos completos de monitoramento (2009-2018). De julho de 2008 a maio de 2018, participaram do SiMUR 269 famílias residentes em 10 comunidades do rio Unini e foram capacitados aproximadamente 52 monitores comunitários. Em maio de 2018, participavam do sistema 140 famílias e 13 monitores. Estimamos que essas 140 famílias representam pelo menos 80% do total de famílias residentes no rio Unini. Neste mesmo período, a base de dados do SiMUR contendo registros de junho de 2008 a outubro de 2016 possuía mais de 85.000 registros sobre o uso de recursos naturais e produção agrícola de 200 espécies da flora e fauna e mais de 9.000 registros sobre a ocorrência de 24 espécies da fauna de interesse para a conservação. Uma das maiores limitações para continuidade deste monitoramento são os custos operacionais e de recursos humanos

da equipe técnica envolvida. A maior despesa está relacionada à manutenção de uma equipe técnica mínima e essencial para a realização das atividades, tais como: recolhimento dos formulários nas comunidades; entrada, conferência e correção da base de dados; geoprocessamento, capacitações e elaboração de materiais de comunicação, instrução e capacitação. O segundo maior custo do SiMUR é referente às expedições de campo, que são necessárias para acompanhar o desenvolvimento do trabalho, capacitar os monitores, retirar dúvidas dos monitores e comunitários (participantes do SiMUR ou não), e realizar as devolutivas dos resultados nas comunidades.

SiMUR: uma experiência participativa no monitoramento de uso de recursos naturais



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FOTOGRAFIAS

FOTOGRAFIAS

Nessa breve sessão são apresentadas fotografias dos eventos de capacitação e oficinas de monitores comunitários do rio Unini coletadas em diferentes comunidades do rio, entre os anos de 2008 e 2016.

SiMUR: uma experiência participativa no monitoramento de uso de recursos naturais



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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

Borges, S. H.; Iwanaga S.; Moreira M. P.; Durigan C. C.; Saldanha F. (2014). Uma experiência de monitoramento participativo de biodiversidade na Amazônia brasileira: o sistema de monitoramento de uso de recursos naturais no Rio Unini – SiMUR. Manaus: FVA. 36p. ISBN 978-85-85830-06-9.

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Rua Estrela d’Alva, 146 Morada do Sol, Aleixo, Manaus/AM CEP: 69060-093 Tel: 92 3642-4559 3236-3257 www.fva.org.br



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