Lv durigan et al 2006

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Este livro documenta as manifestações culturais ligadas aos grupos indígenas presentes na região ocupada pelos municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, principalmente aquelas voltadas à produção de artesanato em fibras vegetais. Essa forma de documentação insere-se em um projeto mais amplo que busca formas de revitalização cultural frente a crescente perda de costumes e valores observada na interação entre a cultura dos povos indígenas do Rio Negro com a sociedade envolvente.



FIBRAS DE ÍNDIO arte e cultura no médio rio negro



FIBRAS DE ÍNDIO arte e cultura no médio rio negro

Manaus

2006


Fundação Vitória Amazônica © 2006

Realização:

YAKINO – Associação de Produção e Cultura Indígena FVA – Fundação Vitória Amazônica ASIBA – Associação Indígena de Barcelos ACIMRN – Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro

Projeto gráfico e editoração eletrônica:

Áttema Design Editorial Ltda. • www.attema.com.br

D962 f

DURIGAN, Carlos Cesar; LIRA, Fabio Origuela de; PEREIRA, Rosa Fonseca. Fibras de Índio: arte e cultura no médio rio Negro. – Manaus: FVA, 2006. 41p.: il. ISBN 1. Usos e Costumes – Índios – Médio Rio Negro. 2. Arte Indígena. 3. Cultura Indígena. I. LIRA, Fabio Origuela de. II. PEREIRA, Rosa Fonseca. III. Fundação Vitória Amazônica. IV. Título. CDD 390

Apoio:


Equipe do Projeto Carlos César Durigan Fábio Origuela de Lira Rosa Fonseca Pereira – Pira Tapuia – Santa Isabel do Rio Negro Diana Tomas de Melo – Baré – Barcelos Marcilene de Souza Rodrigues - Baré- Barcelos Maria Lucilene Lourenço Fidelis – Baniwa - Barcelos José Alberto Lourenço Fidelis – Baniwa - Barcelos Jander da Silva Padilha - Tukano- Santa Isabel do Rio Negro Romário P. Leite Fróes - Baré- Santa Isabel do Rio Negro

Apoio Técnico (análise de dados e mapeamento) Marcelo Paustein Moreira Simone Iwanaga Tatiana Andreza da Silva Marinho

Comunitários, Associados e Estudantes participantes Adreolina Ferreira da Motta, Adriana, Ailton Francisco Pereira Muniz, Alberta Aparecida, Alberto, Aleson de Jesus Lima, Alexandra de Jesus Bonfim, Ana Cláudia de Jesus Gonçalves, Ana Paula de Jesus, Anísio Neto das Chagas Sucre, Antonio Campos – Tariano, Antonio, Auzenina Rodrigues Moraes, Casemiro, Clarindo Chagas Campos – Pres. ASIBA, Cleide, Diovans de Jesus Almeida, Divalcinei, Edison Emitério Casimiro – Baniwa, Emiliana Geovaz da Silva – Baniwa, Eliene da Silva Cavalcante, Elio Fonseca Pereira – Pres. ACIMRN, Fátima Oliveira Serafi, Gessiane Peinado Lopes, Gessica Peinado Lopes, Geiziane, Geiziloize Melgueiro Muniz, Geovane, Gracilene, Heleno Luis Serra da Silva, Ideilson, Idelfonso, Idemilson, Idelgleice da Silva e Silva, Ismael Pedrosa Moreira – Pres. YAKINO, Jaciane da Silva Cavalcante, Josivam, Juliana de Jesus Bonfim, Jociene, Jonas Serra de Souza, Josias, Laureano João da Silva – Baniwa, Lazaro Almeida Muniz – Desano, Leide Laura de Lima Batista, Lucimar de Jesus, Marciel, Marcinael, Maria Aparecida Dias – Tukano, Maria Fiama do Rosário de Souza, Maria Irineia, Mariene do Carmo P. da Silva, Marlison, Naziene da Silva, Paloma de Jesus Pereira Leite, Patrícia de Jesus Pereira Leite, Percilio Francisco – Baniwa, Queuriane, Rodrigo da Silva Brazão, Ronilda, Salatiel, Sheila do Rosário das Chagas, Zenaide Nery Lemos

Comunidades Participantes Bacabal - Rio Aracá - Barcelos Baturité – Rio Negro - Barcelos Campina – Rio Preto – Santa Isabel do Rio Negro Cumaru – Rio Negro - Barcelos Elesbão – Rio Aracá - Barcelos Floresta – Rio Negro - Barcelos Romão – Rio Aracá - Barcelos Samaúma – Rio Demeni - Barcelos


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Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Sumário

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Etnias, crenças e línguas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 O extrativismo dos produtos da floresta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 O artesanato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Descrição dos produtos artesanais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 A arte dos grafismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Problemas vividos nas comunidades e busca de soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Histórias, palavras e relatos reunidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Carta da ACIRP (Associação das Comunidades Indígenas do Rio Preto) a entidades de apoio: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Pequenas descrições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 O que é ser indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Histórias contadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Contato das entidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Mapa da área estudada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

7


8

Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Agradecimentos

A

A todas as famílias das comunidades envolvidas no projeto, às escolas: Escola Municipal Tenente Brigadeiro e Escola Estadual de Santa Isabel do Rio Negro e Escola Estadual Professor João Badalotti de Barcelos pela possibilidade dada aos alunos envolvidos de participarem do projeto, à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro FOIRN, à Secretaria de Ciência e Tecnologia e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM, com especial carinho à Dra. Marilene Corrêa e Dra. Elizabete Brocki pelo apoio e incentivo. “... Muito importante nós indígenas se organizar em associação... Para podermos conseguir a nossa economia alternativa junto com nosso artesanato como panela de barro, cesto, urutu, abano, cumatá.” (Cecília Tukano) “... Precisamos nos unir para sermos respeitados...” (Virgília Baré) “Eu sou tariano (kama deneh), bisneto do trovão, saí da fumaça do cigarro, vamos, vamos todos procurar a nossa cultura do passado e aprender a nossa língua materna, dança, xamanismo, pajé, costumes. Assim nós levaremos melhor a nossa política indígena para frente, formando a nossa associação, lutando para conseguir o nosso direito indígena.” (Américo Tariano) Trechos do relatório do Encontro Indígena de Barcelos, realizado em 05/11/1999.


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

9

Apresentação

E

Este livro nasceu da experiência desenvolvida pela Associação de Produção e Cultura Indígena Yakino, que com o apoio técnico da Fundação Vitória Amazônica e recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, disponibilizados através do Programa Jovem Cientista Amazônida, realizou o projeto “Manejo de Fibras e Revitalização da Cultura Indígena no Médio Rio Negro”. O objetivo principal desta proposta foi documentar as manifestações culturais ligadas aos grupos indígenas presentes na região ocupada pelos municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, principalmente aquelas voltadas à produção de artesanato em fibras vegetais, de forma a buscar posteriormente formas de revitalização cultural frente a crescente perda de costumes e valores observada na interação entre a cultura dos povos indígenas do Rio Negro com a sociedade envolvente. Na implementação do projeto, várias atividades foram desenvolvidas em conjunto com as associações indígenas destes municípios - a Associação Indígena de Barcelos - ASIBA e a Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro - ACIMRN, envolvendo estudantes indígenas e as comunidades de Baturité, Campina do Rio Preto, Cumaru, Elesbão, Floresta, Romão e Samaúma. Este livro apresenta os principais resultados e algumas reflexões geradas deste trabalho.


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Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

11

Introdução

A

A Associação do Produção e Cultura Indígena Yakino, constituiu-se como uma experiência para o fortalecimento da identidade étnica, através da revitalização das manifestações culturais dos povos indígenas envolvidos, representados por 75 organizações, em 9 estados amazônicos, somando 165 etnias indígenas. No período de 2000 a 2004, a Associação Yakino estruturou um Centro de Referência Indígena em Manaus, responsável pela aquisição e venda de artesanato indígena, além de se estabelecer como centro de intermediação entre a COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira e instituições de apoio. Um de seus focos, centrado na produção de artesanato como alternativa de geração de renda, gerou a demanda de se iniciar a execução de pesquisa participativa para documentar a produção artesanal em comunidades indígenas, assim como discutir junto a elas projetos para viabilização de suas ações. Assim nasceu o projeto “Manejo de Fibras e Revitalização Cultural no Médio Rio Negro”, desenvolvido nos municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro. Iniciado em novembro de 2004, o projeto teve como objetivos identificar e documentar a cultura material de oito comunidades indígenas localizadas nos municípios de Barcelos e San-

ta Isabel do Rio Negro, e contribuir para o crescimento do debate em torno da temática da revitalização da produção material entre os mais jovens. O princípio que norteou os trabalhos esteve centrado na busca de interação entre pesquisadores, organizações indígenas e as comunidades envolvidas, através de uma metodologia participativa, que favoreçeu a discussão e a integração dos conhecimentos acadêmico e tradicional. A base metodológica utilizada foi a pesquisa-ação, centrada no levantamento de informações e mobilização dos atores de forma simultânea. A coleta de dados se deu através de questionários semiestruturados, aplicado às famílias residentes nas comunidades, assim como a geração de informações complementares e discussões sobre temas relacionados e problemas vividos nas comunidades foram discutidos em reuniões comunitárias e oficinas com comunitários e estudantes indígenas. Além disso, atividades de mapeamento do uso de fibras nas áreas das comunidades foram realizadas, incluindo o georeferenciamento das comunidades. Os resultados deste trabalho indicaram uma crescente perda cultural ocorrida aos grupos indígenas daquela região, provocada pelo seu contato de mais de três séculos com a sociedade nacional envolvente, e que transformou a região numa zona de “fronteira sociocultural”,


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Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

onde o descaso e o desrespeito ao qual as comunidades são sujeitas, no que se refere a necessidades essenciais como a educação, a saúde e a produção, também contribui para o crescente processo de esvaziamento de áreas originais de vida. A revitalização dos modos de produção, refletindo as histórias e mitologias de cada

grupo étnico, pode contribuir na busca da reafirmação étnica e deve ser a base do desenvolvimento do potencial da produção artesanal como fonte geradora de renda, somando-se às demais ações de reafirmação étnica desenvolvidas pelas organizações indígenas do rio Negro.

Etnias, crenças e línguas

S

São várias as comunidades existentes ao longo da calha do rio Negro e seus afluentes. Na região do Médio rio Negro, o mais marcante é que a maioria delas são indígenas, representadas por diversos grupos étnicos, que ainda mantém forte identidade mesmo frente ao intenso processo de colonização e as consequentes mudanças ocorridas ao longo de gerações. A modernização trouxe a energia elétrica, os motores de popa, os produtos industrializados, mas nos municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, estes novos elementos dividem seu espaço com produtos indígenas como cestos, aturás, tipitis, tupés, produzidos com fibras vegetais que refletem uma cultura ainda viva nos costumes de produção de utensílios para usos doméstico. A paisagem foi se modificando com a urbanização, o asfalto, mas ainda é evidente neste cenário a influência indígena na lógica da ocupação do espaço e uso dos recursos naturais.

As formas de construir, viver e produzir ainda são mantidas vivas entre as comunidades indígenas da região do médio rio Negro. É possível afirmar que a característica principal da população do médio rio Negro é ainda de uma cultura agroextrativista fortemente influenciada pelo modo de vida indígena, focada na produção agrícola tradicional e no extrativismo de produtos da floresta e dos rios. As comunidades de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro como é comum na região, organizam-se principalmente pela agregação de famílias em torno de serviços como escola, estação de radiofonia e acesso a serviços de saúde. Formam uma constelação de grupos sociais que dependem da relação com as sedes dos municípios, que os abastecem com mercadorias industrializadas, geralmente trocadas por serviços e produtos agroextrativistas. As comunidades que participaram deste projeto foram Bacabal, Baturité, Elesbão, Flores-


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

ta, Romão, Samaúma e Cumaru no município de Barcelos, e Campina do Rio Preto no

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município de Santa Isabel do Rio Negro. Nestas oito comunidades residem pouco mais de

TABELA 1 » Comunidades e proporção de famílias e indivíduos residentes amostrados no presente estudo. Todas as comunidades localizadas no município de Barcelos exceto Campinas localizada em Santa Isabel do Rio Negro.

N úme ro t o t a l de fa mília s re side nt e s

N úme ro de fa mília s a mo st ra da s (%)

N úme ro de indiv íduo s a mo st ra do s

B ac abal

9

6 (66,7)

34

B aturi té

13

13 (100,0)

64

Campi na

19

19 (100,0)

131

Cumaru

23

0

0

E l esbão

5

5 (100,0)

24

F l oresta

15

12 (80,0)

64

R omão

10

5 (50,0)

17

S amaúma

8

7 (87,5)

42

102

67 (65,7%)

376

Co munida de

To t a l

TABELA 2 » Distribuição da população amostrada neste estudo por grupo étnico. E tn i a

Núme ro de indivíduos (%)

M ul he r e s

H o me ns

Baré

243 (65,9)

102

141

Baniw a

64 (17,3)

34

30

Tukano

29 (7,9)

14

15

De sana

17 (4,6)

8

9

Pira-Tapuya

9 (2,4)

5

4

Arapaso

2 (0,5)

2

-

Macuxi

2 (0,5)

2

-

Tikuna

1 (0,3)

1

-

Tuyuka

1 (0,3)

1

-

368

169

199

N


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Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

100 famílias (Tabela 1). Entre estas, 67 famílias (mais de 65,0% do total de famílias residentes e pelo menos 376 indivíduos) constituíram a fonte dos dados quantitativos apresentados neste estudo (Tabela 1). Em Cumaru não foram aplicados questionários. Foram registradas famílias das seguintes etnias: Arapaso, Baniwa, Baré, Desana, Macuxi, Pira-tapuya, Tikuna, Tukano e Tuyuka (Tabela 2). Estes povos indígenas, com excessão das etnias Macuxi e Tikuna, têm por origem a calha do Rio Negro, conhecida por sua grande diversidade étnica (22 etnias divididas nas famílias lingüísticas Aruak, Maku, Tukano e Yanomami). O choque cultural ocorrido no médio rio Negro fez com que estes grupos se defrontassem com uma nova realidade. Inse-

ridos dentro de um novo sistema cultural característico das cidades, reorganizaram suas vidas em moldes semelhantes aos dos seus habitantes não indígenas e notadamente substituíram muitos de seus costumes e crenças. Na população total amostrada, apenas uma pessoa declarou não pertencer a qualquer grupo étnico e para mais sete não foram coletados dados sobre identidade étnica. A etnia predominante entre a população amostrada (N=368 indivíduos) é a Baré, seguida de Baniwa, Tukano, Desana, Pira-Tapuya e mais quatro grupos menos numerosos representados por uma ou duas pessoas. Por outro lado, esses grupos menos representados foram responsáveis pela maior diversidade étnica encontrada no grupo das mulheres em relação aos homens.

TABELA 3 » Distribuição dos grupos étnicos por comunidade. E tn i a

Bacabal

Baturité

Campinas

Ele sbão

Flore sta

Romão

S a ma úma

Baré

14 (41,2)

60 (95,2)

73 (57,5)

14 (58,3)

62 (98,4)

13 (81,3)

7 (17,1)

Baniw a

16 (47,1)

2 (3,2)

37 (29,1)

1 (4,2)

1 (1,6)

-

7 (17,1)

Tukano

3 (8,8)

-

5 (3,9)

9 (37,5)

-

3 (18,8)

9 (22,0)

De sana

-

-

1 (0,8)

-

-

-

16 (39,0)

Pira-Tapuya

-

-

9 (7,1)

-

-

-

-

1 (2,9)

-

-

-

-

-

1 (2,4)

Macuxi

-

1 (1,6)

1 (0,8)

-

-

-

-

Tikuna

-

-

1 (0,8)

-

-

-

-

Tuyuca

-

-

-

-

-

-

1 (2,4)

34

63

127

24

63

16

41

Arapaso

N


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Entre as comunidades que tiveram a totalidade de famílias amostradas, Campina foi a de maior diversidade étnica (Tabela 3). Apesar desta riqueza etnica, nota-se um processo crescente de perda de elementos importantes destas culturas, favorecida pelas intensas migrações, tanto para o engajamento na produção extrativista, como pela proximidade aos centros urbanos. Cada vez mais as “festas de santos” ou religiosas tomaram o lugar dos “dabucuris”, danças tradicionais agora competem com o forró, mitos de criação confundem-se com os de criação do mundo cristão. Desta forma há uma tendência de que os mais jovens se desinteressem pelas tradições indígenas, seduzidos por esta nova organização de mundo que se coloca.

15

Mais preocupante é a perda do conhecimento da língua. 67,8% de uma população de 342 pessoas com mais de dois anos de idade não falam nem a língua do grupo étnico de origem e nem a língua geral (Nhengatu). Esta alta proporção de indivíduos que não falam outra língua além da portuguesa apresentou um claro padrão etário, em que mais de 70,0% são crianças ou jovens de até 20 anos de idade (Tabela 4). Menos de 1,0% da população total fala somente as línguas dos grupos étnicos aos quais pertencem, 27,5% fala somente o Nhengatu e 3,8% fala ambas as línguas. Todas estas pessoas falam a língua portuguesa. Por outro lado, apenas 4,7% (16/342) dos indivíduos desta mesma população declarou falar as línguas dos grupos étnicos aos quais pertencem, e de forma independente, ape-

TABELA 4 » Distribuição etária de 342 indivíduos amostrados neste estudo com dois anos ou mais de idade que declararam não falar nem a língua de origem e nem a língua geral (Nhengatu) (coluna A) ou que declararam falar uma ou outra ou ambas (coluna B). N úme ro de indiv íduo s (%) I da de

N ã o fa la ne m uma ne m o ut ra

Fa la uma o u o ut ra o u a mba s

até 10 anos

112 (48,3)

0

11 a 20 anos

60 (25,9)

15 (13,6)

21 a 30 anos

27 (11,6)

30 (27,3)

31 a 40 anos

19 (8,2)

15 (13,6)

>40 anos

14 (6,0)

50 (45,5)

232

110

N


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Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

nas 31,3% (107/342) declarou falar a língua geral (Nhengatu). A alta proporção de indivíduos que declararam não falar nem sua língua de origem e nem

o Nhengatu apresentou um claro padrão etário (Tabela 4). Mais de 70% destes indivíduos são crianças ou jovens de até 20 anos de idade (Tabela 4).

FIGURA 1 » Proporção de indivíduos amostrados neste estudo com dois anos ou mais de idade que declararam falar ou não a língua da etnia ou a língua geral (Nhengatu) ou ambas, por faixa etária (N=342 indivíduos).

TABELA 5 » Proporção de indivíduos que não falam nem as línguas dos grupos étnicos aos quais pertencem e nem o Nhengatu em cada grupo étnico identificado neste estudo.

N

Núme ro de indivíduos que não falam ne m a língua da e tnia ne m o Nhe ngatu (%)

226

156 (69,0)

Baniw a

61

41 (67,2)

Tukano

27

16 (59,3)

De sana

17

13 (76,5)

Pira-Tapuya

8

1 (12,5)

Arapaso

2

1 (50,0)

Macuxi

2

1 (50,0)

Tikuna

1

1 (100,0)

Tuyuca

1

1 (100,0)

345

231

E tn i a Bare

N


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Uma análise destas declarações dentro de faixas etárias fornece um quadro mais claro do status atual da relação entre a população amostrada e suas línguas nativas. Mais de 90% de 187 jovens de até 20 anos de idade não falam nem as línguas dos grupos étnicos aos quais pertencem e nem o Nhengatu (Figura 1). O uso destas línguas ainda permanece em cerca de metade da população entre 21 e 40 anos de idade e cerca de 78% da população acima de 40 anos (Figura 1). Mais de 70% dos indivíduos na faixa etária entre 21 a 40 anos

17

de idade que não falam nem uma língua nem outra são pais ou mães, o que provavelmente explica a alta proporção de crianças e jovens de até 20 anos que também não utilizam essas línguas. Entre as etnias, a não utilização das línguas de origem e mesmo o Nhengatu parece ocorrer em proporções semelhantes. Nas etnias mais representativas (Baré, Baniwa, Tukano e Desana) a proporção de indivíduos que não falam nem a língua de seu grupo étnico e nem o Nhengatu variou de 59,3% a 76,5% (Tabela 5).

O extrativismo dos produtos da floresta

O

O contraponto a esta crescente perda de elementos identitários dos grupos indígenas parece estar no seu modo de uso dos recursos naturais. As técnicas e estratégias de vida são desenvolvidas de forma altamente adaptadas e embasadas na agricultura de corte-e-queima e no extrativismo animal e vegetal, e refletem um profundo conhecimento do meio natural.

Muitas destas técnicas são amplamente disseminadas desde tempos remotos devido à grande interação entre grupos de diferentes etnias, ao mesmo tempo em que em cada grupo são mantidas certas particularidades. Assim, existe um universo amplamente difundido de manifestações culturais, e inseridos nele, conjuntos menores que distinguem cada povo.

TABELA 6 » Plantas utilizadas pelos residentes das sete comunidades amostradas. H á bit a t de c o le t a

Pa rt e c o le t a da

N o. de c o munida de s que de c la ra ra m ut iliz a r

i gapó

F ol ha (tal a)

7

roç ad o

F ol ha (ol ho e tal a) e semente

6

terra fi rme

F ol ha (tal a)

5

Ci pó ambé c i ma (Arac eae)

i gapó

R ai z

5

Ci pó ambé c oroa (Arac eae)

terra fi rme, i gapó

R ai z

5

N o me da pla nt a fa mília o u grupo bo t â nic o ) Arumã membec a (Marantac eae) Tuc umã (Arec ac eae) Arumã d e terra fi rme (Marantac eae)


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Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

CONTINUAÇÃO DA TABELA

H á bit a t de c o le t a

Pa rt e c o le t a da

N o. de c o munida de s que de c la ra ra m ut iliz a r

Ci pó ti ti c a (Arac eae)

terra fi rme, i gapó

R ai z

5

Jac i tara (Arec ac eae)

i gapó

Caul e (tal a)

5

Arumã c anel a d e jac ami m d e i gapó (Marantac eae)

i gapó

F ol ha (tal a)

3

terra firme, c ampinarana e c ampina terra fi rme

Caul e (bai nha “c abel o”) F ol ha (tal a)

2

terra fi rme

F ol ha (tal a)

2

i gapó

R ai z

2

Cumati (My rtac eae)

terra fi rme

Caul e (c asc a)

2

G oi aba d e anta (Mel astomatac eae)

terra fi rme

Caul e (c asc a)

2

I ngá xi xi c a (F abac eae)

terra fi rme

Caul e (c asc a)

2

Jasmi n (Apoc y nac eae)

i gapó

Caul e (mad ei ra)

2

L ouro namui m (L aurac eae)

i gapó

Caul e (mad ei ra)

2

Mol ongó (Apoc y nac eae)

i gapó

Caul e (mad ei ra)

2

terra fi rme, i gapó

F ol ha (tal a) e semente

2

N o me da pla nt a fa mília o u grupo bo t â nic o )

Pi aç av a v ermel ha (Arec ac eae) Arumã bi l i na (Marantac eae) Arumã c anel a d e jac ami m d e terra fi rme (Marantac eae) Ci pó ti mbó aç u (Arac eae)

Patauá (Arec ac eae)

3

U ruc um (B i xac eae)

roç ad o

S emente

2

Aç aí (Arec ac eae)

roç ad o

S emente

1

Arabá (F abac eae)

i gapó

Caul e (mad ei ra)

1

Carai pé (Chry sobal anac eae)

i gapó

Caul e (c asc a)

1

roç ad o

F ol ha

1

Caranã (Arec ac eae)

c ampi narana

F ol ha (tal a)

1

I taúba (L aurac eae)

terra fi rme

Caul e (mad ei ra)

1

i gapó

Caul e (c asc a)

1

Mac uc uí v ermel ho (F abac eae)

terra fi rme

Caul e (c asc a)

1

Massarand uba (S apotac eae)

terra fi rme

Caul e (mad ei ra)

1

terra fi rme, i gapó

Caul e (mad ei ra)

1

i gapó

Caul e (mad ei ra)

1

c ampi narana

Caul e (bai nha “c abel o”)

1

Caraji ru (B i gnoni ac eae)

Mac uc uí (F abac eae)

Mol ongó branc o (Apoc y nac eae) Pau roxo (F abac eae) Pi aç av a preta (Arec ac eae) Tento preto (F abac eae)

terra fi rme

S emente

1

Tento v ermel ho (F abac eae)

terra fi rme

S emente

1


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Com a chegada dos colonizadores europeus, houve uma forte apropriação deste conhecimento na busca pelos produtos da floresta, e os grupos indígenas locais começam a fazer parte desta cadeia comercial focada em produtos como a seringa e a piaçava. No intercâmbio cultural que passou a existir desde então, a produção artesanal foi mantida viva, como podemos observar nos dados coletados neste estudo. No tocante às plantas utilizadas para a confecção de artesanato, um total de 34 foi identificado pelos residentes das sete comunidades amostradas (Tabela 6). As plantas com maior número de variedades utilizadas foram o Arumã (cinco variedades), seguido de Cipó ambé, Macucuí, Molongó, Piaçava e Tento (duas variedades cada).

19

Estas plantas representam pelo menos 12 famílias botânicas, sendo predominantes as Fabáceas (família das plantas com “vagens”) e as Arecaceae (família das palmeiras), com sete plantas cada uma, seguidas de Marantaceae (família dos arumãs) e Araceae (família dos cipós). Grande parte destas plantas é coletada em mata de terra firme (50%) ou em mata de igapó (50%), seguidas de roçado (11,8%), campinarana (8,8%) e campina (2,9%). Considerando as freqüências com que determinadas plantas são usadas, todavia, a mata de igapó teve uma importância relativa maior que a mata de terra firme. Isto significa que a mata de igapó possui o mesmo número de plantas utilizadas na produção de artesanato se comparada à mata de ter-

FIGURA 2 » Distribuição da freqüência de exploração de três grupos de plantas mais intensamente utilizados para produção de artesanato entre hábitats.


20

Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

ra firme, mas as plantas de igapó são exploradas com maior freqüência. Os grupos de plantas explorados mais intensamente foram as palmeiras, os arumãs e os cipós (mais de 20,0% das declarações de uso cada). As palmeiras parecem ser exploradas igualmente entre os diferentes hábitats, enquanto que os arumãs e cipós em matas de igapó e terra firme (Figura 2). Um aspecto importante é que uma parte significativa destas plantas é explorada em hábitats específicos. Por exemplo, as palmeiras do igapó são Jacitara e Patauá, da terra firme é Patauá, da capoeira são Açaí e Tucumã, da campinarana são Caranã e Piaçava-preta. Somente a Piaçava-vermelha parece ser explorada em todos estes hábitats inclusive na campina e exceto no igapó. Variedades exclusivas por hábitats também são encontradas entre os arumãs e cipós (veja Tabela 6). As plantas do grupo das palmeiras (Arecaceae) aparentemente são as que apresentam maior leque de aproveitamento no artesanato produzido nas sete comunidades (Tabela 6). Das sete palmeiras identificadas, são utilizados o “cabelo” do caule (Piaçavas), a tala do caule (Jacitara), o “olho” das folhas (Tucumã), a tala das folhas (Tucumã, Caranã, Patauá) e a semente (Açaí, Tucumã, Patauá). As plantas dos grupos dos arumãs (Marantaceae) e cipós (Araceae) tiveram seus usos restritos às partes da tala das folhas e da raiz, respectivamente.

Na maioria das vezes as plantas parecem ser coletadas em intensidade baixa. As plantas consideradas altamente exploradas foram a Piaçava-vermelha, em todas as três comunidades que a declararam utilizar (Campinas, Floresta e Romão), o Cumati, em Samaúma e o Caranã em Campinas. Em geral existe uma consciência entre os coletores das comunidades, da necessidade de manejo dos recursos vegetais explorados. Em apenas 7,5% (6/80) dos casos os coletores não citaram alguma estratégia ou preocupação no momento da coleta visando minimizar o impacto sobre a planta ou a população da planta explorada. As estratégias citadas variaram conforme a parte da planta que é explorada (Tabela 7).

O artesanato O artesanato representativo de trançado de fibras vegetais correspondeu a 42,5% do rol total de tipos gerais de artesanato produzidos nas sete comunidades. Assim como na análise geral, grande parte deste tipo de artesanato é destinada ao consumo próprio (88%) e apenas uma pequena parte à venda eventual (11,2%) ou produzida exclusivamente para venda (0,8%). A representatividade deste tipo de artesanato é maior quando são consideradas as variações de alguns tipos genéricos com base nas matérias-primas principais utilizadas (Tabela 8).


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Como na análise geral, a maior parte das plantas que são a matéria-prima principal dos artesanatos de trançado pertenceu a três famílias botânicas. Utilizadas como matérias-primas principais, cinco plantas da família Marantaceae (arumãs) foram responsáveis por 37,0% dos artesanatos de trançado, seguidas de quatro plantas da família Araceae (cipós) que foram responsáveis por 34,8% e três plantas da família Arecaceae (palmeiras) responsáveis por 28,3% dos artesanatos (Figura 3). O Arumã membeca e o Arumã de terra firme tiveram maior importância entre as marantáceas, enquanto

entre as aráceas e arecáceas o Cipó titica e a Piaçava vermelha respectivamente foram as mais freqüentes como matérias-primas principais no artesanato de trançado (Figura 3). Todavia, o Cipó titica, madeiras de várias qualidades não especificadas, juntamente com o Tucumã, têm um aumento substancial em importância relativa na produção do artesanato de trançado, quando considerada a sua utilização como matérias-primas de suporte ou acabamento (Tabela 9). Estes resultados indicam que para o planejamento de futuras ações visando o incremento na produção de artesanato de

TABELA 7 » Estratégias citadas pelos coletores para minimizar o impacto da coleta sobre a planta ou sobre a população da planta. Parte e xplorada

Caule (N=27) (casca, bainha ou “cabe lo”, made ira, tala)

Folha (N=24) (tala, folha, “olho”)

Raiz (N=16)

Se me nte (N=7)

21

Estraté gia

Núme ro de de claraçõe s

Se le ciona e xe mplare s maduros/adultos

17

A parte usada não comprome te a planta/Não de rruba a planta

4

Cuida para não cortar o olho da planta

3

Não re tira tudo (da parte de inte re sse )

2

Usa made ira já de rrubada no roçado

1

Se le ciona e xe mplare s maduros/adultos

18

Se le ciona e xe mplare s jove ns

5

Não re tira tudo (da parte de inte re sse )

1

Se le ciona e xe mplare s maduros/adultos

15

Se le ciona e xe mplare s jove ns

1

Usa se me nte já caída/ já aprove itada na alime ntação

5

Não re tira tudo (da parte de inte re sse )

2


22

Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

trançado de fibras vegetais nas comunidades amostradas, é altamente recomendável a exploração manejada das populações principalmente do Cipó titica (na terra fir-

me), do Arumã membeca e do Arumã de terra firme (no igapó e na terra firme respectivamente) e da Piaçava vermelha (na terra firme, campina e campinarana).

TABELA 8 » Variações dos tipos genéricos de artesanato de trançado de fibras vegetais com base na matéria-prima principal utilizada. *=Carajiru, Cumati, Goiaba de anta, Ingá xixica, Macucuí, Macucuí vermelho, Urucum.

Variação do arte sanato

Maté ria-prima principal

Maté rias-primas se cundárias

1-de arumã me mbe ca

Arumã me mbe ca

Made ira (armação), tucum ou barbante (amarras), outras* (tintura)

2-de arumã de te rra firme

Arumã de te rra firme

-

3-de tucumã

Tucumã

Tucum ou barbante (amarra)

4-de cipó titica

Cipó titica

-

5-de cipó ambé coroa

Cipó ambé coroa

-

6-de cipó timbó açu

Cipó timbó açu

-

1-de cipó titica

Cipó titica

-

2-de cipó ambé coroa

Cipó ambé coroa

-

3-de cipó timbó açu

Cipó timbó açu

-

1-de arumã me mbe ca

Arumã me mbe ca

Made ira (armação), tucum ou barbante (amarra), outras* (tintura)

1-de piaçava

Piaçava ve rme lha

Piaçava pre ta (acabame nto)

2-de cipó titica

Cipó titica

-

1-Cacuri

Made iras

Cipó titica (amarra)

Cade ira de cipó

1-de cipó titica

Cipó titica

Made ira (armação)

Ce sto de arumã

1-de arumã me mbe ca

Arumã me mbe ca

Made ira ou cipó-timbó açu (armação), outras* (tintura)

Ce sto de piaçava

1-de piaçava

Piaçava ve rme lha

-

Ce sto de tucumã

1-de tucumã

Tucumã

Crajiru (tintura)

1-de cipó ambé coroa

Cipó ambé coroa

Outras* (tintura)

1-de piaçava

Piaçava ve rme lha

-

Tipo ge né rico

Abano

Aturá

Balaio

Bolsa Cacuri

Chapé u de cipó ambé Chapé u de piaçava


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro CONTINUAÇÃO DA TABELA

Tipo ge né rico

Cumatá

Matapi

P a ne i r o

P e ne i r a

Suplá

23

Variação do arte sanato

Maté ria-prima principal

Maté rias-primas se cundárias

1-de arumã de te rra firme

Arumã de te rra firme

Made ira (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

2-de arumã bilina

Arumã bilina

Made ira (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

3-de arumã cane la de jacamim de igapó

Arumã cane la de jacamim de igapó

Made ira (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

4-de jacitara

Jacitara

Made ira (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

1-de tala de jacitara

Jacitara

Cipó titica (amarra)

2-de tala de arumã de te rra firme

Arumã de te rra firme

Cipó titica (amarra)

1-de cipó ambé coroa

Cipó ambé coroa

-

2-de cipó titica

Cipó titica

-

3-de cipó ambé cima

Cipó ambé cima

-

4-de cipó timbó açu

Cipó timbó açu

-

5-de arumã me mbe ca

Arumã me mbe ca

-

1-de arumã de te rra firme

Arumã de te rra firme

Made ira ou cipó ambé coroa (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

2-de jacitara

Jacitara

Made ira ou cipó ambé coroa (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

3-de arumã bilina

Arumã bilina

Made ira ou cipó ambé coroa (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

4-de arumã de cane la de jacamim de igapó

Arumã cane la de jacamim de igapó

Made ira ou cipó ambé coroa (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

5-de arumã de cane la de jacamim de te rra firme

Arumã cane la de jacamim de te rra firme

Made ira ou cipó ambé coroa (armação), tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

1-de piaçava

Piaçava ve rme lha

-

2-de cipó titica

Cipó titica

-

3-de tucumã

Tucumã

-

1-de jacitara

Jacitara

Tucum, bar bante ou ci pó ti ti ca (amar r a)

2-de arumã de te rra firme

Arumã de te rra firme

Tucum, barbante ou cipó titica (amarra)

Tipiti


24

Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

CONTINUAÇÃO DA TABELA

Tipo ge né rico Tupé

Variação do arte sanato

Maté ria-prima principal

Maté rias-primas se cundárias

1-de arumã

Arumã me mbe ca

Cipó ambé coroa, cipó ambé cima e caranã, (acabame nto e amarra), outras* (tintura)

Arumã me mbe ca

Made ira, cipó titica, jacitara, cipó ambé coroa (armação), tucum ou barbante (amarra), outras* (tintura)

2-de arumã bilina

Arumã bilina

Made ira, cipó titica, jacitara, cipó ambé coroa (armação), tucum ou barbante (amarra), outras* (tintura)

1-de piaçava

Piaçava ve rme lha

-

2-de cipó titica

Cipó titica

-

3-de piaçava e cipó titica

Piaçava ve rme lha

Cipó titica (amarra)

4-de cipó timbó açu

Cipó timbó açu

Cipó titica (amarra)

1-de arumã me mbe ca Urutu

Vassoura

As Plantas mais utilizadas como matériaprima para o artesanato nas comunidades do médio rio Negro são: ARUMÃ - Plantas terrestres, herbáceas, diferenciadas pelos coletores em 5 espécies que ocorrem em matas de igapó e terra-firme. A parte utilizada são as talas processadas para utilização na fabricação de tupés, peneiras, balaios, tipitis e cestarias em geral. Ocorrem em touceiras de onde as talas maduras são cortadas. CIPÓ AMBÉ – Planta Hemi-epífita, isto é prende-se a uma árvore e lança raízes ao solo bastante comum nas matas de igapó no Rio Negro, e neste estudo foram identificadas duas espécies pelos coletores. Estas raízes ou fios são as partes utilizadas na fabricação de artesanato.

CIPÓ-TITICA - É denominado de hemiepífito secundário, ou seja, geralmente germina no chão de onde se desloca para fixar-se sobre uma árvore hospedeira em cujo tronco irá se desenvolver, mantendo contato com o solo através de raízes alimentares, estas sendo as partes coletadas e posteriormente beneficiadas para comercialização. CIPÓ TIMBÓ-AÇU - Possui basicamente as mesmas características e hábitos gerais do cipó-titica, sendo diferenciado à primeira vista pelo maior diâmetro das raízes alimentares, é utilizado para a fabricação de vassouras, sendo os fios comercializados desfiados, não apresentando a flexibilidade do cipó-titica. JACITARA – É uma palmeira de caule fino e espinhosa que cresce apoiada sobre ou-


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

25

FIGURA 3 » Distribuição da freqüência de exploração de três grupos de plantas mais intensamente utilizados para produção de artesanato entre hábitats.

TABELA 9 » Plantas mais utilizadas no suporte ou acabamento dos artesanatos de trançado. Núme ro de arte sanatos (%)

Função

Cipó titica

18 (38,3)

Amarra e armação

Tucum

16 (34,0)

Amarra

Made ira

14 (29,8)

Armação

Cipó ambé (coroa ou cima)

8 (17,0)

Armação, amarra e acabame nto

Carajiru, cumati, goiaba de anta, ingá xixica, macucuí, macucuí, ve rme lho, urucum

8 (17,0)

Tintura

Jacitara

2 (4,3)

Armação

Piaçava pre ta

1 (2,1)

Acabame nto

Cipó timbó açu

1 (2,1)

Armação

Caranã

1 (2,1)

Amarra e acabame nto

Maté ria-prima se cundária


26

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tras plantas. Sua tala é usada na fabricação de peneiras e tipitis. PIAÇAVA – Palmeira que na região do médio rio Negro ocorre apenas em alguns afluentes da margem direita do rio Negro. Suas áreas de ocorrência são conhecidas como piaçabais devido a sua grande concetração e por serem um tipo de mata de campinarana diferenciada. A parte utilizada para o comércio e artesanato, são as fibras abundantes e resistentes que se formam nas bases das folhas e acabam por cobrir todo o caule das plantas. TUCUMÃ - Palmeira alta, de caule espinhoso, comumente encontrada em capoeiras e roças nas áreas das comunidades. Frutos comestíveis. De suas folhas novas extrai-se fibra para confecção de cestaria e redes. Praticamente todas as famílias produzem algum tipo de artesanato. Uma família produz em média entre seis a sete tipos, sejam de trançado, de madeira, de barro ou outro material (Tabela 10). Na amostra de 63 famílias, foram identificados 47 tipos gerais de artesanato (Tabela 11). Cerca de metade destas famílias

comercializa alguns destes produtos, mas na maioria das vezes, os produtos são confeccionados para uso próprio e apenas ocasionalmente são vendidos. Dos 47 tipos de artesanatos identificados genericamente pelas famílias das sete comunidades, 20 são representativos de artesanato com trançado de fibras vegetais. No rol dos artesanatos produzidos, foram identificados 24 tipos que são vendidos de alguma forma. Estes resultados indicam que a comercialização não é definitivamente o foco da produção de artesanato pela maioria das famílias amostradas. A funcionalidade do artesanato produzido é em grande parte ligada ao uso doméstico (Tabela 12). Entre os poucos produtos que são comercializados, no entanto, existem algumas particularidades entre comunidades. Por exemplo, em Baturité, predomina a produção de objetos de adorno doméstico ou pessoal (principalmente miniaturas de canoa), provavelmente voltados ao público do turismo e em Campinas, a produção de vassouras, provavelmente voltados aos comerciantes dos centros urbanos mais próximos.


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

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TABELA 10 » Distribuição de famílias por número de itens de artesanato. Tipos de arte sanato

Núme ro de famílias produzindo (%)

Núme ro de famílias que ve nde m pe lo me nos um tipo de arte sanato que produze m (%)

1a5

26 (41,3)

10 (38,5)

6 a 10

30 (47,9)

16 (53,3)

11 a 15

5 (7,9)

4 (80,0)

>15

2 (3,2)

2 (100,0)

N

63

TABELA 11 » Tipos de artesanato produzidos por 63 famílias amostradas neste estudo e sua destinação. Núme ro de famílias produzindo (N=63 famílias) Tipo de arte sanato

total (%)

Par a consumo próprio

Para consumo próprio e e ve ntual ve nda

Para ve nda

Re mo

35 (55,6)

32

3

-

Vassoura

33 (52,4)

17

16

-

P a ne i r o

32 (50,8)

32

-

-

P e ne i r a

32 (50,8)

31

1

-

Tupé

32 (50,8)

28

4

-

Abano

31 (49,2)

29

2

-

F o gã o

19 (30,2)

17

2

-

Ce sto de arumã

17 (27,0)

16

1

-

Cumatá

17 (27,0)

15

2

-

Colar

14 (22,2)

8

6

-

Chapé u de cipó-ambé

11 (17,5)

10

-

1

Banco

10 (15,9)

10

-

-

Canoa (miniatura)

10 (15,9)

1

1

8

Arco-fle cha

9 (14,3)

5

-

4


28

Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

CONTINUAÇÃO DA TABELA

11 »

Núme ro de famílias produzindo (N=63 famílias) Tipo de arte sanato

total (%)

Par a consumo próprio

Para consumo próprio e e ve ntual ve nda

Para ve nda

9 (14,3) cada

9 cada

-

-

8 (12,7)

5

3

-

8 (12,7) cada

8 cada

-

-

Bote de molongó

6 (9,5)

6

-

-

Tiara

5 (7,9)

4

1

-

Ane l

4 (6,3)

2

2

-

Cortina de tucum

4 (6,3)

3

-

1

Bolsa

3 (4,8)

2

-

1

Brinco

3 (4,8)

2

1

-

Ce sto de piaçava

3 (4,8)

1

2

-

3 (4,8) cada

3 cada

-

-

Cortina de se me nte s

2 (3,2)

-

2

-

Zarabatana

2 (3,2)

-

-

2

Abajour e Chave iro

2 (3,2) cada

1 cada

-

1 cada

Ce sto de tucumã, Cinto e Panacarica

2 (3,2) cada

2 cada

-

-

1 (1,6)

-

1

-

1 (1,6) cada

1 cada

-

-

Aturá e Ce râmica Pulse ira Balaio e Tipiti

Cacuri, Matapi, Rapixé e Suplá

Pre nde dor de cabe lo Cade ira de cipó, Chapé u de piaçava, Me sa, Pilão, Porta-lápis, Sutiã, Tambor, Urutu e Zagaia


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

29

TABELA 13 » Freqüência de registros de artesanatos segundo a funcionalidade geral com base nas declarações de 63 famílias residentes amostradas neste estudo.

Tipos de arte sanato

Núme ro de re gistros (%)

Abano, Balaio, Banco, Cade ira de cipó, Ce râmica, Ce stos, Cumatá, Fogão, Me sa, Pane iro, Pe ne ira, Pilão, Tambor, Tipiti, Urutu, Vassoura

226 (55,4)

Ane l, Bolsa, Brinco, Chapé us, Chave iro, Cinto, Colar, Pre nde dor de cabe lo, Pulse ira, Sutiã, Tiara

55 (13,5)

Abajour, Miniatura de canoa, Cortinas, Porta-lápis, Suplá, Tupé

54 (13,2)

Construção e transporte

Aturá, Bote de molongó, Re mo, Panacarica

52 (12,7)

Caça e pe sca

Arco e fle cha, Cacuri, Matapi, Rapixé , Zagaia, Zarabatana

21 (5,1)

Cate goria Uso domé stico Adorno e uso pe ssoal Adorno domé stico

N

408

Descrição dos produtos artesanais ABAJOUR – Não pertence ao grupo de objetos tradicionais fabricados por estes grupos, mas os pontos do trançado são os mesmos utilizados na confecção dos cestos, resposta a demanda de mercado que vem se abrindo para estas comunidades. Feito de piaçava, tanto a vermelha como a preta, possui formatos variados.

ARCO E FLECHA – Conjunto de instrumentos utilizados para caça e pesca, feito a partir do pau d’arco (arco) e taboca (flechas) poucos são os grupos que ainda os utilizam na calha do rio Negro, sendo substituído sistematicamente pelo uso da espingarda. São confeccionados exemplares em miniatura para venda a turistas.

ABANO – Pode ser feito de arumã, cipó ou partir do “olho” (folhas novas) do tucumã, serve para ajudar na propagação do calor na fogueira, assim como para se refrescar do calor.

ATURÁ – Geralmente feito do cipó-titica, tem o formato de cesto, geralmente com 50 cm de altura, muito utilizado para transporte de utensílios e de produtos do roçado (mandioca, cará, abacaxi e etc).

ANEL – Adorno para os dedos feito a partir do caroço do tucumã, são lixados até ficarem no formato desejado.

BALAIO – Cesto raso de formato circular utilizado para servir alimentos, feito com


30

Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

arumã e por vezes apresenta rico grafismo de cores variadas em seu corpo. BANCO – Assento de formato simples, retangular, com um ou dois pés, geralmente feito de uma peça única de madeira de molongó. BOLSA – utensílio confeccionado com vários tipos de fibra como piaçava e tucum, usados no dia-a-dia para transporte de pequenos objetos e para a venda.

al utilizado para que a cerâmica não se quebre durante a queima, dando a liga necessária) as cinzas da casca da árvore do caraipé. CESTO DE ARUMÃ – Feito de arumã, tem tamanho e forma variados, desde pequenos cestos retos em formato arredondado com fundo quadricular até outros maiores, com o corpo bojudo e boca estreita. CESTO DE PIAÇAVA – Cesto de vários tamanhos e formas feito da fibra da piaçava.

BRINCO – Adorno para as orelhas feito de sementes e penas.

CESTO DE TUCUMÃ – cesto tigeliforme feito do “olho” ou folha nova do tucumã.

CANOA E BOTE EM MINIATURA – Miniaturas de embarcações regionais feitas para a venda a turistas ou pra brincadeiras de criança. A matéria prima utilizada é a madeira do molongó.

CHAPÉU – Feito de piaçava ou do cipó ambé, trançado, tem aba circular.

BRINCOS E TIARA - Adornos feitos em formatos e com matérias primas variadas, que vão desde a fibra do tucum até sementes e piaçava. CACURI – Armadilha para pesca confeccionada com talas de madeira amarradas com cipós que são dispostas em trechos de corredeira para aprisionar os peixes em deslocamento.

CHAVEIRO – Confeccionado por demanda de mercado externo, geralmente representa miniaturas do dia a dia dos grupos e pode ser feito de vários tipos de fibra e sementes. COLAR – Adorno feito com sementes diversas presa em fios de tucum, piaçava ou material industrializado.

CADEIRA – Assento feito a partir de uma estrutura de madeira, envolta de cipó titica.

CINTO – Feito de fibras naturais ou material industrializado, tem nos seus grafismos figuras que se remetem aos desenhos utilizados pelos grupos quando de suas festas tradicionais.

CERÂMICA – Recipientes feitos de argila em formatos variados a partir da técnica do acordelamento (a partir de roletes colocados em espiral até dar o formato desejado dos vasos). É utilizado como antiplástico (materi-

CORTINA DE TUCUM – Não são objetos tradicionais dos grupos, mas adaptações a partir de produtos industrializados. Feitas com fibras de palmeiras (principalmente o tucum) com variadas sementes.


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

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CORTINA DE SEMENTES – Adorno doméstico feito de fibras e sementes diversas.

PORTA-LÁPIS – Cesto de piaçava em miniatura voltado para o mercado.

CUMATÁ – Grande peneira feita de fibras diversas, serve para coar a massa da mandioca para extração do tucupi.

PRENDEDOR DE CABELO – Adorno para usar no cabelo.

FOGÃO – Feito de barro, a partir da técnica do acordelamento, que consiste na construção do objeto a partir de roletes que são colocados em espiral, é utilizado no preparo de comida. MATAPI – Armadilha para pesca feita de talas e cipós constituindo um cone onde o peixe em deslocamento é aprisionado. MESA – Peça para uso doméstico, feita em madeira. PANACARICA – Espécie de cesto cargueiro confeccionado de cipó titica a partir de uma estrutura de madeira, é utilizado no transporte de utensílios. PANEIRO – Geralmente feito de cipó titica, tem o formato de cesto, geralmente com 50 cm de altura, muito utilizado para transporte de utensílios e de produtos do roçado (mandioca, cará, abacaxi e etc). Apesar de terem o mesmo formato o paneiro possui espaçamento entre suas malhas mais abertas do que o aturá. PENEIRA – Feita de arumã de terra firme jacitara ou cipó (titica ou ambé), serve para peneirar a massa da mandioca. PILÃO – Feito de madeira da árvore localmente conhecida como pau Brasil, geralmente é utilizado para pilar pimenta na produção da jiquitaia (pimenta em pó).

PULSEIRA – Feitas de variados matérias, desde a fibra do tucumã, passando pelo arumã, até a piaçava, são normalmente adornadas com sementes coloridas. RAPIXÉ – Rede utilizada para a coleta de peixes para o mercado ornamental, possui um formato alongado e arredondado, com uma de suas extremidades possuindo uma armação quadrada de madeira dividida ao meio com um bastão, que serve para o manuseio da rede quando da captura. REMO – Feito a partir da madeira da cerejeira ou pau-brasil, tem três partes claramente diferenciáveis em seu corpo: cabo, corpo e pá. Em formato foliáceo, a pá serve tanto para o impulso da canoa como também é utilizado para mexer a farinha quando esta é torrada. SUPLÁ – Artesanato produzido para o mercado. Constitui-se uma base de fibra trançada em forma de círculo. Pode ser de vários materiais como piaçava e tucumã. SUTIÃ – Feito em Campina do Rio Preto, o sutiã é confeccionado todo na fibra da piaçava, com seus dois suportes de seios em formato cônico. TAMBOR – Feito de uma armação de madeira circular e couro de animais, é utilizado em


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ocasiões de festas tradicionais ou de santos, marcando o ritmo de danças ou procissões. TIARA – Adorno em forma de arco para prender os cabelos. TIPITI – Semelhante a um cesto de formato cilíndrico, tem uma abertura na sua porção superior por onde é colocada a massa da mandioca depois de ralada. Possui também duas alças, uma em cada extremidade sua, sendo a de cima para prender num ponto fixo e a de baixo para introduzir a alavanca e provocar a distensão do tipiti, comprimindo a massa que se encontra em seu interior e retirando o tucupi (sumo da mandioca). Feito de arumã de terra firme ou de jacitara. TUPÉ – Esteira ou tapete feito das talas do arumã membeca, geralmente de formato quadrado ou retangular, variando muito de tamanho, é muito utilizado na decoração das casas ou na divisão entre cômodos. URUTÚ – Tipo de cesto feito de arumã, em vários tamanhos. VASSOURA – A piaçava ou o cipó titica são suas matérias primas básicas, utilizado na limpeza das casas ou terreiros. ZARABATANA – Instrumento de caça constituído de um tubo longo feito da tala da palmeira jupati com bocal de madeira, por onde são sopradas flechinhas envenenadas, usado para caça.

ZAGAIA – Consiste num pequeno tridente, feito de ferro e geralmente comprado nas cidades, preso a um cabo de madeira, utilizado para pescar.


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A arte dos grafismos

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Os grafismos, muito comuns na cestaria indígena, são produzidos com grande habilidade por alguns artesãos e remetem ao conhecimento empírico da natureza, com representações de animais ou ainda da mitologia ainda presente na memória dos mais velhos. Os balaios, urutus e tupés são as peças em que esta arte é mais empregada. As formas dos desenhos são criadas a partir do trançado, utilizando-se para isto talas de arumã tingidas, entremeadas com talas de coloração natural. Apresentamos alguns dos grafismos registrados neste trabalho: PÉ DE MAÇARICO – Em formato de x representa as pegadas deixadas pelo pássaro migratório popularmente conhecido como maçarico, muito comum nas praias do rio Negro no verão. PEITO DE LAGARTO OU TAPURU – Grafismo que como o próprio nome diz remete aos desenhos encontrados na região peitoral de pequenos lagartos. Também é conhecido como tapuru, que é a larva de besouro encontrado em buracos de árvores na floresta. CASCO DE JABUTI – Feito a partir de quadrados, lembrando os desenhos do casco do jabuti, este grafismo costuma vir associado por vezes ao pé de maçarico, trançado na parte central do quadrado.

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CAMINHO DO DIABO – Grafismo formando um desce e sobe, denominado pelos indígenas como caminho do diabo, por não ter começo e nem fim. CAMARÃO – Em formato de Y com duas faixas ao seu lado, este grafismo recebe este nome por remeter a figura dos pequenos camarões de água doce. BORBOLETA – Formado por losangos um ao lado do outro são denominados de borboletas, pela semelhança com as asas. PERNA DE CARARÁ – Grafismo feito em zigue-zague, finos, se assemelham as pernas da ave carará. TEIA DE ARANHA – Num emaranhado de grafismos, com diferentes cores, tanto na vertical como na horizontal e diagonal, formando o que eles denominam como teia de aranha. CARACOL – Semelhante ao casco de jabuti, só que juntos aos seus pares na diagonal, variando seu grafismo interno desde pé de maçarico até apenas um pequeno ponto. CASCA DE ABACAXI – Semelhante ao casco de jabuti e ao caracol, são losangos unidos na diagonal com o grafismo de pé de maçarico na porção central de cada losango. BARRIGA DE JACARÉ – Malha do trançado formando desenhos que remetem as escamas da barriga de jacaré.


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Problemas vividos nas comunidades e busca de soluções

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As comunidades do rio Negro vivem em uma fronteira cultural onde enfrentam vários problemas sociais, que vão desde a falta de condições básicas de saúde até conflitos relacionados a terra e usos dos recursos naturais. Dentro desta perspectiva encontram-se também questões referentes ao artesanato. Dentro do ciclo de sua produção, um dos primeiros problemas enfrentados são os acidentes que ocorrem durante a coleta da matéria-prima. É até certo ponto comum que ocorram ataques de animais peçonhentos, cobras e escorpiões, durante a coleta de fibras de palmeiras e cipós (piaçava, caranã, jacitara, cipó-titica), assim como ferimentos durante o manuseio dos instrumentos necessários a coleta e fabricação do artesanato (terçados e facas). Outro problema diagnosticado durante o processo de obtenção da matéria-prima diz respeito às doenças adquiridas nestes locais. Sem maior assistência além do próprio conhecimento de ervas e remédios tradicionais, é normal encontrar alguém que tenha pego pelo menos uma vez alguma doença durante estes trabalhos. Bem disseminada pela região a malária é de certa forma comum, mas são encontrados casos também de Hepatite A, Leshmaniose e Mal de Chagas, principalmente nos “Piaçabais”.

A coleta, o beneficiamento da matéria-prima e a produção artesanal ocupam grande parte da vida destas comunidades indígenas, ao lado de outras atividades como plantação, caça, pesca, religiosidade e festas. Apesar da importância existente dentro deste espaço social, o seu valor de venda é muito baixo se comparado ao preço alcançado nas cidades para onde é levado por intermediários. O artesanato é desvalorizado junto aos artesãos, chegando mesmo a ponto de serem trocados por produtos industrializados de menor valor. No entanto, ao ser adquirido por intermediários, este artesanato passa a ter um aumento substancial no preço de venda, pois nele vem agregado um valor cultural (por ser artesanato indígena). Por não terem locais para o escoamento de sua produção, as comunidades ficam submetidas a intermediários que definem o valor de compra, quando e com quem comprar. Isto se dá pela falta de opções de locais de venda, apontado pelos indígenas como um dos empecilhos existentes, o que impossibilita a venda por um preço justo para sua produção. A falta de uma embarcação que atenda as necessidades relativas a coleta de matéria-prima


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e escoamento do artesanato constitui-se num outro problema apontado. Além dos problemas e das necessidades diretas relativas à produção de artesanato, uma triste realidade identificada em escala maior é o rápido esvaziamento das áreas de vida das comunidades indígenas. Nos últimos anos, o êxodo vem aumentando, principalmente pela precariedade de serviços sociais básicos, que perdura pela pouca visibilidade e desrespeito a estas comunidades indígenas e pelo descaso das políticas governamentais. Alguns dos principais problemas que contribuem para este êxodo são apresentados a seguir: SAÚDE – Uma das principais necessidades das comunidades está na área de saúde. Nem todas comunidades possuem postos de saúde e quando possuem não há técnicos devidamente formados. Estes técnicos são responsáveis por áreas extensas, compreendendo muitas comunidades em seu raio de ação. Subordinados a eles estão os agentes de saúde comunitários, que são pessoas treinadas, da própria comunidade, a darem a primeira assistência aos doentes ou o encaminhamento para a sede do município em casos mais graves. Ficam alocados em pequenos casebres, muitas vezes sem a estrutura necessária para o atendimento, utilizando-se dos poucos recursos existentes e dos conhecimentos tradicionais no atendimento de enfermos. EDUCAÇÃO – Todas as comunidades carecem de condições básicas de educação, a começar pela estrutura física das escolas. Feitas

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de madeira ou em alvenaria, as escolas são pequenas, não comportando todos alunos de maneira satisfatória, onde crianças de variadas classes assistem aulas parceladamente, com cada série esperando a sua vez. Com ensino apenas até a 4ª série do ensino fundamental, muitas famílias se vêem impelidas a migração para as cidades com objetivo de complementação dos estudos de seus filhos, acarretando no abandono das comunidades. DEMARCAÇÃO DE TERRAS – Apesar de muitas destas comunidades serem formadas por indígenas, inclusive com o reconhecimento por parte do órgão responsável e do estudo já realizado pela FUNAI, as terras da comunidade não estão demarcadas, contribuindo no processo de invasão de áreas tradicionalmente ocupadas, tanto por grileiros como por Hotéis de turismo de pesca. Isto vem acarretando uma animosidade crescente entre as comunidades indígenas e os “novos donos da terra”. SISTEMA DE AVIAMENTO – O aviamento é um sistema de troca de produtos primários (matérias-primas) por mercadorias industrializadas existente na região desde o período de exploração da borracha, instalado em meados do século 19. Esta forma de comércio ainda é praticada no médio rio Negro, mas realizada muitas vezes de forma injusta. Os produtos extrativistas coletados (atualmente a piaçava e peixes ornamentais) são trocados por mercadorias e nesta relação a produção é altamente desvalorizada, enquanto que os preços dos produtos da ci-


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dade são elevadíssimos, fazendo com que muitas famílias vivam endividadas e dependentes dos patrões. Face a tantos problemas vividos e falta de perspectiva de melhora, as organizações indígenas que atuam na região, assim como organizações não-governamentais e alguns setores governamentais têm buscado discutir e propor formas de reverter este quadro na região. Para isto, projetos estão sendo discutidos de forma conjunta para a viabilização de recursos humanos e financeiros, assim como providências são buscadas junto aos órgãos competentes para que num futuro próximo uma realidade mais positiva seja encontrada nas comunidades da região.

Histórias e relatos Carta da ACIRP (Associação das Comunidades Indígenas do Rio Preto) a entidades de apoio: A ACIRP está lutando e querendo ajuda dos órgãos já existentes para escoar nossos artesanatos e outros produtos da região do rio Preto. Contamos com ajuda dos órgãos que queiram nos ajudar. Para entrar em contato pela Radiofonia 776, aldeia Campinas do rio Preto, município de Santa Isabel do Rio Negro. Agradeço sua atenção Diovans de Jesus Almeida Etnia Baré

Pequenas descrições Artesanato de piaçava O chapéu feito de piaçava tem 12 cm de fundo, 10 cm de descida e 8 cm de beira, podendo ter até mais. É usado para se proteger do sol ou da chuva. O matiri (tipo de cesto com tampa) também feito de piaçava tem 7 cm de fundo, 4 cm de altura, abrindo 4 cm altura, fechando 3 cm de levantamento para boca e com 6 cm de largura da boca, o pequeno. O grande pode ter 13 cm de fundo, 14 de altura abrindo, 15 de altura fechando, 4 de levantamento para a boca e 13 cm de largura da boca, usado para por jóias, utensílios de costura, dinheiro e outros objetos pequenos A cesta também feita de piaçava, a grande pode ter 16 cm de fundo, 18 de altura e com 25 ou 30 de boca. Usada para por pães e frutas. A vassoura tem 10 ou 18 cm de grossura e 35 cm de comprimento, utilizada para varrer casa e outras coisas. (Auzenina Rodrigues Moraes) O cesto serve para colocar frutas e roupas, o espanador serve para espanar e para retirar farinha do forno. O samburá serve para colocar camarão e para guardar agulhas e o suplá serve para descanso de panela, estes objetos são feitos da fibra da piaçava. (Emiliana Geovaz da Silva) Tucum O pé de tucum produz a fibra para se fazer bolsas, redes, puçá para pegar peixe e utilizado como linha de pesca. Até serve comer as frutas dele. (Maria Aparecida Dias - Nhingõ)


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Paneiro de arumã Utensílio utilizado para transportar mandioca, frutas, etc...e é o principal utensílio usado diariamente pelos indígenas. (José Alberto L. Fidelis) Arpa de cariçú Um instrumento de sopro, tocado em festa, por homens, não pode ser tocado por mulheres por que deixa-as improdutivas no que diz respeito ao trabalho com a mandioca. Cada etnia possui suas formas de soprar (tocar) e dançar, é feito com uma espécie de bambu da região. (Antonio Campos)

O que é ser indígena Para mim, ser indígena é uma luta dos povos que garante seus territórios, de um povo cheio de antepassados, seus mitos, seu sustento, sua esperança e seu futuro histórico. Por isso, a terra é mãe, é vida. Ela deve ser respeitada e bem tratada, não agredida e destruída. A sabedoria indígena é uma vivência em harmonia com a natureza, durante vários milênios. Podemos entender um pouco, por que existe tanta terra nas mãos de poucos “brancos”. As terras de caso relevante podem ser utilizadas para o plantio agrícola para o povo indígena. Eles acreditam em várias divindades, assuntos religiosos, acreditam em cuidado do pajé e manter suas tradições culturais em comemorações especiais. (Zenaide Nery Lemos)

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Histórias contadas Artesanato Certo dia um senhor chamado João, sua esposa Maria e seu filho Felipe. Caminhando no caminho mais longo da distância a volta de seu trabalho. Contando pequenas historinhas sobre seu trabalho em casa, que é o artesanato. João disse a sua mulher Maria e seu filho Felipe: É muito bom trabalhar artesanato para mim você sabe por que, a pessoa vai no mato, tira seu arumã, chega em casa sem preocupação a gente faz aquele trabalho, com a vontade da pessoa, sem ser como a gente empregado, obrigado fazer coisas. Quer dizer, o arumã tem detalhe, muita gente pensa que esse trabalho é fácil, mas não é, todo quanto o trabalho no sofrimento da pessoa para fazer artesanato é um pouco difícil para quem não sabe, e para quem já sabe fazer ou trabalhar com artesanato, tudo é difícil aqui no mundo para a sobrevivência. Disse João a seu filho Felipe, meu querido, você vai passar por tudo que seu pai passou, a pessoa tem direito de enfrentar as coisas difíceis para ter a vida. Com a dificuldade que a pessoa facilita sua vida para ter sua alimentação do dia a dia. (Percílio Francisco - Hiipathairi) A origem da cor da pele Antigamente todas as pessoas tinham somente uma cor de pele, todos eram morenos, até que um certo dia, a humanidade inteira se reuniu num local, na beira de um rio fervente e todos foram convidados para mergulhar no rio. Mas nem todos tiveram a coragem de en-


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trar dentro do rio, somente alguns, outros somente puseram as palmas das mãos e dos pés no rio. Após sair do rio a humanidade percebeu que algumas pessoas que entraram dentro do rio ficaram com a pele bem branca, assim dando origem ao homem branco, as pessoas que somente puseram as palmas das mãos e dos pés no rio perceberam que sua pele era escura e somente eram brancas as palmas das mãos e as solas dos pés, dando origem assim à cor da pele indígena. (Maria Lucilene L. Fidelis) A Lenda da Cobra Grande Uma vez um home simples da beira do rio Negro foi encontrado pelos espíritos e transformou-se em uma cobra gigantesca, e ficou condenado a viver no fundo do rio, seu nome era Norato e também tinha uma irmã, e viviam na região do rio Negro. Sua irmã era mais perversa, queria alagar todos os barquinhos que por ali passavam, mas seu irmão não deixava. Norato andou muito pelo fundo dos rios e procurava um homem corajoso para o desencantar, pois para isto só tinha um jeito, era com um tiro no meio da testa, e não encontrava esse homem. Um certo dia deparou-se com um velho soldado aposentado e conversou com ele, e contou sua história toda, que estava a procura de um homem corajoso que o desencantasse. Mas transformou-se em forma de gente para conversar com o soldado e disse que o soldado após ele fazer isso, iria trazer muito ouro prá ele, e o soldado topou, e combinaram numa praia grande à meia-noite, tudo

que ele tinha que fazer era cortar um limão em cruz e dar um tiro no meio da testa da cobra e principalmente não temer, pois a cobra era enorme, e chegando à hora combinada, prá lá o homem foi, demorou alguns minutos, e começou a estrondar para as profundezas do rio, e ao mesmo tempo o nível da água vinha subindo, até chegar a sua cintura. O velho soldado já estava sentindo um pouco de medo, até a cobra sair para a superfície, e o soldado já tremendo de medo, rapidamente fez o que Norato tinha lhe dito, cortou o limão em cruz e jogou, e com seus braços tremendo atirou. Após o tiro abriu os olhos e viu apenas uma cauda grande descendo, e um homem pulou de sua cabeça e junto com ele duas sacolas de ouro, mas o home saiu cego do olho direito, por que o tiro que ele deu pegou em seu olho ao invés da testa. Mesmo assim, Norato agradeceu pela coragem do soldado e disse que após tantos anos de procura até que achou um que o desencantasse e lhe entregou as duas sacolas e ambos seguiram seus caminhos. (José Alberto L. Fidelis) O Yamakãnserenrón (O Bitira) Antigamente as pessoas quando morriam, na tarde do dia seguinte a partir das 6:00 horas da tarde o espírito retornava com a sua família no seu lar e às 5:00 da manhã desaparecia e retornava todos os dias a partir da 6:00 da tarde, naquele tempo isso era normal, por isso os seus parentes quando algum


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membro da família morria nem se preocupavam. Num certo tempo, nasceu um menino que se chamava Yamakãnserenrón. Quando ele completou 8 anos, quando começou a entender as coisas, achava esquisito o modo como funcionava as coisas, num certo dia quando ele estava no galho de uma árvore, viu a pessoa que tinha acabado de morrer, como de costume estava retornando a seu lar, e ao ver isso o Yamakãnserenrón começou a malinar dele dizendo: Meu Deus! Está saindo diabo do túmulo, saindo do inferno, acho que vou morrer por que estou vendo alma penada, ele falava isso toda vez que a pessoa que morreu retornava, com o passar do tempo as pessoas já mortas começaram a sentir vergonha de estar no meio dos vivos, por que eram almas penadas. Desde então nunca mais as pessoas que morrem retornam à sua casa. De castigo, os pajés amaldiçoaram a Yamakãnserenrón que durante a sua vida e

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depois de sua vida ele passaria a repetir sua frase, que ele tanto gostava de malinar dos mortos, que todo dia às seis horas da tarde ele cantasse no cemitério para evitar que os mortos retornem ao seu lar, amaldiçoaram também que quando as pessoas ouvem seu canto na frente da casa é aviso da morte. Por culpa dele que atualmente as pessoas que morrem nunca mais retornam. Também por ter sido amaldiçoado após sua morte se transformou num passarinho que até hoje permanece no cemitério. (Maria Lucilene L. Fidelis) Curupira de Rede É uma curupira diferente, na forma de duas pessoas, ligadas por uma rede, que é a continuação de sua pele. Quando pega uma pessoa, ela embrulha (agarra) com sua rede sufocando-a até a morte, depois suga a sua gordura e joga-a fora. (Antonio Campos)


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Contato das Entidades

ASIBA - Associação Indígena de Barcelos Rua Laura Vicuña, n. 01 - Bairro Santa Inês. CEP 69.740-000 Santa Isabel do Rio Negro - AM Tel: (97) 3441 1258 email: asiba@click21.com.br

ACIMRN - Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro Rua 02, n. 16 – Cj. Santa Isabel – Bairro Santa Inês Santa Isabel do Rio Negro – AM Tel: (97) 3441 14 13

FVA - Fundação Vitória Amazônica Rua Estrela D’alva, n. 07, Cj. Morada do Sol B. Aleixo – CEP: 69060-080 – Manaus – AM Tel: (92) 3642 78 66 Fax: (92) 3236 32 57 email: fva@fva.org.br www.fva.org.br



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