PILOT VOLUME 01
“Por que você usa essa fantasia idiota de coelho?” “Por que você está vestindo essa fantasia ridícula de homem?“
Donnie Darko
EDITORIAL A primeira edição vem com todo o contexto complexo e obscuro de Donnie Darko, do qual tem gerado diversas teorias e discussões conquistando estatuto de filme cult. Não poderia faltar também a figura do grandalhão carismático Hellboy, onde, as fantásticas sequências de ação oferecem um apreciável espetáculo visual. A crítica social também faz parte da edição com o filme Corra. Coringa, o vilão mais famoso de todos os tempos tem filme solo e já possui data de estreia nos cinemas. Como a visão que as pessoas tem de um filme pode mudar com o passar do tempo, não é mesmo? (500) dias com ela é a maior prova disso. Para finalizar uma resenha do mundo solitário de Amélie Poulain.
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Estudante de Design Gráfico na Unisociesc A criação da revista foi uma experiência incrível como designer, que me proporcionou mais conhecimento tanto na diagramação, quanto no Indesign (que até então não dominava), tudo isso ocorreu de uma forma prática que fica na mente e dificilmente se apaga, ou seja, a melhor forma de absorver o conteúdo. O tema da revista foi passado pelo professor como algo livre, assim, acabei optando pelo conteúdo referente a filmes, mas ainda, houve dificuldade para encontrar notícias e principalmente imagens especificas com qualidade adequada, felizmente com bastante pesquisa e referências foi possivel completar o projeto. Confesso que o resultado final não está perfeito, entretanto, tenho orgulho do trabalho e de toda a experiencia adquirida no decorrer desse projeto.
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COMO O PERTURBADOR COELHO GIGANTE FOI CRIADO?
“Donnie Darko” estreava nos cinemas há 16 anos sem deixar uma marca nas bilheterias. Apesar dos números ruins, a história complexa e um tanto subjetiva do menino de 16 anos -- papel de Jake Gyllenhaal -- que é avisado por um coelho que o mundo será destruído em 28 dias virou cult. E um dos principais motivos para tantas camisetas, pôsteres, fantasias de Halloween e menções sobre a produção dirigida e roteirizada por Richard Kelly é o bendito coelho gigante. “Todos me perguntam, ‘De onde o coelho saiu?’”, brincou o cineasta em entrevista em março para o “Entertainment Weekly”. “Não é uma questão fácil de responder”.
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A ideia sempre foi de Frank (o nome do personagem) ser o roedor. O diretor bolou o desenho muito antes das filmagens e a figurinista April Ferry (“Game of Thones”) foi responsável por dar vida ao monstrengo, recrutando um escultor para formar o famoso sorriso torto do animal. “Eu fui muito chato para que [a fantasia] fizesse um impacto. Tinha que perturbar as pessoas. Tinha que fazer o público sentar na cadeira e ter uma resposta intensa imediata”, descreve o cineasta. O teste foi nas filmagens do filme. Richard Kelly tinha 24 anos e nenhum filme nas costas, tendo que se virar para conquistar o elenco do projeto. A primeira vez que o ator James Durval usou a figurino fez todo mundo no estúdio ficar em silêncio. “Todos ficaram quietos. Todos estavam sentindo que era muito intenso. Então eu percebi que estava funcionando, e senti um alívio. Eu poderia olhar em volta, e os maquiadores e os assistentes de produção estavam todos desesperados com aquilo”, relembra Kelly. “Meu produtor chegou para mim e disse, ‘Rich, eu não tinha muita certeza sobre o coelho...mas agora eu entendi”.
DONNIE DARKO
Kelly diz que o design da sinistra criatura pode ter surgido de um sonho (um pesadelo, convenhamos) ou ainda inconscientemente pela sua paixão por “Uma Grande Aventura” (animação de 1978 que retrata um grupo de coelhos encarando perigos).
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SERIA MELHOR SE HELLBOY ESTIVESSE NO INFERNO
Em meio a um cenário em que Hollywood tem explorado de reboots diversos das mais variadas franquias e séries de filmes, a retomada de uma produção de Hellboy é algo curioso. Os dois primeiros filmes, dirigidos por Guillermo del Toro, podem não ter garantido retornos econômicos exorbitantes para o estúdio, mas a qualidade enquanto produto e, principalmente, o olhar autoral do diretor mexicano para a criação daquele universo sobrenatural garantem personalidade. Passados mais de 10 anos da última aparição do personagem nas telonas, Hellboy volta em uma nova versão que, de forma trágica, acaba por ser um grande exemplo de reboot desnecessário e que perde a oportunidade de explorar de um bom potencial. Inspirado nos quadrinhos do personagem criado por Mike Mignola, a nova película não aproveita do bom momento das adaptações de HQs nos cinemas e desperdiça a possibilidade de enxergar em sucessos recentes alguma inspiração para trazer frescor e renovação para o universo de Hellboy.
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O principal problema do filme reside no roteiro inchado escrito por Andrew Cosby, que na tentativa de apresentar conceitos, personagens e a interessante mitologia criada nos quadrinhos, acaba se perdendo na quantidade de material que precisa lidar em duas horas de projeção. No fim das contas, é um roteiro que desperdiça muitas boas ideias e uma possível construção de universo sobrenatural e místico rico, mas que na afobação cria uma narrativa esquizofrenia.
Por esse motivo, quando o texto introduz duas revelações relacionadas aos laços pessoais e paternais de Hellboy, uma no meio da projeção e a segunda já no começo do clímax, a possibilidade de um arco dramático ou de alguma mudança do protagonista não se edificam de forma alguma, o que impacta profundamente na empatia do público com o personagem. O tom desconjuntado, incapaz de equilibrar um humor jocoso com a violência caricata e grotesca, tornam todos os personagens em constantes marionetes canastronas e cheias de si, sem personalidade e carisma. A falta de química entre todos atores completa o desastre que são as dinâmicas de personagens, principalmente a relação paternal entre o personagem de Ian McShane e o protagonista, além da irritante dinâmica do trio formado pelo monstro vermelho, Alice (Sasha Lane) e o agente Bem Daimio (Daniel Dae Kim). David Harbour evidentemente se esforça no papel principal, mas a falta de tom definido exaure qualquer possibilidade de carisma, atuação e construção de um personagem com personalidade, transformando a nova versão do Hellboy em um monstro rabugento, chato e com frases de efeitos vazias. Mesmo que com tantos problemas, o maior desastre fica a cargo da antagonista do longa vivida por Milla Jovovich. A atriz não ganha espaço para explorar dos seus anos participando de sequências de ação mirabolantes e envolventes em Resident Evil, sendo limitada a uma vilã sem peso e imponência, desperdiçando a possibilidade de cenas de luta que valessem o ingresso de um filme pipoca como se espera de Hellboy. Apesar de não trazer tanta expectativa quanto à amplitude dramática, a palidez e falta de expressão na atuação de Jovovich deixam a personagem ainda mais vazia.
O roteiro esquizofrênico e a falta de uma narrativa decidida a contar uma história coesa e interessante trazem um problema de ritmo gritante. São tantos acontecimentos, personagens, locais visitados e revelações mal construídas e porcamente desenvolvidas, que o espectador sai visivelmente cansado da sala de cinema. Até mesmo a premissa de que o destino do próprio Hellboy é que ele é o catalisador de um apocalipse e o líder da supremacia das trevas perante os humanos é mal trabalhada, algo que os dois filmes de del Toro souberam fazer com clareza e profundidade. É uma boa história desperdiçada e um arco dramático interessante, mas que se tornam meros melodramas de um monstro com problemas paternais e de autoaceitação. A falta de assinatura, personalidade e controle criativo recaem nas mãos do diretor Neil Marshall, que não traz o controle de ambientação e construção de atmosfera de terror que fez muito bem eu seu filme Abismo do Medo (2005), ao passo que também não tem sucesso nas sequências de ação pouco empolgantes como fez quando dirigiu dois bons episódios de Game of Thrones – Blackwater e The Watchers on The Wall (T04, Ep. 09).
Nesta bagunça completa, a nova interpretação de Hellboy não empolga e faz um desserviço ao conceito de reboot. O que fica é a sensação de que essa nova investida na franquia não era desejada e muito menos necessária. Um retorno desagradável e que, pelo o que tudo indica, assegura um lugar nos confins do submundo do cinema. 07
TERROR, RACISMO E CINEMA DE QUALIDADE Recentemente, a indústria audiovisual tem demonstrado sinais de mudanças no que diz respeito a representatividade e diversidade nas produções. Graças a críticas feitas por inúmeras pessoas, tanto dentro quanto fora da indústria, os estúdios e empresas passaram a responder os avanços e mudanças de pensamentos do mundo contemporâneo. Desta forma, ainda que de forma embrionária, minorias passaram a ser melhor representadas, na televisão e no cinema, em grande parte pelo aumento das oportunidades dadas aos profissionais que fazem parte de tais minorias e entendem suas dificuldades e anseios.
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Obras como Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) e Pantera Negra (2018), alcançaram sucesso de público e crítica não só por abordarem temáticas importantes para o imaginário do mundo contemporâneo e por dar espaço e voz a uma minoria, mas por serem produções de alta qualidade. Mas de todos longas recentes, talvez Corra! (2017) seja um dos filmes que mais marcará época com o passar do tempo, por propor uma análise social das tensões raciais existentes na sociedade contemporânea como premissa de uma obra que combina gêneros cinematográficos com perfeição, se assumindo como um filme pungente e importante.
Na trama acompanhamos o jovem negro Chris (Daniel Kaluuya) que namora Rose Armitage (Allison Williams), uma garota branca que pretende levar seu namorado para conhecer sua família. A partir desta premissa simples, Jordan Peele desenvolve um filme repleto de nuances e críticas sociais afiadas ao racismo nos Estados Unidos, mas que também ultrapassa limites regionais sendo facilmente identificável situações que acontecem no Brasil. Com a chegada na casa dos pais e o consequente convívio com a família, o roteiro usa de Chris para guiar o espectador por acontecimentos assombrosos.
Peele, conhecido por seus trabalhos em comédia, estreia na direção de um longa-metragem demonstrando um controle criativo excepcional. O ritmo tenso da produção permite um jogo psicológico com o espectador, que acaba sentindo na pele o desconforto e a desconfiança do personagem de Kaluuya. A sensação de perigo e urgência não se exaure em momento algum, graças a uma direção primorosa em dar vida a um texto igualmente envolvente, que cria uma sensação incessante de desconfiança. E é dessa desconfiança que Peele constrói o verdadeiro suspense: Chris não se sente confortável naquele ambiente, justamente por não parecer verdadeiramente bem vindo, sensação ressaltada pelas estranhas presenças dos funcionários da casa, Georgina (Betty Gabriel) e Walter (Marcus Henderson), únicos negros além do protagonista. Ainda, Daniel Kaluuya, demonstra uma amplitude emocional impressionante ao dar vida ao desconforto de Chris em risadas forçadas e desvios de olhares, mas também ao variar para olhares profundos de desespero com facilidade. As atuações de Catherine Keener e Bradley Whitford como os pais de Rose agregam muito na construção do horror, que por meio das tentativas de interação desajustadas e incômodas cria um atrito entre as personagens e aumenta a atmosfera hostil ao protagonista. Keener é uma um poço de tranquilidade incômoda, que esconde uma inquietude desagradável, enquanto Whitford é artificial em sua interação com Chris, evidenciando as camadas ainda não descobertas. Contrária ao desconforto dos pais, Alisson Williams vive uma namorada compreensiva, aberta e inocente a algumas formas de racismo. Se dos horrores que a trama apresenta na virada do segundo para o terceiro ato, e principalmente em seu desfecho, Peele discute o racismo ostensivo e claro, é na inocência de Rose que consegue abordar as atitudes mais sutis da sociedade, mas que são igualmente preconceituosas. Enquanto os personagens de Keener e Whitford servem para abordar os liberais americanos preconceituosos que “votariam em Obama por uma terceira vez”, como o próprio filme coloca, a personagem de Williams funciona como um arquétipo de um “dedo na ferida da sociedade”, evidenciando atitudes muitas vezes normalizadas ou que são pouco problematizadas.
Além de toda análise social presente, o diretor demonstra uma consciência madura de como mesclar gêneros em um filme só, fazendo com que o equilíbrio de comédia e terror agreguem um ao outro. Os alívios cômicos presentes no melhor amigo do protagonista, Rod Williams (LilRel Howery), funcionam não só como um desafogo da tensão, mas acabam deixando o espectador em uma breve sensação de tranquilidade que, ao ser novamente transformada em tensão quando voltamos a acompanhar a casa dos Armitage, amplifica o desconforto da ambientação. Em seu ato final, Corra! entrega tudo o que prometeu ao longo da projeção, em um desfecho que, mesmo utilizando de uma explicação expositiva um pouco desconexa com todo desenvolvimento narrativo anterior, não prejudica a conclusão tensa que possui. Mesmo depois de sua revelação mais forte em uma cena que resolve o quebra-cabeça construído na trama, Peele consegue manter o espectador preso a jornada de Chris, reservando um último momento tão angustiante e pungente quanto a problemática social trabalhada.
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04 10 19 A Warner Bros. anunciou mais novidades sobre o filme do personagem Coringa. Continua a promessa de um filme sombrio, ao estilo de Taxi Driver - Motorista de Taxi, contando a histĂłria de um dos vilĂľes mais adorados da histĂłria dos quadrinhos.
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Todd Phillips dirge o longa e também é co-autor do roteiro junto com Scoot Silver que segundo informações de bastidores é descrito como “a exploração de um homem renegado pela sociedade e um estudo sobre o personagem”, segundo informações o filme terá uma abordagem ainda mais sombria do que os outros filmes da DC. A trama é centrada no icônico arqui-inimigo e é uma história original, solo e nunca vista antes nos cinemas. A exploração de Phillips sobre Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem desdenhado pela sociedade, não é apenas um estudo corajoso de personagem, mas também um conto abrangente. A sinopse ainda não foi divulgada. Segundo a sinopse em Coringa o filme será “uma história original e independente, nunca vista antes nos cinemas. O filme irá acompanhar Arthur Fleck, um homem desconsiderado pela sociedade, e será não apenas um corajoso estudo de caráter, assim como um conto preventivo muito mais amplo.” No elenco ainda estão os atores Joaquin Phoenix no papel principal, a atriz Zazie Beetz, Robert De Niro, Frances Conroy, Douglas Hodge, Dante Pereira-Olson e Brett Cullen.A produção será um filme isolado do atual Universo Cinematográfico da DC e que Coringa estreia nos Estados Unidos em 4 de Outubro de 2019.
Uma versão ainda mais sombria...
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De queridinho a detestado Culpar Summer pelo término com Tom era uma reação praticamente unânime entre os fãs de (500) Dias com Ela há dez anos, quando o filme chegou aos cinemas. Afinal, dispensar o personagem de Joseph Gordon-Levitt, doce e idealista, só poderia ser uma decisão de alguém sem coração, certo? Não, não é bem assim. Com o passar do tempo, a comédia romântica ganhou um novo entendimento e, hoje, o então príncipe encantado dos tempos modernos tornou-se até mesmo detestado por alguns espectadores. Desde o início, o filme deixa claro que não se trata de uma produção convencional do gênero. Ainda que em tom de brincadeira, a citação que abre a história (“O filme a seguir é uma história de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Especialmente você, Jenny Beckman. Vaca”) já evidencia que os eventos narrados envolvem, no mínimo, uma frustração de seu autor - como a que veremos o próprio protagonista passar. Em 2009, o diretor Marc Webb comentou essa “homenagem” do roteirista Scott Neustadter à moça, em entrevista ao Omelete. “Este filme é sobre aquela época da vida em que você espera certas coisas que nem sempre vêm, e Jenny Beckman era a manifestação disso para o jovem Scott”. Não à toa, Tom é apresentado como um cara idealista - “o garoto de Margaret, Nova Jersey, [que] cresceu acreditando que nunca seria realmente feliz até que conhecesse a mulher da sua vida”, para ser mais exato. Então, quando vê Summer pela primeira vez, ele tem quase certeza de que ela é essa tão sonhada cara-metade. Ele sempre esteve esperando por ela.
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Mas, o que o aspirante a arquiteto não percebe na trama, Neustadter e seu colega Michael H. Weber têm claro: a Summer por quem Tom se apaixona não é real, é uma ideia. Por isso, mesmo expondo a perspectiva de Tom sobre tudo o que aconteceu - e, portanto, um recorte parcial do relacionamento -, (500) Dias com Ela deixa pistas de que o jovem tem um olhar distorcido na sua versão da história. A primeira delas e, possivelmente a mais clara, é a completa descrença de Summer com o amor. Mesmo que ela tenha dito isso explicitamente e ter deixado claro que nunca teve interesse em um namoro, Tom acredita que ele pode mudá-la. Outro momento é a reação exagerada do jovem à apatia de Summer diante das suas tentativas de chamar sua atenção. De repente, uma simples ênfase na palavra “bom” vira um indício de que ela passou o final de semana transando com um homem que ele conheceu na academia. Ao escolher ignorar esses e outros tantos sinais, o espectador assume a postura desiludida de Tom e se torna coautor desta narrativa. Talvez, estas pequenas atitudes problemáticas fiquem mais claras hoje porque se tornou cotidiana a discussão do machismo. Logo, nosso olhar para situações como a do casal esteja menos turvo - a mulher que rejeita não é vilã, por mais bom moço que seja o pretendente. Talvez, nem mesmo os autores do filme tivessem noção da dimensão das complicações de um personagem como Tom. Mas, é justamente por isso que reassistir uma obra anos depois pode ser tão bem-vindo: para entender como você mesmo pode ter mudado de ponto de vista em um período curto.
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A Fabulosa Solidão de
Amélie Poulain
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Le Fabuleux Destin D’Amélie Poulain (O fabuloso destino de Amélie Poulain, 2001) é uma comédia romântica de Jean-Pierre Jeunet produzida na França, na qual se conta a história de uma jovem que, sem um objetivo concreto, se apega aos detalhes e à vontade de mudar a vida dos outros, desfocando-se de sua própria vida. A história é contada poeticamente, de forma não linear (já que se recorre às lembranças para explicar o presente), através de um narrador oculto, começando na fecundação e infância de Amélie e terminando no seu inesperado encontro com o amor. Entre um momento e outro, a personagem vive suas pequenas aventuras. Ao encontrar uma caixa de brinquedos escondida há décadas, Amélie tem uma epifania e desafia a si mesma que se encontrasse seu dono e conseguisse fazê-lo contente com o achado, passaria a dedicar sua vida à ajudar os outros. Desde o início o longa-metragem apresenta duas característica recorrentes em seu desenvolvimento: os detalhes e a simultaneidade de acontecimentos desconexos. Amélie foi concebida no dia 3 de setembro de 1973 às seis horas, vinte oito minutos e trinta e dois segundos, enquanto uma mosca pousava na Rua Saint Vincent em Montmartre, o vento batia sobre a toalha de mesa fazendo os copos dançarem e Èmile Maginot era apagado da agenda do amigo quando este voltara de seu enterro. A criação da personagem é envolta na frieza dos pais e a morte de sua mãe intensifica ainda mais esse sentimento. Solitária, ela se consola em sua imaginação, cria amigos imaginários e se diverte com ela mesma até o dia em que se torna adulta o suficiente para sair de casa. O filme transfere para o espectador uma inversão da ideia de prazer. Amélie fica indiferente durante a relação sexual, mas cultiva gostos particulares como afundar as mãos em sacos de cereais ou quebrar a cobertura do crème brulée com a colher. Exatamente como todos os personagens colecionam suas particularidades.
Apesar de mostrar modos alternativos de si fazer feliz, a narrativa não deixa de lado a personagem que cresceu com desventuras. Há sempre um vazio rondando Amélie e o único que nota isso é o “homem de vidro”, como é conhecido o pintor Raymond Dufayel, que a analisa através da “garota do copo de água” pintada no quadro “O Almoço dos Barqueiros” de Renoir. Numa das cenas, ele a provoca: “ela prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes. Talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros, mas e ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr em ordem?”. A solidão é mostrada de diversas formas: na doença imaginária de Georgette, na obsessão de Joseph por Gina, no fracasso do escritor Hipólito, na devoção do pai de Amélie por sua falecida esposa, na descrença do amor de Madeleine, entre outras tantas. Além de explorar signos de isolamento, como a figura do gato. Também, lugares que deviam estar cheios, são constantemente mostrados vazios — a estação de metrô, o canal Saint Martin, a igreja — e isso pode ser interpretado como a própria abstração humana, mesmo em lugares lotados conseguimos nos focar em nós mesmos, em total indiferença com o mundo. O filme é a tradução das nossas dores, em meio a tantos personagens frustrados é possível que nos identifiquemos com algum, no entanto, compreendemos que é possível viver com as insatisfações, encontrar modos alternativos de alegria e até contornar o sofrimento. O que a narrativa deixa clara é que é preciso superar os medos e arriscar-se, como disse o pintor: você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente.
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Este ĂŠ um trabalho de faculdade sem fins lucrativos solicitado pelo professor Luis Eduardo da matĂŠria Design Editorial.