Revista Materia Prima

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Nesta edição Teoria e pesquisa em comunicação Estudos dos meios e da produção mediática Interfaces sociais da comunicação

revista

Matteria Primma v. 2 – n. 2 – 2o semestre 2008 ISSN 1981-9579

Revista de Pesquisa dos Cursos de Comunicação Social – Jornalismo e Publicidade e Propaganda – das Faculdades COC


Matteria Primma Revista

v. 2 – n. 2 – 2o semestre 2008 ISSN 1981-9579


Matt


Apresentação

teria A Revista Matteria Primma é uma revista científica dos cursos de

Comunicação Social das Faculdades COC, Jornalismo e Publici-

dade e Propaganda, o objetivo é divulgar e testimular pesquisas

entre docentes e discentes, no sentido de agregar pesquisadores de diferentes instituições e países, incentivando o intercâmbio

de reflexões sobre o estudo da comunicação, sua história, suas

tendências e suas relações com a sociedade e com o mercado. Ela é anual. O primeiro volume foi lançado em 2007.

A linha editorial contempla três áreas de concentração: teoria

e pesquisa em comunicação, estudo dos meios e da produção midiática e interfaces sociais da comunicação.

O projeto, visa incentivar o intercâmbio de informações e

pesquisas, envolvendo acadêmicos e pragmáticos, aproximando a academia da prática.

Os interessados em participar podem encaminhar artigos para os e-mails: paulamelani@coc.com.br ou dtincani@gmail.com.

Paula Melani Rocha Daniela Tincani


Matt


Expediente A Revista Matteria Primma é uma publicação anual dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda das Faculdades COC, de Ribeirão Preto, São Paulo – Brasil.

teria ISSN 1981-9579

Chaim Zaher

Presidente do Sistema COC de Educação e Comunicação

Adriana Baptiston Cefali Zaher

Vice-Presidente do Sistema COC de Educação e Comunicação

Nilson Curti

Diretor superintendente do Sistema COC de Educação e Comunicação

Cezar Laerte Natal

Diretor administrativo das Faculdades COC

Silvio Cecchi

Diretor-acadêmico das Faculdades COC

José Henrique Del Castillo Mello

Diretor da Editora COC

Paulo Sá Elias

Diretor de Relações Institucionais e Assessor Especial da Presidência

Adriana Silva

Coordenadora da Comunicação Social

Daniela Tincani

Coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda

Paula Melani Rocha

Coordenadora do curso de Jornalismo

Fernando César de Almeida Gerente Editorial

Conselho consultivo

José Coelho Sobrinho (ECA-USP), Jair Marcate (ESPM), Octavio Islas (ITESM – Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey), José Marques de Melo (Cátedra da UNESCO – Universidade Metodista de São Paulo / ECA – USP)

Comissão editorial

Iván Cuevas, João Eduardo Ragazzi, Paula Melani Rocha, Renata Canales, Daniela Pereira Tincani, Luís Eblak, Andréa Versuti, César Muniz (revisão e preparação dos originais), Maria Cláudia Machado (revisão dos textos em espanhol), Denis Renó, Jean Jacques Groote (revisão dos textos em inglês)


Rodrigo Ap. Zambonini Capa

Matt Yuri Santiago Ilustração (Capa)

Rodrigo Ap. Zambonini

Projeto Gráfico e Diagramação

Editor responsável

Instituto de Ensino Superior COC CNPJ (MF) 056.012.628/0001-61 Rua Abrahão Issa Halack, 980 – Ribeirânia 14096-160 – Ribeirão Preto – São Paulo Tel. (16) 3603-9999 www.matteriadigital.com.br e-mail: matteriaprimma@coc.com.br

*As opiniões expressas pelos alunos em seus trabalhos, artigos e entrevistas não refletem, necessariamente, a opinião das Faculdades COC / UNICOC, do Sistema COC de Educação e Comunicação, de seus mantenedores, diretores, coordenadores, docentes, discentes e membros do Conselho Editorial. Por terem ampla liberdade de opinião e crítica, cabe aos colaboradores da Revista Matteria Primma a responsabilidade pelas idéias e pelos conceitos emitidos em seus trabalhos.

** Não serão devidos direitos autorais ou qualquer remuneração pela publicação dos trabalhos na Revista Matteria Primma. O autor receberá, gratuitamente, um exemplar da revista (versão impressa) em cujo número seu trabalho tenha sido publicado. ACEITAMOS PERMUTA – EXCHANGE DESIRED INTERCAMBIO DESEÓ – ÉCHANGE DÉSIRÉ


Sumário Los blogs como medio de comunicación en la comunidad docente de la Universidad Técnica Particular de Loja

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Redes comunitárias e o uso da tecnologia da informação e da comunicação no metadesign dos processos de produção e transferência de tecnologias socialmente relevantes

25

Estado y comunicación pública en Argentina. Los noticieros y los ciclos de documentales en Canal 7.

37

Analisis de dos procedimientos de comunicación interna en el séctor docente de la sede de la Universidad Técnica Particular de Loja – Ecuador, año 2007

49

Música e imagem: o movimento punk e seus desdobramentos na década de 1990

59

A imprensa internacional no Brasil: como jornais europeus vendidos no Brasil reportam as notícias internacionais

73

Miradas folkcomunicacionales en la relación medio comunidad a través del estudio del programa “Kawsaypura yachanakushun”, en el cantón saraguro

85

Interpretações da poesia da viola caipira

99 113

Gabriela Coronel Salas / Carlos Granda / Catalina Mier / Hernán Yaguana

César Rocha Muniz / Azael Rangel Camargo

Alfredo Alfonso / Néstor Daniel González

Diana Rivera /Abel Suing / Karina Valarezo / Andrea Velasquez

Jefferson Alves de Barcellos / Silvia Helena Simões Borelli

Nathalia Portugal

María José Martinez / Fanny Paladines / Jenny Yaguache

Maria Carolina Costa de Freitas / Rebeka Methner Boizan / Jacqueline Avilar Ferreira

Armadilhas para o corpo: os modelos de beleza e a mídia Body Trap’s: the beauty patterns and the media Cláudia Regina Benedetti / Lucília Maria Sousa Romão

Jornalismo escrito em Ribeirão Preto: empresas familiares e planejamento sucessório

121

Jornal das Ciências: uma proposta de divulgação científica

145

Cristiane Bassi Jacob

Gabriela Zauith



Los blogs como medio de comunicación en la comunidad docente de la Universidad Técnica Particular de Loja Gabriela Coronel Salas Comunicadora social, profesora del departamento de Comunicación de la Universidad Técnica Particular de Loja, doctoranda en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela (España).

Carlos Granda Comunicador social, director de Educación Contínua de la Universidad Técnica Particular de Loja, doctorando en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela (España).

Catalina Mier Comunicadora social, doctoranda en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela (España), profesora y cordinadora del departamiento de audiovisual de la Universidad Técnica Particular de Loja, Ecuador, productora del programa Miradas, de Vía Comunicaciones.

Hernán Yaguana Comunicador social, profesor del departamento de Comunicación de la Universidad Técnica Particular de Loja, doctorando en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela.

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Resumen – La presente investigación tiene como propósito abordar una temática poco tratada a nivel latinoamericano, como es la utilización de los blogs dentro de una comunidad de docentes universitarios. El blog es un medio de comunicación, cuya horizontalidad y pluralidad lo convierten en factor importante de socialización. El ámbito de análisis es la comunidad docente de la Universidad Técnica Particular de Loja – Ecuador. La investigación parte del análisis sobre el conocimiento y las actitudes que tienen las personas respecto de las bitácoras; se analizan niveles de usabilidad, tipo de contenidos, frecuencia de visitas entre otros aspectos y la influencia general del medio sobre la comunidad. Los resultados dejan ver su evolución, aceptación y adopción entre los miembros y los cambios que estos suponen en su proceso de comunicación. –10–

Abstract – The purpose of this research is to discuss a theme which is little known in Latin America: the use of blogs in a community of university faculty. A blog is a mean of communication whose scope and diversity turn it into an important factor of socialization; the analytical component is the community of university faculty of the Universidad Técnica Particular de Loja in Ecuador. This research is based on the analysis of knowledge and behavior of the people with regard to blogs. Levels of usability, type of contents, frequency of visits, amongst others, as well as the general influence of this mean of communication were analyzed. The results allow us to see the development, acceptance and adoption of blogs among the members as well as the changes that blogs cause in the process of communication of these members.

Palabras-clave – blog, comunidad, cultura, universidad, docentes, valores

Introducción Nos encontramos ante la evidente eclosión de una nueva esfera de relación social que pone en contacto a millones de personas cada día a través de Internet (De Ugarte, 2007). Internet en Ecuador tiene al 2007 una penetración global del 7% según datos del organismo oficial (CONATEL) publicados a enero de 2008 en su página electrónica, incluidas las personas que no tienen acceso en su domicilio o lugar de trabajo y pagan por el uso ocasional. Desde hace siete años la Universidad Técnica Particular de Loja (UTPL) facilita el acceso a Internet de manera libre para toRevista Matteria Primma

dos sus docentes en sus oficinas mediante red y, actualmente, en casi todo el campus universitario bajo el sistema inalámbrico. Esta institución ha montado, además, su propio campus on-line a través del cual se gestiona el proceso enseñanza – aprendizaje en las dos modalidades de estudio que oferta (presencial y a distancia). La totalidad de los profesores de la UTPL posee correo electrónico y utiliza Internet con fines académicos, informativos y de esparcimiento. De otra parte, es natural que a mayor facilidad de acceso a la red, los docentes universitarios se familiaricen rápidamente con este medio y las posibilida-


des que ofrece en diversos ámbitos. A esto se suma la decisión institucional originada en el 2006, para promover el uso de herramientas Web 2.0 como medio de desarrollo académico y proyección institucional. Con esa premisa, el presente estudio se plantea el análisis del uso de los blogs en esta comunidad conformada por 468 docentes para conocer las características más significativas de las relaciones que se producen entre ellos, dentro de lo que se llama “Web 2.0”, término acuñado por Tom O’Reilly en 2005, para designar la evolución de Internet como plataforma de participación y producción colaborativa en red. Según los sondeos previos a la investigación formal planteada, los blogs están siendo utilizados de manera creciente por los individuos analizados, lo que nos brinda la base necesaria para estudiar las actividades de comunicación que tienen lugar, que alcanzan dimensión institucional y que fortalecen a esa comunidad. Existen muchas iniciativas y propuestas a nivel mundial para utilizar los blogs en diversos campos, uno de ellos es el educativo; en ese sentido existen algunas experiencias muy valiosas como la de la universidad de Harvard, pionera en ofrecer servicio de blogs a su comunidad educativa para la experimentación con las posibilidades comunicativas del medio; la red de Creamos el Futuro que aglutina a varias universidades españolas; el

WarwickBlogs de la Universidad de Warwick , Inglaterra, que apoya una auténtica eclosión de bloging entre su alumnado, profesorado y personal de administración y servicios; otra experiencia interesante es la Uthink de la Universidad de Minnesota en los Estados Unidos, subtitulada Blogs at the University Libraries. Todas estas experiencias que circundan el mundo académico nos despiertan muchas inquietudes e interrogantes sobre el potencial de este medio y su influencia en las relaciones dentro de las comunidades universitarias de Iberoamérica y en este caso de Ecuador. ¿Es pertinente su aplicación? ¿Están abiertas las comunidades de docentes universitarios del Ecuador a adoptar al blog como un medio de comunicación efectiva entre ellos? ¿Qué potencial tienen para la difusión de temas educativos? ¿Cuánto influyen en el fortalecimiento de la comunidad, sus valores, rasgos y características particulares?; éstas surgen como las preguntas centrales de investigación que el presente estudio pretende contestar en base de la aplicación de metodologías cuantitativas como la encuesta inicial, que nos ayudará a situarnos en la realidad vigente, y cualitativas como las entrevistas de profundidad a docentes con mayor experiencia en el uso del medio, así como grupos de enfoque, cuyos resultados nos ayudarán a reflexionar y concluir el presente ensayo.

Contexto Redes sociales distribuidas El concepto que analizamos se enmarca dentro de uno mayor que es el de

las redes sociales establecidas en las condiciones de comunicación vigentes. La comunicación a través de Internet y dentro

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de ella el uso de los blogs, constituye en sí misma una red distribuida, concepto ilustrado por primera vez por Paul Baran cuando describía la estructura de un proyecto, que más tarde se convertiría en Internet (De Ugarte, 2007), en el que se observa una forma de organizar una red, completamente distinta en su naturaleza a la red descentralizada. Bard y Söderqvist mencionan que en una red distribuida, nadie depende de nadie en exclusiva para llevar a otra persona su mensaje. No hay filtros únicos. Lo que define a una red distribuida es que todo actor individual decide sobre sí mismo, pero carece de capacidad y de la oportunidad para decidir sobre cualquiera de los demás actores (Citado en De Ugarte, 2007, p. 42). En este sentido, toda red distribuida es una red entre iguales, aunque hayan nodos más conectados que otros. En un sistema de este tipo, las decisiones no son binarias, sino que son “en mayor o menor medida”; alguien propone y se suma quien quiere. La dimensión de la acción dependerá de las simpatías y grado de acuerdo que suscite la propuesta; este sistema se llama pluriarquía (De Ugarte, 2007). Comunidad Entendemos por comunidad al grupo de personas que interaccionan socialmente, establecen lazos comunes, comparten intereses, expectativas, creencias, valores y actividades, que han establecido ciertos límites e identidad diferenciadora y que sostienen esas interacciones en un espacio determinado de tiempo (García, 2006), pero extendemos esa definición hacia el

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ámbito de las actividades desarrolladas por sus integrantes dentro de la Web. Para proceder con el análisis, es necesario entender a los docentes de la UTPL como miembros de una comunidad con características propias, que actúa y se desarrolla en un entorno particular, probablemente atípico para una institución superior, de ciudad fronteriza latinoamericana, con no más de 140.000 habitantes, que ha adoptado las TIC´s, y particularmente la Internet y los blogs, como instrumentos para estar en sintonía con sus públicos. Blogs como medios El concepto medular de este análisis se centra en los blogs y cómo están cambiando el terreno en cuanto a información general, la opinión pública y consecuentemente la comunicación y las relaciones entre las personas que conforman las comunidades universitarias. Los blogs son sistemas personales, automáticos sencillos de publicación que, al extenderse, han permitido el nacimiento del primer gran medio de comunicación distribuido de la historia: la blogosfera, un entorno informativo en el que se reproducen los presupuestos, las condiciones y los resultados del mundo pluriárquico (Ugarte, 2007). De ser una simple herramienta informática, los blogs han pasado a convertirse en un medio de comunicaciòn que ayuda a la socialización y al incremento de las relaciones presenciales. Cuando una herramienta de comunicación pública consigue un impacto social de tal magnitud que transforma la cultura, entonces se convierte en un medio (Orihuela, 2006).


Comunidad on-line Las comunidades on-line o cibercomunidades, originalmente se han creado en torno a listas de correo, mensajería instantánea etc. En estos últimos años, los blogs nos muestran una nueva plataforma para el desarrollo de estas comunidades. Un blog permite un contacto directo entre autores, abre la posibilidad de comunicación con muchas personas a la vez, permite que se relacionen, la comunicación es mucho más rápida y completa, ya sea por la rapidez de reacción de estos participantes así como por la posibilidad de comunicarse mediante texto, imágenes y audio. En el contexto universitario, los blogs admiten la socialización e intercambio de diferentes puntos de vista sobre una investigación, temáticas específicas, problemas e intereses académicos y no académicos. En este sentido, los blogs dan soporte a la comunidad. Si tenemos presente que hay un interés institucional en la UTPL que motiva a los docentes a utilizar esta herramienta y, por otro lado, mantenemos la hipótesis de que una cantidad significativa de docentes mantienen un blog de su autoría o visitan los de otros miembros, entonces, reconocemos la potencial vigencia de una cibercomunidad dentro de esta Universidad. La inteligencia colectiva parte del principio de que cada persona sabe sobre algo; por tanto, nadie tiene el conocimiento absoluto. Es por ello que resulta fundamental la inclusión y participación de los conocimientos de todos (Lèvy,1997). En una universidad como la UTPL, con más de 23.000 alumnos, es normal que sus docentes, individual o colectivamente, produzcan abundante información que pueda

difundirse y compartirse creando de esta forma mayores elementos de unión y por tanto de comunidad. Participación, acceso y ciudadanía Proceso de mejora de las condiciones de vida de una determinada comunidad, es decir, no dirigido solamente a solucionar o mejorar una situación patológica o negativa, partiendo del supuesto que toda realidad es mejorable (Marchioni, 2001). Este concepto va más allá del simple hecho de que la participación es el libre pronunciamiento o la libre manifestación de las personas de una comunidad. Y ciertamente la comunicación dentro de la comunidad de docentes puede mejorar, hay muchísima información y criterios por compartir; utilizar nuevos medios para hacerlo resulta una forma natural de mejorar las condiciones vigentes en lo académico, científico y social, mas aún cuando existe la posibilidad cierta de disponer de un blog sin la necesidad de un conocimiento técnico especial. Cada hombre y mujer aporta criterios valiosos desde su blog y construye ciudadanía al incrementar los lazos de amistad, fraternidad y compartir principios de libertad e igualdad entre los miembros, como puntualiza Tönnies, F. (1887) ser “personas que comparten voluntades racionales unidas”. Finalmente, pensamos que, al ser “personas que comparten voluntades racionales unidas” (Tönnies, F), cada miembro – hombre y mujer – aporta criterios valiosos desde su blog y construye ciudadanía al incrementar los lazos de amistad, fraternidad y compartir principios de libertad e igualdad entre los miembros.

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1. Metodología El presente estudio sigue el método científico y, en base a la naturaleza del tema y las características de la comunidad investigada, combinaremos métodos cualitativos y cuantitativos para rescatar la información que nos permita arribar a conclusiones relevantes.

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Análisis cuantitativo En primer lugar y a efectos de determinar la situación actual sobre el conocimiento y acceso al medio, aplicamos la técnica de la encuesta a una muestra representativa de la población (134 profesores) con un cuestionario estructurado que nos permitirá obtener resultados cuantitativos que se puedan inferir al total de la comunidad docente. Los objetivos de la investigación cuantitativa se resumen en: • conocer el nivel de familiaridad, uso del medio y determinar cuáles son los temas que se abordan en los blogs que visitan y administran; • saber si consideran al blog como un medio adecuado para difundir investigación científica. Previo a su aplicación, se obtuvieron datos sobre el total de docentes (468) de la Universidad, para luego proceder a obtener una muestra aleatoria simple, equivalente a 134 docentes, distribuida en 50% hombres y 50% mujeres, dividida proporcionalmente, según las cuatro áreas académicas existentes que operan en la institución. Se incluyen a todos los docentes independientemente de su forma de contrato y el

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levantamiento de la información se realizó en el sitio de trabajo. El margen de error de esta muestra es de 6,5% y el nivel de confianza de 95%, lo cual nos parece pertinente al ser un trabajo de carácter académico con fines didácticos. Análisis cualitativo A fin de complementar el análisis de los resultados obtenidos en la investigación cuantitativa, se procedió a levantar información adicional vía “Grupos de enfoque” a dos sectores distintos, previamente identificados: A) Docentes que son usuarios actuales de blogs y B) Docentes no usuarios. Los aspectos claves a conocer: A) Usuarios • Determinar si hay relación entre el tiempo de permanencia como docente de la UTPL y la utilización de los blogs como medio de comunicación. • Definir las razones por las que utilizan este medio de comunicación, las temáticas abordadas, el grupo de interés al cual está dirigido el blog. • Conocer con qué fines se están utilizando actualmente los blogs entre los miembros de la comunidad docente de la UTPL y por qué. • Determinar qué actitudes tienen los participantes respecto de los blogs como medio de comunicación y, en particular, como herramienta de difusión de investigación. • Conocer la opinión de los participantes sobre cómo los blogs podrían


influir y fortalecer los valores de la comunidad docente de la UTPL. Se procuró cubrir los objetivos planteados en una reunión con cinco (5) docentes participantes de las cuatro áreas académicas, quienes actualmente mantienen su propio blog personal o institucional. B) No usuarios • Determinar si hay relación entre el tiempo de permanencia como docente de la UTPL y la no utilización de los blogs como medio de comunicación. • Definir las razones por las que no utilizan este medio de comunicación. • Determinar qué actitudes tienen los participantes respecto de los blogs como medio de comunicación y, en particular, como herramienta de difusión de investigación. • Conocer la opinión de los docentes participantes sobre cómo los blogs

podrían influir en la comunidad docente de la UTPL. • Saber si los participantes están dispuestos a utilizar los blogs como medio de difusión de investigación y en la creación de grupos de investigación internos y externos a la UTPL. Para este focus se seleccionó aleatoriamente cinco (5) profesores de las 4 áreas que no se encuentran familiarizados actualmente con el medio. Paralelamente se realizaron entrevistas de profundidad a usuarios actuales más experimentados con la intención de profundizar en ciertos tópicos relevantes. Se seleccionaron cuatro docentes investigadores de la UTPL, que administran un blog personal o institucional, por más de un año, con un número superior a veinte visitas diarias y que trabajan en la incorporación de este medio de comunicación a la comunidad docente de la Universidad.

2. Análisis de resultados 2.1. Encuesta La encuesta se aplicó conforme lo señalado en el acápite de metodología a 134 docentes, distribuidos por sexos (en proporciones similares 50% hombres, 49% mujeres). Destaca la juventud del profesorado de la Universidad; concomitante con esa realidad, el 63,4% del grupo analizado fluctúa entre treinta y dos años o menos. Esta razón, sumada a las facilidades en cuanto a equipamiento informático y acceso a Internet provistas por la uni-

versidad, nos hace pensar que el grupo sí maneja herramientas WEB 2.0, concretamente los blogs. El 28,3% de los entrevistados tiene un postgrado oficial culminado a nivel de diplomado o maestría. Por otra parte y de acuerdo con la Revista Institucional 2007 y otras publicaciones oficiales de la Universidad, 176 personas cursan actualmente programas de doctorado (Ph.D.), lo que significa que estarían en posibilidad de

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publicar resultados de investigaciones en desarrollo o trabajos terminados, independientemente de que lo hagan en un blog o no. Es importante tener en cuenta, además, que el 62% del grupo analizado tiene cinco años o menos en la institución, lo cual significa que irán integrándose a futuro a este tipo de programas de postgrado. Al ser una universidad técnica resulta lógico que la proporción de docentes encuestados provenientes de carreras del área técnica sea levemente mayor en la muestra (27%). Si tomamos en cuenta, además, que un 13,4% proviene de la Escuela de Ciencias de la Computación, podemos esperar alta familiaridad con el blog. El 40% de los entrevistados dice pertenecer a una red o comunidad de investigadores, lo que señala evidentemente la necesidad de intercambiar información con sus pares relacionados. El área del conocimiento y el nombre de la red a la que pertenece cada uno esta directamente relacionada con la especialidad de cada profesional sin que destaque alguna en particular. Si bien el 80% de los docentes dice conocer lo que es un blog, sólo el 51% lo identifica en su definición más exacta (sitio personal o grupal, con orden cronológica, que aborda temas definidos por su autor y mantiene identidad propia). Un 29% de los entrevistados visita un blog determinado por dos o más ocasiones en la semana, lo que significa que mantienen contacto frecuente con el administrador del sitio y pueden intercambiar información, criterios, puntos de vista, experiencia etc. Cuando consultamos cuáles son los blogs que estas personas visitan, se destacan aquellos relacionados directamente Revista Matteria Primma

con la institución y los de otros docentes que trabajan en la misma (www.utpl. edu.ec/noticias, http://calu.ec/, www.utpl. edu.ec/eccblog, www.nopiedra.wordpress. com.). Esto sugiere un nivel de interrelación y, consecuentemente, intercambio entre los docentes, con el potencial de que se vayan creando nuevos sitios relacionados. No obstante, hay una gran cantidad de sitios que no están relacionados de ninguna manera con la UTPL y que reciben amplia atención por parte de los docentes. Preferencia por los blogs UTPL En la actualidad, en la UTPL, existen 45 blogs (más personales) bajo el dominio utpl (www.utpl.edu.ec/blogs) y alrededor de 50 en otros dominios. De acuerdo con las encuestas aplicadas, el 53,7% de los docentes no visita ninguno de estos blogs, mientras que el 43,3% restante sí lo hace; el blog que tiene mayor concurrencia pertenece a la escuela de ciencias de computación www.utpl.edu.ec/eccblog con el 2,2%; en él se tratan temas de tecnología, noticias sobre la escuela, eventos e investigaciones puntuales sobre asuntos informáticos. En segundo lugar, aparecen dos blogs, con un porcentaje de 1,5%. Uno de ellos es el blog personal www.calu.es, alojado en un dominio fuera del utpl, su contenido aporta temas personales, noticias, ciencia, distracción, novedades. Con el mismo porcentaje está el blog de la unidad de gestión del conocimiento (www.utpl.edu. ec/gcblog), cuya función es aportar con los elementos necesarios para que los docentes utilicen las herramientas web 2.0. Luego, aparece el blog www.utpl.edu.ec/elearnin gblog con un porcentaje de 2.1 y con el


0,7%, los blogs de noticias de la universidad (www.utpl.edu.ec/noticias), blog académico (http://www.utpl.edu.ec/blog/blogdga/), todos ellos incluidos en el dominio utpl. Si bien los porcentajes parecen pequeños, hay que tomar en cuenta que existen miles de alternativas posibles, lo que hace que estos valores sean significativos. Blogs personales De acuerdo con la encuesta realizada, se nota una marcada diferencia entre los docentes que tienen un blog 22,4% y quienes no lo tienen 77,6%. Los temas que se tratan en estos blogs son: vivencias personales 11,2%, temas científicos 5,2%, arte y cultura 1,5%, tecnología e informática 1,5%, temas institucionales 0,7%. El promedio de visitas que tienen dichos blogs está expresado en el cuadro 1 del anexo. Del 22,4% de la muestra recogida que cuentan con un blog, el promedio de las visitas para los rangos de 1, 2 ,10 ó 30 veces al día, coincide con el 1,5%; este fenómeno de bajo reporte en visitas puede ser generado porque el 10,4 % de los blogs existentes han sido abiertos hace menos de un mes y el 6% dentro de los últimos 6 meses. Respecto a la importancia que tienen los blogs para difundir temas de carácter científico, los resultados de la encuesta son pobres:7,5%; la gente que publica investigaciones propias o de terceros lo hace porque se ha dado cuenta que, mediante este medio, se puede compartir el conocimiento, les parece interesante y ademàs consideran una forma sencilla de difundir. Si bien, por ahora, es poco lo que científicamente se está aportando des-

de esta comunidad a la divulgación de la ciencia: 7,5%. Por lo visto hasta aquí y lo encontrado en las entrevistas y focus, no cabe duda que los blogs están facilitando que la Internet se convierta en un medio de colaboración y que toda persona tenga el poder de contribuir al desarrollo del mismo (Berners, 98). Existen algunos factores, según los docentes, que dificultan publicar investigaciones propias o de terceros: 14,2%. La encuesta nos señala las siguientes razones: el 2,2% no tiene ningún trabajo terminado para publicar, el 3% recién tiene un blog, el 1,5% no lo hace por falta de tiempo y el 0,7% piensa que la orientación temática del blog no tiene carácter científico o que el área donde laboran no da las facilidades para hacer investigación. Sin embargo, el 19,4% de la población encuestada estaría de acuerdo en publicar sus investigaciones científicas y sólo el 1,5% no estaría dispuesto a escribir sus resultados de investigación. Qué hace atractivo a un blog en una comunidad universitaria? El recurso que la población total consultada piensa que contribuye al incremento de visitas en su blog es el contenido (10.4%) lo cual es corroborado por lo rescatado en el análisis cualitativo de este estudio; hay quienes consideran al diseño 3,7%, las etiquetas 2,2%, las fotografías 1,5% y otros recursos 0,7%. El contenido del blog a su vez es difundido a través de etiquetas 6,7% o por sindicación de contenido (RSS) 3,7% y otras herramientas 4,5%. El 9% de la muestra postea en su blog esporádicamente, una vez por semana el 6,7%, cada día el 2,2%, cifras relativamen-

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te bajas, aunque en esta parte es necesario citar que el tráfico de visitas en un blog se genera por el contenido y las referencias

que se den en otros blogs y no por los post diarios (Darren, 2006).

2.2. Grupo de enfoque con no usuarios

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La entrevista grupal fue realizada a seis docentes de la universidad que no disponen de un blog; se reunió a personas de tres de las cuatro áreas con las que cuenta la Universidad (Administrativa, Biológica y Socio humanística), exceptuando a la técnica (donde está la Escuela de Informática) por que sus integrantes tienen alta relación potencial con el tema. El nùmero de docentes participantes fue equilibrado en gènero: tres mujeres de edades comprendidas entre los 24 y 36 años y tres varones de edades entre 30 y 53 años. De lo observado y según las apreciaciones levantadas en la universidad, los docentes conocen parcialmente lo que es un blog (no el potencial real de que dispone este medio), otros no lo diferencian correctamente con lo que es una página web o bien, lo confunden con el entorno virtual de aprendizaje (EVA) dispuesto por la universidad para la actividad académica. De las personas entrevistadas, la mayoría contesto que no tiene un blog por el desconocimiento de la tecnología; uno de los docentes, de más edad, subraya que, además del desconocimiento, existe también el temor a estas nuevas tecnologías; aunque al final todos coinciden que tener un blog sería muy beneficioso. Si se los destinaría para difusión de investigaciones, les preocupa el hecho de saber que en la universidad todavía no hay una cultura marcada para realizar permaRevista Matteria Primma

nentemente investigación. Los entrevistados dicen al respecto: “la investigación es poca; habría que ser muy cuidadoso con lo que se publica”. De los seis entrevistados, los de menor edad proponen que no sólo sería bueno tener un blog para investigaciones, sino que, además, se podría utilizar este medio para expresar sus intereses, hobbies, gustos, preferencias etc., e incluso, “para ir narrando algunas vivencias que pueden ser de ayuda para otros”; se menciona el caso de un posible blog en el cual “su autor narre sus viajes y que sugiera: hoteles, restaurantes, bares etc.” Se concluye este tema puntualizando que “la educación no sólo está en la publicación de investigaciones”. Todos los participantes coinciden que si hubiera la posibilidad y el adiestramiento adecuado tendrían dos blogs: “uno para cosas de la universidad – institucional – y otro personal”; al tiempo que surge una nueva interrogante ¿disponen del tiempo adecuado para mantener el blog? La mayoría se preocupa de no disponer del tiempo necesario, lo que corrobora con los datos obtenidos en la encuesta. Al preguntarles el dominio en el cual crearían sus blogs personales, los docentes de menor edad lo harían en un dominio fuera del ofrecido por la institución; mientras que las personas de mayor edad no tienen problema en tenerlo en el mismo dominio de la universidad.


2.3. Grupo de enfoque con usuarios experimentados. Sobre el uso o función y la importancia del blog Los entrevistados en el focus group concuerdan en el hecho de que los blogs son una herramienta de comunicación, es decir, una TIC´s, comentan cómo evoluciona el pensamiento, la forma de comunicar, “es una nueva cultura que se debe ir adquiriendo tanto el sector educativo, empresarial, y no necesariamente técnico, sabiendo que implica un proceso de adquirir hábitos, valores, con una responsabilidad social de por medio, la ética que poner en juego en cada post, que es posible gracias a una de las herramientas más fabulosas que es el blog” dice Nelson Piedra. Por su parte, Álvaro Castillo delimita que “un blogger es aquél que crea conocimiento, información, tiene un sentido crítico muy alto, habla de líneas puntuales que va explotando, en si se va especializando”. Sobre el acceso a Internet Para José Luis Granda, la brecha digital no está en el acceso a los recursos tecnológicos, no importa tener o no conexión o acceso, sino mirar a la Web como posibilidad de poder comunicase, el acceso a Internet no es un limitante. La clave es que tan buena educación se tenga. ¿Los blogs se dirigen a un público específico? Todos mencionan que no escriben para un público específico. Reconocen que el contenido no es para sí mismo sino, que otros leerán esos contenidos, y que hacen el mejor esfuerzo para escribir

algo interesante y de calidad. En el caso de Mayra Gonzáles, dice que “se crea el blog con el propósito de que el grupo o equipo esté comunicado, para compartir información”. Sobre cómo reproduce la familiarización de la información en los blogs. Álvaro Castillo dice: “se inicia por el elemento más cercano y se debe realizar luego a mayor nivel, con inteligencia basada en la lectura, evaluada, complementando la información y robusteciéndola”. Con respecto a las relaciones personales reproducidas a través de los blogs Esto implica, a decir de José Luis Granda, “crear un vínculo de relación más estrecha con la gente, teniendo un feedback, que es enriquecedor, claro, tomando en cuenta que no hay cultura”; “tenemos temor, la comunidad es pequeña, somos pocos quienes estamos en esto”, añade” Germanía Rodríguez. Nelson Piedra acota “se rompen las jerarquías, entre docentes, estudiantes y administrativos, estableciendo verdaderas formas de relación”. “En el caso de las redes sociales, estas siempre han existido, lo que hace el blog es contribuir a crear más redes, se hacen más fuertes y tienen un sinnúmero de enlaces, que ya no es circular, sino con muchos circuitos que permitan comunicarse”, mencionó Álvaro Castillo. ¿Los blogs están devolviendo el poder a la comunidad en general?

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“En la gestión del conocimiento, lo esencial es la persona”; “siendo realistas lo que está en la red nadie lo puede controlar, no puedes censurar un blog, el fin es crear y llevar a una inteligencia colectiva que coadyuve con este trabajo”, mencionaron Castillo y Piedra. Con relación a la creación de una comunidad dentro del espacio virtual Claudia Rodríguez menciona que las herramientas tecnológicas, permiten la comunicación, el estar vinculados, crear,

conocer y afianzar amistades. “Se crea comunidad, el hecho de estar expuesto hace que se fomente esto. En si crear una inteligencia colectiva”. Publicación de investigación via blogs Para Álvaro Castillo “publicar investigación en una institución académica importante e interesante y conviene que todos los docentes tengan blog, en vista que la meta es generar conocimiento científico”.

2.4. Resultados de las entrevista personales

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Lo que se busca con las preguntas aquí formuladas es conocer como se puede incrementar el nivel de relaciones presenciales a partir de los contenidos expuestos en sus blogs. Los entrevistados son: Carlos Correa, administrador de Calu blog; Nelson Piedra, administrador del blog de la Escuela de Ciencia de la Computación y de Nopiedra blog; Germania Rodríguez administradora del blog de gestión del conocimiento y Juàn Carlos Torres, administrador de E-learning blog. Al ser los blogeros de mayor relevancia dentro de la universidad, como primera interrogante, nos interesa saber cómo ellos ven a los blogs en el fortalecimiento de la comunidad docente. La mayoría de los entrevistados dice haberse familiarizado con los blogs desde hace poco tiempo. Quien más años lleva dedicado a utilizar esta herramienta es Nelson Piedra, desde inicios del 2005; comenta que, al principio, le pareció una herramienta nada amigable, hasta que conoció wordpress. Los motivos que los atrajo a Revista Matteria Primma

tener un blog son los siguientes: tener un espacio propio en la Web; disponer de un medio donde comunicar las cosas que hacen; obtener suscripciones a correos y por el fácil manejo. Respecto al contenido que difunden, existe una variedad de temas, de acuerdo con los objetivos que cada uno persigue; por ejemplo, Germania Rodríguez utiliza su blog para publicar cosas que investiga, opiniones, experiencias etc. Por su parte, Juan Torres lo hace para publicar todos sus viajes, sus actividades, sobre su familia, es multifacético: habla de todo y es personal; pero a su vez, también dispone de otro blog: E-learning blog, aquí trata temas de tecnología, es una especie de comunidad pequeña de investigación, tecnologías y educación, lo comparte con algunos compañeros de la Unidad de Virtualización, de la cual es director. A decir de los entrevistados, la mayor ventaja de esta herramienta es que son los mejores representantes de lo que es Web 2.0, posibilitando la interacción, la


inmediatez de publicación, dar a conocer el pensamiento, además de recibir el feedback de quienes son lectores del blog a través de los comentarios, claro está, teniendo en cuenta la contraparte, es decir, la desventaja, que, según Nelson Piedra, se trata del tema ético, con respecto a que las personas no escriben pensando en si misma, sino, escriben para otros, lo que puede complicar la calidad de contenido, confundiendo un blog como la puerta abierta a decir cuestiones no reales o funcionales. Para generar el flujo de visitas, prima la calidad del contenido, alimentándolo con imágenes, video, archivos PDF, que permitem el intercambio de información, además la frecuencia de publicación, la actualización vía RSS para saber qué se está escribiendo en otras esferas y generar efecto de virus en su sitio. Para Carlos Correa, hay distintas técnicas y recomendaciones que permiten

que el blog sea interesante, pero no debemos olvidarnos que el conocimiento que ubiquemos, eso es lo que va a marcar la diferencia. Para fortalecer vínculos entre la comunidad docente, Germania Rodríguez comenta que “el CITTES de Gestión del Conocimiento realiza talleres con el objetivo de dar a conocer las herramientas Web 2.0. Además, la Unidad de Virtualización, incluyó el blog en el Entorno Virtual, difundiéndola a través de un folleto en el que se explica qué es y cómo puede utilizarlo el profesor con fines educativos”. Hasta la fecha de la entrevista, 150 profesores ya estaban manejando el blog de su materia. Según Juan Carlos Torres, “hay que establecer una estrategia un poco más agresiva de capacitación, de seguimiento y de apoyo, dentro de la comunidad universitaria”.

Conclusiones • Los blogs se reconocen por los miembros de la comunidad de docentes de la UTPL, como un medio de comunicación accesible, adecuado y adaptable, a través del cual se pueden expresar sus intereses, puntos de vista, gustos, preferencias e, incluso, “para ir narrando algunas vivencias que pueden servir de ayuda para otros”. En estas condiciones, los blogs se convierten también en un espacio para la opinión abierta sobre temas que habitualmente no se abordan en la relación no mediada por Internet.

• El uso de los blogs está generando nuevas formas de comunicación dentro de la comunidad de docentes de la UTPL, en la gestión de información, conocimientos y criterios por compartir; van más allá del simple hecho de que la participación, es el libre pronunciamiento de las personas de una comunidad, su uso se ve incrementado por el interés de cada administrador de ser conocido, comentado y refutado por sus pares u otros públicos, que puedan compartir sus intereses desde cualquier latitud.

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• No obstante la creciente utilización de este medio, los resultados no permiten afirmar que el mismo sirva actualmente a los docentes de la UTPL para difundir temas de carácter académico o investigativo, pues tanto quienes tienen mayor experiencia y mantienen blogs constantemente actualizados y con niveles considerables de visitas, como aquellos docentes que han iniciado recientemente sus sitios, abordan en ellos, mayoritariamente, aspectos de carácter personal, testimonios del diario vivir y puntos de vista sobre temas distintos a los mencionados. Lo anterior, sin embargo, no descarta el potencial que tiene el medio en una comunidad eminentemente académica. • La posibilidad de gestar información, desde el punto de vista personal, controlar contenidos y aportar con criterio propio a temas de interés común es, según los miembros de ésta comunidad docente, una de las principales ventajas del nuevo medio. Esto va cambiando la forma de comunicarse entre estas personas, ya que con el crecimiento del número de blogs, se incrementa el flujo de información proveniente de diversas fuentes, su acceso y selección, así como, la profundidad del análisis y la crítica.

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• Lo anterior comprueba la influencia que los blogs ejercen en la adopción y vivencia de prácticas como la libertad de expresión, la interacción directa, el uso regular de las nuevas tecnologías, la apertura del conocimiento y la formulación de propuestas diversas respecto de temas comunes. Esto sin duda fortalece el sentido de comunidad entre las personas que la conforman. • Los usuarios coinciden en que el aspecto central que genera tráfico hacia un blog es el contenido, apoyado en recursos como fotografías, imágenes, videos y grabaciones de audio, que incrementan su capacidad para alcanzar interés sostenido entre los públicos e intercambiar información. • Los resultados encontrados nos permiten concluir que la evolución de los blogs y su utilización dentro de la comunidad analizada, coincide con la evolución de contenidos que hubo a nivel mundial, iniciando con sitios que hablan sobre la vida personal, luego se convierten en diarios íntimos, posteriormente incluían noticias, luego novedades, hasta lograr su propia especialización: blogs de empresa, blogs de educación, blogs de política etc.


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Redes comunitárias e o uso da tecnologia da informação e da comunicação no metadesign dos processos de produção e transferência de tecnologias socialmente relevantes César Rocha Muniz Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo USP, Mestre em Arquitetura e Urbanismo e doutorando do Programa de Pós-graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo das Faculdades COC e do Curso de Especialização Máster in Information Technology. e-mail: cmuniz@usp.br

Azael Rangel Camargo Graduado em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos USP, Mestre em Arquitetura pela Escola de Engenharia de São Carlos USP e Doutor em Urbanisme et Amenagement, Politiques Publiques pela Institut d’Urbanisme de Paris Université Paris Val de Marne. Professor Associado da Universidade de São Paulo. e-mail: azaelrca@sc.usp.br Resumo – O presente trabalho explora os processos sociais e comunicativos presentes na produção do conhecimento tecnológico e na construção de mecanismos e canais para a sua transferência. Pretende contribuir para a construção de um design da interação que seja socialmente relevante. Trata-se de uma reflexão teórica que se baseia no construcionismo social da tecnologia, em aspectos epistemológicos do design e em elementos de gestão da tecnologia como fator estratégico. Considera o

potencial oferecido por estruturas reticulares de distribuição da informação sob o prisma das relações sociais e cognitivas que ele possibilita. Na conclusão, o trabalho propõe diretrizes para o metadesign de redes comunitárias e intercomunitárias apoiadas na tecnologia da informação e da comunicação.

Palavras-chave – design, redes comunitárias, transferência de tecnologia

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Abstract – This work explores social and communicative processes present in knowledge production and in the construction of channels and mechanisms of technology transfer. Its purpose is to aid the theoretical development of the socially relevant interaction design. It is based upon the social constructionism of technology, epistemological aspects of the design and technology management as a strategic factor. It considers the potential offered by networked structures used to distribute information according to its social and cognition possibilities. The work proposes some guidelines for the metadesign of the community and intercommunity networks supported by information and communication technology.

Resumen – El presente trabajo explora los procesos sociales y comunicativos presentes en la producción de conocimiento tecnológico e en la construcción de mecanismos y canales para su transferencia. Si pretende contribuir para la construcción de un design de la interacción que sea socialmente relevante. Si trata de una reflexión teórica apoyada en el construccionismo social, en aspectos epistemológicos del design y en elementos de gestión de la tecnología como factor estratégico. Si considera el potencial ofrecido por estructuras reticulares de distribución de la información con el prisma de las relaciones sociales y cognitivas que posibilita. En la conclusión, el trabajo propone directrices para el metadesign de redes comunitarias y intercomunitarias apoyadas en la tecnología de la información y de la comunicación.

Keywords – design, community networks, technology transfer

Palabras-clave – diseño, redes comunitarias, la transferencia de tecnología

Introdução O presente trabalho explora o design e os processos comunicativos envolvidos na criação de redes comunitárias e de mecanismos de transferência de tecnologias socialmente relevantes. O tema gravita em torno do papel que a tecnologia da informação e da comunicação pode ter na diminuição da desigualdade social mediante processos colaborativos e de transferência de tecnologia. O trabalho apóia-se em duas premissas: primeira, a consolidação da Internet como infra-estrutura importante para a construção de um modelo de comunicação do tipo muitos-para-muitos

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em oposição ao modelo um-para-muitos, vigente nos meios de comunicação de massa. Segunda, o surgimento do conceito de e-development, que vê, na utilização de tecnologias digitais, possibilidades de articulação dos atores e movimentos sociais. Dedicaremos atenção especial às redes comunitárias, a seu design e sua possibilidade tanto como meio de cultura de novos conceitos e soluções quanto como canal para sua transferência e difusão mediante processos comunicativos mediados por tecnologia digital.


1. Tecnologia, inovação tecnológica e design Para Autio Erkko e Tomi Laamanen (1995), a tecnologia estrutura-se em um conjunto de aptidões e procedimentos relacionados à habilidade de reconhecer problemas, à capacidade de desenvolver conceitos e oferecer soluções tangíveis e, finalmente, à habilidade de explorar, de maneira efetiva, tanto estes conceitos, quanto e sobretudo estas soluções. Com base nessa noção, chamamos de tecnologias de mudança social o uso destas aptidões e procedimentos com o fim específico da mudança nas condições de vida de segmentos da população desfavorecidos social, política, econômica ou culturalmente. A inovação, freqüentemente abordada utilizando métodos históricos ou administrativos, nem sempre se desenvolve de maneira linear (PINCH, BIJKER, 1989). São freqüentes os estudos que procuram reconstruir cronologicamente a trajetória de aparatos técnicos que provocaram grandes mudanças a partir de elementos novos neles introduzidos. O risco desta abordagem está em focalizar o artefato e não as relações sociais e políticas que são por ele afetadas. É comum que apenas as inovações bem sucedidas comercialmente sejam estudadas, deixando de lado os motivos, sejam eles culturais, sociais ou políticos que levaram ao fracasso outras mudanças de natureza tecnológica. Vivien Walsh (1995), ao mesmo tempo em que discute a sobreposição entre os conceitos de design e inovação tecnológica, estabelece que design é o resultado da configuração de elementos, materiais, componentes e processos que estabelecem

atributos funcionais; determinam como acontecem a utilização, a aparência, os processos de fabricação e as matériasprimas utilizadas, além de garantir confiabilidade e segurança. Este conceito tradicional precisa de adaptações para incluir o artefato técnico que viabiliza a mediação entre o mundo concreto e o virtual. Mauro Claro (2001) recupera algumas das questões relacionadas ao emprego da expressão design e vários de seus desdobramentos. Segundo ele, até a década de 70, a atividade do profissional que hoje conhecemos como designer era conhecida como desenho industrial e encarada segundo um ponto de vista marcado pela dicotomia projeto-fabricação. O resultado desta visão, que predomina em muitos setores até hoje, é a produção serial de objetos de consumo de massa para um consumidor igualmente tipificado. Este fato ainda submete todos os aspectos relacionados ao produto em si à lógica das relações de consumo e produção capitalista. Ficam, assim, em segundo plano, vários aspectos relacionados ao potencial comunicativo e político de uma extensa lista de artefatos técnicos. Embora dominante, esta visão não era a única. Ainda segundo Claro, é deste mesmo período uma abordagem de cunho social que encontrou o melhor exemplo no arquiteto Sérgio Ferro, segundo a qual era possível articular essa dicotomia com a necessidade da reconstrução política do país que, naquele momento, vivia o período mais duro do regime militar. A introdução do conjunto de artefatos e técnicas que se abrigam sobre o nome tecnologia da informação e comunicação

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surge, de um lado, como motor da competitividade pela via da inovação, mas cria, também, condições para recuperar o papel sugerido por Ferro. A utilização deste aparato de forma colaborativa reforça as relações comunitárias e possibilita o surgimento não de um objeto de produção industrial, mas de um mecanismo e de um canal de transferência de tecnologias voltados para a mudança social. Surge, assim,

uma forma de design que não se limita à configuração de materiais, componentes e matérias-primas. Emerge desse cenário uma visão do design engajado social e politicamente, que se dedica não apenas à criação de dispositivos técnicos, mas ao desenho de relações entre indivíduos e grupo de indivíduos. Chamamos esta prática de design da interação socialmente relevante.

2. Conhecimento, divisão social do trabalho e transferência de tecnologia

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Tecnologia é uma construção social que faz uso de quaisquer bens ou artefatos culturais à disposição de um grupo de indivíduos (PINCH e BIJKER, 1989). O design socialmente relevante constitui o conjunto de operações que estabelecem formas de documentação e transferência de conhecimento que possibilitam não a reprodução do capital, mas o incremento da vida política utilizando artefatos mediadores da formação do conhecimento em contexto colaborativo. Uma vez que o trabalho colaborativo presume a criação de certas condições que fortalecem e ampliam a noção de democracia e planejamento participativo (Fagence, 1977), praticar o design da interação socialmente relevante depende de um maior conhecimento dos aspectos políticos e comunicativos presentes em qualquer processo de tomada de decisão, em contexto participativo. Fagence estabelece as seguintes diretrizes: inicialmente, os métodos envolvidos em qualquer processo coletivo devem ser identificados e explicitados para todo o grupo envolvido. Segundo, as práticas de Revista Matteria Primma

projeto e construção, concentradas na figura do designer ou do planejador, devem, portanto, ceder lugar a procedimentos menos rígidos e contaminados pela ideologia daquele que, até então, era o “detentor” da tecnologia, seja ela de projeto ou dos processos comunicativos que os mediam. Nesse contexto, o papel do designer da interação se concentraria na alocação de recursos e na sua operacionalização para a construção de um sistema de suporte à decisão, considerando a transparência nos processos e nos métodos utilizados, a utilização de uma linguagem de domínio comum e a redução ou até a eliminação de posições hierárquicas advindas de qualquer domínio tecnológico envolvido. Virkkunen e Kuutti (1996) ressaltam que conhecimento e especialização têm sido vistos de diferentes formas na literatura voltada para os negócios. Alguns elementos comuns, contudo, permanecem: com a divisão social do trabalho, o conhecimento é produzido de forma cartesiana e individual. A especialização é resultado do domínio de atividades discretas que nem


sempre estimulam questionamentos ou recontextualização das informações. Em pesquisas no campo da administração organizacional, esses autores identificaram tendências importantes que têm em comum a idéia de que o conhecimento é um produto coletivo. A primeira, designada distributed cognition approach1, afirma que artefatos não apenas representam o conhecimento, mas permitem também o seu transporte por diferentes mídias. A segunda, atribuída a Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi (citados por VIRKKUNEN e KUUTTI, 1996), afirma que o conhecimento é, essencialmente, uma construção social. Se isto for verdade, a inovação tecnológica, vista aqui como um novo conhecimento, poderá seguir caminhos semelhantes. Diante disso, o papel do designer da interação se amplia. Além da criação e da construção de sistemas de suporte à decisão, compreendendo tanto seus mecanismos de funcionamento, bem como suas interfaces, ele fomenta a transformação de conhecimentos individuais em coletivos pela via da construção de artefatos que permitam sua reconfiguração, ordenamento, categorização e combinação. O objetivo final é a produção de novos conhecimentos que possam ser transportados por diferentes meios, separando a informação, propriamente dita, dos seus formatos. Na questão particular dos mecanismos e canais de transferência tecnológica, Erkko e Laamanen (1995) afirmam que a maior parte da pesquisa existente pode ser dividida em duas categorias: inicialmente, as que estudam a transferência na esfera das nações desenvolvidas em direção aos 1.  Abordagem da cognição distribuída

países em desenvolvimento; a segunda, mais recente, foca-se na esfera dos atores sociais, econômicos e seus efeitos na estrutura e nos sistemas industriais e tecnológicos. É nesta segunda que predomina a inovação tecnológica e, ao contrário da primeira, ela é mais sensível às transformações decorrentes do próprio processo de transferência. Em termos formais, os três principais canais de transferência de tecnologia são os contratos de pesquisa e desenvolvimento, os consórcios de desenvolvimento e as empresas de base tecnológica. Nesse ponto, três conceitos precisam ser estabelecidos. O primeiro deles é a própria noção de transferência de tecnologia: Technology transfer is intentional, goal-oriented interaction between two or more social entities, during which the pool of technological knowledge remains stable or increases through the transfer of one of more components of technology2.

Além deste, mais dois conceitos serão importantes: o de mecanismo de transferência e canal de transferência, definidos respectivamente como: A technology transfer mechanism is any specific form of interaction 2.  “ A transferência de tecnologia é intencional, é uma interação entre duas ou mais entidades sociais orientada a um determinado fim, durante a qual o conjunto de conhecimento tecnológico permanece estável ou se amplia durante a transferência de um ou mais componentes de tecnologia”. ERKKO, A. LAAMANEN, T. Measurement and evaluation of technology transfer: review of technology transfer mechanisms and indicators. In International Journal of Technology Management. Vol.10 nos. 7/8. Helsinque, 1995, p. 648

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between two or more social entities during which technology is transferred3.

technology transfer mechanisms can be activated4.

A technology transfer channel is the link between two or more social entities in which the various

Estes conceitos serão especialmente úteis para a categorização de algumas modalidades de uso da Internet na produção e na transferência de tecnologia, que veremos agora.

3.  “Mecanismo de transferência é qualquer forma específica de interação entre duas ou mais entidades sociais durante a qual tecnologia é transferida”. Idem, p. 648

4.  “Canal de transferência é a ligação entre duas ou mais entidades sociais, sobre os quais vários mecanismos de transferência podem ser ativados”. Ibidem, p. 645

3. Tecnologia da informação e da comunicação na estruturação de redes comunitárias

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Os artefatos ligados às novas Tecnologias da informação e da comunicação (TIC) despertam um interesse especial para esta reflexão. Usamos esta expressão para designar o conjunto de aparatos que viabilizam a codificação, o transporte e a decodificação por meio dos sistemas eletrônicos e binários. Aparatos são, por exemplo, máquinas, programas, protocolos, modalidades, serviços, formatos, ligações, nós e hiperdocumentos que, baseados em dois elementos fundamentais – representação e materialidade –, constituem uma das principais bases técnicas da produção industrial e cultural contemporânea. (CAMARGO, 2002). Trata-se de um conjunto abrangente de componentes construtores tanto de um novo espaço imaterial, o ciberespaço ou o espaço virtual, quanto da interface que o liga com sua contraparte concreta. Esse espaço híbrido, soma dos componentes concretos e virtuais, articulados por um elemento mediador, é a interface. Revista Matteria Primma

Este novo espaço possui uma interessante característica apontada por Nicholas (LÉVY, 1993; LÉVY, 1997; NEGROPONTE, 2000): é multidimensional e se configura privilegiando arranjos reticulares. O potencial do design da interação está no desenvolvimento destes artefatos e de vários de seus elementos estruturadores e funcionais, bem como das relações cognitivas – que produzem conhecimento – e intersubjetivas – que geram significado – que, segundo Camargo (2002), este espaço suporta. Relações capazes, portanto, de fornecer o arcabouço necessário para fazer da TIC um importante mediador do processo de produção e transferência de conhecimento. As repercussões da TIC no design não se limitam à constituição de um novo território para sua atuação. A atividade em si sofre, segundo Abraham Moles (2000), importantes alterações de correntes de uma cultura baseada no que ele chama de mun-


do imaterial e que, neste texto, designamos como espaço virtual. Moles confirma que há um crescente deslocamento das atividades para o mundo imaterial, mas alerta que parte importante do seu domínio permanece ancorado no mundo concreto. E, face à natureza própria do aparato digital, esta ancoragem é pesadamente dependente de recursos técnicos tanto mais sofisticados quanto mais susceptíveis a falhas. Cresce, nesse contexto, a preocupação com a confiabilidade e o desempenho: The task of the designer is, precisely, to ensure reliability by mastering the factors that jeopardize it. Therefore, the first field of investigation of design for an immaterial culture is to furnish largely material assurance of the universal reliability of the systems that make it possible5.

Este pensamento está claramente articulado com o que estabelecemos até aqui como o papel do design, mas enfatiza aspectos mais tradicionalmente atribuídos a ele: interfaces, uso, funcionamento e confiabilidade. Estamos diante de um grau de dependência do aparato técnico que é crescente e cujas repercussões reforçam desigualdades oriundas da assimetria do desenvolvimento tecnológico em escala global. Em síntese, estamos diante de dois domínios: o imaterial e o concreto. Esta 5.  “A tarefa do designer é precisamente garantir confiabilidade dominando os fatores que a ameaçam. Conseqüentemente, o primeiro campo de investigação do design para uma cultura imaterial é o fornecimento de garantias materiais para uma confiabilidade abrangente dos sistemas que a fazem possível.” MOLES, Abraham A. Design and immateriality: What of it in a post industrial society. In MARGOLIN, V. BUCHANAN, R. The idea of design. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2000, p. 270.

mesma dicotomia está presente na geografia das redes proposta por Milton Santos (1999) que, ao se referir ao espaço imaterial, concentra suas atenções na sua faceta social e identifica, particularmente nas redes telemáticas, o suporte da competitividade, assim como faz Castells (2000). Articulando diferentes meios de comunicação com computadores, as redes telemáticas se tornaram um dos mais importantes meios de difusão de interesses globais, leia-se de países dominantes, em detrimento dos locais, leia-se países periféricos. Santos aponta três totalidades: o ‘mundo’, agora acessível e experimentado por meio destas redes; o ‘país’, como resultante socioespacial do binômio território-estado, cujas fronteiras vêm sendo progressivamente enfraquecidas por estas redes; finalmente, o ‘lugar’ onde “fragmentos da rede ganham uma dimensão única e socialmente concreta, graças à ocorrência, na contigüidade, de fenômenos sociais agregados, baseados num acontecer solidário, que é fruto da diversidade e num acontecer repetitivo, que não exclui a surpresa”6. Nesse ponto, a dimensão política do uso da TIC em processos de transferência de tecnologia ganha importância. De um lado, ela é apropriada por grupos econômicos transnacionais para a concentração do poder que decorre do monopólio da inovação tecnológica. De outro, ela pode também ser utilizada como ferramenta para diluição do poder pela construção cooperativa de canais de transmissão de tecnologias capazes de promover mudanças sociais. Assim, ressurge a possi6.  SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 215.

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bilidade do design recuperar seu papel de coadjuvante de peso no desenvolvimento de políticas transformadoras da sociedade, segundo uma tradição que floresceu na década de 1970. As redes constituem uma configuração multifacetada na qual o crescimento da velocidade no tráfego de produtos, serviços, enfim informações, deixa de ser um meio apenas para constituir-se também em causa, condição e resultado (SANTOS, 1999). Para que as redes telemáticas sejam apropriadas como veículo do processo de transformação social, políticas públicas devem garantir que o aparato técnico não seja orientado exclusivamente segundo as necessidades do mercado. O desafio maior é representado pelo fato de que a velocidade dos processos democráticos de fixação de políticas nem sempre acompanha a velocidade própria dos processos de inovação tecnológica. Santos (1999) alerta: “o fato de que a rede é global e local, una e múltipla, estável e dinâmica, faz com que a sua realidade, vista num movimento de conjunto, revele a superposição de vários sistemas lógicos, a mistura de várias racionalidades cujo ajustamento, aliás, é presidido pelo mercado e pelo poder público, mas sobretudo pela própria estrutura socioespacial”.7 Trata-se de um pensamento que encontra paralelismo nas noções de totalidade e interdependência mencionadas por Pierre Lévy (1997). Acreditamos que estas idéias podem ser ampliadas pela a metodologia propos7.  SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1999, p. 222

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ta por Ilse Warren (1995) para quem quiser ver as redes, na sua dimensão social, como uma realidade polarizada — local e global, virtual e real para citar dois exemplos comuns — e para quem quiser subestimar sua complexidade. As redes devem ser vistas no âmbito das ciências sociais, como um conceito propopositivo de movimentos. Esta autora aprofunda a idéia de que a mudança social pode se beneficiar da rede em seu sentido geral, e não apenas de sua versão telemática, em virtude de sua estrutura policêntrica e de seus efeitos multiplicadores. Do ponto de vista demográfico, ainda é simples aceitar que a Internet seja o mais abrangente meio de comunicação do planeta. Em 2000, mais de 90% dos usuários da Internet se enquadravam no grupo dos 20% mais ricos (SERRA, 2000). Por outro lado, considerando-se a cobertura geográfica, a multiplicidade de modalidades de comunicação e de transporte de informação que ela possibilita, sua importância é inegável, já que ela vem crescendo a taxas muito superiores às dos outros meios de comunicação. Diante disso, é possível afirmar que pensar na Internet apenas como uma rede de redes nos conduz à visão limitada do arranjo físico de seus nós e ligações. Quando pensamos nas suas taxas de crescimento, seja segundo o número de usuários, seja pela cobertura geográfica ou pelo volume e tráfego de informações, notamos que ela é bem mais que isso: a Internet, além de ponto de convergência das tecnologias da informação e da comunicação, já pode ser considerada a mais importante infra-estrutura de informação do planeta. (SERRA, 2000).


A utilização da expressão ‘infra-estrutura’ é particularmente apropriada para este raciocínio na medida em que esta expressão presume suporte para diferentes canais de comunicação, que, por sua vez, possibilitam a presença de múltiplos mecanismos de transmissão de informação. Não podemos, contudo, cair no determinismo tecnológico ao pensar que a dinâmica atual é “conseqüência” da inovação tecnológica. Milton Santos (1999) assegura que há um impulso histórico para a formação de redes, em sua acepção mais geral, anterior ao aparecimento da Internet. Assim sendo, é possível pensar que a Internet não é uma “descoberta”, mas o amadurecimento de um processo que a precede. Estamos nos referindo aos sistemas de conferência eletrônica que, segundo Serra, constituíram a primeira onda das Community Nertworks, ou redes comunitárias, e surgiram antes da popularização da Internet, utilizando, na maioria das vezes, os Bulletin Board Systems, bastante comuns na primeira metade da década de 1980. Foi, contudo, com a explosão da Internet e o surgimento das Freenets, que as redes comunitárias puderam encontrar o número de pontos de presença e a infraestrutura de transporte suficiente para o

surgimento de uma teia global de comunidades on-line. Artur Serra (2000) identifica uma série de aspectos que fazem da Community Network (CN) uma estrutura privilegiada como meio de cultura de tecnologias de transformação social. A CN, além de um sistema de computadores, é também uma rede social caracterizada pela hibridização do espaço e por oferecer desdobramentos com impactos em diferentes áreas. Além da flexibilização dos limites espaço-temporais, a rede sustenta a troca de experiência entre comunidades que apresentam similaridades de qualquer natureza. Este fato faz com que a Internet potencialize a formação de redes entre comunidades, ou melhor, redes intercomunitárias. O senso de lugar é uma das características distintivas da CN. Já que 50% das comunicações entre internautas é de natureza local, é possível construir a idéia de redes ancoradas no território, baseadas em um sentido de identidade que se hibridiza, assim como o espaço. Trata-se, portanto, de uma estrutura que permite uma interessante mobilização de atores sociais: uma ordenação cooperativa, pouco hierarquizada, que possibilita o que Serra chama de Participatory Social Design.

4. Premissas para o metadesign dos processos de transferência de tecnologias socialmente relevantes Algumas questões emergem desta reflexão e devem ser apontadas como frente para pesquisas posteriores. A primeira trata do papel do designer na questão da

transferência de tecnologias sociais. Estabelecemos que esse papel se dá tanto no domínio do virtual quanto no do concreto. Muito embora isto requeira especiali-

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zação, a definição de escopos, estruturas e funcionamento de sistemas faz parte da atribuição mais geral, campo do design. O trato dos artefatos que oferecem suporte técnico para esse espaço virtual, sobretudo na questão das suas interfaces físicas e dos processos lingüísticos e cognitivos presentes, vem se constituindo um campo específico, o do design da interação. Colocando-se em termos mais simples: o designer atua igualmente na criação da máquina e do sistema. Entretanto, há um terceiro papel: o desenho das relações entre os atores sociais presentes no processo de produção e transferência de informação, um desenho que envolve a noção de projeto em si, uma vez que deve discutir a participação coletiva, em outras palavras, um metadesign do processo de projeto colaborativo. Dessa forma, o desenho da rede comunitária é, ao mesmo tempo, design, enquanto configura aparatos técnicos, sistemas e interfaces, e metadesign, enquanto é auto-referente, já que, ao envolver a comunidade, acaba por discutir a si mesmo. E isso deverá ser feito num contexto de projeto colaborativo que presume uma exposição clara das bases metodológicas, um aprofundamento nas dimensões políticas e comportamentais e, finalmente, um refinamento no processo de tomada de decisão (FAGENCE, 1977). A segunda questão diz respeito à noção de redes. A polissemia do conceito, com sua natureza dinâmica e policêntrica, e o grande número de configurações que as redes comunitárias podem assumir fazem com que a divisão entre os conceitos de mecanismo de transferência e canal de transferência fique nebulosa. Às vezes caRevista Matteria Primma

nal, às vezes mecanismo, as redes comunitárias podem desempenhar estes e outros papéis, ligados à integração de serviços de interesse social. Entretanto, cabe perguntar: quais são os pressupostos para a utilização da Internet como mediadora da produção, mecanismo e canal de transferência de tecnologias voltadas para a diminuição das desigualdades sociais? Em que termos a implantação de redes comunitárias pode constituir um embrião de um modelo cooperativo de desenho? E a partir daí, pode a comunidade em si ser objeto de um processo de design? Assumindo que as redes comunitárias e as comunidades virtuais podem constituir não apenas um embrião, mas um verdadeiro meio de cultura de novos conhecimentos, sobretudo quando há articulação entre vários núcleos sob a forma de redes intercomunitárias, concluímos este trabalho apontando algumas diretrizes. Primeira: um protocolo claro de trabalho deve ser criado. Todos os atores envolvidos devem estar cientes tanto dos aspectos metodológicos quanto dos direitos e limites que regulam as atividades de cada um, bem como do formato dos aparatos que documentarão os resultados da criação coletiva e sua repercussão na questão das patentes, dos royalties e das necessidades dos países em desenvolvimento. Segunda: é necessário enfatizar o desenvolvimento de requisitos técnicos e interfaces que superem barreiras à comunicação, sejam elas regionais, lingüísticas ou de escolaridade. Esta postura já é tradição no design, no que se refere à questão da utilização e da funcionalidade, e ganha importância maior quando a comunicação é realizada em escala global.


Terceira: não podemos esquecer que a noção de transferência presume a transposição de barreiras e pode ocorrer em diferentes direções: horizontalmente, entre grupos ou comunidades que compartilhem um interesse comum, ou verticalmente, entre instituições de pesquisa ou instâncias governamentais. Qualquer que seja a abrangência do sistema proposto, sua multiplicação pode gerar uma rede e, portanto, toda iniciativa pode apresentar escalas variáveis, configurações dinâmicas e múltiplas centralidades. Quarta: devemos explorar o potencial de instâncias governamentais como fomentadoras tanto da geração de conhe-

cimento tecnológico, quanto da formação de associações, canais e mecanismos para a sua transferência. Quinta e última: é importante entender que a Internet não é propriamente um veículo, mas uma infra-estrutura de comunicação que pode suportar não uma, mas várias redes comunicativas sobrepostas. A natureza da troca informacional – seja síncrona ou assíncrona ou portadora de múltiplas modalidades sensoriais –, além do potencial cognitivo e intersubjetivo, é cambiante. Portanto, na construção de canais e mecanismos, as estratégias e os códigos devem ser sistematicamente renegociados e ampliados.

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Estado y comunicación pública en Argentina. Los noticieros y los ciclos de documentales en Canal 7. Alfredo Alfonso Mágister en Comunicación, es profesor e investigador de la Universidad Nacional de Quilmes y la Universidad Nacional de La Plata.

Néstor Daniel González Licenciado en Comunicación, es profesor e investigador de la Universidad Nacional de Quilmes y la Universidad Nacional de La Plata.

Resumen – Desde sus orígenes la televisión argentina estuvo vinculada con las políticas públicas. El primer gobierno de Juan Domingo Perón estableció una política sistemática de fomento y ampliación de la joven tecnología. Sin embargo, ese fomento reiteró el modo de concentración demográfica de desarrollo del país, en donde, en un territorio doce veces mayor, se concentra en una sola porción, más de la mitad de la población. Desde entonces el concepto de televisión pública alcanzó diversos niveles de debate y resignificación, encontrando propuestas diversas desde la sociedad civil.

Resumo – Desde suas origens a televisão argentina esteve vinculada com as políticas públicas. O primeiro governo de Juan Domingo Perón estabeleceu uma política sistemática de fomento e ampliação da jovem tecnologia. No entanto, este fomento reiterou o modo de concentração demográfica de desenvolvimento do país, onde, em um território doze vezes maior, se concentra em uma só porção mais da metade da população. Desde então, o conceito de televisão pública alcançou diversos níveis de debate e re-significação, encontrando propostas diversas desde a sociedade civil.

Palabras-clave – Comunicación, cine documental, periodismo, tecnología.

Palavras-chave – Comunicação, documentário, jornalismo, tecnologia.

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Introducción

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Pensar la relación Estado y comunicación pública en Argentina, entendiendo esta última en su dimensión televisiva, implica asumir una relación compleja, densa, de profundas contradicciones y que conlleva necesariamente a plantearse la concepción de representación ciudadana que la Constitución Nacional propone. Uno de los presupuestos iniciales de la democracia representativa es entender a la misma como el gobierno del pueblo a través de sus representantes. Es decir, ese pueblo debe reunir las condiciones para poder atribuir a sus representantes en los temas clave de la sociedad. Debido a la dinámica de acción de la vida cotidiana, los medios de información deberían ocupar el rol de informar de un modo completo y complejo, asumiendo que esa información es fuente democrática. De este modo, más aún la comunicación pública y, en este caso la televisión pública, deberían cumplir esa función de manera clara y precisa. Y también se debería dar cuenta de ello a los ciudadanos mediante diversas estrategias de contacto: foros, instituciones públicas, universidades, parlamento, tecnologías de la información etc. en donde los ciudadanos pudieran expresar sus opiniones, acuerdos y diferencias con el modo en que son informados. El propósito es indagar esta relación a partir de la propuesta comunicacional de la televisión estatal nacional y su expresión como canal de aire, Canal 7, en sus noticieros y sus ciclos documentales. El motivo esencial de esta propuesta se establece en la percepción de una voluntad de definición, por parte de la gestión que asuRevista Matteria Primma

mió en 2006 la conducción de Canal 7, de proponer como slogan de transformación del canal el concepto televisión pública, hecho inédito en los más de cincuenta y cinco años de su historia. Consideramos que esta concepción debiera estar pensada desde una propuesta compleja que integre capacidad de emisión y de recepción en todos los puntos del país, renovación del parque técnico, capacitación y actualización del personal, y la transformación y consolidación de una grilla de programación que la distinga de las otras propuestas comunicacionales de los canales de aire, cuya finalidad es comercial. Como ejemplo que impulsa este aspecto se destaca que en la pantalla del canal estatal se encuentran los únicos programas de televisión de aire que realizan una metacrítica de la producción televisiva. Esta estrategia de indagación se enmarca en un contexto en el que el nuevo diseño de las políticas de comunicación del Estado sobre el fin de la década del 80 y ejecutadas en la década del 90 generaron nuevas pautas en los canales televisivos. Esta etapa posibilitó la conformación de nuevos oligopolios trasnacionales que modificaron radicalmente el escenario de las telecomunicaciones incorporando nuevos actores sociales al campo. A su vez, en la década del 90 irrumpen formatos renovadores de los géneros de entretenimiento de masas como el reality show o los talk shows, junto a la concepción de televisión barata en la producción y posibilitadora de recursos económicos. A partir de la recesión de 1998 se multiplicaron las grillas con programas que


llevaban el esquema “mesas con gente” y la aparición de productoras independientes que asumieron la necesidad del riesgo para cambiar el sentido de programación. De este modo nuevos géneros ocupan el lugar central en la pantalla, las telecomedias con acciones de la vida cotidiana, las ficciones de acción etc. Estos elementos impregnaron la estructura de los noticieros incorporando nuevas organizaciones argumentativas y narrativas, nuevas tendencias del tratamiento informativo que lo llevaron a profundizar la espectacularización, haciendo hincapié en las historias de la vida privada con representaciones ficcionalizadas y entregas seriadas. Si asumimos la caracterización que proponen los investigadores colombianos Jesús Martín-Barbero, Omar Rincón y Germán Rey sobre la televisión pública en tanto espacio que interpela y se dirige al ciudadano más que al consumidor, y por lo tanto su objetivo primordial reside en contribuir explícita y cotidianamente a la construcción del espacio público en cuanto escenario de comunicación y diálogo entre los diversos actores sociales y las diferentes comunidades culturales. El segundo rasgo que marca a la televisión pública se halla en la elaboración audiovisual de las bases comunes de la cultura nacional, sobre las que se articulan las diferencias regionales y locales. Para ello la televisión pública debe, de un lado, hacerse cargo de la complejidad geopolíti-

ca y cultural de la nación tanto en el plano de las prácticas sociales, como de los valores colectivos y las expectativas de futuro, y de otro, trabajar en la construcción de lenguajes comunes. El tercer rasgo que configura la especificidad de esta televisión es ofrecer una imagen permanente de pluralismo social, ideológico y político, abriendo espacios a las voces más débiles, como las minorías culturales (los indígenas, los homosexuales) y los creadores independientes (en video, música, teatro, danza etc.). La delimitación del corpus de análisis se propone a partir de cotejar la propuesta comunicacional del canal con su programación y comprender la necesidad de otorgarle, por un lado, una dimensión significativa a los géneros informativo y documental, entendiendo que, alejados de la concepción que ilustra a los medios de comunicación como el receptáculo de saberes técnicos incuestionados y un profesionalismo de sus protagonistas que garantizan neutralidad, imparcialidad y veracidad, la información y el documento son, inevitablemente, productos de comunicadores/periodistas/informadores que actúan dentro de procesos institucionales y de conformidad con prácticas que son también institucionales. La información y el documental, con sus diferencias, imparten a los hechos que ocurren su carácter público, en cuanto transforma sucesos en acontecimientos públicamente abiertos a la discusión.

a) Análisis del noticiero nocturno y del noticiero internacional de Canal 7 La mediatización televisiva va adquiriendo una importancia cada vez más significativa en la construcción de un ima-

ginario común, donde el salto exponencial en términos de audiencia refleja que se ha convertido en el principal referente para

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la gran mayoría de los ciudadanos. Para Roger Silverstone, la televisión ejerce un considerable poder en la vida cotidiana y por eso ha adquirido una gran importancia, pero esto no se puede entender si no se consideran las “interrelaciones de sobredeterminación y subdeterminación en las que este medio entra en los diferentes niveles de la realidad social donde interviene”.1 En este sentido, el estudio de la información que ofrecen los noticieros del corpus habilita un espacio en donde convergen aspectos políticos, económicos, sociales y culturales. Para realizar este análisis hemos propuesto una muestra delimitada en la que se han seleccionado los noticieros del canal estatal que reúnen características disímiles por abarcar en su temática una dimensión generalista y otra internacional. En lo que respecta a los períodos analizados de emisión, se ha determinado a priori tres días de una semana de junio de 2007, que no contuviese temáticas especiales de orden nacional, intentando referir indicadores de producción cotidiana, para el caso del informativo nacional y tres sábados de junio, día de emisión del noticiero internacional. El propósito de este estudio es, entonces, el de contribuir a la comprensión de los modos de intervención informativa que propone el canal estatal de Argentina en sus dos formatos: general e internacional, como correlato de visualización del compromiso asumido al ejercer su rol de informadores públicos en democracia.

1.  Silverstone, Roger, “Televisión y consumo”, en Televisión y vida cotidiana, Amorrortu, Buenos Aires, 1996.

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El noticiero nocturno de las 21 de Canal 7 Canal 7 es una red televisiva del Estado argentino que cubre casi íntegramente el territorio; inicialmente nace como la empresa privada Canal 7 de TV pero es estatizada en 1953 y en 1978 se fusiona con la productora TC de programas televisivos a color, con ocasión del campeonato Mundial de Fútbol organizado por Argentina. * Denominación: Visión 7. Conducido por Rosario Lufrano. Columnistas: Adrián González (Economía); Pablo Feldman (Política); Pablo Brieger (Internacional) y Pablo Tiburzi (Deportes). La sección meteorología es conducida por Nadia. * Comienza con un plano general del piso en donde se ven sus amplias dimensiones y los espacios para la conductora y los columnistas. El noticiero cuenta con un espacio con sillones y otro con una mesa y sillas en donde ocasionalmente se realizan entrevistas en vivo. El noticiero se inicia con la conductora parada, expresando el contenido de las noticias más destacadas y presenta los títulos del día. * Cada noticia es presentada con un título y una imagen referencial. * El noticiero tiene tres interrupciones publicitarias. La primera es de una duración aproximada de 3 minutos, mientras que las siguientes son de 6 y 5 minutos, respectivamente. * Cada columnista es presentado por la conductora quien se toma la atribución de hacerle preguntas en el marco del desarrollo de la columna y una nota, que precede a la intervención del columnista, vinculada con su área temática.


* El noticiero finaliza con la sección “la tapa del día” en donde se simula la tapa de un diario con la utilización de diseño de pantalla en donde se ubican las principales noticias de la jornada. El noticiero internacional de Canal 7 * Denominación: Visión 7 internacional. Conducido por Pedro Brieger, Hinde Pomenariec, Raúl Dellatorre y Alejandro Kasanzew. * Comienza con un plano general del piso en donde se ven sus amplias dimensiones y la mesa donde se ubican tres de los conductores y una tarima en donde se ubica uno de los conductores, Alejandro Kasanzew, que tiene un protagonismo marcadamente menor que los otros. El noticiero se inicia con algunos de los conductores más reconocidos, Pedro Brieger (que es el columnista de la sección internacional en el noticiero general) e Hinde Pomenariec, quienes enuncian los principales temas del día. * El noticiero tiene tres interrupciones publicitarias. En todas la duración es de, aproximadamente, 5 minutos. * Habitualmente se realizan entrevistas en piso a figuras públicas, intelectuales o periodistas especializados. * El noticiero cuenta con la sección “desvelemos la incógnita“, que consiste en ir presentando a lo largo del programa una figura, país o caso, como si fueran piezas de un rompecabezas, que van conformando un mosaico. Los espectadores cuentan con un número telefónico para participar. Es de destacar que

el acierto en la participación no implica la obtención de un premio, aunque es mencionado su nombre y ciudad de origen al final del programa. Presentación de los resultados El análisis sugiere una idea central, un proceso, de correlaciones u otras formas de vinculación entre variables de interés. Si se recurre a un tratamiento estadístico de las observaciones efectuadas, se pasa a remitir a una u otra nociones que caracterizan el ensamble de estas observaciones. Antes de codificar, clasificar, organizar y reorganizar su material, se tienden a hacer resurgir los hechos aparentes. Este proceso de análisis es inductivo, porque se desprende de una estructura a partir de numerosas observaciones clasificadas y al haber un proceso de consulta o de revisión de las teorías sobre el problema, se reinterpreta. Desde esta perspectiva, se analizaron los siguientes datos: 1. forma de la cobertura periodística de las informaciones; 2. origen de las imágenes que se emiten en la información, tipo de audio utilizado y relevamiento de los recursos que pueden ilustrarla; 3. forma de la intervención del reportero o locutor en la información; Se distinguen algunos elementos diferenciales en la cobertura de los noticieros analizados. Las imágenes utilizadas se reiteran sistemáticamente. En el caso de reclamos sectoriales, se emiten imágenes de esas manifestaciones. La información que acompaña a estas imágenes tiene en la utilización de la crónica al género periodístico predominante. Esto evidencia la superficialidad del tratamiento.

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1- Forma de la cobertura periodística de las informaciones.

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La cobertura periodística de las informaciones de política interna reúne el mayor grado de recursos periodísticos en el noticiero nocturno. Estos aportes se comprueban en la presentación ante cámara de la conductora del noticiero, la conexión en directo con enviados especiales al interior del país o con móviles en vivo desde distintos puntos de la ciudad de Buenos Aires, y el interés del canal por continuar con la temática varios días en función de las repercusiones que han tenido. En este espacio se desataca la importancia que se le otorga a la sección deportiva. La información está distribuida con dos o tres entradas en el noticiero y una noticia destacada que comienza con un diálogo con alto grado de coloquialidad entre la conductora y el columnista, sobreentendiendo que se trata de un espacio de relajación del programa. Con respecto a la sección internacional del noticiero nocturno, su presencia es mayor que en el resto de los noticieros de los canales de aire. Su columnista, Pedro Brieger, ocupa un lugar de referencia como experto indiscutido y sólo es interrumpido por la conductora, Rosario Lufrano, para realizar preguntas de profundización temática. En el cierre de cada columna, Brieger elige una tapa del día de un diario latinoamericano y explica su elección. A veces, esa columna está acompañada por la presentación de un informe especial que, en muchos casos, ya ha sido emitido por el noticiero internacional.

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2- Origen de las imágenes que se emiten en la información, tipo de audio utilizado y relevamiento de los recursos que pueden ilustrarla. Las informaciones que presenta en vivo y en directo el noticiero nocturno sobre política interna refuerza el sentido con sonido ambiente, ya que se trata de un recurso que permite dar la idea de estar más cerca del suceso y le imprime un carácter más actual a la información. Con respecto al origen de la información, con la excepción de las que se producen en la ciudad de Buenos Aires, prácticamente todas las que se utilizan son de agencia, salvo en los casos de coberturas de enviados especiales o móviles en vivo. En el noticiero internacional los informes son producidos por el equipo del noticiero, cuya autoría se reconoce en los créditos, pero las imágenes, prácticamente en todos los casos, son compradas a distintas agencias especializadas. En algunos casos, los informes son reiterados a solicitud del público. En este caso es de destacar esta relación, ya que los mensajes de los espectadores son resumidos en vivo. En ambos casos se destaca, aunque de manera aleatoria, la presencia de entrevistados en piso, lo que le otorga una jerarquía y distinción al tratamiento informativo. 3- Forma de la intención del reportero o locutor en la información. En ambos casos trabaja el mismo locutor, Arturo Varela. También se presenta del mismo modo, muchas veces en off y


algunas, en piso, presentando un compacto de noticias, en el noticiero nocturno, o anticipando información, en el internacional. Este recurso, que en ocasiones es compartido por el reportero de la información, traduce opinión y, por consiguiente, es utilizado de manera inversa a la definición que hace Bill Nichols sobre la intervención de la voz en off en el documental: “los hechos son narrados por una voz en off de manera descriptiva y objetiva, y cuya intención no es problematizar la realidad, sino exponerla tal cual se presenta”.2 Los programas informativos televisivos son complejas entidades que, a través de su discurso específico, generan modelos mediatizados de realidad social. El concepto de modelos mediatizados, reenvía a la concepción de las tecnologías manifestada por Verón, que expresa “los medios nos son solamente dispositivos de reproducción de una “real” al que copian más o menos correctamente, sino más bien dispositivos de producción de sentido”.3 A partir del análisis de la información emitida por los noticieros nocturno e internacional de canal 7 de Argentina, se pueden establecer en términos generales las siguientes consideraciones: La utilización de recursos como documentación audiovisual coadyuva a la calidad de los programas informativos. La información completa y contextualizada de los acontecimientos se presenta como un instrumento de calidad y de diferenciación, frente a la gran cantidad de factores que empujan hacia la unifor2.  Nichols, Bill . La representación de la realidad. Barcelona: Paidós, 1997, p. 68-72. 3.  Verón, Eliseo. El cuerpo de las imágenes. Bogotá: Grupo Editorial Norma, 2001, p. 66-87.

midad de los noticieros seleccionadas (el uso de las mismas fuentes, los criterios de selección y las estrategias de enunciación y construcción de la noticia etcétera). La documentación audiovisual contribuye a la audiovisualidad de los programas. Sin embargo, si es empleada únicamente con el objetivo de obtener variedad visual, la documentación colaborará en la fragmentación y espectacularización de la información. A su vez, el uso no motivado de documentación audiovisual, el empleo de grabaciones reiterativas o desfasadas y una mala contextualización de los documentos audiovisuales devalúa la información. Ambos noticieros, al tener una intervención orientada a las cuestiones internas de su país o del plano internacional, se diferencia también en el tono. Esta información pretende trazar una mirada con carácter general sobre la problemática tratada. La utilización desmedida de la crónica, dentro de los géneros informativos analizados, responde a la tendencia de los noticieros a presentar un número más elevado de sujetos sociales, de todos los campos de la esfera pública, como noticiables. El resultado indica mensajes cortos, falta de profundidad en el tratamiento informativo y economía de recursos en la producción. El noticiero nocturno traduce el acontecer diario, la visibilidad de las informaciones, según los propios criterios de la crónica. El noticiero internacional prescinde de este género, lo que habilita a mayor profundización temática y un tratamiento reflexivo de la información, destacándose en este punto. Los noticieros se retroalimentan documentalmente de los mismos materiales que han generado con anterioridad. Esto

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también indica que se le otorga un valor diferente a la imagen en relación al audio de esa producción previa. La imagen se retroalimenta, el audio es reemplazado por la nueva información. Sin embargo, la no utilización del texto sonoro de la documentación limita a la aportación informativa de dichos documentos. Se produce una sistemática personalización del acontecer político. Las crónicas describen los actos políticos como expresión de los estilos particulares de los gobernantes.

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El documental en Canal 7 Desde la perspectiva del desarrollo del género documental en la televisión argentina, es importante destacar que se trata de uno de los géneros más postergados. Tanto en la emisora estatal como en los canales privados. Si damos una mirada general a la historia del documental en la televisión argentina de canales de aire, los dedos de una mano nos alcanzarán para enumerar los ciclos sistemáticos dedicados al género documental y con financiamiento para el mismo. Sin embargo, es importante destacar que el canal del Estado sirvió por mucho tiempo como contenedor de proyectos a los que la televisión privada daba la espalda y hasta en muchos casos se constituyó en el descubrimiento y trampolín de propuestas ricas e innovadoras que nacían en el Canal 7, y cuando encontraban éxito en la audiencia seguían su camino en los canales privados. Cabe destacar que uno de los primeros ciclos documentales en la historia de la televisión argentina nació en Canal 7 en 1975. Se trata del recordado ciclo Revista Matteria Primma

“Argentina Secreta”, creado por Roberto Vacca, Daniel Plá, Héctor Horacio Rodríguez Souza al que luego se suma en la conducción Otello Borroni. Y recién en 1993, aparece un nuevo estímulo para el género, a través de dos ciclos llamados “El otro lado” y “El Visitante”. Los mismos son obra de un joven formado en la historieta y que decía hacer “el antiperiodismo” que renovó la pantalla con una valiosa propuesta estética y argumental. Con el motor de una mirada documental, Fabián Polosecki construye el camino de un narrador, que, como guionista de historietas, busca en la realidad argumentos para sus tiras y se encuentra con las historias más atrapantes de la vida urbana de los 90. Luego, los documentales aparecen en la pantalla televisiva en formas poco sistemáticas y de diversas maneras. Por un lado, la emisión de algunas películas documentales importantes son llevadas a cabo en ocasión del aniversario de algún acontecimiento histórico planteado por el film, y se realizan a través de la adquisición de derechos de emisión a un valor “ínfimo” a lo que representan los costos de realización. Otras veces, el documental en la televisión pública argentina aparece como programación de relleno, pocas veces en horarios centrales y mas bien cubriendo baches de la parrilla televisiva. El caso “Ficciones de lo Real” A partir de la nueva etapa de gestión iniciada en Canal 7 en el año 2006, se puso en el aire el ciclo “Ficciones de lo Real”, coordinado por los importantes realizadores Alejandro Fernández Mouján y Pablo


Reyero y conducido por Diego Brodersen. El ciclo está ubicado en horario central, los jueves de 22 a 24, y en algunas ocasiones, previo a la emisión del film se realiza una entrevista al director del mismo para contextualizar la realización. También es importante remarcar que el ciclo no financia la realización de películas, sino que los derechos de emisión se realizan de tres formas: 1. Por el pago de derechos de emisión como fue mencionado anteriormente. 2. Por convenio con el Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA), que cede los derechos de emisión de los films financiados por el Instituto a cambio de espacios de publicidad para difundir nuevos films argentinos. El convenio establece concretamente que a los dos años de estrenado el films en las salas cinematográficas los puede emitir Canal 7 tres veces a cambio de cuatro mil segundos de publicidad. 3 – Y por la sesión de derechos de los propios realizados. Cabe destacar que es muy común que los documentalistas una vez concluida la etapa de exhibición de sus películas en el circuito de salas cinematográficas, ven con buenos ojos la emisión por la pantalla televisiva, aún cuando no perciban un pago por la misma. Ello se hace porque los realizadores buscan llegar a lugares donde el material no llega por el cine, y porque la emisión por la pantalla televisiva de canales abiertos es considerada una jerarquización del director y de su película. “Cuando me llamaron desde esta nueva gestión para consultarme sobre como encararía la administración de la progra-

mación del área de cine en el canal, lo primero que dije fue que hay que crear un espacio para el cine documental que no existe en la televisión argentina. Y cuando me llamaron para trabajar fue una de las primeras cosas que hice. Lo primero que planteamos fue hacer un ciclo de documentales de autor, es decir, de autores destacados donde no solo se emite la película sino se realiza una entrevista al director”4

ca.

Los “Temas” de la televisión públi-

El escenario de los debates en torno a la televisión pública estuvo históricamente centrado en el comportamiento tanto económico, político, cultural y discursivo entre otros aspectos de los canales de televisión de propiedad de los Estados Nación. Sin embargo, en la actualidad la discusión en función del carácter público de la TV parece haber cambiado de enfoque. Como se mencionó anteriormente, un significativo cambio en el enfoque lo otorga Jesús Martín Barbero en “Claves de debate: Televisión Pública, Televisión Cultural: entre la renovación y la invención” (en Televisión Pública: del consumidor al ciudadano. Omar Rincón). “El mercado identifica lo público en relación con los públicos, con las audiencias, que lo designa como la diversidad de gustos y formas de consumir. Esto es la fragmentación de ofertas que hace funcionales las diferencias socioculturales a los intereses comerciales.

4.  Fernández Mouján, Alejandro. Coordinador de Área Cine. Canal 7.

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Lo propio de la ciudadanía hoy es hallarse asociada al “reconocimiento recíproco”, es decir, al derecho a informar y ser informado, hablar y ser escuchado, imprescindible para poder participar de las dediciones de la colectividad. Lo que los nuevos movimientos sociales y las minorías demandan no es sentirse representados sino reconocidos: hacerse visibles socialmente en la diferencia5”. En definitiva, el debate sobre “lo público” trasciende la propiedad de los medios para pasar a ver la relación que construyen los medios con los ciudadanos. Sin embargo, los problemas por resolver para la televisión pública parecen estar claros y casi siempre distantes de su resolución: Por un lado desterrar el mito de que la TV pública es sinónimo de TV del gobierno. Terminar con la confrontación entre los modelos de TV comercial vs. TV Pública; debe plantear explícitamente cual es su función cultural; y uno de los aspectos que aquí queremos resaltar es cuales son los temas que debe abordar la televisión pública. Naturalmente, en las experiencias latinoamericanas, aquellos aspectos vinculados a la justicia, la memoria, la educación y el trabajo son sin dudas temas que la televisión necesita abordar. En este sentido, el documental argentino, de acuerdo a su matriz histórica, se ocupó de abordar temas que representan 5.  Barbero, Jesús Martín. Claves de debate: Televisión Pública, Televisión Cultural: entre la renovación y la invención”. En Televisión Pública: del consumidor al ciudadano. Omar Rincón. La Crujía Ediciones. 2005, p. 35-68.

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para el país grandes temas, grandes narraciones y grandes heridas. “El criterio básicamente es que seleccionamos las películas por su temática y por su tratamiento, tenga una mirada particular sobre el tema que trata.6” Con sólo revisar la programación del 2008 resulta evidente. – La Dignidad de los Nadies. Fernando Solanas: La Dignidad de los Nadies se concibió a partir de la catástrofe social que la Argentina vivió a comienzos del siglo XXI: 25% de desocupados y 60% de pobres e indigentes. Argentina produce alimentos para 300 millones de personas y se morían de hambre o enfermedades curables cien personas al día. Más muertos por año que todos los desaparecidos del terrorismo de Estado. La tragedia me empujó a hacer memoria contra el olvido. Los más jóvenes preguntaban qué había sucedido y aunque lo habíamos denunciado muchas veces durante los 90, era necesario traer las imágenes de esa historia y colocarlas en su contexto. – La grieta. Pablo Reyero: Recopila los testimonios de ex combatientes de Malvinas que en un diálogo profundo describen su experiencia y las formas en las que viven hoy. – Malvinas, historia de traiciones. Jorge Denti: Nuevamente aparece un Documental sobre la Guerra de Malvina que 6.  Fernández Mouján, Alejandro. Coordinador de Área Cine. Canal 7


hace hincapié en los motivos políticos, económicos y sociales que llevaron al conflicto bélico. – Pulqui, un instante en la patria de la felicidad. Alejandro Fernández Mouján: Al artista plástico Daniel Santoro se le ocurre hacer una replica del avión a reacción Pulqui II, símbolo del empuje industrial de la Argentina peronista de las dos primeras presidencias. Pero quiere hacer un Pulqui a escala, a la mitad de su tamaño original. Esto le permite revisar la historia. – Cándido López, los campos de batalla. José Luis García: El Pintor Cándido López trabajó desde muy joven como pintor retratista y fue uno de los pioneros de la fotografía en el Río de la Plata. Retrata en sus cuadros uno de los conflictos bélicos más importantes de la historia sudamericana: la guerra de la Triple Alianza contra el Paraguay. – Fragmentos de una frontera. Jorge Gaggero y Roberto Barandilla: un documental sobre la frontera con Uruguay. Uno de los conflictos diplomáticos más importantes entre los hermanos Argentina y Uruguay. – Jachal, cuando ya nadie te nombre. Silvina Cuman. En Jachal, oasis del norte sanjuanino, crece la desconfianza ante la mala calidad del agua potable. Jachal, no queda afuera de las políticas mundiales de saqueo de los recursos naturales. – Paco Urondo, La palabra justa. Daniel Desaloms: Documental que reconstruye, a veintisiete años de su asesinato, aspectos de la vida del poeta Francisco “Paco” Urondo. Urondo fue un intelectual

comprometido, que se integró a la organización guerrillera FAR a comienzos de los años ’70 y aceptó, en contra de su voluntad, un destino en Mendoza. Murió combatiendo el 17 de junio de 1976 en Guaymallén. – Argentina Latente. Fernando Solanas: Un ensayo testimonial sobre las capacidades con que cuenta la Argentina para enfrentar su reconstrucción. Emotivos testimonios de técnicos, trabajadores y científicos hacen memoria sobre lo que fueron capaces de hacer y señalan las contradicciones: un país muy rico con un avanzado desarrollo científico y una tercera parte de su población en la pobreza. Argentina Latente forma parte de una tetralogía sobre la Argentina, comenzó con Memoria del Saqueo (2004); La Dignidad de los Nadies (2005) y terminará con Los Hombres que Están Solos y Esperan. – Bialet Masse, un siglo después. Sergio Iglesias: Un informe escrito en 1904 por Juan Bialet Massé (médico, abogado, ingeniero agrónomo, empresario, investigador y aventurero español) revela el abuso y la injusticia que sufrían en esos tiempos los trabajadores y nativos de un país de sudamérica: Argentina. Cien años más tarde y guiado por la voz de Bialet, el realizador sale a recorrer ese mismo país, para convivir con el pasado y el presente de un pueblo inmensamente rico y dominado. Sin lugar a dudas, el documental, con los tiempos de la reflexión aborda la Argentina profunda, sus actores sociales, su historia, la guerra, las crisis, su actualidad. Y el ciclo es reconocido como una boca-

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nada de aire fresco para los apasionados del género documental y para quienes ven en estos films la posibilidad de abordar en profundidad los grandes temas de la sociedad contemporánea. En el objetivo del ciclo aparece la idea de comenzar a financiar la produc-

ción de documentales que aborden nuevas problemáticas y nuevos enfoques. Sin embargo, es algo que hasta la actualidad sigue pendiente. Sin embargo, “Ficciones de lo real” aparece como uno de los ciclos más reconocidos por la nueva “televisión pública” argentina.

Bibliografía Alfonso, Alfredo, Cómo se informa a los europeos sobre Europa Universitat Autònoma de Barcelona, Bellaterra, 1997. Casetti, Francesco y Di Chio, Federico, Análisis de la televisión. Instrumentos, métodos, y prácticas de investigación. Paidós, Barcelona, 1999. Hall, Stuart, “Encoding/Decoding in television discourse”, en Hall, S. y otros, Culture, Media and Language. Hutchinson, Londres, 1980. –48–

Nichols, Bill, La representación de la realidad. Paidós, Barcelona, 1997. Rodrigo Alsina, Miquel, La construcción de la noticia. Paidós, Barcelona, 1993. Silverstone, Roger, Televisión y vida cotidiana. Amorrortu, Buenos Aires, 1996. Verón, Eliseo, El cuerpo de las imágenes. Norma, Bogotá, 2001.

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Analisis de dos procedimientos de comunicación interna en el séctor docente de la sede de la Universidad Técnica Particular de Loja – Ecuador, año 2007 Diana Rivera Comunicadora social, profesora de Comunicación Social de la Universidad Técnica Particular de Loja, doctoranda en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela (España).

Abel Suing Licenciado en economía, magíster en Comunicación Audiovisual por la Universidad Internacional de Andalucía (España), doctorando en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela (España). Profesor y director CITTES VIA Comunicaciones de Universidad Técnica Particular de Loja, Ecuador.

Karina Valarezo Comunicadora social, profesora de Comunicación Social de la Universidad Técnica Particular de Loja, doctoranda en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela (España).

Andrea Velasquez Comunicadora social, profesora de Comunicación Social de la Universidad Técnica Particular de Loja, doctoranda en Comunicación Social por la Universidad de Santiago de Compostela (España).

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Resumen – El ejercicio de la comunicación interna, como pilar de las relaciones en una organización, se manifiesta de diferentes formas en razón de los medios, la dinámica y visión de los líderes, por otra parte la universidad como centro de gestación de conocimiento brinda espacios para realizar propuestas de comunicación que puedan ser aplicadas en otras organizaciones. El objetivo de esta investigación es analizar dos procesos de comunicación interna en la Universidad Técnica Particular de Loja – Ecuador, en base a la apreciación de los docentes, la relación de medios, tecnologías y canales utilizados. Palabras clave – Comunicación, comunicación interna, comunidad, participación, publico interno.

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Abstract – The internal communication exercise as a pilar of human relationships into one of the labor organizations, to express or manifest of different ways or forms according of the media. The dynamisc and opinions of the leaders of the organizations. Another point of view came from the university like a centre of acquisition of knowledge offers spaces or areas to realize or to accomplish communication proposals that can be applied to other organizations. The objectives of this research is to analyze two processes of internal communication at the Universidad Técnica Particular de Loja – Ecuador, one of the processes is based on the assessments of the university professors. A second one depend or rely of the relationship of the media, and finally depend of technologies and channels of communications used. Key words – Communication, internal communication, community, participation, internal public.

Introducción La comunicación interna dentro de una organización se define como “la información gradual y seleccionada que permite a todos sus integrantes, poseer un adecuado conocimiento de cuantos temas les afecten personal y profesionalmente” (ZAPATA, 2004, p. 272). Se “orienta al conocimiento de la filosofía y misión de la empresa y al conjunto de rasgos que caracterizan su perfil específico” (JIMENEZ, 1998, p. 120) a través de “un modelo de mensajes compartidos entre los miembros de la organización; es la interacción humana que ocurre dentro de las organizaciones y entre los miembros de las mismas” (KREPS, Revista Matteria Primma

1990; en MORALES, 2001, p. 219). En su aplicación ha de ser “fluida, implicante, motivante, estimulante y eficaz en sí misma. Debe obedecer a una cultura y a una identidad” (COSTA, 1998; en MORALES, 2001, p. 219), incide de manera fundamental en la calidad de las organizaciones. En la actualidad se considera que las instituciones o empresas que aplican estrategias de comunicación interna están a la vanguardia de la evolución social en un mundo globalizado. Es cierto que históricamente la comunicación interna ha dependido del área de recursos humanos, sobre todo, por sus


conexiones con la formación y gestión del conocimiento (ALVAREZ, 2002, p. 7). Sin embargo, esa tendencia se ha modificado en razón de la dinámica organizacional y de la respuesta que las instituciones deben dar a las demandas sociales influidas por las nuevas tecnologías de comunicación, lo que hace necesario que las estrategias de comunicación interna cuenten con la participación y respaldo directo de la máxima autoridad. Sin una comunicación interna capaz de poner en conexión – por arriba, en los niveles jerárquicos superiores, pero también por abajo, en lo procesos – a los diversos departamentos de la empresa, y dentro de cada departamento, de distribuir la información y el conocimiento disponible a todos sus integrantes, cualquier modelo está condenado a la “parcialidad” de cada área… necesitan una herramienta básica, vital imprescindible: la comunicación.1

La comunicación interna se ejecuta entre el recurso humano que forma parte de la institución, sin embargo dentro de éste público siempre se pueden distinguir diferentes grupos que compartiendo los mismos objetivos, pueden tener características particulares a su condición laboral, a los que inclusive se podría llegar con estrategias de comunicación interna específicas que abonen a la construcción y 1.  GAN y Triginé, 2006, p. 209

consolidación de una identidad y cultura corporativa. Todo tipo y tamaño de organización necesita de una comunicación interna, en la que se involucre a todos los niveles de la nómina, garantice la motivación de su personal, comparta la misión y visión organizacional y contribuya en la consecución de los objetivos institucionales. Este proceso de interacción humana constituye también la base para la proyección de la imagen externa de la organización, “resulta crucial disfrutar de una buena comunicación interna para respaldar el éxito de las comunicaciones globales de la organización” (Harrison, 2000, p. 135). Esto lo corrobora el modelo integrativo de la comunicación en las organizaciones, planteado por Kreps, 1990, que plantea que la comunicación interna propicia estabilidad y ambiente pertinente que se refleja en la imagen proyectada al sector externo y contribuye a la innovación organizacional.

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Modelo integrativo de la comunicación en las organizaciones.

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Contexto La moderna gestión de la comunicación en las organizaciones tiene uno de sus mayores retos, precisamente, en una de las instituciones sociales más antiguas, la universidad… caracterizada por la necesidad de que cada universidad se presente ante sus públicos como una oferta claramente diferenciada respecto al resto… Esta diferenciación institucional se podrá lograr a partir de la construcción y oferta de un verdadero compromiso institucional global.2

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Las instituciones universitarias constituyen organizaciones que por su estructura y razón social son diferentes, involucran lógicas de trabajo originales en la gestación de conocimiento y elaboración de modelos innovadores que se replican en la sociedad. En la composición interna de la universidad se pueden apreciar diferentes colectivos que cultivan campos concretos de la ciencia, es una organización que lleva cierto grado de complejidad al tener que 2.  Losada, 2004, p. 475

vincular varias especialidades en torno a la visión y valores institucionales, por lo mismo la gestión de comunicación interna y externa es diversa, requiere la participación de profesionales cercanos a estas categorías de la comunicación institucional. El público interno de una universidad en términos generales lo integran: autoridades, docentes, investigadores, estudiantes, personal administrativo y de servicios; hacia quienes se debe llegar con estrategias de comunicación determinadas. El 79%3 de docentes-investigadores de la UTPL trabajan a tiempo completo, bajo un modelo denominado Gestión Productiva4 que permite realizar actividades de enseñanza e investigaciones aplicadas en los Centro de Investigación Transferencia de Tecnología Extensión y Servicios CITTES5, desempeñan docencia y mantienen relación directa con proyectos de investigación. 3.  Fuente: Estadísticas UTPL, Dirección General de Recursos Humanos, enero 2008. 4.  La Gestión Productiva es una parte esencial en la formación profesional, traduce el liderazgo en espíritu de servicio y realizaciones concretas, en las cuales profesores y estudiantes son agentes del desarrollo social. Extraído de: UTPL. (2007). Revista Institucional. Loja. Editorial UTPL, p. 24. 5.  Son unidades cuya función específica es la investigación y la extensión o servicio a la sociedad. Extraído de: UTPL. (2007). Revista Institucional. Loja. Editorial UTPL, p. 56.

Metodología El objetivo de la investigación es determinar la efectividad de la comunicación interna de la UTPL a partir de la revisión de dos procesos: adaptación e implementación del Sistema de Créditos UTPL – ECTS (European Credit Transfer

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System)6, y la etapa de Autoevaluación Institucional con fines de Acreditación ante el Consejo Nacional de Evaluación y Acreditación de la Educación Superior de 6.  Disponible en: http://www.ects.es/


Ecuador (CONEA)7, en el período octubre – diciembre de 2007, en base al modelo de comunicación organizacional de Keeps 1990, y proponer un esquema de comunicación para instituciones de educación superior de similares características. Para cumplir con lo mencionado, se realizó una investigación cualitativa por la necesidad de interpretar a profundidad el estado de los mensajes; buscamos conocer las razones que “expliquen específicamente una situación”8, contando para ello con las vivencias de una persona o de un grupo. Como técnicas de investigación se utilizaron entrevistas en profundidad y focus 7.  Consejo Nacional de Evaluación y Acreditación de la Educación Superior del Ecuador. http://www.conea.net/ 8.  Tomado de: Galindo, F. Estrategias de investigación. 145 – 146. Incluido en recursos de seminario “Participación ciudadana y Comunicación local: Modelos e instrumentos de investigación” impartido por Marcelo Martínez Hermida, Loja – UTPL, diciembre 2007.

group. Las primeras fueron aplicadas al equipo humano responsable de los procesos en estudio, con el objetivo de obtener información de primera mano, creando para ello un clima de confianza a fin de que hablen con libertad del trabajo realizado y de sus actitudes, creencias, sentimientos y emociones. El focus group es una entrevista colectiva que permite conocer el comportamiento y actitudes de las personas o los patrones que se han considerado analizar. Esta técnica se aplicó a docentes investigadores, de las cuatro áreas académicas (administrativa, técnica, socio-humanística y biológica) de la UTPL, tomando en cuenta la experiencia (mínimo 1 año de labores como docentes), edad (entre 25 y 50 años) y sexo (la ponderación es de 43% masculino, 57% femenino)9. 9.  Según el registro de Recursos Humanos de la UTPL el colectivo docente se compone de 204 hombres y 266 mujeres, a enero de 2008.

Resultados Análisis de la comunicación interna del sistema de créditos ECTs Las acciones de comunicación que se desarrollaron para dar inicio a la adaptación del sistema de créditos ECTs tuvieron como base las fortalezas que el equipo de créditos de la Dirección General Académica, DGA10 identificó, en el modelo de “gestión productiva” que se venía gestando 10.  En el proceso de adaptación de créditos se conformó un equipo general multidisciplinario desde la Dirección General Académica de la UTPL para diseñar y coordinar a nivel macro con los directores de Escuelas; a su vez, en cada Escuela se conformó equipos de hasta 3 docentes para adaptar y aplicar los programas de estudio en coordinación con cada docente.

en sus dimensiones académica, de investigación y vinculación con la comunidad, además de la proyección internacional de la UTPL en el Espacio Iberoamericano del Conocimiento, y la movilidad académica. En Ecuador, la UTPL es la primera universidad en implementar el modelo. La DGA, que ejecutó el proceso de comunicación, consideró el período académico octubre 2007 – febrero 2008 “ciclo de transición”, para difundir los lineamientos del sistema, trabajar en los cambios de programas formativos y unificar la aplicación del proceso en todas las carreras.

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El objetivo de comunicar la adaptación del sistema ECTs fue lograr que el docente se involucre, acepte el nuevo modelo, logre que el estudiante sea protagonista de su formación, se convierta en una fuente de conocimiento y rompa el paradigma de que menos hora-clase significa menor trabajo, sino por el contrario mayor preparación e interactividad. Las herramientas empleadas para comunicar fueron: reuniones generales motivadas desde la DGA a directores de Escuela, y de estos a sus unidades con el apoyo del equipo de créditos de cada Escuela. La DGA elaboró un manual informativo “Sistema de créditos académicos UTPL – ECTs” en el que constan los lineamientos del modelo y entregó al docente y estudiante material bibliográfico base. Además la adaptación del modelo ECTs fue el tema central de la “Jornadas de Reflexión Académica”11, del primer bimestre del periodo abril – agosto de 2007. VIA Comunicaciones diseñó la campaña de comunicación, que incluyó la elaboración de material publicitario y generó espacios en los canales institucionales (informativo, blog, noticieros, boletines, intranet) para llegar con información al docente. Fruto de la socialización del proceso, los docentes presentaron planes analíticos de las asignaturas a su cargo, como herramienta básica del modelo de créditos; un 80%12 cumplió con puntualidad la entrega.

11.  Espacio de reflexión bimestral, que reúne a toda la comunidad universitaria para tratar aspectos relacionados a la formación personal y profesional del docente, centrada en el humanismo cristiano, tomado de: UTPL. (2007) Revista Institucional, Loja, Editorial UTPL. 12.  Entrevista a Ec. Paola Andrade, del equipo de DGA.

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La utilización del focus group evidencia que el público investigado conoce de forma general la implantación del sistema de créditos ECTs y se encuentra en un proceso de adaptación al mismo y perciben que los profesores que forman parte del equipo de créditos de cada escuela están al tanto del tema con mayor profundidad. Manifiestan que con el nuevo sistema las clases son distintas, demandan mayor preparación y explicación de contenidos generales que sirven de guía para que los estudiantes profundicen su aprendizaje con otras fuentes. La entrega de libros que fue una buena estrategia, el docente y el alumno tienen la posibilidad de conocer previamente los contenidos de la materia y prepararlos para la discusión en clase; señalaron también que hay poca preocupación de los directores de Escuelas en la elaboración de los distributivos académicos, las materias no están asignadas de acuerdo a la formación y competencias de cada docente. Existe consenso al calificar como bueno al proceso de comunicación y reconocen como instrumentos de socialización: informativo institucional, trípticos, afiches, folletos, jornadas de reflexión y reuniones de trabajo, que incentivan al docente a participar en actividades puntuales, como por ejemplo levantar información en el entorno virtual de aprendizaje de la UTPL y brindar tutorías personalizadas al estudiante. En el análisis de la entrevista y del grupo de discusión aplicados se observa que existen coincidencias, el equipo de la DGA manifestó que actuaron en base a un plan de comunicación y al respecto los docentes expresan que a través de la campaña de comunicación se informaron y quedó


claro el proceso. Además concuerdan en que la entrega de textos básicos fue un acierto y que la jornada de reflexión planificada para informar el ECTs, fue un pilar fundamental para motivar y comprometer la participación activa del docente. Análisis de la comunicación interna del proceso de autoevaluación institucional El Consejo Nacional de Evaluación y Acreditación de la Educación Superior del Ecuador – CONEA – diferencia tres etapas de acreditación en las instituciones de educación superior, la primera de autoevaluación consiste en medir la gestión de la institución a través de la docencia e investigación y su conexión con la colectividad, que se traduce en el cumplimiento de estándares e indicadores tipificados por el CONEA. Para lograr la autoevaluación de la UTPL se formó un equipo de docentes responsables que, bajo la asesoría de las áreas de marketing y relaciones públicas de VIA Comunicaciones, elaboraron la estrategia de comunicación. La socialización del proceso contempló la realización de charlas y talleres con las diferentes unidades académicas; se conformaron comisiones en Escuelas y CITTES, que actuaron como canal de información interno y coordinaron la recopilación de evidencias y medios de verificación que sirvieron para elaborar el informe de autoevaluación presentado al CONEA. Con el objeto de tener una retroalimentación del proceso de información se estructuró una encuesta en línea a los docentes con preguntas relacionadas a la planificación, cumplimiento de objetivos y desempeño. Por otra parte, se elaboró

material publicitario, se utilizó canales de comunicación interna como intranet, correos electrónicos personalizados y además se logró que directivos y mandos medios incluyan dentro de los discursos oficiales el desenvolvimiento del proceso con un mensaje estandarizado. El compromiso de los docentes con la autoevaluación institucional se tradujo en elaborar, recopilar y redactar la información de algunos indicadores, y su participación en la encuesta permitió conocer su identificación con la Universidad, el nivel de profesionalización y el aprovechamiento de beneficios de la política institucional (capacitación continua, becas de estudios, viajes etc.). Con motivo de las Jornadas de Reflexión Institucional del período abril – agosto 2007, se hizo una socialización de todo el informe resaltando cada una de las funciones básicas de la universidad y potenciando la docencia como fundamento del quehacer universitario. En el focus group aplicado se evidencia con claridad que los docentes entendieron la autoevaluación institucional como un paso importante hacia la acreditación, que permitió, además, hacer una autorreflexión del grado en que se está cumpliendo los objetivos de las Escuelas, CITTES y de la Universidad en general. Los docentes participaron recabando información indispensable para la elaboración del informe de Autoevaluación e incluso manifestaron que les hubiese gustado tener un rol más activo. Se señaló también que en algunos grupos aislados de docentes existe falta de interés por conocer lo que la Universidad hace para convertirse en una Institución Superior de calidad.

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En la etapa inicial, la comunicación fue confusa, se recibía información a través del intranet, pero no se conocía la dimensión e implicación del proceso. Los docentes expresaron que la información desde el nivel directivo llegó de forma directa y reiterada a los Directores de Escuela, CITTES y las comisiones, pero no de la misma forma a los docentes. También se conoció que algunos conocieron el proceso a través de canales externos (publicaciones impresas en medios

de comunicación, entrevistas, programas de TV etc.), y no por herramientas de comunicación interna. Por otra parte señalan que fue difícil el proceso, porque los docentes no están acostumbrados a llevar información documentada de sus labores y recalcan en la necesidad de fortalecer la comunicación interna; sugieren elaborar boletines electrónicos informativos, que permitan tener elementos y comprender mejor los temas de relevancia institucional.

Conclusiones

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• Existe deficiencia en la calidad de los mensajes que llegan al sector docente a través de canales de comunicación interna. • La estrategia de comunicación interna debe consolidar la cultura e identidad organizacional. • Una sólida comunicación interna en las organizaciones es el pilar fundamental en la proyección de la imagen externa.

• La gestión de la comunicación interna no depende únicamente del área de comunicación, sino que en su ejecución intervienen otras áreas. • Las nuevas tecnologías abren un abanico de posibilidades; pueden ser utilizadas para mantener informado al público interno y rompen la estructura jerárquica tradicional.

Propuesta Partiendo del hecho de que el CITTES VIA Comunicaciones tiene relación con la Cancillería, Direcciones Generales y todos los Centros de Investigación y Transferencia de Tecnología, CITTES de la Universidad, se propone que debe tener un nivel de asesoría para percibir de primera mano las directrices y políticas institucionales y proyectarlas en la ejecución de los planes de comunicación interna y externa a su cargo.

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Específicamente, en la comunicación interna VIA Comunicaciones, creará los canales y mensajes de comunicación adecuados que permitan llegar con información verdadera y dinámica que motive la participación de los diferentes segmentos del público interno en los proyectos que vayan de la mano de la misión y visión institucionales. Las estrategias de comunicación interna serán planteadas por VIA Comuni-


caciones; sin embargo, deberán ser coordinadas con otras dependencias para facilitar el éxito de los procesos específicos que se diseñen. Lo citado se evidencia en los procesos en estudio, en donde bajo la visión y orientación general del nivel directivo de la institución, VIA Comunicaciones asesoró en la elaboración de los planes de comunicación puestos en práctica, los cuales fueron analizados a través de los instrumentos de investigación aplicados, cuyos resultados se contrastaron con el nivel de participación lograda. El modelo de comunicación planteado garantizará la interacción con todos los niveles de gestión de la institución e incidirá en la toma de decisiones que conlleven a crear un ambiente laboral apropiado, participativo y motivante que se reflejará en los niveles de rendimiento laboral e incidirá en la consecución de una reputación externa positiva. Lo que coincide con el

planteamiento del modelo integrativo de la comunicación en las organizaciones planteado por Kreps, analizado en la introducción de esta investigación. La retroalimentación es fundamental para que los empleados aporten con sus conocimientos e iniciativas en los proyectos que la organización lleve adelante. Por tanto, la comunicación interna debe ser integral y permitir mantener un diálogo horizontal entre todos los niveles. Es importante crear instrumentos de comunicación interna personalizados que ofrezcan al receptor la oportunidad de sentirse parte de la organización, así como utilizar la diversidad de canales de comunicación que ofrecen las nuevas tecnologías de la información para llegar con mensajes claves a los miembros de la organización. La comunicación interna debe contar con recursos económicos, humanos y técnicos adecuados para ponerse en marcha.

Bibliografía Álvarez, M. El poder de la comunicación interna. Recuperado el día 4 de enero de 2008: http://europa.sim.ucm.es/compludoc/AA?articuloId=432767&donde=castellano&zfr=0, p. 7. Beltrán, R. et al. (2007). Sistema de créditos académicos UTPL – ECTS. Loja: Editorial UTPL. Gan, F. y Triginé, J. (2006). Manual de instrumentos de gestión y desarrollo de las personas en las organizaciones. Madrid: Ediciones Díaz Santos. Harrison, S. (2000). Relaciones públicas: una introducción. México: Thomson Learning Ibero. Jimenez, J. (1998). La comunicación interna. Madrid: Ediciones Días de Santos.

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Kreps, G. L. (1990). Organizational Communication. New York: Longman. Losada, J. (2004). La comunicación en la construcción de marcas universitarias. En: Losada, J. (2004). (Coordinador). Gestión de la comunicación en las organizaciones. (p. 475-476). Barcelona: Ariel. Morales, F. (2001). Comunicación interna. En: Benavides, J. et al. (2001). Dirección de comunicación empresarial e institucional. (p. 219-220) Barcelona. Gestión 2000. Universidad Técnica Particular de Loja. (2007). Revista Institucional. Loja: Editorial UTPL. Zapata, L. (2004). La comunicación interna en la sociedad del conocimiento: gestión clave en las estrategias empresariales y instituciones españolas. Recuperado el día 30 de enero de 2008: http://www.ucm.es/BUCM/revistas/inf/02104210/articulos/DCIN0404110269A.PDF, p. 272.

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Música e imagem: o movimento punk e seus desdobramentos na década de 1990 Jefferson Alves de Barcellos Formado em Comunicação Social pela Universidade de Ribeirão Preto, com especialização em Educação pelas Faculdades Claretianas e mestrado em Antropologia Visual pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É pesquisador nas áreas que envolvem juventude, imagem e música. É fotógrafo profissional, professor universitário e músico. Atualmente, é professor nos cursos de Comunicação Social – Jornalismo e Publicidade e Propaganda – das Faculdades COC.

Silvia Helena Simões Borelli Antropóloga, professora livre-docente pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora de graduação e pós-graduação em Ciências Sociais (PUC-SP), mestrado em Design, Comunicação e Cognição (SENAC-SP). Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, mestre e doutora pela PUC-SP. Resumo – O artigo apresenta a reflexão sobre a utilização da mídia, através da imagem e da música como meio de construção de identidades juvenis e fortalecimento de redes de afeto, tendo os dois fatores como elementos de agregação e construção de novas realidades. Colocando em contato jovens de lugares distantes, utilizando esses dois com a intermediação da mídia, uma linguagem característica e passível de encontro em vários locais do mundo. Esse trabalho proveniente da dissertação de Jeffer-

son Alves de Barcellos na condição de investigador e Silvia Helena Simões Borelli, como orientadora, tende a provocar novas reflexões nos temas que envolvam música, juventude, construção de identidade e mesmo espaços físicos públicos que envolvam a cidade de Ribeirão Preto. Palavras-chaves – Comunicação, música punk, juventude, Ribeirão Preto, rebeldia sonora.

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Resumen – El articulo presenta una reflexión sobre la utilización de la media, a través del imagen y de la música como medio de construcción de identidades juveniles y fortalecimiento de redes de afecto, tenido los dos factores como elementos de agregación y construcción de nuevas realidades. Colocando en contacto jóvenes de ubicaciones lejos, utilizando de estos dos con la intermediación de la media, un lenguaje característica y pasible de encuentro en varios locales del mundo. Esto

trabajo proveniente de la tesis de maestría de Jefferson Alves de Barcillos en la condición de investigador y Silvia Helena Simões Borelli, como orientadora, puede provocar nuevas reflexiones en los temas que involucren música, juventud, construcción de identidad y mismo espacios físicos públicos que involucren la ciudad de Ribeirao Preto. Palabras-clave: Comunicación, música, punk, juventud, Ribeirão Preto, rebeldía sonora.

Introdução

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Ao se falar de juventude, sobretudo em estudos vinculados ao âmbito das Ciências Sociais, o que mais se observa é o elevado número de materiais produzidos sobre questões relacionadas, direta ou indiretamente, à violência. Assim, a rebeldia juvenil, do ponto de vista de convívio com a sociedade ou familiares, é vista muitas vezes à luz de uma questão problemática, isto quando não é descrita como um distúrbio de personalidade. Dessa maneira, aspectos que tratam a rebeldia juvenil como um expoente estético e simbólico das dinâmicas sociais e antropológicas que refletem, entre muitas outras coisas, a dificuldade da passagem da infância e adolescência para a vida adulta são quase nulos. Dentre esses expoentes simbólicos e estéticos, podem-se citar as vestimentas, adornos corporais (de brinco a piercing1), tatuagens, livros e músicas prediletas. 1.  Adornos artísticos produzidos em diversos materiais, sendo os mais comuns em aço cirúrgico, prata e ouro, que enfeitam o corpo humano em locais onde não é habitual a colocação de brincos: língua, umbigo, dente, nariz, mamilos etc.

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Muito mais do que representações feitas por gostos individuais ou modismos coletivos, a música, as vestimentas, as escolhas por estilos de vida, sociabilidade e locais freqüentados para diversão simbolizam – em imagem – valores, conceitos e ideais daqueles que são observados. Ao se fazer uma análise minuciosa, à luz das Ciências Sociais, dessas nuances estéticas, é possível descobrir muitas características ocultas nos jovens, em especial se se atentar ao detalhe de que cada escolha estética não é aleatória, e sim propositalmente escolhida, seja para apresentá-los à sociedade, amigos ou familiares, seja, sobretudo, a si mesmos. A estética, na forma visual, gestual ou sonora, é uma ferramenta e um mecanismo de identificação da construção da identidade desses jovens. E, por este motivo, o estudo dessa estética é de suma importância para as Ciências Sociais, pois ela nos diz muito sem se preocupar em formular conceitos e teorias. Trata-se, na verdade, de uma espécie de códigos que apenas os iniciados em seus segredos podem decifrar corretamente.


Portanto, não é difícil imaginar que, para uma grande parte da sociedade, excluída da compreensão dos códigos estéticos de alguns grupos de jovens, o preconceito, a discriminação e a incompreensão para com seus atos e aparições na sociedade sejam a primeiras atitudes praticadas. Na intenção de amenizar esse nãoconhecimento sobre alguns desses jovens, o presente trabalho tem como objeto de es-

tudo a juventude de Ribeirão Preto, cidade localizada no interior do estado de São Paulo e a pouco mais de trezentos quilômetros da capital paulista. Convém salientar, porém, que a juventude escolhida para esta dissertação é a chamada “juventude rebelde” ou, ainda, “juventude transgressora”, em especial a que se desenvolveu entre os anos de 1980 e 1996.

A análise e o estudo bibliográfico sobre juventude Para iniciar o estudo, buscou-se em Edgar Morin (1980) o conceito para adolescência e juventude. Para o sociólogo, a categoria adolescência surge a partir da criação de uma indústria de bens culturais. Esse movimento torna-se mais claro a partir dos anos 1950, e nesse momento pós-Segunda Guerra Mundial é que se torna possível vislumbrar e quantificar grupos juvenis e suas novas oportunidades sociais e culturais. Destas, Morin destaca as novas oportunidades de consumo, lembrando que o aprimoramento da indústria eletrônica e da tecnologia nos anos subseqüentes tornou o jovem em um possível e assíduo consumidor, como foi com o caso do consumo de música, que antes de 1950 se dava apenas pela radiodifusão, modificando-se posteriormente com o surgimento da vitrola (aparelho reprodutor de vinil). Outros autores analisados e que contribuíram para o estudo do fenômeno cultural e social acima descrito foram Straw (1991, apud FREIRE FILHO & FERNANDES, 2005). No debate com a teoria de Morin (1984b), esses autores colaboram para demonstrar que foram a década de 1950 e seus

agentes culturais os responsáveis pelo início de uma série de manifestações juvenis vistas e conhecidas nas décadas posteriores, as quais não ficaram envolvidas apenas com a música, mas também colaboraram para a criação de uma nova linguagem visual, amparada e contextualizada pela maneira de se vestir e se identificar como jovem. Esses novos jovens desenvolveram uma nova perspectiva de consumo, através da qual eles assumem um novo papel na sociedade: o de participantes ativos dos movimentos sociais e culturais. Não é por acaso que as músicas consideradas transgressoras e rebeldes serão justamente as que tiveram seus expoentes na década de 1950, marcando profundamente não só aspectos sonoros, como também as novas vertentes musicais. O fio condutor que marca esta tese é o surgimento de uma cena musical nos Estados Unidos da América e, também, na Inglaterra, ambas no final dos anos 1970, e que ficou conhecida internacionalmente como uma linguagem visual e musical, recebendo o título de punk rock, movimento musical ao qual será dedicada a maior parte da análise rea-

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lizada neste trabalho. Colaboram também para essa leitura os estudos de Friedlander (2003) e Janotti (2004). Após um estudo analítico dos três autores anteriores, identifica-se um novo cenário a ser percorrido e que, portanto, mereceria uma avaliação mais detalhada. O destaque surge para o estilo musical que deu origem ao punk rock e que traz consigo os conceitos de rebeldia e transgressão que serão por ele aprimorados: rock-and-roll. A partir da experiência da construção dos seus principais grupos e músicos, e portanto responsáveis pelo início do comportamento estético escolhido aqui como objeto de estudo, procurou-se, nas obras de Jesús Martín-Barbero (1998, p. 2004), compreender a que inter-relação entre consumo e prazer, como uma via de interesse internacional, e que cria identidades, ligando-as globalmente.

Martín-Barbero (1998) acredita que é a tecnologia atual que medeia de forma mais intensa e acelerada a transformação da sociedade em mercado, e deste em principal agenciador da mundialização. No entanto, apesar de identificar essa concepção como algo presente nos dias de hoje, parece viável utilizar a teoria desse autor também para efetuar a leitura histórica que se pretende realizar aqui, ou seja, partir da década de 1950 e chegar ao punk rock dos anos de 1980. Assim, Martín-Barbero tornou-se uma das principais referências desta dissertação, permitindo a realização de um estudo cuja relação temporal, parafraseando o próprio autor, ultrapassará os alcances teóricos da teoria do imperialismo, obrigando-nos a pensar uma trama nova de territórios e de atores, de contradições e conflitos.

A leitura e a análise dos jovens estudados através de imagens (fotografias) e da música, sob aspectos estéticos Quando da opção de empregar imagens e músicas como referenciais de estudos estéticos, ficou decidido que isto só teria um real valor se elas fossem utilizadas não apenas como uma ilustração de sustentação ao texto, mas, sim, como uma carga informativa simbólica e interpretativa. Inovadora no aspecto metodológico, como bem apontam Feldman-Bianco e Leite (2001), mas também muito útil, esta prática se opõe à falência de paradigmas positivistas e entende a real importância da mídia na vida moderna. Revista Matteria Primma

Assim, utilizar a fotografia – e a música, no mesmo aspecto – como instrumento de leitura de uma realidade só se tornou possível porque, de acordo com autores como Becker (1986, p. 11), os fotógrafos concebem também a descoberta de temas culturais, de personalidades da moda, de tipos sociais e de ambiente e situações sociais características e distintas, já que a imagem, como demonstra Trindade (Feldman-Bianco; LEITE, 2001, p.160), é um componente indispensável para a compreensão e a integração do objeto de estu-


do, a exemplo das obras de arte ou mesmo dos fractais e desenhos técnicos. Uma vez que, implicitamente, essa dissertação busca compreender a identificação da juventude nos bens culturais, passando pelo viés da mídia, é possível argumentar sobre a importância das fotografias distribuídas pelo corpo do trabalho, bem como das referências musicais, como uma maneira de entender um contexto social e histórico e novamente justificá-la não apenas como um apoio, mas, também, com um corpus de informação distinto. Por este motivo, buscou-se em Bittencourt (Feldman-Bianco; LEITE, 2001) o referencial teórico para fundamentar esta escolha metodológica. Para a autora, a busca pelo realismo fotográfico e por suas certezas aponta para questões importantes no que diz respeito à autenticidade do objeto antropológico, pois a mensagem veiculada pela imagem fotográfica, percebida como uma gravação tangível da realidade, torna-se prova material da presença do etnógrafo em campo – a evidência de “ter estado lá” – ao demonstrar que o autor vivenciou e representou a realidade totalizante de outro universo social. Dessa forma, o uso da imagem serve como um recurso retórico que legitima a veracidade do texto antropológico. Portanto, do ponto de vista do uso das fotografias como referencial metodológico, é preciso destacar, ainda a tempo, que, para além dos referenciais teóricos, foram utilizados aqui alguns conceitos técnicos, como sistemas de iluminação e maneiras específicas de angulação. Além de esses aspectos pertencerem ao arcabouço profissional do pesquisador (atuo como fotógrafo profissional, o que faz meu olhar para

as imagens ser mais apurado e detalhista), também foram utilizados como suporte de instrumentalização e apoio técnico ao sistema de interpretação desses recursos técnicos fotográficos. Para tanto, as obras mais importantes estudadas e que servirão de base para as análises feitas pelos capítulos são as dos autores Ansel Adams (2001b), Tales Trigo (1998), Millard W. L. Schisler (1995) e, também nos aspectos históricos da fotografia, o trabalho de Jorge Pedro Souza (2000). Com relação à análise musical, utilizaram-se as teorias de Bauman (2001) e Willians (1997), uma vez que trabalham os conceitos de contrafluxos e fluidez (o que muito auxilia no estudo do surgimento dos novos grupos, a uma referência ao passado que aqui toma lugar como algo que permeia a construção sonora destes grupos, emergente em alguns momentos e residual em outros). Do ponto de vista da análise da música rebelde punk em terras brasileiras, para além do exercício etnográfico feito tanto na cidade de Ribeirão Preto quanto na cidade São Paulo, serviram de apoio os estudos de Bivar (1982), Caiafa (1985), Souza (2002) e Abramo (1994). Na comparação do que por eles foi produzido, foi possível observar as diferenças e as semelhanças existentes em grupos da cidade de São Paulo e em grupos que conheci e de que participei em Ribeirão Preto, na mesma época em que escolhi delimitar meu estudo – 1980 a 1996. O conceito de cena, aplicado nos dois últimos capítulos, também foi de fundamental importância para a análise da estética musical punk rock. O conceito foi extraído da obra do professor João Freire

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Filho (FREIRE FILHO; FERNANDES, 2005), que pontua a idéia de “cena musical” como um referencial que estabelece ligações que ultrapassam barreiras de ter-

ritórios e funcionam na criação de idéias e legitimação de uma visibilidade aos grupos que através dela se justificam e se estruturam.

O debate dos dois itens anteriores com minha experiência e vivência pessoal neste universo underground da juventude transgressora de Ribeirão Preto

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Ninguém pesquisa aquilo que não conhece, muitos acadêmicos assim já o disseram. O mesmo não poderia ser diferente para mim. Entrei em contato com o universo da música punk rock e da fotografia ainda muito jovem, pois, além de tocar um instrumento musical desde muito cedo, minha aproximação com o universo

da fotografia e a profissionalização como fotógrafo ocorreram no mesmo período em que se deu a cena descrita no terceiro capítulo desta dissertação, quando, já exercendo as funções de músico, fiz meus primeiros registros como fotógrafo no transcorrer daqueles anos iniciais da década de 1990.

Música e rebeldia: o punk rock em Ribeirão Preto e o início da pequena cena Ribeirão Preto é uma cidade do interior paulista localizada a aproximadamente 310 quilômetros da capital e, nos anos 1990, segundo dados do IBGE,2 possuía por volta de 500 mil habitantes. É uma cidade identificada por ter em seu entorno, desde os anos 1980, um elevado número de plantações de cana-de-açúcar e, também, por comportar algumas universidades, sendo uma pública (Universidade de São Paulo) e algumas particulares (nos anos 1990, destacavam-se as Universidade de Ribeirão Preto, Faculdades Barão 2.  Disponível em: < http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 12 dez. 2007.

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de Mauá e Moura Lacerda e Universidade Paulista – Unip, campus Ribeirão Preto). Portanto, a cidade sempre teve um grande público jovem interessado em cultura, que, por vias comerciais, também era destinada a esse mesmo público. Existia, ainda, uma grande quantidade de cursos preparatórios para vestibular e ensino de Primeiro e Segundo graus (hoje, ensinos Fundamental e Médio), tanto na rede pública como na rede privada de ensino. Era perceptível, na época, e constatado por meio de pesquisas para esta dissertação, que, no início da década de 1990, a cidade, sobretudo nos dois primeiros anos,


não tinha grande acesso a informações musicais. O que se obtinha de informações vinha de parcas revistas que chegavam à cidade (no caso, a revista Bizz da editora Abril) e de um ou outro programa de televisão dedicado à música e a aspectos juvenis. Havia uma busca grande de idéias e informações, e nós acabávamos trocando o que tínhamos em função de tentar arrumar locais para tocar na cidade. Esses locais na maioria das vezes recebiam jovens interessados em ouvir as músicas que tocavam na rádio ou mesmo antigos sucessos de grupos dos anos oitenta e não rock independente. E eu acabava de me mudar para cá, vinha de Goiânia, onde tinha um grupo de rock independente, com fortes influências de música e visual punk. Eram os Restos da Cultura Proibida. E cheguei aqui e não havia onde tocar, nem onde trocar informações, um bar, nada. Portanto as trocas culturais aconteciam na faculdade, onde algumas pessoas interessadas em música e alguns professores ligados à área de arte se dispunham a trocar fitas cassetes com os grupos que começavam a lançar álbuns naquele momento.3

Era possível contemplar, então, a existência de um grupo de pessoas interessadas na música jovem, rock, por exemplo, ou com fortes influências desse mesmo rock executado na música punk. Contudo, 3.  João Vita, em depoimento ao autor, julho 2006.

a cidade de Ribeirão Preto não dispunha de canais de informação adequados para esse público específico. Os poucos espaços existentes eram restritos a uma pequena loja de discos antigos, a Cantinho Discos, a primeira a trazer as novidades do mercado fonográfico para a cidade. A loja, que existia desde os anos 1980, notabilizava-se por apresentar os lançamentos das pequenas gravadoras; no início dos anos 1990, porém, também passava por dificuldades financeiras e de vendas. A formação dessa pequena cena, portanto, tinha como referência não só as parcas informações conseguidas com os pequenos canais existentes na cidade, mas também o material já existente em mãos dos jovens músicos interessados em música independente. Raymond Willians trabalha com a idéia do residual e do emergente no âmbito da cultura; no caso do início dessa pequena cena, muito do que era residual, em razão de poucos espaços para apresentação, torna-se emergente: O residual, por definição, foi efetivamente formado no passado, mas ainda está ativo no processo cultural não só como elemento do passado, mas como elemento efetivo do presente. Assim, certas experiências, significados e valores que não se podem expressar, ou verificar substancialmente em termos da cultura dominante, ainda são vividos e praticados à base do resíduo – cultural bem como social – de uma instituição ou formação social e cultural anterior. 4 4.  WILLIANS, 1997, p. 125.

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Em razão de todas as dificuldades iniciais acerca das informações do mercado fonográfico, eram poucos os grupos a se apresentar na cidade, mas dois deles o faziam com maior freqüência: Os Estranhos e em depoimento ao autor Os Egoístas. A comparação com a idéia de Willians (1997) na formação e composição desses grupos é extremamente pertinente, uma vez que, num primeiro momento, os grupos atuavam e construíam sua performance fundamentando poucos conhecimentos musicais. Quase todos os integrantes dos dois grupos citados, assim como o grupo Desemprego, tinham, por base, o autodidatismo. Porém, a quantidade de fitas e LPs armazenada com as músicas de grupos de música punk, principalmente estrangeiros e das décadas de 1970 e 1980, orientavam a sustentação do início dos grupos e também seus primeiros passos para composições musicais próprias. Portanto, o que naquele momento parecia residual (discos antigos e fitas cassete) serve não só para constituir o primeiro repertório desses grupos, como também os abastece com técnicas, ainda que parcas, para executar as primeiras músicas (canções de The Ramones, The Sex Pistols). Em grande parte dos casos, contribuiu também para a formação de uma linguagem visual adotada pelos grupos regionais (o uso constante de roupas pretas, jaquetas de couro, tênis da marca All Star, buttons com fotos de seus ídolos). Este, então, passa a constituir o emergente nesse arcabouço cultural dos grupos. Ribeirão Preto, por se tratar de uma cidade relativamente pequena, possuía na época uma grande quantidade de estudan-

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tes universitários que se misturavam aos outros jovens do local. Em alguns casos, por falta de opções mais alternativas, e na busca por uma atitude ou mesmo um visual mais rebelde em contrapartida ao estabelecido para a cidade e os pais na época, esses jovens se misturavam. Essa idéia de mistura e borramento (MARTÍN-BARBERO, 1998) explica por que era possível encontrar pessoas se divertindo em uma festa universitária com grupos de pagode5 e, na mesma semana, vê-las, as mesmas, comparecer a um outro evento para assistir à apresentação de um grupo com influências de música punk. Por isso, vale um recorte sobre o Brasil na questão musical. Na época retratada, as músicas de maior sucesso na cidade de Ribeirão Preto eram do gênero sertanejo, nascido em resposta ao dress code6 que surgia, ou seja, existia uma nova maneira de se vestir, e muita gente acompanhou isso ou mesmo não tinha para onde apontar, em razão da presença constante do gênero na mídia. A importância desse gênero na época retratada estava intimamente ligada à figura do novo presidente eleito, Fernando Collor de Melo.7 Era o início de uma redemocratização, iniciada com as primeiras eleições diretas do país após o fim da ditadura militar, em 1989.

5.  Pagode é um gênero musical derivado do samba, em que geralmente um grupo de músicos se reúne no formato de roda e executa uma espécie de samba com ênfase no coral de vozes. 6.  Entende-se dress code como uma nova maneira de se vestir, um novo código de postura, tendo como elemento fundamental a roupa. Expressão bastante utilizada no universo da moda. 7.  Fontes: Revistas Veja e IstoÉ (primeiro semestre 1991). Disponíveis também em: <http://www.veja.com.br/arquivos> e < http://www.istoe.com.br >. Acessadas em: 2 de jan. 2008.


O país estava em choque com as decisões do seu novo comandante, que tomara atitudes extremamente impactantes, sobretudo no campo da economia, seqüestrando poupanças e colocando uma série de brasileiros em situação extremamente complicada do ponto de vista financeiro. A alusão ao presidente em exercício na época é importante, no que tange às conseqüências trazidas para a cidade, se se considerar o tipo de música que era executada massivamente em rádios e programas de televisão, não só impondo de maneira intensa uma nova categoria musical, como também trazendo novas expressões visuais. Basta para isso lembrar-se das infinitas festas organizadas pelo então presidente em sua casa, em Brasília, onde a presença de músicos da nova música sertaneja era constante e amplamente divulgada pela mídia. O gênero musical que ficou conhecido como sertanejo, ou sertanejo moderno, utiliza teclados, guitarras e instrumentos de sopro para se modernizar no Brasil. Deve-se salientar, aqui, que as informações sobre essa questão musical atendem de forma específica à necessidade de pontuar historicamente qual o tipo de música com maior penetração nos meios de comunicação da época. A idéia de atrelar essa música ao ex-presidente tem como propósito estabelecer a situação em que se encontrava o país e, em conseqüência disso, como a cidade de Ribeirão Preto, conforme exposto acima, seguia uma tendência amplamente divulgada pela mídia. Era um horror, você saía de casa, passava na casa de um camarada

para ir até a cidade, até a Nove de Julho8 para ver umas meninas e tal. Os poucos bares que tinham música ao vivo só tocavam essas coisas, Zezé di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Gian e não sei o quê. Cara, parecia que aqui tinha se transformado no Texas brasileiro. Daí já viu, quem tinha um pouco mais de informação tratou de correr e montar a sua banda.9

A idéia de festivais que marcariam bastante a década, assim como festivais de música independente, passava longe da cidade entre os anos de 1990 e 1992. Mesmo assim, a cidade possuía alguns grupos independentes que se esforçavam para ser um contraponto ao modismo midiático acima mencionado. Grupos como Desemprego, Os Egoístas e Os Estranhos, que, além de executarem um repertório com músicas próprias, também se arriscavam em pequenas apresentações pelos locais mais inusitados na cidade, acabaram por criar uma espécie de estética juvenil que viria a se tornar um modus operandi para todos aqueles que se interessavam por músicas “alternativas” nos anos seguintes. O grupo Desemprego era, dentre os três citados, o que possuía uma maior orientação visual e musical punk. Tinha composições apenas em português e muito pouca habilidade nos instrumentos musicais. No entanto, apresentava-se para quem estivesse disposto a escutá-lo e cau8.  Tradicional avenida da cidade de Ribeirão Preto, no início da década de 1990 possuía muitos bares onde os jovens se encontravam para desfrutar de lazer. 9.  Luiz Martinelli, em depoimento ao autor, agosto 2006.

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sava um grande estranhamento na cidade, pois seus integrantes já se vestiam como punks, incluindo, nesse visual, o corte de cabelo moicano e o uso de vários buttons, coturnos e calças jeans rasgadas. O que para a cidade de São Paulo, que também faz parte desta pesquisa, era uma imagem corriqueira, a mais de trezentos quilômetros em direção ao nordeste do estado tudo passava a ter uma maior proporção e causar uma maior confusão nos valores da sociedade. Ainda que não existisse, na época, em Ribeirão Preto, uma cena musical, conseguiu ganhar destaque na mídia, talvez pela forma inusitada de manter seu estilo em uma cidade onde esta atitude era desprezada. Havia, na época, um programa na Rede Globo de Televisão intitulado Programa Legal, apresentado por Regina Casé. O programa era muito semelhante ao que a mesma apresentadora tem hoje,10 e procurou mostrar o grupo em uma locação rural, contrapondo-se à idéia de que, no interior, existia apenas a figura do caipira. O segundo grupo a realizar apresentações pela cidade tinha na origem dos seus integrantes uma grande variedade, tal como o primeiro, porém possuíam uma orientação calcada nos grupos ingleses e americanos de punk rock. Os Estranhos, como ficaram conhecidos, arriscavam composições próprias em português, apesar de a proposta inicial como grupo fosse reproduzir canções em inglês. Suas concepções, no que diz respeito ao motivo 10.  Regina Casé apresenta atualmente um programa denominado Central da Periferia – este, em algumas ocasiões, tem horários fixos e, em outras, é apenas um quadro do Fantástico, programa dominical da mesma rede de televisão. O objetivo do programa é tentar divulgar novas formas de artes em geral, desconectadas dos grandes centros urbanos.

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da formação de um grupo, estavam muito mais ligadas ao gosto pessoal do que à conquista da fama. Assim, mesmo que no fim da década de 1980 tivessem feito mais apresentações que o já citado grupo Desemprego, eles não tiveram a preocupação em registrar nada em imagens. O grupo fez apenas uma gravação, realizada em um colégio de segundo grau, com gravador portátil. Nesse momento da pesquisa, outro mapeamento foi feito, identificando apenas três estúdios de gravação na época. Segundo Vita, Martinelli e Martins, 11 o valor da hora cobrado para se gravar uma música beirava os cem dólares, e, para músicos pouco experientes na execução de seus instrumentos, a idéia de se gravar a própria música era algo distante e financeiramente inacessível. Na formação do grupo Os Estranhos estavam Luiz Martinelli como vocal, Alexandre Balbo na bateria, Giovanni Dal Monte na guitarra e Adriano Augusto no contrabaixo. O grupo tinha como diferenciais a escola e as diferenças sociais entre os seus integrantes, sendo composto de estudantes universitários e secundários e também de profissionais autônomos. As classes sociais também eram distintas, sendo alguns integrantes da classe média, média baixa e um deles pertencente a uma das famílias mais conhecidas e importantes da cidade na época, grande produtora de cana-deaçúcar. Os ensaios do grupo aconteciam na sede da fazenda de um dos integrantes, uma espécie de anexo de uma das principais usinas de álcool anídrico da região. 11.  Depoimentos concedidos ao pesquisador por Luiz Martinelli, Régis Martins e João Vita, integrantes da cena musical em questão.


Essa diferença de grana entre a gente nunca foi motivo para discussão nem nada, para mim era complicado ir até o ensaio, pois o lugar ficava na estrada do lado da Usina Galo Bravo. Mas era muito bacana, o Alexandre desativou a sauna do lugar e nós montamos a aparelhagem lá dentro. Como não tinha ninguém no lugar, nós costumávamos tocar até alta madrugada, era muito bom.12

Além dos dois grupos já citados, um outro começava a cogitar a constituição de uma pequena cena. Eram Os Egoístas. A idéia do grupo, com relação à escolha do nome, era fazer uma referência irônica ao que acontecia na época no país, bem como brincar com características comuns existentes em grupos de que seus integrantes eram fãs. Os grupos em questão tinham, todos eles, os nomes iniciados com o prefixo “o” na sua identificação, como, por exemplo, The Beatles, The Rolling Stones etc. Assim, surgem Os Egoístas. Aproveitando também a idéia de constituição de um nome que não fosse agradável ou meramente divertido, Abramo aponta essa identificação com o não-agradável de uma sociedade da seguinte maneira: A postura apocalíptica, as imagens infernais, destroçadas e exangues que esses grupos exibem não representam uma patologia mórbida, um desejo de morte ou uma exaltação do horror. É uma representação crônica, espetacular, da visão que eles

12.  Luiz Martinelli, em depoimento ao autor, agosto 2006

têm da realidade, para criticá-la, denunciá-la.13

Além de ligar ao nome do grupo essa idéia de trabalhar a sociedade e criticá-la de maneira irônica, o grupo também flertava com a orientação de punk rock. A constituição do grupo sobre as bases mais tradicionais do estilo punk rock era tão forte que alguns aspectos tornaram-se mais que coincidência, a exemplo do fato de o guitarrista Regis Martins ter aprendido a tocar seu instrumento apenas ao entrar para o grupo. O grupo contava, ainda, com os músicos Jefferson Barcellos (este pesquisador) na bateria e também João Vita no contrabaixo, vindos de outras formações musicais que não apenas na cidade de Ribeirão Preto. No caso de João Vita, suas experiências vinham de Goiânia. Esse encontro se deu em função do curso de Comunicação Social que esses três jovens freqüentavam, dois na área de Jornalismo e o terceiro em Publicidade e Propaganda. Ainda segundo Abramo (1994), o fato de a formação de um grupo ter como base a universidade vai caracterizar a idéia de que a construção dos espetáculos desses grupos seja diferente, havendo uma maior orientação em divulgação e suas peças e apresentações tendendo a possuir uma maior organização. A idéia de construção de grupos musicais tendo como base a universidade foi uma espécie de característica distinta, como atesta Abramo em seu livro Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano, em que é analisado profundamente o contexto de vários grupos punks e, prin13.  ABRAMO, 1994, p. 122

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cipalmente, de orientação pós-punk, que a autora classifica como darks, apontando os grupos nascidos na Universidade de São Paulo na década de 1980, que, diferentemente dos grupos de música punk do subúrbio, utilizavam uma melhor forma de se tornarem visíveis. Com essa idéia, ainda no ano de 1992, o grupo Os Egoístas conseguiu espaço em alguns lugares para se apresentar e chegou a confeccionar dois cartazes. A primeira apresentação foi num evento promovido por um fanzine, no Teatro da Universidade de Ribei-

rão Preto; já o segundo e o terceiro eventos foram realizados especificamente na moradia de alguns estudantes de comunicação, em uma festa em homenagem ao cinema, e na cantina da mesma universidade. A década de 1990 trouxe uma maior penetração da MTV na cidade de Ribeirão Preto e também contou com os primeiros espaços para os grupos se apresentarem. Foi no desenrolar dos anos seguintes a 1990 que a estética punk se efetivou como uma cena propriamente dita na cidade de Ribeirão Preto.

Considerações finais

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É necessário salientar, no fim deste artigo, as várias possibilidades surgidas com o estudo representativo dos universos visuais e sonoros, como a inclusão e o diálogo pertinente a ambos, colocam localidades como Ribeirão Preto em um cenário que antes a cidade não vislumbrava. Ainda que esse surgimento possa causar estranheza à juventude que viveu a década de noventa e não tenha conseguido perceber importância alguma em um grupo de jovens que se reunia em função de a música ter surgido na cidade, muito desse início se consolida como oportunidades e como prática jovem nos dias atuais. Portanto, ainda que este artigo tenha abordado apenas dois campos, música e imagem, nunca foi tão simples ter acesso a apresentações musicais, lojas de acessórios (do mesmo universo) e mesmo locais onde se possa ensaiar um novo grupo de música que tenha as mesmas características apresentadas no transcorrer deste artigo.

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Assim como na capital do estado é possível encontrar, tanto em lojas de alto poder aquisitivo (no circuito conhecido como Jardins) como no mercado popular (na Rua Vinte e Cinco de Março), acessórios que remetam ao universo envolvendo música e imagem, no caso específico o punk rock, na cidade de Ribeirão Preto é possível encontrar os mesmos acessórios tanto no centro da cidade, em suas lojas de comércio popular, quanto nas suas cadeias fechadas de shopping center. O que nos anos noventa era encontrado apenas na capital do estado, nos dias atuais é possível ser comprado em Ribeirão Preto. Além disso, é possível encontrar, na cidade, uma série de casas de show que abrem espaços para apresentações de grupos musicais com direcionamento musical Punk e estética visual punk, tendo essa linguagem sido adotada também por outros gêneros de música, provocando borramentos já apresentados no transcorrer


do texto. Estas casas optam por ter, em sua programação, grupos que seguem essa linha. A cidade ainda é palco de um festival de pop rock, no qual grupos do país todo se apresentam, tendo esses grupos, em sua maioria, várias influências da estética punk e da sonoridade punk. Portanto, dos anos noventa para os dias atuais, foi possível

acompanhar uma série muito grande de novas possibilidades, na cidade de Ribeirão Preto, que envolvam música e imagem. Essa união costurada com o fenômeno da cena punk, americana e inglesa, tem sido uma constante da juventude que aqui vive e usa as possibilidades de lazer, construindo uma parte de sua identidade nestas vias.

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A imprensa internacional no Brasil: como jornais europeus vendidos no Brasil reportam as notícias internacionais Nathalia Portugal Pós-graduanda em Jornalismo Internacional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Atualmente, trabalha na Avebesp – Associação dos Veteranos de Basquete do estado de São Paulo – como jornalista. nathportugal@gmail.com Resumo – Este artigo teve como objetivo analisar os impressos europeus The International Herald Tribune, Corriere della Sera e El Pais, vendidos no Brasil. A metodologia utilizada incluiu pesquisas bibliográfica e exploratória, análise qualitativa dos jornais, referente a dois finais de semana do mês de março (sábados e domingos dos dias 10 e 11, 17 e 18). A fundamentação teórica foi no campo das Teorias do Jornalismo, em especial os autores Luiz Beltrão e Nelson Traquina. Entre os aspectos apontados na conclusão, constatou-se que a teoria do interacionismo se repete em todos os veículos analisados. Palavras-chave – jornalismo, jornalismo internacional, teorias do jornalismo, jornalismo impresso.

Abstract – This article aimed to analyze the European printed news papers The International Herald Tribune, Corriere della Sera and El Pais, sold in Brazil. The methodology used included bibliographic and exploratory research, qualitative analysis of the newspapers, referring to the two weekends of the month of March (Saturday and Sunday on days 10 and 11, 17 and 18). The theoretical basis of the theories was in the field of journalism, particularly the authors Luiz Beltrão and Nelson Traquina. Among the aspects highlighted in the conclusion was noted that the theory of interacionismo is repeated in all papers tested. Key words – journalism, international journalism, journalism theories, printed journalism.

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Desde o início da globalização e com os avanços tecnológicos, as informações romperam as distâncias geográficas, mas no jornalismo esta ligação não se limita ao mundo virtual. Grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Nova York, Londres, Bagdá, enfim, locais onde acontecem, freqüentemente, fatos que estão relacionados direta ou indiretamente com o mundo, possuem correspondentes internacionais, bem como distribuição de veículos de outras nacionalidades. Este artigo baseou-se no trabalho de conclusão de curso “Jornalismo Internacional, o olhar de Imprensa Estrangeira sobre o mundo. Um Estudo de Caso de três impressos europeus: The International Herald Tribune, Corriere della Sera e El Pais”, que analisou essas três publicações internacionais que veiculam no Brasil. O objetivo foi entender a seleção de notícias publicadas por cada um desses impressos. Se eles são uniformes ou não. A discussão travou-se no campo da teoria do jornalismo. O propósito foi de discutir se o critério de seleção de notícia é o mesmo para um impresso inglês, um espanhol e um italiano. Se há diversidades mesmo na sociedade globalizada. Os três veículos são de países ocidentais e grandes potências econômicas. Foram levados em consideração o conceito de noticiabilidade, a teoria do espelho, do interacionismo, do construcionismo, gatekeeper, estruturalista e organizacional, traçando uma discussão com o propósito de verificar se elas aparecem ou não no material analisado. Também foram analisados e contextualizados os títulos e subtítulos dos jornais. As unidades de análise foram conceitos descritos na teoria do jornalismo, Revista Matteria Primma

entre eles: noticiabilidade, público alvo, linha editorial, jornalismo internacional e planejamento gráfico. As fotografias, os infográficos e os boxes não foram apenas estudados, mencionados, pois sabemos que capa, foto e box são elementos utilizados nas melhores reportagens, nas mais importantes, e isso ficou de fora da análise. Cada edição foi estudada de acordo com uma dessas unidades à luz do referencial teórico. Os autores utilizados na discussão teórica são Traquina (2005a, 2005b), Luiz Beltrão (1992, 2006) e Marques de Melo (2006). Em seguida, foi realizada a análise comparativa de principais manchetes e subtítulos dos finais de semana do mês de março, precisamente os dias 10/11 e 17/18, levando-se em consideração as teorias do jornalismo para a construção de notícias. Os títulos e subtítulos dos jornais foram separados por quadros e por final de semana. Cada quadro possuía as seguintes classificações: Título de Capa, Título Interno, Subtítulo de Capa, Subtítulo Interno, tamanho que a reportagem ocupou, em qual página se encontrava, em qual editoria e fotos e infográficos. A verificação da aplicação das teorias foi feita por meio de pesquisa bibliográfica e exploratória. Fez-se necessária para se visualizar e se interpretar a cobertura jornalística na atual sociedade globalizada e para ver como a imprensa européia define as notícias internacionais, se há ou não semelhança entre os veículos analisados. Os impressos vistos segundo a teoria O primeiro jornal analisado trata-se do francês The International Herald Tribune (IHT). No final de semana dos dias 10 e 11, o jornal publicou doze notícias. A capa


contém três reportagens da editoria internacional que abordam o Iraque, a Rússia e a União Européia. Todas são factuais e o tema principal é política. A página 2, intitulada Page Two, apresentou três notícias, duas sobre os Estados Unidos: uma sobre política e outra sobre assunto econômico. A última reportagem também é sobre política, mas não é factual como as outras duas, pois aborda as vítimas da Guerra Fria. Em relação às fotos, duas reportagens as possuem: a que trata sobre a Guerra Fria e a da visita do presidente Bush ao Brasil, para acordo sobre o etanol. A página seguinte, a 3, possui cinco notícias, sendo que três delas são sobre a Europa e todas são factuais e de editoria política (queda do muro no Chipre, prisão de culpado de genocídio na Suíça e eleições em Ulster). Dessas três reportagens, apenas a notícia sobre a queda do muro possui foto. As outras duas restantes são sobre a prisão de um suspeito pertencente à Key Qaeda, no Quênia, reportagem política e sobre a visita de bispos a Israel. Ambas possuem fotos. A página 6 contém as quatro notícias finais do jornal na editoria internacional. Duas delas são sobre os Estados Unidos, sendo que uma já foi iniciada na capa. A outra é sobre as Nações Unidas. As outras duas restantes também já foram iniciadas na capa, e são sobre a Rússia (jogador de xadrez acusa a oposição russa). Essa reportagem é a única com foto na capa. A reportagem que encerra a editoria internacional é a notícia sobre o acordo da União Européia em relação às mudanças climáticas e o meio ambiente. No total, foram noticiadas cinco reportagens sobre os Estados Unidos e cinco

sobre a Europa. As duas restantes são sobre a África e o Oriente Médio. Das doze notícias, apenas uma é sobre economia, as outras onze são sobre política. O segundo jornal analisado é o italiano Corriere della Sera. Ao contrário do jornal anterior, este não possui nenhuma reportagem da editoria internacional na capa. Nesta edição, a sessão internacional inicia-se na página 14 com apenas uma reportagem sobre política, que é sobre acordo de energia na União Européia. Essa reportagem possui uma foto apenas, mas contém três infográficos e quatro boxes, que ajudam na compreensão da notícia. A página 15 possui uma reportagem sobre os Estados Unidos (visita do presidente George Bush ao Brasil), e se insere na editoria de economia, pois os países (EUA e Brasil) fizeram acordos sobre o etanol. Essa notícia possui três fotos. Já na página 16, o número de notícias passa para dois, e são novamente sobre os Estados Unidos. Uma sobre escândalo de traição conjugal de um senador, de editoria política e com três fotos e um box. A segunda notícia também é sobre política. Descreve o abuso de poder exercido pelo FBI, e não possui foto. Enquanto a página 16 possui reportagens que abordam somente os Estados Unidos, a página 17 possui três notícias somente sobre a Europa. A primeira é sobre a queda do muro do Chipre, com uma foto e uma arte (mapa do país). A segunda também é sobre o Chipre, mas conta a história do muro e o que significa a sua queda. A última notícia é sobre as eleições no Ulster e possíveis alianças políticas, com três fotografias. Todas as reportagens são da editoria de política.

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Na edição do dia seguinte, a editoria internacional começa na página 10 e possui três reportagens sobre a Europa. A primeira, que contém duas fotos, é sobre o protesto na Espanha contra o governo de Zapatero, a segunda é sobre falhas da negociação de projetos em Kosovo e a última é sobre o jogador russo que desafiou o governo, com uma foto e um infográfico. A última página, 11, possui duas reportagens: uma sobre o Oriente Médio, israelenses e palestinos, que possui quatro fotos e um infográfico. E a última é novamente sobre a Europa, e aborda a descoberta de um artigo escrito pelo ex-primeiro ministro britânico, Winston Churchill. Das doze reportagens publicadas nessas duas edições, oito são sobre a Europa, três sobre os Estados Unidos e uma sobre o Oriente Médio. Onze são da editoria de política e apenas uma é sobre economia. O jornal espanhol El Pais inicia suas edições dos finais de semana com reportagens especiais. A edição de sábado possui duas páginas dedicadas à reportagem especial, páginas 2 e 3, que recebeu o nome de “Uma ilha dividida” e aborda a queda do muro no Chipre, também relacionada à política. Possui também chamada na capa com subtítulo. A primeira reportagem possui uma foto e um infográfico. A reportagem da página 3, além de uma foto e um infográfico, também possui um box. A página 4 continua abordando a Europa, especificamente acordos sobre energia limpa na União Européia e possui uma foto. A reportagem seguinte fala sobre o ex-presidente francês, Jacques Chirac, que na época da publicação era o atual, falando sobre o fracasso de uma constituição européia, e contém apenas um infográfico. Revista Matteria Primma

A página 5 é dedicada ao Oriente Médio, com duas reportagens que abordam a guerra no Iraque, com uma foto, e a outra reportagem é sobre a reunião entre a Síria, os Estados Unidos e o Iraque, em Bagdá. A página seguinte é sobre a América Latina e possui duas notícias. A primeira é o ponto de vista do ministro do exterior peruano sobre o 11 de setembro, com uma foto do ministro. A segunda é sobre a Nicarágua, que tenta acordos com os Estados Unidos e Venezuela. A página 8 contém uma única reportagem sobre os Estados Unidos e sua política em relação à Venezuela, com uma foto. A página 9 retoma a América Latina, com a visita de Hugo Chávez à Argentina, com uma foto e um infográfico. A página 10 contém três notícias, as quais são sobre a prisão de um chefe militar em Marrocos, África, sobre Cárceres de Guantánamo, nos Estados Unidos, e sobre discussões entre Tony Blair e Bertir Ahern sobre o futuro político de Ulster. Todas as três reportagens não possuem fotos. A segunda edição inicia com a reportagem especial sobre o Iraque e recebeu o título “O conflito do Iraque”. Nesta edição, a reportagem especial possui uma página a mais, inicia-se na página 2 e termina na página 4. A primeira página contém duas reportagens, que abordam discussões entre os Estados Unidos e a Síria e sobre o Iraque, com uma fotografia. A segunda reportagem é sobre os ataques ao prédio que sediou a conferência. A página seguinte traz uma reportagem da qual se diz que até em um jogo de pôquer existem interesses diversos, com uma foto e um infográfico. A última página desse caderno especial possui duas reportagens: uma sobre a es-


perança que os iraquianos têm de verem um país melhor, com uma foto, e uma sobre iraquianos e israelenses, que ameaçam matar três reféns europeus. A página 6 contém apenas uma reportagem sobre os Estados Unidos, especificamente sobre o caso que foi intitulado de Ciagate, e possui duas fotografias. Os Estados Unidos volta a ser abordado apenas na página 11, juntamente à América Latina. As reportagens abordam a visita do presidente George Bush à Bolívia e a visita de Hugo Chávez também à Bolívia. As duas reportagens possuem uma foto cada. A página 7 é dedicada às eleições presidenciais na França e contém duas notícias: a primeira é sobre o então candidato à presidência, Nicolas Sarkozy, que tentava ganhar da ultra direita, e possui uma foto e a segunda notícia é sobre o político Jean-Marie Le Pen, que se diz ser vítima do sistema político. A página 8 também contém duas reportagens: uma sobre a dificuldade de ser fazer uma única constituição para os vinte e sete países da União Européia e a outra é sobre os olhares franceses e alemães diante da Europa, e contém uma foto. A página 9 aborda o fracasso das negociações entre Servia e Kosovo, e a página 10 contém uma reportagem sobre o dia seguinte ao muro no Chipre. As duas reportagens possuem uma foto cada. As duas edições do El Pais publicaram vinte e oito notícias na editoria internacional. Sobre a Europa, foram publicadas doze notícias. Sobre os Estados Unidos e a América Latina, foram escritas quatro reportagens de cada. Sobre o Oriente Médio, foram publicadas sete notícias e apenas uma sobre a África. Todas

as reportagens estão relacionadas à editoria de política. Nota-se que, por se tratarem de jornais europeus, as notícias sobre a Europa possuem maior destaque do que as notícias de outros países ou continentes. A queda do muro na pequena ilha de Chipre foi noticiada pelos três jornais e com grande destaque, bem como as eleições no Ulster. Os temas políticos são os que mais se sobressaem. No total, foram publicadas vinte e cinco notícias sobre a Europa, doze dos Estados Unidos, nove do Oriente Médio, quatro da América Latina e duas da África, somando cinqüenta e duas notícias, neste primeiro final de semana de março. É válido ressaltar que assuntos políticos relacionados aos EUA também são muito divulgados pelos impressos analisados. A editoria de política, assim como o factual, é predominante na maioria das notícias. Podemos perceber que apenas o jornal espanhol noticia fatos ocorridos na América Latina. Outra constatação é que não divulgaram nenhuma notícia sobre a Oceania e a Ásia. Foram publicados nas edições dos três jornais 43 fotos, 10 infográficos e 7 boxes. No segundo final de semana analisado, dias 17 e 18 de março, o jornal The International Herald Tribune (IHT) inicia sua edição com uma reportagem de comportamento sobre uma estilista que trouxe a moda ocidental para a Líbia. Essa reportagem da página 2 possui uma foto e mostra a influência da cultura ocidental no oriente. Na mesma página, há uma segunda notícia sobre a política de Iwoa, que também possui foto.

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A página 3 foi dividida em duas partes: notícias do mundo/Europa e notícias do mundo/Oriente Médio, ambas com três notícias. As reportagens da Europa são sobre a Irlanda, que paga a seus imigrantes, sobre a visita da primeira-ministra alemã Ângela Merkel à Polônia e sobre os protestos na Grã-Bretanha pelo aumento no orçamento dos Jogos Olímpicos de 2012. As três reportagens não possuem fotos. Já entre as notícias do Oriente Médio, somente uma reportagem possui fotografia e é sobre um homem-bomba que se explodiu na Faixa de Gaza. A segunda notícia é sobre o presidente do Paquistão, que está sendo alvo de protestos. A última reportagem da página é sobre o presidente do Irã, que faz críticas às Nações Unidas. Todas as reportagens dessa página são da editoria de política e reportam factuais. A última página da editoria internacional do IHT é a 6. A primeira reportagem é sobre os Estados Unidos, uma suíte sobre o caso intitulado Ciagate. A segunda é sobre a Europa, precisamente o Reino Unido, que condenou os ataques dos Estados Unidos ao Iraque. Essa reportagem tem início na capa e possui uma foto. As outras duas reportagens seguintes são sobre a Ásia: uma sobre o crescimento em Pequim, que também se inicia na capa e outra sobre a lei de propriedades, também na China. As duas reportagens possuem uma foto cada. A última é uma reportagem sobre comportamento, dos falantes da língua dwindling, que se inicia na capa e possui uma foto. Nessa edição do IHT, foram publicadas treze notícias, sendo que onze delas são de política e duas de comportamento. Novamente, a Europa foi a mais noticiada, Revista Matteria Primma

com cinco reportagens, contra quatro do Oriente Médio, três sobre a Ásia e apenas uma sobre os Estados Unidos. Vale a pena ressaltar que o jornal iniciou três notícias da editoria internacional na capa. A primeira edição do jornal italiano Corriere della Sera iniciou sua editoria internacional na página 13, com uma notícia dos Estados Unidos, que novamente é sobre o caso intitulado Ciagate, e possui duas fotos. Continuando na mesma, há outra notícia sobre os Estados Unidos, e o assunto é sobre desvio de e-mail de um procurador, e contém uma foto. A última reportagem da página é sobre a Europa. Com três fotos, ela aborda os problemas da cidade de Barletta. A página 14 tem somente uma notícia sobre a Ásia. A notícia em questão é sobre as reformas na propriedade privada chinesa, e contém um infográfico. A página 15 também contém uma notícia sobre a Europa e seus líderes marxistas. Na segunda edição, a editoria internacional se iniciou na página 12, com três notícias sobre o Oriente Médio: a primeira sobre Israel, que fechou a porta com o Governo Palestino e possui uma foto e um infográfico, a segunda é sobre a ONU, que afirma que ainda é possível enviar ajuda às áreas de conflitos no Oriente e a última é sobre a Jihad, que recruta esposas kamikazes, com um infográfico. A página 13 continua noticiando o Oriente Médio. A primeira notícia é sobre ataque de três carros-bomba em Falluja, com uma foto. A reportagem seguinte é sobre ataques químicos, que são considerados como armas psicológicas, com duas fotos. A última reportagem da página é sobre os Estados Unidos e o Vietnã, com uma foto e um infográfico.


A página 14, que é a última da editoria internacional, contém duas reportagens sobre a Europa: a primeira contém três fotos e é sobre o livro que a ex-amante do primeiro-ministro finlandês publicou em plena eleição e a última é sobre os Estados Unidos e seus candidatos, que colocaram seus vídeos de campanha no Youtube, com um infográfico. Nessa edição, foram publicadas 13 notícias. Três delas são sobre a Europa, assim como cinco são sobre o Oriente Médio. Das cinco restantes, quatro são sobre os Estados Unidos e uma é sobre a Ásia. Todas as notícias são da editoria de política. A primeira edição do jornal espanhol El Pais iniciou a editoria internacional na página 2, com duas reportagens especiais sobre a China intituladas “O futuro do gigante asiático”. Uma sobre a aprovação da propriedade privada depois de quatorze anos, com uma foto, e a outra é sobre os impostos que as empresas terão de pagar, com um infográfico. Na página 3, a noticia é sobre o tratado internacional para o uso do espaço. A notícia seguinte é sobre o desemprego no país, que atinge 30% dos universitários, com uma foto. O El Pais sempre inicia o caderno com reportagens especiais. A página 4 contém apenas uma notícia sobre a CIA, com uma foto. Assim como a página 4, a 5 também possui uma só notícia sobre o assessor de Bush, com uma foto. Das páginas 6 a 8, foram notícias os acontecimentos na América Latina. A 6 contém três notícias sobre o Caribe, que de trânsito passou a ser produtor de drogas; sobre a polícia mexicana, que encontrou dólares do narcotráfico, com uma foto, e a última é sobre as mudanças dos ministros

no Governo brasileiro. A página 7 também tem três notícias: a primeira é sobre Hugo Chávez e um antigo capitão golpista, a outra é sobre as eleições antecipadas na Bolívia em 2008 e a última é sobre um atentado com bomba na Colômbia. As três reportagens possuem uma foto cada. Já a página 8 contém apenas uma notícia sobre a manifestação de milhares de pessoas a favor e contra o presidente Daniel Correa no Equador, com uma foto. A página 10 tem uma única notícia sobre protestos no Paquistão contra o presidente, com uma foto. A página seguinte contém duas notícias sobre a Europa: uma sobre um juiz inglês, que condenou o ataque de fogo amigo, e a outra sobre a Polônia e Ângela Merkel. Ambas as reportagens não possuem foto. A última página da editoria internacional dessa edição é a de número 12, a qual possui quatro reportagens: a primeira é sobre a Cisjordânia e o exército israelense, sem foto, a seguinte é sobre a Argélia e o Marrocos, que tentam frear o islamismo em Magreb (parte ocidental no norte da África), com um infográfico, a terceira é sobre o novo mapa eleitoral no Marrocos, com uma foto e a última é sobre a Argélia e seus políticos, também com uma foto. A segunda edição do jornal espanhol El Pais inicia com uma reportagem especial sobre a Guerra do Iraque intitulada “Quarto ano de aniversário da Guerra do Iraque”. A primeira página, a 2, contém uma reportagem sobre as ruas de Bagdá, as ruínas, com uma foto. A página 3 também possui apenas um relato de quatro iraquianos sobre a guerra, com uma foto e um infográfico. A página seguinte é a 6, a qual contém duas reportagens sobre a guerra: a

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primeira é sobre a utilização de novas armas químicas, a seguinte é sobre manifestações contra a guerra, que foram de Washington a Sydney, com quatro fotos. A página 7 tem três reportagens sobre a Europa: uma sobre as eleições no Ulster e seus líderes Sinn Fein e Ian Paisley, a segunda é sobre o que a visita da primeiraministra alemã trouxe para a Polônia, e a última é sobre as eleições na Finlândia. Nenhuma das reportagens possui foto. Já a reportagem da página 8 contém uma foto e é sobre a coalizão de Merkel com o SPD. Na mesma página, a reportagem sobre uma mulher sueca que dirigia o partido socialista do país possui uma foto. A página 9 possui uma única reportagem do Oriente Médio sobre a necessidade de um novo Governo Palestino, com uma foto. As páginas 10 e 11 são dedicadas à América Latina. Com uma reportagem cada, noticiaram sobre o Chavismo, que quer ensinar o socialismo às crianças, com uma foto. E a outra é sobre as autoridades nicaragüenses, que prenderam seu ex-presidente, mas ele poderá andar livremente pelo país. A última reportagem da editoria, também na página 11, é sobre o acidente aéreo na Rússia. Nessas duas edições do El Pais, foram publicadas trinta e três notícias. A América Latina foi a mais noticiada, com nove reportagens, a Europa teve oito, seguida do Oriente Médio com seis, a Ásia com quatro, a África com três, os Estados Unidos com uma e uma reportagem que cita todos. Todas as notícias são factuais e da editoria de política. Foram publicados nas edições dos três jornais 43 fotos, 8 infográficos e nenhum box. Revista Matteria Primma

A distribuição da rede noticiosa depende do processo de produção da notícia. De um lado, a distribuição da rede articulase com as questões de “noticiabilidade”. De outro lado, conhecendo-se a distribuição da rede noticiosa de um meio de comunicação social, sabem-se quais são os critérios de noticiabilidade por que se rege (TRAQUINA, 2005). A análise realizada apontou alguns aspectos. O The International Herald Tribune (IHT) reportou mais fatos políticos e factuais, relacionados em ordem decrescente, à Europa, em seguida aos EUA, ao Oriente Médio, à Ásia e à África. O conteúdo das manchetes aproximou-se da teoria interacionista, no sentido de selecionar o que é ou não notícia, quais serão as conseqüências desses fatos, de acordo com um cardápio de acontecimentos. Por outro lado, também não descartou a teoria do gatekeeper, que diz respeito à linha editorial do veículo analisado. O jornal adota uma política editorial neutra. Neste caso, consideram noticiabilidade prioritariamente os fatos mais próximos geograficamente (Europa, Oriente Médio e Estados Unidos), seguidos da importância da política americana na sociedade globalizada. A seleção das notícias divulgadas passa por profissionais dentro da redação, ou seja, gates, até a definição do que realmente será noticiado. Estas seleções levam em consideração vários aspectos, entre eles a experiência profissional do repórter, que, de acordo com a teoria estruturalista, possui autonomia em relação ao controle de seleção das notícias. O Corriere della Sera reportou apenas fatos políticos factuais, sem privilegiar localidades. Na primeira edição, o destaque foi a Europa, já na segunda edição o foco


foi o Oriente Médio. Este caso também pode ser visto sob a ótica da teoria do gatekeeper, sendo os gates linha editorial, público alvo e experiência profissional. O que muda é justamente a linha editorial deste veículo em relação ao anterior (o Corriere adota uma política editorial de centro, esquerda, liberalista segundo descrição no próprio site oficial do jornal), sendo que o primeiro considera noticiabilidade não só a aproximação geográfica como prioridade como também o contexto político do mundo globalizado, indo ao encontro à teoria do interacionismo. O último veículo analisado, o El Pais, na primeira edição, divulgou mais notícias sobre a Europa, em seguida sobre, Oriente

Médio, em terceiro lugar os EUA e a América Latina juntos e, por último, a África. Na segunda edição, o respectivo veículo reportou mais fatos sobre a América Latina, na seqüência Europa, Oriente Médio, Ásia, África e, por fim, Estados Unidos. A linha editorial prima por factuais, no campo político, e não pela proximidade geográfica. Por adotar uma política editorial sociodemocrata, os aspectos que norteiam a noticiabilidade para este veículo foram acontecimentos políticos relevantes para os países de origem, não descartando a repercussão internacional, mas sim não a priorizando. A política dominante dos Estados Unidos, no mundo globalizado, não é a menina dos olhos do jornal.

CONCLUSÃO A pesquisa conclui que as teorias do interacionismo e do gatekeeper podem servir de fundamentação teórica para os três veículos analisados. A teoria interacionista defende que as notícias devem ser vistas como resultado de um processo de interação social e refletir a realidade dos acontecimentos, os constrangimentos organizacionais e as fontes de informação com quem falam. A teoria do gatekeeper analisa a seleção, ou seja, é uma visão limitada do processo de produção das notícias, por isso a diferença na abordagem e nos critérios utilizados por cada um dos três veículos analisados. Os três jornais são europeus, o inglês The International Herald Tribune (IHT), o italiano Corriere della Sera e o espanhol El Pais, e circulam no Brasil, buscando o mesmo mercado. Eles precisam, assim,

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de um diferencial para atrair o público alvo, o qual concilia com o próprio perfil de cada um deles. O IHT é o único jornal neutro política e ideologicamente. O Corriere della Sera é de centro esquerda e o El Pais é ideologicamente sociodemocrata (segundo informações dos próprios sites oficiais dos respectivos jornais). Isto justifica o fato de o IHT priorizar notícias americanas (mesmo sendo neutro), o Corriere della Sera focar conflitos políticos, empatias e simpatias entre o mundo ocidental e o oriental, e o El Pais reportar factuais políticos de maneira geral, mas em especial a América Latina. Esse interesse pode ser justificado pelo fato de a Espanha ter sido colonizadora de grande parte do território em questão. Outro argumento para esse diferencial é a diagramação dos jornais. O IHT não utiliza


infográficos, já o Corriere della Sera, além dos infográficos, usa box para complementar a reportagem. O El Pais, para diferenciar, coloca o lead de cada notícia em destaque. Vale a pena ressaltar que os três jornais utilizam fotografias para ilustrar as reportagens e que são impressos em monocromia. O interessante é que, embora a política apareça nos três veículos, quando o fato tem repercussão direta ou indireta em todos os países como a queda do muro da Nicósia, o único que havia resistido às guerras em toda Europa, ele é noticiado pe-

los três impressos, mas, em grande parte, as notícias não coincidem, pois os critérios de noticiabilidade estão mais próximos da linha editorial de cada veículo. Sobre os Estados Unidos, foi notícia o encontro de seus representantes e os do Iraque para o International Herald Tribune, mas, no jornal italiano Corriere della Sera, os vídeos da campanha dos candidatos à presidência americana no Youtube é que foram noticiados. Isto reflete a riqueza de factuais políticos, que norteiam nossa sociedade, e ressalta a diversidade de interesses, mesmo na sociedade globalizada e ocidental.

Referências bibliográficas BELTRÃO, Luiz. Teoria geral da comunicação. São Paulo: Ed. Cultrix, 1992. –82–

________, Luiz. Teoria prática do jornalismo. São Paulo: Ed. Cultrix, 2006. BRIGGS, Asa / BURKE, Peter. Uma história social da mídia, de Gutenberg a Internet. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2004. DINES, Alberto / VOGT, Carlos / MELO, José Marques de. A imprensa em questão. Campinas: Ed. UNICAMP, 1997 EISENSTEIN, Elizabeth L. A revolução da cultura impressa: Os primórdios da Europa Moderna. São Paulo: Ática, 1998 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Ed. Atlas, 2002 MELO, José Marques de. Teorias do jornalismo. São Paulo: Paulus, 2006 ROMAIS, Célio. O que é rádio em ondas curtas. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994 SOMAVÍA, Juan et al. A informação na nova ordem internacional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980

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TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo – Porque as notícias são como são. 2. ed. Florianópolis: Ed. Insular. v. 1. 2005a. __________, Nelson. Teorias do jornalismo. Uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Ed. Insular. v. 2. 2005b. Sites relacionados http://en.wikipedia.org/wiki/Vespasiano_da_Bisticci. Acessado em 10/5/2007 http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Elyot. Acessado em 10/5/2007 http://pt.wikipedia.org/wiki/Imprensa. Acessado em 20/5/2007 http://www.elpais.com/. Acessado em 5/9/2007 http://www.iht.com/. Acessado em 5/9/2007 http://www.corriere.it/. Acessado em 5/9/2007 http://www.samauma.com.br/portal/conteúdo/opiniao/lm007 p2.html. Acessado em 16/9/2007

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Miradas folkcomunicacionales en la relación medio - comunidad a través del estudio del programa “Kawsaypura yachanakushun”, en el cantón saraguro María José Martinez Periodista, doctoranda en Comunicación Multimedia por la Universidad de Santiago de Compostela. Miembro de la Red INAV – Red Iberoamericana de Narrativas Audiovisuales. Investigadora sobre comunicación y grupos populares. Profesora de la Universidad Técnica Particular de Loja. E-mail: mariajose_marti@yahoo.com. –85–

Fanny Paladines Publicista, doctoranda en Comunicación Multimedia por la Universidad de Santiago de Compostela. Responsable del departamento de Marketing de la Universidad Técnica Particular de Loja. E-mail: jjyaguache@gmail.com.

Jenny Yaguache Publicista, doctoranda en Comunicación Multimedia por la Universidad de Santiago de Compostela. Responsable del departamiento de Postgrado de la Universidad Técnica Particular de Loja. E-mail: fypaladines1@gmail.com. Resumen – El presente estudio provee información sobre una línea de investigación poco explorada en el entorno de Loja, Ecuador: la relación medio-comunidad, con miradas folkcomunicacionales, a partir del estudio de un programa de radio bilingüe (españolkichwa) y su público objetivo. Los resultados analizan elementos como el acceso y la participación del público y aportan información

sobre otros aspectos de la comunicación local, como la relación entre educación y fortalecimiento de la cultura, el peso de las autoridades vs. ciudadanos comunes en el espacio radial, la correspondencia entre contenidos emitidos y necesidades del público y las formas en que los maestros kichwas-Saraguros conciben la interculturalidad, con fundamentaciones folkcomunicacionales estudiadas en esta


producción científica latinoamericana. Esto trabajo resulta de una investigación en conjunto entre investigadores latinoamericanos. Resumo – O presente estudo provém de informação sobre uma linha de investigação pouco explorada na região de Loja, Equador: a relação meio-comunidade, com olhares folkcomunicacionais, a partir do estudo de um programa de rádio bilíngüe (espanhol-kichwa) e seu público-alvo. Os resultados analisam elementos como o acesso e a participação do público e

apontam informação sobre outros aspectos da comunicação local, como a relação entre educação e fortalecimento da cultura, o peso das autoridades versus cidadãos comuns no espaço radial, a correspondência entre conteúdos emitidos e necessidades do público e as formas em que os mestres kichwas-Saraguros concebem a interculturalidade, com fundamentações folkcomunicacionais estudadas nesta produção científica latino-americana. Este trabalho resulta de uma investigação em conjunto entre investigadores latino-americanos.

Introducción

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“Kawsaypura Yachanakushun” es un programa radial de la Dirección Provincial de Educación Intercultural Bilingüe de Loja (DIPEIB), con sede en Saraguro. Este cantón de la provincia de Loja tiene una población mayoritariamente indígena, del pueblo kichwa-saraguro. El programa es transmitido en español y kichwa por la Radio “Buen Pastor”, una radio comunitaria propiedad de una organización local de indígenas evangélicos (ACIS1). Su señal llega a las parroquias urbanas y principalmente a las rurales del cantón Saraguro (donde se concentra la mayor parte de población indígena). La Fundación Jatun Kawsay obtuvo apoyo por parte de la ONG española “Escuelas para el Mundo” para financiar 1.  Asociación de Cristianos Indígenas Saraguros. La radio declara como sus objetivos: difundir el Evangelio y la cultura de los Saraguros. Declaran trabajar en función de estos objetivos y no del rating. Su público es tanto evangélica como católica. Considera que el contacto con otras culturas y la migración son las dos principales causas por la que los Saraguros se alejan de su cultura. Es la única radio del cantón con un público objetivo kichwa hablante, ya que las otras dos radios locales transmiten programación dirigida a un público objetivo blanco-mestizo.

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un proyecto de fortalecimiento institucional de la DIPEIB-Loja. La producción del programa de radio es uno de los componentes de este proyecto. Este programa radial busca proveer a los diferentes actores del ámbito educativo bilingüe del cantón (profesores, directores, escuelas bilingües, alumnos etc) de un espacio de información e interacción que permite incluso a los habitantes de las parroquias rurales mantener un contacto con la Dirección de Educación Intercultural Bilingüe, con los otros maestros y con el resto del Cantón. Al momento del estudio el programa estaba recién creado, llevaba dos meses al aire y constaba de 45 minutos semanales de información, comunicados y entrevistas sobre educación y cultura kichwa. Las radios comunitarias tienen un papel preponderante en la visibilización de minorías. Así, la interculturalidad se convierte en un “proyecto desde la experiencia y la propuesta indígena” (WALSH, 2005, p.26), tal como lo plantea la DINEIB. La mención del “rescate del


idioma [kichwa] y la promoción de la cultura [ancestral]” son frases que los diferentes actores del espacio local repitieron a lo largo de este estudio. Según Walsh (2005, p.26) la interculturalidad partiría de un “cuestionamiento del poder dominante y la meta de la descolonialización, procesos vinculados con la necesidad de transformar o cambiar las relaciones, estructuras e instituciones dominantes (...)”. Es posible que la educación bilingüe para el Pueblo kichwa-saraguro, más que un sistema escolar paralelo (y alternativo) a la educación hispana tradicional, es vista por sus usuarios como un instrumento ideológico que está destinado a fortalecer su identidad cultural y promover de diferentes maneras la inclusión social y la interculturalidad para su pueblo. Como plantea Carrión (2007), en el Ecuador la radio comunitaria tiene más de tres décadas. Las experiencias particulares han sido y son muy enriquecedoras, aunque la tendencia general (salvo algunas interesantes excepciones) ha sido a la de una permanencia relativamente corta en el tiempo, “desde el modelo utilizado para la alfabetización en zonas rurales, mejor conocida como escuela radiofónica, pasando por emisoras que reivindicaban posturas políticas para la democracia en nuestro país, hasta las experiencias más recientes tanto en el campo como en las ciudades”.2 La experiencia de “Kawsaypura Yachanakushun”, por tanto, puede ser descrita como una iniciativa comunicacional enmarcada en la producción 2.  Carrión, Hugo. (2007): Estudio radios comunitarias, situación en el Ecuador. Centro de Investigación para la Sociedad, el Conocimiento y la Innovación. Tomado de: http://www.imaginar.org.

radial comunitaria indígena con fines de apoyo al sistema educativo intercultural bilingüe. En el contexto de sociedades multiétnicas, la comunicación tiene un papel esencial en el fomento de las relaciones en equidad entre las diferentes comunidades presentes en el ámbito local. Al encontrar diferentes maneras en que los maestros kichwas interpretaban la interculturalidad, se adoptó, en el estudio, un concepto estándar que englobe las diferentes versiones recolectadas, y se definió como un modelo de integración que implica la convivencia entre culturas o comunidades diferentes que interactúan en búsqueda de equidad, estableciendo una dinámica que las enriquece mutuamente. Este concepto de interculturalidad pudo ser analizado a partir de las percepciones verbalizadas por los diferentes actores que fueron parte del estudio, en especial de los agentes folkcomunicacionales propuestos por Beltrão (2001, p. 67-68). En este trabajo, el patrón metodológico (cuadro 1) incluye técnicas que se complementan entre sí, ya que “no hay métodos que puedan tratar más que un diminuto fragmento de realidad” (JENSEN & JANKOWSKI, 1993, p. 235). Se empleó una triangulación metodológica considerando que “el supuesto básico de toda triangulación es ‘que la debilidad de cada método simple se compensará con el contra peso de la fuerza de otro’” (JENSEN & JANKOWSKI, 1993, p. 78). Las guías para todas las entrevistas, así como para la observación directa, el grupo focal y la matriz de análisis de contenidos, fueron elaboradas con base en los temas planteados en la agenda temática.

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El primer paso fue realizar una entrevista telefónica exploratoria al productor del programa, quien proporcionó información básica sobre su temática y funcionamiento. Se realizaron entrevistas a un grupo de 7 profesores/directores de escuela (de una población de 147), por ser líderes de opinión dentro de cada unidad educativa. De acuerdo con Cervi (2007), los líderes de opinión horizontales son responsables por consejos a sus pares.

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A pesar del lider de opinión horizontal non tener su autoridad reconocida socialmente, anida así consegue desarrollar su capacidad de persuasión por carisma, credibilidad, respecto personal o capacidad de aglutinar pequeños grupos. Ello age como consejero de sus pares.3

Se seleccionó a las escuelas con mayor cantidad de alumnos y por tanto, con mayor número de profesores bilingües. Con la información obtenida se estructuró el esquema de preguntas para el grupo de emisores con el fin de contrastar las opiniones de éstos con las de los receptores del programa. Luego se realizaron entrevistas de profundidad al Director de la Fundación Jatwn Kawsay (auspiciante del programa), de quien interesaba principalmente información sobre el acceso y sostenibilidad de la radio, y al Director de la Radio “Buen Pastor” para obtener información sobre temas administrativos y de participación. También se realizó una entrevista al coproductor del programa y una segunda entrevista al productor con el fin de conocer mejor los 3.  CERVI, 2007, p.39-41.

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puntos de vista de los realizadores. Las entrevistas se llevaron a cabo luego de la observación directa para poder contrastar la información obtenida con las respuestas de las entrevistas. Se elaboró una guía para cada uno de los entrevistados. Se utilizó la observación directa no participante para conocer el funcionamiento de las radios comunitarias y para obtener información sobre acceso, participación, la dinámica de trabajo en el programa, el desempeño técnico de los realizadores y las condiciones logísticas que poseen. La técnica fue aplicada durante la transmisión en vivo que tiene lugar todos los viernes, a partir de las 19h30 desde el estudio de la Radio “Buen Pastor”. El estudio se apoyó en una guía de observación y en la recolección de notas tomadas por las investigadoras del proyecto. Cada una de las investigadoras se ubicó en un punto de observación diferente: en la cabina del control master, al frente de la cabina de locución y en la sala donde esperaban los entrevistados del programa. Se diseñó específicamente una matriz a partir de procedimientos sugeridos por Mata (1993, p.161-164), de acuerdo con nuestros temas de investigación. La discusión en grupo permite a los participantes usar un lenguaje común, ya que las respuestas se desarrollan de una manera menos formal que en una entrevista personal, y la presencia de otros anima a la gente a divulgar sus experiencias. Se seleccionaron 9 maestros de un total de 24 técnicos y docentes administrativos que laboran en la DIPEIB-Loja. Se seleccionaron individuos que ocupen cargos directivos y que hayan participado y/o apoyado en la realización del programa, con parti-


cipación directa, por medio de entrevistas o como fuentes de información. Se elaboró una guía cuyo fin era complementar, am-

pliar, aclarar y profundizar la información obtenida hasta ese momento a través de otras herramientas aplicadas.

Análisis de resultados En este estudio son considerados emisores: los productores del programa, el director de la Fundación Jatwn Kawsay, el Director de la radio y los funcionarios de la DIPEIB-Loja. Los receptores (público objetivo) son los maestros bilingües. Según los datos obtenidos de las entrevistas a emisores y receptores, los niveles de acceso permiten la entrada de los siguientes actores: NIVEL

TIPO DE ACCESO

ACTORES

0.

Audiencia

Maestros

1.

Colaboración

Funcionarios de la DIPEIB-Loja (funcionarios de la DIPEIB que han colaborado con el programa entregando contenidos institucionales o a través de entrevistas).

2.

Control de programación

Productor y coproductor del programa

3.

Decisiones administrativas y gestión:

Director DIPEIB-Loja, Director Fundación Jatwn Kawsay

4.

Propiedad del programa

DIPEIB-Loja, Fundación Jatwn Kawsay

Cuadro 1

Los productores deciden sobre el contenido. Los funcionarios de la DIPEIB-Loja y los maestros consideran que se debería abrir más el acceso para colaborar en la producción de contenidos (nivel 1). El acceso de la Fundación es limitado en cuanto a los contenidos (sugerencias), aunque al aportar con financiamiento tiene acceso al nivel administrativo. No existe acceso para otros actores a la toma de decisiones administrativas (cuadro 1). Tanto el grupo focal como el coproductor del programa coinciden en que se debe trabajar en forma conjunta con las comunidades y los maestros para motivarlos a que se empoderen de esta iniciativa y puedan ser parte de la estructura del programa. Existe un contraste entre las declaraciones del director de la radio, el director de la fundación que financia el programa y los productores del programa, con respecto a quién tuvo la idea y lo impulsó originalmente. La información muestra que el programa responde a una necesidad sentida por todos los actores educativos y que la idea de realizarlo y la voluntad de impulsarlo estaba presente en todos. Se evidencia la necesidad de fortalecer políticas institucionales de comunicación al interior de la DIPEIB-Loja. El Departamento de Comunicación está aún en proceso de estructuración, lo que resulta en un marcado empirismo en la producción del programa. Sin embargo, la creación del programa constituye un paso importante dentro de este proceso a través de dos participaciones:

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- Participación directa: entrevista en vivo o vía telefónica. - Participación indirecta: entrevista grabada, cita textual de declaración o fragmento de entrevista, por mail, mensaje a celular, por oficio, comunicación o boletín de prensa.

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El tiempo que permite la participación de otros actores en el programa es importante (57.83%) dentro del porcentaje total, pero no toda esta participación es directa. El número de actores que han participado de manera directa es aproximadamente la quinta parte de aquellos con participación indirecta, lo que indica que, aunque existe una política de apertura a la participación por vías en las cuales los productores tienen mayor control de los contenidos, la participación en la cual el actor “se toma el micrófono” es limitada. Los maestros tienen una presencia del 11.76%, que podría reforzarse considerando que son el público objetivo del programa. Padres de familia y estudiantes no han tenido participación en los programas analizados. La política de participación es cerrada: solamente accede quien ha sido invitado. Las invitaciones son realizadas de forma verbal y las entrevistas no son planificadas con anterioridad. Existe una tendencia a dar mayor espacio a las autoridades educativas locales, provinciales y nacionales (64,70%) por sobre los otros actores. El 70.59% de los participantes son hombres. Este dato refleja la situación general de inequidad en el acceso al poder (y a espacios de expresión) de la mujer en el Ecuador, y más aún en un medio predo-

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minantemente rural. Al comparar este dato con el de participación de autoridades, se encontró lo siguiente: todas las autoridades participantes son varones, el 65% de los espacios de participación fueron dados a autoridades, la falta de presencia de mujeres en cargos directivos determina que su presencia sea muy baja en el programa, las pocas mujeres participantes eran consultoras, capacitadoras o visitantes y la inequidad en el acceso al poder incide directamente en el acceso a espacios de expresión por parte de las mujeres en este caso. Los funcionarios de la DIPEIB-Loja piensan que deben ser ellos mismos quienes den el ejemplo a los maestros sobre participar en el programa. Baudillo considera que “la difusión del programa se la podría hacer a través de los propios dirigentes, docentes y estudiantes”. Los maestros, en su calidad de receptores, piensan que deberían participar más en la realización del programa y esperan que se abran espacios o ser invitados para poder entregar sus ideas, conocimientos y opiniones (“Los profesores deberíamos aportar al desarrollo del programa.” Juan María Chalán, maestro y director de Escuela). El grupo focal y el coproductor (emisores) coinciden en que se debe trabajar en forma conjunta con las comunidades para conocer sus necesidades de comunicación y así permitir “que vayan empoderándose de esta iniciativa”. Humberto opina que se debería “averiguar a las comunidades cuáles son sus necesidades y de ahí saldrían los contenidos”. Los funcionarios de la DIPEIB-Loja coinciden con el Director de la Fundación,


en que el programa fue creado para “tener un canal de información propio” para difundir “sus propios criterios al sector educativo” y “la existencia de la Educación Intercultural Bilingüe”. En este sentido, la DIPEIB-Loja como actor institucional es la voz dominante en el programa frente a las voces de los otros actores (maestros, escuelas etc.). Se encontraron tres motivos principales que explican que el nivel de audiencia no sea el esperado: 1. En el horario de transmisión los receptores están ocupados en otras actividades. 2. Falta de difusión sobre la existencia del programa y los temas tratados. 3. Falta de variedad en el formato. Los emisores consideran que el programa se adapta a la realidad local, puesto que son de interés para todos los actores educativos, pero también les gustaría que el público objetivo se amplíe e incluya a padres de familia y estudiantes. También piensan que la promoción y rescate del kichwa como lengua materna debe utilizar segmentos que entretengan, como cuentos, canciones, chistes y temas de formación como sexualidad, relaciones humanas, educación vial y los conocimientos y sabiduría de los pueblos indígenas. Los productores no tienen conocimiento acerca de los niveles de recepción ni de las expectativas del público objetivo del programa. Existe una expectativa generalizada tanto entre los emisores como entre los receptores de que la radio

se vincule más con la comunidad (“dé un servicio comunitario”). Los maestros también piden que se les brinde apoyo para sus clases y requieren información práctica como información sobre capacitaciones (el programa ha sido más sintonizado cuando han anunciado que se van a ofrecer contenidos útiles). En cuanto al formato, la secuencia de los contenidos no es temática sino que va desde lo local y lo provincial a lo nacional. El no tener publicidad les permite dedicar todo el tiempo al aire a sus contenidos. Los cortes que existen son las cortinas musicales. Existe poca variedad en cuanto a segmentos. Para los emisores, el tema de interculturalidad “no solo debería incluir a Saraguro, sino que se debe establecer vínculos con diferentes medios de comunicación de la provincia que permitan reconocer la presencia de los pueblos indígenas en todo el territorio”, por lo que “todas las actividades emprendidas por la DINEIB deberían buscar la convivencia intercultural”. Desde los receptores, los temas relacionados con la interculturalidad más mencionados son tres, en el siguiente orden: a) el rescate del idioma, b) el rescate de la cultura, c) el fortalecimiento de la educación del pueblo Saraguro. Desde los emisores, los temas más mencionados son dos: a) el rescate de la cultura y el idioma kichwas (tomados en cuenta conjuntamente), y b) las relaciones entre las sociedades indígena y blancomestiza. Esto da cuenta de la preocupación por parte de los emisores del programa con respecto al tema de las relaciones entre las dos sociedades. Resulta interesante

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en términos de interculturalidad que los locutores sean un indígena y un mestizo. La posición editorial adoptada por los productores es de apertura hacia la sociedad mestiza en términos de compartir con ella la riqueza de las festividades, el idioma, las tradiciones y rituales de la cultura kichwa, y de invitarla a participar en los diferentes fiestas y eventos que se organizan, especialmente en el marco del Karpak Raymi. A pesar de que no existe un espacio determinado para tratar la intercueturalidad, el tema está presente de manera explícita o implícita a lo largo de la mayoría de segmentos del programa (68% del tiempo al aire). Para los emisores, es necesario incluir “temas que promuevan la convivencia social entre mestizos e indígenas, hablen sobre los hábitos de los indígenas frente a la otra realidad y vinculen los procesos organizativos indígenas y mestizos” (Entrevista Director Fundación Jatwn Kawsay). Tanto emisores como receptores coinciden en la importancia del rescate del kichwa como lengua materna como un medio de fortalecer su cultura y piensan que el programa debe ser una herramienta en este sentido, por lo que hay que fotalecerlo (“Los educadores deberíamos pensar en trabajar más proyectos similares al de la radio para rescatar en los jóvenes la cultura que cada día se está perdiendo.” Rosa Chango, maestra y directora de Escuela). Los productores del programa proyectan que, en el futuro, el kichwa debería ser la lengua principal en los centros educativos comunitarios bilingües. Sin embargo, en el programa hace falta un mayor dominio del idioma kichwa.

Los productores consideran que es necesario convertir el programa en una iniciativa de largo plazo, sostenida con fondos propios de la DIPEIB-Loja. Para esto, hace falta el establecimiento de políticas institucionales fuertes y de largo aliento para el área de comunicación en las direcciones provinciales de educación intercultural bilingüe del país. Carmen opina que “al concluir el auspicio de Jatwn Kawsay se podría abrir una partida presupuestaria para mantener el auspicio del programa”. Existe la expectativa de proyectar el programa hacia otros medios, incluyendo el resto de la provincia de Loja. Medios, como la web, en espacios específicos como el YouTube, pueden actuar como agentes folkcomunicacionales. El “líder de opinión” gana fuerza con las nuevas tecnologías, que posibilitaran nuevas modalidades y diferentes amplitudes mediaticas por parte de los grupos populares. Caclini (2005, p.235) recuerda que “en las ultimas decadas, se multiplicaran los usos de tecnología avanzada (computadores, satélites) por parte de los grupos indígenas y suburbanos”.4

Los representantes del programa proponen construir redes. Baudillo considera que “es importante identificar aliados estratégicos como el Municipio de Saraguro, el Municipio de Loja, con las universidades, con el Consejo Provincial, Fundaciones y otras instituciones que permitan la realización del programa”. 4.  RENÓ, 2007, p.45.

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Conclusiones La escasa participación por parte del público objetivo y el acceso limitado de otros actores en la toma de decisiones en el programa inciden en gran medida en sus niveles de audiencia. Mayores niveles, tanto de acceso como de participación, podrían incidir positivamente en la aceptación del programa por parte de los receptores. El interés de los actores en el programa es proporcional con el nivel de conciencia que van tomando sobre su importancia y proyección. Y por otra parte, los emisores tendrían más claves sobre las necesidades y expectativas de su público. Sin embargo, tal como reflejan los resultados, el esquema de participación en la radio reproduce esquemas de inequidad comunes en la sociedad como el dar preferencia a autoridades por sobre ciudadanos comunes, o mayores espacios para la participación de hombres en comparación con la de las mujeres. El esquema de acceso se circunscribe casi exclusivamente al ámbito institucional de la DIPEIB-Loja, dejando fuera a otros actores del sector educativo que han manifestado su interés en ser parte del programa. El abrir el acceso a otros actores requeriría una modificación de este esquema que permita su inclusión. A pesar de que se dedica un tiempo considerable del programa a espacios de participación, la política con que se eligen los participantes del programa es cerrada (por invitación personal) y con excesivo énfasis en las autoridades. Existe una presencia mayoritaria de actores internos o institucionales (85%) frente a actores de fuera del sistema educativo. Esto se en-

tiende en parte por tratarse de un programa institucional, pero esta tendencia llevada al extremo puede llegar a dar la impresión de que en el programa existe una sola voz que se impone por sobre los otros actores. La división en categorías para medir el acceso y la participación fue clave en nuestra investigación. Las categorías para el acceso fueron proporcionadas por el Prof. Marcelo Martínez y los tipos de participación fueron establecidos a partir del diseño de la matriz de análisis de contenidos. La iniciativa del programa responde a necesidades y expectativas latentes entre los maestros y la comunidad educativa Saragura en general, aunque esto no significa que estas expectativas sean llenadas totalmente. Existe un nivel considerable de identificación del público con el programa, al punto de considerarlo como algo “propio”. Sin embargo, esta apropiación es en un sentido más simbólico que práctico u operativo, y está relacionado con el hecho de que se trata de una iniciativa emprendida por una institución indígena obedeciendo a las mencionadas expectativas colectivas que tienen como pueblo. A pesar de que la vinculación con la comunidad aún tiene que ser fortalecida, la percepción general del programa es como de un instrumento ideológico estratégico del pueblo Saraguro. Existe un predominio de la oralidad por sobre la escritura entre los Saraguros. El medio de comunicación de mayor aceptación y alcance es la radio. No existe una cultura fuerte de participación a través de

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este medio de comunicación pero ésta se puede incentivar desde los emisores. A lo largo de la investigación no se llegó a receptar ninguna queja o referencia a actitudes de racismo o a que exista discriminación entre mestizos e indígenas. Esto no necesariamente quiere decir que este tipo de actitudes no se den. Lo interesante es el alineamiento de todos los actores con los que se tuvo contacto con una posición que mira al futuro en este tema en términos de responsabilidad, tanto individual como colectiva, en la construcción de una sociedad con verdadera interculturalidad. El que el líder del equipo (el productor) sea mestizo y el coproductor sea indígena es una muestra de apertura a la colaboración desde la DIPEIB-Loja hacia el mundo mestizo. El programa tiene líderes horizontales, pues pertenencen al grupo de los receptores, como recuerda Cervi (2007). El hecho de que entre los invitados al programa estén balanceados los actores indígenas (total 50%) y los no indígenas (50%) confirma esta actitud. De igual manera, los maestros bilingües en general muestran una posición abierta al intercambio entre culturas, lo que se manifiesta en el uso de los dos idiomas y el énfasis en promover la interculturalidad y el acercamiento entre indígenas y no-indígenas (“En mi escuela trabajamos en los dos idiomas, con el mismo fin de rescatar en los niños el amor a los dos idiomas.” Ángel Polibio Chalán, maestro y director de Escuela). Existe un nivel considerable de concienciación sobre la importancia de rescatar la propia cultura y promover la interculturalidad (“Los Saraguros poseen muchas cosas valiosas que pueden difunRevista Matteria Primma

dir a otros sectores; ahí cuaja la verdadera interculturalidad, cuando participan todos los sectores y se comparte y viven juntos”) y se considera esencial el papel de los medios de comunicación en esta tarea. Es interesante el que se vean a sí mismos como protagonistas de esta construcción y no como meros “beneficiarios” pasivos. Las afirmaciones recogidas no van en el sentido de “esperar apoyo” o “esperar hasta obtener financiamiento” sino en el de que ellos mismos son quienes deben impulsar proyectos y generar sus propios medios. En las respuestas de emisores y receptores se evidencia una triple función que se le asigna al sistema de educación intercultural bilingüe: el rescate del idioma, la función de promover la cultura kichwa-saragura, y su rol como institución que ofrece educación para el pueblo Saraguro. Esto nos dice que, probablemente, la DINEIB, más que un sistema educativo con funciones meramente académicas, es vista por los actores como un instrumento ideológico de reproducción de la cultura kichwa (“Yo creo que los que están a cargo de la elaboración de ese programa están caminando muy bien hacia los horizontes que tenemos los indígenas” Juan María Chalán, maestro y director de Escuela). Un programa de radio en kichwa es una herramienta que, unida a otras acciones e iniciativas, puede ser parte de una estrategia general de rescate de esta lengua. En este sentido, los maestros saraguros demuestran tener una acentuada conciencia del rol de la escolarización como mecanismo de reproducción cultural e ideológica. Cuando los diferentes actores que participaron en el estudio hablaron sobre educación, se refirieron a ésta como una


forma más de fortalecer la cultura. La educación para ellos no es un fin en sí misma. Lo que se busca en cambio es “el fortalecimiento de la identidad desde la educación” (entrevista Director Fundación Jatwn Kawsay). El propósito que declara la Fundación al financiar el programa es “promover la interculturalidad a partir de la educación, considerando a los maestros y a los estudiantes como la punta de lanza de este proceso”. Hace cuarenta años, la educación era un fin en sí misma, cuando se hablaba del derecho a la educación de los pueblos indígenas. Hoy, reconocido ya ese derecho, la educación es vista como un medio para la recuperación de la cultura. Se podría interpretar que ha habido una evolución del discurso reivindicativo del Movimiento Indígena con respecto a este tema. En cuanto a la comprobación del patrón de estudio, la triangulación metodológica entre grupo focal, entrevistas a receptores, entrevistas a emisores y análisis de contendidos entregó resultados provechosos para el proyecto. De las cuatro técnicas cualitativas, estas tres son las más idóneas para el estudio de la relación medio-comunidad. La observación directa contribuyó específicamente para obtener información sobre los aspectos técnicos de la estructuración del programa, por una parte, y para completar la información sobre los invitados para las entrevistas en vivo. Sin embargo, su aporte en comparación con las otras herramientas fue mínimo. El realizar las entrevistas a emisores y luego a receptores permitió validar comparativamente las percepciones de los dos grupos. Las guías de entrevistas elaboradas originalmente tuvieron que ser modi-

ficadas de acuerdo con el desarrollo de la conversación, manteniendo los temas básicos sobre los que se necesitaba información. Este esquema flexible permitió que el entrevistado desarrolle sus respuestas con mayor libertad. El grupo focal permitió profundizar a través del diálogo colectivo los puntos fundamentales que fueron recogidos en primera instancia a través de las entrevistas. A través de la matriz de análisis de contenido se elaboraron las categorías de participación. Esta herramienta nos facilitó una comprensión general del objeto de estudio además de aportar información tanto cualitativa (interculturalidad), como cuantitativa (participación). Las entrevistas y el grupo focal nos permitieron valorar el grado de acceso real del público objetivo al programa, la manera en que éste es percibido y las expectativas que existen sobre él desde su público. De acuerdo con nuestro análisis, las dos herramientas que aportaron información cualitativamente más relevante para este estudio fueron el grupo focal y la matriz de análisis de contenidos. Es necesario fortalecer políticas institucionales de comunicación al interior de la Dirección de Educación Intercultural Bilingüe a nivel nacional, y de la DIPEIBLoja en particular. El siguiente paso, después de la creación del programa, es fortalecer su relación con la comunidad (redes de docentes, líderes de organizaciones, padres de familia, estudiantes y promotores populares). Los vínculos entre emisores y receptores pueden darse en dos sentidos: los productores se acercan a su público para conocer sus necesidades e intereses y promueven su acceso a diferentes niveles

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de la estructura del programa, y su participación mediante mecanismos como el envío de información (corresponsales) y las puertas y micrófonos abiertos. Se deben establecer mecanismos diferentes de convocatoria para que la participación sea mucho más abierta para todos los actores y no sólo se reduzca a nivel de autorida-

des. También sería importante involucrar en la conducción del programa (o de un segmento) a ambos géneros. Las estrategias de difusión del programa deben ser enfocadas en tres aspectos principales: existencia del programa, horario en que es transmitido, y temas tratados.

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Interpretações da poesia da viola caipira Maria Carolina Costa de Freitas Estudante do primeiro semestre do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na UNICOC, Ribeirão Preto. Participante do grupo de pesquisa e produção documental do curso de Jornalismo da mesma instituição. carolfreitas86@globo.com

Rebeka Methner Boizan Estudante do terceiro semestre do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na UNICOC, Ribeirão Preto. Participante do grupo de pesquisa e produção documental do curso de Jornalismo da mesma instituição. reboizan@hotmail.com

Jacqueline Avilar Ferreira Estudante do terceiro semestre do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na UNICOC, Ribeirão Preto. Participante do grupo de pesquisa e produção documental do curso de Jornalismo da mesma instituição. jackicoc@yahoo.com.br Resumo – A viola caipira faz parte do cotidiano da cultura popular brasileira, especialmente dos caipiras paulistas. Este artigo resgata a história do instrumento e sua relação com o povo paulista em seus momentos de entretenimento e de desabafo cultural. Em seguida, são analisados os discursos de modas de viola caipira escolhidas aleatoriamente, percebendo, assim, sua ligação com o cotidiano da cultura popular. A análise se fundamentou nos teóricos Luiz Beltrão, que estuda

a folkcomunicação, Rossini Tavares de Lima, que estuda o folclore e a música caipira, e Antonio Candido, que aborda questões culturais e históricas do caipira. Com o artigo, espera-se provocar novos estudos relacionados com o tema e abrir novos caminhos dentro da folkcomunicação. Palavras-chave – Folkcomunicação; folclore; cultura popular; viola caipira.

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Abstract – The folk guitar is in the daily life of Brazilian popular culture, especially of the people live in São Paulo state. The paper talks about the history of the instrument and its relationship with the people live in the São Paulo state, and yours moments of entertainment and cultural. The paper analyses the speeches of folk fashion guitar. These speeches were chosen randomly. This showed its

connection with popular culture. The theoretical reference were Luiz Beltrão, Rossini Tavares de Lima and Antonio Candido. This paper aims to provoke new studies about this theme and open new ways about folk communication. Keywords – Folk communication; folklore; popular culture; folk guitar.

Introdução

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Por meio da análise de temas como a viola caipira, o caipira e a cultura caipira e popular e da análise comparada dos discursos, faremos uma reflexão sobre a poética da viola caipira. O corpus da pesquisa foi extraído do livro Moda de viola, poesia de circunstância, que apresenta diversos temas da moda de viola. Foram escolhidas aleatoriamente seis estrofes e uma moda completa para proporcionar uma análise imparcial e neutra. A viola caipira chegou ao Brasil pelas mãos dos portugueses, por volta de 1500, e foi disseminada pelo território brasileiro através dos tropeiros e dos bandeirantes. Ela servia para registrar os acontecimentos de uma sociedade predominantemente analfabeta, assegurando que esses acontecimentos não se perdessem durante os anos. É por meio do caipira que esses acontecimentos sobrevivem. O caipira brasileiro pode ser entendido como caboclo, o mestiço próximo ou remoto do branco e do índio. Esse caipira absorveu dessa miscigenação a familiaridade com a mata, os costumes, o faro na caça, as crenças, a viola, as artes com as ervas e o Revista Matteria Primma

encantamento com as lendas. E é ele que resiste, mantendo viva a cultura, que muitas vezes corre riscos de se perder nessa aparente prosperidade. Um povo traz carregados na lembrança os costumes dos mais velhos, de forma sublime. As crenças, os costumes, as danças, os ritmos, a arte, a cura, enfim, tudo o que envolve a existência do grupo, dos pares. Dessa forma, sem essas características, torna-se impossível a sobrevivência ao tempo. Desaparecem as atitudes, ou seja, não é possível ficar sem cultura popular, sem folclore. Esse folclore é visivelmente encontrado numa faixa social marginalizada, onde suas manifestações recebem o nome de folkcomunicação.1

A cultura caipira, que foi disseminada pelo Brasil através dos tropeiros e dos bandeirantes, baseia-se principalmente nas formas de sociabilidade e de subsistência, 1.  Renó, 2006, p. 2-3.


mas também tem como características o isolamento, a posse de terras, o trabalho doméstico, o auxílio vicinal, a disponibilidade de terras e uma margem de lazer. Essa cultura, como a dos índios, é independente justamente por causa dessa certa “marginalização” criada por meio de estereótipos, e, devido a essa característica, a cultura caipira é tão pura. Essa perma-

nência de pureza pode ser percebida com a convivência: no vocabulário do caipira, que de modo geral é considerado errado, mas que, na verdade, existe porque foi criado na vinda dos portugueses e desse dialeto muito pouco foi mudado; nos remédios criados a partir de chás; nas simpatias para qualquer tristeza e no observar da natureza.

História da viola caipira Nascida na Europa por volta do ano 1000, vinda de um instrumento árabe chamado guitarra mourisca, a viola caipira chegou ao Brasil por volta de 1500, com os portugueses, que, por meio da expansão marítima, queriam introduzir em suas colônias os costumes e a cultura lusos. A viola caipira ganhou o interior brasileiro, passando a ser construída pelos nossos próprios caboclos e, durante os 300 anos seguintes, foi se transformando no instrumento mais popular do Brasil. Entretanto, com o surgimento do violão, a viola passou a ficar mais presente no interior; o violão passou a ser um instrumento urbano e a viola, um instrumento rural. Em 1929, foi gravado e lançado o primeiro disco com som de viola caipira. Surgiu na década de 1950 o músico chamado Tião Carreiro, alguém que revolucionou toda a forma de pensar sobre a música caipira. Porém, com o êxodo rural e a urbanização das cidades, muitas famílias mudaram-se das zonas rurais e o aprendizado sobre a viola caipira, que antes era passado de pai para filho, ficou prejudicado. As novas influências das músicas estrangeiras também colaboraram

para a ruptura desses ensinamentos e as conseqüentes mudanças que houve na música caipira fizeram o que hoje é chamado de música sertaneja. Por volta do ano 1400, surgiram na Espanha dois instrumentos derivados da guitarra renascentista: a guitarra barroca, com cinco pares de cordas, e a vihuela, com seis pares de cordas. Estes dois instrumentos foram então introduzidos em Portugal com o nome de viola (aportuguesamento de vihuela) por volta do ano 1450.(...) Com os jesuítas, chegou ao Brasil, por volta de 1550, a viola de cinco pares de corda. Utilizada primeiramente na catequese dos índios, ganhou o interior brasileiro e perdeu sua imagem tão erudita, passando a ser construída pelos nossos próprios caboclos, com madeiras toscas. Surgia a nossa viola caipira. 2

2.  Disponível em http://www.mvhp.com.br/violac1.htm Acessado em 10/03/2006.

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A partir desse momento, a música caipira começou a seguir novos rumos, indo da música erudita à MPB e à música pantaneira. Se antes a música caipira, no meio rural, tinha um motivo de ser e acontecer (por exemplo para comemorar um casamento, um batizado ou por motivos religiosos), depois dessas influências, esses motivos e suas funções mudaram. No meio rural, a viola fazia da música caipira uma maneira de registrar os acontecimentos de uma sociedade predominantemente analfabeta, assegurando que esses acontecimentos não se perdessem durante os anos; com a música sertaneja, o objetivo é atingir um público muito maior. Na música caipira existem vários ritmos, como cururu, cateretê, guarania, polca, querumana, congado, moçambique, cipó preto, pagode, moda de viola, entre outros. Cada região tem seu próprio estilo de música e de viola, podendo-se encontrar a viola de coxo, a cabocla, a paulista, a agrense ou a do litoral.

Em 1817, um censo demonstrava que a viola era o instrumento mais popular do Brasil. Mas, com o surgimento do violão (...), a viola passou a ser confinada cada vez mais para o interior (...). Na década de 60, com o êxodo rural, milhares de famílias que viviam em zonas rurais vieram para as cidades, principalmente as capitais, e cessou-se então um ciclo de aprendizado. Até então, os ensinamentos da viola caipira eram passados de pai para filho. O instrumento passou a ser colocado em um segundo plano.3

Nas regiões Sudeste e Centro-Sul do país, a viola mais comum é a viola paulista. Esta viola tem como características físicas uma caixa sonora e uma haste chamada popularmente de “braço”; usa dez cordas, agrupadas em pares. Há outros tipos também usados, variando o número e o agrupamento das cordas. 3.  Disponível em http://www.mvhp.com.br/violac1.htm Acessado em 11/03/2006.

A cultura caipira A cultura popular está imersa na personalidade de cada um, naturalmente envolvida com as atitudes mais simples e relacionada às noções mais complexas. Um povo traz carregados na lembrança os costumes dos mais velhos, de forma sublime. São valorizados as crenças, os costumes, as danças, os ritmos, a arte, a cura, enfim, tudo o que envolve a existência do grupo, dos pares. Dessa forma, sem essas características, torna-se impossível a sobrevivênRevista Matteria Primma

cia ao tempo. Desaparecem as atitudes, ou seja, não é possível ficar sem cultura popular. A cultura popular sobrevive ao tempo e à globalização. A chegada e a difusão de outras culturas de massa, somadas à manipulação cultural dos canais culturais, provocam uma opacidade nas tradicionais marcas populares. Mesmo nos grandes centros, a cultura popular permanece viva, obviamente com uma intensidade menor, pois divide espaço com outras culturas.


Como defendido por Renó (2006, p. 3), a moda de viola dita ritmos ao lado do funk, do hip hop, do axé, e assim por diante. A crença se perde em meio a tantos salões de novas igrejas vanguardistas e “pastores empresários”. Por fim, os sabores de raiz cedem espaço ao fast food, o ideal para a correria do mundo moderno, ganhando peso e perdendo vida. Esses fenômenos que disputam a existência com a cultura popular conseguem maior espaço nos grandes centros, onde tudo o que acontece de novo, de mutante, ocorre em maior intensidade, proporcionalmente ao tamanho do local. Um dos canais de maior influência é a televisão, e mesmo assim os costumes sobrevivem com certa força. Para alguns historiadores, a corrida e a turbulenta rotina da sociedade impedem a sobrevivência de qualquer tradição, ainda mais se aliada às influências culturais que o Estado recebe com intensidade. Mas todo e qualquer povo possui sua cultura popular. Ela é uma das responsáveis pelo agrupamento social, a partir do qual todos se identificam pelos costumes e comportamentos semelhantes. Ela é mutante, dinâmica, adaptável às tendências dos movimentos externos. Todas essas tradições são transmitidas naturalmente entre gerações. De acordo com Beltrão (2004), a cultura popular é coletiva, aprendida, observada, e não ensinada, ou seja, não há um ritual formatado de ensinamento das tradições, senão a observação dos mais novos aos mais velhos. A cultura popular acaba por seguir gerações com uma proteção natural, oculta e impregnada nas atitudes mais simples, como crenças e costumes. Ela se prende no DNA das gerações, sendo transmitida de pai para filho, natu-

ralmente. Como define Cascudo (1982, p. 6),“... no folclore nascemos, vivemos e morremos. É o clima natural, orgânico, diário, familiar. É a ciência do povo”. Uma incógnita que os acompanha sem que eles possam perceber. Para os mais novos, a dança representa tudo: a paz, a fé, a vida. Apesar disso, ninguém sabe dizer ao certo o que ela representa perante a religiosidade de cada um, a verdadeira mensagem passada pelas cantorias. Dessa forma, percebe-se a sobrevivência das culturas, por exemplo, da moda de viola caipira, mesmo em meio à selva de concreto que tende a sufocá-las. Nós, homens, ainda possuímos manifestações exclusivas, apesar da “globalização” da cultura. É o caso da cultura caipira. O caipira surgiu da miscigenação entre o índio nativo e o português colonizador. Deste herdou a língua, a religião, as crenças e a maior parte dos costumes da cultura européia. De seus antepassados nativos, herdou a familiaridade com o mato (é capaz de sentir e conhecer a fundo o mundo natural, usando o conhecimento adquirido com tal sabedoria e eficácia que nenhum de nós possui), o faro na caça, a arte das ervas, o ritmo do bate-pé do cateretê (dança rural com sapateado e palmas ao som da viola) e do cururu (dança de roda com palmas e sapateado). A etimologia da palavra “caipira” também nos dá indicações das representações que definem o singular modo de vida da “cultura caipira”. A gênese da palavra caipira vem do tupi e para alguns autores está em caapora: caá = mato / pora = habitante.4 4.  Beltrão, 2004, p. 72.

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O discurso folclórico, em toda a sua complexibilidade, não abrange apenas a palavra, mas também meios comportamentais e expressões não verbais e até mitos e ritos que, vindos de um passado longínquo, assumem significados novos e atuais, graças à dinâmica da folkcomunicação.

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Nesse sentido, podemos afirmar que caipira é o habitante do mato, mulher ou homem que não vive na povoação, habita o interior. Em geral, não possui instrução ou trato social, não sabe vestir-se ou apresentar-se em público, em virtude de seu jeito tímido e desajeitado. A cultura caipira se define pela rusticidade presente na fala, nos usos, nas técnicas empregadas cotidianamente para a sua sobrevivência, nos cantos, nas lendas que a cultura da cidade aos poucos vai destruindo. Entretanto, cabe ressaltar que essa cultura ainda existe ou ainda é memória de alguns idosos que benzem com ramos de arruda e curam feridas, que acreditam em assombrações e seres fantásticos que habitam as matas, que contam histórias ouvidas de seus pais e avós, que tocam, cantam e dançam músicas de viola, que cozinham em fogões a lenha, que cultivam a terra e animais para sua própria sobrevivência, valorizando as festas, as rezas e as comidas tradicionais (São João, forró, festa de Reis, ladainha, presépio, via sacra, cuscuz, pamonha e curau de milho, entre outras). É preciso pensar no caipira como aquele que manteve a fusão entre a herança portuguesa e a forte tradição indígena e, mais que isso, conserva uma cultura que sofre alterações decorrentes do avanço tecnológico, informacional e da cultura de massa. Revista Matteria Primma

É preciso pensar no caipira como um homem que preservou a herança portuguesa nas suas antigas formas. Segundo Argôllo & Morgado de Abreu.5 É farto e pitoresco o repertório de crendices, superstições, estórias, repetidas por gerações, principalmente nos lugares onde as “rodinhas” para contar “causos” não sofrem a concorrência do cinema, televisão e outras modernas formas de diversão.

A cultura caipira não é e nunca foi um reino separado, uma espécie de cultura primitiva independente, como a dos índios. Ela representa a adaptação do colonizador ao Brasil e, portanto, veio na maior parte de fora, sendo sob diversos aspectos sobrevivência do modo de ser, pensar e agir do português antigo. Quando um caipira diz “pregunta”, “a mó que”, “despois”, “vassuncê”, “tchão (chão)”,”dgente (gente)”, não está estragando por ignorância a língua portuguesa, mas apenas conservando antigos modos de falar que se transformaram. É preciso pensar no caipira como um homem que manteve a herança portuguesa nas suas formas antigas, mas é preciso também pensar na transformação que ele sofreu aqui, fazendo do velho homem rural brasileiro o que ele é. “Tabaréu”,”mat uto”,”capiau”,”caipira” e o que mais haja, ele é produto e, ao mesmo tempo, agente muito ativo de um grande processo de diferenciação cultural própria. Na extensa gama dos tipos sertanejos brasileiros, poderia ser considerado “caipira” o rural tradicional do sudoeste e de 5.  RENÓ, 2006, p. 7.


porções do oeste, fruto de uma adaptação da herança cultural (fortemente misturada com a indígena) às condições físicas e sociais do Novo Mundo. Na primeira metade do século, o caipira ainda era espoliado e miserável na maioria dos casos, porque, com o passar do tempo e do progresso, quem permaneceu caipira foi a parte velha da população rural, sujeita às formas mais drásticas de expropriação econômica, confinada e quase compelida a ser o que era, quando a lei do mundo a levaria a querer uma vida mais aberta e farta, teoricamente possível. Foi então que a vida do caipira se tornou cada vez mais um espetáculo, assunto de curiosidade e divertimento do homem da cidade, que, instalado na sua civilização e querendo ressaltar este “previlégio”, usava aquele irmão para provar como ele tinha prosperado. Em seu modo de vida, o caipira não havia senti-

do a acumulação de capital, daí a rusticidade ser uma das suas características. Com a necessidade cada vez maior de acumulação de capital pela sociedade moderna, o caipira tornou-se também um trabalhador assalariado e o seu modo de vida foi totalmente inserido no mundo da mercadoria. Geralmente retratando seu cotidiano, compõe músicas acompanhadas pela sua viola. E assim, no decorrer dos dias e noites, anima sua família, seu vilarejo, seus amigos, cantando, ao som da viola caipira, as modas inventadas no decorrer de sua rotina. Hoje, alguns historiadores dizem que a cultura caipira pode entrar em extinção, mas, segundo Renó (2006) e de acordo com outros estudos, acredita-se que as pessoas tendem a buscar cada vez mais essa cultura na tentativa de resgatar sua identidade roubada pela globalização.

A poesia da moda de viola A moda de viola destaca-se como o maior exemplo da expressão da música caipira brasileira, entre outros estilos e ritmos formados a partir de toadas, cantigas, viras, canas-verdes, valsinhas e modinhas trazidas pelos europeus. As formas primeiras da moda caipira chegaram ao Brasil no coração quinhentista dos invasores portugueses. Pelo Brasil, esse dizer cantado passou pela mestiçagem de indígenas e escravos africanos, produzindo seus gêneros mais reconhecidos: o cururu e o cateretê, além da moda de viola, que, pela fabulação romanesca e legendária, assemelha-se aos cantares medievais ibéricos – literatura de tradição oral florescida no século XII.

Segundo o pesquisador Sant’Anna (2006), a moda caipira de raízes é originalmente branca nas formas e meios de expressão e mestiça no enlevo de legendárias histórias e emoções. Não é fruto de uma raça genuína, mas da mistura étnica nacional – “a geléia geral brasileira que o jornal do Brasil anuncia” –, poetizaria Gilberto Gil. A música revela força criativa, alegria, tristeza, dramas e devoções; a moda de viola é caipira de raiz, com sua identidade consagradora das populações que habitam e revivem sentimentos ancestrais nas regiões mais populosas do país, de forma característica de folclore, em São Paulo, sul de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

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A moda de viola é considerada uma poesia lírico-narrativa, trazendo consigo ritmos e cânticos, atravessando gerações e gerações. Na estrutura poética da moda de viola, podem ocorrer variáveis sistemas de rimas, que são determinadas formas diferentes de se construírem as estruturas formais do verso. (...) Ela se relaciona à poesia da literatura de cordel, ao pasquim e às décimas dos trovadores gaúchos. Em sua estrutura poética (...), a melodia vocal, de inventiva do modinheiro que fez os versos, tem andamento leve e ritmo de particularidades discursivas, nos exemplos mais tradicionais.6

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Quadras ou quadrinhas, sextilhas, oitavas, décimas etc., são cantadas através de uma estrutura que permite solos de viola e versos longos, muitas vezes intercalados por refrões e letras extensas, que contam fatos históricos e acontecimentos marcantes da vida das comunidades onde são feitas, ganhando, as modas de viola, vida independente do catira. A moda, este gênero musical, surgiu como uma manifestação de cultura espontânea, do folclore, a arte de cantar “agregadora” e festeira, contar causos e também recitar silêncios, de maneira que fundamenta “expressões brasileiras de literatura oral-popular”, declara Sant’Anna (2006). “Dá-se em função de fatos de âmbito nacional, regional ou local e, às vezes, individual, que tocam o sentimento do modinheiro”, afirmou Lima (1987, p. 35). O 6.  LIMA,1987, p. 35.

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modinheiro escreve a moda e depois, com auxílio da viola, vai compondo a melodia, que acompanha, para depois memorizá-la. É comum algumas modas de viola terem o nome de ABC ou décima. A estrutura ABC vem da poesia que apresenta, no início de cada estrofe, uma letra do abecedário e até o til. A décima, entretanto, tem a significação de poesia narrativa, podendo ser em quadras, sextilhas, oitavas ou décimas. O instrumento acompanhante é usual-mente a viola de dez cordas ou cinco cordas duplas, que faz os rosqueados ou harmonias nos intervalos e pode executar o ponteado ou melodia, em intervalos de terças. As melodias das modas e os contos são repletos de ritmos e alma, explorando a rima. Assim como na literatura de cordel, os modinheiros recitam os versos de forma “quase” cantada. A linguagem é utilizada com fins estéticos e o seu “sentido”, de igual importância�������������� , explora sempre temas que incluem fatos do cotidiano, episódios históricos e temas religiosos. É comum o “modinheiro” criar seus versos improvisadamente, diante de um acontecimento ou uma pessoa que se queira homenagear. As formas variaram pouco ao longo do tempo. Como poesia, as modas trazem, no seu sentido mais restrito, parte da linguagem verbal e, por meio de uma atitude criativa, transfiguram-se em sua forma mais corrente e usual (a prosa), ao usar determinados recursos. A oralidade aparece, na poesia, sempre como referência quase obrigatória, aproximando assim esta “arte” a esse gênero musical.


Na poesia da moda de viola, utilizase o recurso da licença poética, que é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando uma liberdade necessária para recorrer a recursos como o uso de palavras populares, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo. Isso implica ao modinheiro toda liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso “rompa”, de certa forma, com as normas da gramática. A moda de viola traz ���������������� alegria misturada a melancolias. Esse cantar carrega lembranças de antigas canções portuguesas, da desolação amargurosa do escravo, da ingenuidade do indígena, o que se transforma no sangue sertanejo. E, através desse instrumento, vibram a música e o coração dos modinheiros e dos ouvintes. Com uma alegria transpirada de melancolias, esse cantar possui a réstia de antigas louvações portuguesas, um fundo de desolação e amargor do escravo, a atmosfera lânguida e taciturna do indígena, ares de gravidade e compenetração existencial com que se ergue o sangue sertanejo. São pulsares da tristeza de um cam-

ponês lusíada, degredado, exilado e saudoso, do índio espezinhado no desterro em sua terra e dos braços e corações africanos, amargurados nos grilhões escravocratas.7

De maneira que esse som da viola destaca-se como o “jeito choroso” para acompanhar as modas de “causos” e “assucedidos” que provocam entristecimento e até lágrimas, e mesmo alegrias e regozijos, bem como o acompanhamento das músicas de cunho religioso, como as de folia do Divino ou de Reis e da dança de São Gonçalo. Portanto, percebe-se que o fruto da moda de viola é a poesia da terra. A música caipira de verdade é muito bem representada, diferente do barulho do sertanejo comercial. A moda de viola conta casos e traz saudades. Os exemplos a seguir, retirados do livro Moda de viola, de Rossini Tavares de Lima, apresentam uma vasta documentação de temas de moda de viola.

7.  Disponível em http://www.alomusica.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=364 Acessado em 11/03/2006.

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Tema: mundo, cidade e fazenda 1Sorocaba foi fundada Em um, seis, cinco e quatro, Tinha um grande territoro Cantando eu relato. Tinha bastante terreno, Nesse tempo era mato, Na capital dos tropeiros Tinha muito fazendeiro Terreno era barato.

Doc. Palmiro Miranda. Col. Escola de Folclore (LIMA, 1987, p. 40)

2Feis Adão e feis a Eva I pois nu mundu pra sementi, I formô u Paraísu I deu a eles di presenti; Não precisa te orgulhu Qui nóis somu tudu parenti, Nóis somu tudu irmão, Tinha muito fazendeiro Terreno era barato.

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Col. José A. Teixeira (LIMA, 1987, p. 40)

Tema: estrangeiros, jogo e medicina 1A pomada de enxofre Usa dela quem quizé: Tem curado muita sarna, Da cabeça até os pé.

Essa coceira não cessa, Não deixa a gente dormir: Enfio a unha, vou coçando, Arranhando até ferir. Col. Orlando Torres (LIMA, 1987, p. 50)

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2Aqui vai minha receita De todas a mais mió: Uma cuié de arcaçur Com duas cuié de carijó, Pondo quatro de jarrinha Inda fica mais mió. Arcaçur, carijó e jarrinha, A receita que fez presente, Que cura dor de barriga, Dor de perna e dor de dente. Col. Orlando Torres (LIMA, 1987, p. 50)

Tema: religião, caçada e animais 1-

Cidade de Tambaú Adiante de Santa Rita, Onde está o padre Lima Pra curar quem necessita, Mostrando grande milagre Pras pessoa que acredita, Todos aqueles que merecem As suas graças benditas, Cura cegos e aleijados E as pessoas paralíticas. Inventei essa modinha No dia 21 de abril, Em homenagem aos católicos Foi que eu mandei imprimir, Deus te salve, padre Lima, Que abençoes muitos mil, Nossa Senhora Aparecida, Com seu manto cor de anil, É a nossa protetora, É padroeira do Brasil. Doc. De Dionísio Cassemiro. Col. Museu de Folclore (LIMA, 1987, p. 52-53)

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2A hora di iscalá u jogu Qu’eu achei muntu ingraçadu, U sapu jogo nu golu Pur sê u bichu mais trenadu. U cueiu béqui di espera Fico muitu entrusiasmadu; U tatu béqui di avançu Cerafu era u viadu. U calangu jugo na extrema Pur se bichu mais veiacu, U jacaré jugo na meã, Centefô era u macacu. Col. José A. Teixeira

Moda de viola –110–

(Cantada na fazenda Pouso Frio, em Pindamonhangaba, SP. Recolhida em 1954.) Eu tava na minha casa Sem tê nada que pensá, Eu chamei a cachorrada Eu fui pro mato caçá.

Eu puxei da espingarda Sem corage de atirá, E a diaba fez pich-póch Nem escorva quis quebrá.

Eu trelei os meus cachorros Pra mim não separá, O pombinho cô Vinagre, Faceira cô Corumbá.

Eu vortei pra minha casa Fiquei muito aborrecido, Mais não contei pra ninguém O que tinha assucedido.

Primêro bicho que vi Que me féis adimirá Foi um lagarto pintado que me feis arrepiá.

Mais quando chegô mais tarde Arresorvi a contá, Toda gente deu risada Quá, quá, quá, quá, quá, quá, quá. (LIMA, 1987, p. 61)

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Conclusão Podemos afirmar, como conclusão da pesquisa realizada, que a cultura caipira ainda está viva, presente em várias regiões do país, mesmo nas jovens cidades, e impregnada na personalidade das gerações brasileiras que se sucedem, sobrevivendo à globalização cultural à qual diversas regiões estão sujeitas. A grande massa ainda cultiva esses conhecimentos, esses rituais populares, presentes no grupo desde a chegada dos europeus ou fruto do período colonial. Chegamos à conclusão de que a cultura caipira vai além dos nossos conceitos propriamente ditos. Ela não é apenas passada

de geração a geração por questão de mérito ou de honra; ela é imposta de forma a fazer parte da vida e da história dos caipiras. Ela retrata a realidade de uma época, é a manifestação de um povo através de ritmos, é o retrato do cotidiano de um povo rural. Podemos dizer que, além de a cultura caipira ainda permanecer em nossa vida, temos uma tendência a um aumento da procura por ela. As pessoas hoje, no meio dessa crescente globalização, buscam suas raízes, a identidade que se perdeu e, com isso, apegam-se a alguma parte da cultura. Neste caso, alguns acabam se apegando à cultura caipira.

Bibliografia BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: teoria e metodologia. São Bernardo do Campo: Umesp, 2004. CANDIDO, Antonio. Os parceiros do rio Bonito. São Paulo: Editora Pensamento, 1971, 2. ed. CANDIDO, Antonio. “A região de Jaú: problemas de urbanização em manchas de solos ricos.” Cadernos de Ciência da Terra. São Paulo: Instituto de Geografia, USP, 1972. CASCUDO, Luís da Câmara. In: PELEGRINI FILHO, Américo. Antologia do folclore brasileiro. São Paulo: EDART, 1982. LIMA, Rossini Tavares de. Moda de viola, poesia de circunstância. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura, 1997. RENÓ, Denis. Folkcomunicação hereditária: a transmissão das tradições entre as gerações paulistas. Anais do Congresso Lusocom, 2006. CD-Rom, 2006.

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Filmografia Tradições paulistas, cadê?. Produção de Denis Porto Renó. São José dos Campos: DR vídeo, 2003. 1 videocassete (26 minutos). Ponteio. Produção de Francisco Paes et al. São Paulo: LISA, 2001. 1 videocassete (54 minutos) Webgrafia Romildo Sant’Anna – artigo: “A moda é viola – Ensaio do cantar caipira”. Disponível em: http://www.alomusica.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=364. Acessado em: 23/04/2006. Rosa Nepomuceno – Música caipira – : Clique Music. Disponível em: http://www.cliquemusic.com.br/br/Generos/Generos.asp?Nu_Materia=19. Acessado em: 23/04/2006. ____________. A identidade rural do Brasil. Disponível em: http://www.fenae.org.br/fenaeagora/2001/28/cultura.htm. Acessado em: 24/04/2006 –112–

____________. “Do êxodo rural à indústria cultural”. Jornal da Unicamp. Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/julho2003/ju219pg06.html. Acessado em: 24/04/2006. MAYNARD, Alceu. Viola cabocla. Disponível em: http://www.widesoft.com.br/users/pcastro4/viola.htm. Acessado em: 25/04/2006. ___________. Minicurso de viola caipira. Disponível em: http://www.mvhp.com.br/violac1.htm. Acessado em: 25/04/2006. __________. Viola tropeira. Disponível em: http://www.violatropeira.com.br/Index.htm. Acessado em: 25/04/2006. ___________. Guimarães Rosa da viola caipira. Disponível em: http://www.robertocorrea.com.br/na_imprensa/imprensa_1.htm. Acessado em: 25/04/2006. ____________. O caipira por Vanda Catarina P. Donadio: a origem caipira. Disponível em: http://www.violatropeira.com.br/origem.htm. Acessado em: 25/04/2006. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_de_cordel. Acessado em: 25/04/2006. Revista Matteria Primma


Armadilhas para o corpo: os modelos de beleza e a mídia Body Trap’s: the beauty patterns and the media Cláudia Regina Benedetti Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo. É professora das Faculdades COC e do Centro Universitário Barão de Mauá. E-mail: cr-benedetti@uol.com.br.

Lucília Maria Sousa Romão Professora Doutora da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP. E-mail: tantpalavras@uol.com.br Resumo – O corpo é o lugar no qual se inscrevem/escrevem as leis sociais por meio de práticas e discursos; é o mediador de saberes, o resultado de um discurso sociocultural e histórico. Sendo a linguagem uma forma de ação e prática social, o corpo se faz meio e instrumento da linguagem, lugar no qual se organizam os significados sociais e culturais e que explicita uma maneira de pensar e agir. Neste processo de “construção do corpo”, o que interessa é o discurso produzido pela mídia atual e materializado em práticas sociais e condutas corporais, exemplificado pelo corpo ano-

réxico, magro, padronizado em ínfimos quilogramas de carne e osso, materializado em top models e vendido nas páginas de revistas de grande circulação. O que se quer revelar é essa luta expressa nas práticas cotidianas e difundida pelo discurso midiático, que se vale, como qualquer discurso, da retomada ou não de enunciados produzidos historicamente, possibilidade potencializada por nossa “sociedade arquivística”. É a idéia de “conservação” da memória pelos arquivos exteriores – mídia – que justifica a eficácia do discurso sobre o corpo.

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Abstract – The body is the place where the social laws are written through practices and speeches, it is the knowledge mediator, the result of a historical, social and cultural speech. As the language is a social practice and a way of action, the body makes itself as a way and a instrument of the language, where the speech is explicited. What is important for us, during the “body construction” process, is the speech made by present media and materialized in social practices and body behavior, specifically

the anorexy and thin body, standardized in meat and bone kilogram, materialized in “top models” and sold on the pages of major magazines. It is revealed the fight expressed on everyday practices and widespread through media speech, which makes use of any speech, retaking or not the expositions historically produced, potentialized by our “society file”. It is the memory preservation idea by the outer files – media – which justifies the effectiveness of the speech about the body.

Introdução

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O trabalho do analista do discurso é como o de um arqueólogo, que pacientemente revela com seu delicado pincel os costumes ambientados num passado distante; tenta reconstituí-los buscando interpretações do passado para indagar o presente e o futuro. Os pedaços de cerâmica que antes foram um jarro, um vaso, hoje já não o são, mas nunca perderão suas características, pois são a materialidade do passado que preenchem algumas lacunas e esvaziam tantas outras. Assim, também, podemos entender a memória discursiva (um dos pincéis do analista do discurso) filiada às idéias de Pêcheux, compreendida como um entrecruzamento da “memória mítica, da memória social inscrita em práticas e da memória construída do historiador” (PÊCHEUX,1999, p.50); uma memória que possui materialidade – e, por isso, pode ser recuperada – e mantém “uma regularização preexistente com os implícitos que ela veicula” e, ao mesmo tempo, “desregula” essa rede de implícitos (op. cit., p.53). Revista Matteria Primma

O cientista se vê, agora, diante de lacunas que necessitam ser preenchidas. Essa busca pela construção de uma memória imprime no material as marcas do cientista; o analista do discurso também se ocupa em recuperar sentidos quebrados, heterogêneos, fragmentados e opacos. É nesse momento que, “sob o ‘mesmo’ da materialidade da palavra, abre-se, então, o jogo da metáfora, como outra possibilidade de articulação discursiva.Uma espécie de repetição vertical, em que a própria memória esburaca-se, perfura-se, antes de desdobrar-se em paráfrase” (op. cit., p.53). A memória discursiva é como o vaso que o arqueólogo descobre: quebrada, lacunar, com pedaços unidos pela “cola” do interdiscurso, que sustenta os discursos fazendo-os parecerem inteiros e unos de sentido, e também pela ideologia que promove um efeito de juntar as palavras ao pensamento e ao mundo. Porém, a memória não poderia ser concebida como uma esfera plena, cujas bordas seriam trans-


cendentais históricos e cujo conteúdo seria um sentido homogêneo, acumulado ao modo de um reservatório: é necessariamente um espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos, de regularização...Um espaço de desdobramentos, réplicas, polêmicas e contra-discursos (op. cit., p.57), um vaso enterrado por camadas distintas de areia que permitem “ver” os pedaços, pegar alguns, reconstituí-los, mas que fazem silenciar outros, esconder alguns rastros, ainda que continuem a existir e ter algum significado. É com base nesse conceito exposto que apresentaremos o trabalho a seguir, na tentativa de compreender o discurso produzido pela mídia atual no que tange ao processo de “construção do corpo”. Entende-se, assim como Foucault, o corpo como lugar no qual se inscrevem as leis sociais por meio de práticas e discursos: Mas o corpo também está diretamente mergulhado num campo político; as relações de poder têm alcance imediato sobre ele; elas o investem, o marcam, o dirigem, o suplicam, sujeitam-no a trabalhos, obrigam-no a cerimônias, exigemlhe sinais. Este investimento político do corpo está ligado, segundo relações complexas e recíprocas, à sua utilização econômica; é numa boa proporção, como força de produção, que o corpo é investido por relações de poder e de dominação; mas em compensação sua constituição como força de trabalho só é possível se ele está preso num sistema de sujeição onde a necessidade é também um

instrumento político cuidadosamente organizado, calculado e utilizado; o corpo só se torna força útil se é, ao mesmo tempo, corpo produtivo e corpo submisso. Essa sujeição não é obtida só pelos instrumentos da violência ou da ideologia; pode muito bem ser direta, física, usar a força contra força, agir sobre elementos materiais sem, no entanto, ser violenta; pode ser calculada, organizada, tecnicamente pensada; pode ser sutil, não fazer uso de armas nem do terror e, no entanto, continuar a ser de ordem física. Quer dizer que pode haver um “saber” do corpo que não seja exatamente a ciência de seu funcionamento, e um controle de suas forças que seja mais a capacidade de vencê-las: esse saber e esse controle constituem o que se poderia chamar de a tecnologia política do corpo.1

O corpo é, visto isso, mediador de saberes e resultado de uma construção sociocultural e histórica. Podemos, então, mobilizar o conceito de memória discursiva, pois entendemos que tais discursos sobre o corpo possuem um domínio de memórias pré-construído e materializado, por sua repetibilidade (ou não). Ressaltamos o fato de que os enunciados, apesar de recorrentes e repetíveis, não pertencem sempre à mesma enunciação, já que suas condições de produção e existência transformam-se historicamente. Por isso, para recuperar os dizeres sobre o corpo – a memória discursiva mate1.  FOUCAULT, 1987, p.26.

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rializada nas revistas analisadas – é preciso tratá-los como interdiscurso, “definido como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente” (ORLANDI, 2005, p.31). O interdiscurso pressupõe o que os dizeres – materializados em uma memória discursiva – significam a partir de outros dizeres passados ou atuais. Todo dizer, na realidade, encontra-se na confluência de dois eixos: o da memória (constituição) e o da atualidade (formulação). E é desse jogo que tiram seus sentidos (op. cit, p.33). A partir dessa discussão, iremos interpretar os efeitos de memória nos discursos e imagens que circulam na mídia a respeito do corpo anoréxico tendo em vista o fato de que sua exposição tem sido recorrente. Esse corpo anoréxico, magro, padronizado em ínfimos quilogramas de carne e osso, representado por top models e anunciado nas páginas de revistas de grande circulação, revela um modo de o sujeito estar preso a uma armadilha estética, alienado por uma discursividade que circula em escala mundial. Essa discursividade permite-nos questionar como a mídia é grande formadora de opinião sobre esse corpo, com grande poder de produção, constituição e circulação de sentidos, materializando-os a partir de uma memória discursiva sobre o corpo feminino. Arquivado em manuais, na literatura, nas escrituras médicas, na iconografia, na pintura, nos livros de moda e nas revistas, o corpo feminino tem sido domesticado e aprisionado pelo sentido dominante (ORLANDI, 1999), tornandose, assim, um corpo catalogado, que atualiza, na trama do discurso midiático, uma rede de sentidos já ditos em outros contextos pela religião, pela moda, pela arte etc.

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Desse modo, interpretar o corpo anoréxico nos remete ao permanente jogo de interpretar o dito e o não-dito, visto que ele tanto cava um efeito de ausência, dado pela magreza da carne e pela contenção física do corpo no espaço, quanto marca o excesso de uma obsessão por apagar o volume, consumir a carne até que dela se tenha pouco vestígio. Perguntamo-nos o quanto de excesso existe nessa falta de e do corpo? E como a mídia ordena o que pode e deve (ou não pode e não deve) ser dito em relação a ele? O corpo esquálido, paginado nas revistas, faz circular discursos que se interpenetram, completam-se e distanciam-se, que são recuperados e esquecidos, apagados e evidenciados. Se entendermos que o corpo é o lugar no qual se organizam os significados sociais e culturais e que esse processo se materializa não só na fisicalidade do corpo, mas, também, no discurso produzido, no nosso caso pela mídia, admitimos, então, que ler esse discurso implica entender que a mídia é produtora de sentidos e lugar privilegiado (por sua extensão massificante) para a manutenção de ideologias. Privilegiado, pois estabelece uma relação imaginária entre o sujeito e suas condições de existência, uma relação simbólica que recai sobre seu principal – ou único – “instrumento de produção”: o corpo. O assujeitamento conhece sua exterioridade no próprio corpo, a ideologia impõe-se sobre a constituição biológica do sujeito, e aquilo que esse acredita ser natural é, na verdade, resultado de práticas discursivas historicamente construídas.


Os modelos de beleza e a mídia A prática discursiva sobre o corpo não é exclusividade do aparelho midiático, ela se constrói historicamente e está materializada no que Pêcheux chama de arquivo: “campo de documentos pertinentes e disponíveis sobre uma questão” (PÊCHEUX,1997, p.57). Podemos complementar – ainda não sem controvérsias – o conceito pecheutiano com o entendimento de Foucault sobre o conceito de arquivo como um sistema que rege o aparecimento dos enunciados como acontecimentos singulares (...) ele faz aparecerem as regras de uma prática que permite aos enunciados subsistirem e, ao mesmo tempo, modificarem-se regularmente (apud. 2004, p. 41), como veremos na análise a seguir. A convicção de que os conceitos citados pelos dois são complementares está baseada na idéia de materialidade do primeiro e de imaginário social do segundo. Pêcheux nos chama atenção para o arquivo enquanto documento, formado pelos aparelhos ideológicos do Estado (a mídia, por exemplo), e Foucault nos chama atenção para sua dimensão microfísica de imaginário, de sujeitos pulverizados no tecido social, que não deixam de se assujeitar a condições de produção e existência: tecnológicas, ideológicas, lingüísticas; sujeitos que em sua “individualidade” reproduzem as relações de poder às quais se assujeitam. Esse é o nosso corpo/arquivo: matéria-prima da mercadoria vendida pelo discurso midiático aliado ao grande capital e à lógica de um sistema que entende os sujeitos como indivíduos, os indivíduos como consumidores e os consumidores como coisas; é também resultado de prá-

ticas individuais, ou individualizadas, de embelezamento e cuidados de si que são, na realidade, a perpetuação da versão do aparelho midiático de um corpo construído, glamurizado, assujeitado pelo discurso da beleza perene, discurso esse que, em sua opacidade, não revela a condição de cerceamento desse sujeito diante da ideologia e de seu meio de produção mais eficaz – a mídia. O que os discursos não revelam é que a beleza é uma mercadoria que permite produzir outras tantas mercadorias. A leitura desse “corpo midiático” expõe também suas multiplicidades e as contradições de um discurso que perpetua o corpo individual e passivo – seja na forma medicalizada das revistas “especializadas” (Boa Forma), seja na forma de entretenimento das revistas de variedade (Capricho e Época) – tão conveniente à lógica do capital, pois, como diria Marx: “A produção cria o consumidor (…) A produção produz não só um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto” (MARX,1982). O que faremos a partir de agora é, na verdade, um exercício de análise, já que esta é parte de um projeto ainda em construção. Vale dizer que devemos entender como pressupostos todos os conceitos trabalhados até então. A leitura dos discursos em questão implica entender o modo pelo qual a mídia produz, estabiliza e faz circular sentidos, materializando dizeres que são sustentados pela memória discursiva. A hipérbole midiática expõe em suas páginas um corpo tido como moderno, para passar a idéia de tensão, luta e disputa pelos sentidos de beleza.

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Como apontado anteriormente, esses sentidos passam pelo instrumento midiático, e os sujeitos responsáveis por este trabalham para perpetuar a compreensão desses sentidos de beleza:

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Il faut insister sur cette massificacition. Un vertige consommatoire l’accompagne, l’embellissesment devenant pour la première fois une pratique aussi diversifiée que généralisée : le chiffre d’affaires de seuls produits de beauté a quadruplé entre 1965 et 1985, clui des cosmétiques en général a doublé entre 1990 et 2000, passant de 6,5 à 12 milliards d’euros, les ventes dans les circuts de grand distribuition de plusieurs cosmétiques corporels augmentant elles-mêmes de 40% à 50% entre 2000 et 2001. Alors que le nombre de instituts de beauté a sextuplé entre 1971 et 2001, passant de 2300 à 14000, ou que celui de opérations de chirugie esthétique, décompté en milliers par an dans l’entre-deuxguerres, se compte aujourd’hui par centaines de milliers (...) Une révolution accompagne même cette progression imposant la liposuccion en pratique dominante, suivie de l’opération de paupières, de celle de la poitrine, toutes plus nombreuses que lifting. La silhouette l’emporte, imposant définitivement le « bas », sa référence active, mobile, sur un visage longtemps jugé dominant.2 2.  VIGARELLO, 2004, p. 228-229. É preciso insistir sobre essa massificação. Uma vertigem consumista a acompanha, o embelezamento torna-se, pela primeira vez, uma prática tanto diversificada quanto generalizada: a cifra dos negócios dos produtos de beleza quadruplicou entre 1965 e 1985; o ramo Revista Matteria Primma

Os modelos de beleza seguem uma lógica de mercado e é essa procedência comercial que permite dispor, em uma mesma revista, matérias tão contraditórias. A capa da revista Capricho (2006) traz como manchete o enunciado: “Anorexia: você pode viver sem ela”; a mesma revista dispõe no interior de suas página uma propaganda de outra revista, Boa Forma, destacando uma dieta : “–5 Kg em 15 dias com chá verde: desincha, desintoxica e acelera o metabolismo”. As duas enunciações dialogam, interpenetram-se, já que pressupõem um mesmo modelo de beleza: o corpo magro. Esse modelo traz impresso marcas de ausência e presença: a subtração de peso (“–5 Kg”) – enunciada com a precisão matemática de sinais e algarismos – está diretamente ligada à idéia de adição de saúde (“uma dieta absolutamente saudável”), e ser saudável e magra é ser bela (“a sua forma de ser bonita”). Esse não é um discurso novo – sua construção passa por outras enunciações, formuladas principalmente a partir do século XIX e pautadas em uma transformação dos meios de produção. Segundo Georges Vigarello, em Histoire de la Beauté, por volta de 1900, a arte de se embelezar ganha novos instrumentos e novas tecnologias permitem à dos cosméticos dobrou entre 1990 e 2000, passando de 6,5 a 12 bilhões de euros; as rendas no grande mercado de uma diversidade de cosméticos corporais aumentaram de 40% a 50% entre 2000 e 2001. Ao passo que o número de institutos de beleza sextuplicou entre 1971 e 2001, passando de 2.300 a 14.000, e as cirurgias estéticas, cuja recorrência de dava em milhares por ano durante o entreguerras, são hoje centenas de milhares (...) Uma revolução acompanha essa progressão, impondo a lipoaspiração como prática dominante, seguida pela operação de pálpebras e dos seios, tão numerosas quanto o lifting. A silhueta é o que importa, impondo definitivamente a preocupação com “a parte de baixo” (o quadril), sua referência ativa, móvel, sobre a face, julgada, por muito tempo, como dominante. (tradução do autor)


mulher novos modelos de beleza e à indústria, novos produtos de consumo:

mações ou causas que a ocasionam: o do padrão estético como conseqüência de um sistema econômico:

Que cette figure ait elle-même une origine hitorique et collective ne fait acun doute: l’avènement d’une société de services, la diffusion de la consommation, l’appartenance de l’individu à des «cercles» toujours plus différents de la vie sociele, ont aiguisé son aparente autonomie, sa «délocalisation», alors que s’accélèrent les mobilités et les marchés. Une intense personnalisation du paraître s’est imposée en phénomène de masse comme en principe immédiat de valorisation.3

C’est que la minceur actuelle ne peut se comprendre sans la référence à l’univers de mouvements, de rythmes, de sons de la culture contemporaine, un double registre même jouant sur l’érotisation comme sur la fonctionalité : corps plus sensibles, corps plus actifs. Le phénomène ets diffus, peu commenté et pourtant massif, lui aussi largement présent sur les écrans, les clips du show-biz, les scènes quasi domestiques de la télé-réalité.4

A valorização desse corpo massificado, coisificado, transformado em mercadoria, é percebida pela fala de uma modelo na reportagem de capa da revista Capricho: “Com 1,72 m de altura e 50 kg, ela contou que perdeu um trabalho porque estava obesa. E que, em outro teste, disseram que seu braço estava gordo”. Outras palavras da modelo: “Mãe, vou ficar tão magra, tão magra, que não vou perder trabalho algum” (Revista Capricho, 2006, p. 94). O corpo é ferramenta, instrumento de trabalho. O subtítulo “Distúrbios alimentares são um caso de vida ou morte” coloca a anorexia como uma exclusividade do discurso médico, encobrindo outras infor-

Empoeirado está também o sentido da estética em si; seu conceito está ligado à construção de uma imagem baseada nos manuais da modernidade, não sendo mais restrita aos livretos de comportamento dos séculos anteriores, tempo em que a gordura, ao contrário do sentido de obesidade que tem hoje, não significava somente saúde, mas também nobreza. Os “pneuzinhos” e as bochechas rosadas determinavam a posição social do sujeito; a estética era um construto que discursivisava uma posição social. As revistas e/ou os manuais da atualidade enunciam um corpo obcecado pela magreza: “preferia morrer do que engordar” (capa da revista Capricho), que não deixa de revelar também um estilo de vida.

3.  op. cit., p., 239. A preocupação com a imagem possui, por si só, uma origem histórica e social: a ascensão de uma sociedade de serviços, a difusão do consumo e o indivíduo inserido em diferentes grupos sociais consolidaram sua aparente autonomia, sua capacidade de deslocar-se rapidamente, concomitante à celeridade das pessoas e do mercado. Uma intensa singularização da aparência se impõe como fenômeno de massa, como medida imediata de valorização. (tradução do autor)

4.  op. cit., p. 247. Não se pode compreender a magreza atual sem se reportar ao mundo do movimento, do ritmo, dos sons da cultura contemporânea que explora a dupla significação da erotização e da funcionalidade: corpos mais sensíveis, corpos mais ativos. O fenômeno é difuso, pouco abordado, porém consolidado na tela do cinema, nos clips do “show-bis” e nas cenas cotidianas da televisão. (tradução do autor)

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Hoje, obesidade e anorexia são distúrbios, doenças, corpos contraditórios pertencentes à mesma lógica mercantilista, que “apaga” os corpos excessivos e escreve/inscreve corpos suprimidos de carne e gordura nas páginas das revistas, nas películas de Hollywood e nas telenovelas. Os corpos desenhados pelo discurso midiático ordenam um dizer que vai além da estética

do embelezamento, um dizer que apaga ou deixa implícito outros sentidos. Nosso trabalho pretende soprar a poeira, escavar os sentidos desse corpo, juntar seus pedaços na possibilidade de apreendê-los – claro que não em sua totalidade, pois sabemos que o analista do discurso, como o arqueólogo, possui um objeto fragmentado, falhado...lacunar.

Bibliografia COLOMBO, F. Memória e identidade. In: Os arquivos imperfeitos. São Paulo: Perspectiva, 1997. COURTINE, J.J. “O chapéu de Clementis. Observações sobre a memória e o esquecimento na enunciação do discurso político”. In INDRUSKY, F. e FERREIRA, M. C. Os múltiplos territórios da análise do discurso. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1999.

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_______________. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1996. _______________. “O enunciado e o arquivo: Foucault (entre)vistas”. In: SARGENTINI, V. e NAVARRO, P. Foucault e os domínios da linguagem: discurso, poder, subjetividade. São Carlos: Claraluz, 2004. MARX, Karl. Para a crítica da economia política: salário, preço e lucro; o rendimento e suas fontes: a economia vulgar. [introdução de] Jacob Gorender; [tradução de] Edgar Malagoli, Leandro Konder, José Arthur Giannotti. São Paulo: Abril Cultural, 1982. ORLANDI, E. P. Análise de discurso. Campinas: Pontes, 2005. PÊCHEUX, M. “O papel da memória”. In: ACHARD, P. Papel da memória. Campinas: Pontes, 1999. _______________. “Ler o arquivo hoje”. In: ORLANDI, Eni P.(org). Gestos de Leitura: da história no discurso. Campinas: Editora da Unicamp, 1997. CAPRICHO. São Paulo: Ed. Abril, n. 1.006, 26 nov. 2006. VIGARELLO, G. Histoire de la beauté: lê corp set l’art d’embellir, de la renaissance à nos jours. Paris: Éditions du Seul, 2004. Revista Matteria Primma


Jornalismo escrito em Ribeirão Preto: empresas familiares e planejamento sucessório Cristiane Bassi Jacob Advogada, sócia fundadora do escritório Jacob e Jacob Advocacia. Especialista em Direito Processual Civil e Direito Empresarial, consultora jurídica, palestrante e articulista. <http://www.jacobejacob.adv.br> cristianejacob@jacobejacob.adv.br. A empresa e a família só sobreviverão e obterão êxito se a família servir a empresa. Nenhuma das duas conseguirá êxito se a empresa for dirigida em prol da família. Peter Drucker

Resumo – O presente artigo trata do tema do jornalismo escrito na cidade de Ribeirão Preto no que tange às empresas familiares, retratando a origem de alguns jornais, com a identificação dos percalços societários pertinentes à permanência do negócio, bem como da importância da realização do planejamento sucessório visando à continuidade do ramo

empresarial em família, à partilha em vida dos bens constantes do empreendimento com vistas ao bem-estar familiar ou até mesmo à alienação para terceiro. Palavras-chave – Jornalismo escrito; empresa familiar; planejamento sucessório; Ribeirão Preto

Introdução O tema apresentado neste artigo envolve questões relacionadas à imprensa escrita no âmbito jornalístico, bem como questões voltadas ao tema jurídico, posto que, diante de aspectos societários, mesmo que perfunctoriamente, não se tenha a pretensão de esgotar o assunto, pois há

vasto campo de estudo e casos práticos para análise e discussão. As empresas familiares estão presentes em todos os países do mundo e é expressiva sua contribuição social e econômica para o Brasil, uma vez que elas são responsáveis pela empregabilidade de milhares de brasi-

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leiros, assim como auxiliam na produção e na distribuição de bens e serviços.1 Justifica-se o presente estudo pela proporção elevada de empresas familiares em nosso país, notadamente no ramo jornalístico. Percebe-se que as empresas, de pequeno ou grande porte, estão voltando suas atenções à profissionalização dos setores empresariais, em razão da necessidade de planejamento sucessório pelo fundador do empreendimento, visando à continuidade dos negócios. O processo de transição de geração para geração, apesar de ser publicamente discutido, infelizmente não vem sendo implementado profissionalmente como o esperado, sinalizando, destarte, a necessidade de maior divulgação dentro das corporações, fazendo com que temas como a liderança, a confiabilidade, a transparência e o planejamento estratégico do fundador em relação aos seus descendentes sejam efetivamente concretizados, a fim de manter o negócio na família. João Bosco Lodi, especialista reconhecido em razão da grande capacitação em se tratando de empresas familiares, ponderou no painel intitulado “O jornalismo brasileiro visto pelos consultores”, in verbis: 1.  Do total de 145 empresas identificadas, observou-se que 84,13% são familiares, gerando 68,00% do total de empregos e as não familiares correspondem a 15,87%, contribuindo com 32,00% do setor pesquisa e pedia informações, na sua primeira parte industrial. Em Piracicaba, através dos dados obtidos, pode-se constatar que dos 14.602 empregos identificados, 9.504, correspondentes a 65,09% do total, são gerados pelas seis maiores empresas familiares e seis maiores não familiares. Destes 9.504 empregos, 5.524 são oferecidos pelas seis maiores empresas familiares (56,00%), enquanto 4.180 (44,00%) pelas seis maiores empresas não familiares (PEROZZO, Erica. et. al. A contribuição atual da empresa familiar na geração de empregos em Piracicaba: o caso do setor industrial. Disponível em <https://www. unimep.br/cepa/Artigos%20Pesquisa/artigos%20pdf%20 HOME/setor_industrial.pdf>. Acesso em 10 de novembro de 2007.

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(...) Não me lembro de ter visto, no Brasil, empresas como o Le Monde, dirigida por sócios jornalistas e profissionais da área. (...) Todas as empresas de comunicação brasileiras são familiares e além disso, em alguns casos, a geração fundadora já passou ou está na faixa dos 70 a 88 anos. (...) A pulverização do controle acionário traz, para a direção, um número de membros cada vez maior – o que constitui um sério problema administrativo. (...) 2

O processo de planejamento sucessório realizado por profissionais capacitados irá delimitar a possibilidade de crescimento do empreendimento no seio familiar ou se, frente às dificuldades, o melhor caminho seria a venda do mesmo a terceiros, partilhando-se o seu resultado entre o fundador e seus descendentes ou até mesmo outro caminho que reputem pertinente. O planejamento estratégico sucessório identifica pontos fortes e pontos conflitantes no contexto da empresa familiar, no intuito de formar um arcabouço em que os sucessores possam conservar a empresa familiar, o patrimônio e a instituição “família”. Questiona-se até que ponto o poder familiar se impõe ao societário. Outra questão relevante diz respeito à autonomia do sucessor dentro da corporação. Tais questionamentos são inerentes à sociedade familiar, posto que, a partir do momento em que ela se instituiu no mundo jurí2.  João Bosco Lodi. O filósofo que consertava empresas. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mem040920022.htm>.Acesso em 1 de junho de 2008.


dico, passa a ser um centro de interesses, com vida própria, pois é um ente com fim, interesse e objeto próprios. Por essa razão, o ente societário deve ser desvinculado da figura dos sócios. Nesse sentido, o sócio fundador e/ou seus sucessores que tenham interesses conflitantes com os interesses da sociedade devem se abster, preservando, assim, os valores societários. Os princípios de governança corporativos permeiam a eficiente gestão da

sociedade, representando, assim, uma administração com aplicação de princípios transparentes, na prática de atos que demonstram que o interesse societário se impõe aos demais por meio de processos de transparência administrativa do fundador e seus descendentes. Passa-se ao estudo de parte da história do jornalismo escrito em Ribeirão Preto para, em seguida, abordar os aspectos jurídicos pertinentes à empresa familiar e ao planejamento sucessório.

1. Jornalismo escrito em Ribeirão Preto-SP Na data de 7 de setembro de 1884, surgiu o primeiro veículo de comunicação da cidade de Ribeirão Preto-SP, intitulado A Lucta, fundado por Ramiro Pimentel. No entanto, sua trajetória foi breve, posto que a forte oposição dos governantes da época o impediu de prosseguir. Rubem Cione relata o quão bela e refulgente é a história da imprensa escrita e falada de Ribeirão Preto, o que sempre propiciou o progresso da localidade. Preconiza sobre o primeiro jornal da cidade: “A Vila precisava ter seu jornal próprio. Foi sob esse clima que, devidamente inspirado, Ramiro Pimentel concebeu a idéia e o propósito de fazer nascer o primeiro jornal que circulou em Ribeirão Preto (...)”3 Luís Carlos Eblak de Araújo e Sebastião Geraldo pontificam acerca do início da imprensa jornalística escrita na cidade de Ribeirão:

3.  Obra de Rubem Cione, localizada na Caixa no 75, constante do Arquivo Público Municipal de Ribeirão Preto.

A imprensa de Ribeirão Preto nasceu em 1884 com o periódico A Lucta, idealizado por Ramiro Pimentel. Nessa época, no entanto, os veículos de comunicação não tinham durabilidade longa. A Lucta logo fechou depois de algumas edições. O mesmo ocorreu com dezenas de outros periódicos das últimas duas décadas do século XIX. Apenas a partir de 1898, com a fundação do Diário da Manhã – em 1905, foi a vez de A Cidade –, o jornalismo local começou a se consolidar. Apesar de não ter vivido um período de reformas editoriais, como ocorreu nas principais capitais do país, o jornalismo local teve um período de efervescência muito grande nos anos 60. O clima político da Guerra Fria também refletia o jornalismo local, de modo que Diário da Manhã e Diário de Notícias eram jornais mais identificados com o espectro esquerdista, ao passo que A Cidade e O Diário

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se encaixavam mais na definição de periódicos conservadores. 4

Lívia Maria Komar, em monografia, comenta: Alguns outros jornais surgiram em Ribeirão Preto com a intenção de divulgar os fatos da cidade, mas nenhum conseguiu acompanhar o desenvolvimento econômico e político do município. Como furacões, os periódicos chegavam e em pouco tempo desapareciam. Uns até passaram por mais de uma tentativa de êxito, como o semanário político fundado por Manoel França em 1889. Das três vezes que tentou circular na cidade, fracassaram todas. 5 –124–

Por anos, a cidade permaneceu sem nenhuma publicação jornalística, e em 1889 surgiu o semanário de caráter político O Ribeirão Preto, fundado por Manoel França, sendo Antonio Guimarães responsável pela segunda fase do jornal. O Sorriso foi o primeiro jornal a causar repercussão de ordem política, tendo seu fundador sido assassinado em razão do rígido padrão jornalístico para a imprensa local na época. 6 O jornal O Repórter, fundado em 15 de novembro de 1891, inaugurou um padrão de jornalismo adiantado para a época, 4.  ARAÚJO, Luís Carlos Eblak de; GERALDO, Sebastião. Memória do jornalismo impresso de Ribeirão Preto – o início da profissionalização das redações. Disponível em: <http://www. unaerp.br/comunicacao/inrevista/edicoes/edicao04/sebastiao_eblak.pdf>. Acesso em 10 de maio de 2008. 5.  KOMAR, Lívia Maria. Monografia Jornal Verdade: reconstruindo a história. Unaerp, 2002, p. 22. 6.  Idem ibidem, p. 28.

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cercado de profissionais como Juvenal de Sá, Alfredo Sodré e Tito de Sá, auxiliados por Elpídio Gomes e Braz Arruda. 7 Juvenal de Sá, em 15 de fevereiro de 1897, lançou O Jornal do Oeste. A publicação teve pouco tempo de duração e, em seguida, em 1o de junho de 1898, Sá fundou o primeiro jornal diário da cidade, O Diário da Manhã, que no ano de 1906 foi transferido para o comando de Osório Corrêa e, posteriormente, vendido a Sosthenes Gomes, em 1909. Em 1939, o jornalista Costábile Romano adquiriu o jornal e, depois de décadas de dedicação, alienou-o para Oswaldo de Abreu Sampaio, fundando, posteriormente, em 1955, O Diário. 8 Em razão do falecimento de Costábile Romano em 1967, o comando do jornal passou a ser de Marcelino Romano Machado, que o dirigiu por 17 anos. Segundo Júlio José Chiavenato, o referido jornal inaugurou uma nova fase do jornalismo local: Era uma profissionalização que começou com o Edmundo Romano, irmão do Costábile (...) O projeto do Costábile era o seguinte: o Toninho Romano iria administrar o jornal e o Marcelino iria administrar o jornalismo. Só que o Toninho Romano morreu num acidente e ficou só o Marcelino. O Marcelino foi péssimo empresário em termos de manter a 7.  BERZOTTI, Andréa. Et al. Monografia A identidade do jornalismo ribeirão-pretano. Curso de Jornalismo. Unaerp, 1996, p. 29. 8.  O Diário da Manhã foi dirigido por Edésio Orbilon, Juvenal de Sá, Abílio de Camargo Neto, Veiga Miranda, Costábile Romano, Oswaldo de Abreu Sampaio, Luiz Antônio Ribeiro Pinto e outros.


estrutura econômica do jornal, mas em termos de jornalismo eu vejo que ele foi muito bom porque ele montou uma equipe de jornalistas e dentro da sua personalidade ele respeitava essa equipe. 9

Marcelino Romano Machado, em entrevista, elucidou que o jornal O Diário tinha apenas um controle, sua administração era profissional, possuía um quadro de redatores profissionais e foi o primeiro jornal setorizado da cidade, com visual gráfico moderno, fato que demonstra seu pioneirismo na região. 10 Pontifica Marcelino Romano Machado acerca do cuidado que as empresas familiares devem ter em relação à contratação de parentes, pois a ausência de profissionalização e competência para lidar com os subordinados é fator que contribui para o insucesso do negócio. Assim, a questão de a família ir aumentando e de seus membros serem aceitos na sociedade sem nenhum cuidado ou preparação é uma das causas de atrito entre os institutos família e empresa. 11 A implementação da profissionalização do jornal “O Diário” foi realizada por Marcelino Romano Machado, aliada ao fato de ter contribuído para que o jornal fosse o primeiro a ter o sistema off-set. Em 1978, após se eleger para deputado estadual, distanciou-se da administração

do jornal e, em 1985, vendeu-o para Jubayr Ubyratan Bispo. O jornal Diário de Notícias pertenceu à Cúria da Igreja Católica. Em 2 de abril de 1964, o responsável pelo jornal, padre Celso Ibson de Sylos, foi perseguido pela Polícia Militar, tendo o jornal sido censurado e fechado. 12 Em 1o de janeiro de 1905, circulava a primeira edição do jornal A Cidade, fundado pelo advogado Enéas Ferreira da Silva e por Durval Vieira de Souza. Em 23 de janeiro de 1910, o fundador Enéas vendeu o jornal para Rodolpho de Paiva Guimarães, que, em seguida, o alienou a “S/A” sob o comando do coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira, em 20 de outubro de 1911. Renato Barillari e Francisco Augusto Nunes passaram a ser os novos proprietários do jornal em 1o de janeiro de 1923.13 14 José Aquias Ferreira Alves et al. relatam: Em meados de 1927, o jornal passou por uma fase difícil. Tinha grande dívida com seu guarda-livros (como era chamado um contabilista na época), o Sr. Orestes Lopes de Camargo. Renato Barillari, diretor, ofereceu ao Sr. Orestes uma parte do jornal como pagamento. O Sr. Orestes adquiriu, então, em 1927, referida parte (sic).15 12.  ARAUJO, Alexandra. Geraldo, Sebastião. Op. Cit. 13.  A Cidade: Especial Pesquisa Ibope. Edição limitada, 2007, p. 7.

9.  CHIAVENATO, Júlio José. Entrevista a Luís Carlos Eblak de Araújo, Ribeirão Preto, apud. ARAÚJO, Luís Carlos Eblak de; GERALDO, Sebastião. Op. Cit. 10.  Entrevista realizada na data de 24/6/2008 tendo, como tema, “A empresa familiar e o jornalismo em Ribeirão Preto”. 11.  Op. Cit.

14.  Andréa Berzotti pondera: A Cidade, jornal diário que não causou problemas ao poder local. Em função disso, não sofreu pressões e não teve nenhum proprietário assassinado. (...)”. (Idem ibidem. 15.  Alves, josé Aquias Ferreira et al. Monografia A grande imprensa em Ribeirão Preto. Curso de Jornalismo. Unaerp. 1993, p.2.

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Os mesmos autores revelam, ainda, que, em 1934, o diretor Renato Barillari, adoentado, passou poderes de administração ao Sr. Mário Barillari, seu irmão, que tempos depois vendeu a Orestes Lopes de Camargo, em 22 de outubro de 1936, passando a ser este o exclusivo proprietário da instituição. 16 Andréa Berzotti et al. comentam acerca do jornal A Cidade:

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Após ter passado por várias lideranças, começou no ano de 1933 a ser dirigido por Orestes Lopes de Camargo, que assumiu o cargo de diretor-presidente da empresa até sua morte, aos 93 anos, no ano de 1993. Atualmente, o jornal continua sob o comando da família Lopes de Camargo, que durante 63 anos o conduz estabelecendo um padrão jornalístico conservador e mantém suas características nos moldes do começo do século. A família é o mais fiel retrato do jornal. A administração passa de pai para mãe e filhos, sucedendo-se sem que haja nova tecnologia (...).Aqui em Ribeirão, quando se fala em A Cidade, associa-se aos Lopes de Camargo. Assim como os Mesquita são associados ao Estadão, os Civita à Abril e o Roberto Marinho à Rede Globo. São negócios de família que, no caso ribeirãopretano (sic), garantem a longevidade do jornal.”17

Grifo nosso.

Orestes Lopes de Camargo faleceu em 2 de abril de 1993, após 53 anos de dedicação ao jornal, sendo que seus filhos Juracy Lopes de Camargo e Jandyra de Camargo deram continuidade ao negócio familiar. No ano de 2002, faleceu Juracy, e mais tarde, em 2006, foi firmada parceria com o Grupo Coutinho Nogueira, proprietário da EPTV, afiliada à Rede Globo de Comunicação, assumindo João Garcia Duarte Neto como diretor editorial e Antonio Wellington da Costa Lopes como diretor administrativo-financeiro. Atualmente, os herdeiros de Orestes Lopes de Camargo e de José Bonifácio Coutinho Nogueira integram o Conselho de Administração.18 Em 1993, o jornal A Cidade não possuía a profissionalização implementada, como atualmente o é. Assim, contava com a participação de oito pessoas da família, as quais não costumavam assinar as matérias, apontando apenas as iniciais de seus nomes. Funcionava desta maneira, pois o público já conhecia a área de atuação de cada um e não se fazia necessária a identificação. 19 Quando entrevistado, Juracy Lopes de Camargo, em 1996, na época diretor e editor do jornal A Cidade, relatou que não havia interesse em vender o negócio da família: Até já pensei em vender, mas são 91 anos de história. É uma vida. Para vender eu coloco o preço que quero. Dinheiro nenhum pode pagar. Além do mais, minha filha quer continuar desenvolvendo o trabalho da famí-

16. Idem ibidem. p. 29.

18.  A Cidade: Especial Pesquisa Ibope. Op. Cit. p. 8.

17. Op. Cit. p. 53.

19.  ALVES, José Aquias Ferreira Alves et al. Op. Cit. p. 31.

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lia. Estamos empregando muito dinheiro na compra de equipamentos de última geração, que prometem muitas mudanças para o jornal. 20

Após o falecimento de Juracy, o jornal passou ao comando de sua irmã Jandyra e de sua sobrinha Maria Virgínia Lopes de Camargo Cordeiro. Rubem Cione conclui que a história do jornal A Cidade e a do casal Orestes Lopes de Camargo e Maria Casagrande Lopes de Camargo não podem ser contadas separadamente e, quanto aos seus filhos, Jandyra e Juracy, estes cresceram junto ao desenvolvimento do próprio jornal. Em pesquisa ao Guia de Arquivo Público e Histórico da cidade de Ribeirão, alguns jornais foram mencionados, tais como A Cidade, Correio da Tarde, O Diário, Diário de Notícias, Diário da Manhã, A Palavra, O Domingão, Jornal do Interior, Jornal de Ribeirão e Verdade. 21 Andréa Berzotti e outros concluem: Ribeirão Preto tem documentado em sua história um número considerável de publicações jornalísticas, mas a grande maioria teve uma duração efêmera, sendo poucos os veículos que conseguiram se sustentar e atravessar as crises econômicas internas, os fechamentos temporários,

os quadros redacionais restritos e a estrutura técnica escassa. 22

A história da imprensa escrita em Ribeirão Preto demonstra claramente que as instituições jornalísticas que tiveram sucesso na continuidade dos negócios, passando de geração em geração, realizaram um trabalho em família, voltado à perpetuação do espírito impresso no negócio familiar. Nesse sentido, temos a passagem em que Pedro Bial exemplifica com a história do Jornal A Noite, de Irineu Marinho: O entrelaçamento das duas trajetórias não é desprovido de sentido, pois é fácil identificar em Roberto uma continuidade do projeto político e empresarial de Irineu. E mais: com um mínimo de curiosidade histórica, basta retroceder outra geração para enxergar uma linhagem de homens envolvidos e empenhados diretamente com a idéia de modernização do Brasil, algo que está no sangue Marinho, desde João – João Marinho Coelho de Barros, o guarda-livros, avô do Doutor Roberto.23

Pedro Bial relata que Irineu Marinho vendeu ações do seu jornal a Geraldo Rocha, tendo permanecido ainda como acionista majoritário, justificando a alienação com base no fato de não saber quanto tempo lhe restava de vida e também por não saber se seus sucessores manteriam o jornal. Relata, ainda, que havia um acerto

20.  Idem ibidem, p. 56. 21.  Arquivo público e histórico de Ribeirão Preto. Disponível em: <http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/scultura/arqpublico/i14index.asp?pagina=/scultura/arqpublico/instrumento/ i14indice.htm> Acesso em 10 de junho de 2008.

22.  Op. Cit. p. 51. 23.  BIAL, Pedro. Roberto Marinho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004, p. 42.

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entre Irineu e Geraldo para este revender as ações à família Marinho tão logo retornasse ao Brasil. 24 Ocorre, porém, que a família Marinho perdeu o jornal, fazendo com que o futuro herdeiro, no caso Roberto Marinho, tivesse aversão à sociedade empresarial. Embarcou no Brasil sabendo que havia perdido seu jornal, porém, após 159 dias, reergueu-se e, com a ajuda de alguns amigos, fundou um novo jornal, O Globo. Foi nessa época que Irineu Marinho percebeu as primeiras manifestações da vocação pelo jornalismo presentes nas atitudes de Roberto Marinho. 25 João Roberto Marinho, filho de Roberto Marinho, comenta: –128–

Quando meu avô perdeu o jornal, ele reuniu todas as suas forças para fundar O Globo e, exaurido, morreu do coração apenas 23 dias depois da fundação. Meu pai tinha apenas 21 anos e, numa decisão que o marcou para o resto da vida, abdicou de assumir o comando do jornal porque tinha consciência de que ainda era um aprendiz. Quem conduziu o jornal ao longo dos seis anos seguintes foi Euricles de Mattos, até que meu pai se sentiu em condições de assumir o comando plenamente. Mas, mesmo então, isso jamais significou uma administração despótica, em que o chefe fala e todos se calam. 26 24.  Idem ibidem, p. 77. 25.  Idem ibidem, p 82. 26.  Entrevista com João Roberto Marinho. Disponível em: <http://www.masteremjornalismo.org.br/entrevista_roberto_04.php>. Acesso em 10 de junho de 2008.

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Continua: A virtude do meu pai foi antever a oportunidade que se abria diante dele, mas, para concretizá-la, ele procurou atrair para o projeto as melhores cabeças e dar a elas a autonomia necessária para criar. Certo de que os valores em que acreditava seriam respeitados, a ele não incomodava entregar a administração de um veículo que ele não conhecia aos melhores profissionais do mercado. Toda essa cultura, toda essa nossa história nos foi muito útil na nossa evolução.27

Quanto às vantagens de ser empresa familiar, pontifica: Nós acreditamos que as empresas com controle familiar têm mais visão de longo prazo e sua “alma” mais bem definida. Isso traz muitas vantagens para empresas de comunicação. Hoje, meu irmão, Roberto Irineu, é o presidente das Organizações Globo com a responsabilidade operacional do grupo. E nós, Roberto, José Roberto e eu, nos dedicamos aos assuntos estratégicos, preservação dos nossos valores, orientação editorial e formação das gerações futuras. E procuramos sempre – como meu avô e meu pai – nos cercar dos melhores talentos profissionais, criando um ambiente com alto nível de delegação onde todos possam se realizar profissionalmen27.  Idem ibidem.


te. Portanto, a profissionalização de nossas empresas não é algo novo. O que fizemos de dez anos para cá foi formalizar processos que antes eram intuitivos.

Do exposto percebe-se que os valores impressos no empreendimento familiar devem ser respeitados a fim de que a “alma” do negócio seja mantida. Outro ponto que merece atenção diz respeito à profissionalização, que não é tema recente; entrementes, faz-se necessária dentro do planejamento sucessório.

2. Empresa familiar 2.1. Institutos “Sociedade Empresária” e “Família” Para elucidar acerca do conceito de “empresa familiar”, imperioso se faz compreender dois institutos, quais sejam: a sociedade empresária e a entidade familiar. O contexto em que as empresas familiares estão inseridas deve ser estudado a fim de que se possa delimitar quais os problemas e dificuldades intrínsecos enfrentados no sentido de buscar soluções e pacificação de conflitos, no afã de consolidar a continuidade do negócio com o comando da segunda geração e das seguintes. Carla Francisca Bottino Antonaccio prenuncia que, de acordo com o senso comum, o termo família é entendido como a formação de um grupo de pessoas aparentadas que vivem, em geral, na mesma casa (o pai, a mãe e os filhos); outros entendem que família é a composição de pessoas ligadas consangüineamente; e, por fim, existem aquelas que entendem que a ascendência é determinante para a definição do instituto. 28

Conceitua-se sociedade empresária como a atividade cuja marca essencial é a obtenção de lucros, como o oferecimento ao mercado de bens ou serviços, gerados mediante a organização dos fatores de produção (força de trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia).29 A maior parte dos estudos relacionados ao instituto da empresa familiar é pautada nas sociedades em que a família é patriarcal. No entanto, hodiernamente, a maior parte dos arranjos familiares tem roupagem nova, sendo mais arrojados, fato este que não se coaduna, muitas vezes, com as definições de empresa familiar até então apresentadas pelos doutrinadores. Com essa nova perspectiva de formação da entidade familiar, a definição de empresa familiar deve acompanhar a evolução social em que a noção de família passa a ser mais ampla. Para tanto, Hilka Vier Machado desenvolveu estudo acerca da família e das transformações sociais recentes:

28. ������������������������������������� ANTONACCIO, Carla Francisca Bottino. Empresas familiares: uma compreensão sistêmica. Tese de doutorado. Departamento de psicologia – PUC-RIO, fevereiro de 2007, p. 59.

29.  COELHO, Fábio Ulhoa. O novo Código Civil e o Direito de Empresa. Consultas e Pareceres. Revista de Direito Imobiliário. São Paulo: Revista dos Tribunais, no 55, ano 26, julho/dez de 2003, p. 178.

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Na concepção tradicional, a família é constituída de um grupo de pais e filhos ou, em um sentido mais abrangente, incluindo também parentes próximos. Esse conceito corresponde à noção de família nuclear ou família extensiva, mas a compreensão da família altera-se principalmente na década de 1990. 30

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O mundo moderno tem demonstrado que o patriarcalismo31 está diminuindo com o passar do tempo e alguns fatores são elencados como determinantes, a saber: a economia globalizada; a abertura no mercado de trabalho para mulheres; a tecnologia da informação crescente; a formação de famílias homossexuais; a dissolução dos casamentos; a possibilidade de união estável respaldada na lei, bem como o nascimento de crianças fora da instituição do casamento, entre outros fatores que não serão objeto deste estudo. 32 É importante colacionar a assertiva de Manuel Castells, que entende que as mudanças nas estruturas familiares, notadamente com o fim do patriarcalismo, não denotam o fim da instituição família, estando em jogo apenas o sistema de 30.  MACHADO, Hilka Vier. Reflexões sobre concepções de família e empresas familiares. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/pe/v10n2/v10n2a19.pdf>. Acesso em 10 de janeiro de 2008. 31.  O patriarcalismo é caracterizado pela autoridade, imposta institucionalmente, do homem sobre mulher e seus filhos no âmbito familiar. Diz-se de um tipo de família que se desenvolve fundado no poder do chefe ou patriarca, que exerce autoridade absoluta. Assim é a família que sofre influência social dos patriarcas. 32.  Op. Cit. (MACHADO, Hilka Vier. Reflexões sobre concepções de família e empresas familiares. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/pe/v10n2/v10n2a19.pdf>. Acesso em 10 de janeiro de 2008).

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poder.33 Sinaliza, assim, para a transferência de poder no seio familiar, ou melhor, a distribuição do poder entre os membros da família. Nesse sentido, quando se fala de família, aspectos como casamento, filiação, união estável, parentes colaterais e estrutura social são importantes quando se está diante da gestão de uma empresa familiar. Assim, vários são os ramos do Direito que tratam de questões de interesse da empresa familiar. No que tange ao Direito Sucessório, importantes modificações foram instituídas com a edição do Código Civil de 2002 e bem se sabe que todas as transformações sociais e legislativas interferem na gestão das empresas familiares. Demonstra-se, com isso, que se trata de tema que merece estudo, em face das transformações sociais e legislativas. Com isso, percebe-se a complexidade da matéria que envolve questões de ordem material, psicológica, afetiva e jurídica. 34 Nesse sentido, no II Encontro Importância e Gargalos da Governança Corporativa nas Empresas Familiares, Luciano Carvalho Ventura inicia sua exposição nos ensinando: Inicialmente, eu gostaria de comentar que, quando falamos em empre33.  CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra. 2000, p. 73. 34.  Existem, atualmente, 40 institutos de pesquisas ligados a grandes universidades americanas estudando as empresas familiares e suas características, inclusive em Harvard, Yale e Wharton (COSTA, Armando João Dalla. Sucessão e sucesso nas empresas familiares. Disponível em: <http://www.economia.ufpr.br/ publica/textos/2005/Armando%20dala%20costa.pdf> Acesso em 10 de janeiro de 2008).


sas familiares, estamos, na realidade, falando de duas entidades: uma entidade empresa e uma entidade família. Embora sejam inseparáveis, não se confundem entre si, porque possuem dinâmica própria e, sobretudo, objetivos distintos. No entanto, nunca podemos nos esquecer de que uma empresa familiar pertence a uma família. 35

Carla F. Bottino Antonnaccio, em tese de doutorado, defende que “apesar de os membros de empresas familiares acreditarem que empresa e família são dois sistemas independentes, eles estão sobrepostos e, muitas vezes, um interfere no funcionamento do outro (...)”.36 Luiz Kignel e René Werner, em brilhante obra, apresentam visão contemporânea da empresa familiar, traçando um paralelo com passagens bíblicas: Para proteger sua família, Noé construiu a arca, garantindo a continuidade de sua descendência. Ao seguir esse caminho, acabou por impor a convivência forçada de seus familiares. Nos dias de hoje, a “arca” simboliza o local seguro para a perpetuidade de nossas famílias e encontra-se igualmente representada na empresa familiar. Ela é o protótipo da convivência forçada – e

por vezes necessária – entre o trabalho e a família. 37

Os mesmos autores continuam: Noé desafiou os limites da tolerância e trouxe lição que não pode ser esquecida por nenhum iniciador de um negócio: empreender, por vezes, é escolher o caminho mais difícil. A arca de Noé foi o primeiro negócio familiar, reconheça-se, de sucesso. Atingiu plenamente seus objetivos e preservou a convivência familiar. 38 39

É na sociedade empresária que se deve conciliar os interesses aparentemente conflitantes dos sócios, administradores, empregados e consumidores que constituem os grandes setores da vida nacional.40 Assim, tendo uma nova dimensão, em face dos diferenciados arranjos familiares, a empresa familiar ganha outros contornos, sendo objeto de pesquisa, não somente pelos estudiosos do Direito, mas também da Psicologia e Sociologia, pautando suas pesquisas na teoria e na prática gerencial.

37. ��������������������������� KIGNEL, Luiz; WERNER, René. E Deus criou a empresa familiar. São Paulo: Integrare Editora, 2007, p. 113-114. 38.  Op. Cit.

35.  VENTURA, Luciano Carvalho. II Encontro Importância e Gargalos da Governança Corporativa nas Empresas Familiares. Gvlaw. no 5, 2006, p. 12.

39.  Importante esclarecer que as citações das passagens bíblicas não importam juízo de valor acerca da veracidade dos fatos narrados. Assim, para efeitos doutrinários, são utilizadas visando ao melhor aproveitamento do estudo.

36.  ANTONACCIO, Carla Francisca Bottino. Op. Cit. p. 13.

40. �������������� WALD, Arnold. Op. Cit. p. 53.

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2.2. Considerações acerca da empresa familiar

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Constata-se que, no Brasil, a empresa familiar tem sido influenciada pelos traços culturais dos imigrantes, em que os fundadores geralmente são os patriarcas, tidos como empreendedores, trazendo à sociedade seus parentes próximos e fundando, assim, um modelo de empresa fundamentado na solidariedade, no desejo de vencer as adversidades e na confiança mútua provocada pelo vínculo parental. 41 Kelin E. Gersick42 et al. propõem a descrição de empresas familiares como uma operacionalização de três círculos, ou seja, sub-sistemas, a saber: a) a família; b) a empresa/negócio; c) a propriedade. Assim, as motivações, as preocupações e os interesses dos indivíduos podem ser compreendidos a partir da sua localização nos círculos. 43 Trata-se de três subsistemas independentes, contudo superpostos, o que significa dizer que os proprietários (sócios e acionistas) estarão no sistema propriedade, assim como os membros da família estarão no sistema família e todos os funcionários, no sistema gestão/empresa. As pessoas com mais de uma conexão com a empresa estarão em um dos setores sobrepostos, que podem estar inseridos em dois ou três círculos ao mesmo tempo. 44

41.  GRZYBOVSKI, Denize e TEDESCO, João Carlos. Op. Cit. 42.  John Davis é considerado uma das maiores autoridades mundiais em gestão de empresas familiares. 43.  GERSICK, Klein; HAMPTON, Davis Marion McCollom; LANSBERG, Ivan (org.). De geração para geração. Ciclos de vida das empresas familiares. São Paulo: Negócio Editora, 1998. 44. ������������������������������������� ANTONACCIO, Carla Francisca Bottino. Op. Cit. p. 92.

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Eric Lethbridge pontifica: Uma análise da empresa familiar em nível mundial revela grande heterogeneidade, tanto no seu tamanho e grau de competitividade quanto nos ambientes econômicos em que atua. Existem desde pequenas e médias empresas, especializadas e altamente competitivas, ocupando posições de destaque em nichos do mercado mundial, enfrentando os desafios postos pela globalização, até grandes conglomerados que cresceram e se acomodaram em mercados protegidos e que precisam reformular suas atividades para concorrer num regime de abertura econômica. 45

Donnelley46, citado por Denize Grzybovski e João Carlos Tedesco, define empresa familiar como aquela que se identifica com uma família há pelo menos duas gerações e quando essa ligação resulta numa influência recíproca na política geral da empresa e nos interesses e objetivos da família.47 No mesmo sentido, João Bosco Lodi entende que as empresas são fundadas em conceitos pessoais e que somente após a segunda geração é que há uma ex-

45.  Tendências da empresa familiar no mundo. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/revista/rev707. pdf>. Acesso em 10 de abril de 2008. 46.  A definição de empresa familiar proposta por esse autor é uma das mais aceitas e utilizadas nas pesquisas sobre empresas familiares (ANTONACCIO, Carla Francisca Bottino. Op. Cit. p, 23). 47.  Empresa familiar X competitividade. Disponível em: <http:// www.upf.br/cepeac/download/rev_n11_1998_art3.pdf> Acesso em 10 de dezembro de 2007.


pansão dos conceitos, passando a abarcar a família como um todo. 48 Armando João Dalla Costa entende que o conceito mais adequado de empresa familiar é aquele que deve levar em conta, além do estilo de administração, a relação propriedade e gestão, ou seja, quando um ou mais membros de uma família exercem a maior parte do controle administrativo, por serem proprietários da maior parte do capital, independentemente de estarem na primeira ou na segunda geração. 49 Galgo e Vilela apud Vlamir Gorgati definem que a “empresa familiar está longe de ser um consenso. Não parece ser necessário que uma família possua capital majoritário para que, estando presente na administração do negócio, imprima as características mais marcantes da gestão familiar.” 50 Pode-se dizer que a empresa familiar vincula patrimônio, família e sociedade empresária, além de “herança” de valores e princípios norteados pela meta de continuidade de sucesso da empresa e preocupados com a segurança das gerações futuras. Existem algumas características próprias das empresas familiares na visão de Patrice Gaidzinski: • Incorporam novos membros por nascimento, adoção ou casamento. • Os membros podem ir embora somente pela morte. • O seu principal valor são os relacionamentos.

• A família compreende todo o sistema emocional de pelo menos três gerações. • Estresses familiares que costumam ocorrer nos pontos de transição (casamento, nascimento, educação e adolescência dos filhos, saída dos filhos do lar, aposentadoria e morte) criam rompimentos no ciclo de vida familiar e podem produzir sintomas e disfunções. • A família não possui uma perspectiva temporal quando está tendo problema. • Seu principal valor é o resultado. 51

Sobre as distinções dos institutos família e sociedade empresária, Denize Grzybovski e João Carlos Tedesco pontificam: (...) a empresa familiar é, em si, uma contradição, produto de uma confluência de dois sistemas opostos, cujo encontro resulta num conflito. Ao tentar resolver o conflito, é praticamente impossível proteger a empresa, na sua racionalidade e impessoalidade, da sua carga emotiva trazida pela família. Os líderes preferem ignorar a realidade da situação por meio da negação e da idealização; os fatos são ignorados, e a história é reescrita. Essa forma de não lidar com a verdade tem sua origem na crença de que o mundo é um lugar basicamente perigoso e que é preferível ficar juntos e não balançar o bote. É a fantasia da solidariedade. Nesse momento, é necessário reconhecer que a “empresa é o substantivo adjetivado pela família, e não o contrário” 52

49.  Op. Cit.

51.  GAIDZINSKI, Patrice. A governança corporativa nas empresas familiares. Disponível: <www.ibgc.org.br/Download. aspx?Ref=Eventos&CodArquivo=42> Acesso em 17 de janeiro de 2008.

50.  GORGATI, Vlamir. Os determinantes da estrutura de capital de empresas familiares brasileiras durante o processo sucessório. São Paulo, 2000.

52.  BERNHOEFT, Renato. Empresa familiar: sucessão profissionalizada ou sobrevivência comprometida. São Paulo: Nobel, 1989, p. 14.

48.  Apud. RICCA, Domingos. Op. Cit.

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2.3. Estatísticas As empresas familiares são de suma importância na economia dos países e o Brasil tem entre 6 e 8 milhões de empresas. 90% delas são familiares, 53 responsáveis por 2 milhões de empregos diretos, e têm participação no PIB em 12% do segmento agrobusiness, 34% da indústria e 54% de serviços. Assim, salvo as estatais e as multinacionais, 95% das maiores empresas são familiares (a maioria na segunda geração). 54 55 Denize Grzybovski e João Carlos Tedesco ponderam:

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A preocupação latente com a continuidade das empresas do tipo familiar deve-se ao fato de os dados estatísticos apontarem 90% do total dos grandes grupos empresariais brasileiros como sendo “empresas familiares”, o que já oferece uma justificativa para serem estudadas a fim de preservá-las, apesar da transmissão dos cargos para novos dirigentes. Afinal, empresas controladas e administradas por familiares são responsáveis por mais da metade dos empregos e, dependendo do país, geram de metade a dois terços do PIB. 56

53.  Fonte: Você S.A. 54.  Fonte BNDS Apud. RICCA, Domingos. Op. Cit. 55.  Panorama Mundial: Das 500 maiores empresas americanas, 35% são familiares (Revista Fortune). Na Alemanha, as pequenas e médias empresas possuem 100% de controle familiar. São responsáveis por 2/3 dos empregos do país. (RICCA, Domingos. Op. Cit.). 56.  Op. Cit.

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Nelson Lacerda comenta: A empresa começa com estrutura familiar, sem regras claras de gestão baseada em decisões emocionais. Por estas razões, grande parte delas tem um bom crescimento inicial, mas estagna e quebra antes mesmo de alcançar a maioridade. Porém, mais de 50% das empresas de médio e grande porte no Brasil ainda são familiares, com gestão familiar, não tendo se modernizado para a gestão corporativa, o que pode representar o começo do fim. 57

Responsáveis por 60% da oferta de empregos no Brasil e por 48% da produção nacional, as empresas de menor porte, geralmente as empresas familiares, assumem parcela significativa de importância no desenvolvimento econômico nacional. Foi detectado que a pequena e a média empresa familiar, no Brasil, produzem dois milhões de empregos diretos e são o segmento que mais cresce no país. 58

57.  LACERDA, Nelson. A evolução da empresa familiar para a corporação. Disponível em <http://www.abdir.com.br/doutrina/ver.asp?art_id=1425&categoria=Comercial> Acesso em :7 de janeiro de 2008 58.  GUEIROS, Mônica M. Barbosa. Apud. LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. A empresa familiar brasileira e a opinião de seus dirigentes sobre o processo sucessório. Disponível em: <http://www4.usc.es/Lugo-XIII-Hispano-Lusas/ pdf/01_ESTRATEGIA/24_guerra.pdf>. Acesso em 05 de novembro de 2007.


3. Planejamento sucessório 3.1. Considerações iniciais Bem se sabe que as empresas familiares têm grande expressão na economia mundial e nacional, sendo, pois, competitivas59. No entanto, existem conflitos que devem ser dirimidos, e a questão da sucessão familiar deve ser tratada pelo fundador ainda em vida, quando elaborado o planejamento sucessório. Chama-se planejamento sucessório o processo de transferência do poder e do capital da atual geração dirigente de uma empresa para a que virá a dirigir. Esse período é decisivo na vida das empresas familiares, posto que a sobrevivência dessas organizações em um mercado cada vez mais competitivo e exigente depende de um processo bem estruturado e pautado na vontade de manter o negócio lucrativo. 60 A sucessão pode acontecer de forma gradativa e planejada ou por meio de processo inesperado ou repentino de mudança da direção, quando ocorre a morte ou o afastamento do fundador ou presidente da

empresa. Quando o processo sucessório é definido com antecedência, permitindo ao sucessor receber treinamento adequado e conhecimentos necessários ao negócio, há maior chance de a sucessão acontecer sem traumas ou conflitos.61 Os chineses afirmam que o pai pisa no barro para plantar arroz, o filho colhe e come o arroz, e o neto tem de voltar a pisar no barro para plantar arroz. Isso decorre, em parte, em razão da ausência de planejamento.62 O gerenciamento do processo de transição de poder intimamente ligado ao planejamento sucessório é tema que passa a ser objeto de estudos nos dias atuais com maior freqüência, tendo em vista os inúmeros conflitos familiares e a complexidade dos problemas, que, na maior parte dos casos, abrangem envolvimento pessoal (emoção) e patrimônio.

59.  SILVA, Larissa Nunes. Empresas familiares: um flash sobre o assunto. Sucessão Familiar & Empreendedorismo: teoria e análise de casos. São Paulo: Novo Saber, p. 35.

61.  LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra. A empresa familiar brasileira e a opinião de seus dirigentes sobre o processo sucessório. Disponível em: <http://www4.usc.es/Lugo-XIIIHispano-Lusas/pdf/01_ESTRATEGIA/24_guerra.pdf>. Acesso em 3 de fevereiro de 2007.

60.  LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra; LEONE, Andréa Coutinho Marcelino Guerra. Op. Cit.

62.  DAGNONI, Martina Rosa Fischer; KRAUS, Valter Augusto. Op. Cit. p. 51.

3.2. Estatísticas O professor Rogério Yuji Tsukamoto, que trabalha no segmento de consultoria para empresas familiares, pontifica que, de cada 100 fortunas brasileiras atuais, apenas 18 são fruto de herança e que, de cada

3 empresas familiares existentes hoje, somente 1 chegará até a próxima geração, devido, muitas vezes, a conflitos entre os membros da família. Pondera, ainda, que todo fundador de um negócio deve sa-

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ber quando começar a formação de seus herdeiros e sucessores, estimulando seus descendentes a trabalhar fora da empresa a fim de aprender a se subordinar, visando, com isso, à continuidade do negócio familiar, fundamentada na indissolubilidade do vínculo entre os membros da família. 63 Armando João Dalla Costa ensina: Entre as empresas familiares, estimase que 75% estejam sob o comando da primeira geração, 20% nas mãos dos filhos dos fundadores, segunda geração, e apenas 5% sob controle das gerações seguintes. Sua importância para a economia é marcante. O peso econômico das companhias controladas por famílias é de 70% na

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63.  TSUKAMOTO, Rogério Yuji. Gestare empresas familiares. Disponível em: <http://www.gestare.com.br> Acesso em 14 de fevereiro de 2008.

Espanha, 75% na Inglaterra, 80% na Alemanha e 90% no Brasil (das 264 empresas de capital nacional listadas em Melhores e Maiores de Exame, 142 são familiares). Nos Estados Unidos, os grupos familiares empregam 62% da força de trabalho, respondem por 64% do produto interno bruto e movimentam dois terços da bolsa de Nova York. 64

Renato Bernhoeft pondera: “(...) o empresário não prepara a família para ser uma ‘família empresária’ ”. Em certos aspectos, a família é inclusive mediocrizada, não é preparada, tanto a esposa quanto os herdeiros”. 65 64.  COSTA, Armando João Dalla. Op. Cit. 65.  BARBEIRO, Heródoto. CBN Mundo Corporativo. São Paulo: Futura, 2006, p. 129.

3.3. Importância do planejamento sucessório O planejamento sucessório, diferentemente do que muitos pensam, é algo que se faz em vida, por menor que seja o patrimônio empresarial, pois desta forma se busca preservar a harmonia entre os familiares e a continuação do negócio da família. Cabe ao fundador da empresa, nesse caso, preparar seus sucessores para assumirem cargos funcionais dentro da empresa, distribuir ações entre eles, buscando a preparação de todos os envolvidos, desde os empregados aos envolvidos diretamente no processo sucessório, no período de transição.

Renato Bernhoeft pondera quanto ao negócio de família: Se deseja fazer uma empresa para a família, faça uma ONG, faça filantropia. Quando se cria um negócio, a empresa deve estar focada no mercado – essa é a primeira regra.(...) Porque quando digo agregar valor a cada geração, estou querendo dizer que, se todo mundo se tornar dependente do negócio, este não vai dar certo. É preciso reinvestir no negócio. 66 66.  Idem ibidem, p. 133.

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Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra Leone e Andréa Coutinho Marcelino Guerra Leone diferenciam: Quando o assunto é sucessão familiar, muitos empresários confundem dois verbos absolutamente distintos: planejar e transferir. Discutir o planejamento sucessório está longe de significar a transferência prematura de patrimônio aos herdeiros. Planejar significa organizar no presente as regras de sucessão que valerão no futuro. Se as regras são definidas de forma clara e coerente, é plenamente possível que o processo sucessório transcorra sem conflitos. 67

Em entrevista, Rogério Yuji Tsukamoto, questionado sobre a importância do planejamento da sucessão familiar para os negócios, pontifica: Um planejamento correto garante a longevidade da empresa. Um estudo realizado pela Revista Exame prevê que duas de cada três empresas familiares existentes atualmente no Brasil não vão chegar nas mãos de seus sucessores. Analisando especificamente o agronegócio, o produtor tem que se preocupar com a preparação do seu sucessor porque o patrimônio que vai deixar para sua família tem um elevado valor: a terra e os investimentos realizados nela. O mesmo não acontece com um médico ou um advogado, 67. ��������������������������������������������������� LEONE, �������������������������������������������������� Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra; LEONE, Andréa Coutinho Marcelino Guerra. Op. Cit.

que têm, como maiores patrimônios, o conhecimento, o nome e os escritórios. 68

Dise Kreisig et al. sustentam: O planejamento sucessório pode influenciar diretamente o sucesso ou o fracasso da empresa. Por essa razão, não deve ser tratado isoladamente, e sim em um contexto mais amplo, a partir de uma reavaliação do negócio. E, para isso, o planejamento estratégico deve ser o primeiro passo na realização do processo sucessório. Com a inclusão da sucessão como parte desse planejamento, a empresa passaria a encará-lo não apenas como uma questão societária de transmissão de poder, mas como um assunto intimamente associado à sobrevivência do empreendimento. 69

Diante das vantagens do processo de planejamento sucessório societário, o primeiro grande passo dentro da instituição é a quebra de paradigmas e enfrentamento das situações conflituosas concernentes ao instituto família, para que os profissionais especializados possam realizar um bom trabalho no sentido de propiciar ao fundador e a seus sucessores bem-estar familiar e societário.

68.  TSUKAMOTO, Rogério Yuji. A formação do sucessor começa no berço. Disponível em: <http://www.pryt.com.br/hortifruti. pdf> Acesso em 10 de novembro de 2008. 69.  KREISIG, Denise et al. O processo de gestão em empresas familiares: um estudo em empresas de terceira a quinta gerações. Disponível em: <http://www.congressoeac.locaweb.com.br/ artigos52005/246.pdf> Acesso em 05 de janeiro de 2008.

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3.4. Preparação do fundador e de seus descendentes Para que a empresa tenha continuidade após a sucessão, conseguindo superar os problemas característicos dessa fase, seria importante não apenas preparar o sucessor para administrar o negócio, mas, também, preparar a empresa para receber o sucessor. Uma primeira forma de se conseguir isso é por meio do planejamento estratégico”.70 71 Lodi comenta:

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O fundador cria uma empresa a partir de um sonho pessoal e chega ao fim da vida com dificuldade de compartilhar os seus valores com a segunda geração. O tecido dos sonhos da segunda geração precisa ser produto do trabalho de todas as pessoas envolvidas.72

A rigidez de posicionamentos e a grande dificuldade em romper padrões e adotar novos paradigmas podem ensejar o encerramento das atividades empresariais. As questões emocionais relacionadas à família são fator determinante no momento 70.  O planejamento estratégico é uma filosofia que permite que a empresa trace os caminhos necessários para atingir suas metas de médio e longo prazos e conheça melhor o ambiente onde está inserida, para que possa melhor aproveitar as oportunidades e estar mais preparada para enfrentar os desafios do seu meio (Idem ibidem). 71.  Bowman-Upton também cita a importância do planejamento estratégico na sucessão e identifica quatro problemas que fazem com que a sucessão não alcance êxito: a falta de viabilidade do negócio; a falta de planejamento; o desinteresse do proprietário em transferir a empresa; e a resistência do sucessor. O autor também afirma que planejamento estratégico permite, a cada geração, uma oportunidade de traçar o caminho da empresa (Apud KREISIG, Denise et al. Op. Cit). 72. �Op. Cit. p. 7.

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da sucessão. Com isso, existem desafios que devem ser estudados particularmente, caso a caso, para que se dê o melhor encaminhamento às pendências, fazendo com que o fundador deixe de postergar seu afastamento do poder. 73 Roberto Cintra Leite relata que, infelizmente, os empreendedores sabem construir impérios, porém não sabem planejar sua sucessão. 74 A sobrevivência da empresa familiar está na capacidade da família de administrar suas relações formais e resolver os conflitos advindos do processo sucessório. De acordo com Leone, o duelo surge quando os membros da organização disputam, entre si, ascensão hierárquica e ganho de poder. Geralmente, pode-se observar que o empresário brasileiro não planeja a transferência de poder, e é nessa falta de planejamento que se originam as principais causas de duelos familiares. 75 Fernando Alves assevera acerca dos principais aspectos relativos à sucessão: A sucessão é vista como um evento e não como um processo; o fundador precisa refletir e decidir se quer passar adiante um negócio ou um legado; muitos deixam uma herança pa73.  No dia-a-dia, entretanto, muitas empresas postergam esse tipo de decisão, expondo o negócio ao risco. A ausência de um sucessor pode ser o fim da linha para um negócio, caso o empreendedor fique doente, sofra um acidente ou até morra (Pequenas empresas, grandes negócios. Sucessor deve ser preparado com antecedência. Disponível em: <http://empresas.globo.com/Empresas enegocios/0,19125,ERA1676870-2574,00.html>. Op. Cit.) 74.  Op.Cit. p. 2. 75.  LEONE, Nilda. Sucessão: como transformar o duelo em dueto. Revista de Administração. São Paulo, v.31,n.3, 1996, p. 76-81.


trimonial, outros, além da herança, deixam um senso de missão, calcada em lições da sua própria empreitada de sucesso. Trata-se de uma diferença sutil e com impactos importantes na sustentabilidade da empresa. 76

Lodi ressalta: Os mais velhos temem que a geração seguinte irá dissipar a fortuna. Mas a única coisa que podem fazer é transmitir a seus descendentes fortes valores morais e bom senso. Criar uma determinação para administrar os conflitos com fidelidade e amor. Os conflitos certamente virão, dada a força dos interesses individuais, mas lá estarão os valores da família e a vontade de resolver positivamente.77

Quanto ao sucessor, um fator que vale ser lembrado é a necessidade de que ele não deve tentar ser uma cópia do fundador, assim como não deve tentar demonstrar que tem melhor visão de negócio e mudar tudo o que vinha sendo feito. Sua preocupação deve ser a de dar continuidade a um empreendimento que esteve nas mãos do seu fundador por longo tempo. Tem-se que buscar o equilíbrio, para manter o que é bom e reconduzir o que for necessário. 78 Lodi pondera, ainda: Uma liderança individualista e arrogante que não considera as ex76. �Op. Cit. 77. �Op.Cit. p. 9. 78. ���������������������������� COSTA, Armando João Dalla. Op. Cit. p. 15.

pectativas dos demais membros do grupo fracassa ao tentar substituir o fundador.

Nessa linha de raciocínio, Luiz Kignel e René Werner questionam: os pais estão realmente preparados para ser superados pelos filhos na “árvore do conhecimento” do negócio familiar?79 Para responder a esta questão, mister se faz identificar qual é a prioridade do fundador do negócio. É a manutenção da empresa? É assegurar o futuro da família? É perpetuar o negócio de família? O receio de planejar a sucessão em vida e esta fracassar talvez seja uma variante da dificuldade de sucessão familiar. Com isso, é importante identificar os objetivos do planejamento sucessório, qual seja, o de preservar a harmonia familiar, previsão da aposentadoria do fundador e a continuidade do negócio, evitando conflitos de interesses pessoais.80 Por outro lado, nem sempre os sucessores estão preparados para assumir o comando do negócio, demonstrando, destarte, o despreparo dos gestores, que, na maior parte dos casos, não planejam o futuro do empreendimento.81 Merece destaque igualmente o fato de alguns profissionais voltados à gestão de negócios se aproveitarem das influências conflitantes para tirarem vantagem da empresa, incentivando ainda mais o conflito. 79. �Op. Cit. p. 48. 80.  LEITE, Roberto Cintra. Op. Cit. p. 4. 81. �������������������������������������������������������� Apesar de a maior parte dos fundadores das empresas familiares não ter tido as mesmas oportunidades acadêmicas que seus descendentes, em razão de ter iniciado no trabalho muito cedo, possui conhecimentos de administração e conduz com muita competência seus negócios (SANTANA, Giseli Mirian Alves de. Op. Cit.).

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Bem se sabe que nem todos têm o ímpeto de lutar quando há adversidades. Assim, a falta de compromisso dos familiares na etapa do planejamento sucessório e as diversas dificuldades enfrentadas para solucionar os litígios potencializam a decisão de desistir da tarefa e levam o fundador à venda do negócio para terceiros, almejando a distribuição de capital aos herdeiros. Eric Lethbridge esclarece:

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A geração que, por exemplo, tanto no Brasil como na Alemanha fundou empresas nos anos 50 está se aposentando, e dificuldades sucessórias, ou a simples relutância por parte dos herdeiros em assumir os negócios, estão contribuindo para a aceleração registrada recentemente na venda de empresas familiares. No Brasil, o número de empresas vendidas passou de 52 em 1990 para 330 e 400 em 1994 e 1995, respectivamente. 82

Luiz Kignel e René Werner registram: Um planejamento sucessório e societário por si só, mesmo tendo regras predefinidas, não evita conflitos, porém permite a administração de momentos de crise de forma mais coerente, preservando a família e o próprio negócio. Os limites impostos pela presença dos empreendedores devem ser fronteiras negociadas entre todos os membros da família para

que não se tornem meras repetições nas gerações subseqüentes, já que estas deverão criar suas próprias regras. Essa é a idéia salutar de transição e não de mera sucessão. 83

Para esses autores, a idéia de sucessão ou transferência de poder deve ser substituída pela idéia de transição, em que a credibilidade do empreendedor é gradativamente transferida aos seus sucessores. 84 Hilka Vier Machado acentua: Atualmente, não são raros os casos de empresas familiares que possuem apenas um sucessor e em que as empresas são vendidas porque o sucessor não tem intenção de prosseguir com o empreendimento. Por outro lado, se a família extensiva é a resultante de casamentos sucessivos, não são poucos os casos em que a empresa familiar é o local de trabalho para os filhos do primeiro casamento, assim como os do segundo e os agregados, ampliando sobremaneira o envolvimento familiar na empresa. 85

Questiona-se por que as empresas familiares estão sendo vendidas, e uma das respostas é justamente a acomodação das gerações futuras, evitando, assim, expor a família às tensões do negócio fora de sua competência. 86 83. �Op. Cit. P. 124. 84.  Idem ibidem. 85.  Op. Cit. p. 320.

82.  Op. Cit.

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86. ����������������� RICCA, Domingos. Op. Cit.


Considerações finais Com o breve levantamento histórico de parte dos jornais impressos da cidade de Ribeirão Preto, percebe-se que os empreendimentos que ainda se mantêm no mercado são aqueles que têm controle familiar, e os valores lançados pelo fundador ou por aqueles que durante décadas o administraram são preservados e propiciam a durabilidade do negócio, além do fato de a profissionalização contribuir sobremaneira para a qualidade do jornalismo e para o respeito ao público. O estudo demonstra a importância do processo sucessório no âmbito das empresas familiares, com a identificação dos valores do empreendedor, fazendo com que os seus sucessores reconheçam o patrimônio (material e moral), para que possam dar seguimento ao projeto empresarial do fundador. Evidencia, ainda, que o processo sucessório deve ser considerado como um processo contínuo e que, dependendo da forma como é conduzido, a sucessão pode representar tanto uma vantagem competitiva como uma desvantagem, podendo, no último caso, levar a empresa à derrocada. Ressalta-se que de nada adianta a transferência de poder e de propriedade se o fundador não transmitir os valores que deseja ver impressos na continuidade do negócio, pois o convívio societário, muitas vezes, não é fácil. Com esses valores, os descendentes serão norteados para a busca e a efetividade da seqüência do empreendimento. Em muitos casos, os fundadores do negócio desenvolvem seus empreendimentos com intenção de que seus descendentes

dêem continuidade ao negócio. No entanto, nem sempre se perguntam qual é a vocação dos possíveis sucessores. Nesse contexto, surgem desentendimentos familiares que podem ser evitados levando-se em consideração o diálogo entre familiares. Dessa forma, as empresas começam com estrutura familiar, sem regras claras de gestão baseada em decisões emocionais. Assim, grande parte delas tem um bom crescimento inicial, mas com o tempo estagna ou vai à falência prematuramente. Percebe-se que as novas gerações estão sendo socializadas fora do padrão tradicional da família patriarcal, havendo uma nova redefinição de papéis familiares e uma nova distribuição de poder. O papel da família em relação ao negócio familiar é determinante no sentido de permitir a sobrevida da sociedade empresária ou impor sua sentença de morte. Assim, a adoção dos princípios de governança corporativa é essencial para viabilizar o processo de planejamento sucessório e, juntamente com a profissionalização da empresa familiar, gera uma cultura diferenciada no ambiente corporativo. Quanto à preocupação com o profissionalismo na empresa familiar, infelizmente são poucas as empresas que se pautam na profissionalização da empresa como um todo. Porém, no que tange às empresas jornalísticas de Ribeirão Preto, a profissionalização há anos vem sendo implementada em grande parte das sociedades. No que tange ao momento certo para se “passar o bastão” do fundador para seus

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sucessores, pode-se dizer que varia de empresa para empresa, pois existem fatores que devem ser considerados, tais como a família, os interesses pessoais, a vontade de dar continuidade ao negócio, entre outros aspectos. Portanto, entende-se que desde o início do negócio deve ser pensada a possibilidade de transferência de poder aos descendentes, uma vez que, para que estes tenham interesse no segmento negocial dos ascendentes, devem conhecê-lo bem. Bem se sabe que muitos são os desafios enfrentados tanto pelo fundador quanto por seus sucessores, como, por exemplo, a gestão centralizadora do genitor que tem receio de passar as rédeas da situação aos seus filhos, além de conflitos de interesses pessoais dos sucessores, interferindo no planejamento sucessório do empreendimento. Outra situação muito comum em se tratando de empresas familiares é a falta de identidade entre os sonhos do fundador e os sonhos de seus sucessores. Contudo, isso não deve ser óbice ao efetivo plane-

jamento, pois este visa a conciliar os interesses dos herdeiros e do fundador, colimando o bem da corporação e da entidade familiar. Por fim, conclui que os desentendimentos e os conflitos entre os sucessores, seja no processo de transição de poder, seja posteriormente a ele, afetam negativamente o valor da empresa. Havendo possibilidade de os sucessores manterem a mídia e a sociedade interessada afastadas dos conflitos pessoais, mais chances de êxito terão caso optem pela alienação do empreendimento empresarial. Muitos dos negócios familiares que fracassaram foram alienados de forma impensada, resultando de decisões emocionais, sem nenhum respaldo profissional e especializado na gestão de empresas familiares. Por essa razão, é de suma importância saber separar os institutos “sociedade” e “família”, utilizando-se de técnicas de gestão de negócios específicas para as empresas familiares.

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Jornal das Ciências: uma proposta de divulgação científica Gabriela Zauith Jornalista formada pela Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), em 1999. Experiência em fotojornalismo, telejornalismo e jornalismo impresso. Área de atuação em assessoria de imprensa, jornalismo e divulgação científica. Experiência profissional em veículos de comunicação e na USP-RP (Universidade de São Paulo). E-mail: gabizau@terra.com.br. Resumo – O Jornal das Ciências é um veículo institucional, parte do projeto educacional Casa da Ciência (Hemocentro de Ribeirão Preto/USP/CTC/Cepid/Fapesp). O objetivo do jornal é apoiar o professor em sala de aula, especialmente em temas atuais, os quais o livro didático não alcança ou não aprofunda. O jornal traz aos alunos a oportunidade de ter contato com a pesquisa universitária e abrange diversas áreas das ciências. Os assuntos tratados

nos jornais abrangem biologia molecular e celular, botânica, geologia, paleontologia, entre outras. A divulgação de temas científicos nas escolas proporciona o desenvolvimento da cultura científica e contribui para a formação do espírito crítico nos alunos. Palavras-chave – Divulgação científica; mídia; ensino de ciências; popularização da ciência.

Introdução O Jornal das Ciências é um veículo institucional da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo, campus Ribeirão Preto (USPRP) –, destinado a professores e alunos do ensino básico e distribuído gratuitamente nas escolas. Desde o início do programa, em 2001, o Jornal das Ciências e demais atividades da Casa da Ciência tiveram a preocupação de colaborar com a cultura científica nas escolas.

Este artigo apresenta o Jornal das Ciências como forma de divulgação científica. São apresentadas edições do jornal, as quais tratam dos seguintes temas: biodiversidade, ecologia, ambiente, água, dengue, controle biológico, abelhas nativas e africanizadas, desmatamento, reflorestamento, mata Atlântica, aquecimento global, mudanças climáticas, geologia e aqüífero Guarani.

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A autora que apresenta este trabalho foi a jornalista responsável do Jornal das Ciências no período em que esteve vinculada à instituição mantenedora. Atuou nas funções de redatora e editora do jornal, trabalho que incluía o acompanhamento e definição de pautas, como contato com pesquisadores, entrevistas, pesquisas, redação final e edição do texto. Há também o interesse em avaliar e, assim, verificar a autenticidade do objetivo proposto pelo jornal: atualizar professores e garantir ao aluno contato com a ciência, a pesquisa científica e domínios antes não adquiridos na escola. Segundo Miller (1983), é necessário que haja a alfabetização científica nas sociedades modernas, já que os indivíduos, ao adquirirem as habilidades e conhecimentos técnicos e científicos, passarão a se comportar mais efetivamente como cidadãos e consumidores. O conceito de alfabetização científica é definido pelo autor como: 1) o conhecimento de termos e conceitos científicos essenciais; 2) uma compreensão sobre as normas e métodos da ciência; e 3) o entendimento do impacto da tecnologia e da ciência sobre a sociedade. Um exemplo de ação bem-sucedida de alfabetização científica ocorre nos EUA, com o programa Project 2061: Science for all Americans (AAAS, 1989). O objetivo do programa é identificar quais conhecimentos serão úteis para a próxima geração em Ciências, Matemática e Tecnologia – e como construir este conhecimento nos alunos. O Project 2061 iniciou seus trabalhos em 1985 – o ano em que o Cometa Halley foi visível a partir da Terra. Segundo o programa, as crianças que iniciaram

a escola naquele período verão o regresso do cometa em 2061 – um lembrete de que a educação vai moldar a qualidade de suas vidas e definir como elas estarão no século 21, em meio ao progresso científico e às profundas mudanças tecnológicas. Segundo o projeto, para aprendizagem de ciência os alunos precisam de tempo para estudar, fazer observações, testar idéias e ter a oportunidade de pensar de uma maneira diferente. No Brasil, pode-se ressaltar a publicação do Livro Verde – Sociedade da Informação no Brasil, em 2000, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em conjunto com a Academia Brasileira de Ciências. O livro relata que o crescimento e a autonomia de um país dependem do conhecimento, da educação e do desenvolvimento científico e tecnológico. A proposta do livro se baseia na ampliação e utilização de serviços avançados de computação, comunicação e informação e de suas aplicações na sociedade. Iniciativa que permitirá alavancar a pesquisa e a educação, bem como assegurar que a economia brasileira tenha condições de competir no mercado mundial. Jornal das Ciências: contato com a pesquisa científica A Casa da Ciência, instituição mantenedora do Jornal das Ciências, desenvolve atividades de ensino de ciências com objetivo de aproximar a pesquisa científica de alunos e professores do ensino fundamental e médio, especialmente de escolas públicas. Sendo assim, segue uma linha editorial educacional para ser trabalhada em sala de aula, como um apoio ao professor, especialmente em temas atuais, os quais o

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livro didático não alcança ou não aprofunda. Além de Ciências e Biologia, outras disciplinas como Português, História e Geografia podem utilizá-lo. Comprometese com a atualização dos temas, abrangendo biologia molecular, botânica, geologia e paleontologia, entre outras. O jornal propõe conceitos além das aulas formais e aprofunda o conhecimento atual produzido por especialistas. Está atento também aos acontecimentos da grande imprensa, com relatos de pesquisadores capazes de esclarecer questões e dúvidas, como mudanças climáticas, reflorestamento, células-tronco e genética. Editado desde 2001, o Jornal das Ciências possui 18 edições publicadas e uma especial. A periodicidade é baseada nas atividades desenvolvidas, com três a quatro edições por ano. Com tiragem de 3.500 exemplares, é distribuído gratuitamente para professores e alunos, e para uma lista que inclui colaboradores e pesquisadores. A editoração do jornal e suas seções sofreram modificações ao longo do tempo, sempre acompanhando a trajetória da Casa da Ciência. Nos primeiros anos, juntamente com o curso de especialização para professores, além da reportagem de capa e entrevista, existia a seção “Palavra do Professor”, espaço destinado a professores escreverem – Folhas Avulsas (BARBIERI, 2002) – relatos de suas experiências em sala de aula. O pesquisador também escrevia na seção “Aula de Ciência”, sobre sua linha de pesquisa, trazendo conceitos para serem trabalhados pelo professor. O “Espaço do Aluno” retratava participação e atividades dos alunos na escola e, nas edições seguintes, se ampliou com o encarte “Trilha da Revista Matteria Primma

Ciência”, criado em 2003 para publicação de textos, desenhos, poesias e ilustrações dos alunos. As outras seções deram lugar a reportagens e entrevistas com pesquisadores. A partir do Jornal das Ciências, os alunos têm a oportunidade de ter contato com a pesquisa universitária. Este contato garante, assim, a elaboração das pautas do jornal. Ao mesmo tempo em que divulga essas pesquisas acadêmicas, cumpre o papel de difundir o conhecimento, quase sempre disponível em publicações científicas. Além de fornecer conteúdo, é um importante meio de comunicação entre a escola e a Casa da Ciência. A leitura e o uso do jornal atendem aos interesses latentes de um público, principalmente professores, que não tem acesso às revistas científicas nem às publicações especializadas. O que pressupõe que o professor trabalha sozinho em sala de aula e não possui recursos suficientes para ir além do livro didático (BARBIERI, 2001). Alunos e pesquisadores A Casa da Ciência foi criada em 2000, parte do programa de difusão do Centro de Terapia Celular (CTC), integrante dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid), financiados pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os Cepid possuem a missão de desenvolver pesquisas multidisciplinares na fronteira do conhecimento, transferir conhecimento para os setores público e privado e promover atividades educacionais. Localizada no Hemocentro de Ribeirão Preto, no campus da Universidade de


São Paulo (USP), a Casa da Ciência é coordenada pela professora doutora Marisa Ramos Barbieri e também pelos professores doutores Dimas Tadeu Covas, diretorpresidente do Hemocentro de Ribeirão Preto, e Marco Antonio Zago, hoje presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Além da sua sede administrativa, situada no Hemocentro, a Casa da Ciência agrega o PIPOC (Ponto de Informação, Pesquisa e Organização em Ciências) e o MuLEC (Museu e Laboratório de Ensino de Ciências), com endereço no campus universitário. O MuLEC foi criado em 2004, constituindo um espaço para exposições, práticas e observações, além de oferecer oficinas de redação, jornal e informática. Em 2005, obteve financiamento da Fundação Vitae, com o projeto “Consolidação do Museu e Laboratório de Ensino de Ciências (MuLEC)”. O PIPOC foi instituído em outubro de 2006, para reunir o acervo de documentos e disponibilizá-los para consulta. Em 2001 foi realizado o curso de especialização para professores “As Células, o Genoma e você, Professor”, no qual se formaram 94 professores, os quais eram orientados por pesquisadores em grupos de pesquisa. Durante as aulas do curso, realizadas aos sábados, os alunos acompanhavam seus professores, o que provocou a abertura de um programa especial para alunos interessados, chamado “Caça-Talentos”, com mais de 500 participantes. Dessa forma, alunos e professores estabeleceram uma rotina nas escolas, desenvolvendo atividades extraclasse como trabalhos experimentais, feiras e exposições de ciências. Os alunos produziram

cartilhas, peças de teatro, modelos e folhetos. A partir do programa “Caça-Talentos”, as atividades da Casa da Ciência têm se concentrado nos alunos. Em 2004, quatro alunos foram selecionados para o programa de Iniciação Científica Júnior, financiado pela Fapesp. Durante um ano, os alunos desenvolveram projetos científicos com aulas teóricas e práticas nos laboratórios, introdução à informática, consulta à bibliografia e redação. Em 2005, iniciou-se o programa de iniciação científica “Adote um Cientista”. A cada ano, novas turmas são formadas com alunos a partir da 6a série do ensino fundamental, as quais já tiveram mais de 450 participantes. Desde 2007, participam da chamada “Sexta da Ciência” mais de 80 alunos de Ribeirão Preto, Luiz Antônio (53 km de Ribeirão Preto) e Pradópolis (36 km de Ribeirão Preto). As atividades oferecidas aos alunos são palestras, práticas, observações, coletas e oficinas de redação. Os temas são variados, como biologia molecular, citologia e botânica – orientados por pesquisadores e pós-graduandos do Hemocentro e da USP. Os alunos também participaram do programa “Sangue Seguro”, da equipe de enfermagem do Hemocentro, em que aprenderam conceitos de células sangüíneas, imunologia e doação de sangue. Apoiada por programas e instituições supracitadas, a Casa da Ciência, ao longo de sua trajetória, compromete-se com a divulgação e disseminação de dados e resultados. O Jornal das Ciências, juntamente com o site da Casa da Ciência na Internet – em fase de atualização –, foi o primeiro veículo de divulgação da “Casa”, seguido

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dos Folhetins, material de atualização em ciências1. O aluno, segundo as concepções da Casa da Ciência, pode ser um aliado do professor em sala de aula, tornando-se um incentivador e uma ligação com o restante da sala. Entre os alunos freqüentadores das atividades da Casa da Ciência, sabe-se que esses apóiam o professor, ao fazerem anotações e perguntas durante a aula, e até os próprios colegas, quando ensinam o que mais gostam de estudar. Os alunos vão além do livro didático e aprendem a relacionar conceitos. Desta maneira, adquirem uma forma de raciocinar que os ajuda em todas as outras disciplinas da escola. A equipe da Casa da Ciência possui o hábito do registro, principalmente na interação com os alunos em palestras e atividades. Segundo Barbieri (2001), “o registro é imprescindível para avaliar a aula e a aprendizagem dos alunos, construindo a memória escrita, a avaliação”. Quando o professor trabalha o Jornal das Ciências em sala de aula, é esperado que o aluno tenha dúvidas e levante questões relacionadas aos textos do jornal. O objetivo é que ele consiga compreender conceitos e, ao escrever posteriormente sobre o que aprendeu, demonstre sua aprendizagem. Até chegar às escolas, a ciência percorre um longo caminho, encurtado muitas vezes com a utilização de jornais em sala de aula. Segundo Reis (2006), a divulgação feita em jornais e revistas serve para preencher lacunas de formação básica. Porém, é preciso cautela. Segundo Caldas (2006), não se trata de ensinar os 1.  Projeto “Folhetins: Material de Divulgação Científica do MuLEC - Campus da USP Ribeirão Preto”, aprovado em 2006, pelo Fundo de Cultura e Extensão Universitária (FCEx).

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professores a “lerem” os jornais, mas de possibilitar a compreensão do poder da mídia e o papel ocupado pelos diferentes veículos. Só então poderão ensinar os alunos a refletir sobre os conteúdos noticiosos e, então, desenvolver formas autônomas de pensar o mundo. Com a intenção de incentivar o raciocínio e atitudes críticas do aluno, os textos do jornal procuram deixar questões e incitar discussões. Discussões teóricas A divulgação da ciência teve seu início com o próprio advento da imprensa de tipos móveis, em meados do século XV. A difusão da impressão na Europa acelerou a criação de uma comunidade de cientistas, fazendo com que suas idéias e ilustrações científicas se tornassem disponíveis às pessoas letradas, restringindo-se aos representantes do clero, da nobreza e da burguesia (OLIVEIRA, 2002). O berço do jornalismo científico deuse após a revolução científica, ao longo dos séculos XVI e XVII, destacando-se o inglês Henry Oldenburg, reconhecido pela Real Sociedade Britânica, em 1665, pelo seu trabalho de divulgação científica por meio de cartas impressas. No ano seguinte, Oldenburg criou o periódico científico Philosophical Trasactions, o qual divulgava textos de cientistas de vários países (BURKETT, 1990). No Brasil, a pesquisa científica era incipiente até o século XIX, estando à margem da Europa e dos Estados Unidos. No século XIX, a imprensa brasileira deu seus primeiros passos, após 1808, quando o governo português suspendeu a proibição da impressão de livros e jornais no Brasil. Em setembro de 1808, surge a Gazeta


do Rio de Janeiro, veículo oficial da corte portuguesa impresso no Brasil. Hipólito José da Costa é considerado o fundador do jornalismo científico, por sua atuação como editor no jornal Correio Brasiliense (1808-1822), o primeiro jornal a circular no Brasil, no entanto era impresso na Inglaterra, o qual empresta sua data de fundação (1o de junho) para o dia da imprensa (GIACHETI, 2006). No século XX, após o término da II Guerra Mundial, a instituição da ciência se fortalece devido ao impacto do avanço tecnológico causado no mundo. Surgem então as primeiras publicações científicas na Europa e nos Estados Unidos: American Journal of Science (1818), Scientific American (1845) e Nature (1869). Em 1948, é fundada no Brasil a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), por um grupo de cientistas, entre eles o reconhecidamente maior divulgador científico do país, José Reis. Com formação na Faculdade Nacional de Medicina (na Praia Vermelha, hoje UFRJ) e no Instituto Oswaldo Cruz, José Reis (1907-2002) tornou-se um dos maiores especialistas em doenças de aves. Mas foi como divulgador científico e jornalista que trilhou sua trajetória, com destaque para a coluna semanal que escreveu na Folha de S. Paulo, de 1947 até o final de sua vida, em 2002. Foi também fundador e editor da revista Ciência e Cultura (SBPC), e fundador, juntamente com um grupo de jornalistas, da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), que completou 30 anos em 2007. Em 1951, foi criado o Conselho Nacional de Pesquisas, o CNPq, que em 1974 passou a ser Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A

Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) é instituída em 1962, uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. A partir de 1970, cresce o interesse pela formação acadêmica, com cursos de pós-graduação em jornalismo científico. O primeiro curso de extensão na área foi na Escola de Comunicação e Artes (ECAUSP), ministrado pelo jornalista espanhol Manuel Calvo Hernando. Um dos ícones do jornalismo científico na América Latina, Hernando encara a divulgação da ciência como um dos grandes desafios do século XXI. Neste mesmo período foi fundada, na cidade de São Paulo (1977), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), com o objetivo de consolidar o campo acadêmico da Comunicação. A entidade promove congressos anuais e faz parte da rede nacional de sociedades científicas lideradas pela SBPC, bem como de entidades internacionais. Outras entidades são destaque, como o Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo), criado em 1994, que produz a revista eletrônica mensal ComCiência, e o Núcleo José Reis de Divulgação Científica (NJR), entidade fundada em 1992, na ECA/USP, que incorpora a Cátedra Unesco de Jornalismo Científico, que em 2007 comemorou o centenário de José Reis. No mesmo núcleo surgiu, em 2001, a ABRADIC, Associação Brasileira de Divulgação Científica. Pode-se citar também instituições como a Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e a

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Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a qual criou, em 1982, o “Radis” (Reunião, Análise e Difusão de Informações sobre Saúde), que possui publicações como a revista Radis e o Caderno de Saúde Pública. No mercado editorial destacam-se as revistas Ciência Hoje (SBPC), Superinteressante e Terra (Editora Abril), Galileu e Globo Rural (Editora Globo). Já a revista Pesquisa Fapesp, desde 2002, é vendida em bancas de jornal.

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Divulgação e difusão científica O tema divulgação da ciência possui alguns referenciais teóricos, os quais utilizam expressões preferenciais. Partindo das atividades de jornalismo científico, abrangem-se conceitos de divulgação científica, disseminação, vulgarização e difusão científica. Também são utilizadas expressões como comunicação e cultura científica. Já o termo alfabetização científica, Science literacy, foi empregado pela primeira vez nos anos 1950 por Paul Hurd, no artigo intitulado Science literacy: its meaning to American schools. O autor defende a idéia de que todas as pessoas necessitam ter um conhecimento científico mínimo a respeito da ciência e do uso da tecnologia (HURD, 1958). Termo este também utilizado em diferentes países, como Public Understanding of Science, na Inglaterra, e la Culture Scientifique, na França. Giacheti (2006) entende que a divulgação científica inicia-se nos órgãos governamentais responsáveis pelo planejamento e distribuição dos recursos e, principalmente, na comunidade científica. Bueno (1984) discute em sua tese de dou-

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torado que a divulgação científica é entendida como uma atividade de difusão. Conceito este que se desdobra em difusão para especialistas (disseminação científica) e em difusão para o público em geral (divulgação científica). Difusão, para Moura (2007, p.3), significa “capacidade de transformar o conhecimento teórico ou prático em ferramenta útil para a sociedade”. Vogt (2003) apresenta a expressão cultura científica de uma forma dinâmica, com a “espiral da cultura científica”. E discorre sobre a idéia de que o processo do desenvolvimento científico é cultural, quer considerado do ponto de vista de sua produção, de sua difusão entre pares ou na dinâmica social do ensino e da educação, quer do ponto de vista de sua divulgação na sociedade como um todo, para estabelecer relações críticas necessárias entre o cidadão e os valores culturais de seu tempo e história. Viés econômico e social A divulgação e a cultura científica estão atreladas à pesquisa científica nacional e ao investimento do governo nas áreas de Ciência e Tecnologia. Neste contexto, o Brasil se destaca como uma nação em desenvolvimento, posicionando-se entre as dez maiores economias do mundo. Este crescimento caminha, evidentemente, para a consolidação da própria pesquisa científica nacional, tendo havido avanço do jornalismo científico nos últimos 20 anos. Em 2006, o desempenho do país subiu da 17a para 15a posição entre as nações mais produtivas, segundo informações da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). De acordo


com os dados, o país foi responsável por 1,92% dos artigos publicados. Os pesquisadores brasileiros publicaram 16.872 artigos, cerca de mil a mais do que em 20052. Esses dados confirmam o aumento de investimentos do governo federal em ciência e tecnologia, entre 2000 e 2006, conforme informações do gráfico abaixo: Brasil: Investimentos em ciências e tecnologia (C&T), por atividades, 2000-2006 (1)

12.000,0

(em milhões de R$ 2006) Total

10.000,0 8.000,0 P&D 6.000,0 4.000,0 2.000,0

ACTC

2000

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2000

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2000

2000

P&D: Pesquisa e desenvolvimento; ACTC: Atividades científicas e técnicas correlatas. Fonte(s): Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Extração especial realizada pelo Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Elaboração: Coordenação-Geral de Indicadores – Ministério da Ciência e Tecnologia. Atualizada em: 02/07/2007.

Porém, há um abismo entre o crescimento econômico do país e o investimento em educação, a qual possui uma extensa lista de problemas. Segundo Ivassinevich (2003), “a formação inicial dos professores é insuficiente e deficiente, e a permanente quase inexiste. Os salários nesse setor são baixos e o material didático é insatisfatório. Há deficiências de aprendizagem em escolas públicas e privadas”. O fato é confirmado por meio de avaliações internacionais, como o PISA, sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que avaliou o desempenho em Matemática, Leitura e Ciências de estudantes de 15 anos de idade, em 57 países. No ranking de ciências, realizado em 2006, o Brasil ficou na 52a posição. Neste programa são avaliados não só os conhecimentos adquiridos pelos jovens, mas, principalmente, as habilidades e competências que vão permitir uma participação efetiva na sociedade. O Brasil participa do Programa, coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), desde a primeira edição, em 2000. A aplicação do 2.  Fonte: Revista Pesquisa Fapesp, n. 138, p. 24.

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PISA no Brasil é coordenada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Dados nacionais também revelam a má qualidade do ensino oferecido pela rede escolar pública. A mais recente avaliação feita pela Secretaria Estadual de Educação, o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp), avaliou mais de 5 mil escolas do estado em 2007. O índice, formulado a partir de combinação notas e fluxo escolar, é utilizado pelas autoridades educacionais para avaliar de maneira precisa a melhoria das escolas e fixar metas de produtividade e de qualidade para cada uma delas. Segundo a pesquisa, numa escala de 0 a 10, a rede de escolas estaduais de São Paulo ficou com as notas 2,54 para a 8a série do ensino fundamental, e 1,41 para a 3a série do ensino médio. Apenas duas escolas do ensino médio e 19 do fundamental conseguiram tirar a nota 6, padrão dos países desenvolvidos3. Considerações finais A alfabetização científica dos alunos e o desenvolvimento da cultura científica nas escolas são uma ação conjunta, que soma forças de várias instituições da sociedade: ciência, os meios de comunicação e a escola. Neste contexto, a universidade não pode ficar alheia. Segundo Ivassinevich (2003, p. 33), “[...] como produtora e detentora do conhecimento, a contribuição dos cientistas é valiosíssima, necessária e mesmo indispensável, mas como contri3.  (Fonte: Folha de S. Paulo 14/05/2008; O Estado de S. Paulo, 16/05/2008).

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buição interdisciplinar à dos educadores”. A proposta então seria melhorar a formação do educador como pesquisador e a do pesquisador como educador. Ainda de acordo com a autora citada, o que precisa mudar é a oferta de fontes confiáveis, a difusão da pesquisa científica, o livre acesso ao que é produzido pelos pesquisadores. De acordo com Reis (2006), a divulgação científica “[...] é uma atividade útil e necessária, que mereceria apoio ainda maior do que já tem, que justificaria muito maior empenho a fim de tornar cada vez menor o desperdício de informação científica, que hoje é muito grande”. São muitas as barreiras que se interpõem entre a descoberta e o conhecimento científico, de um lado, e sua comunicação e absorção pelo público de outro, tais como a barreira do próprio conhecimento limitado do cientista, da linguagem, do segredo profissional e a barreira natural do auditório. Segundo o autor citado, a divulgação científica mereceria maior compreensão dentro das universidades, como atividade extracurricular. “Um esforço, dos mais dignos, de educação do homem comum e de sua integração mais segura na sociedade a que pertence, tão profundamente influenciada pela ciência e pela tecnologia”. Para Habermas (1987), a ciência e a técnica ampliam as possibilidades humanas, libertando o homem do peso das necessidades materiais, sendo o desenvolvimento da espécie humana resultado de um processo histórico de desenvolvimento tecnológico, institucional e cultural, processos que são interdependentes. O desenvolvimento do conhecimento científico e técnico, ao propiciar o crescimento e o aperfeiçoamento das forças produtivas,


provê o sistema capitalista de um mecanismo regular que assegura a sua manutenção. A ciência é um campo riquíssimo de significados, pois nela se reproduz a engrenagem de nossa vida contemporânea. Será que o estudante compreende que todas as suas ações diárias são permeadas pela ciência e tecnologia? Falar ao telefone celular, usar o computador, utilizar aparelhos eletrônicos, pegar a condução, ouvir rádio. Nessa perspectiva, a escola apresentase como o espaço onde uma ação comunicativa, ao ser desenvolvida sistematicamente, coincide com os objetivos de uma educação que visa à formação de indivíduos críticos e participativos. Mas como possibilitar ao aluno condições de participação ativa e crítica, em uma estrutura escolar que em si mesma é fragmentada e destituída de vinculação com a vida concreta e com os problemas de sua época histórica? (GONÇALVES, 1996)

É na escola, no aprendizado das ciências, que o aluno deveria compreender todos esses significados, e assim construir sua vida cultural e social. Neste caminho, em que momento o conhecimento científico é considerado fundamental na formação do professor, dos estudantes, estando presente além dos livros didáticos? Como se dá a atualização de temas relevantes diante do progresso da ciência, bem como das últimas tecnologias? Como um professor pode ensinar genética, articulada às descobertas do genoma e das células-tronco? Como os alunos podem formar sua opinião a respeito das mudanças climáticas, ecologia e preservação do meio ambiente? Partindo dessas questões, o jornalismo e a divulgação científica entram como agentes facilitadores na construção da cidadania, ao promover a democratização do conhecimento científico e favorecer a inclusão social.

Referências bibliográficas AMERICAN ASSOCIATION FOR THE ADVANCEMENT OF SCIENCE. Project 2061: Science for all Americans. Washington: AAAS, 1989. Disponível em: <http://www.aaas.org/>. Acesso em: 01/04/2008. ALBAGLI, S. Divulgação Científica: informação científica para a cidadania? Ciência da Informação, v. 25, n. 3, p. 396-404, 1996. BARBIERI, M. R. Laboratório de Ensino de Ciências: 20 anos de história. Ribeirão Preto: Holos, 2002. BARBIERI, M. R.; SICCA, N. A. L.; CARVALHO, C. P. de (org.). A construção do conhecimento: uma experiência de parceria entre professores do ensino fundamental e médio da rede pública e a universidade. Ribeirão Preto: Holos, 2001.

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BUENO, W. da C. Os novos desafios do jornalismo científico. Disponível site Contexto Comunicação e Pesquisa. Disponível em: <http://www.jornalismocientifico.com.br/jornalismocientifico/artigos/jornalismo_cientifico/artigo9.php>. Acesso em: 12/08/2007. BUENO, W. da C. Jornalismo científico no Brasil: os compromissos de uma prática dependente. Tese (doutorado) ECA USP/SP (mimeo), 1984. BURKETT, W. Jornalismo científico. São Paulo: Forense Universitária, 1990. CALDAS, M. G. C. “Mídia, escola e leitura crítica”. Revista Educação & Sociedade, Campinas - SP, v. 27, n. 94, 2006. GONÇALVES, M. A. S. “Interdisciplinaridade e educação básica: algumas reflexões introdutórias”. In: Educação Básica e o básico em educação. Porto Alegre: Sulina, 1996. HABERMAS, J. Técnica e ciência como ideologia. Lisboa: Edições 70, 1987. HURD, P. de H. “Science literacy: its meaning for American schools”. Educational Leadership [/sertitle], v. 16, n. 1, p. 13-16, 1958. –156–

IVASSINEVICH, A. “Saber fragmentado: um retrato de conhecimentos científicos de nossos jovens”. Revista Ciência Hoje, v. 34, n. 200, p. 26-33, 2003. KREINS, G.; PAVAN, C. O desenvolvimento científico no Brasil. São Paulo: NJR, 2000. MILLER, J. D. “Scientific literacy: a conceptual and empirical review”, Daedalus[/sertitle], v. 112, n. 2, p. 29-48, 1983. ________. (2000a). “The development of civic scientific literacy in the United States”. In: KUMAR, D. D.; CHUBIN, D. E. (Orgs.). Science, technology and society: a sourcebook on research and practice.[/sertitle] New York: Kluwer Academy/Plenum, p. 21-47. ________. (2000b). “Scientific literacy and citizenship in the 21st century”. In: SCHIELE, B.; KOSTER, E. (Orgs.). Science centers for this century[/sertitle]. Quebec: Multimondes, p. 369-411. MOURA, M. “Para encurtar caminhos”. Revista Pesquisa Fapesp, suplemento especial “CEPIDS: A difusão do conhecimento”, n.135, São Paulo: Maio, 2007. OLIVEIRA, F. de. Jornalismo científico. São Paulo: Contexto, 2005.

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PISA (2006). Relatório Internacional- Resumo. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/download/internacional/pisa/PISA2006-Resultados_internacionais_resumo.pdf>. Acesso em: 07/02/2008. PISA 2000 (2001). National Report. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/download/internacional/pisa/PISA2000.pdf>. Acesso em: 07/02/2008. REIS, J. O que é divulgação científica?, nas palavras do Dr. José Reis. [S.I: s.n], 2006. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/>. Acesso em: 05/03/2008. VOGT, C. “A espiral da cultura científica”. In Cultura Científica, revista eletrônica ComCiência (SBPC/Labjor), n. 45, julho 2003. Disponível em: <http://www.comciencia.br/reportagens/framereport.htm>. Acesso em: 03/03/2008.

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Normas de publicação da revista científica dos cursos de comunicação social A revista científica dos cursos de Comunicação Social das Faculdades COC tem por objetivo incentivar a reflexão acadêmica, difundir pesquisas e propiciar um intercâmbio científico entre pesquisadores e professores da área de comunicação. A publicação divulga trabalhos inéditos de pesquisadores e docentes das Faculdades COC e de outras instituições de ensino. As colaborações poderão ser apresentadas em forma de artigos, resenhas, relatos de pesquisas em andamento e de congressos científicos, levantamentos bibliográficos ou informações gerais, que estarão condicionadas à aprovação prévia da Comissão Editorial. O conteúdo e o compromisso com o ineditismo dos textos são de responsabilidade dos seus autores, que deverão enviar a autorização de publicação, concordando com as normas descritas neste documento, juntamente com o texto. Os direitos autorais de ilustrações, gráficos, fotografias, tabelas e desenhos que acompanharem os textos serão de exclusiva responsabilidade do colaborador. Os trabalhos publicados serão considerados colaborações não remuneradas, visto que a revista não é de caráter comercial, e sim de divulgação científica.

Artigos 1. Os arquivos devem ser encaminhados por e-mail para os endereços: paulamelani@coc.com.br e dtincani@gmail.com, configurados no programa Word for Windows. 2. Os textos devem ter de 15 a 20 laudas, em fonte Times New Roman, corpo 12, com espaço de 1,5 cm. Cada lauda deve ter 20 linhas e 70 toques (um total de 20 a 30 mil caracteres, incluindo espaços) e estar na folha A4. Editor de texto Word for Windows 6.0 ou posterior, com parágrafo justificado com tabulação 3,0 cm. 3. A estrutura do texto deve apresentar a seguinte ordem: título, nome do autor, com breve currículo (5 linhas no máximo), resumo (em 600 caracteres no máximo), abstract (versões para o inglês e o espanhol), 5 palavras-chave, corpo do texto e referências bibliográficas.

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4. O currículo do autor do artigo deve conter as seguintes informações: nome, maior titulação, entidade a que está vinculado e endereço eletrônico. 5. O título do trabalho e o(s) nome(s) do(s) autor(es) deverão ser apresentados em página de rosto, com breve currículo em nota de rodapé. 6. Ilustrações e/ou fotografias serão utilizadas dentro das possibilidades de editoração. 7. Tabelas e gráficos devem ser numerados e encabeçados pelo seu título. 8. Desenhos, ilustrações e fotografias devem ser identificados por suas respectivas legendas e pelo nome de seus respectivos autores. 9. Citações e comentários no corpo do texto deverão ser remetidos ao rodapé. As citações devem seguir o padrão: autor (sobrenome, primeira letra do nome), título da obra em bold e itálico e número da página. 10. As referências bibliográficas (bibliografia) deverão estar dispostas no final do artigo e ser redigidas em ordem alfabética, com a seguinte seqüência: autor (sobrenome em caixa alta, nome), título em bold, edição, cidade, editora e data de publicação.

Resenhas –160–

1. Os textos devem ser encaminhados por e-mail para os endereços: paulamelani@coc.com.br e dtincani@gmail.com, configurados no programa Word for Windows. 2. Cada resenha deve ter de 2 a 4 laudas, em fonte Times new Roman, corpo 12, com espaço de 1,5 cm. Cada lauda deve ter 20 linhas com 70 toques (num total de 2.800 a 5.600 caracteres). 3. A resenha deve vir acompanhada das referências bibliográficas completas da obra em pauta (autor, obra, cidade, editora, data, ISBN e número de páginas). 4. A resenha deve trazer um breve currículo do seu autor com: nome, maior titulação, entidade a que está vinculado e endereço eletrônico.

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