negócios
A Economia da
Deborah Persaud, pesquisadora: “é uma prova de que o HIV pode ser curável em crianças”
ganha força Rafael FREIRE
A cura de um bebê inaugura uma nova era na indústria de remédios para combater o HIV, um mercado de US$ 16,8 bilhões
A
notícia da cura de uma menina de 2 anos infectada com o HIV, vírus causador da Aids, divulgada na semana passada, renovou a esperança de uma solução para a doença. A criança nasceu em um hospital rural no Estado do Mississippi, nos Estados Unidos, e seu tratamento com coquetel antiviral, começou 30 horas depois do parto. Ao final de um ano e meio de terapia, o bebê ficou dez meses sem tomar qualquer medicamento e, mesmo assim, os resultados dos exames indicaram uma inédita cura funcional da doença, quando o vírus deixa de se multiplicar. “Essa é uma prova de que o HIV pode ser potencialmente curável em crianças”, disse Deborah Persaud, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore, ao anunciar a descoberta, em Atlanta, no Estado da Geórgia. Embora o caso não tenha convencido a comunidade científica, que
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Dinheiro 13/03/2013
espera a publicaremédios utilizados no tratamento dos 230 mil brasileiros infectados com o ção dos detalhes HIV. “Esse tipo de medicamento transdo estudo, o episóformou uma doença fatal em crônica”, dio marca o comeafirma Jarbas Barbosa, secretário de ço de um novo capítulo na indústria de Vigilância e Saúde do Ministério da combate ao vírus HIV. Saúde. O restante foi destinado a ações de Esse mercado movimentou US$ 16,8 prevenção, exames e a distribuição de bilhões em 2011 e deverá chegar a 500 milhões de preservativos. O governo US$ 22 bilhões até 2015, de acordo com a federal é o maior comprador de camisiUnaids, programa da ONU focado em nha do Brasil, um segmento que faturou HIV. “Esse novo caso ressalta a necessiR$ 2 bilhões em 2011, no dade de pesquisas, especialmente na área de Epidemia controlada País,segundo levantamento da consultoria diagnóstico precoce”, Os principais números da americana Nielsen. afirmou, em nota, Michel doença no Brasil e no mundo Das 20 drogas que Sidibé, diretor da Unaids. US$ 16,8 bilhões é o investimento compõem o coquetel de Há 34 milhões de pesglobal para combater o HIV remédios do SUS, oito soas soropositivas no R$ 1,18 bilhão é quanto o Ministério da são produzidas no País. mundo, segundo dados da Saúde gasta com a doença no Brasil O governo, no entanto, ONU. No Brasil, o 500 milhões de camisinhas foram Sistema Único de Saúde vem tentando aumentar distribuídas pelo governo em 2012 (SUS) gastou no ano esse número através de passado R$ 1,2 bilhão no parcerias públicocombate à Aids. Desse privadas entre fundavalor, R$ 788 milhões ções públicas e os laboforam destinados à comratórios proprietários pra de coquetéis de das patentes. Fontes: Unaids, Ministério da Saúde
foto: Johns Hopkins Medicine/AP Photo
negócios
O cerco se
fecha Ameaça de proibição do amianto, responsável por 80% de seu faturamento, obriga a eternit a desenhar estratégia para reduzir a dependência da matéria-prima
do banimento da principal matéria-prima das telhas e caixas d’água que fabrica, de onde provém 80% de seu faturamento de R$ 820 milhões, volta a assombrar a Eternit. É que o Supremo Tribunal Federal (STF) está julgando o uso do amianto. O STF analisa a validade ou não das leis estaduais vigentes em São Paulo, no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, em Pernambuco e Mato Grosso do Sul, que proibiram a fabricação e venda de produtos que usam esse insumo. A decisão, que estava empatada em 1 a 1, foi adiada para 2013. Desta vez, no entanto, a Eternit
Luciele Velluto
não pretende ser pega de surpresa. Apesar da ainda alta dependência da
T
em cara de déjà vu para a Eternit, uma das principais fabricantes de material de construção brasileiras. Em 2003, a França proibiu a comercialização de produtos com o amianto, que pode provocar câncer se manuseado sem proteção. O grupo francês Saint Gobain, que a controlava, decidiu vender suas ações na empresa, em reação à medida do governo francês. Foi um período tumultuado para a companhia, que foi resgatada por um grupo de acionistas minoritários, formado pelos investidores Lirio Parisotto, Luiz Barsi Filho, Victor Adler e Guilherme Affonso Ferreira. Uma década depois, o espectro
matéria-prima, essa relação está diminuindo. Em 2007, 95% de suas
receitas advinham do amianto. Novos negócios, na ocasião, representavam apenas 5,7%. Atualmente, eles detêm uma fatia de quase 18%. Explica-se: sabendo do risco da proibição, a Eternit começou a diversificar sua produção. Telhas de concreto e acessórios são responsáveis por 10% da receita líquida da companhia nos três primeiros trimestres de 2012. Louças sanitárias, uma área na qual a companhia passou a atuar em 2009, já representam 5,3%. A meta é diminuir para 50% a dependência do amianto em cinco anos e aumentar
Se for proibida a extração, teremos que encontrar substituto élio martins, presidente da eternit para atender o brasil e o mundo 88
Dinheiro 12/12/2012
foto: Rafael Hupsel/Agência Istoé
DIVERSIFICAÇÃO
Evolução da receita da Eternit por categoria de produtos
ainda mais a grupo localizada (em %) atuação em em Minaçu (GO), Fibrocimento* outras áreas. trabalha com Mineral amianto crisotila “São também 100% de sua capaNovos negócios interessantes cidade e extrai 300 59,3 os segmentos mil toneladas por 50,2 de pisos e ano de amianto 35,0 32,0 revestimentos, crisotila, atenden17,8 tintas, argado com sobras o 5,7 massas, que consumo nacional 2012** 2007 podemos anado minério, de 170 lisar no futumil toneladas. “Se * usa fibras de amianto ** nove primeiros meses do ano ro”, afirma for proibida a Fonte: empresa Élio Martins, extração, teremos presidente da que encontrar um Eternit. substituto para atender o Brasil e o resto Fundamental nessa estratégia de do mundo, já que abastecemos outros paídiversificação é a fábrica de louças ses”, diz Martins. A intenção da Eternit é sanitárias que a empresa está consinvestir R$ 30 milhões para ampliar a truindo no Ceará, com previsão de mineração para 350 mil toneladas por inauguração em 2014. Trata-se de um ano, porém falta a decisão do STF quanto investimento de R$ 100 mil, em conao uso do amianto. junto com a colombiana Corona, que Essa indefinição legislatória tem ficará com 40% desse empreendimenimpactado nas ações da companhia. to. Outra tática para não ficar refém da Neste ano, elas acumulam queda de 7,7,%. decisão do STF é começar a adaptação Nos últimos 70 dias, desvalorizaram-se de suas fábricas para a produção de mais de 20%. Na terça-feira 4, eram cotatelhas de fibrocimento sem amianto. das a R$ 7,62, o mais baixo valor em um Martins avalia que há mercado para os ano. De acordo com a analista de mercado dois produtos, mas ressalta que ainda Sandra Peres, da corretora Coinvalores, a falta encontrar uma fibra que possa mobilização da empresa para reduzir a substituir com a mesma qualidade o dependência do amianto em seus resulamianto. Hoje, a Sama, mineradora do tados tem sido vista de forma positiva pelos investidores. “Se não tivesse essa dúvida em relação à decisão da Justiça, aposta na seria uma excelente empresa para invesempresa: Lirio Parisotto foi tir.” Martins afirma que a diversificação um dos acionistas também tem feito com que mais investique reergueram a dores estrangeiros apostem na empresa, Eternit após a saída da Saint passando de 3,5% para quase 12%, Gobain nos últimos seis meses.
Capacidade total:
a mineração de amianto crisotila em Minaçu (GO) receberá investimentos se o STF liberar a matéria-prima
Foto: nonononon
Dinheiro 00/12/2012
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Hering perde a linha
Rafael FREIRE
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deles veio à tona quando a empresa divulgou sua previsão de vendas no quarto trimestre do ano passado. Apesar de ter regis-
Fábio hering: “Tínhamos potencial para crescer muito mais, mas enfrentamos problemas com a cadeia de suprimentos e as lojas ficaram sem estoque”
xistem empresas que conseguem se reinventar sem ter de mudar drasticamente o seu trado crescimento de 10,7% das leque de produtos. É o caso da catarireceitas, o desempenho sob o critério nense Hering, fundada em 1880, com de unidades existentes há mais de receita de R$ 1,3 bilhão. A empresa de um ano recuou. É a segunda queda Blumenau, no Vale do Itajaí, conseguiu em quatro trimestres. “Tínhamos que uma simples camisa básica branca potencial para crescer muito mais, mas de algodão – a roupa que todo mundo enfrentamos problemas com a cadeia usava debaixo da roupa que estava vesde suprimentos e as lojas ficaram tindo – se tornasse um item de moda. sem estoque”, afirmou Fábio Hering, Essa transformação começou a partir presidente da empresa, durante a telede 2007, quando a Hering deixou de ser conferência com os analistas em 10 de uma malharia de produtos baratos para janeiro. A reação do mercado foi dura. entrar com tudo no mundo fashion, As ações caíram 11,9% depois da fala de apostando também na produção de Hering. Em 2013, acumulam queda de calças, casacos, jaquetas e roupas para 7,6%. Desde dezembro do ano passado, ginástica, centrando suas baterias já se desvalorizaram em 20%. nos consumidores jovens. O resultado Outro sinal de que alguma coisa pode ser conferido pelo retorno de suas ações. Nos últimos três anos, elas se tornaram a queridinha dos investido1º trimestre res, com retorno de 362%. • Vendas baixas da Esse ritmo de expansão parecoleção de outonoce ameaçado. Em 2012, uma inverno, por conta série de erros estratégicos no mês de camisa justa do calormarço tisnou o brilho da Hering, que Os principais obstáculos perdeu boa parte do encanto 2º trimestre enfrentados pela Hering entre os investidores (veja • Erro no mix da em 2012 coleção e falta de quadro ao lado). O mais recente
estava errada foi o aumento nos custos com horas extras e frete, justamente para tentar atender à demanda nas lojas. “Essas despesas deverão ter um peso grande nas margens da empresa”, afirmou Frederico Oldani, diretor-financeiro e de relações com os investidores da Hering. As incertezas durarão até o dia 21 de fevereiro, data de divulgação dos resultados. “Foi um erro de estratégia e ele está custando caro para a Hering”, afirma Sandra Peres, analista da corretora Coinvalores. Para minimizar o impacto dos números indigestos, a companhia apresentou um novo estudo de abertura de lojas, no qual estima inaugurar 107 lojas, chegando a 649 pontos de venda no fim de 2013. “Caso não repita os erros de 2012, a Hering tem potencial para voltar a cumprir as expectativas do mercado”, diz Renata Coutinho, analista do Deutche Bank.
3º trimestre • Problemas de logística para 4º trimestre entregar compras feitas pelo • Falta de abastecisite, devido à migração de alguns produtos para um centro mento das lojas • Custo adicional com de distribuição inaugurado hora extra e frete em Anápolis (GO)
alguns produtos
Foto: Raphael Gunther/ValorFolhapress
Dinheiro 23/01/2013
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Fonte: empresas
Erros estratégicos de gestão derrubam as ações da companhia catarinense, que se desvalorizaram 20% em dois meses
Mercado
Digital
Uma empresário g e cara de pau m
Preso por pirataria digital em 2012, o empresário alemão Kim “Dotcom” Schmitz relança site Megaupload com nome mais curto e mesmo objetivo Diego MARCEL
O
alemão Kim Schmitz, conhecido como Dotcom, é considerado o inimigo número 1 da indústria de Hollywood. Isso porque o site que o tornou conhecido na internet, o Megaupload, lançado em 2005 e que chegou a ser um dos 15 endereços virtuais mais visitados do mundo,
distribuía arquivos de filmes e séries na rede gratuitamente. Acusado de pirataria nos EUA, ele foi processado, teve seu site fechado, no início do ano passado, e ficou preso durante dois meses na Nova Zelândia.
vésperas do seu 49º aniversário, em sua mansão, em Auckland, a principal metrópole neozelandesa. Assim como o Megaupload, trata-se também de um canal de compartilhamento de arquivos, mas com uma diferença fundamental: o empresário buscou brechas jurídicas para se isentar de responsabilidades em casos de processos.
Um das soluções encontradas foi fazer com que os arquivos compartilhados no site sejam “embaralhados” (ou criptografados, na linguagem técnica), por um códiO cerco da indústria go ao qual só audiovisual, no entanto, não o usuário A jogada de Dotcom Confira as "vacinas legais" o fez desistir. Um ano depois que fez o criadas para o Mega do fim do Megaupload, upload tem Dotcom retorna à cena com acesso. Arquivos embaralhados: agora, só o usuário sabe um novo site e com a extraAssim, o o que existe no arquivo vagância que lhe é peculiar. Mega não armazenado; o Mega não tem Em um evento repleto de conhece o conhecimento do conteúdo pirotecnias, com modelos conteúdo do Termos de uso: vestidas de soldado e fogos arquivo, que ao incluir ou baixar algo do de artifício, Dotcom apresenpode ser uma Mega, o usuário tem de aceitar tou seu novo projeto, o site foto pessoal assumir as responsabilidades por processos Mega, no dia 19 de janeiro, às ou um filme. “Nossos Casa nova: o site está hospedado na Nova advogados Zelândia, onde as leis digitais asseguram são mais flexíveis que estamos de acordo com a lei”, disse Dotcom. Será? E, em princípio, está mesmo. “A plataforma não é obrigada, em um primeiro momento, a definir o que contém um arquivo”, diz o advogado Renato Opice Blum, do escritório de Opice Blum. A defesa legal envolve também o termo de uso do site, que transfere a responsabilidade pelo conteúdo compartilhado para o internauta. Dessa forma, o Mega ficaria isento. “A única coisa que pode acontecer é o site, caso fique provado que algum arquivo é protegido por direitos autorais, ser obrigado a megavolta: retirar do ar os arquivos e Kim Dotcom fez um show com modelos e fornecer à Justiça os pirotecnias para dados dos usuários.” mostrar seu novo site
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Dinheiro 30/01/2013
foto: Richard Robinson
AgroECONOMIA
Juros
Baixos
irrigam o
foto: shutterstock
campo A O governo corta pela metade o custo dos financiamentos na compra de equipamentos para o agronegócio. Para quem pensa em investir na produção, a hora é agora Hugo Cilo
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expressão “quem planta, colhe”, embora seja uma indiscutível verdade popular, não explica tudo – nem sintetiza com precisão – a rotina do agronegócio brasileiro. Nos últimos anos, diante da necessidade de reduzir custos, aprimorar os processos de gestão das lavouras e aumentar a rentabilidade dos produtos agrícolas, a frase mais apropriada talvez seria “quem empresta, planta. Quem planta, colhe”. Não por acaso, a recente trajetória de queda na taxa básica de juros, a Selic, para 7,25% ao ano, o menor patamar da história, irriga de otimismo o campo brasileiro. “Quando a agricultura vai bem, a economia anda melhor e o cresci-
Astor Milton Schmitt, da Randon: “O corte dos juros plantou uma nova semente no agronegócio, que responde por 40% de nossas vendas, e já estamos notando um forte aquecimento da demanda”
mento do País vem na esteira”, diz o diretor corporativo da Randon, fabricante gaúcha de implementos rodoviários, Astor Milton Schmitt. “O corte dos juros plantou uma nova semente no agronegócio, que responde por 40% de nossas vendas, e já estamos notando um forte aquecimento da demanda.” Essa primeira semente que germina em terras de juros baixos é o Programa de Sustentação do Investimento, chamado de PSI-BK. Trata-se de uma linha de crédito rural com juros reduzidos de 2,5% ao ano para financiar a compra de bens de capital, como tratores, equipamentos para irrigação e armazenagem, implementos para transporte e manejo das lavouras, além de uma extensa lista de ferramentas para a atividade rural. A generosa taxa de juros – que é negativa quando se desconta a inflação – é uma espécie de promoção-relâmpago anunciada pelo governo federal. Vale apenas entre 1º de novembro e 31 de dezembro. Até então, o PSI-BK cobrava
5% ao ano, o dobro da taxa atual. “O Conselho Monetário Nacional baixou a Resolução 4141 para turbinar a indústria do agronegócio nos últimos dois meses do ano, ajudando a fomentar um setor que é de extrema importância para o PIB”, afirma João Claudio da Silva Souza, coordenador de políticas setoriais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A julgar pelo apetite de crédito dos produtores rurais, não será por falta de financiamento que o agronegócio deixará de crescer. Entre 1º de julho e 31 de outubro deste ano, o PSI-BK emprestou R$ 2,5 bilhões para a compra de máquinas e equipamentos, ainda com juros de 5% ao ano. A cifra é cerca de 20% superior ao mesmo volume do ano passado. Outros R$ 3,5 bilhões estão à espera de novos pedidos de empréstimo. “Não temos dúvidas de que o abatimento de 50% nos juros será um motor para a concessão de novos financiamentos”, diz Souza, do Mapa. Desde que foi lançado, em agosto de 2009, o PSI-BK já emprestou R$ 17,9 bilhões. dinheiro rural/098-dezembro-2012
Mesmo sem o empurrão do PSI-BK, o mercado de crédito agrícola vinha em ritmo aquecido. Somadas todas as linhas de financiamento voltadas a produtores rurais, as contratações de crédito neste ano estão mais altas do que em 2011. Os contratos de empréstimos não passaram de R$ 26,5 bilhões na safra passada, montante que representa apenas 23% dos R$ 115,2 bilhões programados para o ano-safra 2012/2013. Além de impulsionar o componente industrial do agronegócio, o PSI-BK tende a impulsionar pequenos produtores de equipamentos voltados ao campo. É o caso da Pivot Equipamentos Agrícolas, de Cristalina, em Goiás. A empresa pretende superar as vendas do ano passado graças aos incentivos dos juros reduzidos. “A agricultura e a pecuária são dependentes de crédito assim como a grande maioria das atividades econômicas”, diz Renato Trindade, coordenador de estudos agrícolas da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. “E quando há incentivos de redução de juros, como a que estamos presenciando agora, as empresas menores são especialmente beneficiadas pela aceleração conjuntural de todo o setor.” 25