UM ARCABOUÇO HUMANISTA
VOL. 1 Edição | 1 BR R$15,50 IT €5,00 FR €8,00 GB £5,00 EUA US$7,99
ESPAÇO, TEMPO, LUGAR:
T U A N
Y I - F U
02 Yu-Fu Tuan 03 Tempo no espaço Mítico 8 Espaço, Tempo, Lugar: Modelos GrecoHebraicos
GEOGRAFIA
EDIÇÃO
1 13 Tempo e Espaço da Experiência 18 Tempo e lugar
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YI-FU TUAN
Tuan
é
um
geógrafo
sino-
americano e é reconhecidamente um dos autores fundadores da geografia humanista e do uso
das abordagens fenomenológicas em geografia. Sua principal abordagem era a teorização e definição do conceito de LUGAR.
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Escrito por Taynã Luiz Fotografias Google Imagens
TEMPO NO ESPAÇO MÍTICO A navegação tornada fácil Geografia | 3
Os mitos, superstições e religiões ajudaram as civilizações principalmente as antigas - a se relacionarem com o mundo e encontrar nele sentido e significado. Buscaram criar símbolos para assim se conectar com o seu lugar e definir sua identidade e cultura.
O TEMPO É DEMONSTRADO NO ESPAÇO MÍTICO DE TRÊS FORMAS: COSMOGÔNICO, ASTRONÔMICO E HUMANO.
COSMOGÔNICO
O TEMPO COSMOGÔNICO É DEFINIDO PELA HISTÓRIA Ancestrais míticos vagavam em busca de metas distantes
Por Taynã L. Fotografia Google Imagens
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Os eventos cosmogônicos têm a forma narrativa histórica. O conhecimento relativo à geografia é a partir do reconto das histórias ancestrais, os movimentos e as realizações. Berndt (1970) cita que as histórias são uma espécie de roteiros para o modo de vida semi-nômade.
O TEMPO ASTRONÔMICO É DEFINIDO PELO MOVIMENTO DOS ASTROS Por Taynã L. Fotografia Google Imagens
O tempo astronômico é de fácil espacialização, podendo ser cíclico ou repetitivo e sua melhor representação é pelo espaço simétrico, este, sendo as direções cardeais e moldado a partir das estrelas, como a Polar e o Sol. É um diagrama do curso diário do Sol e do ciclo sazonal, um relógio cósmico, que registra o tempo cíclico. Guenon (1950) aponta que cada posição do ponteiro desse relógio denotam uma estação diferente.
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Sendo muito difundido, é encontrado no norte da África, na Europa e na Ásia. Um exemplo são os índios Salteaux de Manitoba, caçadores e pescadores, estão bem conscientes das estações e dos diferentes tipos de ventos que sopram, alteram suas atividades econômicas entre assentamentos no verão e campos no inverno.
O TEMPO HUMANO É DEFINIDO PELA EFEMERIDADE DA VIDA
Tal qual o cosmogônico, o tempo humano é direcional. A vida é experimentada individualmente como uma jornada de mão única, começando com o nascimento e terminando com a morte. E também tal qual o corpo humano, o tempo humano é assimétrico, com a parte de trás voltada para o passado e a da frente, para o futuro.
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Espaço, Tempo, Lugar: Modelos GrecoHebraicos
Antagonismos A CONCEPÇÃO OCIDENTAL DADA A PARTIR DE AUTÓCTONE E NOMADISMO Por Arilson Lino Fotografias Google Imagens
As concepções ocidentais sobre espaço, tempo e lugar são do pensamento grego e hebreu. Sendo o mundo essencialmente espacial para os gregos, valorizando a natividade do local, com o tempo sendo cíclico. Já para os hebreus, os quais eram nômades, o tempo é direcional. Uma estrutura linear de tempo era estabelecida por sua imigração, como uma jornada, a qual iniciava em um ponto e terminava em uma meta, assim, o tempo possuía início e fim, sendo sequencial.
IMPACTOS DA CRENÇA A hebraica influenciou no mundo helenístico e foi usada para temporalizar suas percepções dominantes de realidade. A crença grega e hebraica influenciou no mundo latino dando origem a duas palavras que denotam visão do mundo: temporal = saeculum espacial = mundus
O tempo eterno: o circulo
Período medieval Tem no modelo de universo a síntese dos
Padres
pensamentos grego e hebreu, vendo o tempo
eterno, contemplação;
eterno ou cíclico;
Padres seculares: trabalhavam no mundo
A religião usava os pontos cardeais que auxiliavam
na
organização
do
devotos:
contemplavam
o
Deus
(saeculum), em meio ao povo.
espaço
terrestre. As igrejas eram construídas com
Aqui vemos duas imagens de diferentes
orientação para leste.
épocas que trazem um símbolo em sua
Quanto aos primeiros cristãos, eles eram
arquitetura que representou o infinito, ou
conhecidos como “o povo das estradas”,
seja, o tempo eterno: o círculo.
caminhantes. A Ordem dos beneditinos cria o conceito de stabilitas loci. Nesta época, surge então dois conceitos para diferenciar os padres: Geografia | 11
TEMPO E ESPAÇO DA EXPERIÊNCIA Por Gabriela Schwartz Fotografias Google Imagens
O tempo e espaço são estruturados em torno da intencionalidade e da atividade, assim o “aqui” e “ali” implicam “agora” e “depois”. Por exemplo, se permaneço na minha aldeia e escuto alguma novidade de outra aldeia, não é simultânea ao evento, pois as novidades chegam tarde, principalmente quando a distância da origem aumenta, resultando num alcance mais tardio ainda, ou seja, passado distante é a novidade. E, assim, outros lugares aparecem no consciente como se eles estivessem no passado, já que “remoto” significa “há muito tempo”. Então essa aldeia distante está ligada ao passado.
UM PONTO DE PARTIDA E UMA META TAMBÉM SÃO TEMPO?
Mas, em contrapartida, se tenho planos para visitar essa aldeia, ela está então ligada ao meu futuro, visto que é uma meta que tenho que atingir. Assim, “ponto de partida” e “meta”, mesmo sendo termos espaciais, também se referem ao tempo, com a meta sendo tanto uma localização no espaço quanto uma posição de tempo, pois está ligada ao futuro. Como mencionado no modelo greco-hebraico, uma jornada termina em uma meta.
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A vida cotidiana Objetos de uso diário escapam da nossa atenção. O tempo é uma ameaça fatal quando é curto. Ao olharmos pra cima, vemos estrelas, que são inalcançáveis e não há guias que guiam nosso olhar ao céu, sendo uma experiência diferente. Já olhar pra frente, é uma experiência familiar, não vemos o abstrato, vemos objetos, signos e marcos familiares, que servem de auxílio na superação de obstáculos diários, e, ironicamente, fazem com que não prestemos atenção nesses objetos familiares. Mas e quando a gente para? A gente vê ruas, cruzamentos, prédios, que nos auxiliam, caso estejamos perdidos, a nos localizarmos no nosso mapa mental. Mas quando algo inesperado ocorre, esses objetos familiares entram em nosso foco, pois dificultam o propósito, por exemplo uma tempestade que se aproxima e a distância se torna um fator, ela entra em foco, pois o tempo é crucial pra não enfrentar a tempestade. Assim, o tempo é uma grande ameaça quando curto.
"quando algo inesperado ocorre, esses objetos familiares entram em nosso foco"
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Então, objetos, espaço e tempo acabam se tornando visíveis. É uma mera contemplação olhar para o céu a noite quando não se tem nem razão nem prática na observação celeste, devendo se esforçar para converter esse olhar em experiência estética, como o hábito de olhar para frente, que também houve esforço para que se torne experiência.
Mundo mítico desprovido de tempo Esse esforço é evidenciado nas pinturas de paisagens chinesas, não havendo uma perspectiva central, tendo um espaço vasto e não definido, sem um horizonte separando a terra e o céu. Essa falta de foco central desencoraja a interpretação do espaço como uma corrente. E não há um tempo histórico na pintura de paisagem chinesa, nega-se a totalidade do tempo humano, o qual é dicotomizado entre presente e futuro, agora e depois, resultando num mundo mítico desprovido de tempo.
O horizonte passou a significar o futuro De forma oposta à China, na Europa havia um desenvolvimento da arte da paisagem voltada contra a ausência de tempo, aparecendo a perspectiva central, a qual localiza o infinito em uma direção específica, e a pintura converge para um ponto distante, e essa perspectiva resultou no aparecimento do tempo histórico. Já no século dezoito (XVIII), esse ponto distante se tornou uma regra na pintura de paisagem, e a atenção voltou-se para objetos distantes, com o telespectador tendo uma vista ampla do horizonte, este, que passou a significar o futuro. Um exemplo é as esculturas de estadistas, que sempre estão contemplando o infinito, os eventos que estão por vir.
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A distância medida se relaciona com o tempo? Espaço, sem ambiguidade, significa futuro. E a relação do espaço com o tempo rítmico e repetitivo, é que o tempo rítmico é uma medida de distância. Se é uma pequena distância entre duas aldeias, por exemplo, pode-se medir em passos, não sendo algo abstrato. Já grandes distâncias podem ser medidas pelos ritmos da natureza, como o dia e a noite, visto que esse ciclo diário é o que regula o ritmo biológico humano, medidas com distâncias como pernoites, dias, etc.
Outras dimensões lineares da natureza, como altura de árvores e largura de rios, não são utilizadas para medir a distância, e sim a periodicidade da natureza. Ou seja, será que teríamos, então, nos organizado de acordo com a experiência biológica do tempo rítmico? O período, ou ritmo, possui dois modelos.
REISE | PAGE 2
M O D E L O C Í C L I C O
A ÊNFASE ESTÁ EM SUA PRÓPRIA ÓRBITA
M O D E L O P E N D U L A R SIMBOLIZADO POR AMBIENTES CONTRASTANTES NO ESPAÇO
O pendular, que é simbolizado por ambientes contrastantes no espaço, como no slide, sendo uma casa e o campo. O movimento, aqui, não tem importância, o que tem importância é o fim do ciclo. Já no modelo cíclico, é a sua própria órbita. Se mede o tempo representando-o por um círculo no espaço. Um exemplo é o ciclo sazonal, importante para os agricultores. O calendário agrícola começa na primavera, pois, como vemos, é o período mais favorável para o plantio e desenvolvimento do cultivo.
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TEMPO E LUGAR
O lugar é uma pausa no movimento; A cidade é um tempo tornado visível. São duas relações entre tempo e lugar.
Por Matheus Haag Fotografias Google Imagens
Na sociedade moderna o movimento circular está centrado em dois pólos, o da casa e do trabalho.
Os campos, as áreas rurais têm de ser recriadas todos os anos, pois o esforço humano não deixa impressão cumulativa. Já a cidade é a encarnação da história. Eventos, decisões e aspirações do passado são preservados na forma atual. Sempre destacando os eventos e decisões mais importantes para o contexto da cidade. Mas será que todos os cidadãos conhecem a história da sua cidade? Conhecer o passado da cidade exige a ancoragem em coisas observáveis. *Nível privado: cartas velhas e objetos de estimação adquiridos ou herdados:
*Nível público: a escola, o bar da esquina ou a igreja local são lembranças arquitetônicas do passado vivido pelas pessoas:
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O sentido de lugar é adquirido após um período de tempo. Mas quanto tempo? Podemos dizer, geralmente, que quanto mais
tempo
permanecermos
em
uma
localidade melhor a conhecemos e mais
1. Infância;
profundamente significativa se tornará para
2. Experiência Intensa;
nós. As relações entre o tempo passado em
3. Imaginação.
uma localidade e a ligação com ela tem elementos
complicadores
devido
aos
mecanismos privilegiados da percepção infantil: