Marginal - Fotolivro

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marginal. por Gabriel Ewald


marginal. vagabundo. maconheiro.



Matheus, 22 anos, publicitário, fotógrafo.



Poliana, 20 anos, administradora, empreendedora.










Aviso: As próximas imagens podem ser desconfortáveis para a audiência mais sensível. Contém violência explícita.











"Entrou pela mão do vício. Lenitivo das rudezas da servidão, bálsamo da cruciante saudade da terra longínqua onde ficara a liberdade, o negro trouxe consigo, ocultas nos farrapos que lhe envolviam o corpo de ébano, as sementes que frutificariam e propiciariam a continuação do vício" (Dias, 1945).


Estima-se que a maconha tenha sido introduzida no Brasil em meados dos anos 1500, junto a chegada dos primeiros escravos ao país. No início da colonização, o cultivo da planta era incentivado pela coroa portuguesa no Brasil. Com o passar do tempo, o uso da erva passou a se popularizar em meio às camadas menos favorecidas, de negros e índios, o que até então ninguém pareceu se importar. Além disso, por muitos anos seu uso medicinal foi discutido e recomendado por médicos e estudiosos. Entretanto, em 1930, Henry Aslinger, chefe do FBN (Federal Bureau of Narcotics) nos Estados Unidos, incluiu a maconha na lista de substâncias proibidas no país, sem nenhum embasamento científico de que a erva realmente fazia algum mal, apenas por puro interesse econômico pessoal, já se aproveitando dos boatos de que a mesma induzia a promiscuidade e ao crime. Anslinger também atuou internacionalmente frequentando as reuniões da Liga das Nações, antecessora da ONU, propondo tratados cada vez mais duros para reprimir o tráfico internacional. Pode-se dizer que ele foi um dos maiores “culpados” da maconha ter sido criminalizada ao redor do mundo, e no Brasil não foi diferente. Influenciado pelos Estados Unidos, o Brasil também começou a reprimir o uso da maconha e a associá-la ao preconceito racial - o consumo de Cannabis tornou-se uma forma de criminalizar a população negra, historicamente marginalizada.


Nos últimos anos o uso recreativo e medicinal da erva tem sido muito discutido e até mesmo legalizado em alguns países, como Uruguai, Holanda, Canadá e diversos estados dos EUA. No Brasil também já tivemos certos avanços se tratando da cannabis para uso medicinal, mas apesar disso, o uso recreativo ainda é muito marginalizado se tratando principalmente das classes mais baixas. O Brasil hoje tem uma das maiores populações carcerárias do planeta, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China, e dos 700 mil encarcerados, mais de 200 mil foram presos por tráfico de drogas. Muitos desses presos são jovens usuários, ou no máximo "aviõezinhos" que portavam muitas vezes até menos de 50g da erva. Apesar de ser ilegal, não é muito difícil conseguir maconha para uso recreativo no país. Cerca de 80% da importação de maconha ilegal do Paraguai vem para o Brasil. Grande parte da população hoje em dia faz uso da mesma, sem nem mesmo saber a procedência, fumando o “prensado”, que na maioria das vezes, é misturado com diversas outras substâncias extremamente nocivas ao organismo.


A legalização e regularização da comercialização da maconha para fins medicinais recreativos não iria apenas diminuir o tráfico, a superlotação dos presídios e violência no país, mas também iria garantir a qualidade do produto vendido consumido, além dos ganhos financeiros que a liberação da mesma poderia trazer para país.

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A verdade é que existe um grande preconceito envolvendo o uso da cannabis, os usuários são pejorativamente chamados de “maconheiros”, caracterizados como “marginais” e “vagabundos”. Quando na realidade pessoas de todas as classes e tipos a consomem. Até porque qual é o grande problema em querer “fumar um” de vez em quando? O fato de ser usuário não influencia nas capacidades e no profissionalismo do indivíduo. O uso da erva de forma recreativa, como apontam alguns estudiosos, é até mais segura e menos prejudicial à saúde do que o consumo do álcool e do cigarro, por exemplo. Então porque todo esse preconceito? A proibição não impedirá o uso, assim como nunca impediu. O jovem favelado vai continuar vendendo para sobreviver, assinando assim a sua sentença de morte, enquanto a população mais rica não vivencia de maneira direta as influências da guerra contra as drogas. Portanto, legalize já!


Autor: Gabriel Ewald


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