MATÉRIAS E MATERIAIS TÉCNICAS ALTERNATIVAS E O ENSINO NA ARQUITETURA
TEORIA DA ARQUITETURA • GABRIELA JORGE - NATALIA BUENO
Templo Luum- MX
INTRODUÇÃO SOB O OLHAR DOS ALUNOS
A preocupação por uma arquitetura e construção sustentável vem crescendo consideravelmente no mundo todo, especialmente entre alunos de universidades de arquitetura. Com base nisso decidimos elaborar um estudo mais aprofundado sobre o tema. O propósito desta análise é mostrar o desenvolvimento de pesquisas feitas sobre universidades de arquitetura de diferentes regiões do país, em relação a falta de prioridade do ensino sobre materiais não convencionais, e também como negligenciam a própria cultura brasileira ao não incluírem essas técnicas alternativas em suas grades curriculares.
Casa Comunitária CHIENG YEN - VT
MULTICULTURALISMO NA ARQUITETURA A arquitetura brasileira sofreu diversas influências culturais de diferentes países europeus, no decorrer dos anos, com o crescimento dos centros brasileiros e o aumento da população próximo da década de 70, nossas raízes foram se perdendo e a influência desses países europeus foi se evidenciando. Hoje o Brasil é constituído por uma cultura bastante diversa, nesse momento vale a reflexão de resgatar e reintroduzir os traços de nossa herança arquitetônica que vem se perdido. Para afirmar essa teoria foi usado como base o livro “Arquitetura Popular Brasileira” de Weimer, onde ele destaca as qualidades de nossa
arquitetura, que na nossa interpretação, são esquecidas pelos jovens arquitetos e pela maioria da população ao se limitarem a arquitetura internacional, deslumbrando-se com suas técnicas de construção como o brutalismo, e deixando de lado as próprias características arquitetônicas locais. Como apontado no livro, nossa arquitetura provém de características gerais de simplicidade, por se tratar de materiais disponibilizados pelo nosso meio ambiente; adaptável, por se adaptar a técnicas tradicionais e novos modos de construir e autoexplicativa. Dentro do ensino de graduação da arquitetura no Brasil é bastante valorizada a arquitetura internacional,
tornando as grades disciplinares repletas de matérias sobre história da arquitetura europeia, entretanto não vemos a mesma preocupação em passar conhecimento com o mesmo peso sobre as características de nossas raízes. Ambos os temas são evidentemente necessários para a formação do arquiteto, o problema está em priorizar uns e esquecer outros. Com a falta de aprofundamento na nossa arquitetura popular acabamos esquecendo como somos ricos em matéria prima, consequentemente falta mão de obra capacitada para dar continuidade as nossas heranças na construção civil.
IMEDIATISMO
Comunidade Nahua, habitação social- MX
A cada década que passa as pessoas desenvolvem mais pressa e necessidade de obter tudo com extrema rapidez. Com a internet e redes sociais, tudo passou a ser "pra já", o que acaba influenciando outras atividades do ser humano, essa vontade de se obter resultados quase que instantaneamente se denomina Cultura do imediatismo. Claro, que em projetos de arquitetura e de construção civil não poderia ser diferente, técnicas como as de terra crua que exigem uma espera de cura e secagem, por exemplo, perderam espaço no cenário atual onde os projetos pedem cada vez mais agilidade e um curto período de tempo na entrega de construções. Percebemos que a demanda de mercado reflete diretamente
em todas, ou em quase todas, as grades disciplinares universitárias do nosso estado (SP), ou seja, materiais industrializados como concreto e aço, são aplicados em praticamente todas as obras de construção civil e os sistemas educacionais se limitam a ensinar apenas essas mesmas técnicas “mais demandadas”. Isso gera um ciclo vicioso, as faculdades transmitem apenas esse tipo de conhecimento a seus alunos, e por sua vez esses profissionais que acabam de se formar apresentam aos clientes quase que invariavelmente à utilização de materiais industrializados dos quais possuem maior domínio e informações intensamente divulgadas pelo curso, gerando assim um mercado que sempre demandará o mesmo tipo de técnica e material.
Por falar em tempo, é claro que nós alunos temos ciência que não seria possível aprender todos os tipos de técnicas e materiais não-convencionais neste curto período que temos no curso de arquitetura, que varia de 10 a 12 semestres, mas seria interessante e enriquecedor que as instituições incluíssem alguns dos materiais sustentáveis em seus repertórios. Dentre eles, nós, neste artigo, resolvemos escolher 2 tipos de materiais não convencionais, que são localmente produzidos e existem em abundância em nosso país. Mas que fique claro que existem diversos outros tipos dos chamados materiais sustentáveis, que possuem tanto potencial quanto esses dois citados.
PRÓS E CONTRAS
Comunidade Nahua, habitação social- MX
Após muita pesquisa dentre a enorme variedade de materiais alternativos, decidimos escolher os que já fazem parte de nossa cultura e possuem fácil acesso que desde o inicio da chamada arquitetura brasileira sempre estiveram presentes. São porém pouco divulgados e podemos dizer até negligenciados quando tratados no assunto arquitetura em instituições de ensino superior. Começamos portanto pelo o que podemos citar como um dos materiais mais utilizados na historia do Brasil: a terra crua. Técnicas como Adobe, Taipa de mão e Taipa de pilão passaram a ser consideradas não-convencionais com a substituição do tijolo cozido no decorrer dos tempos. E um material inesgotável e acessível a todos, além de econômico e ecológico. Sentimos falta da transmissão de conteúdo a respeito de um material tão utilizado por nós brasileiros, e que vem sendo estudado por áreas especializadas procurando formas de melhorar o comportamento físico do material para garantir maior longevidade e viabilidade técnica, que é fraca hoje em dia.
De fácil acesso, escolhemos também o bambu, o material citado no livro “Manual do Arquiteto Descalço” como de fácil estruturação. É renovável, de baixo custo, já possui um conjunto de normas técnicas e é a nova “tendência” da arquitetura sustentável. Destaca-se por sua alta resistência mecânica (especificamente resistência a tração) e redução do consumo de energia na sua produção quando comparado com materiais convencionais, como aço. É pouco utilizado nas construções por possuir baixa durabilidade, já que seu tratamento é complexo por possuir superfície pouco permeável, dificultando a impregnação de produtos. Ponderando então seus prós e contras, pode-se considerar a integração nas grades curriculares interessante por ter grande potencial de desenvolvimento assim que obtiver mão de obra especializada. Vale citar juntamente a esses materiais a madeira, que não é totalmente ignorada pelas universidades. Na grade PUC-Campinas a técnica construtiva disputa espaço com o aço em um semestre do terceiro ano do curso. Esse material localmente produzido merece um aprofundamento maior, já que no estado de SP está localizada uma das maiores construtoras do país que utiliza exclusivamente madeira: a ITA- Construtora. Que usa madeira proveniente de reflorestamento e possui um rigoroso controle de qualidade proporcionando um resultado de durabilidade, qualidade além de incomparável beleza.
Centro Cultural Morelia- MX
CENÁRIO DA ARQUITETURA NAS UNIVERSIDADES ANÁLISE POR REGIÕES A falta dessa arquitetura vernacular conectada a cultura dos povos indígenas e africanos feita com os materiais citados, que durante séculos foram usados em nosso país, nos faz perguntar o porque nossas grades curriculares ficam tão presas à modos construtivos espelhados na arquitetura européia, enquanto perdemos essas técnicas de nossas origens que, quando bem elaborados, tornam a arquitetura rica e sofisticada, mesmo sendo mal interpretada pela concepção de muitos, por se tratar de materiais simples. Por conta do nosso quadro atual, realizamos pesquisas para nos informarmos a respeito da postura
de faculdades do Brasil em relação a técnicas alternativas de construção. Com base nos artigos lidos, fizemos um estudo comparativo regional entre as universidades do país, onde foi encontrada uma grande discrepância entre universidades das região Norte e Sudeste. Analisando as grades curriculares notamos que as universidades paulistas se encontram focadas na arquitetura brutalista, no concreto armado e no aço, voltando a sua grade para estudos mais aprofundados na arquitetura européia. As faculdades da região Norte demostram mais interesse em assuntos como: ecoarquitetura, sustentabilidade e outras técnicas construtivas que envolvem estudos ambientais.
A pesquisa foi feita entra uma variedade de faculdades do país, incluindo uma das melhores universidades de arquitetura e urbanismo, a FAU USP.
Instituto Socioambiental, ISA- AM
Moradias Infantis- TO
Segundo dados do CAU/BR, data 31 de dezembro de 2012, há mais de 100 mil arquitetos e urbanistas formados no Brasil, onde apenas 1/4 procuram fazer pós-graduação, dentro desse percentual alguns alunos optam em se especializar em estudos voltados a sustentabilidade e meio ambiente, já que é um assunto recorrente em nosso cotidiano e não está tão presente na maioria das universidades durante o período de graduação, ou seja, a maioria dos arquitetos e urbanistas partem para o mercado de trabalho sem noção técnica de como lidar com questões tão atuais do cenário Brasileiro, por não possuírem nem uma base miníma de alternativas construtivas diferentes que estão ligadas ao meio em que vivemos. Como foi apresentado na tabela, ainda não há uma preocupação por parte das universidades da nossa região em inserir os alunos nessa nova vertente sustentável, os que possuem interesse de obter tais informações, como compreender melhor as propriedades, características e potenciais das técnicas, devem se interar do assunto pós graduação. Como o percentual informado pelo próprio CAU de pós-graduandos é baixíssimo, apenas 1/4, percebe-se que falta por parte das instituições um incentivo aos alunos, que se tornam cada vez mais desatualizados de um conteúdo tão necessário para o futuro da construção civil.
CONCLUSÃO Concluímos que, a partir da análise feita sobre as universidades, os meios dos quais as mesmas estão inseridas refletem diretamente sobre suas grades curriculares, por exemplo a cidade de Manaus, onde a arquitetura vernacular é muito mais presente, notamos que as disciplinas dentro das faculdades também são voltadas para tais temas. A região Sudeste, onde o concreto e aço são mais usados resultam em sistemas educativos equivalentes. Entretanto a falta de disciplinas voltadas para materiais alternativos no Sudeste do país é
sentida por seus alunos que carecem deste tema atual, chamado sustentabilidade. Por possuir um clima favorável para quase todos os tipos de técnicas construtivas, tanto as de nossas raízes como as herdadas por outras nações, o Brasil possibilita uma variedade nas construções. Não podemos nos limitar a aprender um número estrito de modos construtivos, não existem técnicas certas e erradas, devemos buscar a junção de todo aprendizado para melhores resultados, unindo modos construtivos que otimizem a construção de maneira sustentável.