Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
TRABALHO FINAL DE GRADUÇÃO
o espaço das águas e os resíduos como material:
experimentAções FLUTUANTES PARTICIPATIVAS Represa Billings - Zona Sul / São Paulo
Gabriela Weiss Deleu Ribeiro Gomes e Souza Orientação: Profa Maria Cecília Loschiavo dos Santos dezembro_2016
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os espaรงos das รกguas
os resĂduos como material
3
Fotografia aĂŠrea: Martim Passos Foto: da autora.
sumário lado a BIBLIOGRAFIA AGRADECIMENTOS APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO
6 11 13 14
1. O ESPAÇO DAS ÁGUAS.
18
I II
20 26
As águas como espaço outro São Paulo e as águas
2. DIÁRIO DE BORDO I
Visitas 0_Casa Ecoativa 1_SESC Interlagos e Rota Náutica 2_Abraço na Billings 3_Navegando nas Artes 4_Cooperpac
3. cenário imaginado
40
46 48 66 68 74 82
sumário lado b
1. OS RESÍDUOS COMO MATERIAL I Noções de sustentabilidade II A reutilização como prevenção III Contexto brasileiro
90 94 100 104
2. AS Garrafas PET E ESTRUTURAS FLUTUANTES I Referências de projetos e estruturas
108 111
3. EXPERIMENT_AÇÃO PARTICIP_ATIVA
140
I Protótipo Zero II Oficinas participativas III Vivência náutica
144 150 168
bibliografia
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coletivos e associações Casa Ecoativa - Disponível em: www.facebook.com/casaecoativa / Acesso em: 20/11/16 Cooperpac - Disponível em: www.cooperpac.com/. Acesso em: 20/11/16 Imargem - Disponível em: www.facebook.com/Imargem / Acesso em: 20/11/16 Navegando nas Artes - Disponível em: www.facebook.com/navegandonasartes / Acesso em: 20/11/16 Meninos da Billings - Disponível em: www.facebook.com/meninosdabillings / Acesso em: 20/11/16 ECO-Garopaba - Projeto Prancha Ecológica - Disponível em: www.facebook.com/ProjetoPranchaEcologic / Acesso em: 20/11/2016
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Para meu avô Claude, pescador, aventureiro e amante das águas.
Foto: Claude Deleu. Viagem à Amazônia. 1950
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AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer àqueles que participaram direta ou indiretamente do processo deste trabalho: À professora Maria Cecília Loschiavo pela amizade, orientação, conversas, encontros e todo incentivo. À professora Karina Leitão por todo apoio e pelo acompanhamento amigável. Ao professor Alexandre Delijaicov pela receptividade e inspiração. Ao Rodrigo da Silva, pelas trocas e convites. Ao Adolfo, Bruno, Carlos, por toda força e pelas portas sempre abertas do Espaço Meninos da Billings. Á Valquíria e Natacha e todos os membros da Cooperpac pela amizade, parceria, e doação dos materiais. Ao Fabiano, Franz, Tim e todos os integrantes do projeto Navegando nas Artes que participaram da oficina. Ao SESC Interlagos pela oportunidade da primeira vivência náutica. Aos intergrantes da casa Ecoativa pela receptividade. Aos funcionários do LAME pelo suporte e espaço. À Danielly pela amizade, companhia e resgistros. Ao professor Ivanildo Hespanhol, pelas explicações precisas. Ao Leonardo Tannous pela vivência e confecção dos jardins flutuantes. Ao sr. Helio Sanches pela oportunidade das pedaladas nas águas e gentil recpeção. À Mary Mattingly por me receber no Swale. Ao Jarrier Dantas e à Carolina Scorsin pelas conversas e inspirações. À Malka pelo convívio e amizade. Ao Nelson Barbieri e à Alessandra pelos conselhos preciosos. Aos amigos: Martha, Ana Beatriz, Marina, Nina, Gabriel, Francisco, Gustavo, Taís, Lu Noia, Lu Strauss, Andrea, Renata, Barbara, Vitor, André, Julio, Martim, Cássia, Paula, Maricota, Lorena, Bia, Julia, Daniela, Eloise, Paola, Lakona, Alexandra, Avran, Patrick, Victor, Robin, Bastienne, Marion, Célia, Ariane, Bea e Maria Camilla, por me acompanharem de longe ou de perto nessa jornada, e todos os outros colegas que marcaram presença em minha vida. Ao Flickão pela calma, passeios e cãopanhia. À minha avó Isony e madrinha Sylvia por todo apoio e entusiasmo. Ao Rafael pela alegria e amor precioso. Ao meu pai Beco e à Bidu por toda força, companhia e carinho. À minha mãe Claudia e irmã Daniela, pelo amor abundante.
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UNE HALTE A GRANDE-SYNTHE. França, 2015. Canteiro de construção de um espaço coletivo em um campo de imigrantes refugiados no norte da França. Representa o aprendizado através do trabalho coletivo, em grupo e experiência prática visando soluções para problemas concretos. Tal projeto foi resultado da disciplina ‘Construire aux temps de déréglements’ cursada durante intercâmbio na École Nationale Supérieure d’Architecture Paris-Belleville. Foto: Tie Higashi.
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APRESENTAÇÃO O presente Trabalho Final de Graduação representa a conclusão do percurso que trilhei na graduação em Arquitetura e Urbanismo. Ao longo destes anos, pude deparar-me com a amplitude deste universo que tange escalas diversas, tanto em níveis de design, projeto e planejamento, quanto em níveis de construção de relações e de percepção da realidade que nos rodeia. Percorri um caminho intenso, onde pude vivenciar inúmeras experiências que foram extremamente enriquecedoras para minha formação, não somente como profissional, mas também como pessoa e ser humano. Ao encarar este trabalho como o reflexo da importância deste caminho, fui buscar as problemáticas e motivações que mais me identifico e que, sobretudo, me alimente e dê prazer para o encerramento deste ciclo tão especial. Acima de tudo, acredito no TFG como uma expressão da construção de um processo, mais do que como a finalização ou execução de um produto.
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INTRODUÇÃO O presente caderno se estrutura através de dois lados: os espaços das águas e os resíduos como material. Fica como opção do leitor percorrê-lo da maneira que desejar, pois ambas as partes resultam no mesmo ponto. Optou-se por esta divisão por se tratar de duas motivações iniciais que dão margem para abordagens teóricas, práticas e projetuais distintas, porém concomitantes ao desenvolvimento do trabalho. A primeira motivação visa contemplar o desejo de realizar uma intervenção prática nos espaços públicos da cidade. Intervir nestes espaços representa despertar a atenção das pessoas, trazer o olhar para situações inusitada do cotidiano, propor novos usos e defender a possibilidades das trocas, dos encontros e, sobretudo, da vida na cidade. Em um contexto de realidade caótica, violenta e demasiadamente acelerada, tem-se como objetivo afirmar a escala humana, do coletivo, da contemplação e dos remansos, hoje esquecidos. No caso de São Paulo, após o cenário da maior crise hídrica já vivenciada pelos habitantes da cidade, tem-se como necessário discutir a questão da preservação dos recursos hídricos, considerando a água como um bem público. A escolha de se valorizar os espaços das águas visa retomar o contato e o olhar da população para com este bem, considerando o uso como uma das formas de preservação. Quando nos apropriamos de um bem, seja ele qualquer, passamos a proteger e a cuidar dele. Neste sentido, o intuito do trabalho tem como fundamento a preservação e a coexistência com os elementos naturais remanescentes na cidade. Ao analisar a relação da cidade com suas águas, opta-se por tomar como objeto de estudo a área da Represa Billings, esta, considerada no final, ou às margens da cidade. Esta escolha deve-se ao fato da confluência das várias problemáticas que envolvem esta região. Porém, o caráter prático do trabalho não nos permite considerar um aprofundamento em todas elas. Desta forma, foi pelo contato com a realidade, através das visitas de campo, que pode-se 14
compreender a estruturação deste território, e a relação que as pessoas possuem com os espaços das águas. Escolhendo como recorte espacial a região do Grajaú, mais especificamente a região compreendida entre os braços do Cocaia e Bororé, verificou-se que a Represa estabelece-se como um limite físico, que segrega os diferentes bairros da região. Seus pequenos e grandes braços acabam transformando curtas distâncias lineares em longas e extensas caminhadas. Fica claro que, através da instalação de infra-estrutura urbana, seria possível apropriar-se dos espaços das águas e utilizá-los como uma via de navegação e integração do território. Porém, esta situação não se efetiva, considerando a falta de qualidade e os altos índices de poluição da Represa, que apresentam-se como ameaça e passam a ser perigosos à saúde pública. Esta questão acaba por revelar uma visão restrita do saneamento ambiental por parte dos órgãos públicos e empresas responsáveis, onde falta investimento para a manutenção da qualidade dos recursos hídricos. E quem recebe a culpa por este cenário é a população, excluída e renegada, que sem opções de moradia, acabou por ocupar áreas de proteção ambiental, nas margens dos mananciais. Porém se olharmos de modo mais atento, vamos verificar que a porcentagem de tratamento de esgotos na cidade como um todo não chega a 30%. Então, a questão sanitária da Represa Billings não pode ter seus responsáveis acusados como sendo a própria população, esta que, vide a Constituição, deve ter seus direitos básicos assegurados pelo Estado. Deve-se ressaltar ainda, que hoje estão sendo feitas obras emergenciais para aumentar a vazão de abastecimento de água para a metrópole paulistana, investindo-se milhões de reais para trazer água de bacias mais distantes e afetando diretamente o abastecimento de outras regiões. Porém, não nos é apresentado, em nenhum momento, o interesse da previsão para aumento da capacidade de tratamento dos esgotos e recuperação dos mananciais. Infelizmente este cenário, por não apresentar soluções a curto prazo, nem altos índices lucrativos, é renegado há décadas pelos projetos de políticas públi15
cas. Neste sentido, o descaso e falta de interesse acaba por revelar quem são os principais responsáveis pela degradação da qualidade de todos os recursos hídricos da cidade e que portanto a população passa a ser na verdade, vítima deste desprezo. No entanto, apesar do cenário do saneamento ser crítico, o trabalho tem como objetivo considerar os usos múltiplos das águas, pois mesmo que a represa possua elevados índices de poluição em alguns trechos, verifica-se que há possibilidade de apropriar-se dela e ressignificá-la. Através das visitas de campo, foram construídas relações com os agentes e coletivos locais que promovem a ativação do território, promovendo atividades de educação ambiental, cultural e vivências náuticas. São projetos que desenvolvem ações sociais, principalmente com jovens, despertando assim, a consciência sobre a importância de se cuidar daquele espaço. Neste sentido, por ter como objetivo uma intervenção prática, o trabalho tem como fundamento as bases da pesquisa-ação, metodologia teorizada primeiramente por Michel Thiollent em 1947. Este tipo de pesquisa associa diversas formas de ação coletiva, orientadas em função da resolução de problemas ou de objetivos de transformação, envolvendo os pesquisadores e os participantes de modo cooperativo e participativo. Desta forma, orienta-se a motivação de ação prática, envolvendo os diferentes atores considerados ao longo da pesquisa através de oficinas participativas para construção de estruturas que ocupam os espaços das águas. Estas estruturas intervêm no espaço ocupando-o, ressignificando-o, e encarando as águas como um elemento que pode integrar o território. A segunda motivação trata de uma posição que determina-se a encarar a problemática dos resíduos sólidos no campo do design, escolhendo estes como fonte material para a concepção de projetos. Discutir a questão dos resíduos hoje, aponta uma preocupação acerca dos impactos negativos que estes podem vir a causar no meio em que vivemos, reflexo de um modo de produção insustentável e que contribui para aprofundar as desigualdades sociais. O consumismo desenfreado, fomenta16
do pela propaganda, acaba por estimular o desperdício e o descarte de materiais. Não apenas como uma problemática ambiental, mas social e econômica, os resíduos sólidos devem ser encarados como uma fonte de matéria-prima a ser reaproveitada ou reciclada. Neste sentido, reitera-se a necessidade de repensar o modo como projetamos e encaramos a questão dos materiais, não somente no design de produtos, mas também na arquitetura e na construção da cidade. Estabelecendo um recorte para aprofundar a pesquisa, as garrafas PET foram elencadas como objeto de estudo a partir do momento em que escolheu-se trabalhar com os espaços das águas. Sua capacidade de flutuar e percorrer rios e oceanos, nos permite desenvolver uma pesquisa de referências projetuais acerca das estruturas flutuantes que utilizam as garrafas PET. Compreendeu-se então, as diferentes maneiras possíveis de se reutilizar este material para se conceber estruturas capazes de exprimir diversos usos (barcos, pontes, ilhas ou jardins). Em paralelo às visitas a campo e ao estabelecimento de relações com pessoas e grupos atuantes na região Sul da cidade de São Paulo, foi escolhida a estrutura mais simples e acessível para se conceber um primeiro protótipo flutuante. Esse, foi desenvolvido individualmente como parte da pesquisa, para que fossem testados os procedimentos e materiais, para que, posteriormente, fosse possível organizar oficinas participativas para a construção coletiva de outros protótipos flutuantes utilizando as garrafas PET. Por fim, foram realizadas duas oficinas: uma com os membros da Cooperpac (Cooperativa de Catadores Seletivos do Parque Cocaia), e outra com jovens participantes de projetos de canoagem e barcos à vela. Destas oficinas, tivemos como resultado a construção de mais três protótipos flutuantes e um vídeo que retrata todo o processo de confecção e contato dos participantes com o material. O trabalho tem como sua conclusão a ativação dos espaços das águas, a partir do teste destas estruturas em uma vivência náutica organizada em parceria com os coletivos atuantes na região: Meninos da Billings, Navegando nas Artes, Imargem, Ecoativa e Cooperpac. 17
lado a
Caiaques. Eduardo Srur São Paulo, 2012. Disponível em: www.eduardosrur.com.br / Acesso em: 20/11/2016
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os espaรงos das รกguas
Crianças se banhando nos jatos de água do parque André Citroen, localizado em Paris. O contato físico com a água em meio a um cenário urbano resulta na expressão do bem-estar público. Foto: Aurelien Berrut
Laboratório de banhos urbanos experimentais. Paris, França - 2016. Em meio ao verão parisiense, as altas temperaturas incitam coletivos a ocuparem as águas urbanas com banhos coletivos. Os eventos são organizados e não tem autorização da prefeitura, mesmo assim, o objetivo é de se reapropriar dos espaços de banho “naturais” da cidade. Foto: Camille McOuat 20
1 Os ESPAÇOs DAS ÁGUAS I AS ÁGUAS COMO ESPAÇO OUTRO O presente capítulo tem como objetivo tratar sobre a questão espacial que o trabalho pretende abarcar, tomando como partida a motivação de realizar uma intervenção prática nos espaços públicos da cidade. Sobre estes espaços vamos considerar a obra de Jan Gehl, “Cidade para pessoas”, onde é desenvolvido um discurso a respeito da importância da dimensão humana das cidades. Para este autor as cidades boas para se viver são cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Esses seriam os quatro objetivos-chave e princípios que deveriam nortear os planos urbanísticos. As cidades sem vida, esvaziadas de pessoas, são assinaladas desde “Morte e vida das grandes cidades” de Jane Jacobs, como um resultado da ideologia urbana do modernismo que separa os usos, destacando os edifícios individualmente como espaços autônomos, dando fim à dinâmicas sociais de encontro da cidade. Gehl reitera que, a preocupação com a dimensão humana no planejamento urbano reflete uma exigência distinta por uma melhor qualidade de vida urbana, pois quem dá, de fato, vida às cidades, são as pessoas. “As cidades devem pressionar os urbanistas e os arquitetos a reforçarem as área de pedestres como uma política urbana integrada para desenvolver cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Igualmente urgente é reforçar a função social do espaço da cidade como local de encontro que contribui para os objetivos da sustentabilidade social e para uma sociedade democrática e aberta.”1
1
GEHL, Jan. 2013. pp.32
Gehl aponta que, a partir do fortalecimento da vida na cidade, ou seja, a possibilidade da circulação e o encontro entre as pessoas, criam-se as pré-condições para fortalecer todas as formas de atividades sociais no espaço urbano. O autor identifica diferentes atividades que acontecem no espaço urbano e categoriza-as em uma escala, de acordo com o grau de necessidade. São classificadas as atividades obrigatoriamente necessárias em uma ponta, como o trabalho, a escola, as atividades que acontecem sob qualquer 21
Visita à “Jungle”. Calais - França 2015. Construções temporárias com reutilização de materias descartados em uma floresta localizada às margens da cidade e ocupada por imigrantes refugiados. Atividade da disciplina ‘Construire aux temps de déréglements’ cursada durante intercâmbio na École Nationale Supérieure d’Architecture ParisBelleville. Foto: Eva Ollaria
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condição, e em outra extremidade, as atividades opcionais, mais recreativas como o caminhar no parque, ou apreciar a vista de um mirante. Estas considerações são interessantes ao trabalho, pois permite-nos fundamentar a importância dos espaços públicos como espaços que dão possibilidade aos encontros, aos acontecimentos e atividades coletivas, onde as pessoas se reúnem, trocam, se expressam, jogam e se exercitam. Neste sentido, buscamos refletir como reforçar a apropriação dos espaços públicos, dando valor à dimensão humana e à possibilidade dos encontros, dos acontecimentos, das trocas e da vida. Porém, pensando que o trabalho tem um objetivo prático, aparece a seguinte pergunta: em qual ou em que tipo de espaço público a pesquisa quer se fundamentar? Quando falamos em espaços públicos em São Paulo, surge em mente espaços previsíveis como os poucos parques ou praças que a cidade tem. Portanto, interessou-nos considerar o contrário: os espaços imprevisíveis, os vazios urbanos, aqueles que são considerados como espaços residuais ou que estão às margens da especulação e dos interesses do capital, e que possibilitam uma apropriação mais livre. No decorrer da pesquisa a respeito desses tipos de espaços, foi a partir do ensaio de Michel Foucault “De outros espaços”, que nos deparamos com o conceitos das heterotopias. Loschiavo nos explica que “O interesse de Foucault em arranjos do espaço levou-o a identificar dois tipos gerais: utopias e heterotopias, e ele considera as heterotopias “lugares privilegiados, sagrados ou proibidos, muitas vezes reservados a indivíduos em crise” (FOUCAULT, 1986). Heterotopias parecem ter uma função de formar outro espaço, e a existência desse outro espaço é essencial para o entendimento de práticas espaciais dos sem teto, entre outros os catadores de materiais recicláveis. Foucault diz que as conexões entre espaço, conhecimento, poder e política cultural, deve, ser vistas ao mesmo tempo como opressoras e facilitadoras, compostas não apenas de perigos autoritários mas também de possibilidades de resistência.”2
2 LOSCHIAVO, Maria Cecília. 2015. pp.52
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Podemos relacionar o conceito das heterotopias com os vazios, as margens ou com os espaços descartados da cidade. Espaços esses, que que possibilitam uma apropriação mais livre e criação de um “outro espaço” na cidade. A noção dos “outros espaços”, possibilita a imaginação de “outras atividades”, onde através de uma proposição ativa, cria-se novos sentidos ao espaço urbano. O parágrafo de conclusão do ensaio de Foucault, nos leva ao encontro da consideração sobre os espaços das águas como uma heterotopia, ou um “outro espaço”, significando-a como um local passível de ser utilizado pelas pessoas, como um espaço público, e, justificando assim, o tipo de estrutura que esta pesquisa busca desenvolver ao longo do processo de trabalho. “(...) e se nós imaginamos por fim, que o barco é um pedaço de espaço flutuante, um lugar sem lugar, que existe por si mesmo, que é fechado dentro de si mesmo e ao mesmo tempo é uma descontinuidade da infinitude do mar e que, (...), foi para a nossa civilização desde o séc.XVI até o presente, não somente o maior instrumento de desenvolvimento econômico mas foi simultaneamente a maior reserva da imaginação.”3 3
Foucault, Michel. 1984. pp.49.
Deparamo-nos, a partir desta aproximação, com a possibilidade de relacionar os “outros espaços” com as estruturas flutuantes, barcos ou navios. Estes seriam, potencialmente, espaços que abarcam os sonhos, as aventuras e a imaginação. Porém, elencamos aqui, não a estrutura flutuante como um “outro espaço”, mas sim, os espaços das águas, que podem receber essas estruturas. Neste sentido, identificamos que o trabalho prático com resíduos nos espaços públicos da cidade se potencializa, quando elencamos as estruturas flutuantes como ativadoras dos espaços das águas, e esses, como um “espaço outro”, que deve receber atenção especial devido às problemáticas ambientais, sanitárias e sociais, que abrange.
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Pintura que ilustra o barco como estrutura flutuante, reserva de sonhos e imaginação. Montague Dawson. Idle Sails, Loch etive in a calm. Óleo sobre tela 101 x 127 cm
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II são paulo e as águas
Dos fundamentos da Politica Nacional dos Recursos Hídricos. Artigo 1o Cap. I - LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997. 4
Ao tratarmos da possibilidade de encarar as águas não somente como um espaço, mas como um bem público e um recurso natural limitado, devemos levar em consideração o conceito de seus usos múltiplos4. Além da drenagem, abastecimento e geração de energia, a água, como uma rua, pode representar: uma via de transporte e circulação; um espaço para lazer, recreação e uma diversa gama de esportes; área de contemplação e contato com a natureza. Além disso, na história da humanidade, foram os rios e mares, os responsáveis pela conexão e troca entre muitas civilizações, sendo considerados como sagrados para muitas delas. De fato, deveriam ser para todas, pois a água é o elemento responsável por toda a vida no planeta, e que pode garantir a qualidade e bem-estar público, principalmente nos cenários urbanos. Por mais que não seja objetivo do trabalho aprofundar-se nas questões referentes ao histórico das relações entre os rios e a cidade de São Paulo, é importante pontuar como esta foi se transformando para que seja reiterado o contexto que o trabalho busca se inserir: verdadeiros canais de esgotos a céu aberto, os rios da cidade foram sendo cada vez mais renegados como elemento essencial e estruturador do território. A cultura fluvial que era cultivada até o início do século XX, foi enterrada e soterrada quando prevaleceram os interesses privados de desenvolvimento, puramente mercantilista e rodoviarista. Sobre esta transformação, devemos considerar que no início do século XX, a cidade se expandiu com extrema velocidade, e os rios foram se apresentando como verdadeiras barreiras ao desenvolvimento. As áreas das várzeas eram locais considerados como insalubres, vetores de pestes, e ameaçados pelas enchentes. Todos os rejeitos e esgoto eram jogados nas águas, essas que através do escoamento, levariam o problema para longe. Essa cultura foi se disseminando ao longo da história da cidade, e seus rios, enquanto canais, foram sendo retificados, tendo a declividade do leito fluvial aumentanda, concomitantemente à velocidade com que o problema sanitário se afastava.
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Fotos de uma prova de remo no rio Tietê, mostrando a ponte das Bandeiras, na década de 40. Fotos: acervo Clube Espéria. 27
O RIO TIETÊ E OS PROJETOS DE RETIFICAÇÃO Em função da dimensão do núcleo urbano de São Paulo no início do século XX, as primeiras propostas para retificação giravam em torno do rio Tietê e tinham caráter exclusivamente sanitarista, aumentando a capacidade de escoamento e vazão do canal fluvial. É apenas a partir da década de 20, que a hipótese de ocupação das várzeas passa a ser considerada (projeto de 1922 do Engo Fonseca Rodrigues). Outros projetos foram apresentados posteriormente - o do engenheiro Ulhôa Cintra, previa logradouros públicos e avenidas-parque ao longo das margens dos rios, e o plano de Saturnino de Brito, que na mesma linha, propunha um melhor aproveitamento das áreas de várzea do rio, construindo dois lagos e aterrando as áreas mais baixas do que canal fluvial. Ambos revelavam uma preocupação em qualificar áreas de parques e lazer aos habitantes. Foi uma tentativa para o resgate da orla do rio como principal logradouro público, estruturador da cidade.
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“A proposta de Saturnino de Brito era extremamente avançada no tocante aos usos múltiplos dos recursos hídricos, dando grande destaque, a par do controle das cheias, ao lazer e embelezamento da cidade e à navegação. (...) Porém, a crise iniciada no final de 1929, adiou qualquer plano de grande obra, em face da virtual falência do poder público.”5 FILARDO JR. Angelo S. 1998. pp.90
Prevalece, anos depois, sob a chefia do Engo Francisco Prestes Maia como prefeito da cidade e colaboração de Ulhôa Cintra, as diretrizes do Plano de Avenidas, que alteravam radicalmente as características essenciais do projeto de Saturnino de Brito. Este plano dava maior ênfase à retificação dos rios Tietê e Tamanduatei, e a construção de avenidas marginais como estruturadoras do tecido urbano (SANTOS, 2014). Composto por anéis concêntricos e avenidas radiais, o Plano de Avenidas, apesar de não ter sido realizado em sua totalidade, tornou-se referência para os demais projetos desenvolvidos para a capital, e também base para importantes obras viárias durantes as gestões seguintes. 28
Acima: Projeto melhoramentos para o Rio TietĂŞ. Autoria de Saturnino de Brito. Ao lado: Esquema do Plano de Avenidas para SĂŁo Paulo. Autoria de Francisco Prestes Maia. Fonte: FILARDO JR. 1998. 29
A cidade, que se expandia rapidamente, já não tinha mais suas necessidades supridas pelo transporte coletivo sobre trilhos. Naquela época os bondes, cujo monopólio pertenciam a empresa canadense “The São Paulo Railway Light and Power Co. Ltd.”, conhecida posteriormente como Cia. Light, já eram alvos de críticas, sendo considerados lentos e ultrapassados (SANTOS, 2014). Esses foram proibidos de circular nas novas avenidas, e foram gradativamente substituídos pelos ônibus cujo raio de extensão poderia alcançar maiores distâncias, juntamente com a especulação imobiliária. O objetivo seria desafogar o trânsito que já tomava conta do centro da cidade, possibilitando a ocupação de novas áreas, cujo acesso se daria por estas avenidas radiais, tendo como base o transporte sobre rodas.
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DELIJAICOV, Alexandre. 1998. pp.14
“As propostas de navegação fluvial, construção do sistema de navegação e portos na cidade e as propostas de parques lineares entre a avenida e o canal, lagos na foz dos rios não foram consideradas. O Plano de Avenidas, apresentado por Prestes Maia, em 1930, serviu e impôs os interesses de um urbanismo rodoviarista, travestido de moderno, mas que oprimiu a geografia, o desenho da cidade. Oprime os habitantes da cidade. Para esse conceito de urbanismo, o pedestre e o ciclista não existem; metrô e a hidrovia são desconsiderados e a ferrovia esquecida.” 6 De fato, o desenho e a construção de São Paulo distanciaram-se gradativamente da escala humana, e foram impedindo qualquer possibilidade de contato com suas águas, essas transformadas em esgoto. A questão hídrica tornou-se ao longo dos anos um problema sanitário, pois poluídas, as águas serão inexoravelmente renegadas, seja pelo poder público, seja pela própria população.
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O Rio Pinheiros, suas águas poluídas e suas margens dominadas pelos automóveis e empreendimentos imobiliários, como epaços de especulação da Light. Foto: da autora, 2009
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A primeira e a segunda concessĂŁo da Serra, conforme construĂda entre 1928 e 1944. Fonte: FILARDO JR. 1998. 32
A CONSTRUÇÃO DAS REPRESAS E A REVERSÃO DO RIO PINHEIROS Diferentemente do rio Tietê, as intervenções no rio Pinheiros teviram como finalidade restrita a produção de energia elétrica. Este cenário está diretamente relacionado com os interesses da Cia Light, que detinha não somente o monopólio do sistema de transporte sobre trilhos, mas também, a concessão para a construção de linhas e distribuição de energia elétrica, gás e telefonia. A partir de 1907, a mesma empresa inicia as obras para a construção da represa Guarapiranga, cuja função original era fornecer água para a geração de energia elétrica em Parnaiba. Porém, no início dos anos 20, a cidade enfrenta um período de seca e crise no fornecimento de energia, e consequente redução na circulação dos bondes e no fornecimento de iluminação pública, o que revela a necessidade de novos investimentos na geração de hidrelétrica. Em 1922, A chegada do engenheiro Billings em São Paulo revela a possibilidade de um grande aproveitamento hidrelétrico a partir do represamento do rio Grande, afluente formador do Pinheiros, situado ao sul da capital, e cujas águas poderiam fornecer vazão para a geração de energia em Cubatão, livrando assim, a cidade de suas crises. Seria criado então o chamado “Projeto da Serra”. Porém, para garantir o maior volume de água, através da construção da barragem de Pedreira, o rio Pinheiros passa a ter seu fluxo invertido, e suas águas (poluídas) passam a ser bombeadas para a represa Billings. Sendo assim, foram iniciadas em 1936 as obras de canalização do rio Pinheiros, sob concessão da Cia. Light (FILARDO, 1998). Porém, não somente a empresa encontra no Pinheiros a possibilidade de garantir o desenvolvimento de São Paulo através do fornecimento de energia, mas também de formar novos terrenos para especulação: “(...) a canalização do Pinheiros, mais distante da área urbanizada de então, criaria uma reserva de terrenos para a expansão urbana, o que ia de encontro com a proposta de Prestes Maia no sentido de descongestionar o Centro por meio da transferência de atividades para as várzeas dos rios.” 7 7
FILARDO JR. Angelo S. 1998. 33
O projeto de retificação do Pinheiros e a marca limite das cheias, área a ser concedida à Light. Fonte: FILARDO JR.. 1998.
Pedestre atravessando a ponte Vitorino Goulart da Silva, observando a paisagem conformada entre o Pinheiros e a barragem da Pedreira. Foto: da autora. 2016 34
É imposto, neste ponto, a criação de uma nova geografia, e a predominância de interesses estritamente privados no que diz respeito à estruturação da cidade. Esta trajetória nos revela que desde as primeiras intervenções nos chamados espaços das águas, não se efetiva de fato um projeto sanitarista que pensa o ciclo das águas em um sentido mais amplo. Uma visão que remanesce deficiente até hoje, quando se tem uma definição limitada sobre saneamento, como apontou em entrevista o Prof. Ivanildo Hespanhol. Ao encararmos o percurso dos rios hoje, ou de suas avenidas marginais, temos como pontos finais as duas represas, Billings e Guarapiranga. A Billings apresenta um quadro mais crítico, pois sua degradação aconteceu devido, não somente às ocupações irregulares, mas principalmente devido ao bombeamento, durante várias décadas, de toda água que vinha dos rios Tietê e Pinheiros. Ou seja, todo esgoto da cidade ia parar na Billings, o que acarretou em uma situação alarmante no que diz respeito à qualidade de suas águas, principalmente por estas servirem ao abastecimento público. Hoje, a situação está um pouco melhor desde a proibição do bombeamento das águas do Pinheiros pela Constituição paulista de 1992, porém esse mesmo esgoto passou a afetar outras regiões do médio Tietê. E também a falta de infraestrutura urbana em assentamentos irregulares nas margens da Represa dificulta igualmente na manutenção da qualidade da água. Neste sentido, ao tomarmos como partida a determinação de encarar as águas como espaços passíveis a serem ocupados, e a compreensão sobre as transformações ocasionadas pelas intervenções na hidrografia da cidade, o cenário da represa Billings apresenta-se como objeto de interesse ao trabalho, pois suas problemáticas complexas e à sua disposição territorial fazem com que estas águas se configurem como barreiras. Sendo ponto final do percurso das águas de São Paulo, a região da Billings, já carente de infraestrutura urbana, apresenta-se fragmentada pelos vários braços da represa, o que dificulta a mobilidade e a integração entre as pessoas que ali habitam. Um manancial renegado e segregado, enquanto suas águas se apresentam como barreira e limite físico. Poderia este espaço ser, então, reinventado e reafirmando, ao imaginarmos novos usos, apropriações e significados? 35
O PROBLEMA SANITÁRIO ENTREVISTA COM PROF. IVANILDO HESPANHOL
Entrevista realizada em 29 de Setembro de 2016 com o prof. Ivanildo Hespanhol, Diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água CIRRA/ IRCWR e livre-docente do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, cujo objetivo era elucidar a questão e problemática sanitária dos recursos hídricos que compõe o território de São Paulo.
IVANILDO No espaço fluvial de São Paulo, você tem o Tietê, o Tamanduateí, o Rio Pinheiros e as duas represas, a Billings e a Guarapiranga. No começo do século, a empresa canadense, Cia. Light and Power recebe a concessão sobre as águas, energia, telefones e bondes. O Rio Pinheiros corria no sentido contrário, desaguando no Tietê, até a concepção genial do engenheiro Billings, que sugeriu inverter o curso do rio. Foram instaladas duas estações elevatórias, as de Traição e Pedreira. Essa última é também a barraram do Rio Grande, formando a Billings. A ideia era fazer descer a água da represa para a usina instalada em Cubatão, que hoje se chama Henry Borden, cujo recalque é de aproximadamente 1000 metros. A função era de gerar energia para São Paulo, e foi o que promoveu o desenvolvimento da cidade. A Henry Borden é uma usina de ponta. Quando se fornece energia por dia, por exemplo, você têm uma demanda variável. Hoje, quem dá a potência base para todo o sistema elétrico do país, é a usina de Itaipu. Então, as usinas de ponta servem para cobrir essa demanda acima da média, nos horários de pico. Hoje, a Henry Borden tem pouca importância, e perdeu mais ainda quando foi proibido o bombeamento de Pedreira para a Represa. Então, a geração na usina hoje, é feita com uma vazão muito pequena, que é a vazão local. Hoje, vão 4m3/s da Billings para a Guarapiranga, e agora querem aumentar para 5m3/s, e mais 1m3/s para a Taiaçupeba, ligada no Alto Tietê, para tratar e reusar. Isso representa um risco para a saúde pública, pois
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a água da Billings não tem qualidade para abastecimento público, e nem qualidade para se jogar na Guarapiranga. Estas obras estão sendo feitas para aumentar a disponibilidade hídrica. Agora o problema ambiental é extremamente crítico, porque hoje as águas são extremamente poluídas. Antes da crise hídrica, São Paulo era abastecida com 80m3/s. Aliás, eram 74m3/s com os 8 mananciais superficiais, e mais 10m3/s de água subterrânea. Quer dizer então, que São Paulo era abastecida com 84m3/s. Quando você põe 84m3/s de água, essa água passa pelas indústrias, pelo comércio, pelas casas, e se transforma em esgoto. Então se você tem 84m3/s o que se transforma em aproximadamente 67m3/s de esgoto.
Em São Paulo, hoje, a capacidade instalada de tratamento de esgotos é de 18m3/s. Isso quer dizer que 49m3/s é esgoto bruto nos rios (73%). Ou seja o esgoto tratado é de apenas 27%. GABRIELA A SABESP fala o contrário, que ela trata mais de 70% IVANILDO Isso é mais uma das mentiras que ela conta. E isso era antes da crise. Hoje a situação está um pouco menos grave em termos de meio ambiente e saúde pública, porque hoje a gestão da crise feita pela SABESP, foi muito bem feita. A população e a indústria reagiram, e nós tivemos uma redução de vazão de 80 passou para 50m3/s. A SABESP tem uma perda física de 20%, por causa das tubulações
que são muito antigas, vazamentos, juntas e as tubulações de 60 anos de idade. Então, 50m3/s com 20% de perda, resulta em 40m3/s de água distribuída realmente, que vão gerar 32m3/s de esgoto. Destes 32m3/s menos os 18m3/s que são tratados, ainda temos 14m3/s lançado bruto. Agora, a SABESP vai trazer a reversão do Rio São Lourenço lá da bacia do Iguape, em torno de 5 ou 6m3/s, a reversão do Paraíba do Sul pro Atibainha mais 5m3/s. Eles vão trazer mais 10m3/s e mais outras reversões, que é aquela que eu falei da Billings pra Guarapiranga, e pro Alto Tietê, tem também o Rio Guaió, totalizando mais 8m3/s. Ou seja, vamos ter chegando em São Paulo brevemente, mais 18m3/s de água, que vai gerar em torno de 14m3/s de esgoto. Então nós teríamos o que tem hoje, que é 14m3/s + 14m3/s, vamos ter 28m3/s jogados em São Paulo O investimento em esgoto chega a ser ínfimo. Isso é um grande problema pra São Paulo, isso é uma falta de visão humanística. Pois São Paulo não pode receber 46m3/s e com o agravante de que não pode bombear em Pedreira, todo o médio Tietê vai ficar prejudicado. Aliás, já é prejudicado, porque a água vai direto para lá. Hoje, em termos de navegação eu vejo um desastre. Eu vejo que os rios de São Paulo deveriam ser integrados com a comunidade, ou seja, deveriam ser uma amenidade pra cidade, integrado com parques, com áreas de lazer. E hoje, é um estigma. A cidade não merece isso. Você vê os históricos. Londres limpou o Tâ37
misa e Paris limpou o Sena praticamente no final do século XVIII, começo do XIX. São Paulo tem o mesmo nível econômico, que essas capitais têm. Então quer dizer, é uma falta absoluta de visão de saúde pública e ambiental. Quanto deste esgoto que está sendo jogado por aí, que não provocou a epidemia do zica, secungunha, etc.
O problema do esgoto é um problema de saúde pública gravíssimo. A CETESB que é o órgão de fiscalização, eles nunca fizeram nada. Eles são coniventes. Aliás as instituições aqui em São Paulo, vivem numa gestão que eu chamo de incesto institucional. Então, esse é um ponto de vista em termos do espaço, da saúde pública e do meio ambiente, quando a gente fala em usar o espaço de água. O que eu proponho é a possibilidade de reuso da água. Porque agora, o que estão fazendo é trazer água de outros lugares. Essa adutora que traz lá do Ribeira do Iguape, tem mais de 100km, e 300m de bombeamento, você precisa de uma usina hidrelétrica. As duas adutoras, a do Paraíba do Sul, e do São Lourenço custam mais de R$5 bi. Eu tenho um plano para daqui 20 anos para tratar o esgoto e despoluir os rios. Se tem dinheiro até para escola de samba, para Olímiadas que gastou R$37 bi., tem que ter dinheiro para saúde pública. São Paulo não merece isso, tem que tornar a cidade habitável, a maior cidade do Brasil. Falta realmente uma visão humanística, porque tecnologia tem. O reuso, o que eu chamo, é a água de dentro. 38
Porque a tecnologia dos emissários é uma tecnologia de 2000 anos - a dos aquedutos romanos. Precisa-se mudar os paradigmas. Estamos trazendo água de bacias que já estão com estresse hídrico, como a bacia do Piracicaba. Tem a outorga, que já expirou, de 33m3/s, e para renová-la será complicado, porque esta a bacia do PCJ (Piracicaba-Capivari-Jundiaí) está em pé de guerra, porque eles não conseguem aumentar a economia da região. GABRIELA Os agricultores sofreram muito nos últimos anos. Estas obras emergenciais enxergam a água apenas como uma mercadoria, trazer mais água para vender mais. IVANILDO
Então eu vejo que esta situação é bastante complicada em termos de saúde pública, pois é uma visão falha do saneamento. O conceito de saneamento básico que está sendo utilizado é água esgoto e resíduo sólido. Hoje, expandimos o saneamento básico para saneamento ambiental: água, esgoto, resíduos sólidos, drenagem urbana, controle de vetores transmissores de doenças habitação salubre, poluição atmosférica e tem gente ate que fala em segurança pública. Essa é a visão de saneamento pela Organização Mundial da Saúde. Então, o que eles estão vendo é muito reduzido, somente um lado: abastecimento de água. A gestão daquela época era uma gestão focada na geração de energia elétrica. A energia elétrica que era produzida para São Paulo, mas o saneamento foi esquecido.
Isso daqui virou um colar de esgoto, que veio para Billings. Nunca pensaram em tratar o esgoto, somente em gerar energia. Hoje está se falando em modificar essa situação. Hoje, já temos propostas para tratar o Rio Pinheiros. Mesmo sendo um investimento grande. A vazão chega em 150m3/s - varia de 80 a 150. A ideia é primeiro a parte institucional legal. Liberar a geração em Pedreira, e voltar a gerar em Henry Borden. A equação econômica fecha com a geração de energia, fecha e sobra. Então tem muita gente interessada nisso. Tem um impacto positivo, gerando energia. Mas precisa tratar o esgoto. Agora, a minha proposta é a seguinte: estes R$5bi, nós poderíamos fazer reuso potável de 10m3/s por R$1 bi ao invés de R$5 bi. Nós temos estudos hoje, para fazer reuso potável direto, temos tecnologia para isso. Nós montamos em Campinas uma estação-piloto para produzir água potável, reuso potável direto. Você trata e joga na rede. O custo é muito baixo. porque se você tem um sistema completo de abastecimento de água, ⅔ dos custos é rede. Se você não precisa fazer uma rede para distribuir água de reuso, você tem um dinheiro sobrando.
ma de membranas de ultra-filtração. É uma água de alta qualidade porque a membrana de ultra-filtração remove vírus, bactérias, nutrientes. Essa água você pode jogar no reservatório, por exemplo no Guarapiranga. Aí a estação de tratamento de água do Alto Boa Vista, que capta do Guarapiranga, injetaria o reuso na água captada. Isso é o que caracteriza o reuso potável indireto. Indireto porque ele é diluído na natureza. Isso daqui seriam 5 anos. Os 5 anos seguintes, seriam complementar essas estações de tratamento. Além de terem membranas de ultra-filtração, elas teriam mais sistemas de osmose reversa, carvão ativado e resultariam em uma água potável, para reuso potável direto. Tudo o que estamos falando aqui é carga pontual de esgoto. Porque você pode fazer os interceptadores e mandar para a estação de tratamento. Agora, os 10 anos seguintes seriam para a limpeza dos rios. Porque tem a poluição difusa. Nós já teríamos uma capacidade instalada para coletar, fazendo os interceptadores e levar tudo. Pouco a pouco. Porque se você para de jogar esgoto em 5 anos o Rio está limpo. Ele mesmo faz uma auto-depuração.
Esse plano do Rio Pinheiros, é um plano de 20 anos. Nos 5 primeiros anos, seria feito o reuso potável indireto, isto é, fazendo um retrofit, melhorando as 5 estações de tratamento, que hoje tem capacidade de tratar 18 m3/s. Essas melhorias, a custo muito baixo, com membranas de ultra-filtração, na mesma área, sem obra civil, sem concreto, nós podemos passar para 35m3/s. Só com esse siste39
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ROTA Nร UICA - Foto: da autora. 2016
diรกrio de bordo
BACIA HIDROGRÁFICA DA BILLINGS
são paulo
santo andré diadema
são bernardo do campo reservatório guarapiranga
rodoanel metropolitano
reservatório billings
reservatório rio das pedras
rodovia anchieta
rodovia dos imigrantes fonte: Capobianco, 2002.
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são vicente
mauá
O mapa ao lado pretende ilustrar a escala intermunicipal que abrange a Bacia Hidrográfica da Represa Billings. Seu volume aproximado é de 1,2 bilhões de metros cúbicos de água, sendo assim o maior reservatório de água da Região Metropolitana de São Paulo. O espelho d’água tem aproximadamente 100 km2 e abastece cerca de 1,2 milhões de pessoas, com a captação de 4,8m3/s no braço do Rio Grande.
suzano
ribeirão pires
Toda a área é considerada como Área de Proteção aos Mananciais e regida pela Lei Específica da Billings (Lei Estadual n.º 13.579/09). A Lei estabelece o princípio da co-responsabilidade, transparência nas ações e participação dos envolvidos para a recuperação e proteção do manacial. Suas diretrizes visam reverter o quadro de degradação ambiental onde a urbanização foi consolidada sem o tratamento dos efluentes gerados, garantindo assim a melhoria das condições de vida e a proteção e preservação das áreas com baixa densidade de ocupação ou presença de vegetação.
mogi das cruzes
rio grande da serra
usina henry borden
LEGENDA limite da bacia hidrográfica
cubatão
limites municipais rodovias E S CA L A G R Á F I CA ( k m )
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2 DIÁRIO DE BORDO O presente capitulo tem como objetivo demonstrar como o conceito dos espaços das águas desenvolveu-se ao longo do trabalho de modo mais prático e experimental. Tomou-se como objeto de estudo o distrito do Grajaú, mais especificamente a área de contato direto com a Represa Billings, compreendida nas margens dos braços do Cocaia e Bororé. De início, levou-se em consideração o desafio da compreensão sobre a complexidade das problemáticas que envolvem a região, seja por esta estar inserida em Área de Proteção aos Manaciais, seja pela vulnerabilidade e segregação socio-espacial. Porém, o objetivo não seria buscar as origens e histórico do desenvolvimento de sua ocupação, mas elencar a área como campo a ser explorado em um sentido mais sensível e prático, estabelecendo contato com a realidade através de visitas de campo e descobrindo, através da construção de relações com as pessoas, como se estabelece a relação entre elas e os espaços das águas. Partindo do princípio de que hoje a Represa e seus braços passam a fragmentar esse espaço renegado, o trabalho pressupõe que a ocupação de suas águas podem ressignificá-lo: a Represa como elemento que associa, integra e aproxima margens opostas. Este cenário, só poderia ser imagino através de ações coletivas, então, desde a primeira visita de campo buscou-se conhecer melhor os grupos e coletivos locais atuantes na região. De fato, a proposta de uma intervenção, partindo de uma iniciativa individual foi desafiadora principalmente devido ao tempo hábil para se finalizar este trabalho e garantir o interesse das pessoas em envolverem-se coletivamente. Em todas as oportunidades de apresentar-me enquanto estudante, foi apontada a possibilidade e o desejo de expandir a pesquisa para uma escala coletiva e experimental, através do trabalho com a reutilização dos resíduos para a confecção de estruturas flutuantes, e consequentemente a ocupação dos espaços das águas. Ocupá-los significa trazer o olhar, inventar novos usos, reimaginar o espaço e apropriar-se coletivamente, para preservar o recurso público mais precioso que temos.
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0_CASA ECOATIVA ILHA DO BORORÉ
29 de Agosto de 2015
Através de um convite de um amigo, em Agosto de 2015 atravessei pela primeira vez a Balsa que dá acesso à Ilha do Bororé. Em menos de 100 metros após a travessia, adentramos no terreno da Casa Ecoativa, coletivo que promove ações ligadas à educação, arte, cultura e meio-ambiente. O evento que lá ocorria, configurava-se como um Sarau com microfone aberto onde pessoas, situadas ao redor de uma fogueira, declamavam dizeres com rimas e poesias. Aconteceu ali, também, a apresentação de um grupo poético chamado “Os Retirante”, e outros grupos de música que animaram a noite. Sobressoaram temas sobre feminismo, luta por igualdade e respeito ao meio-ambiente. Além disso, no interior da casa eram vendidos caldos e salgados caseiros feitos a partir de produtos orgânicos colhidos na região. A sensação daquela noite foi essencial para perceber como acontece, em vários lugares, um movimento que coloca em prática experiências de integração entre as pessoas, que visam causar um impacto positivo ou despertar a consciência para diversos problemas. A casa Ecoativa ficou marcada em minha memória como um lugar de possibilidades, de ação, de consciência e que hoje marca forte presença na regiãodo extremo sul da cidade. Além de uma horta comunitária, banca da venda de produtos orgânicos, o coletivo vem promovendo ações e mutirões de técnicas de bioconstrução, sediando encontros de permacultura na periferia, além dos costumeiros Saraus que acontecem uma vez por mês. De fato, essa primeira visita foi importante por representar o primeiro contato com aquela parte da região Sul da cidade: o atravessar a balsa, a noção da distância em relação ao centro da cidade e a relação entre a cidade e a natureza, neste caso, além das matas, as águas da Represa Billings. De fato o que prevaleceu foi o aspecto positivo e de bem-estar que aquele espaço promove através de suas ações coletivas e atividades políticas, culturais e ambientais.
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1. Confecção de uma cisterna para captação de águas pluviais. 2. Roda feita durante o 7 encontro de Permacultura na Periferia, cujo a Casa Ecoativa foi sede. 3. Trabalhos na horta com crianças. 4. Fogueira e roda para uma das edições do Sarau de Cordas. Fonte: Página facebook Ecoativa. Disponível em: facebook.com/casaecoativa. Acesso
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em: 02/11/16
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1_SESC INTERLAGOS E ROTA NÁUTICA
17 e 18 de Junho de 2016
A primeira visita a campo, propriamente dita, se dá através da participação de duas atividades promovidas pelo SESC Interlagos, nos dias 18 e 19 de Junho. Primeiramente, o SESC Interlagos se destaca por ser um dos poucos equipamentos de cultura e lazer na região, possui extensa área verde com Mata Atlântica e localiza-se em uma das margens do braço do Cocaia. No dia 18, aconteceu a exibição do filme-documentário “Sobre Rios e Córregos” seguido de um debate com o diretor de Camilo Tavares, presente no dia. O filme trata da descontrução da relação entre a cidade e suas águas sob a perspectiva de diversos atores. Foram ouvidos relatos do público que reiteravam a importância de se preservar este bem. Neste dia, estava presente a presidente da Cooperpac, Valquíria Cândido, que expressou enorme importância para o desenvolvimento do trabalho. Ela comentou sobre o trabalho da Cooperativa e eu apontei os desejos e objetivos do trabalho, de experimentação com resíduos. No dia 19 de Junho, compareci à visita “Rota Náutica”, uma expedição pelo território através das águas da Represa Billings. O passeio tinha como objetivo suscitar tanto a percepção da paisagem das margens como o diálogo com coletivos que atuam com projetos de arte urbana, memória, identidade e educação ambiental. Estavam presentes integrantes do coletivo Imargem, Meninos da Billings e Casa Ecoativa. Foi um momento importante para a articulação da pesquisa-ação com os diversos atores presentes no território. A Valquíria Cândido, presidente da Cooperpac, também estava presente e pudemos aproveitar o momento para compartilhar mais uma vivência e trocar idéias sobre perspectivas e projetos para o espaço da Cooperpac.
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mapa rota nĂĄutica 18 junho 2016
sesc interlagos ateliĂŞ da margem
meninos da billings
cooperpac ecoativa
trajeto de Ă´nibus trajeto de escuna
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_trajeto de ônibus
O primeiro trajeto do passeio foi realizado em um ônibus, saindo do SESC Interlagos, indo até o Parque Linear do Cantinho do Céu, localizado no Lago Azul. O percurso foi narrado por Wellington Neri, artista e membro do coletivo Imargem, que foi pontuando locais e características marcantes do território. A questão da mobilidade apareceu presente neste momento, devido ao tempo gasto para o deslocamento de curtas distâncias. Percorremos um parte da principal via do Grajaú, a Av. Belmira Marins, onde concentra-se grande parte do comércio local e marcada pelo constante engarrafamento. Era visível um grande número de pedestres que circulavam nas calçadas, dando vida a toda extensão da Avenida, porém poucas bicicletas devido à falta de infra-estrutura adequada para tal modalidade. De fato, prevalece o transporte sobre rodas, seja coletivo ou individual, havendo uma faixa (às vezes duas) para cada tipo. A tipologia mais presente é a do sobrado auto-construído. As construções são únicas e expressam a personalidade de seus proprietários através de suas cores e acabamentos singulares. As marcas do fazer-manual revelam o apego e a identidade que cada morador tem com sua casa/propriedade. Estas marcas foram percebidas a cada visita realizada na região. Neste sentido, o olhar do trabalho valoriza tal tipologia, recorrente nas periferias da cidade, devido a seu caráter dinâmico e de manufatura personalizada.
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1 e 2. Construçþes presentes ao longo da Av. Dona Belmira Marins indicando a caracterĂstica e personalidade das tipologias. Fotos: da autora. 51
_o parque linear do lago azul
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Parque Linear Cantinho do Céu, projeto de autoria de Boldarini arquitetos e associados. 2008.
A chegada ao Parque Linear do Cantinho do Céu8 se deu após 25 minutos dentro do ônibus. Aquele lugar não era novo para mim pois foi área de uma disciplina de projeto que cursei no segundo ano da Faculdade. Lembrei-me do dia em que minha dupla de trabalho não pode me acompanhar e, então, fui sozinha da Cidade Universitária até o terminal Grajaú. De lá peguei um ônibus que percorria o Cocaia, e que hoje não me lembro o nome da linha, mas comentei com o cobrador que queria descer no Cantinho do Céu. Ele me alertou para descer na próxima parada, e começei a percorrer algumas ruas até atingir rapidamente o CÉU Navegantes. Haviam algumas pequenas bailarinas voltando para casa a pé, e outras crianças saindo de suas aulas. Percebi que eu estava no local errado, pois sabia que a referência do CÉU é próxima, porém, no bairro vizinho. Existe esta confusão entre o parque e o bairro. O Parque Linear do Cantinho do Céu não localiza-se no bairro Cantinho do Céu, mas sim no Parque Residencial dos Lagos, conhecido também como Lago Azul. Após uma caminhada de 5-10 minutos cheguei no terreno de projeto e percorri a pé o caminho do Parque Linear que havia sido inaugurado há pouco tempo. Passei por uma quadra, algumas praças, um pier, e uma pista de skate. Observei e fui observada. Permaneci algum tempo sentada em um banco próximo à pista de skate apreciando a paisagem e as atividades das pessoas que frequentavam naquele o dia o local. 5 anos depois, eu estava de volta. O grupo da visita do SESC caminhou pelo parque até chegar na altura do pier, onde de frente para a Represa há uma casa que abriga o Espaço Meninos da Billings. Neste espaço, é realizado o Projeto Remada na Quebrada, projeto independente que realiza aulas de remo e canoagem para os jovens da região. Ao entrar no Espaço, fomos recebidos com um café-da-manhã e uma apresentação feita por um dos organizadores e idealizador do projeto, o professor Adolfo Duarte (conhecido como Ferruge). Foi contada a história da região, citando o
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momento de construção da Represa, as antigas chácaras, as recentes ocupações e a inserção do projeto no contexto atual. De fato, um projeto que integra saúde, educação, lazer, esporte, cultura, meio-ambiente e encanta àqueles que participam ou somente observam. Apresentei-me para o Ferruge e para o professor Rogério (também organizador do projeto), dizendo sobre a ideia do trabalho e das oficinas coletivas de construção com garrafas PET. Comentei sobre a possibilidade de se pensar inúmeras estruturas flutuantes com este material como pontes, ilhas, caiaques, pranchas e jardins. A idéia foi bem recebida e eles demonstraram-se entusiasmados principalmente com a idéia de se construir uma ponte. Sob ponto de vista do trabalho, a idéia da ponte é importantíssima para se refletir a configuração e conexão do espaço. As pontes ligam as margens, conectam bairros e unem pessoas. Hoje, as águas da represa representam de fato uma barreira à integração territorial. A água é um limite, um obstáculo que faz 100m lineares se tornarem uma distância 3 ou 4km.
Vista aérea do Parque Linear do Cantinho do Céu localizado no bairro Lago Azul. Vê-se o único pier presente na região à esquerda e no centro a praça Curva do Vento. Foto: Fábio Knoll
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Fotos: AndrĂŠ Bueno
SOBRE OS MENINOS DA BILLINGS ENTREVISTA COM PROF. Adolfo Souza Duarte
Entrevista realizada em 22 de Setembro de 2016 com o prof. Adolfo Souza Duarte, fundador do Projeto Remada na Quebrada e responsável sobre o Espaço Meninos da Billings. A entrevista teve como objetivo conhecer melhor as atividades do Espaço, além de compreender como se dá a relação dos jovens com as águas a partir da prática da canoagem.
ADOLFO Meu nome é Adolfo Souza Duarte, o pessoal me conhece por Ferruge. Eu sou professor e moro no Cocaia, no Cantinho do Céu, desde a década de 90. Meu pai chegou lá em 92, desde então começamos a criar uma relação com a represa por que ali era o único espaço de lazer que nós tínhamos. A região foi apropriada por vários chacareiros, mas na época que nós chegamos lá já tinha tido ocupações. Meu pai comprou um terreno e nós construímos nossa casa. Então nossa relação com a represa sempre foi muito tranquila e familiar. Meus tios eram pescadores, já o meu pai gostava, porém não pescava. Minha família é nordestina, meu pai de Alagoas, minha mãe da Bahia, então sempre tivemos uma relação legal com água. Eu sempre trabalhei no centro e dormi no bairro. Em 2003 a prefeitura da cidade construiu um CEU e eu parei de trabalhar no centro, na Teodoro Sampaio como DJ em uma casa noturna e comecei a olhar melhor para o próprio espaço. O CEU foi um espaço gigante aonde começei a desenvolver um trabalho de DJ e produção musical. Então a molecada do bairro veio, começou a frequentar o espaço, junto com coletivos, grupos. Em 2006 eu entrei para a parte de gestão como Coordenador de Projetos Culturais.
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A minha relação com a Represa sempre permaneceu, sendo que em 2014 nós começamos a desenvolver um trabalho devido à relação que eu tive com os meus tios, meu pai e meus filhos, pois nos criamos perto da Represa. E o fato de que uma vez por ano eu sempre ia visitar meus parentes no nordeste, sempre tive relação com água, sempre gostei de remar. Então 2014, eu tive uma vivência de remo na Represa e começei a ver a importância de trazer este esporte para área, para aquele reservatório. Primeiro porque foi feito um parque maravilhoso lá, e o parque deu acesso à Represa. Foi feito um pier gigante que deu acesso ao espaço e eu, que já tinha um caiaque, junto com um amigo, o Rogério, e outros amigos, compramos outro e começamos a trazer a prática do esporte. A gente começou a entender que a molecada queria muito praticar, mas ninguém tinha recursos financeiros. Então começamos a fazer uma vez por mês um encontro que se chamava “Remar para mudar”. E com o passar do tempo naturalizou-se como “Remada na Quebrada”. A molecada do bairro vinha, participava e nós conseguimos comprar outros caiaques. Escrevemos alguns projetos para a Secretaria de Cultura, que entendia que o projeto tinha uma característica esportiva, mandamos para o Esporte que entendeu que o projeto tinha uma característica cultural. Enfim, nós fomos nos organizando e conseguimos fazer com que a canoagem fosse um canal para podermos aplicar as matérias que gostávamos de ensinar. Eu sou professor de História, mas junto com vários amigos, como o Rogério que é professor de Matemática, tem um outro professor de ciências, biologia, então começamos a utilizar a canoagem
como um atrativo, mas também ensinar um pouco a molecada sobre a história do bairro, da Represa, sobre os próprios moradores, um resgate de identidade cultural. Com o passar do tempo conseguimos parcerias de alguns amigos. A última que conseguimos foi a doação de 3 barcos da empresa Decathlon. Eles mandaram barcos infláveis, bem interessantes inclusive. E hoje, entendemos que, só conseguimos manter o projeto, de uma forma independente, sem depender de edital e de recursos públicos, com uma ajuda da comunidade. Então as pessoas pagam um valor mínimo e simbólico para fazer os passeios de barco, e são estes valores que mantém o espaço, a sede do projeto, a manutenção dos equipamentos e as atividades, que acontecem uma vez por mês, mas que atrai a molecada e é bem interessante. Hoje, nós estamos tentando uma parceria com a Prefeitura, apresentamos o projeto, mas ainda não tivemos um retorno. Mesmo assim, as falas foram bem positivas. Conseguimos um espaço próximo à região que é um galpão que estava detonado, fizemos uma reforma. A proposta é montar uma Escola Náutica neste galpão, trazendo a molecada para aquele espaço para construir os próprios barcos e ao mesmo tempo, fazer passeios, com a finalidade de arrecadar recursos para manter o projeto. O espaço é grande, fica na Ilha do Bororé, antes de atravessar a balsa, e próximo ao espaço tem alguns restaurantes, então ele está bem localizado para poder iniciar as atividades. Hoje dentro do Espaço Meninos da Billings, a gente tem o projeto que é o “Remada na Quebrada”, paralelo a isso temos o projeto
da profa. Cristiane de “Matemática e Física Sustentável”, focado na captação do óleo de cozinha utilizado nas residências e que seria mandado diretamente para a Represa. Então nós captamos o óleo, parte dele vendemos e a outra parte produzimos velas, sabão e biodiesel. Tem dado muito certo, os jovens têm realizado estas experiências e a pouco tempo nós recebemos a TV Brasil para entender melhor o que está acontecendo. Nós captamos mais de 900 litros de óleo, há dois meses atrás, e conseguimos fazer essa produção. A idéia é fazer com que estes jovens sejam multiplicadores desta ação, para que outros jovens da região onde está o projeto que é Lago Azul, Cantinho do Céu, Jardim Prainha, Gaivotas, Monte Verde, sejam atingidos.
Assim, a molecada vai entender a importância da redução dos impactos ambientais como também novos processos e formas de adquirir o conhecimento. O fato de pegar o óleo, tem todo um processo de decantação, o que sobra é glicerina, e que junto com o etanol e outros produtos se torna o biodiesel e ver esse processo acontecer é muito interessante, eles adoram. GABRIELA E especificamente do projeto da remada, como você acha que a relação desses jovens com a água se transforma? ADOLFO De acordo com os relatos, percebemos que primeiro vem uma sensação muito forte,
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uma carga pesada de agradecimento. A molecada que participa no final agradece muito, e não é discurso, é real, de coração, os olhos deles brilham. Eles se sentem muito acolhidos quando participam. E o fato de você ter produtos que são desenvolvidos e importados como caiaques, barcos, acaba dificultando um pouco o processo, por isso que a idéia da escola náutica é fazer com que a galera tenha uma independência, com segurança, para eles entenderem o que é o colete e o barco. Mas a princípio vem um agradecimento e depois a curiosidade de querer saber mais e de entender melhor, saber o que é esse lugar.
Porque ele não vê o lugar de fora. Ele vê de dentro. Ele entende e vive a realidade da quebrada, mas ele não enxerga de fora, em um olhar macro, o que é essa quebrada, o que é esse bairro dentro da cidade. Será que ele está inserido na cidade realmente? Será que ele sente que pertence à cidade ou ao bairro? Então acho que são várias provocações e, a princípio, o que vem quando eles voltam da água, é uma carga de agradecimento e ao mesmo tempo de curiosidade pra entender mais e de que forma participar mais. GABRIELA E a questão da qualidade da água da represa? ADOLFO É péssimo. Em conversa com várias pessoas, inclusive com engenheiros com o Instituto
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de Engenharia de São Paulo, que participaram do processo de construção da própria Represa, no meio da represa, ela é banhável, sua estrutura é de uma riqueza tremenda. Porém percebemos que ela está largada e abandonada. Na verdade a Billings sempre esteve abandonada. E, foi ela que sempre salvou a cidade de várias situações. Eu sou muito novo, eu não vivi isso. Mas eu escuto relatos. E nós percebemos que o Estado abandonou a Represa. A SABESP ela capta o esgoto das casas, das comunidades e joga na Represa. É gritante quando você vê isso. Por mês nós denunciamos inúmeras tampas de esgoto da SABESP jorrando esgoto para a Represa. Então a gente denuncia, eles vão lá bombeiam. Porque eles bombeiam o esgoto, são várias estações de tratamento, então eles bombeiam de uma para a outra. Aí uma funciona, a outra não. Aí mais uma vez a Represa fica lá, largada. E isso pra nós é muito ruim, porque, na Guarapiranga, por exemplo, existe uma estrutura de atendimento, um investimento, tem bancos e grandes empresas e instituições, e na Billings que é considerada a maior Represa da cidade de São Paulo, não tem nenhum incentivo, nem a prática dos esportes e desses trabalhos como tem na Guarapiranga. Então é um descaso, e um descaso com quem está nas margens. Essa é a realidade. A gente entende que tem muitas empresas que estão ali, a EMAE, por exemplo, ela está ali fazendo o trabalho dela, mas existe um bombeamento do rio Pinheiros para a Billings. Tem lugar próximo à EMAE que você não consegue navegar. O assoreamento é tremendo, você percebe que tem muita poluição e do outro lado, sentido Rodovia
dos Imigrantes você consegue navegar, tem menos poluição. Mas isso já é um processo natural da própria Represa. Ela se auto-protege e se auto-limpa. Mas de verdade, nós não conseguimos visualizar um cuidado. E a gente tenta realizar esse cuidado. Eu falo isso, porque inúmeras vezes eu já coloquei o barco na água pra puxar aguapé pra fora da Represa para poder abrir caminho, e você percebe que no meio dos aguapés, é óbvio que a população tem uma parcela tremenda nessa poluição, mas o responsável, quem tem estrutura e recurso para evitar com que isso aconteça, não utiliza esse recurso. E por que isso? Na Guarapiranga você perce-
be que existem balsas com braços, muques, para retirar o aguapé da água para facilitar a navegação. E você não vê isso na Billings. Quer dizer, a própria população tem as balsas para atravessar, mas não tem limpeza do aguapé. Na verdade não tem retirada do aguapé, ele é empurrado. Vem o rebocador e empurra o aguapé do caminho, ele não retira. Diferentemente da Guarapiranga. Então são os valores de se considerar as regiões. Existe uma falta de valor e de respeito com a região e com as pessoas que estão fazendo alguma coisa lá. Nós estamos tentando.
E ocupar o espaço da Represa legitima o nosso trabalho.
Os professorea Adolfo e Rogério, dando instruções de como posicionar o remo em relação ao corpo antes dos jovens entrarem na água. Foto: Natacha Prado.
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_o passeio na escuna,
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Empresa Metropolitana de Águas e Energia é uma empresa estatal brasileira vinculada ao governo do estado de São Paulo encarregada de controlar o volume de água do Rio Pinheiros, da Represa de Guarapiranga, da Usina Elevatória de Traição e Usina Hidrelétrica Henry Borden.
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A escuna do Sr. Gilberto (barqueiro de São Bernardo do Campo) já estava no pier nos esperando. Sua capacidade é para 28 pessoas e é a embarcação mais comum onde se realizam as visitas em grupo na Represa. Primeiramente saimos do pier do Lago Azul e seguimos para as margens que dão de frente ao Grajaú, no corpo central da Represa, no lado de São Bernardo do Campo. Passamos em frente a um terreno do Instituto dos Engenheiros da USP (único local onde vimos outro píer que não o do lago azul, porém para uso particular). Seguimos em direção norte, avistando o Parque dos Búfalos até chegar em área próxima à Barragem da Pedreira, limite entre a Represa e o Rio Pinheiros. Devido à alta ocupação e ao bombeamento ocasional em épocas de fortes chuvas das águas do Pinheiro para a Represa, esta é a parte cujo índice de poluição é o mais elevado. Foi apontada a sede da EMAE9 órgão cuja responsabilidade é a manutenção da represa, como por exemplo controle e manutenção da flora aquática. Em seguida, continuamos no corpo central observando a ponta do Cocaia e os bairros do Jardim Gaivotas e Prainha. Wellington Neri apontou aproximadamente onde estaria localizado o Ateliê da Margem, sede do coletivo Imargem. Este coletivo atua principalmente na área da arte urbana. Wellington, além de ter apontado várias pinturas ao longo do trajeto de ônibus, comentou como o Grajaú é uma referência internacional para o campo do graffiti, sendo berço de vários artistas de destaque nacional e internacional. O coletivo Imargem recentemente participou da realizaçao e produção de um filme-documentário sobre o legado do Niggazz, grafiteiro que morreu jovem, porém revolucionou técnicas de luz e sombra na pintura do graffiti a partir de um estilo próprio que inspira e é referência até hoje para vários artistas. Neste sentido, fica evidente que o cenário cultural e artístico no Grajaú merece atenção devido à sua qualidade e possibilidade de perspectiva de atuação para muitos jovens, sendo um fato de destaque da região em meio ao cenário paulistano.
Continuando no barco, seguimos pelo corpo central observando a paisagem de suas margens e discutindo assuntos como política, problemáticas ambientais e perspectivas sustentáveis. Ainda longe, já avistávamos um dos últimos pontos da visitação: o trecho onde passa o Rodoanel. Este empreendimento causou diversos impactos ambientais, como o depósito de metais pesados e resíduos de construção no fundo da Represa, além de desmatamento da flora local. A compensação ambiental seria feita através da instalação de sete novos parques públicos, em área de proteção ambiental. De fato, a obra já aconteceu, porém os parques de compensação continuam fechados desde 2012.
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1. O pier do Lago Azul e a escuna do Seu Gilberto. 2. Participantes da Rota Náutica durante o passeio na escuna. Foto: da autora. 2016
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1. Vista para a Curva do Vento, praça do Parque Linear do Cantinho do Céu. 2 e 3. Conformação da paisagem resultante da interação entre a ocupação humana e vegetação. 4 e 5. Vista para a Usina de Pedreira e Cidade Ademar 6. O rodoanel metropolitano passando por cima da Represa Billings 7. Participantes da Rota Náutica observando a paisagem. Fotos: da autora. 2016
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_a ilha do bororé e a casa ecoativa
Seguimos o passeio na escuna em direção a nossa última parada: a Ilha do Bororé. Bororé é o nome de um dos braços, e na verdade Ilha é apenas um apelido, devido ao seu acesso que se dá pela chamada Primeira Balsa da Represa Billings. Devido a ausência de piers para embarque e desembarque, tivemos que passar da escuna para um bote e deste para terra. Tivemos acesso pela rua da balsa, atravessamos o terreno da Casa Ecoativa para alcançar um sítio vizinho, propriedade de uma família de origem japonesa que são produtores de alimentos orgânicos. Neste local nos foi servido um almoço feito com todas as espécies ali produzidas. Não vou adentrar na riqueza desta refeição, apenas comentar que todos saíram dali extremamente satisfeitos e agradecidos. O grupo seguiu em caminhada passando em frente à Capela de São Sebastião, construída em 1904, tombada como patrimônio histórico do Estado. Em frente havia uma mercearia que vende aguardente artesanal e muros pintados pelo projeto Cartograffiti. Este projeto conta a história da região e algumas memórias de seus moradores através de pinturas de graffiti. Um projeto de arte, identidade e memória. Finalmente encerramos as atividades com uma roda de discussão na Casa Ecoativa. Conhecemos o Jailson, um dos responsáveis sobre o projeto da Casa, que nos apresentou o espaço, e assistimos à uma apresentação músico-teatrral do grupo “Os Retirante”. 1 1. A primeira balsa da Represa Bil- > lings, que faz a travessia para a Ilha do Bororé. 2. Fachada em obras da Capela de São Sebastião. 3 e 4. Mural do Cartograffiti, que reconta a história da região, projeto do coletivo Imargem. 5. Entrada da Casa Ecoativa. 6. Apresentação do grupo “Os Retirante”. Fotos: da autora. 2016
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Várias pessoas relataram de como, ao longo do dia, expandiram a visão sobre a região. Por fim, alguns apresentaram suas impressões, meio de atuação e perspectivas, inclusive fiz uma fala apresentando a idéia das oficinas com as garrafas PET e expressando abertura para contribuição de todos os interessados para o desenvolvimento deste processo.
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Voltamos para o SESC de ônibus e peguei uma carona com a Marla Rodrigues, uma colega da FAU USP que também tem o Grajaú como objeto de estudo para seu TFG, porém sob uma perspectiva de cartografia e mapeamento dos projetos culturais. O dia foi um marco para o processo do trabalho, pois foi o primeiro contato real para conhecer os atores da região, os coletivos locais, compartilhar a vivência náutica e as ricas trocas de idéias entre as pessoas.
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“O Rodoanel foi importante, mas pra nós que não temos acesso nem sei... Talvez seja bom não ter acesso. Só sei que antes vinha tucano aqui e depois nunca mais vi eles por aqui.” anônimo mural cartograffiti
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2_abraço na billings
02 de Julho de 2016
A segunda visita à campo se deu poucas semanas após a Rota Náutica, junto com o amigo Rodrigo da Silva. Um evento organizado pelo Conselho Gestor do Parque Linear do Cantinho do Céu previu uma atitude de valorização e mobilização através de um abraço simbólico na Represa Billings. A programação do evento contou com um mutirão de limpeza e plantio de mudas nas margens do parque, apresentações musicais, exposição de artesanatos e uma atividade de vivência náutica com caiques promovida pelo Espaço Meninos da Billings. Pela primeira vez, pude ter a experiência de praticar o remo na Represa. Neste momento conheçi o Bruno Silva, jovem morador do Lago Azul e integrante deste mesmo projeto, e pudemos trocar idéias sobre a importância de se ocupar os espaços da Represa. Ele comentou sobre o problema das plantas aquáticas que muitas vezes bloqueiam o espaço navegável. Discutindo sobre esta questão, de que estas plantas, por mais que possuam bactérias fixadoras de nitrogênio em suas raízes, o que as tornam capazes de amenizar o nível de poluição, Bruno comentou que não há uma manutenção desta flora, o que deveria ser de responsabilidade do poder público, assim como acontece na Represa Guarapiranga. E que portanto, as plantas, ao atingirem seu nível máximo de maturação, morrem e afundam na Represa.
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1. Plantas aquáticas que se acumulam nas margens da Represa. Foto: da autora 2016 2. Plantio de mudas. 3. Abraço simbólico represa. Fotos: Mauro Scarpi
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De fato, esse sistema de filtração da água através de plantas pode ser muito eficiente, porém, como mostrado em entrevista com o engenheiro Leonardo Tannous, ele requer manutenção para ser eficiente. Neste sentido, uma possibilidade que surgiu como idéia de intervenção prática, seria pensar na instalação simbólica de uma ilha flutuante com plantas filtrantes, chamando atenção para esta questão. Porém, foi considerada a dificuldade de se promover a articulação e mobilização das pessoas no tempo hábil do trabalho. Por fim, uma roda de conversa discutiu o resgate da Represa, sinalizando que a população marginalizada e citada nas grandes mídias como responsável pela degradação da mes-
ma, tem como direito o saneamento básico, e que este deve ser assegurado pelo Estado. Este sim, é o principal órgão criminoso pela falta de qualidade hídrica do reservatório. Por mais que, naquele dia, a medição da qualidade de água na represa tenha tido resultado satisfatório, isso não representa que a água da represa seja de qualidade para o abastecimento e não apresente riscos à saúde pública. O professor Adolfo comentou que há vários pontos da Represa, principalmente nos braços mais ao Sul do corpo central, onde a água chega a ser própria para o banho. Porém o problema está nas margens dos braços de maior ocupação irregular, onde ainda não há coleta de esgoto e na região próxima à barragem de Pedreira, próximo ao rio Pinheiros, cuja reversão das águas do rio em períodos de chuvas torna-se o maior fator poluente do corpo hídrico em questão. No entanto, constata-se que mesmo nos bairros onde há coleta de esgoto, este é despejado diretamente nas águas pela própria SABESP. Segundo relatos de moradores há vários bueiros “jorrando esgoto”. Como demonstrado pelo professor Ivanildo Hespanhol, de fato a SABESP joga esgoto nos rios e na represa por falta de investimento, ampliação e modernização das estações de tratamento de esgoto. 2 >
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Movimento Os Vários Ambulantes. Disponível em: movacoletivo.com Acesso em:
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31 de Julho de 2016
No dia 31 de julho, junto com duas colegas, fomos conheçer o Ateliê da Margem, sede do coletivo Imargem, e o projeto Navegando nas Artes. O ateliê localiza-se no Jardim Gaivotas, no final do Cocaia. Este contato deu-se através do Coletivo MOVA9, coletivo que promove colagens gigantes e coletivas que também faço parte. Neste sentido, fui convidada para comparecer neste dia e conversar com o Wellington Neri (conhecido como Tim) sobre uma possível parceria entre MOVA e Imargem, o que resultou na participação do MOVA na Virada Sustentável que aconteceu no Grajaú, dia 28 de agosto. Então, neste dia, o Tim nos apresentou o espaço e contei tanto do projeto do MOVA como do projeto do TFG, da pesquisa com garrafas PET e da intenção de se construir estruturas flutuantes coletivamente. Naquele momento ainda não estava definido o formato das oficinas nem o protótipo a ser executado. O Ateliê da Margem, antiga sede da ONG que desenvolveu nos anos 2000 o primeiro projeto de barcos à vela na região, o Vento em Popa, hoje abriga diversos projetos que reúnem arte, cultura e educação. Especificamente o projeto Navegando nas Artes é fruto de uma parceria entre o Imargem e os ex-alunos do projeto “Vento em Popa,” Fabiano Souza e Franz Thomas, que hoje são os organizadores e instrutores do projeto. Entrevistados, eles contam como funcionam as atividades com os barcos à vela, e da motivação que tiveram em dar continuidade ao projeto.
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Este, tem como objetivo transformar a realidade de jovens moradores da região através do contato com a Represa atra- vés do esporte náutico com barcos à vela. Fabiano conta que o objetivo não é de formar atletas, porém pessoas conscientes sobre o meio em que vivem. Além de ocupar os espaços da Represa com atividades náuticas, o projeto Navegando nas Artes também desenvolve atividades de pintura com graffiti em muros, reiterando um dos pontos forte do Grajaú, berço de muitos artistas reconhecidos nacional e internacionalmente.
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1 e 2. Mural feito pelo coletivo MOVA, em parceria com o Imargem e Meinos da Billings. Foto: da autora. 3. Atividade com os barcos, nas margens do Jardim Gaivotas. Foto: Priscila Pacheco 4. Atividade de graffiti com Wellington Neri. Foto: Navegando nas Artes. DisponĂvel em: facebook.com/navegandonasartes Acesso em: 02/11/16
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SOBRE O NAVEGANDO NAS ARTES ENTREVISTA COM FABIANO SOUZA E FRANZ THOMAS
Entrevista realizada em 07 de Novembro de 2016 com o Fabiano Souza e Franz Thomas, coordenadores do projeto Navegando nas Artes. A entrevista teve como objetivo compreender melhor o histórico e origens do projeto e como se dá a relação dos jovens com as águas a partir da navegação com barcos à vela.
GABRIELA Você poderia contar quando você começou a velejar, e como foi criando a sua relação com as represa? FRANZ THOMAS Eu comecei a frequentar a ONG Vento em Popa que fica do lado da minha casa, quando eu tinha uns 9, 10 anos. Eles mexiam com marcenaria naval e com o esporte náutico, que é muito elitizado. O Frederico, coordenador, que já foi até campeão, começou a velejar muito cedo, e ele tinha o desejo de passar isso adiante. E uma coisa muito legal era que os trabalhos eram sempre em grupo, com outros jovens do bairro, então nossa turma estava sempre ali, e você se sentia muito acolhido, você estava todo instante aprendendo alguma coisa, seja com os amigos, seja com as referências dos adultos, e você praticamente não queria mais voltar pra casa. Nós marcávamos vários mutirões de limpeza na beira da Represa, e isso foi criando uma consciência ambiental muito forte nos jovens que participavam, até mudar vários dos nossos hábitos, não jogar o lixo no chão e preservar a Represa que era o espaço que a gente mais utilizava. E quando a gente começou a velejar, a gente ia aprendendo como funcio-
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na o barco à vela e como ele anda com o vento. Existe toda uma logística para o barco não ir com as ondas ou com o vento, pois existe a bolina para fazer ele andar contra o vento, o que é muito mágico. Quando começamos a ter essa experiência não queríamos mais voltar para casa. A gente queria estar lá o dia todo. Eram mais ou menos 60 jovens, divididos em duas turmas, uma de manhã, outra à tarde. E desde então, fomos crescendo com o esporte da vela, um esporte náutico bastante elitizado, mas no momento em que tivemos contato com ele, fez bastante diferença nas nossas vidas. Nós termos crescido com bastante ocupação foi muito bom para estarmos aprendendo coisas novas e legais, com pessoas legais, sem pensar em fazer besteira e coisas erradas. Desde então, fomos criando várias práticas de zelar aquele espaço, tanto da beira de represa como do espaço da própria ONG, da sede onde a gente ficava. E quando a ONG teve que fechar, por vários fatores, foi muito triste, pois era o espaço que tínhamos como nossa casa. E desde então existia um sonho em todos os jovens que cresceram ali, de continuar esse projeto. Antes ficávamos muito nas idéias, até que eu e o Fabiano decidimos escrever um projeto. Nos inscrevemos no edital VAI, e mesclamos o esporte náutico e o graffiti pois o VAI apóia iniciativas culturais. Nossa atuação se dá junto com o Imargem, com o Tim e o Mauro, que trabalham com graffiti no Grajaú há muitos anos e são muito reconhecidos pela
mídia. E hoje são artistas profissionais, são referências para nós pois já estão há algum tempo na militância para fomentar a cultura no Grajaú. Nosso projeto é mais náutico, porém queremos também fomentar a cultura. Quando o projeto foi aprovado começamos a mesclar mais as coisas e a ensinar para os jovens coisas que aprendemos, ou seja, queremos passar adiante as coisas que nos tocaram quando éramos mais moleques, e queremos aprender com eles também. Pois é tudo muito novo pra nós, por exemplo, eu estou coordenando um projeto numa ONG, basicamente onde eu cresci, e estou voltando para as minhas origens, sendo muito simbólico e significativo para mim. A Vento em Popa foi importante pra mim, pois conheci pessoas e hoje trabalho com educação na área social. FABIANO SOUZA Visto que desde o Vento em Popa temos barcos, botes, porque manter isso tudo parado? Vamos ativar isso de qualquer maneira. Aí nós nos reunimos para escrever o projeto. Mas a nossa maior dificuldade é sempre a busca de verba e de parcerias pra tentar manter o projeto ativo, porque hoje em dia ninguem quer investir em mais nada, principalmente em projeto social. O nosso ponto forte é que promovemos uma atividade que tira as crianças da rua, pois segundo pesquisas a região do Grajaú é apontada como uma das mais perigosas de São Paulo, mesmo que nós que moramos aqui não achamos isso. Pelo menos criamos uma atividade e uma consciência para a molecada, através de um esporte que é tão
elitizado, no caso a vela. GABRIELA E são vocês mesmos que fazem a manutenção dos barcos? FABIANO Somos nós mesmos que fazemos. Na verdade tentamos porque não temos verba para isso, tiramos de um lado e de outro pra cobrir esse custo. Como os barcos estão sempre na água, tem que ter sempre a manutenção. No caso, sou eu e os próprios alunos que fazem, pois eu monto uma articulação para cada um cuidar de um barco, sendo responsável sobre ele. Então se uma pessoa que velejou e quebrou alguma coisa, ele mesmo vai ter que arrumar. A responsabilidade do barco é da própria molecada. FRANZ Como os barcos ficaram muito tempo parados, e no Vento em Popa a gente aprendeu marcenaria naval, nós mesmos conseguimos fazer vários reparos que não são muito grandes. Aprender isso foi muito legal, porque na Vento em Popa criamos uma classe de barco que não existia, chamada Saracura. Então estávamos ali, acompanhando e aprendendo a como mexer na madeira, como utilizar resina, mexer com verniz, tinta, então criamos um grande zelo pelos nossos barcos, mas com o tempo também, como é de madeira, vai estragando, você precisa passar um verniz ou uma resina em algum lugar, trocar um moitão que enferrujou. GABRIELA E os jovens andam nos barcos sempre juntos?
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FABIANO Nós temos um barco chamado Optimist, que é um barco-escola para iniciantes. Nele podese andar uma criança de 8 a 14 anos. Mas nós temos poucas crianças dessa idade. Temos o barco Saracura, que pode ir até 3, 4 pessoas. E, temos também o barco 3.9, um hobby-cat, que normalmente é para uma pessoa também mas pode velejar até 3. Então na verdade, os barcos estão sempre em coletivo. A gente tem uma aula antes de preparação, falando sobre o vento e sobre o colete, porque mesmo se a pessoa fala que sabe nadar, não pode ir sem, tem que usar o colete. A gente sempre passa a teoria antes explicando tudo, porque na verdade você está na água que é funda, às vezes venta, tem chuva, então a gente tem que estar preparado para isso. E tem o bote também de apoio. GABRIELA Vocês velejam mais ou menos qual distância por dia? FABIANO Nós ficamos mais próximos mesmo à casa, à ONG. No máximo agente atravessa a Represa e volta, acho que no máximo uns 3km. As vezes quando tem atividade no Bororé, ou em outro lugar, aí a gente vai velejando, mas quando tem atividade de aula mesmo é mais próximo ao nosso espaços mesmo, pois se precisar de alguma coisa agente tá perto. GABRIELA Hoje, mais ou menos, quantas pessoas participam do projeto?
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FABIANO Então, a gente não abre inscrição, mas temos um pessoal que vai sempre, que são uns 15 moleques. Porque desses 15, cada um sempre acaba levando 1, 2, 3 ou 4. Então agente sempre acaba recebendo várias pessoas, é bem rotativo. A média mesmo são uns 15 moleques. FRANZ A gente não tem uma turma fixa, mas estamos oferencendo esse momento de troca para os moradores do bairro, uma coisa que a gente aprendeu, porque a nós podemos cuidar mais da Represa e aproveitá-la como bem finito e um momento de lazer nas nossas vidas. Acho que isso já é uma grande diferença, porque é um esporte totalmente elitizado, e nós, por ter os recursos, os barcos, as peças, levar para nossa comunidade é maravilhoso. GABRIELA De fato é um projeto muito importante que acontece e que dá muita perspectiva pros jovens hoje. FABIANO Uma coisa que comentamos sempre é que o nosso objetivo não é de formar atletas, pessoas para competir no esporte. Agente quer formar pessoas que tem intenções positivas, que tem uma consciência ambiental, porque estamos ns beira da Represa. E propor isso através da vela e do graffiti.
GABRIELA Como o projeto acaba por transformar a visão e relação dos jovens com a Represa?
GABRIELA Sim, e até de entender a relação do Grajaú com o outro lado, com o restante da cidade.
FRANZ Acho que pelo fato dele estar praticando um esporte, e ele ver que ali tem um impacto, social e ambiental, porque muitas vezes eles e não sabe que ele está aprendendo alguma coisa, ele pensa que está só brincando. Mas quando falamos, “tem que cuidar do barco, porque ele é nosso”, ou “não pode deixar o lixo aqui na beira da Represa, vamos cuidar é nosso o espaço”, essas pequenas coisas vão mudando os hábitos, seja dos jovens ou dos adultos, e ele vai criando respeito pelo espaço público, que é nosso.
FRANZ É de um lado está a Represa e o Grajaú, e do outro lado está Diadema e São Bernardo. E de carro, nós demoramos 2, 3 horas para chegar lá e de barco gastamos 20, 30 minutos.
GABRIELA E qual é a visão que vocês tem do bairro quando estão na água?
GABRIELA Vocês tem uma previsão de continuidade do projeto? FABIANO Esse ano mesmo já acabou. Ano que vem vamos tentar outros editais, vamos correr atrás. Não queremos deixar nada parado. Queremos ativar o projeto. O VAI na verdade foi somente um up pra agente começar, queremos manter por vários anos.
FRANZ Quando olhamos pro bairro da água, sempre vamos achando novos pontos de vista, porque você vê um amontoado de casas sem reboco, e alguns até identificam a casa do vizinho. “Ali, é o Lago Azul onde às vezes vamos andar de bicicleta”. Os jovens adoram velejar e olhar para os bairros. É legal porque eles tem uma outra visão de olhar pro bairro, pro lugar onde eles estão. A Represa é muito grande, o que velejamos nela não chega nem a ser 10%. Como o Fabiano falou, ficamos nos lugares mais próximos por segurança. Foto: André Bueno
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29 de Junho de 2016
Cooperativa de Catadores Seletivos Parque Cocaia
No evento do cine-debate no SESC, conheci a Valquíria Cândido, presidente da Cooperpac, e desde então trocamos e mantivemos contato. Ela me fez um convite de ir conhecer o espaço da Cooperativa, e demonstrou-se muito animada com o projeto de experimentação com as garrafas PETs. No dia 29 de Junho eu e minha colega Danielly Omm fomos então realizar a primeira visita ao espaço. Situada na Estrada do Barro Branco, o espaço da Cooperac é um terreno composto por um galpão e uma edificação para a copa, banheiros, sala de reuniões e administrativo. Conhecemos a Helena Novais, uma das cooperadas e a Natacha Prado, sobrinha da Valquíria que trabalha na parte administrativa e organizacional da Cooperativa. Fizemos uma conversa, que segue transcrição a seguir, com o objetivo de entender melhor o histórico da cooperativa, as dificuldade e perspectivas. Num segundo momento, andamos pelo espaço do galpão, onde nos foi explicado todo o processo do trabalho com os materiais. Com sorte, estávamos presente no momento de chegada do caminhão da Prefeitura com os resíduos coletados. Pudemos testemunhar o momento de despejo do material no solo e o início da triagem, do solo para a esteira, feita por dois cooperados. Neste momento todos os vidros são separados cuidadosamente. Todo o restante do material vai para a esteira, onde ficam de 6-8 cooperados trabalhando na separação dos diferentes tipos de papel, metal, plásticos, isopor, eletrônicos, etc. Separados em grandes sacolas chamadas “bags”, cada tipo de material recebe um tratamento final, sendo a maior parte (os papéis e plásticos) prensados em fardos. Outros 2 ou 3 cooperados trabalham nestas funções, transportar os bags, prensar o material, e organizar os fardos que seguem para venda. Há também uma equipe que se ocupa de coleta diária de porta-em-porta com um segundo caminhão. O primeiro, vem somente uma vez por semana, de responsabilidade da prefeitura, e o segundo realiza coleta diária, de responsabilidade dos cooperados.
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Foram apontados diversos tipos de materiais que não possuem venda, ou seja, viram rejeito e seguem para os aterros. Dentre eles: garrafas PET de cor laranja (a indústria da reciclagem tem interesse somente pelo PET verde ou transparente pois o laranja “contamina” a cloração de seus produ74
tos finais), garras de leite tipo brancas, embalagens plásticas transparentes de ovo, embalagens de salgadinho, bandejas de isopor, dentre outros. Há uma dificuldade em se conseguir um comprados para determinados produtos, ou até mesmo falta de conexão entre um comprador específico e as várias cooperativas de materiais existentes na metrópole.
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De toda forma, a Cooperpac apresenta estabilidade de desenvolvimento produtivo de seus cooperados. Valquíria durante a conversa nos conta das dificuldades que tiveram no início de se organizar até conseguirem garantir o pagamento salarial de todos no fim do mês. Aponta que o trabalho com a triagem é desafiador principalmente devido ao preconceito que as pessoas tem e da falta de valorização para com esses profissionais. No entanto, hoje as perspectivas são positivas. Após um curso de coaching, a auto-estima de alguns cooperados aumentou, e hoje eles tem projetos de transformar o espaço com sistemas ecológicos. Querem realizar a compostagem, implantar um sistema de captação de água da chuva, e gerir uma horta comunitária. A partir desta visita, passei a frequentar o espaço outras vezes, não somente para comprar garrafas PET, para realizar os primeiros testes e protótipos, mas também para levar referências de projetos para a horta que estão implantando.
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1. Bag com garrafas PET verdes, as que serviram de interesse ao projeto. 2. Bag com garrafas de leite que após-consumo tem venda escassa. 3. Conjuntos dos bags contendo diversos tipos de garrafas plásticas. Fotos: Danielly Omm. 75
Chegada do Caminhão da Prefeitura com o material coletado nas residências, a ser triado no galpão da Cooperativa COOPERPAC. Foto: Danielly Omm
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SOBRE A COOPERPAC ENTREVISTA COM VALQUÍRIA CÂNDIDO
Entrevista realizada em 29 de Junho de 2016 com Valquíria Cândido, com participação de Helena Novais e Natacha Prado. A entrevista teve como objetivo conhecer melhor o histórico da Cooperativa, suas atividades, desafios e perspectivas.
Gabriela Vocês poderiam comentar um pouco de como começou a CoopeRPAC? Helena Começamos na Vila Natal em 2005. O presidente do bairro fez uma campanha para começarmos essa Cooperativa. Então, começamos com 38 pessoas. Nos cederam a associação lá no bairro e começamos a luta. Não tínhamos nada, saíamos na rua com as sacolas, recolhendo as coisas. Por ser difícil,o pessoal foi desistindo e depois de um ano ficaram só 10 pessoas. Aí virou o ano e saíram mais, ficando somente 3, Eu, dona Vanda e Adélia, ficamos 4 anos juntas. A dona Vanda ia em várias reuniões, inclusive em Brasília, só que hoje ela não está mais aqui. Desde o ano passado ela saiu. Foi ela quem conheceu a Valquíria e continuou indo para as reuniões. Depois decidimos juntar os documentos com a Valquíria pra vir trabalhar aqui, porque o presidente do bairro precisava do espaço lá na Vila Natal e tivemos que sair de lá e vir pra cá. Então, viemos pra cá e nos juntamos com ela [Valquíria ] que já estava bem encaminhada. Conseguimos a documentação e eu estou aqui até hoje. Valquíria Antes a Prefeitura falava que as Cooperativas tinham que ser formadas só por catadores, que sabem trabalhar muito bem, mas muitos não têm instrução. Eu e meu marido
trabalhávamos em uma empresa de coleta de lixo onde eu apontava o cartão de ponto lá do pessoal. Então, a gente já conhecia mais ou menos o caminhão do lixo, vindo com aquilo tudo. A partir disso, iniciamos o trabalho com a coleta mas sempre fomos atrás dos documentos, que é a dificuldade que os catadores tinham, de formalizar, fazer uma ata, um estatuto. Quando iniciamos não havia informações sobre isso. Não existia um contador que entendesse como funciona uma cooperativa. Nós pegamos um estatuto para vermos um modelo, no Google. Nós conseguimos um modelo enorme que era cooperativa de leite, das mais antigas que tinham. Cooperativa de catadores ninguém entendia muito. Nós começamos em 2007 e em 2010 conseguimos o convênio com a Prefeitura. Entramos aqui com 40 pessoas. No início todos pensam que é fácil e todo mundo quer trabalhar. Mas se a pessoa não vem de um segmento de reciclagem, não fica numa cooperativa. Porque o trabalho é pesado, você lida com vários tipos de cheiros, com pessoas diferentes. Antes havia muito essa questão que a cooperativa serve pra incluir - têm até hoje - a inclusão social. Viemos para cá, num galpão com 40 pessoas, sem formação nenhuma, ninguém tinha formação acadêmica de nada. E aí, como você vai lidar com uma pessoa que tem problema de droga? Você não é psicólogo. Aqui tem que ter um pouco de psicólogo, um pouco de tudo, sabe? Nós apanhamos e sofremos aqui. Pra você fazer as pessoas trabalharem juntas, no mesmo ritmo, dizer que todo mundo é dono, que todo mundo é associado... Falar é fácil, dificil é fazer. Porque as pessoas não querem ter compromisso, responsabilidade e utilizar o mesmo espaço, respeitando uns aos outros. 77
Tudo isso aconteceu aqui dentro. E nós sem termos muito experiência, teve muita rotatividade. Tem gente que entrava num mês e já saía no outro. Tem gente que desistia no mesmo dia. Mesmo que agente fale pra pessoa que tem um regimento, explicando tudo direitinho, a pessoa escuta, mas ela não entende. Quando ela vai receber o pagamento igual ao da outra, pergunta: porque eu ganhei igual a ela se eu trabalhei mais? Como vamos explicar isso? Isso daqui foi uma faculdade para nós. Eu falo isso porque vivemos isso na prática. Quando entramos, tivemos uma formação com o Fundo Especial do Meio Ambiente, que foi um projeto que falava sobre cooperativismo. E eu tenho trauma dele porque ele empoderou as pessoas, elas queriam ser os donos, porém não queriam ter a responsabilidade. Essa coisa de quem é o dono, quer entrar e sair a hora que quer, querer faltar sem ser punido. O cooperativismo é muito dificil, ele é meio ingrato, porque algumas pessoas trabalham e outras se sentem os donos. Em 2012, tivemos uma outra formação com o projeto da Rede Sul. Iniciamos novas formações. Primeiro, viemos fazer um curso com eles la no SENAC, nunca havíamos entrado assim numa instituição de ensino, um lugar bem bonito, e já fomos acreditando em coisas boas. Ficamos lá durante um ano. Depois, os técnicos vieram para dentro da Cooperativa. Veio um técnico de Marketing, um Contábil e outro de Logistica. Então, começamos a entender de números, a fazer planilhas e a entender de produção mesmo, até como conseguirmos aumentá-la. Eu vejo que hoje tem empresas que começam e que para ter uma estabilidade demoram 3 anos. Eu falo que demoramos 5 para ter78
mos uma estabilidade. Até aprendermos sobre as vendas, os compradores, da forma de separação dos materiais, erramos muito. Não tinha ninguém que nos instruia. Não existe uma escola que ensina essas coisas. Em 2015 entrou outro projeto. Por que entram esses projetos? Por causa da Logística Reversa. As empresas não querem pagar pelos serviços prestados. Elas querem somente dar equipamentos para as cooperativas.
Eles mudaram um pouco a cabeça quando viram que não adianta dar o equipamento se a pessoa não sabe usá-lo. Foi então que vieram conversar consoco, construído de baixo pra cima, junto com a gente. Em 2014 veio um outro projeto, bem legal, que foi de Coaching. Esse Coaching selecionou 5 lideranças para trabalhar como facilitadores da Cooperativa. Eram pessoas que têm mais contato com todos os outros, porque o meu papel de Presidente não era ficar na esteira trabalhando junto com eles, eratentar fazer eles melhorarem o trabalho. E eu fazia tudo errado. Lá na esteira não dava para perceber as coisas. Somente quando você está de fora você passa a ver as coisas de um outro ângulo. Então, foi esse trabalho de Coaching que nos levantou, melhorando nossa produtividade e a auto-estima dos cooperados. A gente aprendeu muito mais a dar empoderamento para as pessoas. A Helena mesmo era muito tímida e hoje ela já fala para caramba e consegue chamar atenção das pessoas. Foi mais o Seu Adão, a Luana, o Fernando e eu. Acho que foi esse Coaching que de fato despertou todo mundo, pra conseguirmos ver nosso
potencial. Mas ainda tem muita coisa para fazer. Porque antes, não nos preocupávamos com as estruturas da Cooperativa. Nós trabalhávamos freneticamente, sem planejamento, sem nada. Tudo isso para conseguir o salário de todo mundo. Então, não sobrava dinheiro. Não sobra, na verdade. Mas nós já conseguimos nos planejar melhor. Desde 2012, consta na Lei que um cooperado não pode tirar menos do que um salário mínimo. Além disso, tem um monte de coisas que nós ainda temos que nos adequar, mas, por exemplo, hoje já conseguimos que os cooperados tenham 20 dias de descanso e um convênio com dentista. Eu nunca tinha me preocupado em divulgar o trabalho da Cooperativa. Antes eu pensava: estamos aqui no fundão, ninguém vai nos ver. Imagina se uma empresa vai vir fazer benefícios Cooperados da COOPERPAC trabalhando na triagem dos materiais recicláveis. Os mateirias são separados por tipo e prensados em fardos antes de serem revendidos. Foto: Danielly Omm
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aqui. Hoje, depois desse Coaching, minha cabeça mudou, eu já penso diferente.
VALQUÍRIA E mesmo nos movimentos que tenho ido, estou percebendo que as pessoas estão com muita vontade de fazer e de participar, principalmente os jovens, que tem a cabeça mais aberta e entendem mais.
Porque mesmo que se a gente está aqui no fundão, todo mundo pode saber que a gente está aqui. Quanto mais pessoas souberem, melhor Eu tenho 4 filhos e escuto muitas pessoas falarem: você pune um jovem mas não para nós. E agora a minha intenção é melhorar o aspecto visual da Cooperativa. Quero organizá-la para que o SESC também coloque-a no Roteiro do Turismo, para que as pessoas venham visitar o nosso espaço. Outra coisa que queremos fazer é uma horta comunitária. Nós temos uma pequena que a Helena cuida, mas não tem muito tempo para se dedicar. Então, se ela for aberta para o bairro, tanto a Cooperativa como a comunidade se beneficiam. A Natacha, minha sobrinha, está com a gente já faz um ano. Você pode se pergunta o que uma menina dessa vai fazer numa cooperativa? Ela me ajuda a fazer projetos, fizemos um filme juntas que ela colocou no Youtube. As meninas lá em baixo as vezes não sabe o que ela faz aqui em cima. Temos que ter o costume de passar também o que acontece aqui, para todos vermos que cada um aqui é importante naquilo que faz. Agora queremos ampliar a divulgação da cooperativa. NATASHA Esses dias ouvi uma frase que achei que se encaixa perfeitamente: a periferia é o novo centro. O que estamos fazendo é dar visibilidade para cá, justamente porque aqui é onde está a maioria das pessoas.
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dá uma direção para ele, ele só é cobrado. Tenho ouvido muito falar que o sistema de ensino está arcaico. Participo de associação que querem fazer trabalhos voltados para os jovens. E junto com isso o segmento do meio-ambiente. Porque se conscientizarmos os jovens sobre a questão do meio-ambiente, a Cooperativa pode ser um espaço de estudo para eles, principalmente para verem como funciona a reciclagem. Então, eu já falei 3 coisas que a Cooperativa pode fazer, mas precisamos planejar e fazer tudo certinho. É nisso de planejar que não temos muita experiências. Queremos fazer um sistema de captação de água da chuva, fazer adubo orgânico, fazer daqui um espaço de convivência mesmo. E nunca pensamos nisso, deixamos o portão fechado com medo do pessoal vir nos assaltar porque aqui é meio perigoso e nunca tínhamos pensado nisso.
Mas se fizermos daqui um espaço para as pessoas virem, ia ser muito bom. Assim, teríamos mais estabilidade e a Prefeitura vai nos deixar renovar o contrato de aluguel por um tempo maior. A Prefeitura tem que nos pagar pelos serviços prestados, porque o aluguel deste espaço custa R$14 mil por mês, com luz e água. Nós temos um convênio, porém por se tratar de um sistema falido, eles não nos dão estrutura de gestão.
essas empresas de coleta de lixo. Então eles acabam pagam pras concessionárias e para as cooperativas, somente o aluguel, a água e a luz. Porém, se eles nos tratassem como tratam as concessionárias, as cooperativas estariam muito melhor estruturadas.
Deveriam sim investir nas pessoas que trabalham aqui para podermos fazer uma gestão mais eficiente, Então, não temos uma estabilidade de quan- porque só trabalha com reciclagem to tempo vamos ficar aqui, por causa desse quem gosta. aluguel. Em paralelo, tenho que correr atrás de um terreno público para a Cooperativa. Mas temos dificuldade em conseguir porque o poder público não tem a vontade de liberar espaços para nós.
GABRIELA Isso devia ser encarado como um reconhecimento dessa prestação de serviço que vocês fazem, e que é dever do poder público.
Existem aqueles que trabalham por necessidade, mas somente por um momento, por pouco tempo, logo já arranja outra coisa para fazer e “tchau reciclagem”. Quem trabalha com reciclagem são realmente as pessoas que gostam. E aí fala-se nos catadores, os catadores de materiais. Que não é fácil.
VALQUÍRIA Existe um orçamento anual para vários setores. O orçamento para a coleta seletiva que é o mínimo possível. O poder público tem um contrato de 20 anos com a concessionária, Croqui ilustrativo do caminho do material: chegada no caminhão, triagem, prensa e revenda em fardos. Fonte: da autora.
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cenรกrio imaginado
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Fotografia aĂŠrea: Martim Passos Foto: da autora.
VELEIROS JARDIM IPANEMA
JARDIM SUSANA JARDIM PAQUETÁ
JARDIM CRISTAL
INTERLAGOS
CIDADE DUTRA
JARDIM MARCEL JARDIM RÉGIS
JARDIM IMPÉRIO RECANTO DOS SONHOS JARDIM PRAIA ANA LÚCIA PAULISTINHA JARDIM CRUZEIRO JARDIM JARDIM RIO MARIA RITA SÃO BENEDITO JARDIM BONITO JARDIM VILMA PARQUE JARDIM RIO BONITO SANTANA EDITH JARDIM ESMERALDA VILA JARDIM JARDIM RUBI COLONIAL DOS JARDIM JARDIM BICHINHOS IPORANGA BONITO JARDIM JORDANOPOLIS JARDIM GANHEMBU DAS IMBUIAS PARQUE chácara SÍTIO AMÉRICA JARDIM gaivotas COCAIA JARDIM KIOTO JARDIM STA EDWIGES jardim KIKA PROGRESSO JARDIM PARQUE CHÁCARA ANGELINA SÃO JOSÉ DAS CORUJAS JARDIM jardim jardim ROSALINA toca PARQUE gaivotas PLANALTO JARDIM EDA jardim cantinho TRAVESSA STA BARBARA do céu parque res. PARQUE JARDIM cocaia lago azul GRAJAU DOS MANACAS JARDIM REIMBERG
parque cocaia
jardim jardim prainha edi cohab JARDIM brig. faria SÃO BERNARDO lima jardim jardim lucélia JARDIM ideal parque STA FRANCISCA são miguel parque VILA NATAL jardim sta cecilia são pedro jardim JARDIM novo jardim SANTA FÉ jardim jaú myrna ellus JARDIM jardim ARCO-ÍRIS chácara três cocaia JARDIM jardim corações CAMPINA noronha jardim JARDIM zilda MARIA AMÁLIA
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jardim jardim novo horialmeida zonte prado varginha jardim jardim sabiá marilda
jardim moraes prado
ILHA DO BORORE
3 CENÁRIO IMAGINADO O presente capítulo tem como objetivo apresentar as considerações finais a respeito deste lado do trabalho, chamado de “Os espaços das águas”. Através da exploração do território pelas visitas de campo, foram percebidas as problemáticas mais sensíveis no tocante das relações entre as pessoas que habitam o local e as águas da Represa Billings. Tomando como recorte a região do Grajaú, pôde-se perceber como esta se constitui como um conjunto de bairros e comunidades, alguns deles mais próximos às vias de circulação e ao transporte público, outros mais no “fundão”, que sofrem maior exclusão pelas dificuldades de acesso e locomoção. Compreendeu-se que, além da topografia acidentada, as águas da represa apresentam-se como um elemento que reitera a fragmentação do espaço no momento em que estabelece-se como uma barreira física entre um bairro e o outro. Seus grande e pequenos braços acabam por aumentar distâncias, transformando 100 metros lineares pela água, em 20 ou 30 minutos de caminhada por terra. Por exemplo, tomando como estudo de caso a região compreendida entre os braços do Cocaia e Bororé, mapeamos os seguinte pontos de interesse do projeto: SESC Interlagos, Ateliê da Margem, Espaço Meninos da Billings, Casa Ecoativa e Cooperpac. Verifica-se que a distância a ser percorrida por terra entre um local e outro dificulta o acesso e a integração da região. Neste sentido, colocamos em prática o exercício de projeto, de imaginar uma nova conformação do território, reinventando os significados das águas da Represa. O ato de projetar, acaba por refletir também os sonhos e a imaginação. Neste caso, não podemos deixar de citar o projeto do Hidroanel Metropolitano de São Paulo, que articula as políticas referentes aos recursos hídricos, mobilidade urbana e resíduos sólidos, além de se basear-se no conceito de usos múltiplos das águas. Nele é previsto o transporte hidroviário na utilização integrada dos recursos hídricos, e estes reestabelecidos como os principais eixos estruturadores da cidade.
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“Ao transformar os principais rios da cidade em hidrovias, e considerando também suas margens como espaço público principal da metrópole, o caráter público das águas de Sao Paulo é reforçado. Dessa forma, os rios urbanos se colocam como vias para transporte de cargas e passageiros, uso turístico e de lazer, além de contribuir para a regularização da macrodrenagem urbana. Criam-se, assim, áreas funcionais e lúdicas para a população.”10 10 Relatório Conceitual. Grupo Metrópole Fluvial, 2011.
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Segundo a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a gestão integrada destas cargas é de responsabilidade do poder público. estas devem ser coletadas, transportadas, triadas e enviadas à destinos ambientalmente adequados
Esquema de implantação do Hidroanel Metropolitano de São Paulo. Fonte: Grupo Metrópole fluvial. Disponível em: grupometropolefluvial.org Acesso em: 02/11/16
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Portanto, o projeto do Hidroanel apresenta-se como uma possibilidade de ativação do território fluvial urbano, integrando o transporte de cargas públicas (lixo urbano, lodo, sedimentos de dragagem)11e de passageiros, através da qualificação, concomitante, de suas margens com equipamentos públicos, infra-estrutura urbana e habitação social. A água passa a ser o elemento que integra o território. Sua ativação pode se dar através dos projetos de escala metropolitana, escala local, através dos barcos ou das estruturas flutuantes. A Represa Billings, inserida numa paisagem natural cujo olhar atinge o horizonte, também como espaço contemplativo, pode conformar os sonhos e suscitar a imaginação de cenários onde se efetiva o caráter público das águas, reunindo pessoas e integrando o território.
Fotomontagem com croquĂ, ilustrando o cenĂĄrio imaginado: estruturas flutuantes integrando o espaço. Fonte: da autora 2016.
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lado b
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os resĂduos como material
Labirinto. Eduardo Srur São Paulo, 2012 Instalação em parques públicos da cidade de 400 fardos de lixo reciclável com garrafas de refrigerante, copos e embalagens plásticas, papelão, latas de alumínio, cabos de aço e espelhos plásticos formando um labirinto. 20 x 20 x 2,30 m
Disponível em: eduardosrur.com.br Acesso em: 02/11/16
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1 os resíduos como material Nas últimas décadas, o termos desenvolvimento e sustentabilidade vêm sendo utilizados conjuntamente, expressando uma preocupação da relação entre os rumos do modelo de produção vigente e os impactos que este causa nas diversas esferas que tangem nossa sociedade. Hoje, estudos e pesquisas já demonstram que o desenvolvimento sustentável visa não somente a preservação do meio-ambiente, mas também das relações sociais, seus meios de produção e hábitos culturais. (SOUZA, 2007). Vamos adotar o conceito de sustentabilidade definido por Paulo Feranando de Almeida Souza em sua tese de doutorado: “Sustentabilidade é uma condição revelada a partir do equilíbrio dinâmico de um sistema, natural ou artificial, considerando-se os fluxos mássicos e energéticos dos seus elementos constitutivos, bem como aspectos de ordem não-material, capazes de garantir sua continuidade e adaptação evolutiva, de tal forma que seu funcionamento não prejudique o funcionamento e a capacidade evolutiva de outros sistemas.”1 Neste contexto da sustentabilidade, o trabalho tem como enfoque a problemática dos resíduos sólidos urbanos e busca refletir a possibilidade destes apresentarem-se enquanto materiais possíveis a serem reutilizados para a concepção projetual tanto no campo do design, como na arquitetura e no urbanismo. Esta parte intitulada como “Os resíduos como material” visa elucidar a complexidade desta problemática tanto no âmbito ambiental, quanto social e econômico.
SOUZA, Paulo Fernando Almeida. 2007 pp;23
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Tomamos como enfoque os impactos sociais que ocorrem no contexto brasileiro, entrando em contato com o universo das cooperativas de catadores de materiais seletivos e analizando como a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, Lei no 12.305/10 apresenta-se como instrumento gerador de perspectivas rumo ao desenvolvimento sustentável.
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Eres lo que tiras. Coletivo Basurama. Benicássim, Espanha - 2007. Instalação na praia de Benicassím de um muro de 10x5m, construído a partir de resíduos coletados durante um evento, visa mostrar que somos o que consumimos - uma reflexão crítica e estética sobre o consumismo. Foto: site coletivo Basurama
Disponível em: basurama.org / Acesso Em 02/11/16
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I noções sobre sustentabilidade Com base nos estudos de Stuart Walker, primeiramente, vamos considerar o recorte temporal que este autor chama de modernidade: o período de tempo onde as sociedades, caracterizadas pela dependência da produção industrial, aspiração ao crescimento econômico e associação da noção de progresso aos avanços da ciência e da tecnologia, deixam de lado formas de conhecimento tradicionais e, em seu lugar, adotaram uma filosofia materialista. Segundo este autor, o séc. XVI é sinalizado como o início desse período, sobretudo com o advento da Revolução Industrial, onde as mudanças tecnológicas e sociais implicaram no rápido desenvolvimento do conhecimento e na sua diferenciação em disciplinas distintas, especializando as sub-categorias dos campos das ciências, artes e humanidades. As ciências, neste aspecto, resultaram na aplicação das tecnologias, não somente para o desenvolvimento da própria indústria mas também para a modernização da vida doméstica. É a partir do século XX, principalmente após a Segunda Guerra Mundial que os produtos passam a ser produzidos em massa, fomentando, assim, um sistema que busca o crescimento econômico constante e a amplificação dos lucros. Esta maximização de lucros estaria associada à exploração direta aos trabalhadores, principalmente nos países em desenvolvimento, contribuindo para as profundas desigualdades sociais. Mais perverso ainda, são os artifícios da propaganda e da obsolência programada, que estimulam uma sociedade baseada no consumismo desenfreado e no consequente desperdício e descarte excessivo de materiais. Walker enfatiza que esse sistema é a principal causa dos problemas contemporâneos de produção e gestão de resíduos, impactando de forma prejudicial tanto no âmbito social quanto ambiental. Esse modo de produção insustentável nos obriga, então, a refletir novos modos de avançar rumo ao futuro, repensando a essência da cultura material, indo mais além do que as considerações sobre o ciclo de vida e eficiência energética dos produtos e materiais. “De fato, significará desenvolver um sistema em que o consumo e a destinação contínua de produtos e sua reposição sejam vistos como indesejáveis e a serem evitados em vez de incentivados.” 2
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WALKER, Stuart. 2014. pp.20 93
3
ELKINGTON, J. 1997.
O autor faz referência aos princípios e requisitos da sustentabilidade, tomando como referência as proposições de Elkington3, quem elaborou o conceito do tripé da sustentabilidade (Triple Bottom Line), incluindo a sociedade, o meio ambiente e os meios econômicos. Segundo esse conceito, para ser sustentável uma organização ou negócio deve ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável. Walker vai desenvolver essas considerações, sobre o significado e o progresso da sustentabilidade, denominando-o como Resultado Final Quádruplo da Sustentabilidade e Inovações Significativas - o resultado das considerações feitas a partir da incorporação do significado pessoal (busca de sabedoria, consciência, ética e valores). Neste sentido, o autor incorpora ao conceito do tripé, mais um sentido - o significado do indivíduo - numa tentativa de suprir o distanciamento que essas questões apresentam
Tripé da sustentabilidade. Fonte: Desenvolvido a partir de ELKINGTON, 1997.
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à pessoa individual. Desta forma, seria considerado um conteúdo pessoal à noção da sustentabilidade, propiciando uma consciência ética e um sentimento de pertencimento das pessoas no meio ao qual vivem.
“Isso talvez seja especialmente relevante hoje, quando a inundação de informações, publicidade e a realização de multitarefas via produtos digitais promovem uma cultura “sempre ligada” que é frequentemente caracterizada por comportamentos quase aditivos do uso de produtos e que, substancialmente, reduz ou mesmo elimina o tempo dado à autorreflexão e à contemplação.” 4
4
WALKER, Stuart. 2014. pp.20
O Resultado Final Quádruplo de Sustentabilidade e Inovações Significativas. Fonte: Desenvolvido a partir de WALKER, S. The Spirit of Design: Objects, Environment and Meaning. London, Earthscan-Routledge: 2011.
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As idéias apresentadas por Wilson Kindlein Júnior, em seu texto “O tempo e o design (in)sustentável”, nos permitem relacionar estas noções apresentadas por Walker, ao comentar sobre a supressão temporal, apontando que a sustentabilidade depende de tempo.
5
KINDLEIN JR., Wilson. 2014. pp.29
6
KINDLEIN JR., Wilson. 2014. pp.30
“Em um mundo veloz, fundamentado no consumo da maior quantidade (excesso) e com a máxima aceleração possíveis, não existe por hipótese, possibilidade alguma de sustentabilidade, pelo simples fato de não haver lugar para a essência: o tempo (duração, estabilidade, constância, permanência etc.)” 5 Para este autor, a perda de responsabilidade social com o ambiente (natureza) e com o próximo (natureza das relações humanas) vem desta falta de tempo e da supressão da noção de futuro. “Para que haja sustentabilidade é necessário fazer uso da noção de futuro. Como o futuro é espera, espera é tempo e não temos tido tempo, estamos perdendo a noção de futuro, e se não há futuro, (mundo instantâneo, veloz, rápido, breve, etc.), não há o que sustentar, não há por que preservar, pois só preservamos o que será por conceito, utilizado no futuro.” 6 Kindlein reitera que esta aparente falta de tempo faz com que percamos a profundidade e o poder da experimentação. As gerações futuras recebem tantos estímulos, podendo idealizar infinitas coisas, mas, acabam por nada realizar devido à falta de tempo. O autor aponta ainda, que é essencial resgatar a dedicação, os remansos, os espaços públicos e o pertencimento. Seriam então os espaços de troca, de convívio, de encontro que devem, em meio ao espaço urbano, serem valorizados e preservados. Sendo assim, estas ideias demonstram que nosso sistema de desenvolvimento, ao incitar e fomentar o consumo desenfreado, ocasiona a insustentabilidade nos seus mais variados aspectos. É fundamental pensarmos novos modos de produzir e de consumir de formas mais equilibradas.
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“Se não há equilíbrio, estamos instáveis. Tudo o que não é estável se desestabiliza; não se sustenta ou nomalmente cai ou aderna, tornando-se insustentável.” Wilson Kindlein Jr.
O navio MSC Chitra adernando e afundando após colisão com outra embarcação perto de Mumbai, na Índia, provocando um vazamento de óleo foto: Indranil Mukherjee AFP/ Getty Images
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II a reutilização como prevenção Se nossa sociedade está inserida neste sistema onde a demanda por recursos e energia é cada vez maior, os impactos gerados por seus produtos e resíduos se apresentarão como desafios ambientais, econômicos e sociais cada vez mais complexos. A noção de um progresso infinito, onde a produção, o consumo e o descarte são reproduzidos em proporções incontroláveis, não acompanha o fato de que os recursos naturais do planeta são limitados e estão se esgotando. Neste sentido, é importante contextualizarmos as políticas a respeito da gestão dos resíduos no cenário internacional para entendermos como elas prevêem a redução dos impactos gerados e de como deram base para as legislações nacionais. Segundo Villac, foi identificado que os fatores desencadeantes para que a problemática “resíduos” fosse inserida nas agendas internacionais, relacionaram-se a casos críticos de contaminação por descarte de resíduos no solo e que acabaram por desencadear uma repercussão negativa e pressão pública nos anos 70.
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VILLAC, Teresa. 2014. pp.149
“(...) um estudo efetuado apontou que, já no ano de 1975, havia regulamentação sobre resíduos na então Comunidade Econômica Européia (Diretiva 75/442/CEE). Por sua vez, as Diretivas nº78/139/CEE e nº91/689/CEE dispuseram sobre resíduos tóxicos e perigosos e a Diretiva nº94/62/CE versou sobre embalagens, tendo estabelecido como prioridade a prevenção de resíduos. Seguiram-se a Diretiva nº2006/12/CE, da Comunidade Européia e a hoje vigente Diretiva nº2008/98/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, que visa proteger o ambiente e a saúde humana através da prevenção dos impactos adversos da produção e gestão de resíduos.” 7
DIAS, Sylmara L. F. G. e BORTO-
Dias e Bortoleto pautam que a prevenção dos resíduos sólidos é tema central nas contribuições de experiências de programas implantados na União Européia. “A prevenção de resíduos sólidos tem por objetivo reduzir os impactos negativos de materiais à saúde humana e ao ambiente, antes de seu ingresso no fluxo de resíduos, e, pode ser empreendida em três linhas de ação: prevenção rigorosa, redução na fonte e reutilização do bem.” 8
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Sendo assim, podemos encarar a prevenção como fator fundamental tanto para a gestão dos materiais descartados, como também para a proteção dos recursos naturais. No entanto, ainda no contexto europeu, a prescrição de prevenção nos programas de resíduos sólidos ainda tem sua efetivação pouco concreta. As mesmas autoras apontam dois aspectos principais do conceito de prevenção: a prevenção da geração de resíduos e a prevenção de danos causados. A reutilização dos materiais seria então considerada uma das formas de prevenção, impedindo que o material em questão insira-se no ciclo dos resíduos. Já a reciclagem estaria conectada ao conceito da prevenção, porém com foco no tratamento do produto que já entrou na fase de resíduo e quando já não tem mais como ser reutilizado. Entretanto, seria somente através de mudanças de atitudes e de comportamentos individuais que de fato aconteceria uma transformação em direção à sustentabilidade (DIAS e BORTOLETO). A questão do descarte e do pós-uso é um grande problema a ser enfrentado, sendo necessário criar estratégias para criar-se novos significados a partir dos materiais e para a reciclagem, promovendo novos estilos de vida e mudanças de comportamento. “Nesse sentido, consideram-se fundamentalmente as proposições baseadas na metamorfose das embalagens por meio das intervenções dos usuários, transformando-as, subvertendo suas finalidades iniciais e alterando o curso do seu ciclo de vida, passando desta forma de uma lógica do descarte e da obsolescência (produção - consumo - descarte) para outra, pautada pela lógica da reincorporação, reutilização, reciclagem (produção - consumo - reutilização).” 9 Assim, pensando em uma nova perspectiva, devemos encarar, no campo das artes, design e da arquitetura, os objetos descartados como fonte de matéria-prima para a concepção de diferentes tipos de projetos, desde uma escultura feita com latas de metal, uma roupa feita com tampinhas de alumínio, a uma casa feita com garrafas PET.
9 WANDERLEY, Ingrid, GONÇALVES-DIAS, Sylmara e LOSCHIAVO, Maria Cecília. 2014. pp.116
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TEODÓSIO, A., GONÇALVEZ-DIAS. S. e SANTOS. 2015 pp.235
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WANDERLEY, Ingrid, GONÇALVES-DIAS, Sylmara e LOSCHIAVO, Maria Cecília. 2014. pp.122.
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“A valoração de resíduos sólidos pode ser definido como a capacidade de uma cadeia produtiva utilizar os resíduos como matéria-prima. Em vez de enviar itens aparentemente inúteis ou encaminhar co-produtos para um aterro sanitário, o objetivo passa a ser encontrar utilidade para esses resíduos. As atividades de reuso e reciclagem auxiliam as empresas a economizar recursos e poupam o meio ambiente por meio da destinação adequada dos RSU, com a possibilidade de novos usos. Assim, a minimização do impacto do produto ou do material irá ajudar a assegurar a qualidade do ambiente e, ao mesmo tempo, da saúde humana.” 10 Desta forma, num contexto de crise econômica e ambiental, é fundamental desvelar as potencialidades de cada tipo de material e imaginar soluções possíveis, tendo em vista o montante de materiais destinados ao lixo.
“A reutilização de materiais como pneus velhos, garrafas PET, embalagens de lata ou de vidro, que revela uma preocupação ecológica, não pode ser considerada um ato espontâneo. Ao contrário, trata-se de uma intenção com propósito bem definido e elaboração projetual direcionada para atingir o objetivo de reaproveitamento do material.” 11 É importante ressaltar que a problemática do descarte e da gestão de resíduos implica não somente em graves impactos ambientais como também sociais, sobretudo no contexto brasileiro. Sendo assim, tanto nossos modos de consumo como o ciclo de vida dos materiais devem ser repensados, levando em consideração a emergência de transformar a visão que temos sobre os materiais e como estes podem ser resignificados.
Barco confeccionado a partir da reutilização de materiais encontrados na praia de Turé, Ilha do Marajó, feito por jovem pesacador. 2010. foto: Ana Beatriz Nestlehner
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Carroรงa de um catador de materiais na pista de uma avenida da cidade do Rio de Janeiro. Foto: da autora, 2009.
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III o contexto brasileiro Nas grandes cidades, o descarte de materiais possibilita a sobrevivência de populações que estão às margens do sistema e que, através da coleta e da reciclagem, encontram alternativa de renda para sobrevivência. Estas condições de vida se configuram como produto do modelo excludente do modo de desenvolvimento capitalista. Loschiavo, aponta que, no Brasil, a prática da coleta de materiais descartados como economia informal, teve suas origens na década de 70, quando um grupo de moradores de rua intitularam-na como a catação. Ou seja, esta prática nos leva a reconhecer que os materiais continuam a ter valor, mesmo após o descarte.
“Os objetos degradados jazem nas ruas das cidades, que são transformadas em um verdadeiro receptáculo de produtos descartados. A incessante busca de estratégias de sobrevivência material permitiu aos moradores de rua e catadores exumar esses produtos mortos, atribuindo-lhes outros significados, estabelecendo novas relações, com base nas quais construiu uma nova materialidade, o que permite que nos perguntemos a respeito da reutilização dos produtos e materiais, sua consistência e eficácias.” 12 Desde esse período, surge um forte movimento social que desempenhou um importante papel para a aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, criada em 2010 e que estabelece diretrizes federais de ações de gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. A PNRS, Lei no 12.305/10, integra a Política Nacional do Meio Ambiente e articula-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada pela Lei nº 11.445, de 2007, e com a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005.
12 LOSCHIAVO, Maria Cecília. 2015. pp.52
Dos seus princípios e objetivos podemos destacar que, além de abordar a prevenção, o desenvolvimento sustentável, a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a proteção da saúde pública, da qualidade ambiental e a gestão integrada dos resíduos sólidos, esta é a primeira vez que é apontado em âmbito legislativo a “integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações 103
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Item XII do Art. 7º- Lei no
12.305/10 14
Item VIII do Art. 6º - Lei no
12.305/10
15 GOUVÊA, Carlos P. e MONGUILOD, Ana C. 2015. pp.204
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Item XII, Art 3º, II, da Lei
nº12.305/10
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que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos”13, e “o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania”14 Gouvêa, e Monguilod apontam que a PNRS “(...)reflete o reconhecimento por parte do poder do Poder Público do importante papel das cooperativas e de outras formas de associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis como agentes de gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos.” 15 No entanto reiteram que direitos específicos ou garantias não são previstos para catadores ou cooperativas, e que o plano apenas estabelece diretrizes ainda um tanto genéricas. Mesmo o Decreto nº7.404 de 23 de dezembro de 2010 - que estabelece as normas para execução da PNRS - mencionando, no seu artigo 40, a priorização da participação de cooperativas e associações de catadores nos sistemas de coleta seletiva e da logística reversa, determina que a União deve criar os programas de apoio específicos. Outros conceitos importantes que aparecem na PNRS e tangem a atividade dos catadores e das cooperativas, são definidos conforme a Lei: Logística Reversa: Conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;16 Responsabilidade Compartilhada: Conjunto de atribuições dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrente do ciclo de vida dos produtos. A Lei de Resíduos Sólidos prevê que o Poder Público poderá instituir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, dentre outros objetivos prioritários, às iniciati-
vas de implantação de infraestrutura física e aquisição de equipamentos para as cooperativas ou outras formas de associações de catadores de materiais reutilizáveis ou recicláveis. 17 “Apesar dos avanços nos últimos anos, o Brasil ainda enfrenta importante desafio na gestão de resíduos sólidos: a inclusão social e produtiva dos catadores. Segundo a PNRS, os municípios devem fechar e recuperar lixões a céu aberto e melhorar a sua coleta seletiva, por meio de medidas para a emancipação socioeconômica dos catadores. Embora a reciclagem seja um negócio economicamente lucrativo, o processo de comercialização tem se mantido à margem da legalidade, com grandes lacunas em relação aos direitos desses trabalhadores e por meio de compra informal de mercadorias por intermediários e fábricas.” 18 As mesmas autoras afirmam que faz-se necessário o avanço nas pesquisas que pautam sobre a inserção dos catadores na dinâmica de governança da gestão dos resíduos sólidos urbanos. É importante ressaltar que há um longo caminho que tange desde a eliminação dos”lixões”, até atingir uma consciência coletiva a cerca do ciclo de vida dos materiais. Da mesma forma, os fabricantes devem cumprir com as exigências previstas, pensando em utilizar materiais recicláveis ou reutilizáveis em suas embalagens e a informação adequada ao consumidor, divulgando as formas de evitar que seus produtos tenham uma disposição final inadequada. A PNRS em seu artigo 9º estabelece uma ordem de hierarquia dos resíduos sólidos interessante a ser observada. Primeiramente pautam a prevenção com a não-geração, a redução e a reutilização. Num segundo momento apontam a reciclagem, o tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
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Art. 42, III, da Lei nº 12.305/10
18 TEODÓSIO, A., GONÇALVEZ-DIAS. S. e LOSCHIAVO, M. C. 2015. pp.261
Apesar da generalidade com que a PNRS toca seus conceitos e objetivos, hoje a lei é para o país um referencial regulatório extremamente importante para a gestão dos resíduos, tratando tantos dos impactos ambientais, quanto sociais, tão presentes no caso brasileiro.
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Foto: da autora, 2016.
2 PESQUISA PROJETUAL: ESTRUTURAS FLUTUANTES E GARRAFAS PET Por se tratar de um trabalho que tem como objetivo desenvolver um projeto prático, tomaremos, a seguir, o enfoque sobre da problemática das garrafas PET, elecando-as como unidade projetual. Esta escolha deve-se ao fato da abundância com que este material se apresenta em nossa sociedade e dos impactos gravíssimos que acaba por ocasionar devido à sua disposição final incorreta após consumo. As múltiplas escalas destes impactos, expressam-se tanto em níveis locais como globais, pois os plásticos em geral tem a particularidade de flutuar nas águas, atinigndo mares e rios, causando agravamento da poluição fluvial e marítima, além do comprometimento da biodiversidade dos ecossistemas aquáticos e terrestres. Dentro da temática dos materiais, o plástico revelou-se como um fenômeno da era industrial pela sua durabilidade, resistência e leveza. Porém, devido ao fato de não ser biodegradável, recebeu muitas críticas quanto aos impactos que gera, demorando mais de 100 anos para se decompor no meio-ambiente. Ao longo dos anos foram sendo criadas diferentes famílias do material, e consideramos o PET (polietileno tereftalato) como objeto de estudo, pois é um dos tipos de plástico mais conhecidos e largamente utilizado pela indústria de refrigerantes, levando em consideração que sua produção-consumo-descarte apresenta um número expressivo no montante de resíduos gerados no Brasil. Segundo senso da ABIPET19, desde 2000 até 2011 o consumo de garrafas PET aumenta em média 7,5% ao ano. Em 2011 foram consumidos 572 mil T de garrafas PET, sendo que deste total, foram reciclados 294 mil T, representando 51% do total. De toda forma, é importante ressaltar que ao mesmo tempo em que o consumo aumenta, a reciclagem também apresenta crescimento em seus índices. Foi realizada uma projeção que demonstra o impacto causado pelos eventos esportivos realizados nos últimos anos no país, onde o consumo aumentaria expressivamente, mais de 45% entre 2011 e 2016.
19 Associação brasileira da indústria PET
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O PET é um dos materiais que podemos encontrar em abundância nos centros de triagem de materiais recicláveis, e além disso, é também relevante ao trabalho por apresentar uma capacidade particular: a de flutuar. A garrafa PET é um invólucro que além de líquidos, pode conter o ar em seu interior. Se tampada, muitas garrafas que são despejadas indevidamente em córregos e rios, viajam nas águas até atingirem os oceanos, causando inúmeros impactos ambientais para os ecossistemas marítmos. A garrafa PET torna-se, por si só, uma estrutura flutuante capaz de habitar os espaços das águas. Desta forma, vamos tomar como recorte específico os espaços das águas, tendo como objeto de estudo as chamadas estruturas flutuantes. Foram pesquisados diversos tipos, desde cidades que utilizam-se de materiais naturais, edificações como escolas, casas, ilhas, jardins, pontes, barcos, veleiros, caiaques, pedalinhos e pranchas. Optou-se por incluir projetos que não necessariamente utilizam as garrafas plásticas mas que foram confeccionados manualmente ou que tenham uma relevância significativa e referencial para o trabalho.
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referências projetuais PETS. Eduardo Srur. São Paulo, 2009.
Disponível em: www.eduardosrur.com.br / Acesso em 02/11/16
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Uros - Lago Titicaca Peru
Titicaca é um lago que ocupa uma área de mais de 8.000 km2 entre os países da Bolívia e Peru. Na superfície de suas águas habita uma população de aproximadamente 300 famílias que construíram cerca de 40 ilhas artificiais, chamadas de Uros, feitas à base de totora (Scirpus californicus), uma planta herbácea aquática, cujo talo mede de um a três metros. É necessário o constante trabalho de manutenção para gatantir a flutuabilidade destas ilhas.
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Sua origem remete os tempos pré-coloniais, quando uma população deixou a selva e fixou-se às margens do Titicaca. Para proteger-se de ataques de outros povos invasores, construiram seus esconderijos flutuantes, criando um estilo de vida perculiar. Esta população sobrevive da pesca, da caça de pássaros, troca de mercadorias e nos dias atuais, o turismo também passou a ser uma fonte de renda. As ilhas têm 1 metro de espessura e são fixadas por estacas fincadas no fundo do lago, funcionando como âncoras. A totora serve não somente para construir o solo das ilhas, mas também como material de construção de casas, barcos, mobiliários e alimentação. O complexo de ilhas é composto pelas habitações, escolas, bancas para vendas de artesantos e trocas.
1. Barco feitos de totora. 2. Manuseio de totora. 3. Ilha fllutuante com habitações. Fonte: Blog Linda and Craigd big adventures.
Disponível em: lindaandcraigsbigadventure.wordpress.com/2013/03/28. Acesso em 02/11/16
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Marsh Arabs Iraque
Os árabes dos pântanos, também conhecidos como Ma’dãn, são os habitantes dos pântanos formados pelos rios Tigre e Eufrates na região do Iraque, próximo à fronteira iraniana. São membros de diversas tribos que instalaram-se lá e desenvolveram uma cultura única baseada nos recursos naturais locais. Uma espécie de junco serve como a matéria-prima para a construção de ilhas e casa, chamadas de ‘mudhif’, feitas sem pregos, madeira ou vidro. Esse tipo de construção é secular, e está sob ameaça de desaparecimento devido a conflitos políticos locais. Os pântanos foram considerados como um refúgio para aqueles que eram perseguidos pelo governo, e durante os anos de 1991 houve uma política de reversão dos fluxos dos rios para punir esta população, castigada à seca.
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Foi considerada uma cultura perdida até 2003, após invasão dos EUA no país e quando algumas comunidades começaram a romper diques construídos pelo governo iraquiano. A chuva deste mesmo ano possibilitou uma restauração dos pântanos e a resistência daquele povo no local. 1. Vista dos pântanos, das ilhas e construções flutuantes. 2 e 3. Restauração de um ‘Madhif’. O junco é amarrado formando membros estruturais e trançado para permitir a entrada de luz no ambiente. Fonte: Blog Messy Nessy Chic Disponível em: messynessychic.com/2014/11/12. Acesso em 02/11/16
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Escola Flutuante - Mokoko NLÉ Architects - 2014 Lagos / Nigéria
A escola flutuante concebida pelo escritório NLÉ, é um protótipo de uma estrutura flutuante, construído para a comunidade de Makoko, localizada no principal lago nigeriano na cidade de Lagos. Sua população é de mais de 100 mil pessoas que vivem em casas feitas em palafitas. Como projeto piloto, foi tido como inovador devido à aproximação das necessidades físicas e sociais daquela comunidade e também com preocupações sobre o desenvolvimento sustentável. O principal objetivo do projeto foi de conceber um sistema ecológico e acessível que possa ser distinado a vários usos. Este modelo teve como uso destinado o funcionamento de uma escola, porém sua planta permite a utilização da mesma estrutura para diferentes usos.
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A estrutura foi construída junto à populaçao, tem formato piramidal e é dividida em três andares, podendo suportar até 100 pessoas. Os materiais utilizados para a construção são bambu e madeira da região, e barris plásticos, principais elementos flutuante.
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1 e 2. Vista aérea da estrutura, seu acesso através de canoas, e sua incerção no contexto urbano aquático da comunidade de Makoko. Fonte: site NLÉ Architects. Disponível em: www.nleworks.com. Acesso em 02/11/16
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Ilha flutuante Richart Sowa - 2008 Isla Mujeres - México
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Richard Sowa é um artista inglês que decidiu criar sua própria ilha artificial a partir da reutilização de garrafas PET. Seu primeiro experimento foi no México, próximo a Cancun, a Ilha Espiral, feita com 250 mil garrafas e que acabou sendo destruída pelo furacão Emily. Tal episódio não desanimou o homem que em 2008 construiu a Ilha Joyxee, de 24 metros de diâmetro e onde vive atualmente. Desta vez, para reforçar a estrutura da ilha, ele fez crescer plantações dentro das garrafas para assim unir todos os módulos de sacos de garrafas que compõe a ilha. A casa possui 2 quartos, banheiro, cozinha e conta com um sistema de captação de água da chuva e fornecimento de energia solar. A flutuação ocorre com um sistemas de redes, funcionando como grandes sacos que contém as garrafas plásticas. Como ele mesmo diz, a construção está sempre em andamento pois ele continua adicionando sacos com garrafas para aumentar o tamanho da ilha, além de fazer a manutenção necessária para o seu bom funcionamento.
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1. Vista geral da ilha com a balsa construída também com sacos de garrafas. 2. Esquema e desenho do funcionamento da estrutura dos sacos de garrafas plásticas e a interação das raízes das árvores. Fonte: Site Flickr Richart Sowa
Disponível em: flickr.com/photos/rishisowa/ Acesso em: 02/11/2016
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Serenissima Swoon / 2009 Mar Adriático
As cidades flutuantes de Serenissima foram desenhadas pela artista visual Swoon, e que cumpunham uma frota de três embarcações artesanais que navegou no Mar Adriático da região do Litoral da Eslovénia para Veneza, Itália, chegando para uma apresentação voluntária na Bienal, em maio de 2009.
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Os barcos tiveram seu desenho inspirado nas paisagens de grandes cidades e construídos a partir da recuperação de materiais, incluíndo a modificação de motores de automóveis, adicionando hélices de cauda longa. A tripulação era composta por 30 artistas que colaboraram com o projeto desde sua concepção nos Estados Unidos. Chegando em Veneza, promoveram apresentações artísticas e performances com músicas, contação de histórias e marionetes.
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1. Foto das embarcações feitas a partir de materiais recuperados revelando a improvisação estética. 2. Foto de uma das embarcações no cenário de Veneza. Fonte: Site Swimming Cities.
Disponível em: swimmingcities.org. / Acesso em: 02/11/16
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Casa flutuante Luiz Fernando Bispo / 2007 Rio de Janeiro - Brasil
Em 2007 Luiz Fernando Bispo, um catador de lixo, construiu uma ilha flutuante feita a partir de materiais descartados, no canal do Cunha, proximo a ilha do Fundão no Rio de Janeiro.
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Nesta plataforma flutuante, além de uma casa, havia também espaço para garagem, jardim e até uma piscina. Ele ficou no local tempo suficiente para construir um segundo andar, porém, logo a construção teve de ser retirada, por ordem das autoridades, por ferir a legislação ambiental.
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1. Vista da casa com o segundo andar e sua relação com o canal. 2. Montagem de uma das paredes internas com garrfas de vidro. 3. Primeira versão da casa térrea. Foto: Pablo Jacob / Extra 115
Festival Waterwold Bellastock / 2014 França
1. Vista aérea da edição chinesa do festival Waterworld. 2. Vista da composição das estruturas flutuantes realizadas durante a edição francesa do festival. Fonte: www.bellastock.com / Acesso em 20/11/2016
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Bellastock é um coletivo francês, criado em 2006 por estudantes de arquitetura que realizam experimentações através da reutilização de materiais. A cada ano, escolhem uma temática e realizam um festival para cerca de 1000 participantes. Ao longo de 10 anos, o grupo foi ampliando suas ações não somente com as escolas de arquitetura mas também estabelecendo parcerias com empresas e instituições públicas. Em 2014, organizaram na França e na China o festival Waterworld, construindo uma cidade efêmera que habitasse as águas durante o dia e o solo terrestre durante a noite.
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3. Exemplo de estrutura feita durante o festival: embarcação-peda- linho. 4 e 6. Estruturas confeccionadas: redário e assentos. 5. Detalhe das amarrações entre tiras de bambu e galões plásticos (materiais utilizados durante a edição chinesa do festival).
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Fonte: www.bellastock.com / Acesso em 20/11/2016
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Passarela flutuante Christo + Jeanne-Claude Italia/ 2016 Em Junho de 2016, foi inaugurado no lago Iseo, situado na Itália, uma passarela flutuante aberta ao público e gratuíta. A estrutura, idealizada por Christo e Jeanne-Claude, remete à experiência do caminhar sobre as águas.
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São 100 mil metros quadrados de um tecido amarelo que se apoia sobre uma estrutura modular flutuante, composta por 200 mil cubos de polietileno de alta densidade. Os piers possuiam 16 metros de largura e aproximadamente 35cm de altura. 2 >
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1 e 2. Visitantes caminhando sobre a passarela. 6. Foto aérea mostrando a transposição criada pela instalação. Foto: André Grossmann e Wolfgang Volz. Disponível em: thefloatingpiers.com. Acesso em: 02/11/26
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A instalação tinha como objetivo representar também uma continuidade do passeio público das ruas da cidade de Sulzano, extendendo-se por 2 km em terra com o tecido amarelo, e flutuando 3km nas águas do lago.
Ponte flutuante Coletivo EcoStuff Romênia - 2014 Em 2014 a organização Ecostuff encarou o desafio de construir a estrutura que utilisa o maior número de garrafas PET: exatamente 104.502 garrafas foram coletadas, agrupadas e transformadas em uma ponte que liga os dois lados do rio Bega, na cidade de Timisoara na Romênia. Além de ter como objetivo entrar para o Livro dos recordes, o Guinness, tal intervenção visava também promover a discussão a respeito do destino final das garrafas plásticas descartadas.
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A ponte foi projetada através de uma estrutura circular modular onde as garrafas foram agrupadas em uma estrutura similar a uma gaiola, e coberta com uma tela metálica. Foram mais de 1000 voluntários que participaram e a ponte teve mais de 50.000 visitantes em 17 dias.
1. Construção da “gaiola”, vista de um dos módulos que compõe a instalação. 2. Agrupamento das garrafas plásticas. 3. Fotos aéreas da finalização da construção da estrutura. foram. Foi colocado um piso de madeira por cima das garrafas PET para suportar o número de visitantes. Fonte: Site Ecostuff. Disponível em: ecostuff.
ro/scoala-zero-waste/ Acesso em: 02/11/16
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Floresta flutuante Coletivo Mothership / 2016 Rotterdam - Holanda Esta floresta flutuante é uma instalação criada na bacial de Rijnhaven, em Rotterdã na Holanda, criada por Joroen Everaert (produtor artístico membro do coletivo Mothership & Brotherhood), Anne van der Zwaag (historiadora de arte e empreendedora cultural) e Jurgen Bey (designer holandês). 1 >
Tal projeto foi inspirado na obra “Em busca de Habito” do artista colombiano Jorge Bakker. Esta obra consistia em um aquário cheio de água com pequenas bóias e modelos de árvores flutuantes, que suscita diversas questões como a relação entre os habitantes da cidade e a natureza que os circunda. A floresta flutuante foi concebida com a reutilização de bóias do mar do Norte, que receberam as mudas de árvores.
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1.Em busca de habito, obra de Jorge Bakker. 2. Instalação da floresta flutuante na bacia de Rijnhaven fonte: Site Enter The Mothership Disponível
em:enterthemothership.com/en/newsletter/bobbing-forest-for-rotterdam/ Acesso em: 02/11/16
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Passarela flutuante Jarrier Dantas / 2012 Paraíba - Brasil No ano de 2012, a cidade de Campina Grande na Paraíba, recebeu, através de uma intervenção do artista plástico Jarrier Dantas uma passarela flutuante, que atravessava o açude velho, feita com 8000 garrafas PET. Inspirado numa história messiânica, onde o conhecido Roldão Mangueira tentou andar sobre as águas do açude velho, Jarrier inscreve o projeto num edital de cultura envolvendo tanto atividades de educação nas escolas, como a intervenção da ponte.
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Em seu trabalho, o artista já realiza pesquisa com materiais recicláveis, por isso, para esta intervenção, decidiu utilizar garrafas PET devido aos números que encontrou sobre o consumo x descarte das garrafas plásticas. Desta forma, além de fomentar a consciência ecológica, a intervenção artística no espaço urbano, a proposição de transposição das águas do açude velho, Jarrier também desenvolve o trabalho de educação tanto em escolas como com catadores de materiais da cidade, através da coleta das garrafas. A instalação durou 1 semana e contou com a supervisão do corpo de bombeiros para garantir a segurança da população.
1. Inserção da passarela no açude velho. Foto: Jarrier Dantas. 121
A PONTE DE PET ENTREVISTA JARRIER DANTAS
Entrevista realizada em 12 de Maio de 2016 com Jarrier Dantas. A entrevista teve como objetivo conhecer melhor a obra do artista realizada em 2012, uma passarela de 150m feita com garrafas PET.
Jarrier Dantas Para falar da ponte de garrafas PET vou contar uma história de um cara que viveu aqui na Paraíba, até muito conhecida a história, é o Roldão da Mangueira, de uma religião messiânica, aconteceu aqui na Paraíba. Uma história que diz que o homem andaria em suas águas, nas águas urbanas Eu quando fiquei sabendo dessa história achei interessante e imaginei uma instalação. Então uma intervenção urbana, e claro como meu trabalho consiste na reutilização de materiais, eu desenvolvi alguns estudos para pensar a ponte, concorrendo a um edital da secretaria da cultura. Não seria interessante, da estrutura em si, ter muita resistência pois a instalação só estaria disponível à população no período de uma semana, como uma instalação artística mesmo. Essa passarela tinha 8000 garrafas PET, todas de 2L. A estrutura tinha seu esqueleto de madeira e uma tela de aço por cima das garrafas, possibilitando que as pessoas andassem por cima das garrafas. E apesar disso, muita gente duvidava da flutuação. Gabriela Você comentou que eram 8000 garrafas certo? E como era a conexão entre elas? Jarrier Basicamente a estrutura era como uma 122
grande gaiola, então as garrafas ficavam soltas nela. A gente organizava em bloquinhos de 4 com fita adesiva comum, enrolando pelo meio delas, desse tipo durex grosso. Porque eu percebi que organizando elas em blocos elas ficavam mais organizadas dentro da gaiola. Mas o que prendia elas em baixo era realmente a força da água. A gente tinha a tela de aço com quatro laterais de madeira, como uma gaiola com a tela em cima, e por baixo tinha só mais uma tela de plástico, mas percebemos que essa tela de plástico não fazia muita diferença não. Usei todas as garrafas de 2L pois elas ocupariam um espaço mais encaixados dentro da estrutura. A distância que atravessava o açude tinha exatamente 147m, o que deu exatamente 49 módulos de 3m. Então eram vários módulos de 3x1m de largura, em toda a passarela. E nesses três metros eu organizava uma sequência de pets, que agora eu não me lembro o número exato, pois para evitar justamente o efeito gangorra da estrutura, você imagina, uma estrutura de 147m x 1m de largura ia ter um efeito gangorra no meio, então a cada três módulos eu botei uma barra de 6m, onde na ponta dessas barras tinham 6 garrafas PET, isso mantinha a estrutura estabilizada e o pessoal podia caminhar sem o balanço de um lado para o outro. Inclusive na montagem, para explicar o que eu queria, pois obviamente eu não estava trabalhando sozinho, eu batizei esses bastões de estabilizadores. Gabriela E como foi feita a coleta das garrafas? Jarrier Então, o projeto tinha um cunho histórico
devido à história do Roldão da Mangueira, artístico e também ecológico naturalmente. E dentro das pesquisas do lado ecológico, achei uns números sobre garrafas PET e seu consumo no Brasil. Há números estatísticos, aqui de Campina Grande, uma cidade que tem aproximadamente 400 mil habitantes, que corresponde ao número do consumo de dois dias de garrafas PET destinada ao lixo. O trabalho também envolvia escolas, então visitamos algumas que ajudaram bastante na coleta. Porém não conseguimos atingir o número de garrafas necessárias no tempo previsto. Eu tinha um plano B, que era contar com o trabalho dos catadores. Então, entrei em contato com os catadores da região e fiz uma espécie de aluguel das garrafas, que serviram suprir o número de pets que faltavam para a passarela. E, como era doada por catadores, eu peguei 3 mil garrafas com eles, como na espécie de um empréstimo, apesar de que eu estava pagando, e devolvi não só as 3 mil, mas todas as 8 mil garrafas. Pois o projeto tinha um cunho ecológico e se não fosse isso não teria dado certo, porque nós começamos muito tarde, começamos com 2 meses antes do projeto. Achava que com esse número era fácil mas não foi. Olha, uma coisa na estrutura que é importante que eu diga: a passarela tinha uma coisa que eu descobri durante o projeto, pesquisando e lendo muito. Por mais que o açude Velho seja muito pequeno, escolhi a menor distância, e pensava justamente que era só colocar lá os módulos e pronto. Mas não, por mais que seja pequeno a marola vinha com o vento, o que não nos permitiria instalar. Antes da instalação, pensamos nisso e decidimos colocar um cabo de aço. En-
tão é muito importante colocar um cabo de aço nessas estruturas assim. Então a primeira coisa foi colocar uma escada que descia até o nível da água, e a segunda foi passar o cabo de aço para poder amarrar a estrutura. Mas a marola que tinha era tão forte que se eu tivesse usado outro material como um arame mais grosso, não suportaria. Então qualquer idéia de colocar uma ponte dessas na água, por mais fraca que seja, tem que usar um cabo de aço pra segurar a estrutura, se não ela não aguenta. Gabriela E como esse cabo passava? Jarrier Esse cabo passava em dois pontos do açude, de um ponto ao outro. Então ele ficava flutuante, e a cada cinco metros eu amarrei uma garrafa-pet e sai levando o cabo de aço. Claro, nas extremidades ele tava fora da água, já no meio eram as garrafas PET que estavam mantendo ele na superfície da água. Mas isso foi fundamental, porque a medida que eu ia colocando os módulos, eu amarrava cada um, aí sim com arame, no cabo de aço. Então cada módulo ficava preso ao cabo de aço. Cada módulo ficava a uns três metros do cabo de aço, e todos eles estavam amarrados. Tanto é que eu estava achando que eu poderia amarrar a cada três módulos e aconteceu de eu estar amarrando a estrutura, a força da água rompeu a estrutura. Não chegou a quebrar, mas tivemos que voltar e buscar, puxar a estrutura no cabo todinha. É preciso que tenha uma estrutura segurando porque a marola é forte.
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Swale Mary Matingly / 2016 Nova Iorque, EUA 1 >
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1. Canteiros de plantação no interior da embarcação Swale. 2. Relação da embarcação Swale com o rio Bronx. 3. Presença de estruturas metálicas de uma antiga fábrica de cimento preservadas no atual Concrete Plant Park, no Bronx, Nova Iorque. Foto: da autora. 2016
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Swale é um projeto de uma floresta capaz de produzir alimentos, implantada em uma embarcação flutuante. Desenvolvido por um coletivo de artistas e designer de Nova Iorque, conta com a participação de Mary Mattingly, uma artista que cria ecossistemas esculturais em espaços urbanos. Outros colaboradores deste projeto são Jono Neiger, paisagista, Casey Tang, designer e Rik van Hemmen, engenheiro marítmo e consultor, entre outros artistas. O grupo prevê a construção de vários canteiros, formando um grande jardim de tipos de árvores e plantas comestíveis. O sistema será irrigado com a própria água do rio, que será utilizada após a passagem por um sistema de filtração. Os objetivos do projeto são tanto de reinventar o modo de se produzir alimentos, não limitando-se a produção industrial e também a reforçar o direito humano de ter acesso à água de qualidade. A floresta esteve aberta à visitação do público e realizou um trajeto ao redor da ilha de Manhattan.
WetLand Mary Matingly / 2014 Nova Iorque, EUA Outro projeto de Mary Mattingly, WetLand, é um barco residencial que busca demonstrar sistemas ecológicos de baixo-impacto ambiental, desde a captação de energia solar, a coleta e purificação de água da chuva, produção de alimentos orgânicos até a reutilização de materiais. A idéia é que o espaço do barco funcionasse como um ecossistema independente.
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Foram instaladas plataformas flutuantes feitas com bombonas plásticas e estruturadas com madeira na lateral do barco, que também recebeu uma nova “casca” toda de madeira reutilizada onde foi possível a instalação dos painéis solares.
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O objetivo do projeto é também chamar atenção para os impactos que cada ação individual pode causar no meio-ambiente e trazer a discussão a respeito dos espaços das águas da cidade. O espaço fez parte de programas de museus de Nova Iorque e ficou aberto para visitação do público.
1. WetLand - vista externa 2 e 3. Vista das plataformas flutuantes instaladas e em construção,feitas com bombonas plásticas. Fonte: Site Wet-Land. Disponível em: wetland.org Acesso em: 02/11/2016
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1 e 5. Construção da estrutura da ilha com a tela de mangueira de bombeiros e borda flutuante de garrafas PETs envolvidas por uma tela plástica. 2 e 3. Oficina de construção das ilhas flutuantes em escala reduzida no Sesc Santo Amaro. 4. Inserção da ilha flutuante no lago em Mogi das Cruzes. Fonte: Site Floating Island Disponível em: floatingisland.com.br Acesso em: 02/11/2016
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Jardim filtrante Leonardo Tannous / 2012 São Paulo, Brasil Em 2015, ocorreu uma oficina no SESC Santo Amaro, ministrada pelo engenheiro ambiental Leonardo Tannous, para a disseminação e construção, em escala reduzida, dos sistemas “Ilhas flutuantes”. Esse sistema é construído a partir de materiais descartados e engloba tecnologias da engenharia sa-nitária e princípios da permacultura, no que se refere ao tratamento ecológico dos efluentes e melhoria da qualidade dos corpos hídricos. A ilha consiste em uma plataforma onde são plantadas diversas espécies de plantas cujas raízes são capazes de filtrar elementos poluentes das águas, tanto os efluentes domésticos como até metais pesados, dependendo da espécie.
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Um protótipo desta ilha foi implantada por Leonardo em uma lagoa de um sítio de Mogi das Cruzes onde pode verificar o bom funcionamento e a eficiência da estrutura. A variedade de plantas acaba por atraír animais, sejam insetos, anfíbios e peixes, aumentando assim a diversidade ecológica do ecossistema onde está inserida. Sendo assim, tecnologia das ilhas flutuantes com jardins filtrantes representa um sistema espontâneo natural, porém potencializado.
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ILHA FLUTUANTE / JARDIM FILTRANTE ENTREVISTA JLEONARDO TANNOUS
Entrevista realizada em 20 de Julho de 2016 com Leonardo Tannous, engenheiro ambiental. A entrevista teve como objetivo compreender o funcionamento e execução das ilhas flutuantes, bem como o processo das oficinas no SESC Santo Amaro.
Leonardo Tannous Eu trabalho com projetos de manejo de água e isso se desdobra em várias frentes, o cuidado da água da chuva, do esgoto, dos rios, de açudes, como que esses efluentes ou essas águas podem se integrar dentro do sistema, seja em uma casa ou num empreendimento comercial, até numa escala maior de planejamento de bairro e de cidades. Como fazer uma drenagem sustentável e eficiente, drenando melhor a água, criando fertilidade, humidade, biodiversidade, é um princípio de transformar um problema em solução. Então, o trabalho é baseado em sistemas de engenharia sanitária para criar saneamento mas com os princípios da permacultura, de integrar os sistemas, de fechar os ciclos abundantes e multi-diversos. Então essa é a estratégia de projeto, a premissa. Agora o que usamos para fazer isso na maioria das vezes são sistemas baseados na engenharia sanitária comum, e fazemos algumas adaptações e adequações para tornálos multifuncionais e abundantes. A ilha flutuante é um setor que utiliza uma técnica específica de tratamento de efluentes baseado na permacultura. É mais uma tecnologia para despoluir rios e lagos ou só para melhoria estética e físicas da água. Às vezes para poder potencializar criações de peixes em tanques ou pesqueiros, pode ter uma série de funções. Então uma delas é também o refúgio de peixes que se abrigam debaixo das ilhas.
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O formato que eu encontrei para viabilizar isso aqui no Brasil, foi o de pegar materiais descartados, que também faz parte dos princípios da permacultura, a reciclagem local dos recursos, então partir do princípio de dar novos usos aos materiais já existentes. E foi aí pensando como eu poderia criar uma estrutura flutuante, durável, resistente, leve e gastando o mínimo possível, que eu cheguei nesse formato das garrafas PET, com as pranchas de mangueira de bombeiro, de hotel, de prédio, que possuem data de validade, e então cheguei nesse formato de construir as ilhas flutuantes com essas mesclas de materiais. Nós fizemos um protótipo em 2012, em Mogi das Cruzes, no sítio Olho d’água, que é aberto para visitação. Então, a ilha flutuante está aqui há 4 anos, e neste momento estamos construindo um outro sistema para entrar em Itapecerica da Serra, um sistema maior, com um cunho mais paisagístico e ornamental do que para tratar o esgoto mesmo. GABRIELA E esse protótipo de Mogi das Cruzes ele serve para tratar os efluentes que o sítio produz? LEONARDO Não porque ele está dentro de uma lagoa que recebe água de nascentes, não tem esgoto caindo lá. Então fizemos a primeira mesmo para ver se o sistema funcionava, se ia flutuar, se as plantas iam se desenvolver. Tendo certeza disso, agora no futuro, posso vender isso como um serviço a mais. Você pode acessar o site www.floatingisland.com.br para ter mais informações, um site específico dos projetos das ilhas flutuantes. GABRIELA E essa oficina do Sesc ela foi aplicada em algum lugar, ou soi somente uma oficina de
apresentação do conceito? LEORNADO No SESC foi uma mini-ilha, construímos uns protótipos reduzidos naquelas caixas organizadoras. Mas fizemos toda uma apresentação teórica, conversamos o sistemas das ilhas flutuantes, mostramos a tecnologia que aplicamos aqui em Mogi, e depois construímos os protótipos em escala reduzida. Aí usamos uma mini garrafa-pet, aquela “pitchulinha”, pra demonstrar em miniatura o que a gente usa de verdade. No SESC foi mais para disseminar a tecnologia. GABRIELA E sobre essa questão dos ciclos das plantas? Esse tipo de ilha elas exigem uma manutenção constante? LEONARDO Tem determinados tipos de plantas, cada uma se comporta de um jeito. Então isso que você falou que pessoas identificam que as plantas crescem e se multiplicam elas tão tentando purificar alguma parte da contaminação que tá caindo lá. Mas é um sistema meio espontâneo, não digo desorganizado, porque na natureza tudo está da forma que tem que ser e funcionando. A gente não está potencializando isso. As plantas vão se desenvolver, o agua-pé ali é natural, na tentativa de filtrar e melhorar um pouco a qualidade da água e remover a carga orgânica que está entrando lá. E ai tem tipos de plantas específicas, que filtram determinado tipo de poluente, que tem alguma preferência por um determinado tipo de nutriente. E aí existe essa questão de devolver a contaminação, existe mas depende do tipo da planta. Tem plantas que crescem,
absorvem os nutrientes, a contaminação e se estabilizam, por exemplo, as bio-acumuladores. O água-pé, por exemplo, é uma dessas, só de metais e poluentes pesados da água mas acumula dentro dele isso, não devolve pra água isso. Então depois de um tempo você tem que remover esses água-pés e a princípio destiná-lo para um aterro classe 1, de produtos perigosos. Outras plantas não tem afinidade por metais pesados, mas removem fósforo, por exemplo. Então é um pouco isso, a planta cresce, cresce, cresce, podemos fazer uma analogia com o próprio desenvolvimento do corpo humano. Criança precisa comer bastante para crescer, já os idoso comem menos, já tem menos apetite porque não precisam daquele vigor para se desenvolverem. Então com as plantas é a mesma coisa. A manutenção é basicamente podar a planta. A poda de manutenção é necessária porque a planta cresce, cresce, cresce, atinge a maturidade, e a tendência é ela diminuir a quantidade e a taxa de absorção. Aí sim, se faz a poda para que ela vire novamente um “bebê”, porque ela vai querer crescer, crescer, crescer, e nesse processo ela filtra, filtra, filtra. Mas existem várias espécies de plantas, e aí se você não poda, e mantém ela crescendo ou se estabilizando, pode ter sim um momento em que elas começam a devolver essa carga para o ambiente. Por isso que se recomenda fazer a poda e deixar começar “de novo”.
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Petburg Jan Kara e Jakub Bures Republica Tcheca / 2014 Em 2014, dois jovens estudantes de engenharia decidiram construir um barco feito com garrafas PET, para chamar atenção a respeito do problema causado pela poluição de materiais plásticos nos mares e oceanos.
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O projeto chamou-se Petburg e a embarcação foi construída com 50 mil garrafas plásticas. Para auxiliar na força da navegação, foram previstos 4 assentos para pedalar. Saindo de Nymburg na Republica Tcheca, eles conseguiram alcançar o objetivo de navegar mais de 850 km pelo rio Elba, chegando em Hamburgo, na Alemanha. A estrutura era feita a partir de tubos de garrafas, infladas com gelo seco e fixadas umas nas outras, e, uma estrutura auxiliar de madeira suportando os mecanismos dos pedais e de navegação.
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1. Fotos da embarcação durante a viagem com sua tripulação pedalando. 2. Sistema da estrutura flutuante feita a partir dos tubos de garrafas PET. 3. Detalhes da estrutura de madeira e do sistema de navegação por pedais. Fotos: David W Cerny 130
Plastiki David Mayer Rothschild Estados Unidos / 2010 Plastiki é um veleiro catamarã de 18m de comprimento, pesando 12 toneladas, feito com materiais recicláveis e que funciona inteiramente por sistemas de energia renováveis. A estrutura do casco foi feita com mais de 12 mil garrafas plásticas fixadas em uma estrutura auxiliar.
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A embarcação, idealizada por David Mayer de Rothschild, foi desenvolvida por uma equipe de 30 pessoas, nos Estados-Unidos. O objetvo do projeto seria realizar uma travessia de São Franciso a Sidney pelo Oceano Pacífico e de sensibilizar as pessoas a respeito da poluição marítima. Durante os 128 no mar, foram coletados materiais recolhidos em alguns pontos do Oceano para pesquisas científicas que tratam dos impactos dos resíduos nos Oceanos.
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1. A embarcação Plastiki na água. 2 e 3. Detalhe do casco composto com as garrafas plásticas Fotos: Lucas Babini e Kimball Livingston 131
Pedalinho Helio Sanches / 2012 São Paulo - Brasil Helio Sanches, decidiu construir para si um pedalinho de garrafas PET para poder pescar com mais independência. A obra chama atenção por sua simplicidade e leveza com que desliza na água. Ele conta que recolheu as garrafas em uma cooperativa local e explica como funciona as engrenagens e peças utilizadas para uma boa navegabilidade.
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Um sistema de pedais de bicicleta são conectados em uma peça de motor de barco e em uma planetária de motor de carro. Estas estariam ligadas à uma hélice por um cabo flexível. A cada pedalada, a hélice do pedalinho chega a dar mais de 10 voltas, o que o torna muito leve para deslizar na água. Sr. Helio nos revela que toda a estrutura auxiliar foi soldada por ele mesmo, e que já chegou a ir pescar no rio Paraná.
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1. Sr. Helio Sanches ao fundo, com o pedalinho. 2. Detalhe da hélice metálica. 3. Teste do pedalinho na lagoa da cidade de Ourinhos - SP 4. Detalhe da peça planetária. 5. Detalhe da cadeira. 6. Pedalinho preso no carro. Fotos: da autora, 2016. 132
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Projeto Prancha Ecológica Jairo Lumertz e Carolina Scorsin Santa Catarina - Brasil
O projeto Prancha Ecológica é resultado da experiência do surfista Jairo Lumertz que durante o tempo em que morou no Hawaii, decidiu contruir uma prancha feita com garrafas plástica devido a seu incômodo em ver várias delas boiando no mar enquanto surfava.
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De retorno ao Brasil, uniu-se com Carolina e juntos levaram palestras para conscientização dos impactos dos resíduos nos mares e oceanos e oficinas práticas de construção de pranchas com garrafas PET para mais de 14 Estados do Brasil.
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Eles já desenvolveram diversos tipos de pranchas, contemplando variações de esportes aquáticos como o surf, bodyboard e stand-up paddle.
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AS PRANCHAS DE GARRAFA Entrevista com Carolina Scorsin
GABRIELA Como começou o projeto da Prancha Ecólogica? CAROLINA O Jairo, meu amrido, é shaper e surfisa profissional e morou 8 durante 8 anos no Hawai. Como ele se incomodava muito com as garrafas que via boiando nos Oceanos, ele decidiu fazer uma prancha com garrafas PET. Demorou mais de um ano para ele conseguir construir isso sozinho, verificando todas as técnicas para chegar na prancha como ela funciona hoje. Ele deixou isso no Hawai, e voltou para o Brasil em 2011. Foi nesse período que nos conheçemos, e quando ele me contou que tinha feito esta prancha eu fiquei encantada com o projeto e falei que tínhamos que mostrar isso para o mundo inteiro. Então, foi assim que nasceu o projeto Prancha Ecológica. Nós entramos com o projeto nas escolas aqui de Garopaba, a prancha como uma ferramenta para falar sobre os problemas que o lixo causa no planeta, para incentivar as pessoas a separarem o resíduo dentro de casa, a importância da preservação e do esporte. A primeira palestra que demos já foi um sucesso, e hoje já levamos o projeto para 14 Estados do Brasil, fazendo com que ele se estenda, achando multiplicadores por todo o Brasil. Contruímos também uma sede aqui na praia da Barra, com apoio de um edital do SEBRAE, do governo do Estado BNDS e FAPESP e conseguimos 227 mil reais, além da conecessão do terreno pelo Gaya Village. Então hoje temos uma sede aqui, onde fazemos todo o trabalho de conscientização ambiental com as escolas e depois os levamos para fazer a aula prática na lagoa.
Recebemos também os turistas durante o verão. E também fazemos o Festival Mundial das Pranchas de Garrafas, já fizemos a 5a edição aqui dia 12 de Novembro, só com pranchas de garrafas. Procuramos fazer em torno de 30 pranchas, lembrando sempre que não incentivamos o consumo do refrigerante, e sim a retirada deste material do meio-ambiente, onde ele possa estar poluindo de alguma forma, reutilizando e transformando-as em pranchas. Queremos abraçar o Brasil todo, levando o projeto para todos os Estados, porém devido à falta de recursos e apoio financeiros, cria-se uma dificuldade. Então estamos sempre na busca de parceiros para poder continuar levar este projeto adiante. Também já capacitamos um professor aqui de Garopaba que concorreu a um concurso para uma viagem à Austrália, e ele respondeu que se fosse o ganhador, ele faria lá uma prancha de garrafas e incentivando o esporte para as crianças de lá. Hoje ele já mora lá há 3 anos, por causa do projeto. GABRIELA E quais os esportes que vocês praticam com as pranchas? Praticamos o surf e o stand-up paddle, então a diferença é que a prancha de surf tem 45 garrafas e uma de SUP tem 100. Então a diferença é o tamanho, a de SUP é maior, para remar então utilizamos apenas na lagoa. Então o projeto pode existir não só no mar, mas também nos rios nas lagoas, nos açudes até numa piscina, e por isso a importância de levá-lo para todo o país, pois nossa mensagem é muito positiva.
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GABRIELA E as garrafas vocês recolhem junto com as cooperativas de reciclagem? CAROLINA Não, na verdade já tem tantas pessoas aqui de Garopaba que já separam as garrafas e nos entregam na sede. Então, o projeto já atraiu tantas pessoas que não temos essa necessidade. Também costumamos dizer que viramos catadores de garrafas, porque não podemos ver uma garrafa jogada e não pegá-la, então nós mesmos também recolhemos um número grande. E assim, também posso dizer que esse mundo da reciclagem e da reutilização acaba viciando, então aqui em casa por exemplo, o vidro eu já não consigo mais jogar no lixo, eu faço vaso de plantas com restos de tecido. Com pneus eu já fiz um puff com retalhos de tecido e cola. Então é um vício legal porque você se torna muito menos consumista e adquire uma consciência ecológica visando sempre a proteção da natureza. Então, é um trabalho que queremos levar com muito amor para todos, levar para grandes mídias para podermos expandir isso. Porque sem recurso é muito difícil, sempre ter que ficar vendendo camisetas, pedindo trocas de uma coisa ou outra, e por fim acabamos nos prejudicando porque deixamos de nos dedicar integralmente ao projeto para poder nos manter financeiramente.
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1 e 2. Campeonato das pranchas de garrafas em Garopaba,. 3. Oficina da prancha ecológica com crianças em Pernambuco. 4 e 5. Detalhe da prancha com PVC para reforço da estrutura. 6. Sede do projeto em Garopaba com placa de conscientização. Fonte: Página do Facebook Projeto Pracncha Ecoógica Disponível em: facebook.com/ProjetoPranchaEcologica Acesso em: 02/11/16
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experiment_ ação
particip_ ativa
Foto: Danielly Omm
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3 experiment_ação particip_ativa Este capítulo, tem como objetivo demonstrar o processo prático que se desenrolou ao longo do trabalho e os resultados atingidos. Após a definição conceitual sobre susten- tabilidade e a pesquisa acerca da contextualização da pro- blemática dos resíduos sólidos no contexto brasileiros, foi realizada uma pesquisa de referências projetuais de estruturas flutuantes feitas com garrafas PET. Desta pesquisa, pudemos compreender como funcionam as estruturas que utilizam garrafas PET, e assim, determinar um projeto norteador para a concepção prática tendo como objetivo envolver pessoas para a realização de experimentações com resíduos e conceber estruturas capazes de ocupar os espaços águas. Das referências projetuais, a pesquisa se estabeleceu principalmente pela internet, utilizando as ferramentas de busca como o Google, Youtube e Facebook para entrar em contato com os idealizadores de algumas estruturas analisadas. O recorte específico sobre as estruturas flutuantes feitas a partir da reutilização de garrafas PET, nos possibilitou um exame mais preciso sobre as possibilidades estruturais, de seus detalhes como conexões e procedimentos de confecção.
Metodologia teorizada por Michel Thiollent em 1947, que associa formas de ação coletiva, orientadas em função da resolução de problemas ou de objetivos de transformação, envolvendo os pesquisadores e os participantes de modo cooperativo e participativo. 20
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THIOLLENT, Michel. 1986 pp.18
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Para a experimentação participativa, tomamos como base metodológica os princípios da pesquisa-ação20 pois o caráter do trabalho tem como premissa a participação e interação de pessoas, promovendo um momento de experiência com reutilização e ressignificação do material. “(..)os objetivos são voltados para a tomada de consciência dos agentes implicados na atividade investigada. Nesse caso, não se trata apenas de resolver um problema imediato e sim desenvolver a consciência da coletividade nos planos político ou cultural a respeito do problemas importante que enfrenta, mesmo quando não se vêem soluções a curto prazo. O objetivo é tornar mais evidente aos olhos dos interessados a natureza e a complexidade dos problemas considerados.”21
Neste sentido, temos como problemáticas a questão dos resíduos e da possibilidade destes se apresentarem como materiais possíveis de serem reutilizados para a conecpção projetual, bem como a questão dos espaços das águas, desenvolvida no outro lado deste caderno. A ação coletiva deu-se através do formato das oficinas participativas para envovler os agentes locais com quem o trabalho estabeleceu relações, visando não somente a construção de estruturas flutuantes mas também a conscientização e mobilização coletiva acerca das problemáticas envolvidas. Desta forma, optou-se por se aprofundar em um único tipo de estrutura, àquela cuja confecção fosse mais simples e acessível. A prancha de stand-up paddle, desenvolvida pelo projeto Prancha Ecológica, visto nas referências anteriores, pareceu-nos adequada aos objetivos do trabalho pois sua estrutura é composta por módulos semelhantes uns aos outros. Fica claro que o objetivo aqui não é de inventar uma estrutura inovadora, mas de proporcionar um primeiro contato de experiência com o material, testando seus procedimentos e funcionamento.
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I protótipo zero
A partir desta escolha, foram pesquisados através de vídeos explicativos de passo-a-passo que demonstram o processo de confecção da prancha. Antes de expandir a experiência para a escala coletiva, foi confeccionado um primeiro protótipo no LAME (Laboratório de Modelos da FAU USP) para testar os procedimentos e materiais. Ou seja, o protótipo tem como objetivo servir de experimento anterior às oficinas cuja intenção é compartilhar o processo na escala do coletivo, com os procedimentos e materiais que expressem um bom funcionamento.
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Para explicar os procedimentos vamos elucidar aqui os princípios básicos destas estruturas. A partir de uma garrafa, podemos utilizá-la como flutuadora ou como conectora. A garrafa flutuadora deve conter ar pressurizado em seu interior e a conectora deve ter suas extremidades cortadas, como mostra o esquema abaixo, possibilitando o encaixe de uma garrafa na outra. No próprio esquema, podemos perceber que a garrafa representada é simples, do tipo reta. De fato, esse tipo de garrafa demonstrou-se mais propício pois facilita o processo de encaixe e execução da estrutura e também, diferentemente das garrafas que tem algumas curvas e ondulações, sua superfície lisa diminui o atrito com a água, propriciando uma melhor navegação.
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Esquema das garrafas: flutuadora, conectora, e união das partes formando módulos. Fonte: da autora. 142
Para a confecção do primeiro protótipo, foram utlizadas 91 garrafas, sendo 50 flutuadoras e 43 conectoras. Inicialmente, foi realizada uma visita à Cooperpac e separadas as garrafas do tipo reta. O primeiro passo foi retirar os lacres, enxaguá-las por dentro e higienizá-las com sabão por fora. Após o período de secagem, foi iniciado os cortes das garrafas conectoras com um estilete e uma tesoura. A maioria dos vídeos explicativos não indicam uma medida do tamanho, porém um deles recomenda utilizar conectores de 17cm de comprimento. Após um primeiro experimento e a verificação do bom funcionamento desta dimensão, decidiu adotá-la como medida padrão.
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As garrafas flutuadoras devem ter o ar inflado em seu interior. Para isso, são recomendados alguns métodos. O primeiro, seria introduzir uma pedra de gelo seco cuja medida não pode exceder a dimensão de uma tampa de garrafa em seu interior e aguardar o fim do processo de sublimação. No fim deste procedimento a garrafa deve ficar rígida. Recomenda-se tomar muito cuidado com a dimensão da pedra pois se esta for muito grande e a quantidade de ar pressurizado exceder o limite de resistência da garrafa, esta pode explodir. O segundo, seria utilizar um compressor ou uma bomba de pneu de bicicleta com uma câmara de pneu adaptada para encaixar-se nas tampas semi-abertas das garrafas. Devido ao alto custo de um compressor e a dificuldade de se trabalhar com gelo seco devido ao seu curto tempo de vida, (após 24h o gelo seco sublima por completo) foi escolhida a opção de se utilizar a bomba de pneu de bicicleta. Porém, este procedimento demonstrou-se complicado e demorado pois há muita perda de ar no momento de tampar a garrafa (mesmo sendo envolvida pela câmara de pneu). Mesmo assim, para o primeiro protótipo foram infladas as 50 garrafas necessárias. A etapa seguinte consiste em lixar todas as partes que irão receber a cola, tanto os conectores quanto as partes superior e inferior das flutuadoras.
1. Triagem das garrafas na Cooperpac junto com Bruno Silva. foto: Adolfo Duarte 2. Higienização das garrafas com água e sabão neutro. 3. Corte das garrafas conectoras com tesoura e estilete. 4. Etapa de inflar as garrafas flutuadoras com a bomba de pneu de bicicleta. Fotos: da autora. 143
A cola recomendada pelos vídeos é uma cola PU (poliuretano), utilizada para colar tacos de madeira em pisos. Porém, após um primeiro teste de aplicação esta cola ficou evidente que seu manuseio é complicado porque devem ser misturados dois componentes (a resina e o catalisador) em uma proporção exata 7:1, além do acabamento não ficar tão limpo e preciso. Então, apesar da extrema resistência da cola PU para tacos, foi optado relizar um outro teste, utilizando a cola POLIDAG - PU40, a base de poliuretano, de acabamento branco, cuja aplicação é mais simples através de uma pistola. Esta cola foi utilizada para colar todas as fileiras de garrafas. Foram confeccionadas 7 fileiras sendo: 2 de 6 garrafas, 2 de 7 garrafas e 3 de 8 garrafas, conforme o projeto. Estas fileiras tiveram todos os encaixes vedados com mais uma camada de aplicação de cola para garantir que a água não entre por pequenos espaços de ar. Pode-se testar se há escape de ar antes do teste na água, apertando a peça conectora e verificando se há um barulho de ar que escapa. Caso se verifique situações como estas, deve-se vedar novamente o encaixe em questão. Após a montagem de todas as fileiras, estas foram posicionadas lateralmente 2 a 2, amarrando-as com abraçadeiras plásticas. Neste momento foi aplicada a cola PU para tacos devido à sua alta resistência. Desta forma, garantiu-se a formação de um corpo único entre as fileiras, apesar da falta de estética de seu acabamento. Em seguida, foram cortados e lixados 6 tubos de pvc 25mm e colados também com a cola PU para tacos entre as fileiras. Esses tubos servem de reforço garantindo que a estrutura resista aos esforços solicitantes. Como acabamento final, foi colada uma placa de EVA para distinguir o lado onde a pessoa pode ficar de pé na prancha.
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Equema de montagem das fileiras com 7, 8 e 9 garrafas flutuadoras. Fonte: da autora. 145
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1 a 4 e 6. Etapa de colagem dos mรณdulos das fileiras. 5. Primeiro protรณtipo finalizado com acabamento EVA. 7. Colagem do PVC entre as fileiras. 8. Fileiras coladas lateralmente. Fotos: da autora. 146
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II OFICINAS PARTICIPATIVAS Através da pesquisa de campo, das relações criadas e das vivências no Grajaú, não faria sentido desenvolver um protótipo único e individualmente, mas sim, fazer com que o caráter coletivo e participativo se afirmasse enquanto objetivo prático do trabalho. A partir do mapeamento dos atores, foram identificadas as possibilidades de ação coletiva. Neste sentido, a metodologia da pesquisa-ação demonstrou-se condizente com o trabalho, devido ao caráter participativo porporcionado pelo modelo de oficinas. A identificação do processo como pesquisa-ação se efetiva no momento em que se busca associar formas de ações coletivas, orientadas em função da resolução de problemas ou de objetivos de transformação. Em níveis de participação, podemos afirmar que os resultados da pesquisa foram direcionados para que os objetivos do trabalho fossem cumpridos. Por se tratar de diferentes atores que possuem trabalhos distintos, não foi possível reuní-los anteriormente à ação prática para que todo o processo fosse feito de modo horizontal e coletivo, partindo da definição do projeto. Então, ao serem realizados os primeiros contatos com os materiais, a realização e verificação de cada procedimento e a confecção do primeiro protótipo, por parte da pesquisadora, o trabalho passa a se afirmar enquanto referência e incentivo de ação prática.
Sobre como se deu o contato com os atores locais ver Lado A Cap.2.II 22
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A instalação de estruturas flutuantes feitas com garrafas PET busca fortalecer e afirmar o trabalho destes atores. Em termos mais claros, foi estabelecida uma rede com a Cooperpac (fonte da matéria-prima) e com os projetos Remada na Quebrada e Navegando nas Artes (estes dois que realizam atividades náuticas na Represa)22. A pesquisa foi encarada com caráter experimental, onde soluções a longo-prazo não seriam alcançados. Desta forma, o trabalho se realiza enquanto uma proposição ativa e simbólica de como podemos, através da experimentação com resíduos como material, ocupar os espaços das águas,
encarando-os como possibilidade de integração entre as pessoas no espaço dado. As adaptações dos procedimentos e dos materiais utilizados para as oficinas, em comparação com o primeiro protótipo, foram as seguintes: - acréscimo de uma garrafa a mais em cada fileira, sendo utilizadas 107 garrafas no total para a confecção de uma prancha; - a preferência pela utilização do gelo seco por facilitar e agilizar o procedimento de inflar as garrafas; - a utilização da cola Pesilox Fixtudo, a base de Poliéter Siloxano, cujo acabamento é transparente.
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materiais UTILIZADOS 1kg gelo seco 107 garrafas PET “retas” (50 conectores+57 flutuadoras) tesoura e estilete lixa 100 6x3m tubo pvc 25mm 1 placa de eva 50x200 1 cola pu taco de madeira 2 cola pesilox fixtudo transparente ___________________________ valor aproximado: R$ 200,00
etapas do experimento 0_separar e limpar o material 1_inflar as garrafas - método bomba de bicicleta 2_cortar conectores - testar tamanhos 3_lixar garrafas e conectores 4_colar tampas 5_colar módulos [2 garrafas +1conector] 6_formar fileiras 7_vedar as juntas 8_colar as fileiras lateralmente 9_posicionar abraçadeiras 10_colar tubos pvc 11_colar placa eva
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Desenho a partir do projeto Prancha Ecológica, com as adaptações do número de garrafas em cada fileira par aumentar a estabilidade da prancha (a serem realizadas durante as oficinas). Fonte: da autora. 151
oficina_01 29.10.2016 participantes: Remada na Quebrada: Adolfo, Bruno, Carlos, Emerson, Helena, Bruna e Murilo. Navegando nas Artes: Fabiano, Franz, Carla, Amanda, Lucas, Carla, Maikon, Vitor e Vitória
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A primeira oficina ocorreu no Espaço Meninos da Billings, em frente ao Parque Linear do Cantinho do Céu. Participaram da oficina jovens integrantes do projeto Navegando nas Artes e Remada na Quebrada. Inicialmente foram explicadas as motivações do trabalho e as etapas de execução da prancha. Como estava prevista a participação de 20 pessoas, havia material para a execução de 2 pranchas, pois acreditou-se que para este número de participantes a confecção de somente 1 prancha iria causar um certo congestionamento nas tarefas.
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A etapa de inflar as garrafas com gelo seco demonstrou um caráter lúdico pois para a sublimação ocorrer rapidamente deve-se segurar a ponta da garrafa com uma mão e batê-la contra a outra, causando um barulho similar ao batuque. A etapa de corte dos conectores e de lixar foi realizada sem grandes dificuldades, porém a da colagem das garrafas necessitou de mais dedicação pois algumas conexões começavam a “escorregar”. Este fato deveu-se à diferença entre as garrafas pois foram triadas duas marcas de garrafas do tipo reta: Dolly e Sprite. Para facilitar a confecção, cada fileira deve conter apenas um tipo de garrafa pois por mais que elas sejam retas, elas não são idênticas. Neste caso, foi necessário trocar alguns conectores ou dedicar mais tempo para o encaixe dos módulos. Devido à esta dificuldade da etapa de colagem e a necessidade de alguns participantes irem embora, notou-se que o grupo teria um rendimento melhor se naquele dia fosse finalizada apenas uma das pranchas. Então, mesmo se algumas fileiras da segunda prancha já estavam finalizadas, foi decidido guardá-las para que fosse finalizada em um outro dia. Após esta decisão, e a colagem 152
entre as fileiras fosse feita com mais calma e facilidade, visto que a quantidade de material a ser trabalhado havia diminuído. Assim como no primeiro protótipo, foi utilizada a cola PU para unir os tubos pvc nas fileiras de garrafas e também para colar a placa de EVA. Após 6 horas de oficina, a primeira prancha foi finalizada. Os participantes demonstraram-se satisfeitos com a experiência, apesar das dificuldades, os relatos foram positivos. Discutimos por fim algumas possibilidade para melhorar o acabamento da prancha, como a possibilidade de pintá-la e acrescentar uma camada de fibra de vidro. Duas semanas depois, me reuni com o Bruno Silva e Carlos Araújo, jovens moradores do Lago Azul e integrantes do projeto Remada na Quebrada para terminarmos a segunda prancha. Desta vez, utilizamos um novo método para aplicar a cola PU para tacos com mais agilidade. Preparamos o balde de cola, misturando seus dois componentes e transferimos o conteúdo para o interior de um saco plástico resistente. Como todas as fileiras já estavam prontas, juntamo-nas com as abraçadeiras plásticas lado-a-lado e aplicamos a cola, cortando uma das pontas do saco plástico (como um aplicador de confeiteiro). Pudemos verificar que através deste método que a aplicação não é tão precisa, porém muito mais ágil.
A Represa Billings, o barco à vela do Projeto Navegando nas Artes, o pier do Lago Azul, o Parque Linear do Cantinho do Céu e a primeira oficina participativa acontecendo em frente ao espaço Meninos da Billings. Foto: da autora.
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6 1. Explicação dos procedimentos de < confecção. 2. Medida da pedra de gelo seco: uma tampa de garrafa. 3. Corte dos conectores. 4 e 8. Gelo seco slubimando no interior da garrafa 5. Etapa de lixar as partes que receberão cola. 6. Detalhe do corte do conector. 7. Cola para vedação das tampas. Fotos: Danielly Omm.
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9. Aplicação da cola Pesilox no conector. 10. Detalhe da abraçadeira para facilitar o encaixe entre o conector e a garrafa. 11, 12 e 13. Montagem dos módulos Fotos: Danielly Omm. 155
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14 15 e 16. Preparo da cola PU: 3 medidas de resina, 1/2 de catalisador, e mistura. 17. Detalhe das abraรงadeiras plรกsticas para unir as fileiras. 18. Colagem dos tubos de PVC entre as fileiras. Fotos: Danielly Omm
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19. União de todas as fileiras, com os tubos de PVC. 20. Aplicação da cola PU na placa de EVA. 21. Posicionamento da placa de EVA na estrutura. Fotos: Danielly Omm
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TESTE_01
Alguns dias depois da primeira oficina, reuni-me no Espaço da Billings com o professor Adolfo Duarte e fizemos o teste na primeira prancha que havia sido finalizada. O professor rapidamente apoiou-a sobre sua cabeça e saiu andando em direção ao pier do Lago Azul. Naquele momento, havia alguns pescadores que vieram olhar a prancha de perto. Logo, esta foi colocada na água e utilizando o remo como apoio o professor ficou em pé em cima dela. Após algumas remadas tranquilas, ele pôde sentar-se e até mesmo deitar-se. Relatou que a estabilidade estava boa e que não estava molhado. De retorno ao pier, também experimentei a estrutura flutuante feita com garrafa PET, resultado do trabalho da primeira oficina. Como nunca pratiquei o esporte do stand-up, preferi ficar ajoelhada para remar com mais segurança. O contato com a água transbordou dentro de mim em vários sentidos, seja pela experiência sensível, de contato com a natureza num refúgio às margens da cidade de concreto, seja pela satisfação de viver um sonho, do trabalho realizado. De fato, eu estava ali, ocupando os espaços das águas, em cima de uma estrutura que poderia ser replicada em vários lugares. Pudemos verificar que havia um pequeno rasgo em um conector o que ocasionou na entrada de de água na parte entre as garrafas flutuadoras. Este fato não chegou a comprometer a estrutura como um todo, no entanto, o trabalho deve continuar com a manutenção da estrutura. Deve-se esperar a água secar para então vedar o rasgo e outras possíveis entradas de ar. Este primeiro teste teve como objetivo verificar a segurança e a estabilidade da estrutura e reitera-se o fato de que as estruturas devem ser entendidas como um experimento, pois não podemos afirmar sua durabilidade, tudo dependerá do cuidado durante o uso, armazenamento seguro e manutenção.
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1 2 e 3. O primeiro protĂłtipo sendo testado no Lago Azul. Fotos: Carlos AraĂşjo [1] e da autora. [2 e 3] 159
oficina 2 05.11.2016 p articipantes Cooperados da Cooperpac: Valquíria, Adão, Adão, Benedito, Eva, Luana, Marinalva, Oton, Rosa, Antônia, Ivania. Empreender Sonhos: Natacha, Jefferson, Gustavo, Bia. Crianças: Jamile, Iara, Iris e Bia. A segunda oficina aconteceu no espaço da Cooperpac, tendo como participantes tanto os cooperados como jovens do grupo Empreender Sonhos. Este, é um grupo novo, formado recentemente por jovens da região e que recebe apoio da Cooperativa. Uma das integrantes é a Natacha, jovem que trabalha na administração da Cooperativa. Este grupo vem realizando projetos de revitalização de espaços públicos, como por exemplo a instalação de uma praça em um bairro da região onde não há espaços de encontro e convívio. Por se tratar de um grupo de jovens, foi interessante proporcionar uma atividade em que eles tenham contato tanto com o espaço da Cooperativa quanto com as pessoas que ali trabalham. A oficina teve em média 15 participantes, alguns tiveram que sair mais cedo, outros chegaram mais tarde. Agrupados em duplas, os participantes realizaram os mesmos procedimentos primeira oficina, o que dispensa a descrição detalhada. Porém, assim como na primeira oficina, algumas garrafas estavam sendo coladas em conectores de marcas diferentes. Isso fez com que algumas conexões não se encaixassem direito, e então foi necessário cortar novos conectores. Em outros casos, o mau encaixe deu-se ao modo incorreto de conectar as partes. Durante o corte dos conectores, foram feitas pequenas marcas que indicam a parte superior da garrafa conectora, para indicar o lado que deve ser conectado com a parte superior da garrafa flutuadora. Durante a explicação e execução foi reiterado que as garrafas e os conectores só vão se conectar se for “cabeça com cabeça” significando que a parte superior da garrafa flutuadora vai encaixar na parte superior da garrafa cortada como conector, pois a medida do perímetro superior é menor do que o perímetro inferior. 160
A composição de diferentes faixas etárias dos participantes da oficinas criou um ambiente mais heterogêneo. As duplas foram criadas entre as pessoas que já possuiam afinidade, e que trabalharam de forma excepcional. Esse fato é expressão do trabalho prático e ativo que os cooperados já realizam em grupo no dia-a-dia. Um já sabe como trabalhar com o outro. Como desde o princípio desta oficina, independentemente do número de participantes, foi decidido que somente uma prancha seria confeccionada, fazendo com que o trabalho tevisse um melhor rendimento e que o período de tempo da oficina fosse menor. Em geral, a oficina teve resultado muito positivo. Foi feita uma pausa para um “lanche saudável” preparado por uma equipe de apoio (familiares e amigos da Cooperativa). Vale lembrar também que esta é a primeira oficina de experimentação com os resíduos, proporcionando um trabalho alternativo do que é realizado no cotidiano dos cooperados. Além disso, é reforçado o convite para eles comparecerem no dia do teste das pranchas, a ser realizado no Lago Azul, visando estabelecer a conexão entre o grupo das duas oficinas e uma vivência náutica aos cooperados.
Os participantes da segunda oficina, realizada na Cooperapc, reunidos em volta da mesa de trabalho durante a etapa de corte dos conectores. Foto: Danielly Omm
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1. Vista geral do galpão da Cooperpac. 2. As crianças fazendo a contagem das garrafas 3. Etapa de inflar as fllutuadoras com gelo seco. 4 e 5. Etapa de lixar os conectores nas partes superior e inferior. Fotos: Danielly Omm.
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6. Etapa de aplicar a cola Pesilox nos conectores. 7. Preparo da cola PU atravÊs da mistura de seus dois componentes. 8. Vedação das tampas das flutuadoras com a cola PU. 9 e 10. Montagem das fileiras. Fotos: Danielly Omm
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11 e 12. Amarração das fileiras prontas com as abraçadeiras plásticas. 13. Verificação do bom funcionamento das conexões e aplicação de cola quando necessário. 14. Amarração das fileiras e colagem dos tubos pvc. Fotos: Danielly Omm
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15. A placa de EVA recebendo a cola PU. 16. A placa de EVA sendo posicionada em cima das fileiras. 17. Corte dos tubos de PVC conforme a medida das fileiras. 18. Blocos de concreto posicionados em cima da placa de EVA durante o perĂodo de secagem da cola PU. Fotos: Danielly Omm
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VIVÊNCIA NÁUTICA
A última atividade prática do trabalho se configurou pelo teste das pranchas confeccionadas durante as oficinas. Para tal, esta atividade foi integrada na programação do dia de celebração e encerramento do ano de 2016 do projeto Navegando nas Artes. O evento ocorreu no pier do Lago Azul em parceria com o Espaço Meninos da Billings, coletivo Imargem e Casa Ecoativa. Barcos à vela, caiaques e as ECO-pranchas (nome escolhido pelos participantes das oficinas) foram colocados nas águas da Represa Billings, proporcionando uma vivência náutica à população. Pessoas expressaram constante curiosidade em saber o que é a prancha, como foram feitas e se funcionam de fato. Alguns também demonstraram interesse em construir uma para si após terem experimentado a estrutura. A possibilidade de se construir diferentes tipos de estruturas flutuantes, através da reutilização de resíduos, torna mais acessível as atividades náuticas ao entorno da Represa, principalmente para aqueles que não tem condições de adquirir barcos, pranchas ou caiaques. Consequentemente, ao proporciponar maior apropriação dos espaços das águas, espera-se que haja maior conservação da Represa por parte dos habitantes, chamando também a atenção do poder público para a urgência de políticas de preservação dos recursos hídricos. Desta forma, o trabalho pode-se concluir através do envolvimento e interação com os coletivos que atuam na região do Grajaú, ocupando suas águas, significando-as como espaços público, do encontro, de convívio e das trocas, além de afirmar a possibilidade de integração entre as várias partes que margeiam a represa.
1. Vista aérea do pier do Parque Linear do Cantinho do Céu com os barcos à vela do projeto Navegando nas Artes e as eco-pranchas. 2. Vista frontal do pier com jovem testando a eco-prancha. Fotos: Martim Passos 166
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Páginas anteriores: _Chegada ao Espaço Meninos da Billings e pier do Lago Azul para celebração de encerramento do ano do projeto Navegando nas Artes. _Teste das eco-pranchas e vivência náutica com os barcos à vela do projeto Navegando nas Artes. _Vivência náutica com os membros da Cooperpac. Fotos: Danielly Omm
Teste das eco-pranchas. À esquerda o Lago Azul, ao fundo São Bernardo do Campo e à direita o Jardim Prainha. Foto: Martim Passos 174
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Vista aérea do pier do Parque Linear do Cantinho do Céu com os barcos à vela do projeto Navegando nas Artes e as eco-pranchas. Á esquerda o Jardim Prainha, ao fundo a região do Cocaia, à direita o Lago Azul. Foto: Martim Passos 176
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Teste das eco-pranchas. À esquerda o Jardim Prainha, ao fundo a região do Cocaia, à direita o Lago Azul Foto: Martim Passos 178
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Teste das eco-pranchas. Vista aĂŠrea. Foto: Martim Passos 180
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Teste da eco-prancha. Vista aĂŠrea. Foto: Martim Passos 182
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