Arquitetura popular no interior de Minas Gerais

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Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Engenharia Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Gabriela de Morais

ARQUITETURA POPULAR DO INTERIOR DE MINAS GERAIS E sua função social na contemporaneidade.

Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Engenharia, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para conclusão da disciplina Trabalho Final de Graduação.

Orientador: Fabio Jose Martins de Lima Co-orientadora: Lívia Ribeiro Abreu Muchinelli

Juiz de Fora Agosto/2013

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Ao meu avô Afonso, mineiro construtor. Ao CACAU, à FeNEA, verdadeiros professsores. Aos amigos, à família e todos que contribuiram de alguma forma.

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Índice

I.

Resumo

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Seja bem-vindo, a casa é sua 1. O fim de um começo 2. A problemática deste trabalho 3. Recorte espacial

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II. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.

Trocando em miúdos Os termos arquitetura popular/vernacular A casa: nosso primeiro universo Lugares antropológicos Formação dos municípios mineiros A casa do mineiro Tradição mineira de construir O mundo mudou A cidade come o campo

22 24 26 28 32 34 38 42 46

III.

Com a mão na massa 1. Como o mineiro constroi hoje 2. Escolha das comunidades

50 52 60

IV.

E fim de prosa 1. A armadilha do não-lugar 2. O sujeito como resposta para a sociedade 3. E fim de prosa

64 66 70 74

Bibliografia

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RESUMO

O homem construtor do interior de Minas Gerais é um sujeito político. Ele respeita o sítio, constroi corretamente com poucos recursos, constroi em coletivo, tem crítica, capacidade histórica e vivência real cotidiana do ofício. É um potencial ator modificador da sociedade. ―Quando ia se construir uma casa por aqui, antes de tudo, plantava-se um pé de bananeira, um pé de bambu e um pé de café.‖ Seu Zé do Arame, morador de Conceição de Ibitipoca, Lima Duarte, Minas Gerais. Percorrendo as rotas paralelas ao turismo, encontra-se uma cultura rica que vem se perdendo aos poucos. A perda cultural que leva à perda de identidade e, consequentemente, à exclusão social. O isolamento geográfico, ao mesmo tempo que preserva tradições, castiga os homens e mulheres que não se inserem no modelo sócio-econômico que hoje lhes apresenta como única solução de mundo. Mas será esta a única solução mesmo? Este trabalho pretende estudar o construtor tradicional mineiro modesto, especificamente nos povoados rurais do município de Lima Duarte, como forma de entender a problemática social da comunidade onde está inserido. Arquitetura popular, de baixo-impacto, de autoconstrução, modesta. Histórico, tradições, método, arranjo espacial, adaptações positivas e negativas em relação às mudanças culturais ao longo dos anos. Padrões de repetição em certas tradições (materiais e imateriais) que possam caracterizar a identidade destas comunidades, contribuindo assim para sua autonomia social. O que existe hoje é uma Minas esquecida, escondida entre os mares de morros, uma Minas que precisa ser redescoberta. Palavras-chave: Arquitetura popular; autoconstrução; função social.

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CAPÍTULO I SEJA BEM-VINDO, A CASA É SUA Ou a introdução à prosa.

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1.

O fim de um começo "Ser original é voltar às origens." Antoni Gaudí

Os desafios que se colocam à frente de um jovem recém-formado em arquitetura são inúmeros e crescentes. As escolhas começam a ser definidas dentro ainda da academia. Estas escolhas mais tarde farão parte do processo que é a constituição do território das cidades. A universidade pública tem, ou pelo menos deveria ter, o caráter políticosocial bem definido, desde o projeto pedagógico até a atuação direta na sociedade. Esta instituição tem o papel de modificar a sociedade em prol da coletividade, como forma de retorno do investimento nela aplicado por toda a população. A universidade como um todo e seus cursos em específico. A graduação de Arquitetura e Urbanismo tem se caracterizado cada vez mais como um curso elitista, diante da sociedade, por diversos fatores. Primeiro pelas características sócio-econômicas dos ingressantes (e mais ainda dos concluintes). De acordo com o Relatório Síntese da graduação de Arquitetura e Urbanismo feito pelo ENADE 2011, 77,3% dos estudantes se declararam como brancos, 16,8% pardos/mulatos, 2,8% se declararam negros, 2,7% amarelos e apenas 0,4% indígena ou de origem indígena. Esta mesma pesquisa afirma que 62% dos estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil possuem renda familiar acima de 6 salários mínimos. Isto pode ser explicado pelo público que a profissão atende quase que invariavelmente. Generalizando, quem conhece a profissão, quem tem contato com o profissional arquiteto e urbanista, é a classe alta. Este é o segundo fator: a profissão no contexto atual, na ótica do cidadão comum, se resume ao que vem publicado nas grandes revistas de arquitetura e ao que aparece na televisão - projetos para classe alta ou institucionais. Neste sentido, a mídia tem grande influência.

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O terceiro fator se dá pelo caráter tecnicista que o ensino de arquitetura vem adotando e sua supervalorização da chamada ―arquitetura autoral‖ que acaba por reduzir a atuação do arquiteto às demandas atuais do mercado imobiliário. Além de todos os gastos financeiros desproporcionais que são exigidos ao longo do curso. Desde a compra de materiais caríssimos desde o primeiro período, plotagens e impressões, gastos que a universidade, que é pública, não dá suporte até o final da faculdade.

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O graduando de arquitetura já começa se deparando com este cenário, e, logo depois, tem seu primeiro contato com as áreas de atuação. Um leque imenso de atribuições que, na realidade das cidades, se apresenta ―desdentado‖. Não são tantas as oportunidades. Não existem tantos incentivos. De acordo com o arquiteto juizforano Rogério Mascarenhas, em entrevista dada ao site Acessa.com, ―apenas a Prefeitura emprega arquitetos na cidade. As construtoras geralmente solicitam a consultoria para este ou aquele projeto‖. Hoje, a produção arquitetônica dentro da academia raramente toca técnicas e conhecimentos populares de construção. A academia raramente trabalha com a realidade imediata que a cerca. E raramente a academia tenta modificar a situação da população mais carente. O curso de arquitetura da UFJF, por exemplo, possui apenas sete projetos de extensão. Apesar de alguns projetos trabalharem eventualmente com viés social, apenas um deles tem o objetivo de trabalhar especificamente com comunidades de baixa renda de Juiz de Fora e região: o Escritório Modelo RUA. Nossos distritos rurais são tão carentes de nosso ofício quanto a periferia das grandes e médias cidades. São comunidades que estão à margem do 1

Termo usado por FERREIRA (2011).

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Aqui coloco meu questionamento dirigido à comissão de TFG quanto às exigências do trabalho final de graduação, parte 2. As regras exigem a plotagem de pranchas rígidas, ou a manufatura das mesmas, o que chega a custar 400 reais. Lembro, aqui, que a bolsa da universidade é de apenas 310 reais. Isto, obviamente, coloca uma seleção de quem vai concluir o curso de Arquitetura e Urbanismo e de quem não vai.

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planejamento do espaço: a profissão de Arquitetura e Urbanismo. Nossa profissão, atualmente, não serve a estas pessoas. O que ocorre é que o arquiteto, que não vê novas perspectivas de atuação dentro da academia, acaba por continuar sem novas perspectivas quando se vê diante do mercado de trabalho. A maioria dos escritórios de arquitetura de Juiz de Fora, não diferenciando da situação de nenhuma outra cidade brasileira, são requisitados para trabalhar sempre com o mesmo panorama: residências para classe alta, edifícios comerciais ou institucionais. Com este limite invísivel nas áreas de atuação, o arquiteto juizforano cai em uma armadilha que se torna cômoda. A atuação política deste profissional também fica limitada e restrita a ações pontuais ou individuais. Esta aparente apatia da classe, como um todo, impede que haja um debate mais rico sobre as questões da cidade e sobre os impactos que cada empreendimento coloca. Isto também não difere em nada da realidade do restante do país e do mundo: o arquiteto urbanista, que está inserido no contexto pós-moderno de sociedade , encontra muitas dificuldades para cumprir sua função social. 3

E aí FERREIRA (2011) arremata a questão: Se a ―culpa‖ desse desvio das expectativas em torno da profissão não é (somente) dos arquitetos e da imprensa, é porque esta é uma responsabilidade coletiva. A extrema centralização em torno de um único modelo profissional é apenas o reflexo de um processo social pelo qual a profissão da arquitetura colocou-se em uma posição de elitização e de afastamento da realidade urbana, como decorrência do longo período de autoritarismo e de políticas econômicas de extrema concentração da renda. A ―culpa‖ é de cada um e de todos nós que reproduzimos ad infinitum essa lógica social elitista e segregadora em todas as instâncias econômicas, culturais e políticas e não só no âmbito 3

Conceito usado pelos filósofos da Escola de Frankfurt, escola com tendência neo-marxista, principalmente, a partir dos anos 30, por filósofos como Horkheimer, Adorno, Marcuse, Lowenthal e Pollock.

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urbano/arquitetônico. A culpa é de toda a sociedade que considera ―cidade‖ apenas a cidade do mercado, a cidade oficial e formal. Que se recusa a enxergar o caos urbano e social, o apartheid assustador dos bairros que não são ―nobres‖. A ―culpa‖ é dos governos, que atentam somente para essa cidade dos mais ricos, que insistem em políticas para eles apenas, por exemplo construindo mais viadutos, túneis e vias expressas exclusivas para os carros individuais em detrimento de investimentos públicos para toda a população. A ―culpa‖ é também das universidades, que formam arquitetos orientados para uma única perspectiva profissional e alimentam o culto à arquitetura autoral; a culpa é das entidades representativas da classe, que pouco discutem a democratização da profissão, e assim por diante.

Trazer à luz estas formas tradicionais de se formular o território significa dar uma nova possibilidade de atuação aos arquitetos e urbanistas. Aprender com os velhos sábios da construção popular e aplicar este conhecimento nas resoluções dos problemas contemporâneos, este talvez seja o caminho para a democratização das cidades. Neste sentido, este estudo pretende levantar estas contribuições que a cultura popular tradicional de Minas, ainda presente no interior do município de Lima Duarte, pode trazer a este jovem arquiteto e urbanista, possibilitando sua atuação não somente nas feridas da cidade grande, mas justamente no próprio cerne deste conhecimento, o interior.

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2.

A problemática deste trabalho

Antigas metodologias de trabalho vêm sendo redescobertas desde o auge do modernismo no Brasil, com Lina bo Bardi ou Sérgio Ferro. Métodos de trabalho que dão espaço à participação coletiva, a processos sustentáveis de construção, com um conceito de regionalização das relações sociais e comerciais. Luis Barragán nos relembra: Na arquitetura popular dos povos de qualquer parte do mundo vemos que é sempre bela e que resolve o problema da vida comunitária. O interessante seria analisar em que consistirão essas soluções tão boas. Para poder dar, na vida contemporânea, ao ser humano essas doses de sabor que lhe evitem a angústia das cidades modernas.

Pouco se vê dos ofícios tradicionais mineiros, historicamente em adaptação, em revistas de arquitetura, em pesquisas e estudos acadêmicos, ou até mesmo nas grades curriculares dos cursos de graduação das próprias escolas mineiras. Poucos são os profissionais em arquitetura trabalhando no interior de Minas Gerais. E ainda menos são os que trabalham considerando a herança tradicional das técnicas de ocupação e construção. Minas tem 853 municípios. Cerca de 500 deles com menos de 10 mil habitantes. De acordo com o Censo nacional de 2010, 29% dos habitantes do estado mineiro tem renda abaixo de R$ 75,50 e cerca de 14,7% moram na zona rural, o que corresponde a 2,88 milhões de pessoas. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD/ 2009, na zona rural de Minas Gerais, 2,37 milhões de pessoas não têm acesso à rede geral de abastecimento de água, 1,77 milhões de pessoas adotam a fossa rudimentar como solução para esgoto e 305 mil pessoas não possuem banheiro em casa. Hoje, lida-se com a miséria, propagação de doenças, falta de oportunidades, falta de escolas, postos de saúde, transporte e o descaso da administração pública. Falta o direito à cidade.

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A evasão rural ainda ocorre, perseguindo até o último morador dos povoados. Muitas vezes casas e arraiais inteiros são abandonados. Os filhos e netos se mudam para a cidade, e os idosos, sem forças e sem ajuda para trabalhar na terra, veem seu sustento cada vez mais difícil. Não obstante, a dificuldade para receber atendimento médico, dentre outros serviços, é enorme. A única alternativa é deixar tudo para trás e seguir o caminho dos mais jovens. Do documentário ―Ibitipoca, droba pra lá‖ (SCALDINI, 2012), o depoimento de Janaina, moradora da Vila do Mogol, Lima Duarte, Minas Gerais: Antigamente tinha muita gente, muita gente que morava na comunidade. Hoje o pessoal tá mudando. Dentro do arraial tem sete familias. Fala que não é lugar de morar, que aqui não é lugar de voltar. Então esses que já foram, foram mesmo, dificilmente eles vão voltar aqui. A única coisa que pode fazer com que eles voltem é o enterro de algum parente.

Algumas vilas e arraiais são descobertos pelo turismo, como foi o caso de Conceição de Ibitipoca. Neste caso, o matuto é substituido pelo turista, ou empreendedor turístico. A economia se transforma e, com ela, as relações sociais. Os maiores eventos já não são mais os leilões, as missas, as festas de São João, a Folia de Reis. Os antigos moradores se mudam para lugares afastados do movimento e deixam suas casas para serem alugadas pelos turistas que aparecem à procura de uma cultura que já não é original da terra: festival de blues, jazz, reggae, ecoturismo, rali de jeep. Do mesmo documentário, o depoimento de um morador de Conceição de Ibitipoca, Lima Duarte, Minas Gerais: O homem do campo atrapalhou muito, piorou muito. Porque não tem ninguém pra ajudar, também não acha. Ninguém quer cortar capim! Porque tem outra bocada melhor, né! O turista, pra fazer uns aterrinhos de meia hora, dá 50 mil, 100 mil. Antigamente nego brigava pra plantar um pedacinho de milho. Quando ia fazer um corte de feijão, assim, pra plantar, um corria mais cedo pra marcar no lugar melhor, né.

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Dava até briga. Hoje se você chamar o sujeito pra plantar feijão, cê tá espantando ele!

Nestas relações, nem academia, nem estado, nem profissionais estão inerentes. Não diretamente. O processo de exclusão social e perda cultural não espera e está acontecendo a todo momento, independente de qualquer controle maior. Minas é vítima deste processo, que precisa ser conhecido e revertido. Desta forma, de uma maneira geral, este trabalho objetiva a redescoberta dos caminhos do ouro, posto que nosso verdadeiro ouro é nosso conhecimento.

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3.

Recorte espacial

Para analisar a arquitetura popular mineira, foi escolhido o território rural do município de Lima Duarte, como consequência de trabalhos anteriores: o EREA Ibitipoca 2012 e o Plano Diretor Participativo de Lima Duarte. Lima Duarte é um município mineiro, localizado na Zona da Mata. Faz divisa com o município de Juiz de Fora, município pólo na região em diversos aspectos. Possui uma área de aproximadamente 848 km² e 2,52 km² de perímetro urbano , o que corresponde a 0,29% de seu território. A população de Lima Duarte corresponde a pouco mais de 16 mil habitantes. Na zona rural, estão 14,7% desta população. 4

Diagrama 1 – Localização do município de Lima Duarte.

O município é dividido em quatro distritos, sendo eles Conceição de Ibitipoca; São Domingos da Bocaina; São José dos Lopes; e o Distrito Sede, que engloba a área urbana, mas também povoados como a Vila do Mogol.

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Embrapa Monitoramento por Satélite. Minas Gerais. Disponível em < http://www.urbanizacao.cnpm.embrapa.br/conteudo/uf/mg.html>.

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Mapa 1 - Distritos de Lima Duarte. Fonte: Plano Diretor Participativo de Lima Duarte, 2013.

Assim, neste trabalho, foram estudadas as vilas de Conceição de Ibitipoca, São José dos Lopes e Mogol.

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CAPÍTULO II TROCANDO EM MIÚDOS Ou: a teoria de toda essa prosa.

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1.

Os termos arquitetura popular/vernacular

Os termos popular e vernacular, aplicados à arquitetura, são volta e meia revisitados e questionados. Neste estudo, tomam-se como base os conceitos de Gunter Weimer, em ―Arquitetura Popular Brasileira‖ . 5

Como afirma WEIMER, o termo vernacular, neogologismo, tem derivação do termo depreciativo vernáculo, do latim vernaculu, que se aplicava ao escravo que nascia na casa do senhor. Por outro lado, vernáculo, do dicionário , se aplica à linguagem, como língua própria de um país, ou linguagem pura. De uma forma ou de outra, vernacular não se aplica ao conceito que queremos explicitar neste trabalho. 6

Assim, adotaremos, neste estudo o termo ―arquitetura popular‖. De forma simplificada, tomando como base os conceitos corroborados com WEIMER (2005), arquitetura popular é a arquitetura simples, adaptável, criativa, tradicional de um grupo, cuja forma plástica é resultado de técnicas e materiais empregados. Estas características são aplicadas às edificações pesquisadas adiante, as residências do interior de Minas Gerais. Formas de construir passadas de geração para geração, se adaptando a novas funções de forma criativa e inteligente e que exprimem as características destas pessoas: produtoras de arquitetura popular.

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WEIMER, Gunter. Arquitetura Popular Brasileira. São Paulo, Martins Fontes: 2005. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio. 4.ed. RIO DE JANEIRO: Nova Fronteira, 2000. 790p. 6

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2.

A casa: nosso primeiro universo

―Toda arquitetura é uma expressão da saudade do lar‖. Greg Lynn Este estudo coloca como foco principal de pesquisa a residência do homem do interior de Minas Gerais, tomando como exemplo os moradores do município de Lima Duarte. A casa do mineiro. A importância da escolha da casa, como objeto de estudo, não é aleatória. A cultura e os hábitos do homem do campo estão expressos neste tipo de construção. É nas casas que são aplicados os materiais com melhor desempenho térmico, com melhor aspecto estético, com mais facilidade de se encontrar no sítio. É nas casas que são aplicadas as técnicas tradicionais de marcenaria, talha de madeira, trançagem em palha, e ainda a evolução das mesmas. Seu ofício, sua gastronomia, seus animais de estimação, suas relações sociais encontram lugar neste edifício que é projetado e construído pelo próprio usuário. Existem construções que exprimem, de certa forma, a cultura deste grupo de pessoas, como as igrejas. Porém, as igrejas mineiras trazem muito mais das regras e necessidades dos párocos e da própria tradição da igreja católica, do que do hábito diário das pessoas comuns, que na verdade se distancia e muito desta construção. A igreja não é o espaço de se ficar à vontade, pelo contrário. E ainda, muitas vezes, nas igrejas são aplicados materiais mais difíceis de serem encontrados e técnicas mais eruditas de construção, pelo status que a igreja pretende manter. As igrejas mineiras não são portanto consideradas ―arquitetura popular mineira‖. Mesmo que alguns elementos sejam característicos da tradição popular, o conceito da construção ―Igreja‖ é erudito. Além disso, o homem, de qualquer cultura, tem uma relação mais próxima com seu lar do que com qualquer outra construção. ―Porque a casa é nosso canto do mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos. Um cosmos em toda acepção do termo. Vista intimamente, a mais humilde moradia não é bela?‖ (BACHELARD, 1989. p. 24). Desta forma, para análise de um contexto social, a casa terá muito mais a dizer.

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A casa é a proteção do homem. É sua base, seu chão. Sua fortaleza. Assim, o homem deposita neste objeto seus sonhos, anseios e medos, e os materializa. A identidade deste homem está, oniricamente, em cada tijolo, argamassa, madeira e pedra que compõe sua casa. De acordo com BACHELAR (1989, p.26): Se nos perguntassem qual o benefício mais precioso da casa, diríamos: a casa abriga o devaneio, a casa protege o sonhador, a casa nos permite sonhar em paz (...) A casa é uma das maiores (forças) de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem. (...) A casa, na vida do homem, afasta contingências, multiplica seus conselhos de continuidade. Sem ela, o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. Ela é corpo e alma.

Desta forma, vemos na casa do homem uma resposta ao que ele representa, ao que ele necessita e ao que o protege e o mantém vivo, sobrevivente. Este objeto de estudo traz à reflexão ao arquiteto o real programa deste meio de atuação que é o interior de Minas Gerais.

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3.

Lugares antropológicos

O conceito de não-lugares, AUGÉ (2005), ilustra a crise pós-moderna, não só, mas também nas esferas arquitetônica e urbanística. O não-lugar reflete a não identidade que vem intrínseca ao mundo globalizado. Lugares que já nascem independentes de um contexto, independentes de pessoas e culturas. São lugares que podem ser replicados em qualquer lugar do mundo. Onde as pessoas estão sozinhas e não fazem parte de grupo nenhum. AUGÉ (2005) explica: Um lugar é um espaço sobre o qual conseguimos ler e sentir as relações sociais que ali acontecem, a história coletiva e seus símbolos partilhados. Um não-lugar é um espaço sobre o qual essa leitura não é possível, um espaço em que passamos sem criar relações. Empiricamente, não existe, evidentemente, nenhum lugar ou não-lugar que obedeça ao senso absoluto do termo.

O indivíduo é uma construção social (AUGÉ, 2005, p.21), assim como o grupo social é um conjunto de individualidades. O não-lugar não permite que esta co-relação exista. O não-lugar existe independente de individualidades. Ele é cópia, ele é réplica, ele é cenário. O não-lugar nos persegue, e até nos rincões do estado de Minas encontramo-lo, na forma de pastiche, de imposição de cultura, de imposição de uma suposta identidade, que é travada, que não evolui. Quando Gunter Weimer esteve no EREA Ibitipoca, em 2012, pediu-me que o acompanhasse em uma visita ao comércio local. Sua intenção era descobrir artesanatos populares característicos daquela região. O ―artesanato típico da região‖ incluía as mesmas galinhas d’angola que encontramos em Porto de Galinhas ou na parada rodoviária no interior do Espírito Santo, ou aquelas mini-esculturas de biscuit, que ensinam na internet. Puro pastiche. E eram puro pastiche a pizzaria, o mini-shopping, a pousada, as casas de veraneio. Um cenário homogeneizado. Um nãolugar. Com algumas poucas casinhas de personalidade forte ali e acolá.

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Foto 1 – Artesanato produzido na Casa Arte Vida.

O que Augé chama de ―lugares antropológicos‖ é o que existe de autêntico frente aos não-lugares. Segundo o autor, um lugar é antropológico se for identitário, relacional e histórico. Ou seja, que exprima uma autenticidade. À medida que o indivíduo se identifica com a sociedade da qual faz parte e atua, ele é capaz de produzir lugares antropológicos. Pois a identidade é sempre mutável e evolui, desta mesma forma o é a sociedade e sua materialidade. Assim se desenvolvem os povoados. Como aponta AUGÉ (2005, p.28): Simplesmente, aprendemos em paralelo a duvidar das identidades absolutas, simples e substanciais, tanto no plano coletivo como no individual. As culturas ―trabalham‖ como a madeira verde e nunca constituem totalidades acabadas. (...) é só de certa perspectiva que exprimem a totalidade.

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E estes lugares são deveras necessários. A identidade é necessária e sua constante materialização, coloca sua constante transformação. ―As origens do grupo são com frequência diversas, mas é a identidade do lugar que o funda, o reúne e o une.‖ AUGÉ (2205, p.41). Tomando esta ótica, os lugares antropológicos têm o potencial não só de manter, mas também de recuperar a autoestima de todo um grupo de indivíduos.

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4.

Formação dos municípios mineiros

Minas Gerais possui grande quantidade de aglomerados urbanos afastados geograficamente. São vilas, povoados, arraiais que distam de centros urbanos. Esta distância geográfica dificultou por muitos anos, e ainda dificulta, a chegada de recursos e políticas públicas. A saída que muitos distritos encontraram, na década de 90, foi a emancipação. Porém, em alguns aspectos, aponta-se a deficiência nos processos que se deram desde então. Antes da constituição de 1988, o processo de emancipação dos municípios era dificilmente concluído devido ao fato de que o país ainda não era uma federação que permitia a autonomia dos estados. Além disso, os critérios para emancipação eram pouco definidos, o que fazia com que os motivos para emancipação fossem quase que exclusivamente interesses políticos, econômicos ou estratégicos. E o interesse sempre foi grande, principalmente devido à criação de novos cargos administrativos, legislativos, judiciários... Ao ser promulgada a Constituição, em 1988, os Estados tiveram a autonomia de criar suas próprias regras para guiar a emancipação dos municípios. O que ocorreu, foi um boom de emancipações na década de 90, que gerou um salto no número de múnicípios de 4.090 para 5.507. Para frear este boom, foi criada, em 1996, a emenda constitucional que especifica períodos de emancipação determinados por Lei Complementar Federal, além da exigência dos Estudos de Viabilidade Municipal. Estes Estudos deverão comprovar, na área territorial do possível novo município, condições mínimas como: população estimada superior a 5 mil habitantes; existência de equipamentos sociais e de infra-estrutura compatíveis com as necessidades da população; e capacidade de

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arrecadação, no último exercício antes da elaboração do Estudo, de um percentual mínimo de participação na receita do respectivo estado. 7

A grande maioria dos aglomerados mineiros afastados de seus distritossede, possuem menos de 5 mil habitantes. O primeiro critério, que já os elimina de buscarem este direito. O prejuízo óbvio se dá porque quando se emancipam novos municípios, os gastos do Fundo de Participação dos Municípios – FPM – são redivididos. Os novos gastos, portanto, são com a máquina pública, pois, pelos critérios estabelecidos, o novo município já possuía, antes de ser emancipado, equipamentos urbanos e arrecadação suficientes. Devido à resolução de 1988, hoje, Minas Gerais é o Estado que mais tem municípios no Brasil, com 853, enquanto o segundo colocado é São Paulo com 645 municípios. Em 2013, de acordo com o ―Novo Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil‖, São Paulo está em segundo lugar na lista de melhor IDH do Brasil, Minas está em décimo primeiro. Na lista de IDH por municípios, 15 municípios de São Paulo estão entre os 60 primeiros enquanto o melhor município em IDH de Minas, Poços de Caldas, está em 66º lugar, de acordo com o Censo de 2000. Como comprovado pelo estudo de WANDERLEY (2008), sobre o resultado das emancipações de Minas: ―Foram detectados impactos positivos relacionados a diversas variáveis educacionais e de saúde. Ao mesmo tempo, o contrário ocorreu com os indicadores de pobreza e indigência‖. De acordo com este mesmo estudo, estes impactos positivos se deram somente nos novos municípios. Os Estudos de Viabilidade, portanto, são ineficientes. Não há um planejamento econômico-social que possa colocar uma perspectiva de desenvolvimento igualitário. E podemos perceber que a emancipação não é completamente inteligente e não serve para os casos de vilas e arraiais isolados, que buscam sua sobrevivência urbana. Portanto, uma nova saída deve ser colocada. 7

Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/2158.html >.

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5.

A casa do mineiro

Foto 2 – Conceição de Ibitipoca. Tocador de sanfona.

A porta aberta Bem-vindo à casa, prazer conhecer se a conversa acabar na cozinha já é da família melhor pra você. Milton Nascimento, Coisas de Minas

Pela linha filosófica da Escola de Frankfurt, a arte tem o dever de ser crítica, exprimir e materializar a visão de mundo ou os questionamentos do autor, seu contexto espacial e temporal. Isto é o que se chama, na filosofia, de estética. Segundo JAMESON (1997), a arquitetura também se inclui nesta obrigação. E deste modo, tanto arquiteto, quanto o homem simples do interior, em seu ofício, se colocam como instrumentos importantes de questionamento do status quo e evolução de mundo. Potenciais modificadores da sociedade. Do Livro "Lina Por Escrito" (p. 47), um artigo da revista Domus, Lina escreve:

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A arquitetura moderna trouxe à precisa relação de TÉCNICA, ESTÉTICA e FUNÇÃO aquele complexo organismo que é a casa, e estabeleceu uma estreita ligação entre esta e a terra, a vida, o trabalho do homem. Montanhas, bosques, mar, rios, rochas, prados e campos são os fatores determinantes da forma da casa; o sol, o clima, os ventos determinam sua posição, a terra ao redor oferece o material para sua construção; assim, a casa surge ligada profundamente à terra, as suas proporções são ditadas por uma constante: a medida do homem; e ininterruptamente, com profunda harmonia, ali flui sua vida.

A casa do mineiro exprime isso. Exprime sua vivência cotidiana, quando abriga seus ofícios. O mineiro adapta sua residência ao seu ofício. A casa do produtor de pão de canela mostra bem isso. Do produtor de queijo, de cachaça. Do que planta uma simples horta no quintal. Exprime sua vivência espacial quando adapta os materiais disponíveis ao longo dos anos. A taquara é forro, é revestimento, é cortina, é objeto de decoração. O bambu é estrutura, é cerca, é cortina, é móvel. A madeira é telhado, é esteio, é soleira, é porta, é janela, é móvel, é instrumento. O barro é instrumento, é revestimento, é fechamento, é tijolo, é telha. Tudo tem concerto, tudo tem serventia. Materializa suas descobertas e seus desejos. O construtor não pára de construir sua casa. A madeira talhada, os objetos de ferro trabalhado, palha trançada, verdadeiras esculturas de barro, cerâmica, mosaico, cal tingido. A cozinha é o coração da casa, ali se reunem pessoas, enquanto se cozinha, enquanto se come, enquanto se trabalha. Entram e saem pessoas. As conversas são críticas, são necessárias. Dali saem ideias, dali mudam-se conceitos. O convívio espacial é produtivo. A cozinha permite isso.

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A varanda é a continuação da cozinha. Onde se fuma e se toma cachaça, onde se toca a sanfona, se contam causos, e passam-se adiante tradições. Sobre o "diálogo surdo" entre Lina e Lúcio Costa, na introdução de "Lina Por Escrito", texto de Silvana Rubino, (p. 34): O homem simples da casinha de pau-apique era um sujeito social contemporâneo, um presente popular que era também uma construção intelectual e política de Lina, do casal Bardi, da Habitat. Se o povo era arquiteto, capaz de construir obras corretas com poucos recursos, era um povo do presente, vivo nesse Brasil dos anos de redemocratização.

Assim como o arquiteto, este homem do interior vêm perdendo seu poder modificador para uma sociedade que massifica e pasteuriza a cultura, ou simplesmente a elimina em busca de menores custos.

Foto 3 – Conceição de Ibitipoca. Produtora de pão de canela.

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6.

Tradição mineira de construir De pau a pique baldrame de aroeira Sua casa de madeira ele fez lá no sertão O rego d’água trouxe lá da cabeceira Fez a bica, fez peneira, fez munjolo e fez pilão. Fim de Caboclo - João Carreiro e Capataz

A tradição dos locais estudados traz regras básicas de escolha do sítio, herança de povos mais antigos, ainda encontradas devido ao seu isolamento geográfico. Ou seja, os povoados se concentram próximos ou ao longo de cursos dágua, em vales, ou topos de morro, e a ocupação se desenvolve quase sempre com a igreja no lugar mais alto e o cemitério ainda mais alto e distante, porém sempre visível. Eram terrenos possíveis de fundar uma construção e próximos aos recursos materiais. Logo que o terreno era escolhido, o construtor já plantava um pé de bambu, um pé de café e um pé de cana. Logo menos, estaria conseguindo colher alguns alimentos para seu consumo diário: cebola, couve, mandioca, inhame; além de criar alguns pequenos animais: galinha ou porco. Nas vilas, cada família tinha sua horta, sua pequena produção de subsistência. E ainda tinham um outro ofício. Uma roça não muito longe ou então trabalhavam na roça de outros. PEREIRA (2009), descreve as casas do período do ouro, que ocorriam em Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, principalmente: As casas possuíam um pé direito alto, o que fornecia maior conforto térmico. Em geral, eram construídas em pau-a-pique ou alvenaria de adobes ou pedras, cobertas de telhas de barro. As casas tinham forro de madeira e eram ventiladas por meio de janelas largas e altas e em repetição num mesmo ambiente. Os forros

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podiam ser de madeira, lisos ou emoldurados, valorizados por pintura decorativa. Havia também forros em palha entrelaçada, formando um desenho geométrico.

Assim como a maioria das casas do período, em Lima Duarte, os materiais para a construção são aqueles encontrados no sítio. E existia um trabalho em coletivo. Como conta Dona Rita, moradora do Mogol: ―Antigamente, aqui, uns anos atrás, tudo aqui era através de ajuda, (...) aí junta o pessoal e faz, assim como se diz, na base de mutirão.‖ Os carros de boi traziam areia, pedra de extrações mais distantes. 8

As casas modestas de vila eram feitas de pau-a-pique . A fundação era feita de pedra bruta para proteger as paredes da umidade. O chão era de terra batida, ou dependendo das condições dos moradores, cimento queimado, cantaria e cerâmica. A madeira fazia a grade do pau-a-pique, o esteio e o madeiramento do telhado, que normalmente possuia 2 ou mais águas, sempre com inclinação de 30 a 35%, mais ou menos. O preenchimento era feito de barro, que garante a mesma temperatura na casa durante o ano todo, entre 20°C e 25°C. Também de barro eram as telhas em formato de calha (colonial), arredondadas, que conseguem resistir ao vento que os sítios escolhidos, vales e altos de morros, recebem. Carapina, ca.ra.pi.na, sm (tupi karapína) Carpinteiro. Var: carpina. Relato de Fábio Lima: 9

De acordo com o dicionário Priberam: pau-a-pique s. m. [Angola, Brasil] Parede feita de ripas ou varas entrecruzadas e barro. = TAIPA. 8

9

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio. 4.ed. RIO DE JANEIRO: Nova Fronteira, 2000. 790p

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Cê tinha sempre nas comunidades o sujeito que era o carapina, que era o mestre, que sabia trabalhar a madeira, ia lá, fazia a estrutura, fazia a estrutura do telhado e tal, cobria e depois juntava a comunidade toda e fazia o barro, o barro de bater, que era o mais popular. Mas o carapina é o cara que é o especialista, sabia escolher as madeiras, sabia como colocar a madeira. O carapina podia tanto fazer uma casa simples pra uma pessoa simples, como podia uma casa enorme de fazenda, já era uma coisa mais de empreito mesmo, né.

O terreiro era nos fundos. Horta, galinheiro, chiqueiro. E, naquele tempo, a ―casinha‖, era um banheiro rudimentar, sem tratamento de esgoto, sem fossa. O núcleo da casa, no interior de Minas, é a cozinha. A dinâmica da casa mineira se desenvolve em volta deste ofício caseiro, geralmente comandado pelas mulheres. Ora existe a produção de queijo, ora a produção de pão de canela, ora a produção de doces de frutas. A casa tradicional tem necessariamente a presença de um fogão à lenha, munido de um forno. O fogão fica aceso desde antes do nascer do sol, até o último morador se recolher. O tempo ia devagar. O dia começava cedo e acabava cedo.

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7.

O mundo mudou

O processo de globalização encurtou as distâncias, disseminou informações, culturas, linguagens, histórias. Porém, o mundo mudou rápido demais. Mais rápido que a cabeça das pessoas em relação a elas mesmas. O tempo passou a ser contado de uma maneira diferente. O espaço passou a ter outro significado. E nossa percepção de mundo passou a ser outra. A adaptação ocorre em cada pessoa de maneiras diferentes. E em cada grupo de pessoas de maneiras diferentes. Como diria AUGÉ (2005), ―Pressentimos, de certo, os efeitos perversos, hoje distorções possíveis, de uma informação cujas imagens são selecionadas‖, ou seja, a informação que nos é passada é distorcida para passar uma ideia de mundo equalizado. Essa distorção de imagens mina o poder individual da cultura e consequentemente sua colaboração para um grupo identitário. A globalização é um fenômeno coletivo, mundial. Porém, que afeta a vida das pessoas no dia-a-dia. Seus costumes, tradições, desejos. AUGÉ (2005) afirma que ―estas figuras de excesso estão intrinsecamente ligadas à produção de não-lugares‖. AUGÉ (2005, p. 35): Nunca as histórias individuais foram tão explicitamente implicadas pela história coletiva, mas nunca também os pontos de referência da identificação coletiva foram tão flutuantes. A produção individual de sentido é, portanto, mais necessária do que nunca.

Não é diferente na produção de arquitetura. A cultura de massa deu força à indústria da construção civil, que por sua vez, pasteurizou a arquitetura. Hoje é mais fácil auto-construir. A princípio, esta afirmação parece um ganho. Porém, os prejuízos são indiretos.

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Não é surpresa que o construtor, encontrando um material mais resistente, mais durável, mais barato e mais prático, o prefira, mesmo que vá substituir aquele tradicional. A indústria facilita. Mas as perdas estão subentendidas. O custo de mercado é menor, por outro lado, o custo ambiental é imensamente maior. Além do mais, ganha-se na praticidade, e perde-se na cultura. E, com o tempo, todo o processo vai se alterando, do desenho ao canteiro: técnicas, métodos, relação com os materiais, com o território, com a região. Entre pessoas. É uma proposta falsa de evolução, pois não considera os efeitos do passado, o contexto do atual e, principalmente a contribuição da relação pessoal. JAMESON (1997) relaciona o fenômeno ao conceito de pseudo cultura: A pseudo cultura, o desejo de sobrepujar e o dinheiro desfiguram o intento da arquitetura. A casa não reflete mais a vida, mas sim um conjunto de preconceitos, de aparências e convenções; a arquitetura burguesa torna-se assim a direta responsável pela insuficiência do homem contemporâneo.

A industrialização tem seus benefícios, claro. Mas a quem atingem estes benefícios? No filme ―Mon Oncle‖ de Jacques Tati , percebemos exatamente esta contradição. A casa dos pais completamente mecanizada e prática da vida moderna versus a casa do tio, no sótão de um casarão, em uma rua da periferia, pobre, porém humanizada. E onde o sobrinho gostava de estar? 10

Como diz John Kavanagh, ―Infelizmente, a tecnologia não causa impacto nas vidas dos pobres do mundo. De fato, a globalização é um paradoxo: é muito benéfica para muito poucos, mas deixa de fora ou marginaliza dois terços da população mundial.‖ Mas o saudosismo persiste e é mercadoria. A premissa é: se o consumidor quer ver casinha de tijolo aparente e telha colonial, o mercado vai fazer isso. Mesmo que não seja com técnica original, com 10

Mon Oncle, filme produzido e dirigido por Jacques Tati em 1958.

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material original, mesmo que seja apenas um cenário. É o que JAMESON (1982) chama de pastiche: O pastiche é, como a paródia, a imitação de um estilo singular ou exclusivo, a utilização de uma máscara estilística, uma fala em língua morta: mas a sua prática desse mimetismo é neutra, sem as motivações ocultas da paródia, sem o impulso satírico, sem a graça, sem aquele sentimento ainda latente de que existe uma norma, em comparação com a qual aquilo que está sendo imitado é, sobretudo, cômico.

O pastiche é um dos elementos do não-lugar. Ele não representa nada, nem ninguém. Ele apenas copia. A maior reprodução de pastiche, em todos os sentidos, são o que se vê por aí chamados de centro cultural ou similares, que reproduzem uma arquitetura de pastiche e incentivam a reprodução de objetos de pastiche, que erroneamente são chamados de artesanato. Por outro lado, o financiamento para construção tradicional, ou de baixo impacto também não é incentivado, como constata FILHO (2007, p.232): El déficit habitacional en Brasil se aproxima a los siete millones de unidades; (...) el cual (programa) no apoya proyectos en régimen de autoayuda ni la utilización de técnicas no convencionales, como las de arquitectura y construcción con tierra. Mas, por otro lado, se financian construcciones con materiales hechos con materias primas de alto impacto, algunos prejudiciales para la salud como el fibrocemento.

O programa ―Minha Casa Minha Vida‖, projeto do Ministério da Fazenda (e não do Ministério das Cidades), tem a intenção de aquecer o mercado imobiliário, instrumento importante para a economia do país, e não tem a mínima intenção em gerar arquitetura de qualidade. Foi lançado agora, o programa ―Minha Casa Minha Vida Rural‖, que dentre outros requisitos burocráticos, apenas exige um projeto com condições de habitabilidade, salubridade e segurança, dotados de infra-estrutura básica

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ou no mínimo soluções para abastecimento, água potável, energia e esgoto sanitário; e certificado de madeira nativa. 11

O modo de construir popular, regional, tradicional, não é valorizado nem por mercado, nem por estado.

11

Informações disponíveis em: <www1.caixa.gov.br> .

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8.

A cidade come o campo "No sertão, as cidades esperam o dia em que o asfalto chega Lá se vão os amigos Lá se vão os tropeiros Lá se vão automóveis Tudo no mesmo areião" Sá e Guarabira - Tabuleiro

Foto 4 – Casa abandonada em Mogol, Lima Duarte – MG.

Atualmente, estamos no fim do chamado êxodo rural, que começou em meados do século XX. Os últimos remanescentes dos arraiais são pessoas já na melhor idade, que viram seus filhos se mudarem para a cidade grande, viram as grandes modificações do campo, devido à grande competitividade com a indústria, e a queda na qualidade de vida. O arraial mineiro, até a metade do século XX, contava com uma ampla produção agropecuária, não mecanizada. Engenho de cana de açúcar, ou

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plantações de café, criações de gado. A economia era baseada na agropecuária. Ao longo dos anos, com a impossibilidade de se adaptar às novas tecnologias, sem novas perspectivas de desenvolvimento, a agropecuária foi perdendo mão-de-obra para a cidade. No caso da Serra de Ibitipoca, a terra não é tão fértil e o relevo é muito acidentado, o que impede a mecanização. Nesta localidade, hoje, é mais importante a preservação do que ainda resta da fauna e flora do que o incentivo ao desenvolvimento do trabalho do campo. E como não há novos trabalhadores para o campo, como não há o interesse político, o êxodo persiste. Os arraiais, quando não esvaziados e abandonados, são descobertos pelo turismo, que chega a ser predatório, e mudam radicalmente sua economia. Foi o caso de Conceição de Ibitipoca. O arraial que teve sua população, sua dinâmica social e sua economia completamente transformadas. Hoje, Conceição de Ibitipoca sofre um crescimento urbano acelerado para atender as demandas do turismo. O antigo homem do campo, hoje, trabalha na construção civil. Porém, esta não é a construção civil tradicional de outrora, mas sim uma arquitetura industrializada, de um lado, para os nativos, a substituição dos materiais tradicionais, que hoje são inacessíveis financeiramente, pelos materiais da indústria, nem sempre corretos e que não expressam a cultura local. Como descreve BEDIM (2008, p.283): Fisgado pelo preconceito que o atinge e contrai, o camponês de Ibitipoca internalizara tais arquétipos e, num dado momento histórico, passou a recusar a si mesmo, rechaçando os traços sui generis de sua cultura. (...) Na vila de Conceição de Ibitipoca, quase a totalidade das casas de ―nativos‖ possui laje exposta ou então se constitui de telhado de amianto ou de zinco: nega-se, a todo custo, o laço identitário da típica arquitetura rural da Serra, dominante até duas décadas atrás, cujas casas ostentavam telha argilosa e tijolo artesanal exposto.

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Para os turistas, a arquitetura é basicamente retirada de revistas pasteurizadas, com um toque de pastiche que imita a tradição, porém sem carga estética. Em Conceição de Ibitipoca, o que ocorre é uma ―cenarização‖ da Vila, para o agrado dos turistas. BEDIM (2008, p.285) ainda coloca: Por outro lado, ironicamente, as pousadas e as casas de segunda residência (veranistas) são predominantemente de telha de barro em estilo colonial, cujas paredes, via de regra, intencionalmente não são rebocadas, atingindo assim o simulacro do que seria uma ―casa da roça‖ da Ibitipoca bucólica de outrora. Os turistas, os empresários do trade turístico e os veranistas estimam assim a estrada de chão batido, o fogão a lenha, o ar provinciano do distrito, o paraíso e seu bucolismo devidamente salvaguardados do universo urbano de onde eles próprios saíram. A composição paisagística do arraial, dessa forma, assume a forma de um cenário artificial, um mosaico de cores a escamotear as (in)diferenças que atravessam o seu cotidiano.

Na Vila do Mogol, existe pouca interferência deste contingente turístico. Porém, a vila está perdendo cada vez mais seus habitantes. Os antigos moradores, aos poucos vão falecendo, e com eles se vão as tradições. A culinária, a relação com a terra, as festas, a música, o método construtivo. Algumas casas foram compradas por um empresário da Serra. O mesmo relata que era uma forma de ajudar as pessoas que queriam sair dali. As famílias que ficaram não pretendem vender suas casas. Muitas nasceram ou já vivem ali há muitos anos. Dona Rita não gosta de morar no Mogol, mas apenas pelas dificuldades trazidas pela falta de acesso: Eu tenho 33 anos que eu moro aqui, e eu não gosto daqui. Sabe por que que eu não gosto daqui? Porque é um lugar muito longe. Ônibus aqui a gente só tem de 15 em 15 dias. (...) Eu nasci e criei na roça, eu não me importo de morar na roça, mas eu queria um lugar que fosse mais perto.

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CAPÍTULO III COM A MÃO NA MASSA Ou a parte teórico-prática: análise em campo.

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1.

Como o mineiro constroi hoje

"A gente tem que respeitar os cinco mestres da obra: nível, prumo, régua, esquadro e linha." Daniel, construtor de Conceição de Ibitipoca, Lima Duarte, Minas Gerais. Os arraiais, ou vilas, da zona rural de Lima Duarte, são geralmente compostas por algumas casas modestas, às vezes por um ou outro casarão de uma família mais abastada. Uma igreja do início do século passado, às vezes uma igreja mais nova, um cemitério, uma casa paroquial. Uma escola mais atual, construída pela prefeitura e um posto de saúde. Algum ou nenhum comércio. Hoje, cada família, nas vilas, constroi sua casa. Faz reparos e ampliações. Ou a prefeitura interfere de alguma forma, construindo ou doando materiais. Ao longo dos anos, as residências nas vilas de Lima Duarte seguiram uma evolução simples nos materiais, principalmente. Na Vila do Mogol, percebemos isto claramente e encontramos os rastros desta evolução quase intactos.

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Diagrama 2 – Evolução das casas de povoados da zona rural de Lima Duarte - MG.

Antigamente as casas eram feitas de pau-a-pique (arranjo 1, no diagrama 2). Material barato, de fácil construção, resistente e com eficiente desempenho térmico. Algumas casas utilizavam a técnica do adobe. Mas sempre eram construções de terra. O arquiteto Raymundo Rodrigues Filho fala sobre a arquitetura de terra:

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Em muitos lugares no Brasil, essa é, ainda, a técnica utilizada no dia-a-dia, por causa do custo ou porque a população não tem acesso a outras tecnologias. Isso mostra o espaço que essas técnicas podem ocupar em projetos sociais.

Há mais ou menos 30 ou 40 anos atrás, as casas começaram a ser construídas com tijolo maciço artesanal (arranjo 2, no diagrama 2), da mesma forma, as modificações/ampliações. Dona Rita e Seu Zé, da Vila do Mogol, há mais ou menos 20 anos, trocaram as paredes de pau-a-pique, que já estavam deterioradas, por lajota (arranjo 3, no diagrama 2), que durará mais tempo sem manutenção. Mas o telhado é o mesmo, com as mesmas telhas que protegem e resistem ao vento, com a mesma madeira que ainda durará um bom tempo. Só acrescentaram um forro de taquara trançado. E agora existe uma varanda na entrada principal, onde há flores e um banco para as visitas. A maior modificação com certeza foi o banheiro. A família de Dona Rita foi a primeira do arraial que teve banheiro em casa, construído por um pedreiro de Lima Duarte, distrito sede. E hoje, todas as casas da vila possuem seus banheiros. Hoje, a prefeitura constroi casas nos distritos rurais, porém os materiais doados não são os ideais, nem mesmo a própria construção. A prefeitura não utiliza as técnicas tradicionais do próprio município. Notavelmente, as construções que mais destoam das construções populares são as da prefeitura ou igreja: posto de saúde, escola, casa paroquial, moradias doadas. No Mogol, são as únicas construções que são feitas de lage, com telha de fibrocimento, bloco de concreto e janela de alumínio (arranjo 4, no diagrama 2).

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Foto 5 – Posto de saúde. Vila do Mogol, Lima Duarte – MG.

A casa da Dona Lúcia Helena foi construída com bloco de concreto, chapisco, telhado de uma água, com telha de fibrocimento, sem forro, sem lage, sem reboco, sem pintura. Ela destoa visualmente do restante das casas do arraial.

Foto 6 – Casa da Dona Lúcia Helena. Vila do Mogol, Lima Duarte – MG.

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Logo que recebeu esta ―casa‖ da prefeitura, um vendaval deixou destelhada a Dona Lúcia Helena, que depois recebeu uma nova telha, desta vez doada pelo pessoal da Cavalgada Tradicional que passa pelo Mogol. A telha de fibrocimento, obviamente, não suporta as rajadas de vento que ocorrem na Vila do Mogol. A maioria das casas ainda mantêm a configuração original. Tanto no layout dos cômodos, quanto na maioria dos materiais. Quando é possível. Existem estudos no município sobre formas de captação de esgoto individuais. O construtor de Conceição de Ibitipoca, Anselmo Lage, que dá aulas de construção civil na ONG Casa Arte Vida, desenvolveu um projeto de fossa individual, que pode ser facilmente instalada nas casas e permite um tratamento de esgoto particular. A própria ONG está ensinando as pessoas a construir esta fossa e já planejando construir nas casas da região. Por último, neste processo de evolução (arranjo 5, no diagrama 2), existe a volta dos tijolos maciços, que ganhou muita popularidade nos últimos anos. Na Vila do Mogol, o Senhor Marco Pelicano construiu duas casinhas completamente novas, uma com pouco menos de 3 anos e outra recém-finalizada. Com tijolos aparentes, esteio de madeira, telha colonial. Nos fundos, há uma novidade que Dona Rita chamou de ―um ranchinho‖, com churrasqueira, pia, fogão a lenha. Elemento que já conhecemos bem, na cidade. O Senhor Marco Pelicano não foi encontrado, e não se sabe o que ele pretende fazer com estas duas casinhas tão elaboradas lá nos cafundós do Mogol. Mas em Conceição de Ibitipoca, este tipo de casa é construído para atender aos veranistas.

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Foto 7 – Casa do Sr. Marco Pelicano. Vila do Mogol, Lima duarte – MG.

Seu Zé do Arame construiu, no seu quintal, duas casinhas como estas: A gente aluga a casa ali ó, aquela casinha azul de três quartos. Dois quartos, né, com a sala, três. E o chalezinho aqui. Simplesinho, mas bonito. (...) Eu deixo esse tijolinho assim que eu gosto de tijolinho, né. A gente mesmo que fez, fez tijolo, a gente curou, a gente fez a base. A telha já era velha, o caibro já era velho, a porta já era velha, o banheiro já era velho. Não tem nada ali.... agora o que gastou dinheiro ali foi a lata de tinta que a gente comprou, cara pra raio! (...) Ali eu passei a mão de cal assim e larguei pra lá. Aquela parede ali eu não comprei tijolo feito não. O caminhão veio lá da rua, veio ali na entrada do Zé Walter ali e jogou o entulho. A gente foi lá e catou tijolo inteiro e os meio. Mas tinha muito meio tijolo! Se um tijolo inteiro, cê faz amarração de 20 cm; se é de 10 cm cê faz amarração de 5 cm! Só é menor! Gasta os mesmos tijolos só que com mais amarração!

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A sede da ONG Casa Arte Vida, em São José dos Lopes também é uma construção inteiramente nova, com pouco mais de um ano. Também com esteio de madeira, fechamento de tijolos, portas e janelas de madeira. As tesouras do telhado, aparentes, são com madeira maciça, e estribos de ferro. As telhas são coloniais. O chão é de cimento queimado. No refeitório, o forro é de taquara trançada. E na varanda mucharabis de madeira.

Foto 8 – Casa Arte Vida. Vila de São José dos Lopes, Lima Duarte – MG.

Hoje, vemos tijolos industriais, muitas vezes, telhas também industriais. A tinta, o piso frio também. Às vezes, as portas, as janelas e o assoalho, de madeira, também, e outras vezes são produzidos pelos próprios carpinteiros. Muita coisa reaproveitada, reutilizada. Seu Marco Pelicano contou com a ajuda de pedreiros. Seu Zé do Arame também. Porém, ainda assim, foram autores e atores do processo. O construtor do interior continua sendo consciente. A evolução continua acontecendo, utilizando novas técnicas e novos materiais, mas lembrando sempre dos conhecimentos antigos.

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2.

Escolha das comunidades

"Vai diminuindo a cidade Vai aumentando a simpatia Quanto menor a casinha Mais sincero o bom dia Café tá quente no fogo Barriga não tá vazia Quanto mais simplicidade Melhor o nascer do dia" Pato Fu - Simplicidade

Em estudos já realizados sobre arquitetura popular, sob esse olhar que esta pesquisa pretende utilizar, a condição de isolamento é muitas vezes critério para a escolha do lugar de estudo, como conta Lima Junior (2007 p.14), ―Essa condição de isolamento espacial, não social, é muito útil pra se ter uma compreensão mais próxima da realidade que deve perdurar por séculos.‖ Desta forma, foram analisadas três distritos do Município de Lima Duarte. Conceição de Ibitipoca, São José dos Lopes e Mogol. A Vila de Conceição de Ibitipoca é um modelo de vila que substituiu a economia agropecuária pela economia turística, quase que completamente. Neste modelo, os antigos trabalhadores do campo agora trabalham para o mercado de construção civil que está em alta na vila, devido a um crescimento baseado em especulação imobiliária e demanda crescente de casas de veraneio, pousadas e hotéis. A cultura do arraial de Conceição de Ibitipoca vem sendo substituída gradualmente pela cultura externa. As festas de congo e Folia de Reis hoje dão espaço aos festivais de blues ou reggae: culturas internacionais. Os habitantes mais antigos de Ibitipoca, hoje, cedem suas casas do centro do arraial para os turistas e se refugiam, em temporadas altas de turismo, em suas casas mais afastadas do povoado. A comunidade de São José dos Lopes possui um centro comunitário que é referência para os habitantes da região. Não só uma referência, mas

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uma esperança de oportunidades e permanência no local. A ―Casa Arte Vida‖ , uma ONG, oferece cursos profissionalizantes e atividades culturais que agregam tanto jovens, quanto adultos. Este centro é importante para a identificação da comunidade com o território. 12

Porém, o centro é regido por uma instituição externa à comunidade. Externa à organização local. É uma iniciativa privada. E isso não permite que a cultura local se desenvolva autonomamente e que a comunidade sinta que o projeto é realmente parte de seu território e de sua cultura. De qualquer forma, é um belo começo de mudanças. A única casa de pau-a-pique da vila, hoje, é um casarão, a mais antiga construção, que inclusive contrasta bastante com a Escola, que está logo ao lado.

Foto 9 – Escola municipal e casarão de pau-a-pique. Vila de São José dos Lopes, Lima Duarte – MG. 12

www.casaartevida.org.br

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A Vila do Mogol é um dos distritos mais afastados e de menor acesso. O ônibus da prefeitura passa por lá no dia 8 e no dia 20 de cada mês. Porém, se dias 8 ou 20 cairem no sábado ou domingo, o ônibus vai só na segunda-feira. Se chover, os moradores nem esperam. Na Vila do Mogol, a comunidade tem a igreja como referência. Porém esta instituição não é o bastante para manter a identidade local, principalmente porque as missas são raras. Os habitantes locais, em sua maioria, têm uma idade avançada. As crianças, são apenas cinco. A população do Mogol, hoje, está entre 15 a 20 pessoas. Isto é justificado quando se coloca os números da evasão que existe no arraial desde os anos 70. A comunidade sempre foi pequena, com 20 famílias, aproximadamente. Atualmente, 8 famílias venderam suas casas e saíram do arraial. A vila possui um comércio: ―Bar do Mogol‖. Possui apenas um posto médico. O médico só visita a comunidade uma vez por mês. A escola está fechada há mais de um ano, as crianças frequentam a escola de Lima Duarte. Dona Rita acha que na comunidade falta união. Mas também acha que as mudanças boas em São José dos Lopes dependeu de iniciativas privadas (os idealizadores da Casa Arte Vida). São três comunidades diferentes entre si, distantes uma da outra, todas com o isolamento geográfico que se mostra necessário neste estudo. Uma delas será objeto de intervenção da parte propositiva deste trabalho.

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CAPÍTULO IV E FIM DE PROSA Por ora...

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1.

A armadilha do não-Lugar

LIMA JUNIOR (2007, p.185) coloca a importância patrimonial que vilas e comunidades (naquele caso, o de vilas de pescadores), como um conjunto, apresentam, e propõe o tombamento como uma forma de protegê-las: Outra vertente de ação, a se analisar no futuro próximo é o tombamento como bem cultural, de algumas vilas e comunidades. Há motivos sólidos para se pensar em tombamento pois, como cultura, os ajuntamentos de pescadores pelo litoral nordestino são muito expressivos no sentido de preservação de memória e trabalho artesanal. Esse processo pode gerar apoio financeiro ou investimentos para o desenvolvimento da pesca artesanal, fiscalização mais rigorosa dos agentes invasores e um maior comprometimento social por parte dos governos com tais grupos.

Porém, deve-se pensar que a legislação patrimonial ainda tem graves falhas que precisam ser revistas. E um processo como este não pode ser massificado. A especificidade de cada região, de cada grupo social, e seus próprios sujeitos atores devem determinar como o processo poderá se dar. DA COSTA (2012, p.19): Só na segunda metade do século XX as manifestações populares começaram, gradualmente, a serem vistas como bens patrimoniais em si, sem que a matéria fosse necessária para lhes darem corpo. É digno de nota, de acordo com Sant’anna (2003), que essa prática de preservação não tem origem primária na Europa, mas em países asiáticos e no então chamado Terceiro Mundo, cujo patrimônio, em grande medida, é constituído das criações populares, menos importantes na materialidade, sendo vinculadas diretamente ao conhecimento popular, a práticas populares e processos culturais. No Oriente, mais importante que conservar os

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objetos do passado, testemunhos de processos históricos e culturais pretéritos, é preservar e transmitir o saber que produzem, buscando e permitindo a permanência desse savoir-faire no presente.

Se não o conjunto cultural, pelo menos a arquitetura popular pode ser objeto de preservação, o saber popular, as técnicas. Além de outras manifestações populares, como a culinária, danças e festas. Este incentivo é esssencial. Trecho da Carta de Veneza, Artigo I: O conceito de monumento histórico abrange não só os trabalhos de simples arquitetura, mas também o enquadramento urbano ou rural onde se encontram as evidências de uma civilização em particular, um desenvolvimento significativo ou um acontecimento histórico. Isto aplica-se não só às grandes obra de arte, mas também a obras mais modestas do passado que adquiriram significado cultural com a passagem do tempo.

Com certeza, o tombamento de comunidades, como bem cultural, é uma hipótese que não deve ser descartada. No entanto, fazer um museu que interprete o passado e uma identidade morta não colabora com o processo. É necessário dar continuidade a uma identidade que se modifica, evolui, permitir a evolução pelos próprios atores desta identidade. Por outro lado, outra ideia que já não é nova, é a de se acompanhar uma comunidade com profissionais de diversas áreas, propor ofícios e oportunidades de trabalho. Porém, normalmente, este trabalho associado à preocupação com tradições e patrimônios é algo que não ocorre. A prioridade de um serviço social, normalmente, não é a preocupação cultural. Óbvio que, quando se coloca a sobrevivência de pessoas, no sentido mais drástico da palavra, as prioridades passam a ser as básicas. Mas a democracia não pode ser apenas básica.

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Quando se fala de autoconstrução em favelas, a utilização de materiais de baixo impacto fica em segundo plano. Se torna uma hipocrisia cobrar de pessoas que lutam diariamente por sua sobrevivência que construam de forma correta, que se preocupem com o meio-ambiente, sendo que o estado não permite que elas tenham o que é básico na cidade. Porém, cobrar do estado e do construtor apenas o básico é demagogia. Pois o mundo é um organismo vivo e interdependente, e construir corretamente é uma obrigação. Muitas vezes, propõe-se, para a reconstituição da identidade de comunidades, a instalação de centros comunitários, que disponibilizam oficinas e atendimento profissional em diversas áreas. Porém, o que muitas vezes não se coloca nesta iniciativa, é que a própria comunidade é e deve ser responsável por sua identidade. Este assistencialismo e a imposição de ofícios que não são inerentes à cultura local não só não colaboram para a manutenção da cultura, como também a homogeneiza. Estes centros comunitários são não-lugares. A busca por instrumentos de incentivo à cultura popular pode fazer a diferença para a democratização das cidades, estendendo esta preocupação aos moradores da área rural, que possuem uma cultura rica e tradicional que, em alguns lugares, ainda se mantém quase intacta.

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2.

O sujeito como resposta para a sociedade

Como colocado anteriormente, somente os cidadãos da cidade podem fazer a diferença. E somente quem vive a realidade imediata dos problemas podem mostrar o que fazer. Nós, profissionais, devemos permitir que isto aconteça e nos preocupar a não, mais uma vez, impôr a cultura que recebemos ou que nos acostumamos a aceitar. Como diz Marc Augé ―o social, começa com o indivíduo‖, (p.21): A individuallidade, no sentido que Marcel Mauss explica, é uma individualidade representativa da cultura, individualidade tipo. O indivíduo tipo é uma expressão da sociedade com a qual se identifica. Individualidade síntese, expressa de uma cultura considerada, ela própria, como um todo.

AUGÉ coloca esta individualidade de Marcel Mauss em contraponto com a individualidade pós-moderna que isola o indivíduo de uma sociedade, mesmo que ele esteja conectado ao mundo inteiro. Esta individualidade tipo caracteriza um sujeito que realmente atua na sociedade. O indivíduo não é estático, assim como não o é a identidade. E só de certa perspectiva que exprimem a totalidade (AUGÉ, 2005, p. 23). O construtor do interior de Minas é este sujeito que procuramos, que possui esta individualidade tipo que pode contribuir com seu grupo. Ele é a síntese desta cultura que precisa ser resgatada e fortificada. Ele precisa ser fortificado e multiplicado. No livro Arquitetura Nova, Pedro Fiori Arantes, coloca (p.134): O lá, por ser um advérbio de lugar, também implica um novo espaço. Lugar de uma nova ―cultura urbana‖, que seja ―do povo‖ e feita ―pelo povo‖, lugar a ―ser inventado‖ da forma que quisermos. É também um espaço em transição, do rural para o urbano,

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imagem do que poderia ser a periferia da grande cidade se construída de uma forma coletiva e organizada. Rodrigo (Lefèvre) quer que a cultura rural também atinja a urbana para formar uma nova cultura, ao mesmo tempo popular, artesanal, solidária e científica, industrial, de massas. Sujeitos e sociedade reinventados, espaço e natureza repensados, como lugar de uma nova arquitetura democrática.

As recentes manifestações iniciadas em maio de 2013, em São Paulo, com o Movimento Passe Livre, e logo após, que se desenvolveram em mega-manifestações por todo o Brasil, com milhões de brasileiros às ruas, evidenciam a crise urbana de que o país vem sofrendo. Em um primeiro momento com o foco nas deficiências do transporte público, e em segundo momento expandindo para outros grandes problemas urbanos: as deficiências da saúde, da educação, moradia, infraestrutura, dentre outros problemas que se mostraram com uma mesma raiz: a má distribuição dos recursos públicos. Os mesmos problemas que vemos nos centros urbanos, nas periferias, no interior. As passeatas confundiram mídia e poder público, porquanto não aparecia em nenhum momento apenas um líder, apenas um partido político, apenas um movimento. Na verdade, as pessoas estavam ali justamente se colocando como um todo, apartidário, questionando este sistema burocrático que não resolve os problemas do nosso dia-a-dia. Galeano exprime sua indignação e a de tantos jovens do mundo com este sistema que não representa e não vê as pessoas como elas são e seus problemas diários. ―Esse mundo de merda está grávido de outro‖, diz ele, com esperanças. Este foi o momento de revisão de conceitos. Auto-gestão, ausência de hierarquia, emergência de problemas e soluções, processo participativo, coletividade. Com o fortalecimento do terceiro setor, os problemas que antes o Estado não conseguia identificar, agora poderão ser identificados e solucionados. As ações das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

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(OSCIP) ficam portanto independentes dos entraves burocráticos da dirigência do Estado. É um dos meios de que todo cidadão brasileiro já dispõe de exercer sua autonomia e seu dever democrático, atuando em coletivo, sem líderes. Somente o cidadão detecta e identifica problemas pelos quais passa diariamente. Algo que o estado, como máquina, nunca poderá fazer. Segundo FERRAREZI (2002, p.10): Se a Sociedade Civil quer alcançar a sua maioridade política - e não ser tutelada pelo Estado, e não ficar a vida toda sendo encarada como dominium do Estado - ela deve caminhar para sua própria emancipação, em primeiro lugar consolidando e legitimando uma nova institucionalidade que a reconheça como sujeito político e como ator social e, em segundo lugar, construindo sistemas de financiamento público sustentáveis para desenvolver suas atividades públicas.

A tendência é que a sociedade amadureça como um todo, se conscientizando e se colocando como sujeito político de fato no sistema social contemporâneo. Os indivíduos possuem, portanto, meios de exercer uma autonomia, com o apoio do estado. Esta falta de incentivo, políticas públicas federais não conseguem detectar ou solucionar. São questões regionais e específicas para cada região. A região de Lima Duarte possui indíviduos com forte potencial modificador, que já são atores e já materializam suas soluções de mundo. Este potencial deve ser redirecionado para a solução de problemas coletivos, e para a manutenção da memória coletiva. Não há outra maneira senão a iniciativa civil. Mesmo que com o finaciamento do estado. E é claro que a colaboração dos técnicos, como o arquiteto, é essencial para que aconteça esta união de atores em prol da coletividade.

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3.

E fim de prosa As lembranças pessoais, de cada um de nós, estão referenciadas no espaço. Todos nós temos nossas paisagens da infância no coração. Os lugares que levamos em nós mesmos são nossas ilusões de eternidade. As mudanças bruscas nessas paisagens, nesses lugares, nos arranca a nossa identidade pessoal. Marc Augé, em entrevista à ArtFliporto

Um paralelo agora é traçado. Digamos que o construtor mineiro está para a comunidade assim como sua personalidade está para a identidade desta comunidade. À medida que ele manifesta sua personalidade, materializando-a em seu ofício, a identidade de sua comunidade é afetada. Assim como o construtor constroi seu lar, porque precisa dele, porque seu lar é seu castelo, sua proteção, seu recanto, um grupo social constroi signos que o rerpresentam, automaticamente. Como colocam GAUDÊNCIO e GAUDÊNCIO, ―Tudo isso porque um sujeito sem casa é um sujeito sem centro – e um sujeito sem centro será um sujeito?‖. E BOTTON (2007, p. 107) complementa: ―Precisamos de um lar no sentido psicológico tanto quanto no físico: para compensar uma vulnerabilidade. Precisamos de um refúgio para proteger nossos estados mentais, porque o mundo em grande parte se opõe às nossas convicções.‖ A princípio, a proposta é uma centralidade identitária. Esta proposta pode se desdobrar em um centro comunitário, ou em construções de moradias, ou em construções de equipamentos, ou em uma reurbanização completa, que partiria de diretrizes colocadas pela comunidade. Uma proposta à comunidade, para ser realizada pela comunidade. Este espaço, edifício ou comunidade será a ―casa‖ do mineiro, traduzindo não um mineiro, mas este povo, seus costumes, sua cultura, relembrando seu passado e apoiando seu presente. Possibilitando seu futuro. Uma comunidade feita pelos sujeitos que a constituem. Gerida e mantida por

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eles, como sempre deveria ser. Proposta pela coletividade desde o projeto até aos produtos que serão gerados a partir dele. Que se desenvolva de acordo com o desenvolvimento da própria comunidade. Não produzindo uma identidade, mas sim sendo, em si, um produto da identidade. A proposta é projetar participativamente, pois a comunidade é quem deve dar as respostas ao arquiteto, que se torna apenas um guia. Neste sentido, colocar um projeto para o coletivo antes de uma leitura comunitária não faz sentido. No entanto, o projeto participativo demanda tempo, pois depende do tempo da comunidade. Por outro lado, não se pode negar que qualquer trabalho deste tipo deva ser interdisciplinar. E o arquiteto deve reconhecer isto. Desta forma, o andamento do projeto também dependerá deste aspecto. É a possibilidade que se coloca, neste momento, como ―objeto subjetivo‖. Pois se não é demanda de uma comunidade, não fará sentido permanecer. Por fim, o caminho poderá ser traçado de formas inesperadas, pois a proposta, na verdade, é que os maiores interessados proponham de acordo com o que for apresentado a eles. Assim, este trabalho é informativo, a princípio, mesmo que tenha intenções claras, e representa apenas um primeiro passo.

Eu quero carneiros e cabras Pastando solenes no meu jardim Eu quero o silêncio das línguas cansadas Eu quero a esperança de óculos E meu filho de cuca legal Eu quero plantar e colher com a mão A pimenta e o sal Eu quero uma casa no campo Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé Onde eu possa plantar meus amigos Meus discos e livros e nada mais Tavito / Zé Rodrix - Casa no Campo

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