TFG - Região da Rua 25 de Março: Requalificação e conexão

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gabriela geraldelli tocalino silva

REGIÃO DA RUA 25 DE MARÇO

requalificação e conexão



CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO arquitetura e urbanismo

REGIÃO DA RUA 25 DE MARÇO

requalificação

e

conexão

trabalho final de graduação

aluna:

Gabriela Geraldelli Tocalino Silva professor orientador:

Ricardo Ruiz Martos

São Paulo 2018



GABRIELA GERALDELLI TOCALINO SILVA

REGIÃO DA RUA 25 DE MARÇO

requalificação

e

conexão

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Belas Artes de São Paulo como requisito parcial para o obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

São Paulo 2018




AGRADECIMENTO À minha família, em especial meu pai Julio e minha mãe Gislene por todo apoio, por me proporcionarem esses anos incríveis, pelo conhecimento transmitido e principalmente por me incentivarem desde cedo no mundo da criatividade, pois sem isso não teria chegado onde cheguei. Aos queridos colegas que me aguentaram firme nesses 5 anos de curso, em especial aqueles em que terei somente boas lembranças e recordações pelo resto da vida: Jaqueline Ruivo, amiga de longa data que foi essencial para que eu estivesse aqui; Beatriz Cesar, minha companheira geminiana de risadas e mudanças de humor; André Déstro, dono das melhores piadas e tiradas que ouvi nos últimos anos; Vitor Roma, a pessoa mais “sussa” que eu conheço; Julia Paulon, a querida “mãe” do grupo que aguentou nossas zoeiras; e, por fim, mas não menos importante, meu querido amigo Vinícius Ferreira, companheiro de conversas, projetos e conspirações sobre a vida. Aos amigos de longa data que nos últimos anos só me ouviram falar da vida acadêmica e de termos técnicos: Nathana Rodrigues, Michelli Evangelista e Fernando Souza.

Ao querido Gabriel Sakai, pelo companheirismo e paciência nesses 5 anos, por estar sempre presente em todos os momentos, por toda ajuda e apoio principalmente nos períodos de tensão. Ao meu orientador beatlemaníano Ricardo Ruiz Martos, por todo conhecimento e experiência transmitidos, essenciais para que esse trabalho fosse concluído com êxito e entusiasmo. À todas as professoras e professores da Belas Artes pela contribuição na minha vida pessoal e profissional, em especial aqueles que me marcaram: o jovenzinho Flávio, pelas melhores aulas de plástica e pelas brincadeiras que poucos entendiam; ao Ivanir, por transmitir e inspirar toda a sua paixão pela profissão; a Aline, por todo conhecimento e pelo incentivo à fotografia e por fim, ao Marco Aurélio, por me apresentar o mundo do voluntariado. Aos queridos Ricardo Basílio, Rita Requena e Taís Amaral, por todo apoio nos momentos de dúvidas e questionamentos. À todos que participaram da minha formação acadêmica e torceram por mim.

MUITO OBRIGADA!


Como arquiteto, vocĂŞ projeta para o presente, com consciĂŞncia do passado, para um futuro que ĂŠ essencialmente desconhecido. Norman Foster


SUMÁRIO

1|

2|

3|

Questões globais

O local

O espaço público

1

Contexto urbano

29

A rua como cenário do espaço público

4

Análise do recorte

30

A importância de ruas comerciais na cidade de 5

Topografia

32

São Paulo

Uso e Ocupação do Solo

34

Tipologias de comércio

7

Fluxos

36

Veículos x pedestres

10

Tombamento

38

Processos de transformações urbanas

12

Gabaritos

40

Legislação

42

Operação Urbana Centro

43

Contexto histórico

4|

Formação da Rua: 1865 - 1920

14

Consolidação: 1930 - 1960

16

Expansão: 1970 - 1980

20

Transição: 1980 - 1990

22

Mundialização: 1990 - 2010

24

Processo projetual Diagnóstico

44

Estudo preliminar

46

Estudo preliminar: viário

47


5|

6|

7|

O projeto Sistema viário

49

Tipologias de viário

51

Ruas

52

Remembramento de lotes

58

Lote 1

60

Lote 2

80

Reflexões, limites, possibilidades

95

Bibliografia

97


Imagem 1: Ambulante faz propaganda de seu produto no encontro das Ruas Cavalheiro BasĂ­lio Jafet e Comendador Abdo Schain. Fonte: A autora.


CAPÍTULO 1 Questões globais


QUESTÕES GLOBAIS 1.O espaço público A compreensão e estudo sobre o conceito de espaço público podem conter significados diversos, considerando as diferentes análises que o configuram, sendo definido de acordo com a área com a qual se trabalha. Se analisado do ponto de vista filosófico, é associado à ideia de expressão do pensamento, manifestação de ideias, tendo relação assim com a prática da democracia (REGOS, 2017). Se visto a partir da definição sociológica, o espaço público se caracteriza por ser o local do encontro de indivíduos de diferentes ou da mesma comunidade, possibilitando o fortalecimento das relações coletivas no convívio social, lugar onde se desenrolam as interações sociais. (REGOS, 2017). Do ponto de vista jurídico, o espaço público é definido a partir dos conceitos de propriedade e apropriação, relacionado à esfera pública, das relações de poder e das formas que estas assumem na sociedade contemporânea. E, por fim, na análise urbanística, entende-se que o espaço público é um lugar aberto definido pelo desenho da cidade (REGOS, 2017). A noção de espaço público é de uso recente no urbanismo e não foi, até hoje, objeto de definição rigorosa. Considera-se espaço público a parte não construída de uma cidade, de domínio público e destinada ao uso público (REGOS, 2017). Imagem 2: Parklets: exemplo de espaço público em São Paulo. Fonte: mobilidadepinheiros.wordpress.com

1


A noção de público, não é específica a um espaço, mas sim uma construção social e política que resulta da combinação de diversos fatores, dependendo dos usos destinados; do sentido que é atribuído por um determinado grupo social; da acessibilidade; do encontro entre o “de fora” e o “nativo” e da discussão entre proximidade e distância física e social. Essa diferenciação entre espaço privado e espaço público tem como base o princípio de liberdade implícito no espaço público, tornando-o o lugar da discussão e reflexão (REGOS, 2017).

Por muitos anos, o espaço urbano foi negligenciado por arquitetos e urbanistas. Tal fato se deve ao conhecimento limitado a respeito da influência da cidade sobre o comportamento de seus frequentadores. A dimensão humana, as oportunidades de encontro e as relações cotidianas formam uma relação densa entre atores e cidade, se estabelecendo como guia para cidadãos e visitantes (GEHL, 2015). Para Hertzberg (2015) cabe ao arquiteto e urbanista deixar lacunas para que ocorra a interação entre os atores e o espaço público, melhorando a qualidade do mesmo. A ideia é alterar a compreensão de que as ruas são meros espaços voltados para a circulação, passando a serem vistas como verdadeiros locais de encontro. Tais espaços devem ser vistos explicitamente como de domínio público. O uso mais denso dos espaços públicos por parte da população é importante não só pela natureza desses ambientes, mas também pela reflexão de todos a respeito dos espaços públicos disponíveis. Acerca do tema, devem ser levantados os seguintes questionamentos: como, para quem, por quem e para qual objetivo eles funcionam? 2


Segundo Oliveira (s.d. apud Pelissari, 2017) é muito importante que exista um bom espaço público nas cidades, especialmente em áreas centrais que tradicionalmente são pontos de encontro e costumam ser os mais providos de infraestrutura, os quais atualmente se encontram em situação de abandono. A cidade não deve ser considerada como um problema, mas sim fonte e destino de recursos. Para Gehl (2015), construir o território urbano pensando nas pessoas resultará em cidade mais seguras, sustentáveis e saudáveis, portanto, a visão de cidades vivas tornou-se um desejo universal e urgente nas grandes cidades.

Imagem 3: Área pública utilizada como estacionamento para funcionários do metrô. Fonte: Gestão Urbana SP.

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Imagem 4: Projeto Centro Aberto: reconquista de uma área pública cercada no Largo São Bento. A retirada das grades e a implantação do mobiliário atendeu à necessidade de áreas de estar e de permanência. Fonte: Gestão Urbana SP.


QUESTÕES GLOBAIS 1.1. A rua como cenário do espaço público Se levarmos em conta que entre 25% e 30% da superfície das cidades corresponde às ruas é possível concluir que se trata de um tema de muita relevância. A rua é o lugar do deslocamento, do encontro, do comércio, da habitação, do intercâmbio, da comunicação e, sempre, da conciliação de interesses diversos (BORTHAGARAY, 2010). No conjunto urbano, a rua é o lugar que situa um indivíduo num determinado território. A rua é um espaço de todos e para todos; uma condição urbana. Muito mais do que delimitações físicas que constituem o tecido urbano, as ruas são espaços que carregam identidade e significados de uma vida em sociedade (BORJA, 2005).

Imagem 5: Avenida Paulista, São Paulo. Fonte: A autora. No transcurso de um único dia é possível presenciar que as ruas da cidade são tomadas por passos com ritmos diferenciados, com destinos diferentes. Os usos da cidade vistos através da rua permitem perceber os tempos simultâneos. Ela guarda múltiplas dimensões (CARLOS, 1996, p.88).

Uma das principais responsabilidades do urbanismo atualmente é produzir espaços públicos que proporcionem boas relações entre os elementos construídos e as múltiplas formas de mobilidade e de permanência das pessoas. Assim, o espaço público é concebido também como um espaço de redistribuição social, de coesão comunitária e de autoestima coletiva, formado a partir de vontades coletivas (BORJA, 2005). 4


QUESTÕES GLOBAIS 1.2. A importância das ruas comerciais na cidade de São Paulo O desenvolvimento das cidades sempre esteve ligado a atividade comercial. A consolidação dos núcleos urbanos acontece a partir do cruzamento de extensos fluxos de mercadorias e correntes de comércio no território e, ao mesmo tempo, a própria atividade comercial é intensificada no interior desses núcleos devido ao crescimento do mercado consumidor e da presença de pessoas com recursos relacionados a esta atividade (CALDANA, 2017.)

A diversidade comercial é, em si, imensamente importante para as cidades, tanto social quanto economicamente. [...] onde quer que vejamos um distrito com um comércio exuberantemente variado e abundante, descobriremos ainda que ele também possui muitos outros tipos de diversidade, como variedade de opções culturais, variedade de panoramas e grande variedade na população e nos frequentadores (JACOBS, 1961, p. 162).

Imagem 6: Região do Brás, São Paulo – SP. Fonte: g1.globo.com

É notório o crescimento exponencial nas últimas décadas dos shoppings centers, deslocando os centros de atividades do comércio e serviços para espaços que se isolam por completo das cidades e da vida urbana, tirando vantagem de sua localização, mas não retornando a ela nenhum benefício (CALDANA, 2017).

Imagem 7: Shopping Aricanduva: exemplo de falta de relação com entorno e isolamento da vida urbana. Fonte: aricanduva.com.br

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Os polos comerciais de rua são locais mais democráticos, já que os custos de abertura de uma loja tendem a ser inferiores aos de um shopping center. Isso permite a empresas familiares e pequenos empreendedores obter uma fonte de renda formal. Além disso, tendem a dinamizar a região em seu entorno, valorizando a comunidade e trazendo mais recurso. Por último, todas essas questões permitem que a população da região dos polos comerciais se beneficie e tenha acesso a uma multiplicidade de produtos (PARENTE; MIOTTO; BARKI, 2007).

Ao atrair público consumidor de todas as classes sociais, as lojas da rua têm o maior valor imobiliário da cidade, tanto para locação comercial, como para venda dos seus imóveis, superando inclusive outras importantes ruas comerciais, como as ruas José Paulino e Oscar Freire e a Avenida Paulista. Esses números não são uma exceção histórica, pois a rua 25 de Março manteve-se à frente de todos os polos comerciais de rua por muito tempo (OLIVEIRA, 2009).

Ainda que a competição com os shopping centers seja grande, o comércio de rua sobrevive, se mantendo como maior empregador e considerado de grande importância para grande parte da população no país. As ruas de comércio são também catalizadoras da integração entre as áreas públicas e privadas na cidade. Atualmente, a integração dos espaços públicoprivado precisa ser trabalhada, após décadas de planos que priorizaram o uso do veículo individual e promoveram a “modernização e crescimento” sem medir as consequências que impactam negativamente os tradicionais centros do comércio (CALDANA, 2017). Segundo Cesarino e Caldana (2017), em relação ao processo de esvaziamento dos centros tradicionais e a mudança das áreas comerciais para outras localidades - como a região da Av. Brigadeiro Faria Lima - a rua 25 de Março pode ser considerada uma exceção; uma vez que sofreu inúmeras adaptações e modificações sem a perda de sua relevância como polo de compras, mantendo sua importância histórica na cidade de São Paulo.

Imagem 8: Rua 25 de Março. Fonte: A autora.

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QUESTÕES GLOBAIS 1.3. Tipologias de comércio Os polos comerciais de ruas podem especializar-se no tecido urbano de maneira linear ou polar, podendo ser ou não especializados e de âmbito local ou regional.

As ruas podem ser classificadas considerando sua tipologia física, o público alvo e a sua inserção na malha urbana. As classificações podem ser baseadas no deslocamento exigido do consumidor (conveniência, preço, rotina) ou pela diversificação de produtos (especializado ou não especializado; seleção assistida ou autosserviço, etc.). No entanto, o comércio em geral tem sido tradicionalmente classificado de acordo com a sua localização (OLIVEIRA, 2006).

Imagem 9 Rua Direita, São Paulo: exemplo de Centro Comercial Não Planejado. Fonte: commons.wikipedia.org

Imagem 10 Shopping Ibirapuera: exemplo de Centro Comercial Planejado. Fonte: varejo.espm.br

I. Centro Comercial Não Planejado: são centros que evoluíram com o crescimento da cidade e aproximaram-se dos consumidores. Geralmente seguem o crescimento das áreas residenciais e de transporte público (OLIVEIRA, 2006). II. Centro Comercial Planejado: são os centros minuciosamente planejados, compostos de várias unidades complementares, conhecidos como shoppings centers (OLIVEIRA, 2006). III. Lojas Isoladas: estão inseridas em locais estratégicos a fim de atingir consumidores de públicoalvo. Não possuem necessariamente outro comércio ou serviço em seu entorno (OLIVEIRA, 2006).

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Imagem 11 Telhanorte: exemplo de Loja Isolada. Fonte: botecodesign.org


Tabela 1: Tipos de comĂŠrcio Fonte: Oliveira, 2006.

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Imagem 12: Bom Retiro, São Paulo. Fonte: Raquel Cunha/Folhapress

Uma outra maneira de classificar a atividade comercial de acordo com a sua espacialização, indicada por Silveira Filho (2011), divide as ruas entre: Clusters: concentram ampla variedade de produtos devido a oferta de produtos e serviços complementares, o que gera maior atratividade para o consumidor. No geral, a concorrência é mais acentuada do que em lojas isoladas. Encontram-se em áreas centrais, onde a interação entre o comércio e os serviços oferecidos se adiciona às várias atividades administrativas (SILVEIRA FILHO, 2011).

Imagem 13 Largo Treze, Santo Amaro, São Paulo. Fonte: encontrasantoamaro.com.br

Polos Comerciais: além dos polos tradicionais, há o crescimento das zonas comerciais de bairros, que são polos localizados em cruzamentos e vias de intensa circulação, com presença de transporte coletivo. Estes replicam, em escala menor, o comércio e os serviços encontrado no centro das cidades (SILVEIRA FILHO, 2011). Arenas de Comunicação com o Mercado: esses centros comerciais geralmente possuem caráter temporário ou móvel, como convenções, feiras, eventos ou megashows, servindo para um público-alvo pré-determinado (SILVEIRA FILHO, 2011). Ruas Especializadas: ruas que oferecem produtos similares e serviços complementares. Estas ruas possuem atração regional e até nacional (SILVEIRA FILHO, 2011). Ruas Comerciais: estas são as ruas de bairro em que comércio serve à população local. É o conhecido “comércio de vizinhança”, de pequeno porte e “familiar” (SILVEIRA FILHO, 2011). 9

Imagem 14 : ExpoRevestir, São Paulo. Fonte: abravidro.org.br

Imagem 15: Rua São Caetano: rua das noivas, São Paulo. Fonte: especial.folha.uol.com.br

Imagem 16: Rua Normandia, São Paulo. Fonte: fotografia.folha.uol.com.br


QUESTÕES GLOBAIS 1.4. Veículos x pedestres Para Jacobs (2014), durante o período moderno houve uma preocupação exagerada dos arquitetos em relação aos veículos, acreditando que resolvidos os problemas dos fluxos estariam resolvidos os problemas das cidades. “[...] o tráfego pesado de carros não coexiste pacificamente com os usos da cidade como lugar de encontro e comércio.” (GEHL; GEMZOE, 2002). Segundo Januzzi (2006), a criação de uma rua de pedestres visa a otimização da qualidade do meio, de forma a criar uma estrutura ideal para pedestres e tornar mais agradáveis o local e suas instalações. A área de pedestres pode compreender diversas ruas – nesse caso, formando uma zona de pedestres – ou ser formada somente por uma rua selecionada, com a possibilidade de fragmentação da mesma, por meio de ruas que apresentem tráfego de veículos.

Imagem 18 : Recuperação do espaço público a favor dos pedestres: Broadway Avenue, Times Square, New York, 2007. Fonte: amc-archi.com A iniciativa de ser criar uma rua de pedestres está relacionada na maioria das vezes com o favorecimento às compras, atraindo clientes. A diversificada oferta de mercadorias e serviços, a criação de um ambiente agradável e de atrativos voltados para o público em horários diferenciados, são medidas que podem representar satisfação aos usuários e resultar em rentabilidade aos investidores (JANUZZI, 2006, p. 115).

Imagem 17 : Avenida Paulista, em São Paulo, aberta para pedestres e ciclistas aos domingos. Fonte: mobilidadesampa.com.br

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Quanto à retirada de veículos do espaço público, sabe-se que não há necessidade de sua aplicação integral, já que são conhecidos vários exemplos em que o uso do carro foi apenas desestimulado nos locais de intervenção, diminuindo consideravelmente a quantidade de veículos circulantes. O desafio está em reduzir a segregação entre os meios de locomoção, de forma a eliminar substancialmente os dispositivos controladores de trânsito e estabelecer a rua em um único nível, retirando a prioridade dos veículos, e promovendo entre seus atores a negociação de seu deslocamento através do espaço e do desenho urbano (JANUZZI, 2006).

Imagem 20: Rua 7 de Abril, São Paulo. Fonte: midiaindependente.o rg/pt/red/2005/10/33 2403.shtm

Imagem 21 : Projeto de intervenção na Rua 7 de Abril, agora de uso compartilhado (2015). Fonte: caminhadasurbanas. com.br

O desenho de ruas compartilhadas valoriza as construções, promove a liberdade de movimento, aumenta o capital social e a sensação de segurança dos habitantes. Este conceito também é responsável pela promoção de alterações no comportamento dos atores. Um motorista ao circular em uma área onde tal conceito foi aplicado, acaba enxergando a via de uma maneira diferente. A prioridade conferida aos pedestres por meio desta proposta acaba alterando a forma como o motorista decide conduzir dentro da área (JANUZZI, 2006). Imagem 19 : Rua compartilhada em Brighton, Reino Unido. Fonte: sightline.org

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QUESTÕES GLOBAIS 1.5.

Processos de transformações urbanas

A partir do século XX, o urbanismo passou a adotar práticas mais flexíveis de intervenções urbanas, procurando dar mais vitalidade aos espaços através de um conjunto de ações, combinando questões econômicas, sociais, funcionais e ambientais. As definições de reabilitação, requalificação, renovação, revitalização, ou refuncionalização vão sendo alternadas e/ou revistas ao longo da história, variando de acordo om o protagonista, a fase de implementação e seus agentes, além da imagem que o projeto pretende articular (CALDANA, 2017, p. 16).

Segundo Caldana (2017), os processos de transformação da cidade têm recebido diferentes denominações sob pontos de vista distintos, trazendo conceitos remetentes à origem e realidade temporal, local e social: Requalificação Urbana: Indica o processo conformado por ações que propõem a melhoria da qualidade ambiental de alguns setores urbanos, estabelecendo relação entre os processos de reprodução social do território e sua realidade como lugar de vida e de memória. Os projetos de requalificação não necessariamente implicam em expulsão, em muitos casos propondo intervenções mínimas para atingir os objetivos de sustentabilidade (CALDANA, 2017).

Revitalização Urbana: Propõe a dinamização do local, através dos elementos cultural, turístico e de consumo, utilizando-se de intervenções que podem incluir novas construções, reforma e embelezamento, retomando o efeito simbólico da memória histórica do lugar (CALDANA, 2017). Renovação Urbana: Projetos de modernização do território, incluindo mudanças formais, que implicam em demolição e novas construções em grande escala, rescindindo os laços dos oradores com o lugar e rompendo brutalmente as relações do tecido urbano original e de vizinhança (CHOAY; MERLIN, 1988 apud CALDANA, 2017). Reabilitação Urbana: Política urbana dirigida às áreas consolidadas da cidade, para a valorização de potencialidades sociais e econômico-sociais. O termo é utilizado para os processos que aconteceram na Europa nos anos 1950, com objetivo de melhorar as condições materiais dos espaços públicos e dos edifícios de determinadas áreas, mantendo a composição econômico social dos moradores (CHOAY; MERLIN, 1988 apud CALDANA, 2017).

Re-funcionalização e Retrofit: Re-funcionalização é o mecanismo de adaptação de um edifício (com uso inexistente ou considerado inadequado), permitindo seu reuso. Retrofit é o processo de modernização e readequação das instalações de um edifício que se encontra obsoleto (CALDANA, 2017). 12


Imagem 22: Encontro das Ruas Comendador Afonso Kherlakian e BarĂŁo de Duprat. Fonte: A autora.

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CAPร TULO 2 Contexto histรณrico


FORMAÇÃO

CONSOLIDAÇÃO

EXPANSÃO

Rua 25 de Março ou Rua dos Turcos: atacado de tecidos e armarinhos + pechincha como hábito cultural.

Venda de atacado com baixos preços + êxodo da indústria nacional para interior + produção vende produtos importados.

Localização estratégica: próxima ao Porto, ferrovia e Centro.

Indução de menor densidade residencial. Perfil terciário aumenta.

Deslocamento do eixo de investimento + novas centralidade + obsolescência das áreas centrais.

Saneamento e retificação e canalização de rios + abertura do Mercado dos Caipiras (1867) e Estações Sorocabana e Luz (1872/1901).

Plano de Avenidas. Grandes obras sanitárias + abertura do Mercado Novo (1933).

Expansão de transporte coletivo de massa + projeto de requalificação com pedestrianização e incentivo ao uso misto (1970) + restauração de edifícios históricos .

Estrangeiros na área central: portugueses, alemães ingleses, escravos africanos. Cresce a imigração de síriolibaneses.

Sírio-libaneses fundam indústrias têxteis em São Paulo + crescente migração de outros para suprir industrialização crescente.

Imigrantes chineses + mudança da indústria têxtil para o interior.

População de São Paulo

32 mil

a rua

Primeiras lojas com hospedagem + moradia acima. Crescimento de 5 para 500 lojas no período.

contexto urbano

1970 - 1980

intervenções e projetos

1930 - 1960

contexto socioeconômico

1865 - 1920

14

580 mil

3,7 milhões

5,9 milhões

8,4 milhões


1980 - 1990

1991 – 2000 - 2010

TRANSIÇÃO

MUNDIALIZAÇÃO

Crescimento das vendas a varejo + aumentos de informalidades + introdução do formato galeria.

Mudança na escala de importação (container), de vendas (galerias + internet) e diversificação dos produtos. O número de consumidores passa de 400 mil para 1,2 milhões.

Área central se transforma em nó de articulação e passagem + esvaziamento residencial com desvalorização imobiliária.

Dificuldade de acesso a zona central + ênfase nos projetos comerciais na região sudeste da cidade.

Cadastramento de camelôs + construção do Garage Park (1980).

Inúmeros programas: Viva o Centro (1991), Operação Urbana Centro (1997). Incentivo a moradia no centro pelo PDE 2002 e projetos: terminal turístico de compras (1993), projetos de revitalização e requalificação (2002, 2006, 2010, 2012 e 2014).

Perfil dos usuários e vendedores se transforma. Globalização dos produtos, consumidores e lojistas .

Aumento do comercio formal e informal das comunidades transnacionais + aumento significativo da população de origem chinesa trabalhando na região.

8,5 milhões

9,6 milhões

9,6 milhões

10,4 milhões

11,2 milhões

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CONTEXTO HISTÓRICO

Formação da Rua: 1865 - 1920 Conhecida como o “Caminho das Sete Voltas” e também por “Baixa de São Bento”, acompanhando o tortuoso curso do Tamanduateí, a atual Rua 25 de Março passa a ser chamada por esse nome a partir de 1865, em homenagem à data de publicação da Primeira Constituição do Brasil. A área alagadiça servia não só ao transporte fluvial e ao Porto da cidade (hoje no encontro da Ladeira Porto Geral com a Rua 25 de Março), como também aos moradores da região, às lavadeiras e aos animais (Figura 17) (CESARINO; CALDANA, 2017). Os produtos das chácaras lindeiras e litoral chegavam pelas águas do rio Tamanduateí, descarregadas no Anhangabaú, Mercado Grande e posteriormente no Mercado Dos Caipiras (Figuras 18 e 19). Até o início do século XX as embarcações atracavam no início da Ladeira Porto Geral, onde hoje começa a rua 25 de Março. A partir de 1848 inicia-se a retificação do Rio Tamanduateí e em 1867 a estrada de ferro Santos - Jundiaí é aberta, ao mesmo tempo em que o Mercado dos Caipiras é inaugurado.

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Imagem 23: Mapa de 1877. Saindo da sétima volta do Rio Tamanduateí, o Rio Anhangabaú (onde localiza-se hoje a rua 25 de Março) faz uma curva mais fechada a esquerda chegando na atual rua Florêncio de Abreu (chamada na época de Rua da Constituição) onde se localizava o porto (atual Ladeira Porto Geral). Fonte:.estacoesferroviarias.com.br/


A partir desse período, com inauguração das estações Luz e Sorocabana, em 1872 e 1901 respectivamente, a região passa a ser servida também pelo transporte ferroviário. Confirmando sua localização privilegiada, instaura-se definitivamente a atividade comercial como essência dessa região na cidade de São Paulo (CESARINO; CALDANA, 2017). O Mercado dos Caipiras, reformado em 1907 e demolido entre 1938 e 1939, foi substituído pelo novo Mercado da Cantareira, atual Mercado Municipal de São Paulo, localizado na Rua Cantareira. Este último foi construído em 1933, mas só é aberto com funções de entreposto comercial a partir de 1939 (AMARAL, 2009).

Imagem 24: Mercado dos Caipiras, 1910. Fonte: Instituto Moreira Sales

Imagem 25: Lavadeiras no Tamanduateí, 1910. Fonte: Instituto Moreira Sales – Fotógrafo: Vincenzo Pastore.

Imagem 26: Mercado dos Caipiras, 1910. Fonte: saopauloinfoco.com.br

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Segundo Fatorelli (2014 apud Cesarino; Caldana, 2017) a rua 25 de Março abrigava inicialmente apenas cinco lojas de armarinho e uma mercearia, abertas à rua e com hospedagem ou moradia no andar superior. Além dos escravos e portugueses, muitos estrangeiros habitavam a área, que já se firmava como ponto de chegada dos imigrantes da Europa e dos visitantes de várias regiões do país. Aumenta também a população de origem sírio-libanesa, estabelecendo seus negócios junto à moradia nos arredores da rua 25 de Março. No final da década de 1920, a rua crescera com a cidade – que possuía cerca de 580 mil habitantes – e possuía mais de quinhentas lojas (AMARAL, 2009). Muitos estabelecimentos comerciais acolhiam os viajantes e turistas, assim como os proprietários lojistas em seus andares superiores. A loja Doural (Figura 21), fundada em 1905, é um dos exemplos do comércio tradicional mantido por sírio-libaneses até a atualidade, apesar da expansão dos negócios por outras regiões da cidade (CESARINO; CALDANA, 2017).

Imagem 27: Mercado dos Caipiras, 1910. Fonte: Instituto Moreira Sales

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Imagem 28: SĂ­rios libaneses em frente a loja Doural. Fonte: Instituto Moreira Sales.

Imagem 29: Loja Doural, 2018. Fonte: A autora.

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CONTEXTO HISTÓRICO

Consolidação: 1930 - 1960 Nos anos 1930 a rua é conhecida como “Rua dos Turcos”, devido à população imigrante da área, de origem síria e libanesa, além de árabes, armênios e persas. Os “turcos” da época eram comerciantes que exploravam o mercado de importação de tecidos, alguns como “mascates” (cerca de 90% dos mascates era de origem sírio– libanesa em 1893), outros como vendedores ambulantes, sendo esses últimos os que se fixaram na rua 25 de Março. As dificuldades e preconceito que os “mascates” sofreram naquele período pode ser comparado ao que sofrem hoje os camelôs da mesma rua (KARAM, 2006). A rua 25 de Março torna-se o maior entreposto têxtil do Brasil, atuando como intermediária entre as manufaturas nacionais e os comerciantes de todo o país. Com vendas de produtos têxteis no atacado e também de alimentos, os sírio-libaneses eram, na década de 1930, proprietários de mais da metade dos estabelecimentos comerciais de varejo e atacado na cidade. Famosos por sua esperteza para o negócio, estabeleciam a prática da pechincha e da barganha, que até hoje é característica da área (CESARINO; CALDANA, 2017).

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Imagem 30: Mascate na rua 25 de março. Fonte: YAZBECK, 2015.


Segundo Karam (2016 apud Cesarino; Caldana, 2017) a ideia da liquidação dos produtos surgiu por volta dos anos 1960 quando houve uma grande enchente na região (Figura 23), deteriorando grande parte do estoque. Os comerciantes, para recuperar o prejuízo, recorreram às vendas por atacado das mercadorias, oferecendo grandes descontos. Diz-se que desde então estabeleceuse ali a prática da barganha (OLIVEIRA, 2009). Ainda na década de 1930, o Plano de Avenidas e as grandes obras viárias executadas pela Prefeitura de São Paulo estimularam o espraiamento. A diminuição do coeficiente de aproveitamento dos lotes centrais induziu também a diminuição da densidade residencial na região central da cidade (SOMEKH, 1997). Verticaliza-se assim a ocupação das terras ao longo dos principais eixos de circulação e expande-se a área de ocupação da cidade (CESARINO; CALDANA, 2017). Como consequência, o perfil terciário da região central aumenta progressivamente acompanhando o crescimento populacional, que em 1960 atinge 3,7 milhões de habitantes (OLIVEIRA, 2009). . Segundo Khouri (2013 apud Cesarino; Caldana, 2017) até a década de 1960, a maior parte dos proprietários de comércio muda-se gradativamente para outros bairros (Vila Mariana, Ipiranga e Paraíso) e a região da rua 25 de Março termina por não se consolidar como um bairro residencial para a comunidade sírio-libanesa.

Imagem 31: Alagamento na rua 25 de Março. Fonte: saopauloinfoco.com.br/

Imagem 32: Plano de Avenidas de Prestes Maia, década de 1930. Fonte: noticias.uol.com.br

21


CONTEXTO HISTÓRICO

Expansão: 1970 - 1980 Durante as décadas seguintes, a rua 25 de Março expandiu a venda de produtos nacionais, além de reintroduzir, a partir dos anos 1980, a venda de produtos importados da China e Paraguai, o que gerou competitividade com as mercadorias nacionais (KARAM, 2006). Após muitas indústrias nacionais se mudarem da capital para o interior, o que dificultou mais a competição e encareceu os produtos, notou-se a mudança no perfil das lojas com novos tipos de produtos e trabalhadores imigrantes (CESARINO; CALDANA, 2017). O processo de consolidação das novas centralidades, iniciado na década de 1960, acentua-se em direção à zona oeste de São Paulo e, apesar das mudanças de legislação de ocupação do solo e aumento do coeficiente de aproveitamento, o zoneamento da região central permaneceu incentivando a verticalização na zona sudoeste (SOMEKH, 1997). Como consequência, acelera-se ao mesmo tempo o processo de deterioração da região do baixo centro e diminui-se a fiscalização dos estabelecimentos comerciais formais, com aumento do comércio informal (CESARINO; CALDANA, 2017).

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Imagem 33: Rua 25 de Março, década de 1970. Fonte: fotografia.folha.uol.com.br

Vários projetos de reurbanização são realizados afim de recuperar a vitalidade e economia da região central, no vale do Anhangabaú e Parque Dom Pedro II, além de restauro e retrofit de edifícios históricos, acompanhados também da criação de áreas exclusivas para pedestres (SILVA, 2005).


Imagem 34: Construção da Estação São Bento. Fonte:

Segundo Oliveira (2010 apud Cesarino; Caldana, 2017) contribui ainda com esse esforço de repopular o centro, a expansão das linhas de transporte coletivo de massa, incluindo metrô e ônibus, com linhas diretas que levam a todas as regiões da cidade e se conectam com os subúrbios da capital. É também dessa época um dos primeiros projetos que propunha a requalificação da rua 25 de Março, por meio de melhorias no ambiente do pedestre e do incentivo ao uso misto.

A rua 25 de Março resistiu às mudanças e adaptando-se às demandas do comércio além de se reforçar como lugar fundamental para a economia da cidade (CESARINO; CALDANA, 2017). 23


CONTEXTO HISTÓRICO

Transição: 1980 - 1990 A partir dos anos 1980, a rua 25 de Março passa por mais uma fase de mudanças. É nesse período que as vendas no varejo crescem, ainda que mantendo as vendas por atacado.

Ribeiro (2010 apud Cesarino; Caldana, 2017) relata que alguns dos tradicionais espaços comerciais adaptamse e grandes lojas são transformadas em galerias, as quais concentram seus negócios na revenda de produtos importados. Nos anos 1990, a informalidade do comércio se acentua na região com o aumento de camelôs e com a crescente comercialização de produtos importados da China e da Coreia, atendendo a busca pela diversidade de produtos e menores preços. Continuando o processo iniciado nas décadas anteriores, o centro velho de São Paulo consolida-se como nó de articulação da macroestrutura da circulação metropolitana. O poder público consolida esse processo com grandes investimentos no sistema de transporte coletivo na área central da cidade, expandindo a circulação em direção às áreas mais distantes.

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Imagem 35: Rua 25 de Março, década de 1980. Fonte: fotografia.folha.uol.com.br

No entanto, como resposta à demanda dos comerciantes e seguindo o modelo automobilista (que ainda define os termos de crescimento da malha urbana da cidade e, portanto, incentiva o transporte interurbano e os deslocamentos interurbanos sobre rodas), é construído o edifício Garagem Parque, que serve a região com seus 31 andares dedicados ao estacionamento para os consumidores (CESARINO; CALDANA, 2017).


Com a expansão de novas centralidades, reforçado pelo investimento no sistema viário, o uso residencial se transfere para outras áreas da cidade, deixando o centro com predominância de usos comercial e de serviços (SOMEKH, 1997). Nesse período há um aumento de imóveis vazios e subutilizados no centro e consequente desvalorização imobiliária. É nesse período que é criado o programa de cadastramento dos camelôs, a fim de conter a prática do comercial informal, com venda de produtos falsificados e ilegais de baixo preço trazidos pelos importadores e imigrantes (OLIVEIRA, 2010).

A história da Vinte e Cinco compõe interessante exemplo do processo de resiliência adaptativa nos centros urbanos. Nota-se que, durante esse período de transição, o perfil dos usuários se transforma; os negócios, seus protagonistas comerciantes e comerciários se diversificam; o espaço físico das lojas é reconfigurado para garantir que a rua consiga manter sua atratividade e sua vitalidade econômica. (CESARINO; CALDANA, 2017, p. 132).

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CONTEXTO HISTÓRICO

Mundialização: 1990 - 2010 Com a chegada do século XXI e a consolidação do modelo econômico “globalizado”, houve a transformação das escalas de importação e transporte de produtos. O abastecimento da região da rua 25 de Março passa a chegar ao Brasil em grandes containeres e os produtos são vendidos à uma massa consumidora que varia de 400 mil a 1,2 milhões de consumidores por dia. A diversificação e oferta aumenta e a venda passa a incluir também itens como acessórios, bijouterias, maquiagens, roupas e grande variedade de produtos eletrônicos para atender a crescente demanda. O espaço físico se adapta com lojas de rua, pisos superiores, shoppings (Figura 23), boxes e estandes e inicia-se também a venda pela internet (CESARINO; CALDANA, 2017). Com o crescimento da densidade de negócios e de público, somado ao problema da falta de investimentos públicos, os deslocamentos na região ficam cada vez mais difíceis. Nesse período são desenvolvidos inúmeros projetos de requalificação, em busca de soluções para acomodar a presença do automóvel; controlar ocupação do espaço público; implementar sistemas para garantir maior segurança aos consumidores; consolidar os camelôs em estruturas 26

Imagem 36: Rua 25 de Março, 2013. Fonte: fotografia.folha.uol.com.br

únicas; promover a pedestrianização da área e até mesmo criar um terminal turístico de compras. As propostas mais recentes (de 2002 e 2014) por parte da Prefeitura de São Paulo, buscam a requalificação da área para que o comércio tradicional se fortaleça e que haja o controle do comércio informal. Além disso, também se incentiva a volta do uso residencial na área central (CESARINO; CALDANA, 2017).


Segundo Piza (2012 apud Cesarino; Caldana, 2017) o contingente de imigrantes de origem chinesa que hoje trabalha na região da rua 25 de Março e redondezas é representante do fenômeno do transnacionalismo moderno, facilitado pelos avanços tecnológicos e maior facilidade de comunicação à distância. Levantamento recente da Univinco (associação de lojistas da região) mostrou que apenas 40% das lojas atualmente são administradas pelos árabes, que têm dado espaço cada vez maior aos chineses [...] nas galerias, o aluguel de um box chega a custar R$ 5 mil por mês. Nos corredores, o mandarim é a língua mais falada: esses espaços são ocupados majoritariamente por chineses. Há também a presença cada vez maior de restaurantes que oferecem comidas chinesas e muitos anúncios em mandarim pregados nas paredes. Mas, com os chineses, a conversa dificilmente evolui. Dizem que não falam bem o português ou simplesmente não respondem às perguntas (O GLOBO, 2016, n.p).

Imagem 37: Presença de chineses e coreanos cresce na região. Fonte: estadao.com.br

Nas décadas de 1970 e 1980, projetos com objetivos opostos se contrapõem: de um lado, o incentivo ao uso do carro, com a construção do Edifício Garage Parque; do outro, o programa de pedestrianização e expansão do sistema de transporte coletivo da área central da cidade. Em 2002, implementou-se um projeto de revitalização com enterramento da fiação elétrica e o alargamento das calçadas, o que, no entanto, não solucionou o conflito dos diferentes meios de transporte que continua presente até hoje, como se vê na proposta de 2014 da Prefeitura (Figura 33) - com consultoria do arquiteto dinamarquês Jan Gehl - quando se procurou novamente favorecer o ambiente do pedestre (CESARINO; CALDANA, 2017).

Imagem 38: Proposta do arquiteto Jan Gehl para a Rua 25 de Março. Fonte: catracalivre.com.br

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Imagem 39: Placa da rua 25 de Marรงo. Fonte: A autora.

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CAPÍTULO 3 O local


O LOCAL 3.Contexto urbano

sem escala

Município de São Paulo

A região da rua 25 de Março, localizada na prefeitura regional da Sé, em São Paulo, é hoje um dos maiores centros de compras a céu aberto da América Latina e concentra comércio de grande variedade. Localizada no centro histórico antigo, o que definiu sua morfologia e tipo de usos, o contexto urbano compreende edificações significativas como o Mercado Municipal, o Largo e Mosteiro de São Bento, Catedral da Sé, o Pátio do Colégio entre outros. A área de estudo compreende o perímetro delimitado pela Av. Prestes Maia, Av, Senador Queirós, Av. do Estado, rua General Carneiro e Rua Boa Vista. A região possui infraestrutura de transporte público, sendo a estação São Bento da Linha-1 Azul do metrô e o terminal de ônibus Pq. Dom Pedro II os modais mais utilizados para acessar o local.

Prefeitura Regional da Sé Perímetro de estudo 29


O LOCAL 3.1. Área envoltória

8 7 2

6

1.

Vale do Anhangabaú

2.

Largo São Bento

3.

Pateo do Collegio

4.

Praça da Sé

5.

Parque Dom Pedro II

6.

SESC Pq Dom Pedro II

7.

Mercado Municipal de São Paulo

8.

Mercado Municipal do Pari Av. Prestes Maia

1

Rua Florêncio de Abreu

5 3

Rua 25 de Março Av. do Estado Rio Tamanduateí Perímetro de estudo

4

Terminal Pq Dom Pedro II Metrô São Bento

Figura 40: Área Envoltória. Fonte: Google Earth.

30


O LOCAL 3.1.Análise do recorte TOPOGRAFIA

O local é bem definido por sua topografia, uma vez que o Rio Tamanduateí, antes de ser retificado, passava pela atual rua 25 de Março. A conformação das Ladeiras Porto Geral e da Constituição acentuam essa característica, pois possuem inclinação de até 22% e desnível de até 16 metros em relação a Rua Florêncio de Abreu e Rua 25 de Março. Por esse motivo também, nota-se a dificuldade de acessibilidade aos pedestres, uma vez o recomendado pela NBR9050 são rampas de no máximo 12% de inclinação para meios não motorizados e 20% para motorizados (PELISSARI et al., 2016).

Largo São Bento

Figura 41: Análise da topografia do local. Fonte: A autora

31


Figura 42: Degraus evidenciam a falta de acessibilidade da Rua da Constituição. Fonte: A autora

Figura 43: Rua da Constituição. Fonte: A autora

Figura 44: Ladeira Porto Geral. Fonte: A autora

Figura 45: Escadaria liga as Ruas Florêncio de Abreu e Carlos de Souza Nazaré. 32 Fonte: A autora


O LOCAL 3.1.Análise do recorte USO E O OCUPAÇÃO DO SOLO O uso comercial e de serviços é predominante na região. Há a presença de edificações de uso misto (comércios/serviços + habitação) nas proximidades da Avenida Senador Queirós.

Largo São Bento

comércio e serviços misto institucional Figura 46: Uso e ocupação do solo. Fonte: A autora

33


Imagem 47: Shopping 25 de Março, um dos comércios mais frequentados na região. Fonte: A autora

Imagem 48: Ambulantes. Fonte: A autora

Imagem 49: Rua Com. Afonso Kherlakian. Fonte: A autora

Imagem 50:Comércio na Rua Barão de Duprat. 34 Fonte: A autora


O LOCAL 3.1.Análise do recorte FLUXOS

Devido ao caráter comercial de abrangência nacional, a região hoje possui um alto fluxos de pessoas e veículos, principalmente em períodos sazonais. No geral, as ruas em análise são caracterizadas pelo conflito de pedestres e veículos, o que acontece de maneira mais intensa na Ladeira Porto Geral – devido à uma das saídas da estação São Bento - nas ruas 25 de Março, Conselheiro Basílio Jafet, Comendador Afonso Kherlakian. Após o período comercial, que vai das 7h às 18h, o cenário muda completamente. Com o fechamento das lojas, as ruas ficam vazias, o que acaba gerando insegurança na área.

fluxo intenso fluxo moderado fluxo leve Figura 51: Análise e fluxos. Fonte: A autora

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sentido da via (veículos)

A segurança contudo, depende também de trânsito ininterrupto de pessoas nas calçadas. Ruas vazias são mais inseguras, geram situações de tensão. Calçadas cheias aumentam a sensação de segurança. Aqui, mais uma vez, entra a questão da diversidade: a presença de gente nos espaços públicos ao longo de um dia inteiro só poderá ocorrer se houver usos diversos desses espaço, de modo a atrair pessoas diferentes. Cada grupo social tem suas rotinas e seus horários. Crianças saem para a escola em determinadas horas, trabalhadores vão aos escritórios, lojas abrem e fecham. À noite, bares atraem outros tipos de frequentadores. É por isso que a diversidade é um indicador de “saúde” na rua (CALLIARI, 2016, p.67).


Imagem 52: Conflito entre veículos e pedestres: fluxo intenso na Rua 25 de Março. Fonte: A autora

Imagem 55: Encontro dos fluxos da Ladeira Porto Geral e Rua 25 de Março. Fonte: A autora

Imagem 53: Esvaziamento da rua com o fechamento do comércio. Ambulantes recolhem suas bancas. Fonte: A autora

Imagem 54: Rua 25 de Março vazia após o período comercial. Fonte: Folha de São Paulo.

Imagem 56: Grande fluxo no encontro das Ruas Barão de Duprat e Com. Afonso Kherlakian. Fonte: A autora

Imagem 57: Metrô São Bento, Ladeira Porto Geral. 36 Fonte: A autora


O LOCAL 3.1.Análise do recorte

TOMBAMENTO

Por estar localizada no centro velho, a área possui uma quantidade significativo de edifícios tombados, em sua grande maioria localizados na Rua Florêncio de Abreu.

Largo São Bento

edifícios tombados Figura 58: Tombamento. Fonte: A autora

37


Imagem 59: Edificações tombadas: Fonte: A autora

Imagem 60: Casa Ferreira, na Rua Florêncio de Abreu, caracteriza a arquitetura dos anos 1930. Fonte: A autora

Imagem 61: À direita, a atual loja Armarinhos Fernando, edificação tombada. Fonte: A autora

Imagem 62: Edificações na Rua Florêncio de Abreu. 38 Fonte: A autora


O LOCAL 3.1.Análise do recorte GABARITOS

As edificações em sua maioria possuem altura de 7 a 20 metros, o que caracteriza a região central do município de São Paulo onde há presença de bens tombados.

até 6m 7 a 20m 21 a 36m Figura 63: Gabaritos. Fonte: A autora

39

37 a 45m + de 50m


Figura 44: Degraus evidenciam a falta de acessibilidade da Rua da Constituição. Imagem 64: Edificações na Rua Fonte: 25 de A autora Março. Fonte: A autora

Imagem 65: Encontro das ruas Barão de Duprat e Com. Afonso Kherlakian. Fonte: A autora

Imagem 66: Edificações mais altas na Rua Carlos de Souza Nazaré. Fonte: A autora

Imagem 67: Rua Barão de Duprat. Fonte: A autora

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O LOCAL 3.1.Análise do recorte LEGISLAÇÃO

A região é caracterizada em sua maioria pelo uso de comércio e serviços. Em relação ao zoneamento, a região é definida como ZDE – 2, que segundo o Plano Diretor Estratégico de São Paulo: Zona de Desenvolvimento Econômico 2 (ZDE-2): áreas que apresentam atividades produtivas de grande porte e vocação para a instalação de novas atividades de alta intensidade de conhecimento e tecnologia, além de usos residenciais e comerciais (SÃO PAULO, 2016, n.p)

Apesar de área em sua quase totalidade ser definida como ZDE-2, há um terreno localizado na rua Barão de Duprat definido como ZEIS-5:

ZDE 2 – Zona de Desenvolvimento Econômico 2 ZEIS 5 - Zona Especial de Interesse Social 5 Figura 68: Análise e fluxos. Fonte: A autora

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Operação Urbana Centro áreas públicas

São porções do território destinadas, predominantemente, à moradia digna para a população da baixa renda por intermédio de melhorias urbanísticas, recuperação ambiental e regularização fundiária de assentamentos precários e irregulares, bem como à provisão de novas Habitações de Interesse Social – HIS e Habitações de Mercado Popular – HMP a serem dotadas de equipamentos sociais, infraestruturas, áreas verdes e comércios e serviços locais, situadas na zona urbana (SÃO PAULO, 2016, n.p).


OPERAÇÃO URBANA CENTRO A Operação Urbana Centro foi criada com o objetivo de promover a melhoria e a revalorização da área central, para atrair investimentos imobiliários, turísticos e culturais e reverter o processo de deterioração do Centro (SÃO PAULO, 2016, n.p). Esta operação estabeleceu incentivos, mediante contrapartida financeira, à produção de novas edificações, à regularização de imóveis, à reconstrução e reforma das existentes para sua adequação a novos usos, e também estabeleceu condições especiais para a transferência de potencial construtivo de imóveis de interesse histórico (SÃO PAULO, 2016, n.p).

Lei da Operação Urbana Centro: objetivos e diretrizes urbanísticas Segundo São Paulo (2016), a Operação Urbana Centro incentiva a melhoria urbana e da qualidade de vida de seus atuais e futuros moradores por meio de diretrizes como: ▪ Incentivo à construção de habitações e de garagens; à recuperação e reciclagem de prédios públicos existentes na área central. ▪ Diversificação de usos, incentivando o uso habitacional e atividades culturais e de lazer. ▪ Estímulo ao remembramento de lotes e à interligação de quadras mediante o uso dos espaços aéreo e subterrâneo dos logradouros públicos; ▪ Ampliação e articulação dos espaços de uso público

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Imagem 69 : Falta de espaรงos de estar: comerciantes e funcionรกrios improvisam no horรกrio de descanso na Rua Comendador Abdo Schain. Fonte: A autora.

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CAPĂ?TULO 4 Processo projetual


PROCESSO PROJETUAL 4. Diagnóstico Sabe-se que polos comerciais são de grande importância na vida urbana devido à sua dinamização com o entorno e à integração entre as áreas públicas e privadas da cidade. Além disso, também deve ser destacada sua importância em questões econômicas por serem uns dos maiores empregadores no país. A rua 25 de Março, na cidade de São Paulo, recebe um fluxo de pessoas intenso durante todo o ano e é considerada como o maior centro de compras a céu aberto da América Latina. Cerca de 400 mil pessoas se deslocam até a região diariamente e, em épocas sazonais, o fluxo ultrapassa 1 milhão de pessoas, sendo grande parte vinda de outras cidades que buscam no local oportunidades de compras com variedade de produtos e bons preços (CESARINO; CALDANA JUNIOR, 2017). São aproximadamente 900 ônibus que chegam ao Terminal 25 de Março durante o mês de dezembro, com 600 passageiros por dia. O gasto médio dos compradores da região é de R$ 1.800 por dia, segundo estimativas da Univinco – União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências (AMARAL, 2009).

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Apesar desse significativo potencial econômico, a região não apresenta boas condições para uma vida urbana adequada, principalmente em relação aos pedestres. Os visitantes enfrentam inúmeras dificuldades, sendo essas relacionadas à circulação e ao conflito com veículos motorizados. As calçadas apresentam dimensões insuficientes, falta de manutenção, obstáculos e estreitamentos causados pela presença de barracas e ambulantes. Por esses motivos, os pedestres passam a utilizar o leito carroçável como passagem, o que não oferece segurança necessária. Além disso, por se tratar de uma área cujo uso é em sua grande maioria comercial, após o fechamento das lojas as ruas permanecem vazias e inseguras.


diagnóstico

diretrizes

COMPETITIVIDADE PELO ESPAÇO

DIFERENTES TIPOLOGIAS DE VIÁRIO

FALTA DE ESPAÇOS DE ESTAR/DESCANSAR

IMPLANTAÇÃO DE ÁREAS DE USO PÚBLICO

RUAS E CALÇADAS INACESSÍVEIS

NOVOS EIXOS DE CONEXÃO ENTRE RUAS

ESVAZIAMENTO DA REGIÃO APÓS O FECHAMENTO DAS LOJAS

IMPLANTAÇÃO DE NOVOS USOS NA REGIÃO

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PROCESSO PROJETUAL 4.1. Estudo preliminar Considerando as análises realizadas, inicialmente foram identificadas as potencialidades de cada rua para que se definisse a tipologia adequada para a proposta. Em relação à acessibilidade, foram analisadas novas possíveis conexões que facilitassem a ligação das ruas. Os incentivos da Operação Urbana Centro foram alguns dos motes centrais da proposta, portanto, após a análise anteriores, definiu-se possíveis novos lotes para a proposta de novas edificações, gerando diversificação do uso na área.

Estudo preliminar.

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PROCESSO PROJETUAL 4.2. Estudo preliminar: Viário

Estudo de implantação de escadas rolantes urbanas para conexão das Ruas Florêncio de Abreu e 25 de Março.

Estudo de implantação de elevador urbano para conexão das Ruas Florêncio de Abreu e Carlos Souza Nazaré.

Estudo de implantação de ruas pedestrianizadas, com espaços de estar.

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Imagem 70 : Encontro das Ruas da Cantareira e Cavalheiro BasĂ­lio Jafet. Fonte: A autora.

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CAPÍTULO 5 O projeto


O PROJETO 5. Sistema viário Considerando as análises realizadas e os incentivos da Operação Urbana Centro, a proposta tem como objetivo a requalificação da região com a criação de novas tipologias de viário que favoreçam o pedestre; a criação de novos eixos de conexão entre ruas promovendo a fruição pública e por fim, a implantação de novas edificações de uso misto por meio do remembramento de lotes que também possibilitem a fruição pública entre quadras. As tipologias de viário foram definidas tomando como base as análises de fluxos realizadas anteriormente, sendo definidas em três tipos: pedestrianizadas, compartilhadas e requalificadas. Afim de promover melhor conexão entre as ruas Florêncio de Abreu e Carlos de Souza Nazaré, foi proposta a implantação de um elevador urbano. Propõe-se também a implantação de escadas rolantes urbanas que façam a conexão entre as ruas Florêncio de Abreu e 25 de Março de maneira mais dinâmica. Por fim, a conexão das praças Ragueb Chohfi e Dom Pedro II ampliará o espaço público já existente.

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Largo São Bento

escadas rolantes elevador urbano

unificação das praças ruas pedestrianizadas ruas compartilhadas 0 10 20

30

40

ruas requalificadas

50


O PROJETO 5.1. Tipologias de viário

RUAS PEDESTRIANIZADAS

vias destinadas somente ao uso de pedestres durante o período comercial (7h às 18h)

51

RUAS COMPARTILHADAS

vias destinadas ao uso de pedestres e veículos, cujo nível de pavimentação é único, sem que haja diferenciação entre leito carroçável e calçada.

RUAS REQUALIFICADAS

vias destinadas ao uso de pedestres e veículos com a proposta de alargamento de calçadas, mantendo-se a diferenciação de piso e nível entre leito carroçável e calçadas.


situação atual

3.33 10.37

2.70

3.33

11.38 3.77

1.59 8.11 3.80

situação proposta

2.76 5.10 2.30

10.17

LADEIRA PORTO GERAL

5.83 8.63 4.15

RUA FLORÊNCIO DE ABREU

18.58

RUA 25 DE MARÇO

2.93 6.11 4.63

RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

52


situação atual

10.90

2.60

3.12

12.12

4.26

3.38 9.12 3.50

7.49

6.31 2.60

situação proposta

2.50

4.92 6.30 4.78

RUA BARÃO DE DUPRAT

53

4.30 7.40

7.80

RUA DA CANTAREIRA

6.14

3.06 6.80

RUA CAVALHEIRO BASÍLIO JAFET

16.39

RUA NIAZI CHOHFI


situação atual

posto policial

3.90

2.66

11.79

4.50

16.39

4.97 6.28 4.20

4.60

8.85

5.52

RUA LUCRÉCIA LEME

RUA COMENDADOR AFONSO KHERLAKIAN

8.30 4.30

3.36 9.14

posto policial

situação proposta

3.80

RUA CARLOS DE SOUZA NAZARÉ

54


RUA 25 DE MARÇO

Croqui da proposta de pedestrianização da Rua 25 de Março. Fonte: A autora. 55


RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

Croqui da proposta de ruas compartilhadas, neste caso, a Rua Comendador Abdo Schain. Fonte: A autora. 56


RUA CARLOS DE SOUZA NAZARÉ

Croqui da proposta de ruas requalificadas, neste caso, a Rua Carlos de Souza Nazaré. Fonte: A autora. 57


O PROJETO 5.1. Remembramento de lotes Considerando as análises realizadas e os incentivos da Operação Urbana Centro, propõe-se o remembramento de lotes onde possam ser implantados edifícios que possibilitem a transição de níveis e conexão de ruas. Esses edifícios serão parte de utilização pública, com usos comerciais e de serviços; e parte de uso privado, com a proposta de unidades habitacionais de 50m² (HS1); contribuindo para a dinamização da área em períodos fora do horário comercial, além de contribuir para a diminuição do déficit habitacional no município.

Além disso, por se tratar de uma área consolidada, houve a preocupação de respeitar a altura das edificações vizinhas, cobrindo as empenas aparentes pelo remebramento e evitando novas. Assim como define a Operação Urbana Centro, há o incentivo à construção de garagens, portanto parte da nova edificação do lote 1 foi destinada à esse uso.

Foram identificados lotes em que não há a presença de edificações tombadas, habitações e edificações maiores que 9 metros. Nos dois casos aqui estabelecidos, a grande maioria dos lotes remembrados atualmente são utilizados como estacionamentos, com exceção de uma edificação localizada no lote 2 (Rua Comendador Abdo Schain), onde hoje encontram-se dois restaurantes. Ambos os novos lotes criados são formados por lotes estreitos e longos que se conectam com outros maiores. Portanto, nos dois foram definidas edificações de uso comercial (inseridas nas áreas menores e mais estreitas) e de uso habitacional (nas áreas maiores). Dessa forma, além de definir claramente os usos, possibilitou-se a melhor implantação das unidades habitacionais sem que houvesse perda de insolação e ventilação.

58


1

2 Largo São Bento

eixos existentes

edifícios conectores existentes eixos propostos lotes remembrados edifícios conectores propostos

0 5 10 15 20 59

30


1

LOTE REMEMBRADO 1 escala 1:750

demolição

60


Estudos de implantação

Estudo de implantação da nova edificação.

Estudo de novos eixos de conexão.

61


Demolição de edificações existentes para que o novo lote seja criado.

Primeiro estudo de implantação das unidades habitacionais.

Novo eixo de conexão entre as ruas.

Mudança na implantação das unidades, visando a melhoria das visuais e insolação.

Edificações anulam empenas dos vizinhos. Por meio de uma praça em uma cota inusitada, possibilita-se a conexão com o outro lado da avenida Prestes Maia.

Implantação final respeitando o gabarito das edificações vizinhas.

62


LOJA

ACESSO À PRAÇA LOJA 724.90

ESTACIONAMENTO HALL

IMPLANTAÇÃO - COTA 729.90 escala 1:750 63


732.00

ESTACIONAMENTO

IMPLANTAÇÃO - COTA 732.00 escala 1:750 64


735.00

737.00

735.00 736.50

IMPLANTAÇÃO escala 1:1000 65

738.00

escadas rolantes urbanas fazem a conexão com a Rua 25 de Março


HALL

LOJA

LOJA

735.00

LOJA

LOJA

LOJA 737.00

PRAÇA

735.00

LOJA 736.50

LOJA

LOJA

LOJA

LOJA

LOJA 738.00

IMPLANTAÇÃO - PRAÇA - COTA 735.00 escala 1:750 66


740.00

742.00

742.00 LOJA

IMPLANTAÇÃO - COTA 740.00/ 742.00 escala 1:750 67

LOJA

LOJA

LOJA

LOJA

LOJA


743.00

745.00

LOJA

LOJA

LOJA 745.00

LOJA

LOJA

LOJA

IMPLANTAÇÃO - COTA 743.00/ 745.00 escala 1:750 68


746.00

LOJA 748.00

LOJA

LOJA 748.00

IMPLANTAÇÃO - COTA 746.00/ 748.00 escala 1:750 69

LOJA

LOJA

LOJA


749.00

751.00

751.00

IMPLANTAÇÃO - COTA 749.00/ 751.00 escala 1:750 70


752.00

751.00

751.00

IMPLANTAÇÃO - COTA 752.00/ 751.00 escala 1:750 71


755.00

754.00

754.00

IMPLANTAÇÃO - COTA 755.00/ 754.00 escala 1:750 72


757.00

IMPLANTAÇÃO - COTA 757.00 escala 1:750 73


760.00

COBERTURA - COTA 760.00 escala 1:750 74


Av. Prestes Maia Cota 728.70

Rua Florêncio de Abreu Cota 738.69

CORTE 0 10

15

75

20

30

Rua 25 de Março Cota 724.42


PRAÇA

76


VISTA DA PASSARELA DA AVENIDA PRESTES MAIA

77


VISTA DA RUA FLORÊNCIO DE ABREU

VISTA DA AVENIDA PRESTES MAIA

Área do lote remembrado = 4.200,5 m² T.O máx = 0,7 (2.940,35) T.O utilizado = 2.919,96 m² C.A máx = 6 (25.203 m²) CA utilizado = 12.929,38 m² área permeável = ~475 m² hab/ha = 942,74 78


UNIDADE HABITACIONAL – 50m² escala 1:50 79


RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

2

LOTE REMEMBRADO 2 escala 1:500

demolição

80


Estudos de implantação

Estudo de posição da edificação.

Croqui de estudo de fachada na Rua Comendador Abdo Schain, indicando a nova conexão pelo térreo público. 81

Estudo de unidade habitacional.


Demolição de edificações existentes para que o novo lote seja criado.

Novo eixo de conexão entre as ruas por meio do térreo.

Novas edificações anulam empenas dos vizinhos.

Primeiro estudo de implantação das unidades habitacionais

Mudança da implantação do edifício, direcionando as unidades para a melhor posição solar.

Aberturas anguladas permitem que todas a unidades recebam insolação e possuam visuais.

82


RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

LOJA

LOJA

LOJA

LOJA LOJA

LOJA LOJA LOJA LOJA

LOJA

LOJA

LOJA

LOJA

LOJA

IMPLANTAÇÃO - COTA 724.90 escala 1:500 83

LOJA

LOJA

LOJA


RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

HORTA COMUNITÁRIA

SALA SALA COMECIAL COMECIAL

SALA COMECIAL

SALA COMECIAL SALÃO DE FESTAS

BICILETÁRIO

729.90

PAVIMENTO INTERMEDIÁRIO - COTA 729.90 escala 1:500 84


RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

732.90 SALA SALA COMECIAL COMECIAL

SALA COMECIAL

SALA COMECIAL

PAVIMENTO TIPO – COTAS 732.90 a 756.90 escala 1:500 85


RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

759.90

COBERTURA - COTA 759.90 escala 1:500 86


762.90

COBERTURA - COTA 759.90 escala 1:500 87


Rua Comendador Abdo Schain Cota 724,40 Rua Barão de Duprat Cota 724.90

724.90

724.40

CORTE 0

10

20

30

88


VISTA DA RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN 89


PRAÇA COM LOJAS NO TÉRREO

90


VISTA DA RUA BARÃO DE DUPRAT

VISTA DA RUA COMENDADOR ABDO SCHAIN

área do lote remembrado = 2.891,38 m² T.O máx = 0,7 (2.023,96 m²) T.O utilizado = 1.968,8 m² CA máx = 6 (17.348,28 m²) C.A utilizado = 6.529,7 m² área permeável = ~262 m² hab/ha = 684,79 91


UNIDADE HABITACIONAL – 50m² escala 1:50 92


0 5 10 15 20

PERSPECTIVA DA PROPOSTA COM SISTEMA VIÁRIO E NOVAS EDIFICAÇÕES 93


Imagem 74: Em meio à diversas lojas e produtos importados, artesãos produzem na Rua Barão de Duprat. Fonte: A autora.

94


CAPÍTULO 6 Reflexões, limites, possibilidades


REFLEXÃO, LIMITES, POSSIBILIDADES Ao estudar essa região dotada de vida urbana tão intensa, a princípio me deparei com certos questionamentos: Como intervir num local como esse sem que ele perca sua essência? Há uma solução ou talvez ela não seja necessária? O que de fato seria um problema?

Neste exercício foi possível unir questionamentos feitos durante o curso.

A partir dessas inquietações, a história responde: a região da rua 25 de março mantém sua essência e característica por anos e espera-se que isso não mude. Pode-se até chamá-la de resiliente. Portanto, a compreensão desse espaço foi essencial para que houvesse um equilíbrio entre proposta de intervenção e realidade do local.

Em relação à arquitetura, as questões ligadas ao público x privado, à importância da habitação no centro da cidade. Implantações reativas aos lotes criados, respeitando as edificações vizinhas e ainda assim criando novas possibilidades de conexão e fruição.

De imediato, ao visitar o local frequentemente, entende-se que de fato há a necessidade de priorizar o pedestre nessa área, mas sem desconsiderar a presença do carro no cotidiano, afinal, nem todos os frequentadores utilizam o transporte público, por mais eficiente e prático que seja. A proposta de novos edifícios inseridos num contexto urbano histórico e consolidado pareceu desafiadora, mas também instigante, por imaginá-la acontecendo e contribuindo para a vida urbana. Afinal, se há quase um século naquela mesma região os turcos e libaneses tinham suas lojas no térreo e moradias no pavimentos superiores, por que isso não poderia acontecer nos dias de hoje?

95

alguns

Em relação ao urbanismo, as questões sobre cidade para pessoas, espaços públicos, diversificação de usos e os “olhos da rua”.

Neste caso, o local gerou o projeto. Mesmo que as questões pareçam estar em tópicos diferentes, no fim, complementam-se num grande projeto.


Imagem 71: Em meio à diversas lojas e produtos importados, artesãos produzem na Rua Barão de Duprat. Fonte: A autora.

96


CAPÍTULO 7 Bibliografia


AMARAL, Juliana Gazza. Problemática da poluição visual nas grandes metrópoles. Rua 25 de Março: antecedentes e perspectivas. Dissertação de Mestrado, FAU USP, 2009. BORJA, Jordi. La ciudad conquistada. Madri: Alianza Editorial , 2005. BORTHAGARAY, A. (2010). Conquistar a rua! Compartilhar sem dividir. São Paulo: Romano Guerra.

CALDANA, Valter Luis Junior. Projetos de requalificação de corredores comerciais: Avaliação metodológica e da sustentabilidade dos processos de planejamento e desenho urbano. 2016. Laboratório de Projetos e Políticas Públicas. LPP. São Paulo. CALLIARI, Mauro. Espaço público e urbanidade em São Paulo. São Paulo: BEI, 2016. CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Lugar no mundo. São Paulo: Hucitec,1996. CESARINO, Gabriela Krantz; CALDANA, Valter Luiz Junior. Adaptação e resiliência do espaço comercial de rua: a 25 de Março. RUA, Campinas, SP, v. 23, n. 1, p. 117-139, jul. 2017. ISSN 2179-9911. FATORELLI, Carlos. O porto geral da rua 25 de Março de muitos amores. In: São Paulo Minha Cidade, 23 maio, 2014. Disponível em:<http://www.saopaulominhacidade.com.br/historia/ver/9347/O%2Bporto%2Bgeral %2Bd%2BRua%2BVinte%2Be%2BCinco%2Bde%2BMarco%2Bde%2Bmuitos%2Ba mores>. Acesso em 30 de maio de 2018. FREIRE da Silva, Carlos. Das calçadas às galerias: mercados populares do centro de São Paulo. 2014. Tese de doutorado apresentada ao Programa de PósGraduação em Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo. GEHL, J. Cidade para Pessoas. 3. ed. Perspectiva, 2015. GEHL, J.; GEMZOE, L. Novos Espaços Urbanos. 2. ed.Gustavo Gilli Brasil, 2002.

HERTZBERGER, H. Lições de Arquitetura. 3. ed: Martins Fontes, 2015. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Coleção a, São Paulo, WMF Martins Fontes, 2000.

97


JANUZZI, Denise de Cássia Rossetto. Calçadões: a revitalização urbana e a valorização das estruturas comerciais em áreas centrais. 2006. 380 f. Tese (Doutorado - Área de Concentração: Estruturas Ambientais Urbanas) – FAUUSP. São Paulo, 2006. KARAM, John Tofik. Margins of Memory on the Rua 25 de Março: Constructing the Syrian-Lebanese Past in São Paulo, Brazil, In: Arabs in the Americas: interdisciplinar essas on the Arab diaspora, Nova York: Peter Lang, 2006, p. 29-44.

MOURA, Dulce et al. A revitalização urbana: contributos para a definição de um conceito operativo. Cidades, Comunidades e Territórios, n. 12-13, 2006. NOBRE, Eduardo, 2001. Reestruturação econômica e território: expansão recente do terciário na marginal do rio Pinheiros, Tese (Doutoramento em Arquitetura e Urbanismo), FAU USP, 2000. O GLOBO. Árabes perdem espaço para chineses na Rua 25 de Março. Disponível em:<https://oglobo.globo.com/economia/arabes-perdem-espaco-para-chineses-narua-25-de-marco15903781#ixzz5HH1m7M2K> Acesso em 1 de junho de 2018. OLIVEIRA, Ana Maria de Biazzi. Dinâmica da rua de comércio na cidade de São Paulo, Dissertação (Mestrado), Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. OLIVEIRA, Lineu Francisco. Desenvolvimento da regionalidade na área da rua 25 de Março. Dissertação (Mestrado em Administração) Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 2009. OLIVEIRA, Lineu Francisco. Mascates e Sacoleiros. São Paulo: Scortecci Editora, 2010. PARENTE, J., MIOTTO, A., & BARKI, E. (2007). Pólos comerciais de rua. GV executive. PISETTA, Cecília. Do Edifício à Cidade: Um Estudo da Rua. 2017.147 f. Dissertação (mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

REGOS, Beatriz Berel. Espaço público e cidadania. 2017. 103f. Trabalho Final de Graduação – Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, São Paulo.

98


RIBEIRO, Gustavo Lins. A globalização popular e o sistema mundial não hegemônico. São Paulo: Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 25 No. 74, 2010. RODRIGUES, Eloisa R. R. Shopping a céu aberto no Brasil: transformações, estratégias e perspectivas da rua comercial na sociedade de consumo contemporânea. 2012. 214f. Tese (Doutorado - Área de Concentração: Planejamento Urbano e Regional) – FAUUSP, São Paulo SÃO PAULO (município). Operação Urbana Centro. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/desenvolvimento_urbano/ sp_urbanismo/arquivos/OUCEN_caderno_GESTAOURBANA.pdf> Acesso em 2 de junho de 2018. SÃO PAULO (município). Plano Diretor Estratégico. Disponível em:<http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/PDESuplementoDOC/PDE_SUPLEMENTO-DOC.pdf > Acesso em 2 junho de 2018. SILVEIRA FILHO, Luiz Carlos. Ruas Comerciais: visão geral de um instrumento de requalificação urbana, LARES, São Paulo, 2011. SOMEKH, Nadia. A cidade vertical e o urbanismo modernizador: São Paulo, 1920-1939. São Paulo: Studio Nobel, 1997.

99




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