DO do SER ser MULHER cidade

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DO D O SE R S ER CIDAD E M UL H ER





Universidade Presbiteriana Mackenzie Arquitetura e Urbanismo – Trabalho final de graduação

DO DO SER SER CIDADE MULHER

Gabriela Gonçalves Inomata São Paulo, dezembro de 2019



“Que todas existam Somos falas e temos falanges somos gritos, luta, liberdade e gozo"



AGRADECIMENTOS

agradeço ao universo e à todas as energias que me guiam para transcender a mim mesma; aos meus pais, obrigada pelo amor incondicional e por me partilharem comigo o sonhar; ao meu irmão, por me mostrar a beleza do seu olhar de criança dentro desse mundo veloz; a minha vó, Maria e minha tia, Gê, pelo carinho sincero que nos molda a cada dia, por sempre estarem ao meu lado; à todos os meus amigos, obrigada pelas trocas, mãos dadas e companheirismo (em especial: à Caroline Inomata, prima querida, pela enorme ajuda e por ser uma inspiração. à Maria Luiza, por compartilhar comigo as discussões, aflições e sorrisos acerca dos nossos trabalhos e vida. à Aline Genelhu, pela paciência e amor); aos meus orientadores, Caco e Belleza, obrigada por traçarem este caminho ao meu lado. e aos professores que me inspiram, Daniel Corsi e Gabriela Goudinho; aos meus chefes, Pedro, Pedro e Fernando, por realçar a paixão da arquitetura dentro de mim; à todas as mulheres que lutaram e lutam, direta ou indiretamente, ao meu lado.


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DO SER CIDADE

DO SER MULHER

RESUMO

8

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12

42

1.1

2.1

ser

o corpo da cidade

1.2

2.2

conceitos

o corpo da mulher

1.3

2.3

história e poder

o corpo no corpo

1.5

lutas, resistência e feminismo


114

3.1

o grid 3.2

a quadra-triângulo: uma interpretação

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

DO PROJETO

DOS FARÓIS

86

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142



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RESUMO

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RESUMO


10 —— 11

O presente trabalho de graduação tem como objetivo analisar como a perspectiva de gênero é um conceito indissociável à produção e manutenção do espaço urbano. A cidade atual é constituída de desigualdades mantidas para a própria manutenção do sistema capitalista, racista e patriarcal. Assim, a relação da mulher no espaço – tanto público quanto privado – reflete na vulnerabilidade e marginalidade. A fim de responder à problemática de que os espaços não foram planejados pelas mulheres e nem para elas, o intuito é criticar a forma hegemônica de se propor a cidade e entender quais são as possíveis formas de trabalhar o urbano para garantir a apropriação, segurança e autonomia das mulheres para uma cidade mais inclusiva e democrática.

Palavras-chave: Mulher, Feminismo, Gênero, Espaço, Planejamento urbano, Cidade.



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1.1

ser

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14 —— 15

A indagação que originou este projeto vem do ser. O do ser mulher. O que significa estar automaticamente em um patamar específico na sociedade: o do outro. Aquele que é parte e não inteiro. Que vive na margem. A experiência diária enquanto mulher ao vivenciar a cidade como materialização de um pensamento de determinada época é conviver com barreiras quase que invisíveis (para quem não quer ver) impostas há algum tempo pela visão de quem, se não sempre, predominantemente deteve e ainda detém o poder: o homem branco cis heterossexual. É ter seu corpo objetificado, invadido, violado – por olhares, pela mão, por palavras. É o estado sempre alerta. É a luta diária para conquistar o que já é, por natureza, nosso. Esta abordagem da questão de gênero é delicada, por isso, falo por ser mulher, mas deixo claro que não falo por todas as mulheres (e nem poderia).


1.2

conceitos

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16 —— 17

Primeiramente, faz-se necessário entender os conceitos relacionados e intrínsecos à discussão sobre gênero (interseccionalidades e patriarcado), e definir até mesmo a categorização do “gênero”. O conceito de gênero foi estruturado e gradualmente contestado teoricamente nos movimentos de mulheres feministas do pós-guerra. É nos anos 60 que o campo dos estudos feministas começa a abordar a distinção entre identidade de gênero ligada ao sexo biológico. Deste modo, o gênero passa a ser abordado como uma categoria relacional do feminino e masculino, como um elemento de análise para questionar a suposta essencialidade da diferença entre os sexos. Essas ideias associadas ao gênero são uma categoria de análise histórica que revelam grupos de poder que definem os papéis adequados aos homens e as mulheres, a partir de conjuntos sociais impostos sobre o corpo por meio de símbolos culturalmente disponíveis que evocam representações múltiplas, os quais não são excludentes ao pensamento patriarcal e que asseguram desigualdades, discriminação e opressão às mulheres. Em contrapartida à essas teorias feministas que distinguem sexo (domínio biológico) e gênero (domínio sociocultural), Judith Butler discorre que tanto o sexo quanto o gênero são construídos socialmente e, ainda, problematiza o porque de o sujeito do


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feminismo ser “a mulher”, referindo-se à uma “heterossexualidade compulsória” imposta pelas instâncias reguladoras do poder. Dessa forma, propõe um fim ao pensamento hegemônico para a formação de uma “construção variável da identidade” (BUTLER, 2010, p. 23) que seria inclusiva para todas as pessoas que atualmente estão à margem da sociedade. Ademais, o binarismo “homem e mulher” como os únicos conceitos elencados na maior parte do tempo dentro dessas manifestações promovem críticas à manutenção deste pensamento como reforçador de estereótipos culturais do ser feminino que dialogam com o jogo de poder patriarcal, bem como a supressão de maneiras que desafiam os dualismos de gênero. A evolução dos debates sobre o conceito de gênero relata o sexo como uma construção discursiva que precisa superar a ideia de papéis de gênero estáticos, a fim de desafiar a heteronormatividade e abordar o sujeito sociológico, construído a partir da cultura e do social. A “mulher” que é referenciada neste estudo é impreterivelmente aquela que se identifique como tal. Devido a variação do termo em relação a cultura, religião e outros campos específicos, o foco do trabalho é a mulher contemporânea, brasileira, da grande São Paulo. Neste sentido, é abordado o gênero como uma maneira metodológica sociológica para analisar as relações interpessoais e como elas se refletem no espaço urbano, a partir do pressuposto de que “gênero é um conceito desenvolvido para contestar a naturalização da diferença sexual em múltiplas arenas de luta” (HARAWAY 2004, p. 211).

Figura 1 ——— Nu 151. Irving Penn, 1950.

Figura 2 ——— Virilha. Talia Chetrit , 2012.


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20 —— 21

interseccionalidades

Figura 3 ——— Manifestação contra a violência à mulheres trans negras. Fonte: The North Star.

A invisibilização de grande parte das mulheres no início dos estudos sobre gênero aconteceu devido à este conceito não incorporar as dimensões de raça e classe, generalizando a opressão das mulheres a partir da experiência das mulheres brancas, da academia e de classe média ou alta (Silva, Faria, Pimenta, 2017). Deste modo, as análises acontecem de maneira incompleta em relação à todo um espectro de mulheres excluídas que passam a reivindicar que suas características e demandas específicas também fossem abordadas. Desta maneira, outras análises identitárias dentro do feminismo começam a tornar forma: as mulheres negras, as de classe trabalhadora e as lésbicas começam a ter voz dentro do movimento para trabalhar as diferenças existentes de classe, raça/etnia e sexualidade como decisivas e constitutivas de suas identidades, experiências e opressão. “A categoria de gênero, usada primeiro para analisar as diferenças entre os sexos, foi estendida à questão das diferenças dentro da diferença. A política de identidade dos anos 80 trouxe à tona alegações múltiplas que desafiaram o significado unitário da categoria das “mulheres”. Na verdade, o termo “mulheres” dificilmente poderia ser usado sem modificação: mulheres de cor, mulheres judias, mulheres lésbicas, mulheres trabalhadoras pobres, mães solteiras [...]. Todas desafiavam a hegemonia heterossexual da classe média branca do termo “mulheres”, argumentando que as diferenças fundamentais da experiência tornaram impossível reivindicar uma identidade isolada.” (SCOTT, 1992, p. 87) Assim, em oposição ao universalismo e particularismo anteriores, o conceito de interseccionalidade é inaugurado por Kimberlé Crenshaw em 1989, moldado por uma visão transversalista, dotada de inúmeras probabilidades de combinações entre as situações possíveis faceadas pelas mulheres em todos os lugares. Deste modo, é um instrumento que possibilita que as mulheres atingidas pelas distintas formas de opressão pudessem destrinchar suas condições e analisá-las, em contrapartida com a universalização do


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conceito de mulher. Assim, as relações de gênero não tem uma essência fixa, e quanto mais itens marginalizados combinados entre si, consequentemente, maior o nível de opressão sofrido. Como, por exemplo, no esquema a seguir: quanto mais ao centro, mais oprimida e à margem será a pessoa.

Orientação Sexual

Classe

Raça

Nacionalidade

Religião

Identidade de gênero

Figura 4 ——— Esquema demonstrando as categorias de opressão. Fonte: autora.


22 —— 23

patriarcado e o papel da mulher

No Brasil, por exemplo, o sistema patriarcal tem suas bases na exploração da colônia pelos portugueses, os quais “trouxeram em sua bagagem não apenas a catequese forçada, mas, inclusive, todo o sistema patriarcal imperante em Portugal com seus usos, costumes e comportamentos arcaicos. “[...] primeiro, a índia, depois as primeiras brancas e, finalmente, a negra escrava vinda dos confins da África. Sua situação era de submissão e humilhação constantes. Exerciam as funções de objeto sexual dos homens, parideiras e burros de carga, tanto nos serviços domésticos, como nas zonas rurais. As índias serviram para esposas, concubinas e empregadas domésticas. As brancas, primeiro como prostitutas e depois para mães, esposas e donas de casa sem direito algum de escolher marido, de andar sozinhas nas ruas ou desenvolver atividades independentes fora de casa. Sabiam apenas organizar a cozinha, comandar os escravos, fiar, tecer, fazer rendas e bordados. Se se rebelavam contra sua sina, iam direto para o convento, no qual também terminavam aquelas que não se casavam. Sua instrução era mínima: o suficiente para rezar o missal e ler receitas para fazer geleias caseiras. [...] A negra foi o melhor instrumento de trabalho e o melhor instrumento de prazer sexual para o homem branco. Podia até mesmo ser alugada a outros senhores. Ficando ao lado dos colonizadores ou daqueles que lutavam contra eles, todas as mulheres foram esquecidas pela história.” (ALAMBERT, 2004, p. 78) O conceito do “patriarcado” está diretamente relacionado ao conceito de gênero no que se diz respeito à organização social que hierarquiza homens e mulheres, marcada pela primazia masculina (Saffioti, 2015). Este sistema patriarcal/machista é mantido por uma ideologia organizada em um discurso com um objetivo muito nítido: o de manter um grupo específico no poder, articulando seus interesses e estabelecendo “um conjunto de representações de como as mulheres devem comportar-se encurralando-as


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no espaço privado e reproduzindo o tratamento dado neste espaço nos espaços públicos, proprietários de seus corpos” (GONZAGA, 2011, p. 26). Além destes aspectos, as lógicas patriarcais se relacionam com o espaço urbano da seguinte maneira: 1. através da construção de dicotomias geográficas – público e privado, por exemplo, que servirá para reforçar papéis e estereótipos femininos e masculinos de cidades, mas poderiam ser outros cidade-subúrbio, trabalho-casa, reprodutivo-produtivo, mente-corpo.1 2. uma segunda lógica se relaciona com a origem patriarcal das representações de ser mulher e feminilidade que estão associadas à formas arquitetônicas – masculinas são sólidas, poderosas lineares e vertical e femininas como delicadas, abobadadas, e tudo o que é curso – expressões que também são encontradas no urbano, nas configurações espaciais.1 3. uma terceira está na invisibilidade das mulheres na vida urbana que é fortalecida por uma ordem patriarcal que reforça ou pode transformar as construções em torno dos papéis femininos nos processos de produção e de reprodução. (FREIRE apud VILLAGRÁN, 2014, p. 201; MCDOWELL, 2000, p. 214).1

1 FREIRE, Paula Santoro. Aula sobre Gênero e Cidade. Escola da Cidade 18 maio 2019.


24 —— 25

Figura 5 ——— À direita, mulher observando o quadro A Mulher Vestida, de Goya, e à esquerda, concentração de homens observando o quadro de Goya com a mesma mulher da primeira pintura, porém nua (A Mulher Nua). Fonte: Elliott Erwitt. Museu do Prado, Madrid, 1995.


1.3

histรณria e poder

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26 —— 27

Ao relacionar parâmetros da sociedade atual, é recorrente percebermos a posição inferior ao qual as mulheres foram submetidas politicamente, economicamente e socialmente. “Os termos masculino e feminino são usados simetricamente apenas como uma questão de formalidade. Na realidade, a relação dos dois sexos não é bem como a de dois pólos elétricos, pois o homem representa tanto o positivo e o neutro, como é indicado pelo uso comum de homem para designar seres humanos em geral; enquanto que a mulher aparece somente como o negativo, de modo que toda determinação lhe é imputada como limitação, sem reciprocidade. [...] Está subentendido que o fato de ser um homem não é uma peculiaridade. Um homem está em seu direito sendo um homem, é a mulher que está errada.” (BEAUVOIR, 2016, p. 9) Para compreender o papel da mulher nas relações sociais e estruturais da sociedade contemporânea, faz-se necessário direcionar o olhar para as origens do indivíduo e analisar os papéis de gênero atribuídos no passado. Aos homens foram atribuídos a condição ativa e às mulheres o papel feminino, subordinado ideologicamente ao poder masculino (Rodriguez, 2007). O patriarcado como


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sistema social em que homens mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social, controle das propriedades e no domínio da família, assumindo a autoridade sobre as mulheres e as crianças – têm suas bases na origem da propriedade privada (Engels, 1985). A propriedade comum, ou de todos os membros, existia na sociedade sem classes e sem o Estado, na qual o único objetivo era garantir a existência dos membros do grupo. Com o advento do pastoreio, dá-se a primeira divisão da sociedade em classes através da primeira divisão social do trabalho: com a criação dos animais, há uma maior produção que gera uma quantidade de excedentes, possibilitando além do consumo, as trocas. Com isto, gera-se, entre outras consequências, uma modificação na família, na qual o homem deteve a posse das terras, dos animais e dos escravos, acumulando riquezas e poder, elevando sua posição nos âmbitos sociais de produção da vida a um status “superior” enquanto a mulher restringia-se apenas ao consumo, relegada aos âmbitos privados de trabalho doméstico subvalorizado. As bases materiais que ao longo da história foram traçadas geraram modos de produção e tipos de relações sociais, políticas, jurídicas provenientes da concepção do homem e das relações culturais e de poder que se estabelecem nos grupos sociais. No mundo ocidental, a monogamia ressalta a misogenia a partir do momento em que o homem tem seus direitos assegurados sobre a propriedade e a mulher, exigindo fidelidade por parte dela para garantir a paternidade dos filhos. Nas cidades gregas, a sociedade “cultivava a nudez pública masculina, nudez que simbolizava um povo inteiramente à vontade na sua cidade, na qual a mulher se movia discreta, submissa e coberta” (RISÉRIO, 2015, p. 47). Assim, a mulher era considerada apenas uma reprodutora, sem direitos civis, enquanto o homem era considerado provedor da família e administrador político da sociedade – a ele cabia o título de cidadão, por ser proprietário e politicamente ativo. Violência e opressão que são refletidos nas crenças


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Figura 6 ——— Cornelis de Vos - Apollo chasing Daphne. 1630. Mito de da Ninfa Dafine e Apolo.

greco-romanos, como por exemplo, no mito de Apolo e da ninfa Dafne, no qual o homem persegue a mulher contra a sua vontade (flechado pelo cupido) e se não a tem como ser humano, toma posse de seu corpo até mesmo enquanto forma de árvore.

“Era como um cão perseguindo uma lebre, com a boca aberta, pronto para apanhá-la, enquanto o débil animal avança, escapando no último momento. Assim voavam o deus e a virgem: ela com as asas do medo; ele com as do amor. O perseguidor é mais rápido, porém, e adianta-se na carreira: sua respiração ofegante, já atinge os cabelos da ninfa. As forças de Dafne começam a fraquejar e, prestes a cair, ela invoca seu pai, o rio-deus: – Ajuda-me, Pai! Abre a terra para envolver-me, ou muda minhas formas, que me têm sido fatais! Dafne começa a virar árvore e, então, Apolo abraça os ramos da árvore e a beija ardentemente a madeira. Os ramos afastaram-se de seus lábios. – Já que não podes ser minha esposa – exclamou o deus – serás minha planta preferida. Usarei tuas folhas como coroa.” (SANTOS, 2018, p.1889 apud BULFINCH, 2006, p.31)


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O cristianismo, através da Igreja Romana, também dissemina uma ideia misógina e antifeminista, especialmente a partir do século XV. “A inferioridade da mulher no cristianismo foi justificada especialmente pelas Epístolas de São Paulo e pelo relato do Gênesis, com a criação do mito de Eva.” (GEVEHR e SOUZA, 2014, p. 4). Fica claro o contexto patriarcal quando Deus cria Eva a partir de Adão, criada depois dele, a partir de sua costela, o que para igreja, reiterou a dependência da mulher para com o homem. Além de ser “o corpo da mulher uma fonte de pecado e desgraça dos homens” (alusão à tese cristã do pecado original)” (ALAMBERT, 2004, p. 99) responsável por sua perdição moral, quando persuade Adão para o fruto proibido. Ademais, o período entre os séculos XV e XVI na Europa é marcado pelo “caça às bruxas”2, época na qual a Inquisição3 legitimou a perseguição à mulheres a partir do discurso divino, impondo um domínio do homem (novamente) sobre o corpo da mulher, “as feiticeiras atacavam a força sexual dos homens, o poder reprodutor das mulheres e agiam para exterminar a fé.” (GONZAGA, 2011, p. 111 apud ALAMBERT, 1997, p.45) No século XVII, as ideias difundidas durante o período do Iluminismo fortalecem a imagem da mulher como um ser sem posicionamentos e empenhos próprios, como o discurso que Rousseau detinha sobre a educação feminina, a qual deveria ser restrita ao âmbito do lar, doméstico, uma vez que – segundo ele – elas não deveriam ir em busca do saber, o que é julgado contrário à sua natureza (RODRIGUES, 2007, p.29 apud GASPARINI, 2003). Logo, dá continuidade à concepção da história da mulher sendo escrita por homens: “essa sociedade que lutava tanto por liberdade, passou a exigir que as mulheres fizessem parte dela, mas como mães, guardiãs dos costumes, e como seres dispostos a servir o homem.” (RODRIGUES, 2007, p.4). Outros filósofos como Kant (Rodrigues, 2007, p.29 apud GASPARI, 2003) se apropriam de um discurso sexista que caracteriza a vida da mulher direcionada apenas para o bem estar o homem, negando seu posicionamento ativo enquanto sujeito

2  As mulheres eram aproximadamente 80% das bruxas enquanto 20% eram homens. 3  Criada no século XIII com o intuito de impedir que as pessoas se desviassem dos ensinamentos cristãos e deixassem de frequentar a instituição da Igreja.

Figura 7 ——— O conjunto [de bruxas]. Óleo sobre tela. Goya. 1797-1798.


30 —— 31


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e recupera o conceito de Rousseau que inferioriza a mulher através da ideia de que esta tem incapacidade de raciocinar como o homem. No século XIX, algumas manifestações que buscam melhoria na perspectiva da forma de viver das mulheres vêm a tona, como por exemplo, ações contra a discriminação feminina e a luta pelo direito ao voto. É nesse período em que filósofos misóginos decidem falar sobre a história feminina (mais uma vez): “(...) Assim, Nietzsche considera a emancipação da mulher e a sua busca de direitos iguais ao do homem, como o direito ao voto ou o direito a exercer actividades científicas, como uma tentativa de tornar a Europa mais feia. Partindo da ideia de que há um antagonismo radical entre os sexos, [...] pensa que aos dois competem papéis radicalmente distintos. Enquanto que o homem deve ser educado para a guerra, a mulher deve ser educada para o descanso do guerreiro. Para além disso, enquanto que a mulher se sente feliz por servir o marido com devoção e fidelidade, essas não são características que fiquem bem ao homem.” (SANTOS, 2002, p. 15,16)

A misoginia destacada por estes pensadores – que foram extremamente importantes para moldar toda uma filosofia de determinado período, influentes até mesmo nos dias atuais – citados anteriormente e entre outros a seguir, auxiliam na construção de uma ideologia machista que, consciente ou inconsciente, destacam o papel inferior da mulher dentro da sociedade e sua relegam, consequentemente, seu papel na política como um todo. “há um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher.” [BEAUVOIR, p.8, 2016 apud PITÁGORAS (570-495 a.C.)]


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“A mulher pode ser definida como um homem inferior.” [SILVA, p.1, 2010 apud ARISTÓTELES (384-322 a.C)]

“As mulheres em geral não apreciam arte alguma, não as conhecem e não têm talento nenhum.” [SILVA, p.1, 2010 apud ROUSSEAU (1712-1778)] “[A mulher] sofre de uma miopia intelectual que lhe permite, por uma espécie de intuição, ver de uma maneira penetrante as coisas próximas; o seu horizonte, porém é limitado, escapa-lhe o que está distante.” [SILVA, p. 1, 2010 apud SCHOPENHAUER (1788-1860)]

“Uma mulher que exerce sua inteligência torna-se feia, boba e macaca.” [SILVA, p. 1, 2010 apud PROUDHON (1809-1865)]

“Dizemos que as mulheres têm menos interesses sociais que os homens e que entre elas a faculdade de sublimar os instintos torna-se mais débil.” [SILVA, p. 1, 2010 apud FREUD (1712-1778)]

É apenas no século XIX que ampliam-se as críticas à filosofias, metodologias e epistemologias passadas que, conclusivamente, foram concebidas a partir do ponto de vista masculino para, em contrapartida, voltar-se o olhar para as reflexões feita pelas mulheres. “Com o revolucionar do capitalismo, que se apoia na hierarquia patriarcal, as funções de reprodução social, como visto nos passado, se reforçam no que diz respeito a função exclusiva das mulheres serem a do lar (vida privada), ao passo que as tarefas da produção da vida (vida pública) se tornam função dos homens. Ocorre a separação entre o local do trabalho e a casa.” SOUZA (2015, p. 475). Desta maneira, as mulheres travam a luta pela participação política como uma das frentes de combate, assim como a conquista de seus direitos e sua emancipação em todas as áreas da sociedade.


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1.4

lutas, resistĂŞncia, feminismo

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34 —— 35

Apesar de ao longo de toda história ocidental sempre ter existido mulheres que se rebelavam contra sua condição, que lutaram por liberdade e emancipação, o termo “feminismo” surge enquanto conceito, de acordo com PINTO (2009, p. 15), a partir das últimas décadas do século XIX, no qual as mulheres organizaram-se para lutar pelos seus direitos. A expressão é, atualmente, separada entre períodos chamados de “ondas” feministas, ordenados para registrar quais foram os momentos históricos relevantes em que houve alguma efervescência militante e/ou acadêmica onde determinadas pautas feministas foram discutidas em massa. As ondas não determinam um período fechado e a autora Linda Nicholson (2000), aborda até mesmo a alteração da etimologia de “ondas” para “caleidoscópio”, uma interpretação mais aberta e alinhada com o pensamento do século XXI, já que o termo refere-se a um instrumento que produz variadas e distintas combinações a partir de cada movimento, assim como os períodos.


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Início século XIX, rompendo-se na Europa Ocidental

1879: decreto de lei permite que mulheres possam ser aceitas no ensino superior

Questionamento dos papéis passivos impostos às mulheres4

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PRIMEIRA

Reivindicação pelo direito ao voto e - início século XIX, rompendo-se na europa ocidental participação política - reivindicação pelo direito ao voto e participação política - questionamento dos papéis passivos impostos às mulheres4 - conceitos: liberalismo e universalismo, expressadas através da defesa que homens e mulheres, por serem iguais (moralmente e intelectualmente), deveriam ter as mesmas oportunidades Conceitos: liberalismo e - 1879: decreto de lei permite que mulheres possam ser aceitas no ensino superior universalismo, expressadas - 1910: movimento sufragista norte americano, as sufragistas promoveram diversas manifestações e foram através da defesa que presas diversas vezes, até conquistarem o direito ao voto. homens e da mulheres, porBrasi- brasil: luta pelo voto, a líder das sufragistas brasileira é Bertha Lutz (1894-1976), fundadora federação serem iguais (moralmente e leira Pelo Progresso Feminino, organização que fez campanha pública pelo voto, tendo inclusive levado em 1927, um intelectualmente), deveriam abaixo assinado ao senado pedindo a aprovação do projeto de lei que dava direito do voto às mulheres, conquistado ter as mesmas oportunidades em 1932, quando foi promulgado o novo código eleitoral brasileiro. 8 - 1934: votoFigura feminino passa a ser regulamentado no Brasil e mulheres conquistam o direito de votar ——— Mulheres em greve na Fábrica da - Citroen, na França. A mulher ao - fim meados do século XX centro destacada é a sindicalista Rose Zehner. Fonte: Willy Ronis.

4  Observando que estas mulheres neste momento eram as mulheres brancas de classe média, ou seja, uma parcela privilegiada.


Brasil: luta pelo voto, a líder das sufragistas brasileira é Bertha Lutz (18941976), fundadora da federação Brasileira Pelo Progresso Feminino, organização que fez campanha pública pelo voto, tendo inclusive levado em 1927, um abaixo assinado ao senado pedindo a aprovação do projeto de lei que dava direito do voto às mulheres, conquistado em 1932, quando foi promulgado o novo código eleitoral brasileiro

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Segunda Onda

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Figura 9 ——— Bertha Luz na câmara, s/ano.

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ONDA

1910: movimento sufragista norte americano, as sufragistas promoveram diversas manifestações e foram presas diversas vezes, até conquistarem o direito ao voto

Fim em meados do século XX

1934: voto feminino passa a ser regulamentado no Brasil e mulheres conquistam o direito de votar

Figura 10 ——— Mulheres do movimento sufragista protestando pelos direitos básicos do voto. No cartaz “Votos para mulheres”. Fonte: desconhecido.


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Luta pelo direito ao corpo é recorrente + estereótipos femininos são fortemente questionados

1962: é criado o estatuto da mulher casada que assegura que mulheres casadas não necessitam mais da autorização do marido para trabalhar

Primeira Onda

Distinção entre gênero e sexo (o primeiro sendo entendido como biológico e o segundo como construção social, ou seja, um conjunto de aspectos impostos pela sociedade aos sexos)

Meados dos anos 50 do XX meados dos anos 50 do XX -manifestos contra a opressão feminina5 - 1962: é criado o estatuto da mulher casada que assegura que mulheres casadas não necessitam mais da autori.. . .. . .. . .. . . .. .. . zação do marido para trabalhar -crítica à jornada dupla/tripla de trabalho, divisão sexual da educação e de laboração, diferença de ganhos econômicos entre os sexos, lutas por direitos reprodutivos - distinção entre gênero e sexo (o primeiro sendo entendido como biológico e o segundo como construção social, ou seja, um conjunto de aspectos impostos pela sociedade aos sexos) -luta pelo direito ao corpo é recorrente + estereótipos femininos são fortemente questionados -outras análises identitárias dentro do feminismo começam a tomar forma: mulheres negras, de classe trabalhaà jornada dupla/ dora e as lésbicas começam a ter voz dentro do movimento para trabalhar as diferenças Crítica existentes de classe, raça/ Manifestos contra a tripla de trabalho, divisão etnia e sexualidade como decisivas e constitutivas 5de suas identidades, experiências e opressão. opressão feminina sexual da educação e -Angela Davis publica “mulheres, raça e voto” de laboração, diferença -no brasil: efervescência das lutas de grupos e movimentos sociais urbanos como resposta ao momento de alta de ganhos econômicos repressão política em geral devido a ditadura de 64. os sexos, lutas por -1985 Conselho Nacional da Mulher: criação das delegacias especializadas em serviçosentre de atendimento à mulher direitos reprodutivos + coletivos que estavam, em sua maioria, em ação conjunta com “movimentos populares de mulheres, que estavam nos bairros pobres e favelas, lutando por educação, saneamento, habitação e saúde, culminando em sua expressão máxima na criação do Conselho Nacional da Mulher.” (PINTO, 2009, p.17). Figura 11 -brasil: 1988 constituição garante a igualdade de direitos e obrigação social Figura para 12 homens e mulheres. ———

SEGUNDA

Jackie Henderson discursa para uma multidão no comício da -até anos donaséculo Libertação da 90 Mulher Praça Nathan Phillips em Nova York, USA, 1970. Fonte: desconhecido.

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XX

5  Maioria das autoras ainda são brancas de classe social mais alta e inseridas na academia.

Marcha pela 5ª Avenida, em Nova York. Ao fundo, cartaz que diz “Mulheres do mundo, unam-se!”, 1970. Fonte: autor desconhecido.


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Figura 13 ——— Daria Fane protesta a favor dos direitos humanos em NYU’s Weinstein Hall, 1970. No cartaz: “Poder dos gays. Poder dos negros. Poder das mulheres. Poder do estudante. Todo o

Até anos 90 do século XX

poder para as pessoas!”. Fonte: Diana Davies.

1985, Conselho Nacional da Mulher: criação das delegacias especializadas em serviços de atendimento à mulher + coletivos que estavam, em sua maioria, em ação conjunta com “movimentos populares de mulheres, que estavam nos bairros pobres e favelas, lutando por educação, saneamento, habitação e saúde, culminando em sua expressão máxima na criação do Conselho Nacional da Mulher.” (PINTO, 2009, p.17) .. .

Outras análises identitárias dentro do feminismo começam a tomar forma: mulheres negras, de classe trabalhadora e as lésbicas começam a ter voz dentro do movimento para trabalhar as diferenças existentes de classe, raça/etnia e sexualidade como decisivas e constitutivas de suas identidades, experiências e opressão

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ONDA Brasil: efervescência das lutas de grupos e movimentos sociais urbanos como resposta ao momento de alta repressão política em geral devido a ditadura de 64

Angela Davis publica “mulheres, raça e voto”

Figura 14 ——— Mulheres levantam o pulso na manifestação Black Power de direitos civis, Califórnia, 1960. Fonte: Flip Schulke/CORBIS.

1988, Brasil: constituição garante a igualdade de direitos e obrigação social para homens e mulheres

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Terceira Onda

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DO SER MULHER

Brasil: ONGs focadas na intervenção em parceria com o estado, com a finalidade de garantir os direitos das mulheres enquanto cidadãs

Anos 90

Brasil: “2006 Lei Maria da Penha (lei n. 11340. de 7 de agosto de 2006), que criou mecanismos - anos 90 para coibir a violência doméstica - corrente pós estruturalista e familiar contra a mulher” 6 - visãoCorrente transversalista o universalismo e particularismo da segunda onda Judith Butler cria pós -> contra1990: (PINTO, 2009, p.17) - 1990estruturalista Judith Butler cria teoria teoria QueerQueer -> gênero como performático » gênero - 1996 conceito de interseccionalidade introduzida por Kimberlé Crenshaw em (instrumento que possibilita como performático que as mulheres atingidas pelas distintas formas de opressão pudessem destrinchar suas condições e analisá-las) - no brasil: ONGs focadas na intervenção em parceria com o estado, com a finalidade de garantir os direitos .. das . mulheres enquanto cidadãs. .. . .. . .. . - br: 2005 Código Penal passou por uma mudança e teve a retirada de termos sexistas do Código Penal - br: “2006 Lei Maria da Penha (lei n. 11340. de 7 de agosto de 2006), que criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”. (PINTO, 2009, p.17) - marcha das vadias chega ao Brasil em 2011: questionamento dos estereótipos femininos através da apropria6 » para uma resignificação, como por exemplo, da palavra “vadia”7. Visão transversalista ção de símbolos e condutas contra o universalismo - 2015: A Lei do Feminicídio 13.104/2015, que alterou o artigo 121 do Código Penal Brasileiro, passando a pree particularismo ver o feminicídio comoda circunstâncias qualificadoras do crime de homicídio e, no mesmo norte, foi inserido no rol segunda onda de crimes hediondos. .. .

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Segunda Onda

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TERCEIRA

- 2015: no brasil, primeira marcha de mulheres negras 2005, Brasil: Código - 2018: transexuais e transgêneros podem alterar seus nomes e o gênero indo apenasPenal no cartório passou por uma - 2018: Marielle, Presente! Marielle Franco é definida em sua página oficial como “mulher, negra, mãeae cria mudança e teve 8 da favela Maré” . Socióloga e vereadora assassinada aos 38 anos no centro do Rio de Janeiro lutando direitos retirada depelos termos 1996: conceito interseccionalidade humanos e contrade à intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. sexistas do Código Penal por Kimberlé Crenshaw - introduzida redes sociais para organizar, conscientizar, divulgar e moldar as questões feministas, abordando em massa a em (instrumento possibilita que cultura do estupro, que a representação daasmulher na mídia, abusos no ambiente de trabalho e educacional, e a conduta mulheres atingidas pelas distintas formas de incentivo à denúncias. Figura 15 de- opressão pudessem destrinchar suas anencéfalo a conquista do aborto em casos ——— condições e analisá-las) Kimberlé Crenshaw. - os direitos indígenas, as mulheres do movimento sem-terra se engajam em lutas agrárias.

6  Inúmeras probabilidades de combinações entre as situações possíveis faceadas pelas mulheres em todos os lugares: leva-se em conta, por exemplo, idade, religião, nacionalidade e/ou outros fatores além da sexualidade, classe ou raça/etnia. 7  Antes utilizada pelo homem para repudiar as mulheres e agora fazendo parte da militância. 8  Disponível em: <https://www.purepeople.com.br/famosos/marielle-franco_p551569.> Acesso em 12 out 2019.


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Redes sociais para organizar, conscientizar, divulgar e moldar as questões feministas, abordando em massa a cultura do estupro, a representação da mulher na mídia, abusos no ambiente de trabalho e educacional, e a conduta de incentivo à denúncias

Figura 16 ——— Marcha das Vadias.

Marcha das vadias chega ao Brasil em 2011: questionamento dos estereótipos femininos através da apropriação de símbolos e condutas para uma ressignificação, como por exemplo, da palavra “vadia”6 . .. . ..

Os direitos indígenas, as mulheres do movimento sem-terra se engajam em lutas agrárias

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ONDA

2015: A Lei do Feminicídio 13.104/2015, que alterou o artigo 121 do Código Penal Brasileiro, passando a prever o feminicídio como circunstâncias qualificadoras do crime de homicídio e, no mesmo norte, foi inserido no rol de crimes hediondos

2018: transexuais e transgêneros podem alterar seus nomes e o gênero indo apenas no cartório

2015, Brasil: primeira marcha das mulheres negras Figura 17 ——— Marcha das Mulheres Negras.

2018, Marielle, Presente! Marielle Franco é definida em sua página oficial como “mulher, negra, mãe e cria da favela Maré”8. Socióloga e vereadora assassinada aos 38 anos no centro do Rio de Janeiro lutando pelos direitos humanos e contra à intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro

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A conquista do aborto em casos anencéfalo

Figura 18 ——— Marielle Franco.



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DO SER CIDADE

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2.1

o corpo da cidade . . .


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PASSADO, PRESENTE, FUTURO, RUAS, ESQUINAS, ÂNGULOS, IDEOLOGIAS, CORRIMÃOS DE ESCADAS, FARÓIS, ANTENAS DOS PARA-RAIOS, ENQUADROS DE JANELA, DISCUSSÕES POLÍTICAS, CEMITÉRIOS, TRANSPORTES, GRANDES AVENIDAS, VIELAS, VIADUTOS, APAGÕES, SINALIZAÇÃO, POLUIÇÃO, FAIXA DE PEDESTRE, CIMENTO, VERDE, ÁRVORES, NOITE, MUROS, MUITOS MUROS, MEDO, VIOLÊNCIA, MANIFESTAÇÕES, DESIGUALDADE, REVOLUÇÃO, RESISTÊNCIA, LUTA.


2.2

o corpo da mulher . . .


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PERNA, DEDO DO PÉ, CABELO, NARIZ, OLHOS, MÃOS, COTOVELO, UMBIGO, BARRIGA, VIRILHA, ARTICULAÇÕES, MAMILO, CLAVÍCULA, JOELHO, PELÔS, PEITO, UNHA, CABEÇA, TRONCO, CÉREBRO, BOCA, OSSOS, MARCAS DE EXPRESSÃO, SUTILEZA, VEIAS, SANGUE, TORNOZELO, BUNDA, CALCANHAR, UNHAS, OUVIDOS, PELE, PULMÃO, REVOLUÇÃO, RESISTÊNCIA, LUTA.


2.3

o corpo no corpo

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48 —— 49

Para que seja possível e coerente fazermos a análise de como a relação da mulher se articula no espaço da cidade, primeiramente, faz-se necessário determinar o que, para o estudo, é definido como espaço urbano e o que o constitui. Pode-se considerar a cidade como resultado de uma concepção histórica, social, econômica e política moldada pelo coletivo, simultaneamente constituinte e produto das relações dentro da sociedade. Pensar neste espaço como local de construção social é também afirmar que a questão de gênero tem sua relevância na “produção e alteração das relações sociais e do espaço construído” (GONZAGA, 2011, p. 47). Portanto, não é possível entender a cidade como um espaço neutro, no qual as relações sociais acontecem alheias ao sistema de produção, mas que, “o espaço não reflete o social, e sim constitui uma de suas inúmeras dimensões.” (GONZAGA, 2011, p. 21, apud HOLANDA, 1985). A origem das cidades, segundo Harvey (2014, p.30) é pautada na “concentração geográfica e social de um excedente de produção, e conforme seu crescimento, ocorre a mercantilização do espaço”, ou seja, a terra urbana, que antes era comumente ocupada, passa a ser vista como uma mercadoria. Logo, a urbanização é encarada como um fenômeno de classe a partir do momento que é necessário, dentro do processo, extrair um excedente de alguém e de algum lugar, enquanto que o controle sobre sua destinação concentra-se na mão de poucos, quais sejam, os detentores dos meios de produção. (Harvey, 2014)


DO SER CIDADE

Assim, a desigualdade é encarada não como uma consequência, mas como conceito fundador das cidades. Dentro deste panorama de exploração-dominação na qual a cidade está inserida, é claro que, seus moradores, consequentemente, também o estão – e dentre eles, a mulher: “Desigualdade entre homens e mulheres não atravessam a produção e reprodução das cidades, mas são, por princípio, elementos constituintes das mesmas. [...] ao assumirmos as desigualdades de gênero como estruturadoras e dinamizadoras das cidades estaremos enfrentando a questão do poder e consequentemente dos privilégios que os homens têm com a conservação desta estrutura.” (GONZAGA, 2005, p.1) Ao considerar estes vínculos de poder da qual são formadas as cidades, faz-se necessário desafiar essa relação existente entre quem utiliza o espaço e quem o domina por designação – introduz-se, assim, o conceito de “direito à cidade” como pauta de luta por uma reformulação urbana que atenda as necessidades específicas de seus diferentes indivíduos. Harvey (2008) recupera este conceito originado por Lefebvre nos anos 60 e interroga “a quem pertence o espaço?” (HARVEY, 2008, p.45) De que direitos estamos falando? E a quem eles atendem? “[...] o direito à cidade é um significante vazio. Tudo depende de quem lhe vai conferir significado. Os financistas e empreiteiros podem reivindicá-lo, e têm todo o direito de fazê-lo. Mas os sem-teto e os sans-papiers [...] também o podem. Inevitavelmente, temos de enfrentar a questão de os direitos de quem está sendo identificado, e, ao mesmo tempo, reconhecer, como Marx afirma n’O Capital, que ‘entre direitos iguais, o que decide é a força’. A própria definição de ‘direito’ é objeto de uma luta, e essa luta deve ser concomitante com a luta por materializá-lo.” (HARVEY, 2008, p.20)

Figura 19 ——— Manifestação contra demolição dos armazéns ferroviários históricos do Cais Estelita para construção de 13 torres comerciais e residenciais, em Recife.


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Figura 20 ——— Manifestação pelos direitos das mulheres na Avenida Paulista, São Paulo.

A partir disto, a cidade pode ser entendida como um território-palco no qual as lutas urbanas de movimentos sociais se apropriam da bandeira do “direito à cidade” como princípio fundador e inalienável às suas necessidades específicas, direcionando seus ideais e pautas de combate à uma nova forma de construir as cidades, através da superação do isolamento e da remodelação do urbano baseado em uma ideologia inclusiva contrária àquela apresentada pelos detentores de poder e capital e, ainda: “Somente quando se entender que os que constroem e mantêm a vida urbana têm uma exigência fundamental sobre o que eles produziram, e que uma delas é o direito inalienável de criar uma cidade mais em conformidade com seus verdadeiros desejos, chegaremos a uma política do urbano que venha a fazer sentido.” (HARVEY, p.11, 2008) Contudo, não é possível limitar a compreensão da produção do espaço urbano através, apenas, das desigualdades de renda e classe. A opressão e violência a respeito das questões de gênero estruturam o sistema capitalista tanto quanto, e são, inclusive, um dos elementos de sua manutenção. Ainda, segundo Vianna (2014), é através de uma questão de poder que a cidade é criada por homens e para homens (da classe social dominante), os quais se privilegiam com a manutenção deste sistema. Consequentemente, “constatar a falta de mulheres nos espaços políticos (espaços públicos por excelência) é fator essencial para compreender por que a cidade continua sendo um espaço que as segrega”. (VIANNA, 2014, p; 49) Sob esta perspectiva de gênero, entende-se que a desigualdade urbana se materializa na invisibilidade das mulheres na cidade, apoiadas na divisão sexual do trabalho, na qual, de acordo com Falú (2014), os homens são vinculados ao trabalho produtivo – geradores de rendimento – e as mulheres pensadas como responsáveis únicas do trabalho doméstico e reprodutivo – cuidar dos filhos e da organização do lar. Dividindo, assim, o espaço em duas esferas política-urbanas entre homem-público e mulher-privado.


DO SER CIDADE

Como é enfatizado em: “De baixo da distinção feita entre espaços públicos e privados são reforçados essas assimetrias entre homens e mulheres, sendo o corpo o primeiro território em disputa a ser recuperado pelas mulheres. Apesar dos progressos conquistados, os espaços públicos na cidade são predominantemente masculinos.” (FALÚ, 2014, p. 6) Portanto, é possível afirmar que estas disparidades em relação às mulheres, segundo Villagrán (2014, p. 204), “produziu bairros, ruas, transportes e serviços inadequados para suas necessidades dentro do espaço urbano.” E que estes espaços, em nenhum momento foram pensados levando-se em consideração o atendimento às necessidades geradas pelas especificidades das mulheres e das relações sociais de gênero. Ademais, o simples fato de serem mulheres, com todos os encargos gerados pela sociedade, interfere em sua mobilidade e vivência dentro dos espaços da cidade tanto público quanto privado. Os lugares públicos como ruas, parques e locais de recreação, em alguns períodos do dia e particularmente à noite, vão perdendo sua vitalidade urbana otimizadora da socialização e relações humanas do tecido social. Fator que afeta a todos os cidadãos em geral, mas principalmente as mulheres uma vez que a violência urbana ‘manifesta-se de forma específica em relação a elas, com os espaços vazios, com terrenos abandonados e parques, sem segurança, com a falta de iluminação pública e com os itinerários dos ônibus mal planejados, contribuindo para não proteção das mesmas.” (GONZAGA, 2011, p. 47) Assim, apesar de a sociedade negar à mulher esta liberdade de decidir sobre seu próprio corpo e ir e vir livremente como lhe é de direito, o corpo feminino povoa os muros e cartazes, consumido como signo das manipulações mercantis. “Só assim, como mulher objeto sexual, a mulher tem seu pleno espaço na cidade. Um grande


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Figura 21 ——— Usuários do Metrô.

paradoxo.” (GONZAGA, 2011, p. 176 apud CALIÓ, 1992). Uma maneira interessante de exemplificar a relação entre o papel da mulher e sua experiência na cidade é: “a mulher não se sente à vontade em sentar numa praça sozinha para ler, pensar na vida e relaxar, porque logo algum homem, passando por ali e vê uma mulher sozinha, sente-se no direito de importuná-la, afinal, uma mulher sozinha, em um parque ou uma praça, está querendo alguma coisa… [...] Com a mesma mulher na praça, porém rodeada de crianças, o homem pensará ‘essa mulher está trazendo seus filhos para passear no parque, cumprindo como manda a sociedade, seu papel protetor de mãe, e, portanto nada deve importuná-la, ela está segura, no seu papel exemplar de mãe, consequentemente, é esposa de alguém’.” (GONZAGA, 2011, p. 175 apud CALIÓ, 1992, p. 2)

Por fim, com o objetivo de entender de maneira mais aprofundada como essas desigualdades citadas acima se refletem no espaço urbano, especificamente na cidade de São Paulo, é importante analisar quais os lugares que a mulher ocupa – por vontade ou necessidade – e consequentemente, também, os lugares nos quais ela não ocupa. Para tanto, são apresentadas categorias responsáveis, de alguma maneira, por moldar as cidades brasileiras em relação a questão de gênero, são elas: a família tradicional, a mobilidade, o trabalho e a violência. E, ainda, ao final, como o Estado e as políticas públicas trabalham para o desenvolvimento e integração das mulheres na vida urbana e política.


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Figura 22 ——— Marcha. Foto: Flora Negri, do livro “Como as Mulheres Veem o Mundo”.


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“família tradicional”

Figura 23 ——— Mother and Children, Mobile, Alabama (37.010), 1956.

Figura 24 ——— Família Girardi em Nova Veneza, Santa Catarina, sem data.

Figura 25 ——— Divisão sexual do trabalho no molde da ideologia da família tradicional americana estadunidense nos anos 50 amplamente difundido para outros lugares do mundo, dentre eles a América Latina.

A família tem grande importância nas configurações sociais e espaciais das cidades. A alteração recente nos formatos das “famílias tradicionais” compostas por mãe, pai e filhos é um gancho essencial para entender como as cidades foram moldadas e se desenvolveram a partir da ideologia patriarcal, “caracterizada por uma autoridade imposta institucionalmente, do homem sobre mulheres e filhos no ambiente familiar, permeando toda a organização da sociedade, da produção e do consumo, da política, à legislação e cultura”. (BARRETO, 2004, p.64) No Brasil, essa alteração familiar acontece com extrema rapidez, em 1960 mais de 80% da população brasileira vivia em domicílios com essa configuração (mãe+pai+filhos) em contrapartida com 2010, ano em que menos de 50% da população vive em domicílios com essa configuração. Apresentando um crescimento relevante em relação aos casais sem filhos e famílias monoparentais, sendo 90% destas feminina. Portanto, estes dados permitem entender que o referencial de lar e a família, equacionados como signos conservadores, calcados em uma ideologia patriarcal e machista, começaram a esvair-se no século XX, no momento em que a sociedade tradicional avança para a urbanidade do cosmopolita: a divisão social e sexual do trabalho (com seus correspondentes nos espaços percorridos, na mobilidade e na inserção da mulher no espaço público); a descoberta e socialização da pílula anticoncepcional e, consequentemente, queda da taxa de fecundidade; pelos ideais da corrente feminista que, por sua vez, questionam o posicionamento patriarcal e propõe um avanço em relação à igualdade de gênero; e, ainda, através da emancipação da mulher por meio de políticas públicas afirmativas como, por exemplo, o programa social do Estado “Bolsa Família” que impulsiona divórcios através da assistência à independência financeira das mulheres9. Assim, com estas transformações da família, impulsionada pela emancipação feminina e ocupação das mesmas nos espaços públicos devido a entrada no mercado de trabalho, a forma e a maneira de vivenciar e pensar as cidades são radicalmente alteradas.

9 O bolsa família e os divórcios. PESSÔA, Samuel. Disponível em: <https://www.institutomillenium.org.br/artigos/pto-bolsafamlia-os-divrcios/>. Acesso em 17 de outubro de 2019.


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Tipo de arranjo familiar, segundo sexo da(o) chefe de famĂ­lia (%) 80 70

Masculino

60 50 40 30 20 10 0

80 70

Feminino

60 50 40 30 20 10 0 1995

casal com filhos

2001

casal sem filhos

monoparental com filhos

2005

monoparental sem filhos

2011

unipessoal


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Diminuição de casais com filhos chefiados por homens; AUMENTO DE CHEFIAS FEMININAS

Famílias monoparentais com filhos majoritariamente CHEFIADAS POR MULHERES

Mais famílias monoparentais sem filhos COM CHEFIA FEMININA

Aumento de famílias unipessoais, MAIOR ENTRE MULHERES

2015

Figura 26 ——— Ilustração referente ao desenvolvimento dos diferentes tipos de família ao longo dos anos. Fonte: IBGE/PNAD.


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trabalho

Figura 27 ——— Mulher cuidando de criança enquanto transporta vaso de água em sua cabeça. Jean Dieuzaide: Vieira de Leiria, Portugal, 1950.

O trabalho é entendido como aquele que faz transações dentro mercado, ou seja, no sistema vigente capitalista, o trabalho é apenas aquele pelo qual se recebe dinheiro em troca. Assim, a divisão do trabalho hierarquiza o trabalho reprodutivo (aquele sem remuneração, doméstico – mulher) em relação ao produtivo (proletariado – homem). O primeiro é extremamente desvalorizado e invisibilizado e não é nem enxergado como trabalho por não ser remunerado e sim “como algo que a mulher/esposa/mãe faz por amor e dedicação a sua família” (VIANNA, 2014, p. 23-24). A partir disto, segundo Viana (2014), cria-se uma base dual para a família: o homem provedor e a mulher na função de dona-de-casa e mãe, e mesmo trabalhando, sua renda será vista como simplesmente complementar a do homem. E, ainda, como complementa Gonzaga (2014, p.47): “O que mais interfere é sua condição de mulher, com sua dupla jornada de trabalho, tripla quando mães, e os problemas decorrentes de pertencer a uma classe social discriminada. Essa condição é agravada principalmente pela maternidade e por falta de infraestrutura (creches, escolas de tempo integral).” A feminização do trabalho acontece no Brasil em meados dos anos 70, fazendo com que as mulheres que estavam de fora do mercado de trabalho o adentrassem. Essa análise se refere as mulheres brancas, uma vez que as mulheres negras, desde o fim do longo período de escravatura brasileira, foram obrigadas a trabalhar e gerar renda. O que abre a discussão, também, para o fato de que para se libertar de sua dupla ou tripla jornada de trabalho acabam por discriminar outra mulher. Atualmente, no Brasil, as mulheres ocupam 44%10 das vagas de empregos registradas no país, as quais ganham aproximadamente 24%11 a menos do que os homens exercendo os mesmos cargos, além disso, são representantes de 47% das pessoas em situação de pobreza no país (feminilização da pobreza). E ainda, ocupam 75%12 a menos

10 IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, 2013. 11 World Economic Forum Annual Meeting, 2018 - Report. 12 Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. Disponível em <https://www.cut.org.br/noticias/ a-desigualdade-entre-homens-e-mulheres-no-mercado-de-trabalho-e-na-vida-ce54>


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cargos de liderança do que os homens, tanto no poder público como na iniciativa privada. Logo, é claramente perceptível as diferenças de caráter econômico em relação ao gênero. Ademais, vale ressaltar que 40,5%13 das famílias brasileiras são chefiadas exclusivamente por mulheres, as quais são submetidas a duplas jornadas e triplas quando mães. Multi jornadas estas que, a partir de uma pesquisa feita feita pela Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) em relação ao uso do tempo, revelam que a mulher trabalha em média 15 horas por semana a mais do que o homem se somados os dois tipos de trabalho14. A divisão sexual do trabalho influi diretamente nas experiências vivenciadas pelas mulheres nos espaços da cidade. A crítica ao planejamento urbano é direcionada principalmente à falta de compreensão em relação às necessidades específicas dentro dos deslocamentos da mulher devido sua dupla jornada de trabalho e tripla quando mães. Consequentemente, estes múltiplos deslocamentos (do trabalho até em casa, da escola, do hospital, da reunião familiar, do mercado, etc) são dificultados devido a distância entre os centros comerciais e de serviços até as áreas residenciais, intervindo negativamente na apropriação da cidade pela mulher. Desta forma, fica claro que a dupla ou tripla jornada de trabalho afeta a mobilidade da mulher, além de dificultar a obtenção de empregos de tempo integral. Para isso, é importante frisar uma medida adotada pelo Estado – pressionado pelo ativismo das lutas feministas – de assumir como sua responsabilidade parte do encargo da maternidade. A constituição de 1988, ouvindo o chamado “lobby do batom”15, organizado pelas feministas, incorporou, entre suas disposições, a maternidade como função social e a creche como um direito da criança e parte da política de educação, sendo dever do Estado, em âmbito municipal, a implantação e manutenção das creches.

13 www.otempo.com.br/interessa/comportamento/quase-30-milhoes-de-mulheres-chefiam-os-lares-no-brasil-1.203499 14 Uso do tempo. PNAD. Retrato das desigualdades de gênero e raça - 4ª edição. 15  Mulheres de partidos de diferentes vertentes se reuniram para conquistar e lutar, dentro do parlamento, pelos direitos específicos das mulheres brasileiras, a fim de que as cidadãs pudessem ser sujeitas de suas próprias histórias.


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mobilidade

São Paulo, cidade cosmopolita baseada nos moldes do capitalismo econômico moderno é formulada através de quatro funções chaves (carta de Atenas, 1941): habitar, trabalhar, recrear-se e circular. A função principal da “circulação” é conectar e estabelecer uma boa comunicação entre as outras três funções chaves e o principal meio de transporte desta ideologia foi o automóvel. A divisão sexual do trabalho corresponde a uma divisão no espaço urbano, tratando a casa como refúgio e a rua, ameaça. Devido à urbanização espraiada das cidades latino-americanas de concentração de empregos e serviços em uma área da cidade apenas, a função do transporte se limita a levar a força de trabalho de um ponto a outro da cidade, especialmente nos horários de pico. Ademais, mediante as multi-jornadas da mulher, é necessário locomover-se para terceiros ou quartos lugares entre o percurso moradia e trabalho, como por exemplo, mercados, creches ou escolas, etc. E ainda, em relação à questão de gênero e mobilidade: “a cidade, produto de cada sociedade e suas contradições, reproduz especialmente a situação de discriminação social vivida pelas mulheres, pois nela a divisão do espaço e do tempo expressa as mesmas divisões existentes na sociedade. E a maneira pela qual a cidade é estruturada afeta diretamente o tempo das mulheres: o importante fator da definição dos locais de moradia, dos equipamentos, do trabalho é o que determina seus trajetos, e se eles serão desgastantes ou gerarão contatos enriquecedores com a paisagem urbana.” (GONZAGA, 2011, p.174 apud CALIÓ, 1992, p.2) Figura 28 ——— Mulheres no ônibus em São Paulo.


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Figura 29 ——— Mulheres aguardando no ponto de ônibus.


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Figura 30 ——— Mulheres protestam na estação Sé contra o assédio sexual que vêm sofrendo dentro dos vagões e imediações das estações do Metrô.


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44 %

40,5 %

FORÇA DE TRABALHO NO BRASIL

DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS SÃO CHEFIADAS POR MULHERES

24 %

15h

MENOS NO VALOR DO SALÁRIO, EM RELAÇÃO AOS HOMENS

DE TRABALHO A MAIS POR SEMANA, EM RELAÇÃO AOS HOMENS

75 %

70 %

MENOS CARGOS DE LIDERANÇA DO QUE OS HOMENS

DAS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE POBREZA NO BRASIL


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Figura 31 ——— As lavandeiras.

Figura 32 ——— Mulheres negras trabalhando: as lavadeiras nas margens do Rio Tamanduateí.


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Essas diferentes relações se expressam nas mais diversas escalas do planejamento urbano, que por sua vez, exigem uma perspectiva de gênero a fim de enfatizar as diferenças entre a apropriação do espaço pelos diferentes grupos sociais. Haydee Svab (2016), investigou o impacto de gênero nos deslocamentos da cidade de São Paulo (região metropolitana) e indica que, em relação ao espaço público e a mobilidade urbana, as diferenças espaciais entre homens e mulheres aferem especificidades de deslocamentos ativos em relação ao gênero. As mulheres caminham mais a pé (pesquisa do metrô), correspondendo a 55% da população. Em continuidade à esta informação, Siqueira (2015), explica que a escolha de trajetos pelas mulheres aborda, quase que totalmente, o medo e a insegurança, atrelando a vulnerabilidade da mulher na cidade à violência de gênero, que acaba por moldar trajetos e horários nos quais as mulheres podem caminhar. Além do fato de pensarem muito bem sobre as roupas que vestem, escolherem um ponto de ônibus ante outro de acordo com o número de pessoas presente e as atividades que acontecem ao redor; e até mesmo escolher onde sentar dentro do ônibus. Logo, como conclui Gonzaga (2014, p. 47): “o fato de alguém ser mulher, com as imposições e encargos recebidos da sociedade, interfere em sua mobilidade e acessibilidade e na utilização do espaço público e privado. E despertar quem planeja, seja mulher ou homens, para o fato de que qualquer interferência na estrutura urbana, se não levar em consideração esses interesses, têm graves consequências sociais.” Atrelado à isso, não se pode deixar de comentar sobre a violência iminente nesses trajetos. Em relação à violência de gênero e o assédio sexual, de acordo com uma pesquisa realizada pela ActionAid (2014), 86% das mulheres no Brasil sofrem assédio nos espaços


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públicos e 68% das mulheres afirmam que é no transporte público onde elas sentem mais medo. Em frente às inúmeras denúncias e casos midiáticos, em 2018, o Estado, depois de décadas de assédio, finalmente toma uma providência em face a este problema e altera a legislação para combater a violência vivida pelas mulheres nos espaços públicos: a “importunação sexual”16 passa a constar no Art. 215 do código Penal. Assim, o transporte público deve se adequar e responder à diversidade de horários, distâncias e trajetos das mulheres. A mobilidade urbana deve, da mesma forma, envolver as necessidades específicas de segurança, a fim de facilitar o planejamento das atividades cotidianas, possibilitando o acesso igualitário e universal à cidade. As administrações públicas devem atuar sobre a acessibilidade, a segurança e o planejamento para afirmar a permanência e deslocamento da mulher na cidade. Ações como ampliação da iluminação pública das ruas, alargamentos dos passeios para comportar adequadamente o universo familiar e a melhoria do acesso de usuários de carrinho de bebês ilustram um planejamento que valoriza a universalidade do cotidiano da mulher.

16 “Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.” Lei Nº 13.718, 24/09/2018.


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violência

Figura 33 ——— Ilustração referente à violência contra a mulher.

Segundo a ONU, 7 em cada 10 mulheres no mundo já foram ou serão violentadas em algum momento da vida17. No Brasil, o número exorbitante de violência à mulher, tanto física quanto psicológica, retrata a manifestação da desigualdade de gênero no país e os dados desenvolvidos ao longo deste tópico demonstram que não existe lugar seguro de fato para as mulheres, tanto o espaço privado quanto o público compõe um cotidiano com possibilidades de violência que é sustentada por uma ideologia que ainda é profundamente machista, e ainda, segundo Tavares (2008) impacta na forma que ela se apropria (ou não) do espaço urbano. Ademais, essas violências se apresentam de uma maneira potencializada através da tendência social de culpabilizar as mulheres pelas agressões das quais são vítimas diariamente. Como afirma Falú (2013), a normatização do espaço público como masculino e por ele vedado às mulheres, contribui para que se sintam responsáveis quando são vítimas de algum delito na via pública, culpando-se por suas vestimentas ou por circular em horários específicos uma vez que “seus corpos são visualizados como objetos de dominação.” (GONZAGA, 2011, p. 87) Por consequência, mais da metade das mulheres (52%)18 que sofreram algum tipo de agressão não denunciou ou procurou ajuda. Não se pode citar violência contra a mulher sem mencionar sobre aquela que tem como palco o ambiente privado. A violência doméstica apresenta, atualmente, dados de que uma mulher registra agressão sob a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006)19

17 Disponível em <https://nacoesunidas.org/no-dia-internacional-da-mulher-onu-pede-fim-de-todos-os-tipos-de-violenciade-genero/>. Acesso em 13. ago. 2019. 18 Violência contra a mulher. FRANCO, Luiza. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47365503>. Acesso em 17 set. 2019. 19 Importante ferramenta legislativa no combate à violência doméstica e familiar contra mulheres no Brasil. Maria da Penha Maia Fernandes (Fortaleza, Ceará, 1945) é uma farmacêutica brasileira que lutou para que seu agressor viesse a ser condenado. Em 1983, seu marido tentou matá-la duas vezes. Na primeira vez atirou simulando um assalto, na segunda tentou eletrocutá-la enquanto ela tomava banho. Por conta das agressões sofridas, Penha ficou paraplégica. Dezenove anos depois, seu agressor foi condenado somente no mês de outubro de 2002, quando faltavam apenas seis meses para a prescrição do crime. [5] Heredia foi preso e cumpriu apenas dois anos (um terço) da pena a que fora condenado. Foi solto em 2004, estando hoje livre.


DO SER CIDADE


74 —— 75

Figura 34 ——— Stencil em muro. Fonte: Viana do Castelo, ruas e paredes (julho 2017).

Figura 35 ——— Maria da Penha.

a cada 2 minutos ou seja, uma média de 606 casos de lesão corporal dolosa em contexto de violência doméstica e familiar por dia (12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública FESP, 2018) e aproximadamente 145 mil casos de violência em 2018. (Sistemas de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde). Ademais, 76,4% das mulheres conheciam o autor da violência, tendo em sua maioria namorados, maridos e ex-maridos. A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006) reconhece os índices de violência à mulher e faz uso de mecanismos para sua prevenção, alterando o Código Penal e propondo penas sólidas para os agressores. É claro que a articulação de serviços como os Centros de Referência e as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher são indispensáveis para o confronto à violência, assim como para a prevenção da mesma, por mais que os serviços ainda sejam visivelmente desiguais dentro das zonas da cidade. Adentrando os dados, a taxa global de homicídios feminino foi de 2,3 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres enquanto que os dados brasileiros superam em 74% a média mundial, com um dado preocupante de 4 mulheres mortas para cada grupo de 100 mil. Por isto, é considerado o quinto país com a maior taxa de homicídios em relação às mulheres. Nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de assédio. E ainda, quase todas as brasileiras com mais de 18 anos (97%) afirmaram que já passaram por situações de assédio sexual no transporte público, por aplicativo ou em táxis. (institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber)20.

20 Violência contra a mulher. FRANCO, Luiza. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil47365503>. Acesso em 17 set. 2019.



76 —— 77


DO SER CIDADE

UMA MULHER É VÍTIMA DE ESTUPRO A CADA 9 MINUTOS, TOTALIZANDO 60.018 CASOS REGISTRADOS.21

3 MULHERES SÃO VÍTIMAS DE FEMINICÍDIO A CADA 3 DIAS. 4.539 MULHERES VÍTIMAS DE HOMICÍDIO, DA QUAL 1.133 REGISTRADAS COMO VÍTIMAS DE FEMINICÍDIO.22

HÁ, EM MÉDIA 10

ESTUPROS COLETIVOS NOTIFICADOS TODOS OS DIAS NO SISTEMA DE SAÚDE DO PAÍS.23

SOMENTE 15,7% DOS ACUSADOS POR ESTUPRO FORAM PRESOS.24

21 e 22 12º anuário brasileiro de segurança pública (FESP, 2018). 23 Dados do Ministério da Saúde de 2016, obtidos pela Folha de S. Paulo. 24 Dados do estado de São Paulo obtidos pelo G1, referentes aos meses de janeiro a julho de 2017.


78 —— 79

UMA MULHER É VÍTIMA DE...

...ASSÉDIO FÍSICO EM TRANSPORTE PÚBLICO A CADA 6.1 SEGUNDOS;

...ASSÉDIO NO TRABALHO

A CADA 4.6 SEGUNDOS;

...ASSÉDIO NA RUA

A CADA 1.5 SEGUNDO;

...ESPANCAMENTO OU TENTATIVA DE ESTRANGULAMENTO

A CADA 22.5 SEGUNDOS;

...VIOLÊNCIA FÍSICA

A CADA 7.2 SEGUNDOS.

25 Relógios da violência. Disponível em <https://www.relogiosdaviolencia.com.br/>. Acesso em 19 set. 2019.

25


DO SER CIDADE

Embora estes números demonstram os altos índices de violência contra a mulher dentro do espaço privado, a violência urbana também é extremamente significativa. Tanto a produção quanto a manutenção dos locais hostis dentro da cidade, ou seja, espaços cujas características criam um ambiente que facilita a violência de gênero, como por exemplo, à falta de iluminação pública, espaços vazios, terrenos abandonados, espaços murados de grande distâncias e grandes eixos de mobilidade que produzem desertos em seu entorno geram insegurança na mulher e limitam o seu direito de desfrutar dos espaços da cidade. Ademais, é evidente que, para as mulheres das classes mais baixas, a falta de condições econômicas faz com que a violência seja agravada, pela dificuldade de acesso aos serviços que lhes proporcionam defesa, além de apoio psicossocial e jurídico. Logo, a urgência com que as ações governamentais necessitam intervir é indiscutível. É através das políticas públicas afirmativas das questões de gênero que será possível assegurar a segurança à mulher dentro da cidade, diretamente relacionada à capacidade de autonomia, emancipação e à “a apropriação por parte das mesmas do território, primeiro o corpo que habitamos, para poder fazê-lo com outros territórios: a casa, o bairro, a cidade, o território coletivo, das formas organizadas, da vida social, política, econômica, cultural de recreação, as que precisamos transitar com segurança.“ (GONZAGA, 2014, p. 78) A fim de que este objetivo possa ser atendido, é necessário trabalhar através de fatores espaciais que contribuam para a percepção de segurança no espaço público, como a iluminação, visibilidade, rotas alternativas, variedade e universalidade de usos, movimentação, fluxo e presença de diferentes pessoas e atividades mistas. Ademais, para que as mulheres tenham seu título de cidadãs por completo e sejam respeitadas em todas as formas possíveis é necessário que seus agressores sejam tratados com punições reais e adequadas.


80 —— 81

Figura 36 ——— Campanha de Violência contra a mulher.


DO SER CIDADE


82 —— 83

política o estado e suas ações

Figura 37 ——— “tudo é político quando você é mulher.”

A partir das análises anteriores, fica claro que as mulheres possuem necessidades específicas em relação ao gênero, e que é urgente a intervenção no panorama político-social-econômico da cidade para incentivar as resoluções afirmativas de gênero. Uma das propostas é a de que o estado assuma as políticas públicas em relação ao gênero, uma vez que “a opressão e a discriminação são construções sociais que favorecem o atual sistema político econômico e social que tem garantido as desigualdades sociais, sendo a mulher a mais penalizada, gerando, portanto, uma dívida da sociedade para com as mulheres, que só poderá ser resgatada por intermédio do estado. E, para que ela venha a ser saltada minimamente, entre outros fatores, é necessário que o estado, seja na esfera local, seja em nível mais amplo, atue de modo intersetorial, auxiliado e orientado pelo trabalho de pesquisas interdisciplinares e com equipes multidisciplinares.” (GONZAGA, 2011, p. 258) Ainda que, segundo a articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), a implementação de políticas para mulheres não esteja sob orientação das mesmas em sua maioria e que a gestão pública ainda seja dominada por nomes masculinos, observa-se um aumento exponencial do protagonismo da mulher dentro dos governos, sejam gestoras governamentais, assessoras ou ativistas na luta feminina. A visão duplamente enriquecida através das pesquisas e do movimento feminista sobre o que foi construído e vivenciado coletivamente até agora resultaram em um debate muito rico sobre as novas maneiras de potencializar o poder feminino em incidência ao executivo, buscando realizar as mudanças necessárias nos caminhos das políticas públicas com o objetivo de dar visibilidade às mulheres dentro das cidades, do que diz respeito tanto ao espaço privado quanto ao público. Como, por exemplo, as conquistas do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013, p. 9-10) que tem as diretrizes a seguir: “Autonomia das mulheres em todas as dimensões da vida, busca da igualdade efetiva entre mulheres e homens, em todos os âmbitos; respeito


DO SER CIDADE

à diversidade e combate a todas as formas de discriminação; universalidade dos serviços e benefícios ofertados pelo estado; participação das mulheres em todas as fases das políticas públicas; transversalidade como princípio orientador de todas as políticas públicas” E o documento lançado pela assessoria dos direitos da mulher, o qual propõe: “sistemas especiais Defensoria contra violência e contra a discriminação no emprego, políticas de saúde integral, a criação de novas oportunidades em todas as áreas da economia, a garantia de acesso à educação e a formação profissional, incentivos à criação de rendimentos, facilitando se o acesso ao crédito, a criação de políticas habitacionais especial, etcétera. Tudo isso visando a partilhar as responsabilidades da reprodução da força de trabalho e, formular políticas afirmativas que criem a base para que se exerça a igualdade de direitos e deveres, tal como se dar no exercício da paternidade.” (GONZAGA, 2011, p.178 apud Assessoria dos direitos das mulheres/PMSA, 1992, p.3) Portanto, é tarefa de um ramo enorme de profissionais, pensar na cidade como este meio que deve incluir as necessidades de todos, com todas as diferenças analisadas, estudadas e entendidas para poderem trabalhar como um todo que possa funcionar. Assim, é indispensável combinar qualidade e universalidade de serviços dentro dos organismos públicos da cidade tendo em vista os sujeitos das políticas: no caso, as mulheres como cidadãs, com o direito às cidades que também é seu, demandando por projetos e políticas que transformem suas condições de protagonismo. Por fim, embora as políticas públicas ou iniciativas privadas estejam em formulação ou até mesmo em percurso, para que nossos direitos à cidade sejam atendidos e estudados, cabe a nós, enquanto mulheres, “continuarmos entrincheiradas e batalhando para ter visibilidade, exigindo que sejamos tratados como sujeitos de direito.” (GONZAGA, 2011, p. 275)

Figura 38 ——— Marcha das Vadias, São Paulo, Brasil, 2012. Fonte: João Veppo.


84 —— 85



.. .

DOS FARÓIS

..... .


3.1

o grid

. ..


88 —— 89

A partir das análises anteriores e do enquadramento do estudo definido como a cidade de São Paulo, a qual “grosseiramente, não é tratada como mulher, nem sequer como pessoa e sim como máquina, a locomotiva do país” (RISÉRIO, 2015, p. 64), foi criado uma proposta de um projeto utópico que possa funcionar como uma manifestação à essas incidências de violência contra à mulher dentro dos diferentes territórios do município.


DOS FARÓIS

Figura 39 ——— Mapa feito pela autora baseado na pesquisa.

MAPA DA VIOLÊNCIA

o mapa aponta os locais de incidência da violência contra à mulher e como esses índices estão concentrados nos diferentes municípios da cidade de São Paulo.

102,3-219,5 O GRID

o grid sobreposto ao mapa representa um plano cartesiano que, em seus cruzamentos (entre as linhas horizontais e verticais) formam pontos que indicam a incidência da violência contra a mulher. Ou seja, nos locais em que o índice de violência é maior, as linhas horizontais e verticais se fecham mais, e consequentemente, formam mais pontos. Em contrapartida, onde o índice é menor, existem menos linhas e menos pontos.

PONTOS

é justamente nestes pontos de intersecção das linhas horizontais e verticais, ou seja, nos cruzamentos do grid, onde é implantado um farol que mira e dá o suporte necessário às mulheres dentro da cidade. Como algo que as vigia e as protege, como uma manifestação feminista de resistência e luta em espaços hostis às mulheres.

219,5-309,4 309,4-515,8 515,8-803,9

1 Sé

17 Casa verde

2 Mooca

18 Freguesia do ó

3 Vila Prudente

19 Pirituba

4 Aricanduva Formosa

20 Perus

5 Sapopemba

21 Lapa

6 São Mateus

22 Pinheiros

7 Itaquera

23 Vila Mariana

8 Cidade Tiradentes

24 Ipiranga

9 Guaianazes

25 Butantã

10 Itaim Paulista

26 Campo Limpo

11 São Miguel Paulista

27 M'boi Mirim

12 Ermelino Matarazzo

28 Santo Amaro

13 Penha

29 Jabaquara

14 Vila Maria

30 Cidade Ademar

15 Santana

31 Capela do Socorro

16 Tremembé Jaçanã

32 Parelheiros


90 —— 91

Número total de ocorrências de violência contra a mulher (todas as categorias), para cada dez mil mulheres na faixa etária de 20 a 59 anos26

26  Fonte: SSP, IBGE, Seade. Créditos: Luciana Itikawa.


DOS FARÓIS

Figura 40 ——— Os faróis posicionados na intersecção do grid. o topo é nivelado pelo posicionamento do grid, tornando os faróis mais ou menos altos dependendo do relevo encontrado no local de implantação. Fonte: autora.


92 —— 93


3.2

a quadra-triângulo: uma interpretação

. ..


94 —— 95


DOS FARÓIS

A área escolhida para o aprofundamento – dentre as existentes na proposta do projeto utópico urbano dos faróis – se dá no centro novo de São Paulo, no bairro da República, em um local no qual a autora denomina como “a quadra-triângulo”. O embasamento para este alcance adentrou à pesquisa da prefeitura relacionada à porcentagem de agressão às mulheres por regiões de São Paulo, evidenciando o centro novo com um índice de, em média, 400 mil casos de ocorrência de violência a mulher (todas as categorias) (figura 26). Índice elevado, devido à alta concentração e fluxos diários nesta região central. A implantação central atua, também, como um desejo de que ali possa ser implementado um nodo focal que aja como um estímulo desencadeador, um impulso dinamizador que seja capaz de repercutir para as áreas mais periféricas de São Paulo: atuando como um pulsar, soando e ressoando a perspectiva de gênero, mostrando sua importância e necessidade. A diretriz elementar que guiou a escolha do terreno para a implementação do farol central a ser desenvolvido foi a viabilidade de acesso ao espaço, através das três vias (Rua da Consolação, Avenida Ipiranga e Avenida São Luís) bem definidas com diversas linhas de ônibus que vão para todas as zonas da cidade, as duas estações de metrô (República e Anhangabaú) e o terminal Bandeira. Além da especulação de mais de uma frente no lote, permitindo o acesso mais rápido com possibilidades mais amplas entre a quadra. Outro fator decisivo foi a diversidade de usos do local, fomentando assim, um fluxo de pessoas para além do horário comercial, assegurando uma maior vitalidade às ruas da região. Assim, a quadra foi escolhida e, consequentemente, o terreno. Ou vice-e-versa. A quadra-triângulo solidifica-se muito bem enquanto definição do crescimento e desenvolvimento da modernidade em São Paulo: quando Prestes Maia, em 1938, visando adequar a escala das construções com as novas avenidas e estimular a verticalização como sendo sinônimo do desenvolvimento econômico do período moderno. Os edifícios entregues neste novo modelo tipológico, localizados ao longo dessas vias perimetrais e radiais do plano de avenidas apresentavam-se como um tecido urbano compacto e bastante adensado, porém com grande permeabilidade em seus térreos, possibilitando

Figura 41 ——— Zoom out da quadra-triângulo. Fonte: autora.


96 —— 97

São

Lui

s

Rua da Consolação

Av e

a nid

Av

en

id

aI

pi

ra

ng

a


DOS FARÓIS

Figura 42 ——— À esquerda: o modulor de Le Corbusier. À direita: uma releitura atual que toma frente uma das representatividades possíveis da devida crítica à neutralidade da escala.


98 —— 99

o ritmo agitado da metrópole: mesclando e articulando a verticalidade e a horizontalidade, com os térreos que funcionam como uma extensão da rua. Contudo, não se pode deixar de lado o fato de que a ideologia vigente nesta época de materialização da cidade de São Paulo é a do urbanismo moderno, fortemente apoiada no patriarcado e em uma ideia de falso liberalismo. “Aceitando como positivas as ideias de progresso e modernidade, deslocou o interesse dos urbanistas dos aspectos sociais e econômicos para estruturas técnicas, funcionais e estéticas. A ausência de crítica produziu distorções na realidade, passando-se a trabalhar com valores supostamentes universais, com um espaço indiferenciado visando a eficiência em todos os sentidos.” (LIMA, 2006, p. 99) O pressuposto básico dessa construção era da universalidade do homem moderno, que resultou em 1953 na proporção “Modulor” de Le Corbusier (1887-1965), que aludia ao corpo de um homem caucasiano de 1,829 metros que representava o “cidadão-neutro”, escala utilizada para projetar, entre outras coisas, o pé-direito, caixilhos, escadas e portas. “A força da ordem masculina se evidencia no fato de que ela dispensa justificação: a visão androcêntrica impõe-se como neutra e não tem necessidade de se enunciar em discursos que visem a legitimá-la [...]”. (BOURDIEU, 1999. p.18.)

Assim, tudo o que é produzido materialmente e imaterialmente nesta época, é baseado na neutralidade falaciosa da ótica masculina. O desenho urbano e suas interligações, consequentemente, também representam estas relações de poder. E é justamente o urbanismo moderno, período em que a quadra-triângulo foi alterada para chegar nas proximidades do que existe hoje em dia, que padroniza as escalas e o ser humano nas bases dos detentores de poder.


DOS FARÓIS

3.1

vitalidade

. ..


100 —— 101

As fotos-colagem a seguir são um registro da quadra-triângulo, as Avenidas São Luís e Ipiranga e a Rua da Consolação: escolhidas como eixos de ação para o plano urbano por se interligarem direta ou indiretamente com o terreno e seus acessos ao edifício-grito-luta-mulher a ser construído. A partir do que foi abordado e entendido no decorrer deste estudo, a seguinte indagação surge: “como fazer uma proposta relacionada à questão de gênero que possa ser aplicada no espaço urbano?”. Para tentar responder essa pergunta foram separados 5 itens imprescindíveis para uma vivência minimamente mais segura, confortável e harmoniosa na cidade, que serão aplicados a partir do estudo da quadra.


DOS FARÓIS

terreno


102 —— 103

terreno

Figura 43 ——— Rua da Consolação.

Figura 44 ——— Avenida Ipiranga.

Figura 45 ——— Avenida São Luis.


DOS FARÓIS

Figura 46 ——— Cruzamento entre as Avenidas Ipiranga e São Luis e Praça da República.


104 —— 105

iluminação

1

A iluminação noturna é um dos maiores fatores da insegurança pública para todas as pessoas, principalmente para as mulheres. A quadra-triângulo possui um número relativamente alto de postes de iluminação urbana, porém todos voltados majoritariamente ao trecho viário enquanto o pedestre permanece desfavorecido. Ademais, é perceptivel a influência em que as copas das árvores exercem na incidência da luz nas ruas, exigindo um reforço na iluminação artificial.

1

Figura 47 ——— Cruzamento entre as Avenidas Ipiranga e São Luis e Praça da República. Em azul, a intervenção da autora.

postes


DOS FARÓIS

Figura 48 ——— Calçada na Rua da Consolação.


106 —— 107

calçadas

As calçadas são de extrema importância para uma maior caminhabilidade do entorno. O fato de que as mulheres andam mais a pé do que os homens também ressalta a questão de gênero dentro da cidade. As calçadas devem ser bem acabadas, acessíveis, conter o fluxo de pedestres e propor atravessamentos com faixas de pedestres tanto nos cruzamentos, como entre eles.

4

1

2

Figura 49 ——— Calçada na Rua da Consolação. Em azul, a intervenção da autora.

1

faixa de acesso (l=1.5) para adentrar estabelecimentos, podendo conter vegetação, toldos, rampas, entre outros

2

faixa livre (l=1.50m) para circulação de pedestres

3

faixa de serviço (l=1m) onde ficam postes, lixeiras, rampas e árvores

4

esquinas com conexões seguras (faixas de pedestres e faróis) e acessibilidade universal (rebaixamento da calçada)

3


DOS FARÓIS

Figura 50 ——— Calçada na Avenida São Luis, em frente ao Edifício Louvre.


108 —— 109

mobiliário urbano

O mobiliário urbano pode trabalhar aqui como um sinônimo da criação de espaços vitais para a cidade, não só de passagem, mas de permanência. Motivando pausas, descansos e vislumbres. Além de poder ser trabalhado em conjunto com a iluminação.

1

2 3

4

Figura 51 ——— Calçada na Avenida São Luis, em frente ao Edifício Louvre. Em azul, a intervenção da autora.

1

postes (ver item “iluminação”)

2

canteiros

3

bancos para permanência

4

lixeiras (recicláveis e não recicláveis)


DOS FARÓIS

Figura 52 ——— Térreo inativo na Avenida São Luis.


110 —— 111

barreiras

As barreiras analisadas se referem, por exemplo, a loteamentos murados, térreos de comércios inativos ou viadutos. Os quais podem se tornar locais agressivos para as pessoas que estão passando pelo local, uma vez que não há pessoas por perto. Uma das propostas é a da transparência, ou seja, você continua tendo as barreiras físicas, porém entende o que está do outro lado, ou consegue visualizar para onde aquilo se dirige. 1

2

Figura 53 ——— Térreo inativo na Avenida São Luis. Em azul, a intervenção da autora.

1

fachadas ativas (lojas, cafés, restaurantes)

2

toldos e mesas (extensão ao estabelecimento)


DOS FARÓIS

1

Biblioteca Mario de Andrade

5

Terraço Itália

2

Galeria Metrópole

6

Copan

3

Edifício Louvre

7

Roosevelt

4

Pontos de ônibus

Figura 55 ——— Quadra triângulo e locais relevantes ao redor. Fonte: autora.

1

Praça da República

Metrô Anhangabaú Pontos de ônibus

Metrô República

2 3

4 5

6

4 7

Metrô Higienópolis Mackenzie


112 —— 113

vitalidade

Figura 56 ——— Esquema de todos os itens anteriores mesclados, gerando a vitalidade ao entorno. Fonte: autora.

A vitalidade é, sem dúvida, o item mais importante que integra todos os anteriores e assegura uma vivência mais harmoniosa com a cidade. A vitalidade é gerada a partir dos aspectos adequados da iluminação, visibilidade, rotas alternativas, variedade e universalidade de usos, movimentação, fluxo, presença de diferentes pessoas e atividades mistas.



.. .

DO PROJETO

..... .


DO PROJETO


116 —— 117

Figura 57 ——— Perspectiva externa do térreo livre e jardim central.


DO PROJETO

”imagine várias esquinas cheias de mulheres sentadas conversando, passeando, alimentando as crianças, trocando receitas e livros, planejando a festa do bairro ou apenas se entregando ao tempo que passa. Imagine esquinas cheias de mulheres jovens assistindo o mundo passar enquanto saboreiam um chá, discutem política, novelas e o mais recente orçamento financeiro. Imagine esquinas cheias de mulheres mais velhas contemplando o estado do mundo e relembrando suas vidas. Imagine esquinas cheias de mulheres [...]” (PHADKE, 2011) O projeto vem de maneira a propor uma crítica à problemática desses espaços – desde sua fundação até o momento atual – através de um local de memória às lutas das desigualdades de gênero e apoio à mulher. Agregando maior vivência à caminhabilidade do entorno, gerando fluxos e transposições para que o espaço possa ser usufruído pelos pedestres, tanto para permanência quanto para passagem, dando uso e revitalizando um local agressivo às mulheres para um lugar de conscientização, resistência e luta. A ocupação do terreno acontece de modo a propor uma transposição entre a Rua da Consolação e a Avenida Ipiranga, garantindo a liberação do térreo através da passagem principal e da praça central somada à fachada ativa com restaurantes, cafés e os halls de acesso público e privado.

Figura 58 ——— Implantação da quadra-triângulo. Em pontilhado, a conexão feita a partir da implantação do projeto entre as três ruas.

Figura 59 ——— Elevação (vista 03). Em pontilhado, a conexão em desnível que o projeto realiza entre a Rua da Consolação e a Rua Interna do Copan, desembocando na Avenida Ipiranga.


118 —— 119

Av

Avenida Ipiranga (rua interna Copan)

e

en

id

aI

São

Lu

is

Rua da Consolação

Av

a nid

pi

ra

ng

a

Rua da Consolação


DO PROJETO

Figura 60 ——— Perspectiva interna da sala de exposição.


120 —— 121


DO PROJETO

O programa é separado em duas frentes: cultural-educacional e de apoio/assistência. CULTURAL-EDUCACIONAL

1

térreo livre com restaurantes + mercado + halls

2

salas de exposição

3

biblioteca

4

foyer

5

APOIO

11

centro de atendimento (triagem, suporte médico, legislativo e jurídico, com bases da delegacia da mulher – garantindo os direitos e estimulando o cuidado e a prevenção).

11.1

acolhimento, triagem e suporte médico

auditório

11.2

delegacia

6

café elevado

11.3

creche - berçário

7

espaços multi-usos que podem ser adaptados de acordo com as necessidades (salas de aula, workshops)

11.4

creche - primário

8

administração conjunto

9

jardim elevado

10

mirante

12

centro de acolhimento (núcleo de residências temporárias com áreas em comum para articular a vivência das mulheres e mesclar as perspectivas para o fortalecimento a partir da troca).

12.1

residências temporárias

12.2

horta

13

centro de empoderamento (trabalhar a autonomia e autoestima através de cursos e workshops, como por exemplo, de dança, teatro, marcenaria, cerâmica, moda, tecnologia, mecânica, cozinha experimental, artes marcais, yoga, pintura e desenho, música, entre outros). Está localizado nas bases públicas, para incentivar o convívio com as outras pessoas e estimular as trocas.


122 —— 123

12.2

10

9 12.1

8 12.1

7 13 12.1

7 13 6

6 5

4

2 3

11.4 2

11.3

2 11.1

1

Figura 61 ——— Perspectiva explodida do prédio e seus respectivos usos.

11.2

1


DO PROJETO

PÚBLICO E PRIVADO

MULTIFUNCIONALIDADE

o programa é composto de dois usos distintos: um público de cultura, educação e lazer e outro privado de apoio à mulher;

utilização do uso misto entre os andares, com garantia à separação privada necessária;

JOGO DE VOLUMES

CHAPA PERFURADA

subtrações para agregar uma maior dinâmica ao edifício, através de espaços abertos, fechados, pés direitos duplos e triplos;

mantém a unidade da fachada, estabelecendo momentos com certa transparência idealizada e outros com menor exposição.


124 —— 125

Figura 62 ——— Perspectiva isométrica da inserção do projeto no entorno. Fonte: autora.

Embora a divisão entre público e privado seja imprescindível, a mescla de usos entre andares e a subtração dos volumes somados à transparência obtida através da chapa perfurada, incentiva a troca de ambientes e pontos de vistas distintos entre os usuários do edifício. A assistência é dirigida a mulheres em situação de vulnerabilidade e acontece de maneira temporária, trabalhando com o abrigo e em conjunto à atividades de reintegração e capacitação. Simultaneamente, o público geral estimula a troca de conhecimento e age como espectador ativo do processo.


DO PROJETO

Figura 63 ——— Planta do térreo. 2 acesso térreo 3 restaurante 4 hall acesso cultural 5 hall acesso apoio 6 apoio hall 7 mercado


126 —— 127

Figura 64 ——— Planta do mirante cultural. 34 mirante 35 casa de máquina


DO PROJETO

Figura 65 ——— Planta do subsolo. 1 depósito

Figura 66 ——— Planta do primeiro pavimento (apoio). 9 recepção acolhimento 10 atend. psicológico em grupo 11 atend. psicológico individual 12 saúde 13 recepção jurídico/delegacia 14 delegacia 15 jurídico

Figura 67 ——— Planta do segundo pavimento (creche e exposição). 16 creche berçário 17 exposição


128 —— 129

Figura 68 ——— Planta do terceiro pavimento (creche+exposição). 18 creche pré-escola 18a playground creche 19 exposição 19a varanda

Figura 69 ——— Planta do quarto pavimento (exposição). 20 exposição

Figura 70 ——— Planta do quinto pavimento (biblioteca). 21 biblioteca


DO PROJETO

Figura 71 ——— Planta do sexto pavimento (auditório + foyer). 22 foyer 23 auditório

Figura 72 ——— Planta do sétimo pavimento (café elevado).

24 café elevado

Figura 73 ——— Planta do oitavo pavimento (residencial + workshop). 25 workshops 26 residência temporária


130 —— 131

Figura 74 ——— Planta do nono pavimento (residencial + sala de aula). 27 sala de aula 28 residência temporária

Figura 75 ——— Planta do decimo pavimento (residencial + administração).

29 residência temporária 30 adm. do complexo multifuncional

Figura 76 ——— Planta do décimo primeiro pavimento (horta residencial + jardim elevado cultural). 31 jardim residencial 32 reservatório 33 jardim público


DO PROJETO


132 —— 133

Figura 77 ——— Perspectiva do mirante e do jardim elevado, visto da rampa.


DO PROJETO

Figura 78 ——— Corte aa

Figura 79 ——— Corte bb


134 —— 135

Figura 80 ——— Corte cc


DO PROJETO

Figura 81 ——— Elevação 3.

Figura 82 ——— Elevação 1.


136 —— 137

Figura 83 ——— Elevação 4.

Figura 84 ——— Elevação 3.


DO PROJETO


138 —— 139

Figura 85 ——— À esquerda: ampliação elevação fachada.

Figura 86 ——— À direita: detalhe em corte da unidade habitacional temporária, jardim elevado e abertura das chapas perfurada.


DO PROJETO


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Figura 87 ——— Perspectiva externa do entorno.

Os espaços foram projetados para o melhor aproveitamento e acolhimento da mulher, pensados PARA FUNCIONAR COMO RESISTÊNCIA E ABRIGAR A LUTA DIÁRIA DO SER MULHER, fomentando ideais feministas que possam impulsionar mudanças de perspectivas para uma sociedade mais inclusiva.


DO PROJETO


..... .

.. .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

142 —— 143


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade é um território que evidencia e mantém suas desigualdades através dos interesses de uma pequena parcela da sociedade detentora do poder. Assim como as discrepâncias raciais e de classes, as disparidades entre homens e mulheres não transitam na produção e reprodução das cidades, mas são componentes integrantes das mesmas. Consequentemente, entende-se a posição da mulher enquanto ser a margem, com sua figura atrelada ao espaço doméstico, subvalorizado e passivo em contrapartida com o espaço público, ativo, detentor do poder, do homem. Apesar dos avanços significativos da atualidade em relação à mulher no mercado de trabalho, nas bancadas políticas, na autonomia conquistada através de políticas públicas afirmativas de gênero, elas ainda são associadas a esta esfera privada, reprodutiva. A entrada da mulher nestes espaços considerados masculinos somados à não readaptação da cidade e do comportamento social para recebê-las, materializa-se através da vulnerabilidade e violência à mulher nas ruas: o assédio, o estupro, a violência, revelam o espaço como hostil e exprimem a dominação masculina sobre o local e sobre seus corpos. Após compreendido como essas disparidades são refletidas espacialmente, a cidade tem que ser urgentemente revista: é imprescindível que os organismos do Estado – em


144 —— 145

combinação com os órgão públicos, entidades privadas, grupos feministas e audiências abertas ao público geral de mulheres – direcionem ações para a produção de políticas públicas afirmativas e criem ferramentas que sejam efetivamente capazes de consentir a superação das desigualdades, para que as mulheres assumam seus lugares de reais cidadãs na cidade. Desta maneira, entender estes moldes de opressão e desigualdade que vem sendo materializados é o primeiro passo para assimilar como o arquiteto urbanista pode e deve propor lógicas que quebrem as normas opressoras e desiguais do sistema capitalista vigente. A temática da perspectiva de gênero está intrinsecamente relacionada aos estudos urbanísticos e arquitetônicos em sua lógica de produzir o espaço através do planejamento urbano sensível ao gênero, quebrando com a lógica hegemônica de produção e, assim, propor novos métodos, desenhos, linguagens e leis para uma cidade mais democrática e inclusiva. Por fim, pode-se concluir que ser mulher dentro da sociedade contemporânea é lutar e resistir a cada dia. É enfrentar a lógica dos dispositivos de opressão que nos impõe margens de ação cada vez mais encurtadas. À luta iremos (sempre).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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146 —— 147

FOLHA DE SÃO PAULO. País registra 10 estupros coletivos por dia; notificações dobram em 5 anos. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/08/1911346-pais-registra-10-estupros-coletivos-por-dia-notificacoes-dobram-em-5-anos.shtml>. Acesso em: 14 abr. 2019. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo: 2018. Disponível em: <http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/ uploads/2019/03/Anuario-Brasileiro-de-Seguran%C3%A7a-P%C3%BAblica-2018.pdf>. Acesso em 13 mar. 2019. FRANCO, Luiza. Violência contra a mulher. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47365503>. Acesso em 17 set. 2019. FREIRE, Paula Santoro. Gênero e planejamento territorial: uma aproximação. Conference Paper. 2007. FREIRE, Paula Santoro. Aula sobre Gênero e Cidade. Escola da Cidade 18 de maio 2019. G1. Número de prisões por estupro em SP é seis vezes menor que número de denúncias. Disponível em: <https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/numero-de-prisoes-por-estupro-em-sp-e-seis-vezes-menor-que-numero-de-denuncias.ghtml>. Acesso em: 15 abr. 2019. GEVEHR, Daniel Luciano e SOUZA, Vera Lucia. REVISTA ACADÊMICA LINCENCIA&ACTURAS. As mulheres e a igreja na idade média: misoginia, demonização e caça às bruxas. Revista de Instituto Superior de Educação Ivoti - ISEI (Ivoti/RS), vol. 2, n. 1, janeiro/junho. São Leopoldo: Oikos, 2014. GONZAGA, Terezinha de Oliveira. Cidade e arquitetura também mulher: planejamento urbano. 1 ed. São Paulo: AnnaBlume, 2011. HARAWAY, Donna. "Gênero" para um dicionário marxista: a política sexual de uma palavra. Cad. Pagu [online]. 2004, n.22, pp.201-246.


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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Nú 151. Irving Penn, 1950. Disponível em: <https://www.christies.com/lotfinder/ Lot/irving-penn-1917-2009-nude-151-1950-6139695-details.aspx>. Acesso em 8 out. 2019. Figura 02 – Virilha. Talia Chetrit , 2012. Disponível em: <https://www.sieshoeke.com/exhibitions/ talia-chetrit-the-black-moon>. Acesso em: 09 out. 2019. Figura 03 – Manifestação contra a violência à mulheres trans negras. Fonte: The North Star. Disponível

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women-in-the-us-continues-to-grow>. Acesso em: 11 set. 2019. Figura 04 – Esquema demonstrando as categorias de opressão. Fonte: autora. Figura 05 – À direita, mulher observando o quadro “A mulher Vestida”, de Goya, e à esquerda, concentração de homens observando o quadro de Goya, com a mesma mulher da primeira pintura, porém nua (A Mulher Nua). Fonte: Elliot Erwit. Museu do Prado, Madrid, 1995. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/32357038@N08/8436253967>. Acesso em 08 jul. 2019. Figura 06 – Cornelis de Vos - Apollo perseguindo Daphne, 1630. Disponível em: <https:// commons.wikimedia.org/wiki/File:Cornelis_de_Vos_-_Apollo_chasing_Daphne,_1630.jpg>. Acesso em: 07 set. 2019. Figura 07 – O conjunto [de bruxas]. Óleo sobre tela. Goya, 1797-1798. Disponível em: <https:// es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Witches_by_Goya.jpg>. Acesso em: 11 out 2019. Figura 08 – Mulheres em greve na Fábrica da Citroen, na França. A mulher ao centro destacada é a sindicalista Rose Zehner. Fonte: Willy Ronis. Disponível em: <https://lintervalle. blog/2016/07/06/des-monades-des-fenetres-et-le-desir-de-revolution-par-gilles-hanus/>. Acesso em: 08 ago. 2019. Figura 09 – Bertha Luz na câmara, s/ano. Fonte: autor desconhecido. Disponível em: <https:// www2.camara.leg.br/a-camara/visiteacamara/cultura-na-camara/imagens/exposicoes-historicase-artisticas-2016/bertha-lutz-durante-os-trabalhos-da-conferencia-de-sao-francisco-1945/image_ view_fullscreen>. Acesso: 19 out. 2019. Figura 10 – Mulheres do movimento sufragista protestando pelos direitos básicos do voto. No cartaz “Votos para mulheres”. Fonte: desconhecido. Disponível em: < https://hubpages.com/ relationships/Womens-rights-in-the-1800s-America>. Acesso em: 07 out 2019.

capítulo 01: do ser mulher


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Figura 11 – Jackie Henderson discursa para uma multidão no comício da Libertação da Mulher na Praça Nathan Phillips em Nova York, USA, 1970. Fonte: autor desconhecido. Disponível em: <https://www.torontopubliclibrary.ca/ve/demonstrations/civil-rights.jsp>. Acesso em: 03 jul. 2019. Figura 12 – Marcha pela 5ª Avenida, em Nova York. Ao fundo, cartaz que diz “Mulheres do mundo, unam-se!”, 1970. Fonte: Autor desconhecido. Disponível em: < https://www.un.org/ en/events/womensday/history.shtml>. Acesso: 08 jul. 2019. Figura 13 – Daria Fane protesta a favor dos direitos humanos em NYU’s Weinstein Hall, 1970. Fonte: Diana Davies. No cartaz “Poder dos gays. Poder dos negros. Poder das mulheres. Poder do estudante. Todo o poder para as pessoas!”. Disponível em: < https://www.globalcitizen.org/ en/content/stonewall-50-new-york-public-library/>. Acesso em 24 jul. 2019. Figura 14 – Mulheres levantam o pulso na manifestação Black Power de direitos civis, Califórnia, 1960. Fonte: Flip Schulke/CORBIS. Disponível em: <https://academic.oup.com/maghis/ article/22/3/22/1127629>. Acesso em 02 ago. 2019. Figura 15 – Kimberlé Crenshaw. Fonte: Autor Desconhecido. Disponível em: <https://mythosmag. com/interviewhome/02-kimberle-crenshaw>. Acesso em 09 set. 2019. Figura 16 – Marcha das Vadias. Fonte: autor desconhecido. Disponível em <https://www. saibamais.jor.br/mulheres-vitimas-de-violencia-domestica-terao-direito-a-transporte-gratuitoem-natal/>. Acesso em 17 jul. 2019. Figura 17 – Marcha das Mulheres Negras. Fonte: autor desconhecido. Disponível em: <https:// exame.abril.com.br/brasil/pagina/250/?paywall=access>. Acesso em 13 set. 2019. Figura 18 – Marielle Franco. Fonte: autor desconhecido. Disponível em: <https://www. girlsglobe.org/2018/03/20/mariellepresente-remembering-marielle-franco/grr-2/?doing_ wp_cron=1573696509.8264029026031494140625>. Acesso em 03 set. 2019.

capítulo 02: do ser cidade

Figura 19 – Manifestação contra demolição dos armazéns ferroviários históricos do Cais Estelita para construção de 13 torres comerciais e residenciais, em Recife. Fonte: autor desconhecido. Disponível em <https://ondeterminaoarcoiris.tumblr.com/post/21165860738/ a-cidade-%C3%A9-nossa-ocupe-a>. Acesso em 17 set. 2019.


LISTA DE FIGURAS

Figura 20 – Manifestação pelos direitos das mulheres na Avenida Paulista, São Paulo. Fonte: autor desconhecido. Disponível em: <https://vejasp.abril.com.br/cidades/manifestacao-mulherespaulista/>. Acesso em 18 set. 2019. Figura 21 – Usuários do Metrô. Fonte: Bruce Gilden. Disponível em: <https://locomotoroblog. wordpress.com/2018/10/22/bruce-gilden/>. Acesso em 05 jul. 2019. Figura 22 – Marcha. Fonte: Flora Negri, do livro “Como as Mulheres Veem o Mundo”. Figura 23 – Mother and Children, Mobile, Alabama (37.010), 1956. Fonte: Gordon Parks. Disponível em: <https://www.artsy.net/artwork/gordon-parks-mother-and-children-mobilealabama-37-dot-010>. Acesso em: 19 mar. 2019. Figura 24 – Família Girardi em Nova Veneza, Santa Catarina, sem data. Fonte: autor desconhecido. Disponivel em: <https://www.jws.com.br/2019/10/fotos-de-familia-trazemmuitas-informacoes-sobre-a-vida-brasileira-do-passado/>. Acesso em 20 ago. 2019. Figura 25 – Divisão sexual do trabalho no molde da ideologia da família tradicional americana estadunidense nos anos 50 amplamente difundido para outros lugares do mundo, dentre eles a América Latina. Fonte: autor desconhecido. Disponível em <https://curiosity.com/topics/ traditional-family-values-were-invented-in-the-1950s-curiosity/> Acesso em 4 ago. 2019. Figura 26 – Gráfico referente ao desenvolvimento dos diferentes tipos de família ao longo dos anos. Fonte: IBGE/PNAD. Figura 27 – Mulher cuidando de criança enquanto transporta vaso de água em sua cabeça, Portugal, 1950. Fonte: Jean Dieuzaide. Disponível em: <http://losgrandesfotografos.blogspot. com/2017/01/jean-dieuzaide-1921-2003.html>. Acesso em 21 set. 2019. Figura 28 – Mulheres no ônibus em São Paulo. Fonte: Laboratório de Textos Jornalísticos. Blog da disciplina Laboratório de Textos Jornalísticos. Departamento de Comunicação Social da UFMG. Figura 29 – Mulheres aguardando no ponto de ônibus. Fonte: Autor Desconhecido. Fonte: Richard Hooker. Disponível em: <http://rzhooker.com/busstop>. Acesso em: 10 ago. 2019. Figura 30 – Mulheres protestam na estação Sé contra o assédio sexual que vêm sofrendo dentro dos vagões e imediações das estações do Metrô. Fonte: Daniel Teixeira, Estadão Conteúdo, Veja SP. Disponível em: <https://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,mulheres-protestamcontra-assedio-sexual-no-metro-em-sp,1774961>. Acesso em: 17 jul. 2019.


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Figura 31 – As Lavandeiras. São Paulo, Acervo do Museu Paulista da US. Autor: Guilherme Gaensly. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Guilherme_Gaensly_-_S%C3%A3o_ Paulo_-_Lavandeiras,_Acervo_do_Museu_Paulista_da_USP.jpg. Acesso em 09 set 2019. Figura 32 – Mulheres negras trabalhando: as lavadeiras nas margens do Rio Tamanduateí. Fonte: Autor Desconhecido. Disponível em <https://ruralea.com/profissoes-de-antigamenteas-lavadeiras/>. Acesso em: 14 de set. 2019 Figura 33 – Ilustração referente à violência contra a mulher. Disponível em: <https://www. nytimes.com/2015/02/03/opinion/to-stop-violence-start-at-home.html>. Acesso em 09 ago. 2019. Figura 34 – Stencil em muro. Ruas e paredes (julho 2017). Fonte: Viana do Castelo. Disponível em: <https://ephemerajpp.com/2017/06/05/ruas-e-paredes-de-viana-do-castelo-junho-de-2017/>. Acesso em: 13 out. 1029 Figura 35 – Maria da Penha. Fonte: Autor Desconhecido. Disponível em https://claudia.abril. com.br/noticias/capa-de-marco-feminismo-nao-e-mimimi/>. Acesso em: 10 ago. 2019. Figura 36 – Campanha de Violência contra a mulher. Fonte: Tânia Rêga/Agência Brasil. Figura 37 – “tudo é político quando você é mulher”. Fonte: Juliana Naufel. Figura 38 – Marcha das Vadias, São Paulo, Brasil, 2012. Fonte: João Veppo. Disponível em: <https:// www.flickr.com/photos/joaoveppo/7298759764/in/photostream/>. Acesso em 26 ago. 2019.

capítulo 03: dos faróis

Figura 39 – Mapa feito pela autora baseado na pesquisa de violência à mulher do SSP, IBGE, Seade. Fonte: autora. Figura 40 – Os faróis posicionados na intersecção do grid. o topo é nivelado pelo posicionamento do grid, tornando os faróis mais ou menos altos dependendo do relevo encontrado no local de implantação. Fonte: autora. Figura 41 – Zoom out da quadra triângulo. Fonte: autora. Figura 42 – A esquerda, o modulor de Le Corbusier. A direita, uma releitura atual que toma frente uma das representatividades possíveis da devida crítica à neutralidade da escala. Fonte: autor desconhecido. Disponível em: <https://freight.cargo.site/t/original/i/5a5710d1dd734a9386934dd8 e1968d1e2b4c09289436f35a10f28f66fdc74239/MODULOR-diptico1.gif>. Acesso em: 20 set. 2019.


LISTA DE FIGURAS

Figura 43 – Colagem Rua da Consolação. Fonte: autora. Figura 44 – Colagem Rua Avenida Ipiranga. Fonte: autora. Figura 45 – Colagem Avenida São Luis. Fonte: autora. Figura 46 – Cruzamento entre as Avenidas Ipiranga e São Luís e Praça da República. Fonte: autora. Figura 47 – Cruzamento entre as Avenidas Ipiranga e São Luís e Praça da República. Em Azul, a intervenção da autora. Fonte: autora. Figura 48 – Calçada na Rua da Consolação. Fonte: autora. Figura 49 – Calçada na Rua da Consolação. Em Azul, a intervenção da autora. Fonte: autora. Figura 50 – Calçada na Avenida São Luis, em frente ao edifício Louvre. Fonte: autora. Figura 51 – Calçada na Avenida São Luis, em frente ao edifício Louvre. Em Azul, a intervenção da autora. Fonte: autora. Figura 52 – Térreo inativo na Avenida São Luís. Fonte:autora. Figura 53 – Térreo inativo na Avenida São Luís. Em Azul, a intervenção da autora. Fonte: autora. Figura 54 – Foto retirada. Figura 55 – Quadra triângulo e locais relevantes ao redor. Fonte: autora. Figura 56 – Esquema de todos os itens anteriores mesclados gerando a vitalidade ao entorno. Fonte: autora.

Figura 57 – Perspectiva externa do térreo livre e jardim central. Fonte: autora. Figura 58 – Implantação da quadra-triângulo. Em pontilhado: a conexão feita a partir da implantação do projeto entre as três ruas. Fonte: autora. Figura 59 – Elevação (vista 03). Em pontilhado, a conexão em desnível que o projeto realiza entre a Rua da Consolação e a Rua interna do Copan, desembocando na Avenida Ipiranga. Fonte: autora. Figura 60 – Perspectiva interna da sala de exposição. Fonte: autora. Figura 61 – Perspectiva explodida do prédio e seus respectivos usos. Fonte: autora. Figura 62 – Perspectiva isométrica da inserção do projeto no entorno. Fonte: autora.

capítulo 04: do projeto


154 —— 155

Figura 63 – Planta do térreo. Fonte: autora. Figura 64 – Planta do mirante cultural. Fonte: autora. Figura 65 – Planta do subsolo. Fonte: autora. Figura 66 – Planta do primeiro pavimento (apoio). Fonte: autora. Figura 67 – Planta do segundo pavimento (creche e exposição). Fonte: autora. Figura 68 – Planta do terceiro pavimento (creche e exposição). Fonte: autora. Figura 69 – Planta do quarto pavimento (exposição). Fonte: autora. Figura 70 – Planta do quinto pavimento (biblioteca). Fonte: autora. Figura 71 – Planta do sexto pavimento (auditório e foyer). Fonte: autora. Figura 72 – Planta do sétimo pavimento (café elevado). Fonte: autora. Figura 73 – Planta do oitavo pavimento (residencial + workshops). Fonte: autora. Figura 74 – Planta do nono pavimento (residencial + sala de aula). Fonte: autora. Figura 75 – Planta do décimo pavimento (residencial + administração). Fonte: autora. Figura 76 – Planta do décimo primeiro pavimento (horta residencial + jardim elevado cultural). Fonte: autora. Figura 77 – Perspectiva do mirante e do jardim elevado, visto da rampa. Fonte: autora. Figura 78 – Corte aa. Fonte: autora. Figura 79 – Corte bb. Fonte: autora. Figura 80 – Corte cc. Fonte: autora. Figura 81 – Elevação 1. Fonte: autora. Figura 82 – Elevação 2. Fonte: autora. Figura 83 – Elevação 4. Fonte: autora. Figura 84 – Elevação 3. Fonte: autora. Figura 85 – À esquerda: ampliação elevação fachada. Fonte: autora. Figura 86 – À direita: detalhe em corte da unidade habitacional temporária, jardim elevado e abertura das chapas perfuradas. Fonte: autora. Figura 87 – Perspectiva externa do entorno. Fonte: autora.







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