COMMUNITY HUB: UMA EXPERIÊNCIA PAULISTANA
“As imagens do espaço são os sonhos de uma sociedade. Onde quer que o código do espaço esteja decifrado, lá se encontrarão as fundações da realidade social.” Siegfried Kracauer, Über Arbeitsnachweise, 1929 (Tradução Vinicius M. Netto)
Gabriela Balieiro Panico orientada por Paulo Emílio Buarque Ferreira
COMMUNITY HUB: UMA EXPERIÊNCIA PAULISTANA
Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie São Paulo 2017
AGRADECIMENTOS: Aos meus pais, pelo carinho, apoio e todas as oportunidades proporcionadas. A minha mãe, pelo amor incondicional, torcida, e incentivo sempre. Ao meu pai, com quem tenho orgulho de compartilhar a área de atuação, pela calma, confiança e ensinamentos. A minha irmã, Isinha, pela paciência, ajuda e companheirismo todos os dias. Ao Paulo, pela orientação, conversas e aprendizado. Por me apresentar, ainda no primeiro ano, a arquitetura e pelos questionamentos, que sempre instigaram a investigação. Aos professores, Pacchi e Calvaresi, pela receptividade, atenção e conhecimento compartilhados. A Paula, pela disponibilidade e ajuda nessa aproximação com o Glicério. A todos os professores, que estiveram presentes em minha formação, pela liberdade, estímulo e inspiração. Aos amigos, que me acompanharam nesses anos de graduação, pela companhia, que entre os momentos de alegrias e angustias, sempre proporcionaram risadas. Muito Obrigada!
RESUMO O trabalho traz uma breve discussão sobre conflitos urbanos e cidade. Desenvolve-se com enfoque nas questões enfrentadas na região da Baixada do Glicério, na cidade de São Paulo. Apresenta um novo conceito de espaço arquitetônico, o Community Hub, como alternativa e ferramenta importante para amenização dos problemas enfrentados nas comunidades. Identifica e exemplifica com alguns casos já existentes na Europa, principalmente na Itália. Ao final, propõe uma intervenção para região do Glicério, sendo os conflitos e necessidades locais a base de estruturação do programa desenvolvido. Palavras chaves: Cidade, conflito, estranhamento, comunidade, imigrantes, inserção.
ABSTRACT This thesis brings a brief discussion about urban conflicts and the city. It is developed with a focus on the issues faced in the region of Glicério, in the city of São Paulo. It presents a new concept of architecture spaZce, the Community Hub, as an alternative and an important tool to soften the problems faced by the population. The work identifies and exemplifies with some cases already existing in Europe, mainly in Italy. Lastly, it proposes an intervention for the region of Glicério, where the conflicts and local needs became the basis of structuring the program developed.
Keywords: City, conflict, estrangement, community, immigrants, insertion.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO
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CONFLITOS URBANOS E CIDADE
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Conceitos e Definições Disputa por Espaços
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São Paulo e a Baixada do Glicério
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ESPAÇO E SOCIEDADE
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Vida Urbana e Produção de Espaços Relações Sistêmicas Estranhamento e Interação
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RELAÇÕES, CULTURA E CONVIVÊNCIA
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A Realidade do Glicério Imigrantes
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Dificuldades cotidianas
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OPORTUNIDADE|HUB COMUNITÁRIO
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A ideia do Community Hub
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Estudos de caso – CHs no mundo
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INTERVENÇÃO|EXPERIÊNCIA PAULISTANA
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Necessidades Locais Busca pelo Espaço Partido Atividades e Inserção
73 74 88 96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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CRÉDITOS ICONOGRÁFICOS
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BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO O trabalho aqui apresentado trata-se de uma experiência Paulistana de um Community Hub. O espaço tem como intenção movimentar e impulsionar toda sociedade de uma região. Visa através da integração e coparticipação de diferentes grupos sociais resolver ou amenizar conflitos locais, para construção de uma cidade melhor e mais justa. O tema surgiu ano passado, em 2016, quando tive a oportunidade de estudar no Instituto Politécnico de Milão. Uma das matérias cursadas foi Conflict, Management and Resolution (Conflito, Gerenciamento e Resolução), matéria integrante no Master de Urban Planning and Policy Design (Planejamento Urbano e Design de Políticas). A vontade em estudar a forma como a arquitetura pode influenciar no relacionamento e comportamento de seus usuários de forma que o caráter do estranhamento fosse abandonado, já existia. Um dos exemplos apresentado e estudado em sala de aula, durante o ano no exterior, foi o Community Hub; espaço que permite a aproximação e colaboração entre as pessoas. Lugar de possibilidades, oportunidades para troca, aprendizado e aceitação. Portanto, o trabalho segue falando um pouco sobre conflitos urbanos existentes na cidade de São Paulo e, especificamente na Baixada do Glicério, área escolhida para estudo. Com a aproximação do espaço, uma proposta de Hub para região; em uma escala maior quanto a edificação em si – em comparação as estudadas previamente na PoliMi – mas, buscando seguir a linha de como o programa acontece e é determinado pelo meio que está inserido. 13
CONFLITOS URBANOS E CIDADE
Cidade (ci-da-de) sf. 1- Grande aglomeração de pessoas em uma área geográfica circunscrita, com inúmeras edificações, que desenvolvem atividades sociais, econômicas, industriais, comerciais, culturais, administrativas etc.; urbe. 2- O conjunto de habitantes dessa área geográfica. 3- O centro comercial. 4- O local mais antigo ou mais central de um complexo urbano. 5- Sede municipal, onde se concentram as atividades administrativas. 6- A vida urbana ou agitada. 7- (ANTIGO). Local urbano em que se concentravam as pessoas cultas
Conflito (con-fli-to) sm. 1- Falta de entendimento grave ou oposição violenta entre duas ou mais partes. 2- Encontro violento entre dois ou mais corpos; choque, colisão. 3- Discussão veemente ou acalorada, altercação. 4- Encontro de coisas que se opõe ou divergem. 5- Luta armada entre potências ou nações, guerra. 6- (PSICOLOGIA). Conforme a teoria behaviorista, estado provocado pela coexistência de dois estímulos que desencadeiam reações que se excluem mutuamente. 7- (TEATRO). No drama, elemento determinante da ação que consiste na oposição de forças entre duas u mais personagens ou, às vezes, entre protagonista e as forças da natureza.
Urbano (ur-ba-no) adj. 1- Relativo ou pertencente à cidade. 2- Próprio de cidade. 3- Que tem características de cidade 4- Que é dotado de urbanidade; civilizado, cortês. adj. sm. 1- Que ou aquele que vive na cidade; com estilo de vida próprio dos centros urbanos. sm. 1- (REGIONALISMO/ COLOQUIAL) Soldado de polícia. Cidades: segundo Vinicius M. Netto, em seu livro Cidade e Sociedade, são formas extraordinárias de vida coletiva. São elas o palco de todos os acontecimentos cotidianos e consequentemente, dos conflitos aqui discutidos. (Definições retiradas do dicionário Michaelis)
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“A tentativa mais bem-sucedida do homem de refazer o mundo em que vive mais de acordo com os desejos do seu coração. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, é também o mundo onde ele está condenado a viver daqui por diante. Assim, indiretamente, e sem ter nenhuma noção clara da natureza de sua tarefa, ao fazer cidade o homem refez a si mesmo.” – Robert Park, sociólogo e urbanista, sobre a cidade.
Conceitos e Definições As cidades, segundo Vinícius M. Netto, são formas extraordinárias de vida coletiva; são sistemas de referência para guiar e mediar nossas práticas o tempo todo; são sistemas mnemônicos que articulam atos passados, presentes e futuros. Ricas em sub estruturas e formas, são um modo único de dobrar a extensão rígida do espaço e colocá-la ao lado da fluidez das nossas práticas e interações (Cidade e Sociedade, 2014, p.19). Devido a essas práticas, hábitos, povos e memórias contidas nesses espaços; as cidades também são palco de disputa: espacial, política, ideológica, econômica, etc. A cidade capitalista como aponta Harvey é um espaço de conflito e, os conflitos urbanos são um fenômeno mundial. Os conflitos urbanos vêm sendo interpretados como disfunções do sistema de governança e das tomadas de decisões urbanas, emergência de crises nas sociedades locais e estão intrinsecamente ligados ao uso do espaço. Texto realizado com base na bibliografia e em anotações feitas em sala de aula (Conflict, Management and Resolution, PoliMi, 2°Semestre 2016).
A sociedade é uma máquina que não trabalha perfeitamente por existir disfunções em seus sistemas. O conflito vem a ser um sintoma de determinado fato que ocasiona essa disfunção. Devemos trabalhar no processo da tomada de decisões para que possamos evitar ao máximo os conflitos. 19
O trabalho no gerenciamento de conflitos trata-se de uma área de estudo multidisciplinar, abrangendo uma ampla variedade de disciplinas incluindo, por exemplo, ciência política, economia, psicologia, antropologia social, direitos humanos. Cordula Reimann aponta em seus estudos que as fontes e a natureza do conflito geralmente se concentram em dois aspectos: o primeiro diz respeito a incompatibilidade dos objetivos – o que pode ocorrer devido à desinformação, mal entendimentos culturais ou percepções erradas como estereótipos, desconfiança ou até estresse emocional. O segundo trata-se de relações estruturalmente injustas – relações que geralmente não são reconhecidas por uma das partes, o que resulta muitas vezes em relações de dependência e no tratamento desigual pelo outro. A prática de gerenciamento, uma vez que engloba diferentes disciplinas, também é conseguida por meio de diferentes estratégias, como mediação de poder, resoluções exemplificadas por oficinas de facilitação ou de diálogo, estratégias de gestão, etc. A qualidade e quantidade desses métodos é combinado e depende do estágio de conflito no qual estão empregados. Portanto, os procedimentos para o gerenciamento não devem ser considerados como estáticos ou rígidos, mas sim como características dinâmicas que podem ser facilmente modificadas e adaptadas às mudanças das condições estruturais. Uma das formas utilizadas na resolução de conflitos é a teoria dos jogos, a qual tenta superar a autoderrota (zero-sum games), ou seja, transforma um problema compartilhado em soluções mutuamente aceitáveis, aqui então o “perdedor” vira também “vencedor” (positive-sum game). A origem e a causa dos conflitos urbanos são as mais diversas e muitas vezes estão conectadas. Hugh Miall traz em seu artigo um esquema sobre a transformação de Conflitos Sociais, desenhando o cenário que se estrutura e resulta em conflitos. Segue em versão traduzida (tradução livro): 20
CONTEXTO
Histórico, ex: legado colonial, multiétnica, histórico social, formação
Transformação de Conflitos Sociais (adaptado de Azar 1990)
NECESSIDADES Necessidades de aceitação; Reconhecimento de identidade e cultura Encontrado Não atendido/ negligenciado Necessidades de acesso, ex: participação política e econômica Necessidades de segurança, nutrição, habitação, segurança física
CAPACIDADE Padrão de internacional econômico/ ligações políticas Suporte Explorador
ATORES
Atores Estatais Acomodados Suprimidos Natureza do conflito Construtivo Destrutivo
Governança e Estado Legitimidade Ilegitimidade Papel das forças armadas Política cívica Militarização política
CONFLITO
Grupos Comunitários Confronto Rebelião violenta
Como vemos ao final do esquema, apesar do conflito se caracterizar por um momento de ruptura, descontinuidade que pode vir a ocasionar uma crise, ele também pode ser interpretado como um momento de regeneração, como uma oportunidade para a mudança e o melhoramento. A “construção da paz”, como apresentada por Miall, é um processo estrutural, com o modelo acima pode-se ampliar a visão do conflito, sendo possível traçar um partido e indicar o escopo para extrair os recursos dessa construção. A sociedade é formada por uma pirâmide hierárquica, existindo líderes de elite e responsáveis pelas decisões no topo, líderes de organizações sociais, igrejas, jornalistas em um nível médio e, líderes de comunidade na base. Um processo de paz abrangente deve abordar mudanças em todos esses níveis da sociedade (Conflict Transformation: A Multi-Dimensional Task, 2004, p.06). A transformação de conflitos é uma maneira mais eficaz de se trabalhar. Aqui busca-se uma explicação adequada do fenômeno do conflito, incluindo suas dimensões humanas e, não apenas as condições que criam um ambiente de conflito. Busca-se as mudanças estruturais necessárias para removê-lo, mas mais importante, busca-se promover condições que criem relações de cooperação. 21
Kriesberg apresenta três características importantes para se entender o quão grande a escala dos conflitos pode se tornar. São elas: 1) Os conflitos são fluidos. Se movem através de uma série de estágios conforme emergem, intensificam, diminuem e são resolvidos. Essas etapas tornam-se a base para “uma paz melhorada” ou novos conflitos. 2) Cada conflito está interligado com muitos outros. Conflitos menores se alinham a conflitos maiores. Cada um deles trata de um em uma série de lutas anteriores e, cada lado tem suas próprias lutas internas. 3) Contendores de conflito geralmente dependem de diversas estratégias para alcançar seus objetivos. Métodos podem incluir uma ampla gama de ações violentas, não violentas, coercivas ou não, esforços persuasivos para mudança de conduta, entre outras estratégias que geralmente misturam incentivos em várias combinações de mudança. Da mesma forma, vários conjuntos de ideias ajudam a explicar a transformação de conflitos em suas diferentes etapas: (1) em sua fase de transição; (2) na fase de consolidação da paz, pós-violência. Embora não exista uma teoria capaz de abranger todos os fenômenos de conflito, existem várias abordagens que interpretam aspectos particulares de tipos de conflito. Existem também, teorias focadas estreitamente ao comportamento relacionado ao conflito, estudando um único processo ou fator. Todas essas abordagens continuam sendo trabalhadas e discutidas por vários estudiosos desse campo da transformação de conflitos, afinal existe a necessidade do continuo ajuste das mesmas, em resposta à mudança da natureza dos conflitos. As teorias atuais devem ser adaptáveis devido a globalização dos conflitos e as intervenções decorrentes. 22
Disputa por Espaços Uma das principais razões que leva a conflitos urbanos é a luta por espaço. O espaço é um recurso escasso, e seu suprimento não pode ser reproduzido, uma vez que cada pedaço de terra é único e insubstituível. Existem problemas quanto alocação e distribuição dos espaços que se relacionam diretamente com o planejamento urbano de uma cidade e o capital envolvido, muitas vezes os valores impostos não são acessíveis a todos. É importante estar ciente que quando destinamos um espaço a determinado uso estamos impossibilitando outros usos. O planejamento urbano é responsável pela divisão e equalização destes, ou seja, se uma área desejada já se encontra destinada a certa atividade, busca-se outra similar. Se definirmos o planejamento espacial como um campo (social, técnico e institucional) de atuação destinado a controlar e ordenar o espaço territorial, existem pelo menos três razões principais que explicam a natureza intrinsecamente conflituosa das atividades de planejamento, são elas: 1) Competição pelo espaço: inclusão e exclusão explicam as muitas tipologias dos conflitos de planejamento. 2) Distribuição dos valores econômicos e simbólicos, e também, os direitos do cidadão. 3) Atividades locais que produzam externalidades que não são apenas locais.
Texto realizado com base na bibliografia e em anotações feitas em sala de aula (Conflict, Management and Resolution, PoliMi, 2°Semestre 2016).
A singularidade e a reprodutibilidade de cada porção do espaço são a raiz da competição e, às vezes, conflitos sobre o controle espacial, significa que qualquer forma de plano espacial e controle funciona através da distinção entre inclusão e exclusão. Entre inclusão e exclusão, não há uma posição intermediária, uma ação destinada a construir 23
[01]
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o consentimento em torno de uma decisão de planejamento pode reduzir o conflito (zero-sum game). Acessibilidade e cidadania implicam na distribuição de recursos: o espaço é o principal; a forma de cidadania é muitas vezes definida e expressa através de formas espaciais. O espaço é o território dentro do qual a cidadania institucional é reconhecida e aplicada. Trata-se de uma ferramenta de mediação para as práticas que redesenham a cidadania e a usam para construir e representar a ordem social. Este é um dos vínculos que surge entre cidadania e planejamento do uso da terra: o planejamento manifesta-se como uma relação assimétrica de forças entre um grupo político que tem poder de decisão, outra parte com interesses comuns e ainda aqueles que defendem interesses particulares. A necessidade da participação da população na discussão sobre a cidade e na tomada de decisão torna-se cada vez mais importante, uma vez que estão associadas a diferentes grupos de pessoas e situações. A construção social e coletiva parte de políticas públicas, conjunto de ações e interação de diferentes problemas, os quais deixam de ser exclusivamente temas para governos ou instituições, e se tornam assunto capaz de mobilizar diferentes atores que buscam soluções. O direito à cidade deve ser compreendido não apenas como o direito de se ter acesso a recursos básicos ou liberdade individual; trata-se do direito de mudança: mudança individual, coletiva e transformação da cidade.
[01]Complexo Viário Parque D. Pedro II em 1971 e Viaduto Glicério, Viaduto Diário Popular, Palácio das Indústrias, Viaduto 31 de Março.
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São Paulo e a Baixada do Glicério Os conflitos sociais e urbanos pareceram surgir com grande força, e tornam-se cada vez mais presentes na realidade brasileira, principalmente quando falamos das grandes metrópoles. A sociedade civil organizada, vem aparecendo frequentemente nas mídias na luta por seus direitos à cidade, seus direitos enquanto cidadãos. Porém, os conflitos sempre estiveram presentes e são decorrentes de diferentes problemas enfrentados diariamente pelos brasileiros. Na cidade de São Paulo, por exemplo, são várias as tentativas para o gerenciamento e resolução de questões cotidianas; as vezes iniciativas populares, outras o próprio governo oferece programas para tentar melhorar ou, ao menos amenizar os problemas de uma população insatisfeita. Os problemas são vários, questões quanto a moradia, educação, saúde, violência, saneamento básico, mobilidade urbana, entre outros, encontram-se espalhados pela metrópole e é nas periferias da cidade onde mais os identificamos. Ao estudar e observar a cidade notamos que as então “periferias” não se encontram mais exclusivamente nas bordas da cidade mas, encontram-se também em áreas centrais. “O conceito de periferia foi constituído socialmente, ao longo da segunda metade do século XX, como um conceito que se pretendeu explicativo dos fenômenos urbanos na metrópole de São Paulo. A ideia da metrópole como uma estrutura urbana configurada por um centro e uma periferia (...). A noção de periferia é uma construção social relacionada a práticas e discursos de sujeitos sociais e políticos de um contexto histórico específico (...)” Giselle Tanaka, 2016
Essas deixaram de ter o significado periférico, de áreas afastadas do centro, encontradas nos limites da cidade, para assumir um significado de con26
Dissertação de Mestrado, Periferia: conceito, práticas e discursos; práticas sociais e processos urbanos na metrópole de São Paulo, FAU-USP, 2016.
dição, trata-se de um lugar que entrou no esquecimento, onde não se atingem as condições básicas para se ter qualidade de vida. Um grande exemplo disso é a região da Baixada do Glicério, na cidade de são Paulo, que será apresentada logo mais no presente trabalho. Nota-se necessária uma movimentação pela construção da cidadania no solo urbano. Uma vez que o Estado não atinge às expectativas, são os cidadãos, que devem procurar mudança e transformação. O direito à cidade deve ser tratado no seu sentido real e amplo, não mais unicamente sob a ótica do direito à moradia. Para isso, existe a necessidade de integração inter-setorial na cidade de São Paulo, ou seja, unir todas as frentes – moradia, transporte, educação – para construção do espaço desejado. “Entre um governo e outro muda tudo, para mim toda vez a gente começa” – Senhora, assistente social e ex-funcionária da prefeitura de SP, presente no fórum sobre Solo Urbano e Ação Pastoral Auditório da Igreja Nossa Senhora da Paz, na Baixada do Glicério 07 de outubro de 2017
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ESPAÇO E SOCIEDADE
Vida Urbana e Produção de Espaços O espaço, no que diz respeito a seus aspectos materiais, pode influenciar nos padrões de interação social, isso acontece quando discutimos por exemplo sobre frequência ou copresença. Estes são alguns conceitos explorados por Vinicius M. Netto, que trata essencialmente do lugar das cidades no fluxo da prática e em processos da reprodução social: nos encontros e comunicações que compõe a vida social. O espaço, apesar de imóvel, fixo, apresenta grande influência sobre a sociedade e seus indivíduos, sobre nossas vidas, interações e atos, mesmos esses sendo tão dinâmicos. As cidades, em toda sua complexidade, apresentam problemas em suas estruturas e em sua própria espacialidade. Como observamos previamente, os espaços urbanos são únicos e nem sempre acessíveis a todos. Além da constante disputa por eles, enfrentamos outros problemas diariamente no que diz respeito ao planejamento urbano e as espacialidades construídas, um dos maiores é a mobilidade urbana, exercita-se diariamente a capacidade de se vencer distâncias na cidade de São Paulo.
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Cada pedaço de espaço na cidade é organizado por comunidades formadas por indivíduos que se assemelham quanto a fatores econômicos, culturais e territoriais. Essa organização e os deslocamentos na cidade determinam rotinas e ativam as práticas diárias que resultam na vida urbana. “A reprodução contínua das aproximações e distâncias entre atores é inerente ao que podemos chamar de “dinâmica social” cotidiana, o conjunto das práticas dos atores no tempo e no espaço da cidade – ou, mais precisamente, as sucessões e simultaneidades das ações, movimentos, encontros, interações e atividades urbanas a partir de suas intenções e possibilidades, posições e papéis diferenciados.” (Vinicius M. Netto, p.51).
Relações sistêmicas Sociedade, espaço e ambiente natural estão sempre relacionadas quando discutimos sobre cidades e seus acontecimentos. Devemos sempre observar as diferentes e possíveis combinações de objetos arquitetônicos e nos impactos que os mesmos ocasionam em nossa atividade no espaço arquitetônico-urbano. A dimensão sistêmica da arquitetura é tratada por Netto como as relações casuais entre aspectos espaciais e dinâmicas socioeconômicas. Deve-se atentar à alguns conceitos: a socialidade (vitalidade das comunicações, encontros e redes formadas no espaço urbano) e a microeconomicidade (a intensidade de trocas microeconômicas amparadas por espaços arquitetônicos-urbanos). As relações sociais em questão são geradas pelas diferentes configurações espaciais, pela densidade de redes sociais, pela possibilidade de encontro, pelo grau de apropriação dos espaços e pela presença de problemas enfrentados pela população. Observamos que nossas cidades são compostas por diversas relações que acontecem em dife32
rentes situações e alcançam diversos graus quando analisamos a força dessas conexões. Entretanto, todas as partes envolvidas fazem parte de algum sistema dentro do sistema maior que é a cidade. Assim, devido ao dinamismo frequente tais relações também são facilmente modificadas. O entendimento dessas ligações entre pessoas, espaços construídos, espaços naturais e conflitos existenciais, nos permite manipular os “efeitos sociais” da arquitetura para promover transformações no espaço público e, por fim, afetar seus entornos urbanos.
Estranhamento e Interação A segregação é um fenômeno marcante na experiência social e urbana (Vinicius M. Netto, p.39). Essa trata-se do estranhamento, da restrição à interação, do contato, a troca com o outro e, essa restrição acontece por conta das diferenças existentes entre pessoas e lugares. A própria cidade é vista como materialização e meio para a segregação. Nós, enquanto cidadãos, somos condicionados ao grupo e espaços que frequentamos. As questões que pré-determinam esta condição podem estar relacionadas, a renda, crenças, cultura, interesses, ou seja, pessoas com características em comum estão propensas a viver em conjunto e compartilhar os mesmos espaços. A princípio, o primeiro tipo de segregação que observamos na cidade é a territorial, essa setorização espacial dos grupos na cidade. Entretanto, nossas práticas rotineiras implicam, na maioria das vezes, no deslocamento espacial. Essa mobilidade urbana torna a cidade contemporânea um espaço complexo e muito ativo. Os ciclos viciosos – da vivência exclusiva com os que se assemelham - são quebrados quando o deslocamento na cidade se faz necessário e assim, o percurso torna-se uma possibilidade para encontros inesperados e outros tipos de interação. 33
[02]
Portanto, deve-se pensar na movimentação e ações diárias de forma a considerar os espaços da copresença e encontro e, visualizá-los como potencial integrador ou segregador. O estranhamento está contido em um fenômeno dinâmico, que sofre mudanças de acordo com o tempo e espaço e, é capaz de moldar as relações sociais existentes em uma comunidade. Deve-se atentar à duas novas consequências: a distância social e a invisibilização do diferente (Vinicius M. Netto, p.45). A primeira é muitas vezes espacialmente manifestada, como vemos nas periferias da cidade, onde o espaço resulta no afastamento social. Muitas vezes esse fenômeno urbano é decorrente não apenas de limitações impostas na interação mas, às restrições ao acesso de algum espaço físico. Para que haja uma quebra dessas realidades divergentes na cidade, é necessária a complementação de rotinas sociais. Ações e práticas diárias complementam-se e tendem a se repetir. “O desempenho das atividades que viabilizam um sistema social depende da implicação das ações e troca de informações entre atores. Depende fundamentalmente da copresença, encontro e interação, assim como depende do que Giddens define como rotinização desses processos.” (Vinicius M. Netto, p.51). 34
[02]Os diferentes padrões de apropriação das classes sociais.
Toda e qualquer característica de semelhança ou diferença nos hábitos e ações diárias podem gerar compatibilidades ou incompatibilidades entre as ações dos atores e em suas vidas. “A integração social se refere antes de tudo à existência da possibilidade de os diferentes atores de um sistema social compartilharem situações de copresença e interação. ” (Vinicius M. Netto, p.52). [03]
O estranhamento existe, mas a interação de faz necessária pois, a troca de informações e a convivência harmônica entre diferentes grupos são importantes quando se tem o desejo de transformação, quando se busca melhorar e construir cidade. Dessa maneira, torna-se interessante pensar na capacidade da arquitetura em proporcionar um espaço de encontro. Um polo magnético de interação, que coloque diferentes grupos em contato, por meio de eventos, ações ou práticas que senão rotineiras, fossem frequentes.
[03]Os níveis da análise do comportamento de cidades (Sistema espacial e social).
Um espaço que promove a comunicação entre pessoas, que tenta vencer as diferenças e dificuldades diárias para a conquista de uma cidade mais igualitária, onde o estranho deixa de ser invisível e torna-se conhecido.
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RELAÇÕES, CULTURA E CONVIVÊNCIA
A realidade do Glicério Todas as ladeiras que descem do centro mergulham no Glicério. Região central na cidade de São Paulo, situada às margens do rio Tamanduateí, a baixada é uma área relevante com caráter metropolitano apesar de seu “esquecimento”. Com uma realidade diversa e contexto próprio, o Glicério, apesar de não ter uma identidade definida, é único e encontra-se entre bairros – Sé, Liberdade, Cambuci e Brás – mas não se trata de um. Considerada uma das regiões mais degradadas da cidade, o Glicério apresenta uma grande concentração de cortiços, moradores de rua e usuários de droga, a região abriga uma população, em sua maioria, de baixa renda. Apesar disso, as vidas que ali habitam buscam, a todo momento, superar barreiras impostas e as dificuldades enfrentadas diariamente. A Baixada enfrenta constantes e diversos conflitos, a própria divisão setorial e administrativa se tornou um entrave para realizações e investimento na região em busca de melhorias e mudanças. O Glicério está dividido entre os distritos da Sé e da Liberdade, ambos pertencentes a subprefeitura da Sé. A leste limita-se com distritos do Cambuci e do Brás (este último pertencente a subprefeitura da Mooca).
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O conflito quanto aos limites da área não é compreendido nem pelos próprios agentes públicos, o que por muitas vezes, impede que a assistência necessária aconteça. Por muitos anos o poder público não realizou nenhum investimento importante nas áreas da saúde, educação, habitação e infraestrutura na região, por exemplo. Com isso, ONG’s, instituições e movimentos começaram a se organizar e desenvolver inúmeras atividades assistenciais no Glicério e, são elas que até o momento trazem um pouco de vida e cor a essa realidade marcada pela indiferença. [04]
[04]Glicério, Vila Suíça. [05]Glicério, R. Conde de Sarzedas. [06]Sujeira pelo Glicério.
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[05]
[06]
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Imigrantes Dentre os principais grupos de imigrantes que ocuparam o Glicério e tornaram o processo de migração uma realidade continua, destacam-se: os italianos, nas primeiras décadas do século XIX; seguido pelos japoneses que chegaram durante o período da primeira Guerra Mundial (1914-1918) e então, sul-coreanos na segunda metade do século, por volta de 1963. Em 2010, um grande terremoto atingiu o Haiti, grande catástrofe que ocasionou uma saída em massa de jovens do país. O Brasil foi o terceiro pais que mais recebeu imigrantes haitianos e o Glicério tornou-se ponto de referência para os que aqui chegaram. A comunidade africana cresceu em vários períodos da história, vindos de diferentes países do continente, buscam nesse local o refúgio da guerra, da fome e da intolerância religiosa. E, por fim, muitos latinos americanos ali também constituíram seu novo lar. É importante dizer que, entre todos os imigrantes que constituíram essa região a “população brasileira”, também ali presente, é formada, por diversos sotaques. Famílias vindas de vários estados brasileiros, entre eles nordestinos (de quase todos os estados da região) e mineiros formam o maior grupo. Estes brasileiros buscavam na grande e promissora São Paulo uma forma de fugir da fome, da seca e da falta de oportunidade no mercado de trabalho. Assim, o Glicério se caracteriza também por esse “menu diversificado” de comportamentos, todos enraizados que compartilham necessidades biológicas e psicológicas. O convívio com o diferente, a divisão de um mesmo espaço forma um novo ambiente onde o conflito se instala. LeBaron aponta a necessidade de criar uma linguagem no processo da resolução de conflitos baseada no apelo as “necessidades humanas” partilhadas.s 42
[07]Manifestações no Glicério. “Nenhum ser humano é ilegal”.
“Apesar das diferenças em costumes relacionados à comida, vestimenta e práticas religiosas, “somos todos iguais sob a pele”. (Michelle LeBaron, p.01) [07]
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[08]Chegada dos Imigrantes na Igreja Nossa Senhora da Paz.
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“Quando vieram até nós, relataram que quatro deles foram baleados no sábado próximo a um supermercado. No outro dia, foram dois que ficaram feridos perto de um posto de gasolina do bairro” – Padre Paolo Parise, um dos coordenadores da congregação para matéria na Veja São Paulo sobre atentados no Glicério do dia 01 de junho de 2017. “Não sei se foi xenofobia ou se há algo por trás. Mas é fato que em época de crise reações agressivas como essa acabam surgindo. É lamentável. Isso precisa ser investigado... isso indica que o nosso país, embora pareça tranquilo, precisa superar o estranhamento ao que é diferente.” – Padre Antero João Dalla Vecchia, diretor da Casa do Migrante e pároco da igreja para matéria na Veja São Paulo sobre atentados no Glicério do dia 01 de junho de 2017.
[09]Manifestações no Glicério. “Nenhum direito a menos”.
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Dificuldades cotidianas O Glicério é a definição de um território vulnerável, com condições precárias de moradia, devido à enorme quantidade de cortiços, falta de vagas em creches e escolas, violência, e moradores em situação de rua que estão presentes, como na grande parte das regiões centrais em São Paulo. Dentre os inúmeros fatores que intensificam a precarização da vida imposta à população moradora da baixada, existe ainda o medo da expulsão pela especulação imobiliária, uma vez que a região está junto à área central e é circundada por bairros da tradicional classe média paulistana que estão em constante expansão. Assim, temos uma população extremamente vulnerável e vítima do descaso do poder público. Apesar da descrição talvez remeter a uma realidade triste de um lugar perigoso, o território em questão é composto por esta diversa e curiosa população. Vemos, trabalhadores, famílias, jovens e crianças numa constante rotina e luta pela convivência e sobrevivência. Esse grande mix de culturas e cores, ao chegarem refugiados ao Brasil, são recebidos pela Igreja Nossa Senhora da Paz e passam a ocupar e compartilhar esse território. Essa grande diversidade tem feito o dia-a-dia das ruas do Glicério um espaço rico em diversidade cultural. Apesar disso, o conflito existe e os problemas são diários, um dos motivos principais é dado pela principal barreira entre brasileiros e imigrantes: o idioma. Os haitianos, por exemplo, grande número dos estrangeiros do Glicério, falam apenas o criolo e o francês, e, são os filhos e filhas os primeiros a quebrar essa barreira. Assim, muitas vezes de forma tímida e gradual é possível que novos vínculos com o território sejam estabelecidos: a escola, outras crianças, a cidade. Neste caso, a disputa pelo território, a vontade pelo sentimento de pertencimento torna-se importante. 48
[10]Crianças. Brincadeiras no Glicério. [11]Crianças em roda.
Desta maneira, apresenta-se a possibilidade de construção de um bairro também construído por seus moradores. Crianças e adultos que despertam a vontade pela transformação do lugar e assim, vem a compreensão de que assistência social não é um favor, mas um direito; e, que pela organização coletiva é possível realizar pequenas mudanças visando grandes transformações. [10]
[11]
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OPORTUNIDADE | HUB COMUNITÁRIO
HUB (centro; polo; eixo; núcleo; terminal; plataforma; concentrador) 1- Parte central ou principal de algo onde há mais atividade. (Centro). 2- A parte central de uma roda, na qual os raios (=barras que interligam a parte central ao bordo exterior da roda) são fixos. (Eixo). (Definições retiradas e traduzidas do Cambridge dictionary) 1- Centro (de importância, interesse, etc.) (Definições retiradas do dicionário Michaelis) 1- A parte central de uma roda, girando sobre ou com o eixo, e a partir da qual os raios irradiam. 2- O centro efetivo de uma atividade, região ou rede. 3- Um aeroporto central ou outra instalação de transporte a partir da qual muitos serviços operam. (Definições retiradas e traduzidas do dicionário Oxford)
COMMUNITY 1- Pessoas que vivem em uma área particular. (Comunidade). 2- Um grupo de pessoas com os mesmos interesses, religião ou nacionalidade. (Comunidade, colônia). (Definições retiradas e traduzidas do Cambridge dictionary) 1- Comunidade, grupo de pessoas ou habitantes. 2- Público, povo. 3- Sociedade, associação, comunhão. 4- Grêmio. 5- Grupo de animais ou plantas, colônia. 6- Semelhança, identidade. (Definições retiradas do dicionário Michaelis) 1- Um grupo de pessoas que vivem no mesmo lugar ou que tem uma característica particular em comum. 2- Um grupo de pessoas que vivem juntas, praticando a propriedade comum. 3- Uma área ou lugar particular considerando junto seus habitantes. 4- Um grupo de nações ou estados unidos por interesses comuns. 5- As pessoas de um distrito ou pais consideradas coletivamente, especialmente no context de valores e responsabilidades sociais; sociedade. 6- (COMO MODIFICADOR). Denotar um trabalhador ou recurso destinado a servir as pessoas de uma área específica. 7- (SUBSTANTIVO DE MASSA). A condição de compartilhar ou ter certas atitudes e interesses comuns. 8- (NO SINGULAR). Uma similaridade ou identidade. 9- Propriedade ou responsabilidade conjunta. 10- (ECOLOGIA). Um grupo de plantas ou animais interdependentes que crescem ou vivem em condições naturais ou que ocupam um habitat específico. (Definições retiradas e traduzidas do dicionário Oxford)
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A ideia do Community Hub O direito à cidade, como apresentado previamente, deve ser compreendido como o poder da transformação de nós mesmos enquanto cidadãos e, consequentemente de nossa cidade. Deve assim, também ser tratado como coletivo e não individual, pois a transformação em questão depende do exercício de um poder coletivo para remodelar os processos existentes na cidade. Assim sendo, temos nesse novo conceito de espaço a oportunidade de criar um lugar na cidade provedor de encontros. Capaz de transformar o individual em ação coletiva.
Apesar de contestações quanto ao uso do estrangeirismo, optou-se por manter o termo Hub, em inglês, no trabalho; pois as traduções encontradas não se adequaram a ideia e significado do espaço desejado.
“O espaço terá um papel fundamental na dinâmica de encontros e nas possibilidades de interação dos atores de diferentes classes e na formação desses diferentes mundos sociais ao impactar formas de apropriação do espaço urbano desses atores.” (Vinicius M. Netto, Cidade e Sociedade, 2014, p. 63). O community hub é um espaço de apoio no coração de uma comunidade. Com potencial catalisador e articulador de toda uma região, tem como foco os conflitos e dificuldades locais encaradas diariamente. 55
A proposta é cíclica, o espaço opera fornecendo serviços à comunidade, mas também, pela comunidade. A população local participa da tomada de decisões referentes aos serviços, a própria administração do edifício e também, no apoio à prestação de serviços através do voluntariado. São diversos os serviços prestados, o espaço possibilita o acesso à serviços públicos e muitas vezes trabalha com parcerias. O community hub surge como uma tentativa de combate ao fenômeno de exclusão social e fragmentação e a crise do bem-estar público. Assim, o programa de necessidades varia de acordo com o local em que está inserido, entretanto, existem algumas características principais comuns a todos eles, essas são: • Espaços híbridos: múltiplos usos, diferentes práticas e atividades • Espaços plurais: diferentes formas de uso • Conector local: espaço como catalisador para o desenvolvimento local • Espaços geradores: fornecem serviços e criam empregos Para exemplificar esse espaço, os apontamentos a seguir foram baseados no Programa Our Place, que decorreu entre 2014 e 2016, na Inglaterra. O programa foi financiado pelo Departamento de Comunidades e Governo Local (DCLG) e entregue pela Localidade e parceiros. Embora o financiamento para o programa já não esteja disponível, a abordagem “O Nosso Lugar” e a aprendizagem das áreas de parceria são ainda valiosas. O programa coloca as comunidades no centro da prestação de serviços local para identificar e trabalhar com os assuntos que mais lhes interessam. A seguir veremos: (1) Uma visão geral dos hubs da comunidade, (2) O que são e os benefícios que trazem, (3) Exemplos de hubs na prática e, (4) Dicas para a criação de hubs comunitários. Os polos comunitários podem constituir um meio para abordagens alternativas à prestação de 56
serviços apoiadas pelos princípios de participação comunitária e parcerias, além disso, podem facilitar isso fornecendo um local onde diferentes parceiros, locais de um bairro, possam se unir e discutir os assuntos que mais lhes interessam. Esses espaços podem, portanto, apoiar uma abordagem centrada na comunidade e dirigida pela comunidade. No caso do programa Our Place, observamos alguns dados levantados nos últimos anos: 15% das áreas Our Place (27/185 áreas) são focadas na prestação de serviços de centros comunitários O programa 2015/16 viu um aumento acentuado na provisão de serviços de centros comunitários (25%) em comparação com a 2014/15 (8%). Os Hubs do programa procuraram fornecer uma gama de temas de serviços, por exemplo, serviços à família, idosos, saúde mental, etc. O programa também realizou o mapeamento das áreas que seriam focadas em hubs. Analisaram a provisão de serviços existentes, consultaram amplamente com as pessoas locais e contrataram comissários locais para identificar os serviços que poderiam ser entregues através dos hubs. Os Hubs comunitários operam mais frequentemente em edifícios, dos quais são prestados serviços polivalentes e são dirigidos pela comunidade. Eles, frequentemente, acolhem outros parceiros e dão acesso a serviços públicos. Esses enfoques de co-localização são um uso eficiente e eficaz dos recursos. Os polos comunitários são, em si mesmos, um bom uso dos ativos locais e o modelo pode ajudar a sustentar uma organização comunitária empreendedora e resiliente. Os community hubs prestam serviços para a comunidade, mas também pela comunidade. As pessoas locais estão envolvidas tanto na tomada de decisões sobre como os serviços são executados e no modo como os edifícios são gerenciados. Existe também a entrega através do voluntariado, a qual é incentivada nesses espaços. Normalmente, os hubs são geridos e administrados por uma organização comunitária dedicada, 57
mas em outros casos podem ser propriedade ou geridos por uma agência pública, como uma associação de habitação ou autoridade local, mas como uma contribuição e influência substancial da comunidade. Os hubs comunitários são multifuncionais, fornecendo ou hospedando uma gama de atividades e serviços usados por muitas pessoas diferentes. A gama de serviços reflete a necessidade local e pode ser prestada por pessoas locais, outras organizações ou agências públicas. Alguns dos serviços recorrentes nesse espaço são, por exemplo: grupos de pais e crianças; atividades de saúde e bem-estar; apoio ao emprego; cuidado de crianças; serviços de biblioteca; assessoria e informação; entre outros. Os centros comunitários utilizam edifícios e terrenos locais para fornecer uma base para atividades e serviços. Estes podem ser ativos adquiridos através de uma transferência de ativos comunitários, como uma escola, uma prefeitura ou um terreno esportivo. Outros hubs são criados como resultado de novos desenvolvimentos através de projetos de construção liderados pela própria comunidade. Esses centros precisam de um rendimento para ser sustentável, e garantir que eles estarão lá nos próximos anos. Uma gama de fontes de rendimento é geralmente necessária para cobrir todos os custos de cuidar do edifício e executar as atividades como, por exemplo, concessões, doações, alocação de espaços, entrega de contratos, etc. Os centros eficazes utilizam boas ideias e recursos dentro da comunidade e são capazes de se adaptar as mudanças de circunstancias. Os hubs ajudam a construir comunidades coesas e mais resilientes, podem reunir pessoas e ajudá-las a formar novos relacionamentos e redes de apoio. Os centros podem fazer isto ao permitir e hospedar atividades lideradas pela comunidade. E, para permanecerem sustentáveis, os centros não dependem de uma única fonte de financiamento. 58
Podem ajudar a fornecer serviços melhores e mais integrados, oferecem uma base local para que as pessoas acessem os serviços, tornando-os mais acessíveis e desejáveis. Muitas vezes, eles fornecem serviços de intervenção precoce, ajudando as pessoas a resolver problemas antes que eles se transformem em problemas maiores. Além disso, oferecem um lugar seguro onde as pessoas possam entrar para um café ou curso de treinamento, e acesso a serviços adicionais necessários, tais como aconselhamento de dívida, serviços de saúde mental ou aconselhamento sem estigma. Núcleos comunitários podem apresentar uma abordagem mais holística para ajudar as pessoas com seus problemas. Eles muitas vezes têm uma política de “porta aberta” e são capazes de ajudar as pessoas a ter acesso a uma gama de serviços sob o mesmo teto. Organizações comunitárias transformam edifícios subutilizados ou terras em centros de atividade prósperos, tornando os bairros mais resilientes. Muitos deles foram desenvolvidos como novos usos para edifícios patrimoniais para uso comunitário ou, emergiram de instalações desportivas transferidas para a comunidade. Os hubs fornecem um foco para a regeneração conduzida da comunidade, muitas vezes, atuam como um catalisador para desenvolver projetos, atividades e negócios locais. Eles podem oferecer uma base para empregos e serviços locais, ajudando a manter a atividade econômica local. Alguns centros comunitários ajudam também a estabelecer planos de vizinhança, outros foram desenvolvidos como resultado deles. Além disso, muitos desses funcionam como âncora para o desenvolvimento econômico comunitário. Para se estabelecer um eixo comunitário são necessários alguns passos, os quais vemos a seguir:
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1. Entender as necessidade e demandas locais 2. Estabelecer uma visão clara e missão com a comunidade 3. Desenvolver parcerias e construir relacionamentos 4. Desenvolver seus objetivos estratégicos 5. Desenvolver um modelo de negócio para o hub 6. Apoio e recursos seguros para que isso aconteça 7. Adquirir quaisquer ativos necessários 8. Estabelecer uma estrutura de governança adequada Cada hub é diferente, influenciado por seus membros fundadores e o ambiente que existe dentro. Antes que um plano detalhado possa ser estabelecido, é preciso identificar e compreender as questões que mais importam para as pessoas locais na comunidade. Para isso, algumas atividades uteis à serem realizadas são: 1. Ouvir as questões de moradores locais. Um centro comunitário deve ser fundamentado numa verdadeira compreensão das necessidades locais. 2. Revisar as informações disponíveis sobre a comunidade, incluindo estratégias ou planos existentes 3. Observar as estatísticas sobre a área: mapas de privação, para entender quais são as prioridades e tendências locais. 4. Mapear os atributos e características existentes da comunidade para entender a disposição local. 5. Desenvolver um plano de engajamento comunitário que indique como ele continuará envolvendo outras pessoas à medida que sua visão avança. Uma visão clara do contexto em questão ajuda a fornecer um objetivo claro para o hub, ajudando a articular e comunicar o que se está procurando alcançar. Isso irá ajudá-lo a permanecer focado, e se envolver com as pessoas de forma mais eficaz.
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O envolvimento da comunidade é um requisito permanente para um centro comunitário eficaz. Uma vez que a visão e uma missão foram moldadas por eles, uma etapa seguinte útil é recolher e considerar ideias para atividades e projetos que ajudarão a consegui-los. Trata-se de implementar o plano de engajamento da comunidade desenvolvido e, pode envolver: bater nas portas; enviar as pesquisas realizadas; uso de mídias sociais, ferramentas online e consultas criativas; reuniões públicas; aprender com os outros através de visitas ou “intercâmbios de conhecimentos e competências. Os polos mais eficazes desenvolvem fortes redes de relacionamento dentro de suas comunidades que são sustentadas por valores compartilhados. Para isso, novamente, algumas atividades uteis para realizar são: 1. Um exercício de mapeamento das partes interessadas. 2. Conversar com líderes locais da comunidade, conselheiros, oficiais e agências públicas sobre o que fazer. 3. Identificar se existem causas comuns. 4. Pensar: quais são as prioridades, o que pode lhes ser oferecido, como isso ajuda a comunidade com o que estão tentando fazer. É necessário desenvolver um conjunto de objetivos claros que estabeleçam o que realmente será feito para que se alcance a missão. Os objetivos devem refletir as necessidades da comunidade, bem como o contexto local, concentrando-se nas áreas que farão a maior diferença. O objetivo é não desenvolver uma lista enorme de tudo o que se vai fazer, mas desenvolver o acordo das principais prioridades estratégicas para o momento. Os objetivos específicos podem ser revisados com o tempo. Os Centros Comunitários só podem ser eficazes se forem sustentáveis e resilientes. Embora o 61
financiamento de subsídios possa ser extremamente importante para ajudar os centros a se desenvolverem, a dependência excessiva de subsídios o tornará vulnerável. Os centros costumam ter modelos de negócios bastante complexos, dependendo de uma variedade de fontes de renda para cobrir seus custos. Os hubs bem-sucedidos precisam asssegurar o apoio de uma ampla gama de pessoas e organizações. Isso pode incluir: desenvolver o apoio dos oficiais e conselheiros das autoridades locais; fazer propostas eficazes para os financiadores; ou ainda, garantir apoio da comunidade local para se voluntariar ou se envolver. Os hubs podem ser adquiridos através de transferência de ativos, adquiridos diretamente ou construídos a partir do zero. As vezes, um período experimental oferece uma oportunidade aos grupos comunitários para testar as coisas antes de assumir a responsabilidade total de possuir ou gerenciar um edifício ou pedaço de terra. Uma variedade de recursos estão disponíveis para ajudar as comunidades a desenvolver seu projetos baseado em ativos. Antes de assumir formalmente a gestão de um edifício, empregar qualquer pessoal ou obter financiamento, uma organização tem que ser formalmente criada. Os hubs devem regularmente realizar revisões para certificar-se de que estão trabalhando de maneira eficaz. Alguns exercícios úteis a manter-se na “boa forma” incluem: 1. Uma ferramente de verificação de saúde de auto-avaliação para identificar seus pontos fortes e fracos. 2. Revisar o plano estratégico e o plano de negócios em intervalos regulares. 3. Capturar informações e monitorar o impacto que o hub está causando às pessoas e à sua comunidade. 4. Revisão dos métodos de engajamento da co62
munidade para mantê-los frescos e adequados à finalidade, conforme as necessidades locais que podem mudar ao longo do tempo.
O excesso de confiança em uma ou duas fontes de renda é uma causa comum de fracasso organizacional. É importante procurar estabelecer uma gama de fontes para que se seja menos vulnerável ou dependente, por exemplo: Concessão; contratos e prestação de serviços; receitas de negociação; receita baseada em ativos; entre outros. Embora as subvenções não sejam uma fonte sustentável de rendimentos contínuos, podem ser muito úteis para projetos de arranque ou para projetos de pilotagem. Deve-se procurar ajuda para encontrar fundos, como por exemplo uma central de financiamento, ou conversar com agências locais sobre as oportunidades de fornecer serviços que estejam alinhados com seus objetivos como uma organização. A barra é geralmente mais elevada para as organizações que desejam garantir e entregar contratos de serviço público em comparação com subvenções, por isso, ajuda investir um tempo em tornar-se contrato, caso procure-se estabelecer isso como um fluxo de renda.
Como os hubs muitas vezes operam em nível local, as vezes precisam colaborar com outros para competir para entregar contratos de serviços através da construção de consórcios de licitação. Os polos comunitários muitas vezes podem desenvolver empresas sociais localmente enraizadas que apoiam seus objetivos e ajudam a cobrir os custos. As receitas de negociação podem vir da venda de serviços como assistência à criança, ou associação de clubes, ou através da venda de produtos como artes locais. Os centros comunitários geram frequentemente o rendimento da renda de aluguel de quartos 63
e dos acordos de licença. Isso pode funcionar particularmente bem quando os inquilinos complementam os objetivos sociais da organização. Por exemplo, as agências públicas às vezes alugam espaços em centros para que possam prestar serviços em nível de bairro, como consultórios de aconselhamento habitacional ou serviços de rastreamento de saúde. Os centros comunitários sustentáveis continuam vivos e respondem às necessidades e demandas em mudança dentro da comunidade. É uma boa prática para todas as organizações comunitárias realizar uma revisão regular. Isso pode envolver a observação do feedback dos clientes, estatísticas e impactos até o momento. Também é útil ser introduzido em redes locais, como, por exemplo, associações de residente ou o conselho local de serviços voluntários, a fim de estar atualizado sobre novos financiamentos ou oportunidades de aprendizagem local. Considerar como a organização e o hub gerenciarão a qualidade de suas atividades é muito importante e, existe uma série de recursos disponíveis para que as organizações considerem questões de qualidade. No caso do programa Our Place, podemos apontar: 1. Vissble communities é adaptado para que as organizações considerem questões de qualidade. 2. PQASSO é outro exemplo de um padrão de qualidade adaptado às organizações do terceiro setor. 3. Outros hubs podem ser mais adequados aos padrões de qualidade específicos dosetor, dependendo do foco de trabalho, coo padrões da Quality Care Quality, OFSTED ou Matrix Standard. 4. Outros hubs desenvolvem seus próprios processos internos para garantir serviços de qualidade. Entender e ser capaz de provar a diferença que o hub faz com os indivíduos, a comunidade em 64
geral e outras partes interessadas o ajudarão a manter o apoio e a garantir o financiamento e os recursos. Os polos comunitários devem desenvolver um entendimento sobre o que eles estão tentando alcançar, porque e como eles vão demonstrar o impacto que fazem. A gestão das partes interessadas e o envolvimento da comunidade requerem atenção contínua, tempo e recursos. Organizações mais estabelecidas podem desejar adotar uma ferramenta formal de gestão de relacionamento com clientes e usar um software adequado para ajudar a acompanhar o seu envolvimento com os seus stakeholders (partes interessadas).
Estudos de caso – CHs no mundo Os Hubs tem sido ferramenta muito importante em bairros mais desfavorecidos ou em situação de conflito na Europa e vem ganhando força no mundo. Durante o curso de gerenciamento e resolução de conflitos urbanos, na PoliMi, alguns desses espaços foram apresentados. A seguir serão apresentados cinco desses exemplos, todos na Europa, sendo quatro na Itália e um na Holanda. Laboratori di Barriere – Torino, IT. (www.viabaltea.it)
As imagens a seguir, apresentadas em sala de aula (Conflict, Management and Resolution, PoliMi, 2°Semestre 2016), estão desfocadas para evitar a identificação das pessoas.
Em funcionamento desde 2014, trata-se de um espaço multifuncional com serviços sociais, artesanato e laboratórios de criatividade, espaços de coworking, restaurante-bar e uma cozinha coletiva. O escopo principal é apoiar o processo de regeneração da vizinhança e integrar o comercio e atividades de fabricação com serviços para cidadãos. O Ldb presta especial atenção aos NEETs (not in education, employment, or training) que são cidadãos que não tiveram oportunidade e não receberam educação adequada ou treinamento e estão desempregados. O centro trabalha desenvolvendo 65
projetos para promoção de auto emprego e, é gerenciado por uma cooperativa social.
[12]
Le case del quartiere – Torino, IT. (www.casedelquartieretorino.org)
Com nove espaços no total, e cerca de 75 voluntários, as Cdq volta as atenções para questões sociais e culturais. São mais de 300 cursos e laboratórios, cerca de 360.000 usuários e 250 associações e grupos envolvidos por ano.
[13]
66
O espaço promove eventos culturais, atividades comerciais e empregos. Trabalham com indivíduos, grupos informais, associações e instituições. Define os que lá trabalham como“City Makers” (“fabricantes de cidade”), os quais se mobilizam e em conjunto buscam construir a cidade, uma cidade melhor e mais justa. Exmè domus de luna – Cagliari, IT. (www.domusdeluna.it) [14]
[15]
[12]Laboratori di Barriere. [13]Anúncios Cdq. [14]Música, Domus de luna. [15]Esporte, Domus de luna.
67
[16]
Fundação que desenvolve atividades especialmente direcionada à jovens para promover a inclusão social. Possui espaços para desenvolvimento de atividades sociais e culturais como: cursos de música, atividades esportivas, laboratórios de criatividade, eventos e treinamento para NEETs. Ex Fadda – San Vito dei Normanni, IT. (www.exfadda.it) Esse centro conta com um espaço com livraria, salas para atividades culturais, iniciativas para/ com escolas, laboratórios e cursos, cafeteria e FabLab.eventos e treinamento para NEETs. [17]
68
Meevaart Community Centre – Amsterdam, NL. (www.meevaart.nl)
Em 2012, o centro comunitário da cidade iniciou um “experimento social”, para que o centro e seus usuários se tornassem responsáveis pelas decisões tomadas. Atualmente, algumas das atividades desenvolvidas geram lucro, como um bar-restaurante. O foco não é apenas o centro comunitário mas incluir todo o bairro, além de buscar desenvolver novas formas de participação social, trabalho em conjunto e ensinar cidadãos a geração de renda e auto sustentabilidade. [18]
[19]
[16]Crianças, Domus de luna. [17]Livraria Ex Fadda. [18]Entrada do MCC. NL. [15]Sala, MCC. NL.
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INTERVENÇÃO | EXPERIÊNCIA PAULISTANA
“Acredito que um fenômeno que acontece na cabeça de todas as pessoas que saem do seu país é que, a gente corre o perigo de fossilizar a cultura no momento que a gente deixou o país; e a cultura é um ser vivo que... ela vai evoluindo.” – Padre Paolo, há 18 anos no Brasil, em entrevista sobre diferenças culturais concedida à alunos do mackenzie para realização do trabalho final da disciplina de Estudos Socioeconomicos II, 1º Semestre 2017.
Grafites no Glicério.[20]
72
73
Necessidades Locais A intervenção proposta é um ensaio do que poderia vir a ser um Community Hub no Brasil, uma experiência Paulistana localizada no centro da cidade. As necessidades locais no Glicério mudam a todo momento, vão desde problemas urbanos como questão de infraestrutura básica e moradia até questões muito pontuais dentro das próprias famílias que ali se encontram. Dentre os diversos conflitos, já apontados e comentados, existem também dois pontos que fazem pensar que um Hub, poderia ser uma ferramenta importante para impulsionar e fazer as coisas acontecerem na Baixada, são eles:
(1) A velocidade dos acontecimentos. Durante o fórum sobre Solo Urbano e Ação Pastoral que aconteceu no dia 07 de outubro, no Auditório da Igreja Nossa Senhora da Paz, um dos moradores disse que no Glicério os problemas surgem a todo momento, “todo dia um novo grito”. Assim as mudanças não acompanham a velocidade das necessidades locais enfrentadas diariamente.
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(2) A rede de relacionamentos. A ponte entre Estado e população vêm a ser muitas vezes falha, devido as mudanças de gestão que resultam na dificuldade em dar continuidade as ações. A sensação do eterno recomeço também foi levantada no debate do dia 07. O Community Hub parte do princípio do coletivo, do construir juntos, busca a população local como protagonista para que ela conquiste autonomia e se torne o próprio gatilho para as mudanças. Ao falar Glicério hoje, pensa-se de modo geral em um lugar feio, perigoso, sem lei, cheio de gente estranha, onde falta moradia, educação, transporte, entre outras estruturas básicas que um “bairro” exige. Dessa forma, podemos ver no espaço do Hub uma nova possibilidade para área, uma alternativa para inserção social e profissional da comunidade, para a prática da cidadania, uma esperança para o atendimento e conquista do direito à cidade. “Vida em sociedade depende da articulação que existe entre nós.” – Padre Antenor, presente no fórum sobre Solo Urbano e Ação Pastoral Auditório da Igreja Nossa Senhora da Paz, na Baixada do Glicério 07 de outubro de 2017
Busca pelo Espaço Uma vez que o Glicério não possui uma exata delimitação territorial, traçou-se limites hipotéticos para realizar os estudos nessa região. Esses se deram pelas ruas: Tabatinguera, Conselheiro Furtado, Barão de Iguape e a rua Glicério. A partir desse limite realizou-se o levantamento da área, envolvendo desde uso e ocupação do solo, até questões mais sensíveis, como aglomerações de grupos, e acontecimentos pontuais. A seguir observamos os mapas realizados: 76
Mapas redesenhados com base nos levantamentos do trabalho de pesquisa - Glicério: Lugar de todos, terra de ninguém. (Paula Carlos de Souza, 2016).
HABITACIONAL COMÉCIO/SERVIÇOS MISTO HABITACIONAL INSTITUCIONAL COMÉCIO/SERVIÇOS ESTACIONAMENTOS/VAZIOS
MISTO INSTITUCIONAL ESTACIONAMENTOS/VAZIOS
Mapeamento do uso do solo na região.
1-2PAV. PAV. 1-2 3-5 3-5PAV. PAV. 6-10 PAV. 6-10 PAV. +10 PAV. +10 PAV.
Mapa referente ao gabarito das edificações no local.
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Mapa referente ao estado de conservação das edificações.
ÓTIMO BOM ÓTIMO MÉDIO BOM RUIM ED.MÉDIO TOMBADO
RUIM ED. TOMBADO
O mapa ao lado mostra a ligação leste-oeste sobre as quadras. Com a implementação do viaduto uma barreira fisica foi criada. As transposiões são feitas sob o viaduto nas ruas próximas a igreja; e, sobre ele a partir da R. Conselheiro Furtado até a Av. Liberdade. O espaço resultante sob a construção sofre com a degradação e vulnerabilidade.
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Ao lado, estão mapeados os cortiços existentes na região.
As áreas de encortiçamento também retratam os espaços com o maior índice de degradação no Glicério.
79
Do lado esquerdo, observa-se a territorização de diferentes “grupos socias” no Glicério, todos em situação de vunerabilidade.
MAIOR CONCENTRAÇÃO DE IMIGRANTES
MAIOR CONCENTRAÇÃO DE IMIGRANTES CONCENTRAÇÃO DE MULHERES COM FILHOS CONCENTRAÇÃO DE MULHERES COM FILHOS (sem companheiros) (sem companheiros) REGIÃO COM ALTO ÍNDICEDE VULNERABIIDADE SOCIAL REGIÃO COM ALTO ÍNDICEDE VULNERABIIDADE
SOCIAL
Com as análises foi possível entender melhor a dinâmica local. Ao lado, o mapeamento de terrenos potenciais para a intervenção arquitetônica. Com esse mapa e o entendimento dos principais problemas e conflitos enfrentados, definiu-se a área de projeto.
80
Acima, o mapeamento dos eventos e festas que ocorrem durante todo o ano no Glicério - segundo o calendário de 2017 da Missão Paz, e relatos de Moradores sobre os eventos informais, como bailes e rodas de samba. Ao lado, tabela com data, nome e frequência desses encontros.
Após a realização do estudo dessa região, notou-se um interessante eixo urbano referente a rua dos Estudantes, a qual conecta a estação do metrô Liberdade à Igreja Nossa Senhora da Paz; um eixo referente a chegada e destino e, junto a ele uma grande área central resultante do encontro de vários terrenos vazios e de estacionamentos que criavam uma interessante conexão entre as ruas que delimitavam a quadra: Rua Conde de Sarzedas, Rua Dr. Tomaz de Lima, Rua Anita Ferraz e a própria Rua dos Estudantes. Assim encontrou-se o espaço para a proposta de intervenção. 81
Eixo urbano - Rua dos Estudantes CHEGADA
METRO ESTAÇÃO LIBERDADE
82
DESTINO
IGREJA NOSSA SENHORA DA PAZ
COMMUNITY HUB
83
[21]
[21]Festa da BolĂvia, 2014. [22]Festa da Bandeira do Haiti, 2015.
84
[22]
85
86
[23]Desfile, Festa da BolĂvia, 2014.
87
88
[O projeto apresentado a seguir é um Community Hub no Glicério. Teve como objetivo explorar os conceitos construtivos e a espacialização de atividades que confrontam problemas locais, apresentando as questões espaciais e arquitetônicas que definem esse tipo de edificação, como vimos nos estudos de caso. Entretanto, as questões econômicas e ligadas ao financiamento, custo e manutenção do Hub, embora também exemplificadas anteriormente, não foram tema de discussão nessa etapa.]
89
Partido A intenção era justamente, como discutido em capítulos anteriores, não se ater a questões ligadas a moradia, apesar de ser um grande problema na região, mas de se propor espaços para demais atividades que também são deficientes no Glicério, buscou-se construir cidade. Para isso, duas questões territoriais existentes e previamente levantadas e analisadas, influenciaram no partido arquitetônico do projeto: a topografia e as ruas.
Cheios e Vazios
Área destinada ao CH
Blocos + Passarela
Primeiramente, a topografia. Existindo um grande desnível no terreno escolhido, tinha-se a intenção de por meio da arquitetura proposta conectar essas diferentes cotas, possibilitando o acesso ao Hub pelas quatro ruas que delimitaram o terreno. Dessa forma criou-se os volumes que foram se acomodando de forma a possibilitar as ligações entre as diferentes cotas pré-existentes. O segundo ponto foi o desejo de trazer a rua – palco hoje de todos os acontecimentos e festas da região – para dentro do projeto. Assim todos os acessos acontecem por “praças” abertas, que acolhem a população e proporcionam o espaço de encontro que hoje é insuficiente no Glicério.
0
10
20
IMPLANTAÇÃO
_PRAÇA DO IMIGRANTE _APOIO FESTAS: restaurante, atelie, oficinas (dança, música) GSPublisherVersion 0.0.100.100
90
5
E SA
RZE
2
DE D
1
CON
DAS
3
RUA
4
OFICINA
4
SALA DE MÚSICA
0.0
0.0
HALL
5
5
(ESTÚDIOS/ATELIES)
0.0
REFEITÓRIO
RUA DR. TOMAZ DE LIMA
(COZINHA AULA) 0.0
0.0
FE
IM
FE
0.0
Fg
FE
Fg
CL
FE
PRAÇA DO IMIGRANTE
RUA ANITA FERRAZ
1.0
DESPENSA CÂMARA FRIA
ENTRADA SERVIÇO
3
LIXO
-1.0
0.0
0.0
6
6
DANTES
2
1
RUA DOS ESTU
GSPublisherVersion 0.0.100.100
91
2
1
Dessa forma, a extensão da rua resultou e, uma grande praça para acolher as festas e as pessoas da região, fazendo com que dois dos volumes propostos para enfrentar o desnível do terreno fossem suspensos por pilotis.
3
6.0
CAFÉ
4
4
ATELIE 5.6
SALA DE DANÇA
SALA DE DANÇA
5.6
5.6
5
5
6.0
MEZANINO
3
(ESTAR/DESCANSO) 4.4
ESCOLA DE LÍNGUAS 6.0
6.0
0
10
20
PLANTA 1º Pavimento
BIBLIOTECA (SALA DE ESTUDOS) 6.0
6
6
2
1
GSPublisherVersion 0.0.100.100
92
5
_BIBLIOTECA _CURSOS (técnicos e línguas) _APOIO restaurante, oficinas (dança, música)
2
1
E, por fim, uma grande passarela metálica foi a responsável por conectar todos os volumes que abrigam os usos e atividades do Hub. Trata-se de uma passarela pública, uma “rua construída”, que demarca a conexão norte-sul a qual, com o desenvolver da malha urbana, muitas vezes nota-se deficiente na região que possui enormes quadras sem a possibilidade de passagem.
14.5
11.5
3
10.0
10.0
RECEPÇÃO AO IMIGRANTE
4
4
SALA DEAULA
ESPAÇO CRIANÇA (ACESSO)
(ACESSO PRINCIPAL)
5
BRINQUEDOTECA
10.0
Fg
5
ESPAÇO CRIANÇA
ADM.
BICICLETÁRIO
10.0
PRAÇA SUPERIOR (ACESSO ESPAÇO CRIANÇA)
3
10.0
CURSOS TÉCNICOS 10.0
10.0
0
5
10
20
BIBLIOTECA (ACERVO/CONCENTRAÇÃO)
PLANTA 2º Pavimento
10.0
6
2
6
1
_BIBLIOTECA _CURSOS (técnicos e línguas) _ESPAÇO CRIANÇA _RECEPÇÃO AO IMIGRANTE
93 GSPublisherVersion 0.0.100.100
100.100
2
1 3
14.0
4
4
SOLARIUM (ESPAÇO CRIANÇA)
14.0
5
5
3
14.0
i = 1%
i = 1%
14.0
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Praรงa do Imigrante
Praรงa do Imigrante
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CORTE 01
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Atividades e Inserção A intenção é que o Hub proposto atenda a toda a população no Glicério, e não seja um espaço restritamente proposto para os imigrantes locais, entretanto, por tratar-se dessa realidade multicultural e de grande riqueza cultural, foi inevitável não pensar no programa desse Hub sem trazer as dificuldades cotidianas desse público especificamente. A proposta então é que esse Hub funcione como ferramenta para inclusão social e profissional, dessa forma o espaço encontra-se dividido em blocos com programas que pretendem trazer formação, assessoria, incentivo, informação, e que colaborem trazendo mais espaço para o desenvolvimento das novas atividades propostas e das que já aconteciam por lá. Temos uma grande praça no térreo com acesso pela Rua dos Estudantes e a Rua Anita Ferraz. Essa grande área vazia busca justamente proporcionar o espaço que é tão escasso na região, possibilitando novos encontros e acontecimentos, servindo como palco das tradicionais festas dos imigrantes que hoje acontecem no pátio da igreja e invadem a rua.
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Assim, junto a Praça do Imigrante encontramos dois blocos com programas de apoio às festas que, no entanto, fornecem atividades e trazem o movimento para a área o ano todo. São esses espaços um restaurante, com uma cozinha central e arquibancada possibilitando o uso da mesma para aulas e workshops; e, um espaço com oficinas e ateliês, trazendo espaço para a música, a marcenaria, a costura e a dança para região. No bloco mais próximo à Rua dos Estudantes e mais distante do coração da praça, trazendo um espaço mais silencioso e acessível, foi criado o bloco da biblioteca, com área para estudos e espaço de leitura. Apesar de existirem escolas na região não encontramos nenhuma área desse tipo nas proximidades. O bloco ao lado, foi contemplado com espaços para salas de aula, sujeitas aos cursos técnicos e de línguas, visando a inserção profissional dos moradores como novamente a social entre brasileiros e estrangeiros, de forma que o idioma deixe de ser uma barreira na vida dessas pessoas.
ELEVAÇÃO RUA ANITA FERRAZ
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Sobre o restaurante foi criada uma pequena praça que pode ser acessada diretamente pela Rua Dr. Tomaz de Lima, esta leva ao espaço criança, pensado devido à enorme quantidade de pais solteiros que podem frequentar as atividades fornecidas pelo Hub e estar descansados quanto aos filhos que receberam a devida atenção aqui, com espaço para brincadeiras, atividade educativas e cantina. Por fim, o bloco diretamente acessado pela Rua Conde de Sarzedas, e também o bloco mais próximo à região da Sé onde temos o Poupatempo, está localizado o espaço de recepção ao imigrante. Uma área destinada a informações sobre documentação, empregos, ou simplesmente retirada de dúvidas. Aqui criou-se um espaço para este atendimento, um pequeno café e banheiros públicos e uma grande escadaria, que pode funcionar como um pequeno auditório aberto. GSPublisherVersion 0.0.100.100
A intenção da proposta é promover a troca cultural entre os povos que ali habitam, entre as pessoas que frequentam a área, estreitando os laços e combatendo o estranhamento causado pelas di100
ELEVAÇÃO RUA DOS ESTUDANTES 0
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ferenças. Pode ainda possibilitar o interesse de um novo público para o Glicério, promovendo encontros e realizando a formação de novas redes sociais.
Praça do Imigrante
Rua interna e Café
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Café | Recepção ao Imigrante
Recepção ao Imigrante
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Mezanino Restaurante
Restaurante | Cozinha-aula
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Biblioteca | Sala de Estudos
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“Compartilhamos o conhecimento e aprendemos todos juntos...” – Professor de português no Glicério. 107
CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho apresentado teve como objetivo apresentar o conceito do Community Hub como uma nova alternativa de espaço para cidade de São Paulo. Com base no conhecimento prévio adquirido no intercâmbio, continuou-se os estudos referentes aos conflitos urbanos e possibilidades para resolução deles por meio da arquitetura e, isso, juntamente com as orientações e discussão realizadas no decorrer do ano foi possível desenvolver essa experiência Paulistana. Encontramos uma área interessante na cidade e desenvolvemos a proposta, a qual buscou traduzir todo o processo de entendimento dos conceitos e da área selecionada em uma arquitetura que fosse capaz de influenciar e trazer mudanças para sociedade. O que se observou foi a necessidade de aproximação da realidade, buscar o entendimento mais amplo dos problemas enfrentados e dos desejos e carências de uma comunidade. Ao realizar o projeto, buscou-se traduzir as ausências em uma arquitetura capaz de supri-las; fornecendo um espaço para possibilidades, necessidades, interações e acontecimentos do cotidiano. 109
CRÉDITOS ICONOGRÁFICOS [01] Complexo Viário Parque D. Pedro II e Viaduto
Glicério, Viaduto. Ivo Justino, Acevo do Museu da Cidade. Disponível em: https://sampahistorica.wordpress.com [02] Diferentes padrões de apropriação das classes sociais. Vinicius M. Netto. Cidade e Sociedade, p.81 [03] Os níveis da análise do comportamento de cidades. Vinicius M. Netto. Cidade e Sociedade, p.330 [04] Glicério, Vila Suíça. Acervo pessoal. [05] Glicério, R. Conde de Sarzedas. Missão Paz. Disponível em: http://www.missaonspaz.org/ [06] Sujeira pelo Glicério. Missão Paz. Disponível em: http://www.missaonspaz.org/ [07] Manifestações no Glicério. “Nenhum ser humano é ilegal”. Acervo pessoal. [08] Chegada dos Imigrantes na Igreja Nossa Senhora da Paz. Missão Paz. Disponível em: http://www.missaonspaz.org/ [09] Manifestações no Glicério. “Nenhum direito a menos”. Acervo pessoal. [10] Crianças. Brincadeiras no Glicério. Disponível em: http://portal.aprendiz.uol.com.br/ [11] Crianças em roda. Disponível em: http://idis.org.br/ [12] Laboratori di Barriere. Claudio Calvaresi, conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.viabaltea.it [13] Anúncios Cdq. Claudio Calvaresi, conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.casedelquartieretorino.org [14] Música, Domus de luna. Claudio Calvaresi, conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.domusdeluna.it [15] Esporte, Domus de luna. Claudio Calvaresi, conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.domusdeluna.it [16] Crianças, Domus de luna. Claudio Calvaresi, conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.domusdeluna.it [17] Livraria Ex Fadda. Claudio Calvaresi, conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.exfadda.it [18] Entrada do MCC. NL. Claudio Calvaresi, conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.meevaart.nl [19] Sala, MCC. NL. Claudio Calvaresi, 110
conteúdo apresentado em sala de aula. Disponível em: www.meevaart.nl [20] Grafites no Glicério. Acervo pessoal. [21] Festa da Bolívia, 2014. Missão Paz. Disponível em: http://www.missaonspaz.org/ [22] Festa da Bandeira do Haiti, 2015. Missão Paz. Disponível em: http://www.missaonspaz.org/ [23] Desfile, Festa da Bolívia, 2014. Missão Paz. Disponível em: http://www.missaonspaz.org/
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BIBLIOGRAFIA AA.VV. – Berghof Handbook for Conflict Transformation (Artigos) (www.berghof-handbook.net) • KRIESBERG, Louis - The State of the Art in Conflict Transformation, 2011. • LEBARON, Michelle - Transforming Cultural Conflict in an Age of Complexity, 2001. • MIALL, Hugh - Conflict Transformation: A Multi-Dimensional Task, 2004. • MITCHELL, R. Christopher - Conflict, Change and Conflict Resolution, 2011. • REIMANN, Cordula - Assessing the State-of-the-Art in Conflict Transformation, 2004. FISHER, F. and FORSTER, J. – The Argumentative Turn in Policy Analysis and Planning. UCL Press, 1993. FUNG, A. and WRIGHT, O. – Deepening Democracy: Institutional Innovations in Empowered Participatory Governance. London, Verso, 2003. HARVEY, David – Cidades rebeldes: Do direito à cidade à revolução urbana. Editora Martins Fortes, 2014. HOLSTON, J. - Cidadania Insurgente Disjunções da democracia e da modernidade no Brasil. Companhia das Letras. INGOLD, T. – Making: Anthropology, Archaeology, Art and Architecture. Routledge, London, 2013. JACOBS, Jane – Morte e vida de grandes cidades. Editora Martins Fontes. LEFEBVRE H. - Writings on Cities, edited by E. Kofman and E. Lebas, Wiley-Blackwell, 1995. NETTO, Vinicius M. – Cidade e Sociedade: as tramas da prática e seus espaços. Editora Sulina, 2014. SENNETT, R. – Together. The Rituals, Pleasures and Politics of Cooperation, Yale University Press, New Haven, 2012. SOUZA, Paula - Glicério: lugar de todos, terra de ninguém. Iniciação Científica. FAUMACK. São Paulo, 2016. TANAKA, Giselle M. M. - Periferia: conceito, prática e discursos. Práticas sociais e processos urbanos nametrópole de São Paulo. Dissertação de Mestrado. FAUUSP, São Paulo, 2006.
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Trabalho Final de Graduação de Gabriela Balieiro Panico, apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do diploma de Arquiteta e Urbanista sob orientação do professor Dr. Paulo Emílio Buarque Ferreira. São Paulo, Dezembro de 2017.