REVITALIZAÇÃO NO MUSEU E CASA DA CULTURA DO
MUNICÍPIO DE JARDINÓPOLIS
Gabriela Riul
Gabriela Riul
REVITALIZAÇÃO NO MUSEU E CASA DA CULTURA DO MUNICÍPIO DE JARDINÓPOLIS Trabalho final de graduação apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda como requisito à obtenção de título em Arquitetura e Urbanismo
Orientador: Prof.ª Rita de Cássia Fantini de Lima
CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA ARQUITETURA E URBANISMO Ribeirão Preto 2015
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Revitalização no Museu e Casa da Cultura do município de Jardinópolis-SP.
Trabalho final de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda.
BANCA EXAMINADORA
Prof.ª Rita de Cássia Fantini de Lima
Prof. Domingos Guimarães
Convidado
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AGRADECIMENTOS “Valeu a pena? Tudo vale a pena, se a alma não é pequena.” (Fernando Pessoa)
Agradeço a Deus, em primeiro lugar, pois sem Ele, nada disso seria possível. Aos meus professores e amigos da faculdade, que ao longo do curso, participaram da minha formação. Em especial, a Francisco Gimenes, que ensinou, acalmou, aconselhou e inspirou com toda genialidade e bondade, e a professora Rita Fantini, pela dedicação e orientação deste trabalho. À Giselle Carmello e Gisele Carucci, pelas discussões produtivas e todo apoio. Agradeço à minha família, meus pais Fernando e Clarice, e a Felipe Dias, que sempre estiveram ao meu lado, me incentivaram e acreditaram em mim.
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RESUMO O presente trabalho, aborda um projeto de revitalização no edifício que abriga o atual Museu e Casa da Cultura do município de Jardinópolis. Este edifício, considerado pela população como patrimônio histórico e cultural, por ser uma das construções que deu início à cidade, como antiga subestação de energia, projeto modelo do arquiteto francês Vitor Dubugras, instalado em outras cidades da região. O edifício de Jardinópolis destaca-se devido as alterações que sofreu durante sua construção, tornando-se um edifício com estilo neoclássico.
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ABSTRACT This work addresses a revitalization project in the building that houses the present Museum and House of Culture Jardin贸polis municipality . This building , regarded by the population as historical and cultural heritage , as one of the buildings that started the city , as old power substation , model project of the French architect Vitor Dubugras installed in other cities. The Jardin贸polis building stands out because of the changes that suffered during its construction , becoming a building with neoclassical style.
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SUMÁRIO
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Introdução
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A Elfae e a Subestação de Jardinopolis
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Situação Atual
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A Subestação de Jardinópolis
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Definição de Patrimônio
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Conceito de Intervenção
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Programa Proposto
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Acervo Público Municipal
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Conceito de Revitalização
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Museus Histórico
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Projetos de Referência
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Referências
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INTRODUÇÃO Este projeto de pesquisa aborda, na área de arquitetura, uma proposta de revitalização no Museu e Casa da Cultura de Jardinópolis – SP.
O projeto implantado na cidade de Jardinópolis sofreu modificação em sua construção, se diferenciando dos demais projetos modelo implantados nas regiões vizinhas.
O museu foi criado no ano de 1985, com o propósito de abrigar o acervo de documentos relativos à formação histórica do município da cidade, bem como fotografias e objetos históricos, e instalado no antigo prédio da CPFL, construído no ano de 1912, projeto do arquiteto francês Victor Dubugras, e desativado no ano de 1980. O projeto de Dubugras é um edifício desenvolvido para ELFAE de Ribeirão Preto (Empresa de Luz, Força, Água, e Esgotos). Tratava-se de um conjunto que trazia soluções racionais, além da experiência com a linguagem associada a programas regionais, o qual foi implantado nas regiões próximas, como Cravinhos, Sertãozinho, Dumont, além de Ribeirão Preto e Jardinópolis.
Além da importância história do edifício para a cidade, há uma grande importância de caráter cultural, visto que, sendo uma das primeiras construções da cidade, traz muitas lembranças à população, é o que chamamos de patrimônio imaterial. Também considerado patrimônio arquitetônico, histórico e cultural, o edifício encontra-se atualmente deteriorado pelo tempo, desgastado tanto por ações do homem, como pelo próprio meio ambiente. Para Castelnou Neto, (1992, p.265), “todas as obras arquitetônicas construídas pelo homem estão sujeitas ao desgaste contínuo e inevitável.”.
Segundo o professor Nestor Goulart (2005), o reconhecimento de Dubugrás na fase da arquitetura protomoderna, a qual antecede as formas e processos construtivos que serviam de base para os primeiros estágios do Movimento Moderno no Brasil, pode ser considerado um dos primeiros arquitetos protomodernos do Brasil, como um dos melhores exemplos de mudança no Brasil, da arquitetura clássica para a arquitetura moderna.
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O atual programa do Museu e Casa da Cultura não atende às necessidades básicas, devido à falta de estrutura e espaço adequado para suas funções. Sabendo que o patrimônio natural e cultural estão cada vez mais ameaçados de destruição, tanto pela degradação pelo próprio tempo, como também pela evolução da vida social e econômica, e seu desaparecimento constituiu um empobrecimento do patrimônio de todos os povos do mundo, busca-se a reciclagem de edifícios históricos
para fins culturais, atitude de conservação do patrimônio histórico, por meio de novos usos que viabilizam a conservação e sustentabilidade destes edifícios. Atualmente, o edifício encontra se localizado na Praça Manuel Antônio Dias s/n, a qual divide o espaço com o velório da cidade. Para realização do novo programa do Museu e Casa da Cultura, a proposta considera a demolição do velório municipal, a fim de atender as necessidades de ampliação do programa, assim como propor um melhor uso do edifício existente, desenvolvendo a sua importância para a cidade e sua população. Na concepção de Januzzi e Razente (2007), a revitalização urbana pode ser vista como uma nova postura de intervenção, buscando vitalidade para as áreas em questão, por meio de ações que envolvem questões econômicas, funcionais, sociais, e ambientais. Com base nesta análise, é proposto a revitalização do edifício, a partir dos parâmetros estabelecidos acima, com a ampliação do edifício e do programa, para que assim se possa ter o melhor aproveitamento do ambiente sem que cause danos e preservando elementos característicos da construção pré-existente. Assim, dada à importância histórica e cultural do edifício, e a falta de um programa adequado, é necessário um projeto de revitalização e intervenção. Para isso, o edifício
passará por um processo de reabilitação, a fim de trazer novo uso e eficiência, além da adequação para cadeirantes. Será criado também um anexo, a fim de complementar o programa atendendo suas necessidades como Museu e Casa da Cultura e Acervo de Arquivos Público. Castelnou Neto, (1992), afirma que a revitalização e intervenção são processos que influenciam a função do edifício, podendo ser feito de forma sensível, ou radical. Porém, o caráter histórico do edifício será mantido através das formas de conservação, reconstrução, e dependendo do caso, até restauros.
“O modelo de intervenção adotado procura dar uma nova vida às áreas das cidades através de um conjunto de ações que considera a situação do espaço existente e as relações humanas e econômicas que os envolvem. Estudos mostram que, nas revitalizações, houve um planejamento detalhado, consideração com o ambiente existente, respeito ao entorno, estudos de ocupação para uso misto, criação de agentes catalizadores e de uma boa imagem, gestão contínua e participação de várias esferas. É importante salientar que não existe uma regra geral para a realização de uma intervenção: cada situação exige um estudo apropriado, tendo em vista os fins que se pretende atingir.” (Januzzi e Razente, 2007, pg. 149) 13
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“A cultura é o conjunto de técnicas de produção, doutrinas e atos, transmissível pela convivência e o ensino, de geração em geração;” Câmara Cascudo 15
A ELFAE E A SUBESTAÇÃO DE JARDINÓPOLIS Com a inauguração da energia elétrica em 1899, surgiu também, no mesmo ano, a empresa de Força e Luz de Ribeirão Preto, fundada pelo engenheiro Rufino Augusto. Quatro anos mais tarde, a empresa passou para as mãos do engenheiro civil Flavio Uchoa, um dos maiores empreendedores da cidade. A partir de então, dá-se o surgimento da ELFAE – Empresa de Luz, Força, Água e Esgoto de Ribeirão Preto. A usina era modesta, localizada no centro da cidade e utilizava as pequenas corredeiras do córrego Ribeirão. Em 1909 foi criado o primeiro edifício para a ELFAE, pelo arquiteto francês, protomoderno, Victor Dubugras. A partir do primeiro edifício pronto, o arquiteto desenvolve o projeto para a subestação transformadora no ano de 1910. Nesta subestação, também foram executados as casas dos funcionários, depósitos e oficinas. Com a obtenção de novas concessões para fornecimento de energia na região, foram instaladas as subestações de Salles Oliveira, Jardinópolis, Bonfim Paulista, Guatapará, Sertãozinho e Cravinhos. Entendemos assim, a importância deste empreendimento, tendo a energia elétrica como um fator indispensável para as indústrias, economia e melhoramentos urbanos. As edificações de Jardinópolis, Cravinhos e Bonfim
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Paulista, seguem a planta original, com espaço para o maquinário e uma residência. Já as demais, possuíam apenas a edificação destinada ao maquinário. O projeto original tem seu programa dividido em dois blocos: atendimento – de um lado encontra-se a habitação, com entrada independente, pela lateral do edifício, e do outro lado a subestação, indicada na planta como pavimento único, mas com pé direito duplo. Porém quando construído, os edifícios apresentaram algumas alterações, como a criação do segundo pavimento na área destinada à subestação, o que exigiu aberturas também no pavimento inferior. Este projeto é o mais despojado entre os criados por Dubugras, com simplicidade nas soluções, resultado de um desenho que responde as necessidades funcionais, sem qualquer ornamento que desvie o edifício do caráter funcional. As subestações trilhos e caixas de os maquinários. A tesouras metálicas. assobradada, com
possuem laje abobadada, com cimento armado, onde se encontra cobertura foi feira com delgadas Há também um destaque na parte os pilares expondo a estrutura.
Foto: Antiga Subestação de Ribeirão Preto.
Foto: Subestação de Dumont, nos dias atuais.
Foto: Antiga Subestação de Sertãozinho.
“É também, de 1910 o projeto para os escritórios filiais da ELFAE, desenvolvido por Victor Dubugras. É muito provável que seja um projeto modelo para ser reproduzido nas cidades onde a Empresa atuava’ devem constituir uma identidade para a Empresa”. (Fantini de Lima, Rita 2000, pg.23).
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Interior da Antiga Subestação de energia, por volta de 1920. Foto: Os projetos de Victor Dubugras para a ELFAE, Fantini de Lima.
Interior da Antiga Subestação de energia, por volta de 1920. Foto: Os projetos de Victor Dubugras para a ELFAE, Fantini de Lima.
Escada Metálica da antiga subestação. Foto: Os projetos de Victor Dubugras para a ELFAE, Fantini de Lima.
Detalhe do forro. Foto: Gabriela Riul
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“A solução utilizada para destacar a distribuição do programa na planta, e as diferentes atividades ali exercidas, se da através dos telhados, onde a entrada e valorizada pela inversão do sentido das aguas, em relação aos outros blocos, inversão que cria um frontão aumentando a escala da entrada e servindo de fundo para o nome da empresa. Esta solução desaparece no projeto de Jardinópolis, onde o telhado do pavimento mais baixo segue ate encontrar a empena lateral da subestação, eliminando essa hierarquia que marcava o acesso principal”. (Fantini de Lima, Rita, 2000, pg. 28). 19
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A SUBESTAÇÃO DE JARDINÓPOLIS Implantado na cidade de Jardinópolis, o projeto modelo para subestação de energia, do arquiteto Victor Dubugras, sofreu alterações. É provável que estas alterações foram feitas durante sua construção devido as influencias de seu construtor, o italiano Francisco Mazzei. Esta mudança acabou sendo um fato importante, pois diferenciou o projeto dos demais construídos nas regiões vizinhas.
Com uma das construções que deu origem à cidade, se localiza no centro, em uma das avenidas de maior fluxo de pessoas e veículos, e voltada para a estação rodoviária municipal, nas proximidades do Córrego do Luciano, e de outras insitituições, como Escola, Igreja, Centro de Especialidades, Ambulatório e Centro Odontológico, além de residencias, grande área verde, e um centro de negocios imobiliários.
“A subestação de Jardinópolis possui as fachadas alteradas, seguindo uma linguagem neoclássica, possivelmente por interferência do construtor italiano Francisco Mazzei, responsável pela execução do projeto”. (Fantini de Lima, Rita , 2000 pg. 27) Mais tarde, o edifício sofreu mais algumas modificações: algumas paredes internas foram construídas, inclusive no pavimento superior, os caixilhos originais foram trocados, a escada metálica foi trocada por outra em alvenaria, e para isso, as janelas da fachada lateral direita precisaram ser fechadas. Essas mudanças, influenciaram diretamente na aparência do edifício. A subestação da ELFAE de Jardinópolis funcionou até 1980, sendo então desativada. Cinco anos mais tarde, o edifício passou a abrigar o Museu e Casa da Cultura.
Foto: Google Earth,2015. Localização do atual Museu e Casa da Cultura, em vermelho, próximo à Rodoviária Municipal.
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1915
1950
Antiga subestação, por volta de 1915. Foto: Grupo Acervo de Jardinópolis.
A antiga subestação após reforma, por volta de 1950. Foto: Grupo Acervo de Jardinópolis
Acima, podemos observar as mudanças no edifício decorridas com o tempo, e com a interferência do homem. A antiga subestação, construída por volta de 1910, pelo italiano Fernando Mazzei, passou a abrigar o Museu e Casa da Cultura da cidade, passando por algumas modificações, a fim de se adaptar melhor ao novo programa. Os caixilhos foram substituídos, janelas foram fechadas com alvenaria, o que influenciou diretamente na aparência física do antigo edifício projetado por Vitor Dubugrás. 22
2001
Foto:
Grupo
2015
Acervo
de
Jardinópolis.
Atual Fachada do Edifício. Foto: Gabriel Riul.
Foi criado uma praça à frente do edifício, a fim de se tornar um espaço de convívio e atrair a população da cidade para conhecer o Museu e Casa da Cultura, Com o tempo, a vegetação também passou a influenciar diretamente no edifício, escondendo sua fachada principal. Além disso, se tornou uma praça abandonada, devido sua proximidade com o velório municipal, causando uma incompatibilidade de programas, e desvalorizando esta construção tão importante para a cidade e a população de Jardinópolis. 23
À direita, a estação rodoviária municipal, localizada nas margens do córrego, e à frente do edifício da antiga subestação de energia. Foto: Grupo Acervo Jardinópolis.
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PLANTAS ORIGINAIS Fachada Oposta
Sala Jantar Fachada Lateral Esquerda
Cozinha
Copa
Bho Dormit贸rio
Maquin谩rio
Fachada Lateral Direita
Dormit贸rio
Planta Baixa T茅rreo Fachada Principal
Fachada LateralEsquerda Fachada Lateral Esquerda
Fachada Principal Fachada Principal
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PLANTAS ATUAIS
Planta Baixa Térreo
É evidente a diferença entre o projeto para o edifício da Antiga Subestação, de Victor Dubugras, com o edifício construído no município de Jardinópolis. Este apresenta características neoclássicas que se destacam pelos ornamentos, enquanto o outro, segue em um modelo mais racional. Planta Baixa Pavimento Superior
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Fachada Lateral Esquerda
Fachada Lateral Esquerda Fachada Lateral Edquerda
Fachada Lateral Fachada LateralDireita Direita
Fachada Lateral Direita
Fachada Oposta
Fachada Oposta Fachada Oposta
Fachada Principal FachadaPrincipal
Fachada Principal
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O antigo corrégo deu lugar à uma das principais Avenidas da cidade, a qual dá acesso ao Museu e Casa da Cultura. Foto: Google Earth, 2015.
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SITUAÇÃO ATUAL O edifício que, desde 1985, abriga o Museu e Casa da Cultura, encontra-se atualmente, em uma situação de descaso pelas autoridades do município, tanto pela degradação física do mesmo, quanto pelo programa que não atende suas necessidades básicas, e a expectativa da população. Os objetos doados e hoje expostos, não tem a devida valorização que merecem - não há um trabalho museográfico que os organize e os valorize. Não há reserva técnica, salas adequadas de exposição, depósitos apropriados, salas para procedimento com o acervo, salas para ações didáticas e culturais, ou mesmo um espaço para lazer, convivência das pessoas que frequentam ou passam pelo local.
Interior do Museu e Casa da Cultura. Foto: Gabriela Riul.
As imagens a seguir mostram alguns objetos que estão, hoje, em exposição no edifício. Pode-se notar tambmém, a disposição dos objetos de maneira inadequada. Não há luz apropriada, repartição por tipos de objetos, a maoria não tem possui identificação, nem informações. Assim, com o passar do tempo, os objetos se tornam obsoletos, devido sua deterioração.
Objetos expostos no Museu e Casa da Cultura. Foto: Grupo Acervo de Jardinópolis.
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É evidente a degradação por todo ambiente, rachaduras de pisos e paredes, telhas caindo, banheiros em péssimas condições de uso, pintura descascada, entre outros. O descaso com o Museu e Casa da Cultura, e o edifício em si, gera revolta à população, devido, tanto a necessidade de um espaço voltado para cultura e conhecimento, lazer – o qual é deficiente no município de Jardinópolis, como a importância do edifício para a história e cultura da população, além de ser um projeto modelo importante do arquiteto francês Vitor Dubugras.
Interior do edifício. Foto: Gabriela Riul.
O Museu e Casa da Cultura também não conta com funcionários capacitados no local, para fazer o trabalho com os objetos, ou mesmo acompanhar e instruir os visitantes. Uma sala do edifício foi destinada para abrigar o acervo de arquivos público. Nela, encontramos apenas uma mesa e cadeiras, alguns armários, e livros espalhados por todo o local. Não há um instrutor, computadores, catálogos, ou qualquer outro objeto de pesquisa que auxilie o usuário.
Eventos realizados no Museu e Casa da Cultura. Foto: Acervo Jardinópolis.
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Os
objetos
expostos
não
recebem
manutenção nem o tratamento adequado. A maioria não possui sequer identificação. Foto: Gabriela Riul.
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Interior do Museu e Casa da Cultura, banheiro e corredor. Fotos: Gabriela Riul. Nota-se a degradação e o descuido com os ambientes internos, o qual são usados pelos próprios funcionários. Não há banheiro para o público, nem qualquer tipo de acessibilidade.
Os pisos internos estão rachados e sem qualquer tipo de manutenção. Fotos: Gabriela Riul.
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Atual fachada do Museu e Casa da Cultura, 2015. Foto: Gabriela Riul.
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Atualmente, o edifício está situado próximo à instituições da área da saúde, (como o Centro de Especialidades e Centro Odontológico), à estação rodoviária municipal, e ao lado do velório municipal, e juntamente à Praça Dr. Carlos Portugal. Assim, sua localização encontra-se em uma área de grande fluxo de pessoas e veículos. O velório municipal, situado no mesmo lote do Museu e Casa da Cultura, ocasiona uma incompatibilidade de programas, em vista dos equipamentos em sua proximidade. A Praça situada à frente do Museu e Casa da Cultura, não possui um projeto de paisagismo adequado, interferindo visualmente e desvalorizando o edifício.
Foto: Gabriela Riul, 2015. Entrada principal do edifício que abriga o Museu e Casa da Cultura da cidade de Jardinópolis, SP.
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DEFINIÇÃO DE PATRIMÔNIO Falar de patrimônio cultural e tentar conceituá-lo pode ser mais complexo do que se imagina, tendo em vista que ao longo do tempo o conceito foi sendo modificado. Quando se analisa a genealogia do referido termo pode-se verificar que o mesmo se situou num dilema focado no contexto da memória e tradição, visando a formação da identidade e no objetivo básico que era o de obter a legitimação da nacionalidade. O Patrimônio Cultural de uma sociedade possui uma gama de artefatos que lhe representam, sendo que os objetos possuem durabilidade distinta, alguns imediatas, outros prolongados, alguns geram outros artefatos, como é o caso das ferramentas, outros ainda mudam o uso com o passar do tempo, podendo sofrer alterações. Para LEMOS, Carlos, (“O que é patrimônio histórico”, p.21) “nunca houve ao longo da história da humanidade critérios e interesses permanentes e abrangentes voltados à preservação de artefatos do povo, selecionados sob qualquer ótica que fosse”. Assim, preservaram-se artefatos da classe rica, bens diferenciados e que distorcem a memória coletiva, pois sendo excêntricos não possuem
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representatividade do cotidiano de um povo. A preocupação de se preservar a memória social iniciou apenas na segunda metade do século XIX. O IPHAN faz uso da definição dada a Patrimônio Cultural, pela UNESCO
“O patrimônio cultural não se restringe apenas a imóveis oficiais isolados, igrejas ou palácios, mas na sua concepção contemporânea se estende a imóveis particulares, trechos urbanos e até ambientes naturais de importância paisagística, passando por imagens, mobiliário, utensílios e outros bens móveis”. Ainda, para reflexão do que é Patrimônio Cultural, Carlos Lemos apresenta a subdivisão, sugerida pelo professor francês Hugues de Varine-Bohan (1935), em três grandes categorias de elementos: os pertencentes à natureza (a natureza como um todo), ao conhecimento (técnicas e saber) e ao grupo de bens culturais, este reúne “toda sorte de coisas, objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer” (LEMOS, Carlos. “ O que é Patrimônio Histórico” p.10). Em 1937, quando criado o SPHAN, Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, as discussões sobre os bens patrimoniais, tinham um olhar voltado para patrimônios edificados, no entanto,
é necessário incluir outros campos, como pinturas, musicas esculturas, cinemas, utensílios domésticos, entre outros, como materiais de arquivos e acervos. Surge então a discussão de patrimônio material, e patrimônio imaterial. Assim, quando se fala sobre patrimônio cultural, deve-se levar em conta o conjunto de tudo que tem significado para a cultura do povo, tudo aquilo que faz parte da construção histórica e cultural do ser humano e de um determinado espaço físico, pois ele funciona como chave de entrada para a compreensão de uma época, um momento da vida social, a relação com o passado e com a preservação, com a identidade que corresponde à expressão da forma de vida. Patrimônio Histórico não se resume apenas em cidades e monumentos importantes, mas reúne todo tipo de material que documente a memória e os costumes de uma época, de maneira que não se perca com o tempo, assim como acontece com tudo que não é registrado. O discurso de Carlos Lemos nos traz reflexões sobre o tema Patrimônio Histórico e sua preservação no Brasil, onde estudos e leis de preservação iniciaram tardiamente. Importante para o resgate da identidade cultural, o patrimônio cultural arquitetônico contribui para a qualidade de vida. No Brasil, o conceito de patrimônio arquitetônico,
reflete as ideias desenvolvidas no plano internacional, o qual teve suas primeiras iniciativas voltadas para o monumento isolado, seguido pelos núcleos urbanos, e hoje em dia, incluem um enorme conjunto de bens, os quais afirmam a diversidade das expressões que compõe a cultura de cada povo. Com o tempo, os patrimônios históricos foram destruídos, sendo alguns motivos: incentivos financeiros voltados para esses bens são escassos, a maioria de seus proprietários não possuem condições financeiras para manter essas edificações em condição desejável, ou mesmo não tem conhecimento das formas de uso dos patrimônios, assim, muitos acabam demolidos. O crescimento econômico também é outro fator contribuinte para a destruição desses patrimônios, já que, essas edificações eram vistas como entrave para especuladores imobiliários. Os patrimônios são considerados bens excepcionais, assim, faz-se necessário, sua preservação, e conservação, objetivando manter a memoria como fonte de reflexão histórica e a construção do espaço urbano, bem como a possibilidade de uso social desse patrimônio. Segundo a Carta de Veneza, 1964, “a conservação e restauração de monumentos constituem uma
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disciplina que reclama a colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudo e a salvaguarda do patrimônio monumental”. Quando nos referimos à preservação do patrimônio cultural (natural, edificado ou imaterial), remetemonos a um processo histórico seletivo de atribuição de valores às formas e às práticas culturais que engendram intervenções, decisões e escolhas balizadas por um projeto político que a estrutura social de cada tempo constrói. Na Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, aprovada pela Conferência Geral da UNESCO em 1972 em Paris, no artigo 24, há o incentivo do uso das mais novas técnicas quando é dito: “Uma assistência internacional de grande vulto somente poderá ser concebida após um pormenorizado estudo científico, econômico e técnico. Esse estudo deverá recorrer às mais avançadas técnicas de proteção, conservação, valorização e reabilitação do patrimônio cultural e natural”. A Carta europeia do Patrimônio Arquitetônico (1975) reafirma a vontade de promover uma política comum e uma ação concentrada de proteção do patrimônio, sendo estes alguns de seus princípios: • O testemunho do passado documentado
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pelo patrimônio arquitetônico constitui um ambiente essencial para o equilíbrio e o desenvolvimento cultural do homem; • O patrimônio arquitetônico constitui um capital espiritual, cultural, econômico e social de valor insubstituível; • A estrutura do conjunto de edifícios históricos favorece o equilíbrio harmônico das sociedades; • O patrimônio arquitetônico tem um valor educativo determinante; • A conservação integrada minimiza a destruição e requer meios jurídicos, administrativos, financeiros e técnicos; • A colaboração de todos é indispensável para o sucesso da obra de conservação integrada. Com a Constituição Federal de 1988, novas propostas deram esperanças em relação à preservação dos Patrimônios Culturais. O Estatuto da Cidade (Lei 10257/2001) declara o Plano Diretor instrumento obrigatório, garantindo que a cidade realize sua função social, e assim, proteção, preservação e recuperação do nosso patrimônio artístico, histórico, cultural. Segundo a Constituição de 1988, garante no artigo II, da Cultura, “Art. 216 1º - O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o
patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação”. “Preservar, diz o mestre Aurélio, é livrar de algum mal, manter livre de corrupção, perigo ou dano, conservar, livrar, defender e resguardar” (LEMOS, Carlos. p.24), segundo o autor, interessa ao âmbito do Patrimônio Cultural a aplicação de todas essas definições. Outro ponto essencial a ser discutido em todo o mundo acerca do patrimônio edificado diz respeito a sua acessibilidade. No Brasil o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, lançou a instrução normativa n°1 de 25 de novembro de 2003 que dispõe sobre a acessibilidade aos bens culturais imóveis acautelados em nível federal. Refletir sobre o patrimônio cultural, como uma expressão da cultura do próprio homem, tem importância significativa, na medida em que envolve a matéria como recurso de reconstrução histórica e a identidade, como forma de legitimação e reconhecimento do que se apresenta como patrimônio, o qual torna possível para o homem, conhecer e acreditar que o que ele vê, faz parte da memória da história. É pelo patrimônio, como memória social, que torna possível projetar as significações que delinearão e formarão as representações sociais de uma cidade, a qual se torna um símbolo irrefutável da existência do homem, onde é possível
descobrir o que ela contém, e o que esconde. A cidade é um local de memoria, bem como seu traçado, sua nomenclatura, os textos escritos sobre ele, suas obras arquitetônicas e urbanísticas, a cidade nos oferece um acervo cultural, uma memoria, representando um papel de construção social, capaz de minimizar as desigualdades e diferenças sociais, contribuindo para uma educação transformadora. Conclui-se assim, que patrimônios são todos os bens, materiais e imateriais, naturais ou construídos, que uma pessoa ou um povo possui ou consegue acumular. Patrimônio cultural é o conjunto de bens, de natureza material e/ou imaterial, que guarda em si referências à identidade, a ação e a memória dos diferentes grupos sociais. Torna-se então, necessário sua preservação. Cada indivíduo é parte de um todo – da sociedade e do ambiente onde vive – e constrói, com os demais, a história dessa sociedade, legando às gerações futuras, por meio dos produtos criados e das intervenções no ambiente, registros capazes de propiciar a compreensão da história humana pelas gerações futuras. A destruição dos bens herdados das gerações passadas acarreta o rompimento da corrente do conhecimento, levandonos a repetir incessantemente experiências já vividas.
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CONCEITO DE INTERVENÇÃO Todas as obras construídas pelo homem estão sujeitas a muitas transformações, ao desgaste continuo e inevitável, tanto pela ação do meio ambiente, como pelo seu próprio uso. Disso, resulta um desgaste físico, funcional e ate mesmo estético, causando a obsolescência física. Duas formas de intervenção arquitetônica são ocasionadas buscando sanar o mau estado de um edifício: a conservação e a reconstrução. A origem da preservação do patrimônio histórico surgiu de forma mais consolidada no contexto da era industrial, em resposta à destruição de edifícios ligados ao passado. As intervenções, praticamente, nascem em resposta aos problemas ligados à preservação desses bens edificados. Para Gomide, (2005), a proposta da intervenção compreende o conjunto de ações necessárias para caracterizar a intervenção, determinando as soluções, definindo usos e procedimentos de execução. As intervenções em suas variadas formas como a restauração, revitalização ou reabilitação são cada vez mais comuns na contemporaneidade, principalmente em edificações antigas (tombadas ou não pelo Patrimônio Histórico) que têm que se adequar às atuais normas de acessibilidade, prevenção contra incêndio, reforço estrutural ou a mudanças e atualizações de programa arquitetônico (MORAES e RIBEIRO, 2010). As metodologias de intervenção mais frequentes no 40
Brasil são a preservação, a reabilitação, a restauração, a reconstrução, a conservação, a reciclagem, a requalificação, a reutilização e a revitalização. A Instrução Normativa apresentada pelo IPHAN, em 2003, aponta algumas premissas: 1. As intervenções poderão ser promovidas através de modificações espaciais e estruturais; pela incorporação de dispositivos, sistemas e redes de informática; bem como pela utilização de ajudas técnicas e sinalizações específicas, de forma a assegurar a acessibilidade plena sempre que possível, devendo ser legíveis como adições do tempo presente, em harmonia com o conjunto. 2. Cada intervenção deve ser considerada como um caso específico, avaliando-se as possibilidades de adoção de soluções em acessibilidade frente às limitações inerentes à preservação do bem cultural imóvel em questão. 3. O limite para a adoção de soluções em acessibilidade decorrerá da avaliação sobre a possibilidade de comprometimento do valor testemunhal e da integridade estrutural resultante. A Carta de Atenas também apresenta diversas temáticas importantes ao salientar o pensamento sobre o manifesto das intervenções, realizadas dentro de áreas de grande relevância para história, como:
- O respeito às transformações ocorridas no decorrer do tempo e à autenticidade dos materiais originais. Exige, portanto, a distinção dos novos materiais aplicados à restauração e condena de consequência, qualquer tentativa de reconstrução, falseamento, ou imitação do aspecto primitivo; - A valorização de um bem histórico ou artístico equivale a habilitá-lo com as condições objetivas e ambientais que, ressaltem suas características e ótimo aproveitamento. A intervenção pode apresentar maior ou menor influencia arquitetônica no edifício, podendo ser dividida em três graus: - Radical, quando elementos intencionalmente contrastam com o existente, seja pelas intenções projetuais, tipos de material, cor, textura, etc. Equilibrado, quando se procura associar harmonicamente os acréscimos ou modificações do existente. Sutil, quando há respeito completo ao existente, tanto em função dos novos componentes como dos novos usos previstos, sendo difícil identificar o que foi reformulado.
“Compreende-se por Projeto de Intervenção no Patrimônio Edificado, doravante denominado Projeto, o conjunto de elementos necessários e suficientes para
execução das ações destinadas a prolongar o tempo de vida de uma determinada edificação ou conjunto de edificações, englobando os conceitos de restauração, manutenção, estabilização, reabilitação ou outras. Cada um destes conceitos corresponde a um tipo de intervenção, que depende principalmente, do estado de conservação do Bem.” (Gomide, 2005 – pg. 19). Assim, para o desenvolvimento adequado do projeto, deve-se ter conhecimento do processo e etapas necessárias, conforme levantamento físico, cadastral, sendo que o projeto deve ser elaborado conforme leis, códigos ou normas vigentes, como cita Gomide (2004), o projeto de intervenção em um patrimônio edificado, deve seguir as seguintes etapas, respectivamente: identificação e conhecimento do bem, diagnóstico, proposta de intervenção contendo estudo preliminar, projeto básico, projeto executivo. A intervenção arquitetônica não deve apenas atender às necessidades do presente, mas dar-se como momento da criação das possibilidades futuras. Dessa forma, se a concepção arquitetônica não pode de fato trabalhar com o passado tampouco deveria contentar-se com os prazeres limitados do presente, mas sonhar, mesmo que seja impossível, com um futuro que não deseja excessivamente determinar, mas apenas dar seu apoio livre e aberto.
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Para Castelnou Neto, A.M, o interesse de preservação do patrimônio histórico, dentro da arquitetura e urbanismo, busca a revalorização da história, constatação da importância do passado, despertar ecológico da sociedade. Além disso, a preservação, em termos econômicos, revela-se mais em conta do que uma demolição para a construção de um novo edifício, evitando desperdício material e esbanjamento energético.
42
CONCEITO DE REVITALIZAÇÃO Atualmente, a importância da preservação ganha novo foco, decorrente da necessária consciência de diminuirmos o impacto sobre o ambiente, provocado pela produção de bens. A preservação e o reuso de edifícios e objetos contribuem para a redução de energia e matéria-prima necessárias para a produção de novos. Conclui-se a importância da revitalização e intervenção, e seus processos, sabendo da importância de se manter um patrimônio, pois, como diz CHOAY, (2001, pg.212), “remete a valores do patrimônio que é preciso fazer reconhecer”. O termo revitalização remete a um conjunto de medidas que visam criar nova vitalidade, trazer nova eficiência a alguma coisa - em suma, reabilitar. É uma modificação maior ou menor, em sua forma arquitetônica. Este processo incide sobre um objeto previamente definido. Posteriormente, se faz necessário um estudo deste objeto, por meio de projetos coordenados pelas instituições responsáveis pela revitalização e financiamento. Sendo mais maleável que a restauração em relação ao passado histórico, a revitalização permite que novos elementos sejam acrescentados, podendo interferir parcial, ou totalmente em sua aparência estética. O processo de revitalização está ligado à produção
cultural das cidades, sendo importante fator da evolução urbana, atuando, por exemplo, na transformação dos núcleos urbanos em cidade-empresa-cultura, impulsionados pelo capital cultural, em meio a um planejamento estratégico voltado ao mercado. Segundo Choay (2001), o termo revitalizar significa garantir uma nova roupagem ao bem a ser trabalhado. No processo de revitalização, não há necessidade de se seguir critérios rigorosos como no caso da restauração. É a tentativa de romper com o passado ao instaurar elementos contemporâneos e atribuir outras funções ou intencionalidades ao bem patrimonial a ser revitalizado. Para
Castelnou
Neto,
(1992,
p.267)
“A revitalização consiste na reestruturação de um conjunto urbanístico ou obra arquitetônica, ou seja, na série de trabalhos que visam revitalizar - dar nova vida ou reabilitar - dar nova habilidade - a determinada obra que se encontra em deterioração ou mesmo desuso. Para tanto, permite-se reformular componentes – elementos constituintes -, associar novas funções e acrescentar intenções ao projeto, desde que se mantenha total ou parcialmente o caráter original.”
43
O processo de revitalização patrimonial se faz necessário como forma de manutenção dos edifícios históricos e também da memória individual, coletiva e urbana. Todavia, por ser o homem autor da produção do espaço, a construção deste é fortemente influenciada por interesses políticos, econômicos, históricos e sociais. Como enfatiza Choay (“A alegoria do Patrimônio”, 2001, p.139), ao se reportar a Ruskin de que “a arquitetura é o único meio que dispomos para conservar vivo um laço com o passado ao qual devemos nossa identidade, e que é parte do nosso ser”. Uma revitalização, feita para que a distribuição do espaço de uma edificação seja compatibilizada, com novas funções a serem destinadas, permitem uma economia em torno de 20% do valor total da obra, além do menor período de tempo de execução.
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ACERVO PÚBLICO MUNICIPAL Para o desenvolvimento de um acervo de arquivo público municipal, é necessário compreender a função deste. - Arquivo é todo documento acumulado por pessoas ou instituições, desenvolvidos ao longo de sua existência, ou funcionamento. Torna-se então, necessário, constituir e conservação os registros de ações e fatos, a titulo de prova e informações. - Municipal, refere-se aos órgãos que exercem os poderes executivo e legislativo. Nesta acepção, os documentos produzidos, recebidos e acumulados pela Prefeitura e Câmara dos Vereadores, são municipais. Então, arquivo municipal é a instituição responsável pelos conjuntos de documentos acumulados por órgãos dos poderes executivo e legislativo, no âmbito da administração municipal direta ou indireta. Arquivo público é o conjunto de documentos acumulados em decorrência das funções executivas, legislativas e judiciárias do poder público no âmbito federal, estadual e municipal, bem como o conjunto de documentos de entidades de direito privado, encarregados de serviços públicos. Arquivo privado é o conjunto de documentos acumulados em decorrência das atividades de pessoas físicas e jurídicas de direito privado, depositados ou não em instituições públicas.
Um edifício destinado a abrigar o arquivo publico municipal, qualquer que seja seu estilo arquitetônico, tem papel importante no espaço urbano, tanto como presença física, como elemento simbólico – ou seja, é necessário evidenciar que essa edificação abriga o acervo publico. Quanto (construído
às características do prédio ou adaptado, são importantes itens:
- portas e divisórias do tipo corta-fogo, - bombas de sucção (para prevenir danos por eventuais inundações), - piso de material resistente ao fogo, - aparelhagem de climatização, pelo menos nos depósitos de documentos, - elevador com capacidade para transportar grandes volumes de documentos (carga útil de 500 kg, no mínimo, e cabine de cerca de 1,50 x 1,50 m); - escadas de emergência isoladas por muro e/ou portas corta-fogo; - entrada e escoamento de água adequados, tendo em vista, inclusive, a instalação de laboratórios; - flexibilidade na distribuição interna de espaços, por meio de divisórias leves (materiais a prova de fogo); - rampas de acesso para idosos e deficientes físicos; - áreas franqueadas ao público; - impacto visual externo, de modo a permitir que a finalidade do prédio seja imediatamente identificada 45
por todos. As áreas de arquivo permanente, deve levar em consideração, que cada 170m² de armazenagem ou depósito, com estantes de 2,10 m de altura, equivalem a uma capacidade de estocagem de 1.000 metros, já incluídas as áreas de circulação. Um edifício ideal, precisa de: Áreas abertas ao público • Hall de entrada, incluindo espaços para recepção, protocolo e exposições; • Auditório; • Sala de consulta; • Cantina; • Sanitários; • Biblioteca e hemeroteca.
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Áreas não franqueadas ao público • Ambiente para recepção de documentos recolhidos; • Ambiente para desinfecção e/ou limpeza de documentos (estufa de etileno ou similar); • Salas de processamento técnico; • Depósitos para armazenagem de documentação textual e especial • Sala de reprografia; • Oficina de restauração e encadernação; • Gabinete do diretor e secretaria; • Sala de reunião; • Almoxarifado; • Copa • Sala de pesquisa; • Sanitários, banheiros ou vestiários; • Laboratório de fotografias; • Centro de processamento de dados; • Dependências para manutenção e climatização (casa de máquinas).
Assim, de acordo o Guia Nacional de Arquivos, sobre como criar um arquivo publico municipal, alguns aspectos devem ser levados em consideração: - as instalações de um arquivo publico municipal devem ser adequadas para oferecer serviços e atividades para o publico e ao desenvolvimento de trabalhos técnicos, tratamento organização, pesquisa, preservação e acesso aos documentos, além de trabalhos administrativos; - o prédio deve possuir áreas de deposito reservadas, com condições climáticas e de segurança adequadas, e acomodações para o publico e para os funcionários. Deve ficar em local de fácil acesso pelo público, porem distante de elementos que possam representar risco para a segurança ou preservação dos documentos, como usinas de energia, entrepostos de materiais inflamáveis e explosivos, refinarias de combustíveis, aeroportos, vias de tráfego intenso, instalações industriais poluidoras e locais sujeitos a inundações, umidade e fortes ventos, especialmente ventos salinos. - em caso de imóvel adaptado para ser o arquivo publico municipal, é importante ressaltar que as condições das instalações estão diretamente relacionadas a preservação do patrimônio documental, bem como ao bem estar e à segurança dos servidores e dos usuários da instituição. -deve-se observar atentamente o estado geral de conservação do edifício e o bom funcionamento de seus diversos componentes, como: estado de conservação
das instalações elétricas e hidráulica, impermeabilidade, grau de umidade presente nos ambientes, locais de maior incidência de insolação, chuva e vento, tipo e quantidade de fontes de iluminação, sistemas de proteção contra inundações, incêndio, furto e vandalismo. Além disso, deve contar com equipamentos e mobiliários adequados. Os documentos devem ser acondicionados em invólucros apropriados para assegurar sua preservação. Os documentos devem ser arquivados em estantes e armários de aço, com pintura sintética de efeito antiestático, facilitando o acesso seguro aos documentos, e protegendo contra danos físicos, químicos e mecânicos.
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MUSEUS Conceito de museu, e suas variações se deram ao longo do século XX e XXI. Com origem na Grécia antiga, o termo Museu denominava o templo das nove filhas de Zeus. Sua acepção atual, segundo Choay, remonta a revolução francesa, quando a partir da transformação da estrutura de poder, os bens que pertenciam à corte e ao clero, passaram a ser da Nação do povo, que foram transferidos para depósitos abertos ao público. Os primeiros museus do Brasil foram ligados a historia nacional, etnografia, etnologia, e arqueologia, a partir do século XIX, após a chegada da Família Real. O
ICOM
definiu
Museu,
em
1946,
como:
“Museu é um estabelecimento de caráter permanente, administrado para interesse geral, com a finalidade de conservar, estudar, valorizar, de diversas maneiras o conjunto de elementos de valor cultural: coleções de objetos artísticos, históricos, científicos e técnicos, jardins botânicos, zoológicos, e aquários.” Até os anos 70, afirma Arantes (1993, p. 244), “o museu era projetado com intenções didáticas”, mas, sobretudo a partir dos anos 1980, os museus, como poucos espaços contemporâneos, sofreram modificações radicais em seu aspecto formal e programático, a fim de atenderem à sociedade de consumo. Sua arquitetura assumiu novas formas, mais criativas,
48
e passou a dedicar uma considerável porcentagem de sua área a lojas, cafés e espaços de estar. Este novo modelo, mais contemporâneo que moderno, atende às demandas do consumo, distanciando-se da clássica definição de museu, pela qual afirma POMIAN, 1984, pg. 51,
“Todo museu é uma coleção: um conjunto de objetos naturais ou artificiais, desviados de suas finalidades originais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito de atividades econômicas, submetido a uma proteção especial e exposto ao olhar dentro de um lugar fechado destinado a este efeito.” Na década de 90, exista uma relação maior de museus e outras instituições culturais, com o mercado, tal como mecanismos de promoção, apoio e patrocínio cultural por entidades provadas, com criação de leis ao incentivo a cultura, criando a sustentação de politicas culturais e obrigando museus a logica do mercado através da implementação de estratégias de marketing face às exigências do consumo cultural. Muitas pessoas entendiam por museus, como depósitos de velharias. Com a ampliação do conceito de patrimônio, a partir do século XX, o aparecimento de tecnologias avançadas, a evolução dos estudos sobre museografias, a necessidade de expansão dos acervos e o novo papel do museu como atrator de recursos forçaram a uma revisão das premissas modernistas, causando um forte impacto
nos museus – além da conservação e exibição de acervos, estes passaram a ser vistos como estruturas dinâmicas, incorporadas ao cotidiano, estando voltadas para atender os anseios do seu publico de forma democrática e permitindo uma reflexão sobre os temas abordados. Assim, Museu
em foi
2001, a ampliada
definição de pelo ICOM:
“Instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde, e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para edição e deleite da sociedade. Além das instituições designadas como museus, se considerarão incluídas nesta definição: (...) os centros culturais e demais entidades que facilitem a conservação e a continuação e gestão de bens patrimoniais, materiais ou imateriais.” A frequência dos museus de arte aumenta conforme o nível de instrução/escolaridade de uma sociedade, ou seja, muitas pessoas entendiam por museus, como depósitos de velharias. Com a ampliação do conceito de patrimônio, a partir do século XX, o aparecimento de tecnologias avançadas, a evolução dos estudos sobre museografias, a necessidade de expansão dos acervos e o o acesso aos museus de arte não é dificultado por aspectos econômicos, pois existe um acesso democrático aos museus. As características inerentes ao contexto da arte
obrigam que os museus tenham a capacidade de integrar todos os potenciais visitantes, de forma a não excluir, ninguém a parte de sua formação ativa. Através de recursos estatísticos de Bourdieu e Darbel, verificam que quanto mais diversas as obras expostas num museu, mais diverso é o publico que o visita, sendo que parte desse publico o visita de forma casual, e não programada. É necessário levar em consideração, que pessoas que visitam os museus e exposições utilizam serviços disponíveis, como biblioteca, centro de documentação, reserva entre outros, frequentando as atividades realizadas ali, como concertos, palestras, cursos. Para a instalação necessário conter no
de um programa
museu, é arquitetônico:
• Espaço de recepção (bilheteria, local para acolhimento do público, ponto de venda de produtos, guarda volumes), • Sala de exposição de longa duração, • Sala de exposição de curta duração, • Reserva técnica, • Sala de administração (direção e secretaria), • Espaço para ações culturais e educativas, • Sala para procedimentos técnicos com o acervo, • Espaços de apoio, guarda de materiais e segurança, 49
• •
Espaços de serviços (depósito, copa, banheiros), Biblioteca e arquivo.
A exposição requer os mesmos cuidados aplicados para o armazenamento dos itens na reserva. A sala de exposição deve ser concebida quase como uma segunda reserva técnica, de uso temporário, já que nada adianta se conservar um acervo com todo o cuidado na reserva técnica, e em seguida transportá-lo para uma galeria onde enfrentará penosamente as oscilações do clima. Além de preservar, conservar, documentar e pesquisar o seu acervo, o museu tem a responsabilidade de desenvolver programas de exposições, e outras atividades. Faz parte dos programas educativos de muitos museus darem orientação ao público não só sobre o valor cultural dos acervos expostos, mas também sobre regras básicas de comportamento durante as visitas, o que usualmente inclui vários interditos, como a proibição de comer, beber, fumar, gritar, correr pelas salas, tocar nas peças, carregar sacolas, bolsas e objetos volumosos, fotografar, deixar crianças pequenas circularem desacompanhadas, etc. Essa regulamentação pode às vezes parecer rígida demais, mas se destina à proteção do acervo tanto como das pessoas que o vão conhecer. O acesso ao público deve ser o mais amplo e irrestrito possível, ou seja, universal, com um plano de acessibilidade que atenda crianças, idosos, gestantes, cadeirantes, 50
e
outros
indivíduos
com
necessidades
especiais.
É importante pensar sobre o que pretende alcançar com as exposições, incluindo as temporárias e as itinerantes. É necessário que leve em conta sua missão e sua filosofia em relação à pesquisa, gerenciamento de acervo, educação e acesso público, assim como a natureza do acervo. Contemporaneamente, o museu figura como um dos espaços que mais tem se transformado na arquitetura. Nele, o arquiteto pode ultrapassar o funcionalismo - o que seria mais difícil, no caso de um hospital ou uma sala de concertos – e criar volumes impensáveis. Estaliberdade imaginativa endossou cenários, rampas, mirantes, visões teatrais da própria obra e de seu entorno. Ao final do século 20, a definição de museu dada por Pomian cedeu lugar á um museu como cultura de massa, como um lugar de “mise-enscéne” espetacular e de exuberância operística.
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PROGRAMA PROPOSTO O programa aqui proposto, trata-se da adequação do edifício Museu e Casa da Cultura, e suas funções, como tal. Para isso, foi estudado programas de Museus e Acervo Público Municipal, a fim de atender suas necessidades, com espaços, e infraestrutura adequada.
Para a ampliação do programa do Museu e Casa da Cultura, é proposto um anexo, e para isso, o atual velório municipal será realocado em terrenos próximos do Cemitério Municipal de Jardinópolis, melhorando também, o percuso de um à outro.
O projeto não modificará a morfologia da cidade, mas conseguirá modificar as condições visuais e funcionais do espaço, e consequentemente, a percepção e o comportamento da população em relação ao edifício. O edifício passará por uma revitalização, trazendo nova habilidade, mas sempre mantendo suas características arquitetônicas e histórica. O novo projeto visa a funcionalidade e adequação ao interesse público, observando e estudando as possibilidades de uso, espaços externos de qualidade para os usuários, levando em conta a ventilação natural, conforto visual, acústico e iluminação exterior; aproveitamento máximo das condições locais, paisagismo e iluminação para a praça, valorizando o edifício.
Atual fachada do Museu e Casa da Cultura, 2015. Foto: Gabriela Riul.
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Comparação entre a antiga e nova planta do edifício. A escada de alvenaria foi demolida, assim como algumas paredes internas, o que deixa o ambiente mais flexível para as exposições. No setor administrativo, algumas paredes também sofreram modificações, a fim melhor a qualidade e espaço dos ambientes. Pavimento térreo - antes do projeto de revitalização. Copa Água
Administração Exposição
Depósito
Diretoria/Reunião
Pavimento térreo - após projeto de revitalização.
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Circulação horizontal Circulação vertical - caixa de escada e plataforma elevatória (acessos ao pavimento superior e subsolo) Exposições Administratativo Consulta e Pesquisa Café
Pavimento Térreo
Reserva técnica e documentos e objetos
acervo
Procedimentos técnicos e estufa Auditório
Pavimento Superior
Subsolo
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de
O edifício será divididoem dois lados: setor administrativo, com diretoria, depósito, copa e banheiros feminino e masculino; e exposições, o qual se repete no pavimento superior. As paredes internas, construídas no ambiente que abrigava o maquinário da antiga subestação demolidas, tornando mais flexível a sala de exposições, podendo assim, se ajustar conforme a necessidade do evento a ser realizado. A adequação das paredes novas no setor administrativo, também deixa o ambiente com espaços mais agradáveis e melhor aproveitamento.
e subsolo. No pavimento térreo, conta com sala de pesquisa e consulta do acervo, com computadores para auxuliar os usuário, e café, além de banheiros feminino e masculino universais, e espaço de convívio e eventos. O subsolo aproveita o abriga o auditório, que servirá para palestras, cursos, workshops; além da reserva técnica do acervo de documentos e objetos, com arquivos deslizantes para otimizar espaço.Também, a sala de procedimento técnico com o acervo, e estufa de limpeza.
As portas e janelas do edifício existente serão trocados por modelos mais próximos dos originais. O piso será trocado por assoalho de madeira. As paredes internas receberão pintura na cor branco. O forro será mantido, recebendo apenas manutenção. A circulação horizontal centralizada dá acesso diretamente ao anexo. A instalação de uma plataforma elevatória para cadeirantes e transporte de objetos, localizada juntamente com a escada, instalados no novo anexo - dá acesso tanto para o pavimento superior do edifício existente, quanto para o subsolo do anexo a ser construído. Estudo em perspectiva do novo projeto.
O novo anexo será composto pelo pavimento térreo 55
Aproveitando o desnível do terreno, o subsolo será instalado em um bumper de concreto impermeabilizado e semi enterrado, e se estende em um deck de madeira, aberto, servindo como espaço de convívio. No pavimento térreo, o anexo será construído com estrutura metálica independente. O fechamento, fica por conta de caixilhos móveis em alumínio com placas de vidro refletivos, integrando assim, o ambiente interno e externo, e aproveitando a iluminação natural. A sala de consulta e pesquisa, receberá maior incidencia solar no período vespertino. Como solução, será instalado placas metálicas móveis, que farão essa proteção quanto preciso.
Modelo de vidro refletivo. Fundação Cartier, Jean Nouvel. Foto: Google.
Entre o forro e a cobertura, há um plano que possibilita a circulação constante de ar, fazendo aproveitamento da ventilação natural. Para melhor climatização do ambiente, também foi usado para a cobertura, telha termoacústica metálica tipo sanduíche, com inclinação de mínima de 3%. O piso também será feito com assoalho de madeira, e cimento queimado para os banheiros, e sala de procedimentos técnicos. Modelo de plano entre forro e cobertura. Casa Nitsche, Barra do Sahy. Foto: Google.
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Elevação Principal 0
1
3
5
0
1
3
5
Como o intuito deste projeto, é valorizar o edifício existente, de valor cultura e histórico para a população, o anexo nunca ultrapassa o alinhamento deste, tanto vertical quanto horizontalmente.
Elevação Oposta
Corte BB
Corte AA
Corte CC
Corte CC
Pesquisa/Consulta
Café
Copa Água
Administração
0
1
3
5
Elevação Lateral Esquerda
Exposição
Depósito
Diretoria/Reunião
Corte DD
Corte DD
Corte AA
Corte BB
Planta Baixa térreo
Elevação Lateral Direita 0
1
3
5
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ESTUDOS EM PERSPECTIVA
58
59
60
61
IMPLANTAÇÃO Esc. 1:250
Cobertura Anexo - à construir Deck em madeira Cobertura Edifício - existente Grama Piso Calçada Asfalto Palmeira Imperial existente Ipê Roxo
PLANTA BAIXA PAVIMENTO TÉRREO Esc. 1:200
Corte BB
Corte AA
Corte CC
Corte CC
Pesquisa/Consulta
Café
Copa Água
Administração Exposição
Depósito
Diretoria/Reunião
Corte DD
Corte DD
Corte AA
Corte BB
PLANTA BAIXA PAVIMENTO SUPERIOR Esc. 1:200
Exposição
PLANTA BAIXA SUBSOLO Esc. 1:200
Auditório Procedimento técnico do acervo
Estufa de Limpeza
Acervo de Documentos e Objetos Reserva Técnica
Fachada Principal
Fachada Oposta
FACHADA PRINCIPAL Esc. 1:200
FACHADA OPOSTA Esc. 1:200
Fachada Lateral Esquerda
FACHADA LATERAL ESQUERDA Esc. 1:200
5
Fachada Lateral Direita
FACHADA LATERAL DIREITA Esc. 1:200
Corte AA
Corte BB
CORTE AA Esc. 1:200
CORTE BB Esc. 1:200
Corte CC
Corte DD
CORTE CC Esc. 1:200
CORTE DD Esc. 1:200
PROJETOS DE REFERÊNCIA RED BULL STATION Localizado em São Paulo, um edifício antigo da década de 20, ocupado por uma companhia de energia (antiga subestação Riachuelo), desativada desde 2004. Construído nos anos 20 e tombado desde 2002 pelo Conpresp, (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo). O projeto arquitetônico do Red Bull Station foi desenvolvido pela Triptyque. O espaço estava fechado há anos até a empresa multinacional escolhê-lo como ponto para um centro voltado à arte contemporânea e música – que abriga ateliês para residências artísticas, salas de exposição, e um estúdio de gravação, a difusão de novas formas de expressão artística que se misturam em tempo real num ambiente que permite a troca contínua entre artistas e as pessoas que estiverem por lá. O prédio passou por um processo de restauração, intervenção contemporânea, mas sempre conservando a essência e as características do patrimônio arquitetônico, a fim de se adaptar às novas funções. Com área total de aproximadamente 2.150m2, o espaço está dividido em cinco níveis: porão (subsolo), térreo, mezanino, piso superior e laje (cobertura). integrar todos os potenciais visitantes, de forma a não excluir, ninguém a parte de sua formação ativa.
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O porão abriga um espaço expositivo, camarin, lounge e área livre para ensaios. O estúdio de música (Red Bull Studio) fica no térreo, assim como o café, espaço expositivo principal e um longe. O mezanino é ocupado por escritórios e parte técnica. No andar superior estão os ateliês dos integrantes da residência artística e a Galeria Transitória – onde os artistas poderão testar seus trabalhos antes de descerem para a galeria principal – além de salas para workshops e palestras. A cobertura, com vista para a Praça da Bandeira, é uma grande área de convivência, protegida por uma marquise metálica (com a função de recolher a água da chuva para reuso). No pavimento térreo, esta localizada a galeria principal de um lado, uma sala monumental que recebe exposições e shows. Já do outro lado, estúdios de gravação de música envolvidos por uma forma de concreto armado, esculpida e lapidada.
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O edifício passou por processos de requalificação dos espaços internos, demolição de elementos não estruturais para adequação de programa de espaços expositivos em plantas livres, criação de novos espaços apoio (sanitários, copa, áreas técnicas) e trabalho (escritórios, ateliers de artistas) com novas divisórias em vidro e gesso acartonado, programa de estúdio musical abrigado dentro de novo volume de concreto no interior do edifício. As paredes existentes com pintura original foram tratadas com hidrojateamento e hidrofugante. Os espaços exteriores também passaram por requalificação, como a inserção de novos elementos metálicos para programa de área externa (bilheteria, café), criação de nova escada metálica engastada na estrutura existente para circulação do novo programa, criação de terraço sobre cobertura existente em steeldeck. Requalificação dos sistemas de instalações, energia e conforto ambiental: novo sistema hidráulico e elétrico para atendimento do novo programa, com criação de áreas técnicas em cisterna subterrânea existente. Nova cobertura metálica concebida a fim de possibilitar captação de água pluvial e futura instalação de painéis fotovoltaicos. Um elemento monumental contemporâneo foi criado para receber o visitante a partir do portão externo, acompanhá-lo durante seu percurso aos cinco níveis do edifício, além de se tornar também uma cobertura para a entrada principal do espaço. Na cobertura, há uma marquise metálica flutuante, a qual é chamada de folha – um terraço coberto, um espaço que permite a contemplação da cidade de São Paulo.
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MUSEU DO PÃO Restaurado, o Moinho Colognese - situado no centro de Ilópolis, RS - ganhou dois diminutos anexos destinados ao Museu do Pão (que, além do espaço museográfico, inclui uma oficina de panificação) e desenhados por Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, do escritório paulistano Brasil Arquitetura. A estrutura do museu - os pilares de concreto possuem capitéis de madeira formados por tripla mão francesa e inspirados na estrutura interna do galpão. São três os pilares projetados. Além deles, o pavilhão do museu apoia-se em duas empenas que ficam na porção posterior, junto ao auditório. A proximidade de uma das edificações novas com a rua possibilita uma grande integração entre a edificação e o espaço público, uma vez que o conjunto não apresenta elementos verticais demarcando os limites físicos do lote.
também pode ser identificada no tipo de restauração aplicada ao Moinho Colognese, que pretendeu manter as suas características originais. A partir da rua, o visitante acessa o espaço expositivo. Após passar pela pequena sala de exposição do acervo, o visitante pode acessar o pequeno auditório localizado na extremidade oposta em relação à entrada principal – e acessar a passarela em madeira que conduz à segunda edificação, à escola de panificação. A passarela ladeia a escola e acompanha o riacho, localizado no fundo do terreno. Após contornar a escola de panificação, a passarela se conecta ao moinho. Esta configuração permite que o visitante percorra o museu, sem que necessariamente percorra o interior da escola, o que permite a independência dos usos de cada edificação. A passarela também permite acessar o pátio aberto que faz interface com as edificações.
A permeabilidade e acessibilidade do conjunto são reforçadas pela separação física dos volumes – inclusive entre as duas novas edificações que se tocam apenas através das passarelas em madeira – esta separação dos volumes permite o funcionamento de cada edificação de forma independente, aspecto que pode remeter à distinção, diversificação e complementaridade do programa. As novas edificações orbitam ao redor do moinho. A relação de respeito ao preexistente
Na entrada da escola de panificação, estão localizados os blocos de sanitários. Dali é possível visualizar o espaço voltado para a oficina de panificação, um amplo salão com uma grande mesa central, cadeiras, bancada de apoio junto às janelas e equipamentos para lavagem, preparo e cocção dos alimentos. Desde o momento em que o visitante deixa a calçada e entra no museu até o fim do percurso, vai caminhar sempre no mesmo nível, apesar da declividade do terreno.
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O Museu do Pão é composto por dois grupos de programas que se complementam: programa cultural expositivo e de oficinas, sendo distribuído em uma pequena sala de exposição e em um auditório - com capacidade para 35 pessoas. Estes dois ambientes foram acomodados em uma das novas edificações. Na oficina de panificação, localizada na outra edificação, são oferecidas aulas e cursos profissionalizantes de panificação. Ali, o visitante pode ter contato direto com a fabricação do pão. A oficina de panificação é composta por cozinha escola, sala de aula, bloco de sanitários e depósito no subsolo. O bar e a bodega, localizados no moinho, complementam o programa. A complementaridade do programa pode ser entendida como uma estratégia para reforçar a diversidade e sustentabilidade das atividades, uma vez que oferece, além do programa expositivo, um programa social – as oficinas – que buscam atrair e qualificar o público visitante e a comunidade em geral.
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Planta baixa 1 – volume expositivo, 2 – oficina de panificação, 3 - bodega, 4 – moinho .
Croquis MACH Arquitetura
Elevação Sudoeste
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MUSEU RODIN Como os pouco mais de 1,5 mil metros quadrados da casa eram insuficientes para abrigar o programa do museu, foi proposto um novo volume, com área edificada semelhante. É na relação entre os dois que reside o interesse do desenho de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. Os autores, que também realizaram o projeto de restauração do palacete, implantaram o anexo de forma quase simétrica à construção existente, levando em conta um corte transversal no meio do lote. Assim, a projeção que ambos ocupam no terreno é quase a mesma. Reforçou-se a fachada lateral leste como elemento principal de cada volume. Essa opção, além de potencializar a leitura da construção existente, criou espaço externo para a exposição de peças de bronze de Rodin e conservou a massa arbórea. Apesar das áreas equivalentes, a nova construção, tem menos da metade da altura da antiga. Esta foi elevada à condição de protagonista - mesmo porque abrigará a parte mais nobre do acervo, as peças de gesso originais do escultor. Por outro lado, o pavilhão, de contida expressão formal, tem flexibilidade para abrigar exposições temporárias, ficando com o papel de estimular a freqüência de visitantes. Esse caráter de co-protagonista que assume é um dos elementos a criar, entre as edificações, um diálogo revelado também pela forma e pelo método construtivo, que “expressam uma técnica e um modo de construir e de usufruir do espaço”, relatam os autores.
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Enquanto foram apaziguados os tons do ecletismo, com a pintura externa branca, o anexo é de concreto aparente. Uma passarela, na cota do térreo elevado do palacete, liga as duas construções. Ela permite que se chegue ao mezanino do anexo através da circulação vertical, composta também por elevador, implantado no volume existente. Na face externa, a torre de circulação é o único elemento de intervenção no antigo imóvel. Ela está encaixada na porção posterior, no “centro geométrico do terreno”, formando quase um amálgama entre as edificações. Internamente, os arquitetos integraram diversos ambientes - após intensa negociação com os órgãos de tombo -, para adequação ao novo uso. O sótão, antes não utilizado, foi transformado para abrigar um pequeno auditório. Elemento externo mais forte da intervenção, a passarela possui também outra função: permitirá diferentes vistas da Porta do inferno, uma das mais famosas obras de Rodin, para a qual foi reservado um espaço entre os dois edifícios, na lateral oposta ao pátio. O interior do pavilhão é formado por um espaço expositivo divisível em três ou mais ambientes, conforme a necessidade do curador.
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MUSEU E ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO O Arquivo Público Mineiro – APM – é a mais antiga instituição cultural de Minas Gerais. Criado em Ouro Preto, em 1895, atualmente está instalado na Avenida João Pinheiro, em antiga casa construída em 1897 para servir de residência ao secretário das Finanças pela Comissão Construtora da Nova Capital. A partir de 1910, a casa foi destinada às repartições da Prefeitura Municipal, abandonando sua função residencial de origem. Em 1938, a Prefeitura deixou o local, que passou a servir de sede ao APM. O projeto concebido para o Café do Museu Mineiro e Arquivo Público Mineiro parte da análise criteriosa do espaço existente entre as duas edificações, importantes exemplares arquitetônicos. A inserção do café é um fator significativo na revitalização do Museu e do Arquivo Público, pois proporciona um espaço de encontro e troca de informações entre as duas instituições, além de ser um atrativo público. A implantação do café como um desdobramento do terreno, semi-enterrado, de modo que sua participação na composição, embora respeitosa, marque a contemporaneidade da intervenção, respeitando a área livre entre as duas edificações. Assim, foi criado uma laje protendida do café, uma grande praça gramada, valorizando as visadas dos dois edifícios pela ordenação proporcionada.
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A partir do café, através de um grande corte circular na laje, são reforçadas as relações visuais e espaciais com as edificações existentes. Além disso, a cota de nível da praça gramada e dos passeios do seu entorno na mesma cota dos pavimentos térreos do Arquivo Público e da S uperintendência de Museus e da varanda do Museu Mineiro, proporciona melhores condições de circulação entre as edificações. O piso do café é acessado sem desníveis, diretamente da Av. João Pinheiro. Por essa mesma entrada acessase a futura sala multiuso do Museu Mineiro. Os demais espaços, como a praça gramada e os pavimentos térreos da Superintendência de Museus e do Arquivo Público, são acessados pela escada externa ou pelo elevador e escada do bloco de circulação vertical. Este bloco de circulação vertical assume destaque na intervenção, como elemento arquitetônico e gráfico, cumprindo papel na complementação do perímetro edificado compondo um conjunto harmonioso de diferentes épocas em torno de uma praça.
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Implantação Café 82
Implantação Praça
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REFERÊNCIAS DE MATERIAIS ‘O projeto de dmvA architecten, Hlc.r architect para o antigo prédio, o tornou moderno, com inquietude e transgressão, atemporais, devido aos materiais que foram utilizados. A fachada de vidro, integra o ambiente interno e externo.
Stedelijik Museum
O Mercado de Roterdã, é um lugar histórico, rodeado por um edifício comercial em forma de arco. Seu interior colorido e sua altura torna o projeto único, Além disso, o projeto também conta com grandes fachadas de vidro para o exterior.’
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Mercado de Roterdã - MVRDV
A Fundação Cartier, abriga arte contemporânea e exposições de grafite. A fachada em vidro refletivo cria uma abertura que convida as pessoas a experimentar o edificio, admirando a estrutura e a natureza que caracterizam o prédio.
Fundação Cartier - Jean Nouveal
O projeto da casa de Nitsche buscou soluções ideias para diminuir custo com equipamentos climatizadores, aproveitando a ventilação natural, com um plano entre o forro e a cobertura, onde o ar circula constantemente, também utilizou cobertura termoacústicas de alumínio, e para o fechamento, caixilhos em alumínio com grandes placas de vidro com abertura de ambos os lados. Casa Barra do Sahy - Nitsche
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REFERÊNCIAS ANTONIO MANOEL N. CASTELNOU, NETO. A intervenção arquitetônica em obras existentes. Semina: Ci. Exatas/Tecnol. Londrina. V 13, n.4, p. 256-268, dez. 1992. BARBINO, F.; RAMALHETE, F.. A praça: intervenções contemporâneas em espaços de património. Revista Brasileira de Gestão Urbana, vol. 4, núm. 2, julio-diciembre, 2012, pp. 233-244, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo. oa?id=193124832006> Acesso em 20 de setembro de 2014. CARTA DE VENEZA, 1964 CARTA PATRIMONIAL - RECOMENDAÇÃO DE PARIS – PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO MUNDIAL, CULTURAL E NATURAL, 1972. CARTA DO RESTAURO, 1972. CASTRIOTA, Leonardo Baci. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Anna CHOAY, F. A Alegoria do Patrimônio. Tradução por Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação da Liberdade: Editora UNESP.
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Centro Universitรกrio Moura Lacerda Ribeirรฃo Preto 2015