Revista Sustentai

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S REVISTA

USTENTAI Turismo Sustentável

Prática voltada para aventura e educação ecológica ao ar livre.

Alimentos Orgânicos

Segmento alimentar ganha espaço no mercado e nas mesas dos brasileiros.

Extinção

de áreas verdes

Busca por melhora do trânsito diminui espaços de convívio social.

Fitoterapia

EDIÇÃO 01 2016

Foto: Reprodução

Dos chazinhos da vovó até a medicina alternativa.


REVISTA


Foto: Reprodução

Vire as páginas negras de sua vida.

Sustentai 4

Sustentai

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SUMÁRIO TÁ CALOR PRA CACHORRO A bicharada também sofre com o tempo quente e baixa umidade.

ÁREAS VERDES

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Algumas pessoas tem histórias de vida ligadas à parques e bosques.

:ENTREVISTA: Hudson Costa

MEDICINA ALTERNATIVA

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Fitoterapia: a cura está no que a natureza proporciona.

AMBIENTALISMO OU TRÂNSITO MELHOR?

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Áreas verdes são eliminadas para facilitar tráfego urbano.

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- 10 ORGÂNICOS Os alimentos que estão conquistando o estômango e o mundo dos outros.

- 44 O BRILHO DAS PEDRAS DE UM RIO O rio das pedras de Itaberaí - GO não está tão saldável assim.

TURISMO SUSTENTÁVEL Passeios que contribuem para o planeta.

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- 56 EQUOTERAPIA Terapia utiliza cavalos para auxiliar na reabilitação de pessoas.

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OPINIÃO

expediente PUC GOIÁS ESCOLA DE COMUNICAÇÃO

EDITORIAL Papel

reciclado

JORNALISMO DIRETORA DE JORNALISMO

Luciana Serenini

EDITOR-CHEFE E DIAGRAMADOR

André Cardoso Nascimento (Landre) EDITORAS DE TEXTO

Aline Costa Bezerra Geisiane Teixeira

EDITORA DE IMAGEM E DIAGRAMAÇÃO

Gabriela Rosália

CAPA E SUMÁRIO

André Cardoso Nascimento (Landre) Aline Costa Bezerra REPORTAGEM

Aline Costa Bezerra André Cardoso Nascimento (Landre) Anna Marins Bernardete Borges de Freitas Brunna Faria Caio Santos Carolline Oliveira Douglas Borges Eduardo Maidana Fernanda Meireles Gabriel Valle Geisiane Teixeira Guilheme David Jamily Viana Jaqueline Ferreira Larissa Carvalho Laura Weiller Marília Dourado Nayane Ferreira Raema (Mel Castro) Renato Campos Simone Faria Thiago Lucas Verônica Motter Victtor Baliza Walacy Neto Wesley Cassimiro

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O desafio de se falar sobre Ciência e Meio Ambiente no século XXI é gigantesco, eventos como o que reuniu líderes de todo o mundo em torno destas questões são a prova realística do fato. A vigésima primeira Conferência do Clima realizada em dezembro de 2015, em Paris, apresentou como tema principal a difícil tarefa de realizar um acordo entre os países visando a diminuição de gases de efeito estufa, na intenção de diminuir o aquecimento global. Alguém ainda duvida que estejamos sofrendo os resultados das mudanças climáticas na própria pele? Em Goiás, novamente tivemos um dos anos mais quentes das últimas décadas, notícias sobre o acontecimento, e as suas implicações, bombardearam a mídia incisivamente. Só este fato já seria mais que suficiente para justificar o desafio de levantar temas próximos à comunidade goiana, e apurar de forma investigativa e humana por meio do jornalismo científico e ambiental. E foi este nosso propósito! Ao refletir a função e atuação do jornalismo como forma de aproximar tais temas da sociedade, visando a transparência e também a produção de conhecimento aos alunos de forma prática dentro do tema proposto. Ciência e meio ambiente são temas que se aproximam e que se mesclam em muitos momentos. Neste contexto, a Sustentai apresenta em sua perspectiva editorial a tentativa de falar de forma simples sobre assuntos que estão cada vez mais na pauta de quem busca maior qualidade de vida para si e para o próximo. Ao abordarmos temáticas sobre recursos hídricos, produção e consumo de alimentos orgânicos, conservação do solo, arquitetura da cidade na construção e conservação das áreas verdes, benefícios científicos da interação entre homens e animais e, por fim, de um possível crescimento da produção de energia mais limpa, como a fotovoltaica, entre outros assuntos dentro da perspectiva da sustentabilidade, estamos procurando um caminho de reflexão voltado ao interesse de uma sociedade com maior responsabilidade social. Aproveite a leitura, mergulhe num mundo onde ciência e preservação do meio ambiente com práticas voltadas para sustentabilidade são ferramentas que podem oferecer a possibilidade de trilharmos um caminho mais humano!

CARTA DO LEITOR “Uma revista voltada para o meio ambiente causa uma mudança de mentalidade, porque de matéria por matéria, de grão em grão é que vamos mudar o futuro. É um assunto muito em pauta e que mostra a força que tem no cenário político global. Sendo digital completa toda contemporaneidade da coisa, pelo alcance que ela tem.” Thiago Carlos de Brito, 30 anos, Funcionário Público.

“Dentre os produtos jornalísticos, as revistas têm, além de informar, a vocação de entreter e educar. Por isso é tão importante a existência de publicações como a Sustentai. E ela surge em momento muito propício: jamais se falou tanto sobre meio ambiente e nunca foi tão imprescindível se preocupar com o meio ambiente. Vida longa à Sustentai!” Sálvio Juliano Peixot Farias, 44 anos, Professor Mestre da Universidade Federal de Goiás. “Toda revista que envolve o tema "Natureza" é sempre de suma importância.

Gostei muito dos temas abordados pela revista Sustentai. Informando seus leitores sobre temas da atualidade, saúde e principalmente da sustentabilidade. Algum tempo atrás já se falavam em aquecimento global e depreciação de nossa natureza, mas um assunto não tão expressivo quanto de alguns anos até os dias atuais. E a revista engloba exatamente esses assuntos. Antigamente não se falava com tanta frequência sobre racionamentos de energia e água, aumento dos itens alimentícios e principalmente de nossas reservas ambientais e represas. Enfim, uma revista informativa e muito importante para a sociedade num todo. Parabéns a toda equipe jornalística.” Demétrius Luiz de Souza Barbosa, 36 anos, Técnico em Informática na PUC Goiás. 9


OPINIÃO

engenheiro.

Foto: Simone Faria

:ENTREVISTA: Hudson Costa,

Confira a reportagem sobre energia limpa, no link: https://www.youtube.com/watch?v=m3ZWPqUqfuE

Especialista fala sobre implantação de energia solar.

S

ócio do Grupo FCR, o engenheiro goiano Hudson Costa destaca o apoio do Governo Federal e algumas dificuldades burocráticas ainda enfrentadas no projeto de implementação de usinas de energia fotovoltaicas. Com uma perspectiva de começar os testes no segundo semestre do próximo ano, o epecialista conta que o clima de Goiás é privilegiado, quando o assunto é energia fotovoltaica. Mesmo com um custo elevado, por conta dos equipamentos importados, Hudson acredita que em três ou quatro anos, essa alternativa chegue a patamares suficientes para competir com outras fontes de energia. Sustentai (S) - Estamos em um momento que se fala muito em sustentabilidade, preservação, em reduzir os impactos no meio ambiente. Isso os motivou nesse projeto ou facilitou a conseguí-lo? Hudson (H) - As duas coisas. É um momento de buscar viver melhor, e veio essa oportunidade e participamos do leilão que houve a participação de doze mil projetos no leilão eletrônico, que durou 8h - um recorde nacional). É claro que as fontes de energias convencionais são muito potentes, isso é real hoje, mas até quando? Meu sócio viajou há pouco para a Europa, visitou um de nossos fornecedores e as inovações nesse campo são cada vez mais surpreendentes.

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Por: Caio Santos Simone Faria

S - Existe incentivo por parte dos órgãos federais? Como funciona na prática? H - O governo Federal tem incentivado de várias formas. Inicialmente na realização dos leilões, fica evidente essa preocupação, nesse sentido, ao disponibilizar matrizes energéticas sustentáveis (existe hoje uma expectativa de dois leilões por ano). Temos também isenção da taxa de importação para todos os equipamentos e tudo que estiver relacionado a energia renovável. O Governo de Goiás, através da Agência de Fomento, já tem disponível vários incentivos para empresários nesse setor. S – Por ser algo relativamente novo por aqui, existem dificuldades? H - Infelizmente temos muita burocracia. São muitas pessoas envolvidas no processo, que não entendem ou não sabem o que precisa ser feito para agilizar. Falta especialização. Na área ambiental, ainda deixa a desejar. S - Como é a relação com a Companhia Elétrica de Goiás (Celg)? H- Fomos muito bem recebidos. Acredito que eles nos veem com bons olhos. Estão atravessando um momento complicado, existe especulação sobre uma privatização. Mas independentemente, acredito que essa relação será sempre positiva. A intenção é acrescentar.

Hudson Costa, engenheiro.

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OPINIÃO

Sustentai (S) Qual a diferença entre energia fotovoltaica e as demais energias solares?

propriedades rurais formadas por sistemas elétricos dispersos.

Existem, basicamente, dois usos dos raios solares como fonte de energia: o térmico e o elétrico. O primeiro pode ser feito de forma passiva, através de técnicas modernas de arquitetura e construção que permitem maior iluminação natural aos ambientes, ou com o auxílio de coletores ou concentradores solares – nestes casos, porém, a função da energia gerada é basicamente aquecer a água. Já a conversão da energia solar em elétrica pode ocorrer por processo termoelétrico ou fotoelétrico. O termoelétrico é conseguido através da junção de dois materiais semicondutores que, quando aquecidos pelo sol, provocam uma diferença de potencial entre as extremidades. Assim, gera corrente elétrica; mas seu rendimento é baixo e o custo do material, muito elevado, o que inviabiliza o uso comercial. O processo fotoelétrico, por sua vez, converte os fótons contidos na luz solar em energia elétrica, através do uso dos painéis fotovoltaicos, formados por células solares.

Posso instalar um sistema solar em minha casa para economizar energia?

Quais as vantagens econômicas da energia fotovoltaica? À parte do investimento inicial, com compra e instalação do equipamento, a energia elétrica gerada pelo sistema fotovoltaico não tem outros custos, dado que os painéis demandam pouca manutenção. Com a evolução tecnológica, o prazo de retorno deste investimento inicial está cada vez menor. Além disso, tal energia é autossuficiente e, portanto, mais segura em termos de abastecimento, principalmente para os consumidores corporativos, para quem a falta de energia pode significar perdas de produção. A energia fotovoltaica também é a solução mais barata para a eletrificação de grandes 12

Pergunta Frequentes

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Sistemas fotovoltaicos são utilizados em residências como forma de economia de energia quando há legislação regulamentando quanto a venda do excedente gerado para a rede elétrica, o que é convertido em créditos para uso próprio. No Brasil, a ANEEL aprovou a regulamentação intitulada resolução normativa que permite a conexão de um sistema residencial e viabiliza o investimento através do sistema de compensação energético. Portanto, hoje já é permitido e viável a instalação de um sistema fotovoltaico residencial. Posso instalar um sistema solar fotovoltaico em minha empresa? Nos dias de hoje, a busca por iniciativas ecológicas e sustentáveis por parte das empresas é grande. Como a tecnologia é relativamente nova no Brasil e a popularização no futuro é inevitável, a instalação hoje de um sistema solar. Através da Agência de Formento o Governo de Goiás traz incentivos para esse setor. É possível tornar-se completamente independente da rede elétrica utilizando energia solar? Para se tornar independente da rede elétrica, é necessário um sistema autônomo, onde o armazenamento da energia é feito por baterias. Esse tipo de sistema é recomendado para locais onde não há rede elétrica, como fazendas e zonas . Em zonas urbanas, a viabilidade financeira indica um sistema conectado a rede remotas.

sobre

Energia Solar

Quais as vantagens ambientais da energia fotovoltaica?

O ideal é que se faça o projeto e o desenvolva com o acompanhamento de um engenheiro capacitado.

A interação entre o silício e a luz solar, que gera a energia fotovoltaica, não produz resíduos. Por isso, ela é considerada uma fonte de energia limpa ou ecológica. Além disso, a radiação solar é abundante e inesgotável, com grande potencial de utilização, enquanto o silício, principal semicondutor utilizado nos painéis fotovoltaicos, é o segundo elemento mais encontrado na superfície terrestre. Ou seja: é uma solução energética sustentável.

Com energia solar fotovoltaica, é possível utilizar todos os aparelhos elétricos comuns?

Quais as desvantagens da energia fotovoltaica?

No sistema fotovoltaico, a energia elétrica não é gerada a partir de movimentos mecânicos. É a interação entre o silício cristalino e a luz solar que gera a liberação de elétrons para a corrente elétrica, e este processo é silencioso.

Atualmente, o custo para se montar um sistema fotovoltaico é maior que o de um convencional. Mesmo assim, é um investimento que se paga no médio prazo, já que não há conta mensal de luz. Além disso, a durabilidade dos materiais (de 15 a 30 anos) vale o investimento. Outra boa notícia é que, com o desenvolvimento e a disseminação da tecnologia, os custos têm caído ano a ano. O que é preciso para a instalação de painéis fotovoltaicos? Para maior eficiência do sistema, os painéis fotovoltaicos devem ser instalados em posição e altura determinadas de acordo com a localização da construção. Além disso, é necessário calcular a quantidade de energia demandada e a radiação solar recebida a fim de definir o modelo e o tamanho dos painéis. A instalação requer, ainda, inversores (para transformar a corrente elétrica direta em alternada) e baterias (no caso dos sistemas off-grid, em que é preciso armazenar a energia gerada ao longo do dia).

Sim, a energia solar fotovoltaica tem os mesmos usos que a energia elétrica convencional. No entanto, é necessário um projeto de instalação de painéis condizente com a demanda e a finalidade de consumo. Ter uma “usina” fotovoltaica no telhado de casa é barulhento?

A transformação da luz do sol em energia elétrica deixa resíduos? Não. Por isto, a energia solar fotovoltaica é considerada uma energia limpa. Se a obtenção de energia fotovoltaica depende do sol, há o risco de apagão nos dias nublados? E à noite? A eficiência do sistema solar fotovoltaico depende, sim, da quantidade de luz recebida. Porém, mesmo em dias nublados há radiação mais do que suficiente para a geração de energia. Além disso, em localidades com condições climáticas piores, o sistema pode ser potencializado aumentando-se a superfície de contato (com painéis fotovoltaicos maiores). No Brasil, todas as regiões apresentam ótimas condições climáticas. Como a energia produzida durante o dia 13


OPINIÃO telecomunicações e outros. O projeto federal Luz Para Todos, que visa levar energia elétrica para comunidades isoladas e carentes, também faz amplo uso da energia fotovoltaica. No entanto, os sistemas fotovoltaicos on-grid ainda são uma grande novidade. Um dos principais obstáculos têm sido o custo de compra e instalação dos painéis que já está sendo ultrapassado graças ao avanço da tecnologia, que tem reduzido o custo e aumentado a eficiência dos painéis fotovoltaicos. Recentemente houve tambem uma isenção sobre a taxa de importação desses equipamentos. E outra boa noticia no setor é que a ANEEL aprovou a resolução normativa que permite ao consumidores em baixa tensão, seja residencial, comercial, industrial, ou rural, o investimento em um sistema fotovoltaico que seja capaz de suprir parte ou toda sua demanda por energia elétrica. O retorno financeiro sobre esse tipo de sistema vem através da economia na conta de luz que é diretamente relacionada ao percentual de energia gerado pelo consumidor. As oportunidades de iniciação de frentes de negócios na indústria fotovoltaica brasileira são diversas e estão abertas a todos aqueles que desejam começar uma atividade na área de energias renováveis. A tecnologia fotovoltaica está representada por uma indústria em franco crescimento global e a utilização de sistemas fotovoltaicos esta se tornando predominante em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Isso acontece, pois as fontes de energia suja estão cada vez mais restritas e, com o crescimento das economias emergentes, a tecnologia fotovoltaica surge como excelente alternativa de expansão da capacidade de geração de energia elétrica.

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fica armazenada em baterias, o abastecimento de energia é garantido também durante a noite. A energia do sol é renovável, mas o silício não pode acabar? O silício, principal matéria-prima utilizada na fabricação de painéis fotovoltaicos, é o segundo elemento químico mais abundante na Terra, atrás somente do oxigênio. O que são sistemas fotovoltaicos off-grid e on-grid? O sistema solar fotovoltaico chamado off-grid é aquele que não está conectado à rede elétrica convencional. Pode abastecer locais remotos, como propriedades rurais e embarcações, e equipamentos isolados, como radares de autoestradas. Atualmente, é o mais utilizado no Brasil. Já o on-grid é o sistema solar fotovoltaico conectado à rede elétrica. Ele pode abastecer edificações completas ou apenas algumas de suas instalações – por exemplo, câmeras domésticas de segurança. Em muitos países onde o sistema on-grid é amplamente utilizado, como Alemanha e Espanha, é possível que o proprietário venda o excedente da eletricidade produzida por seu sistema fotovoltaico para a concessionária de energia, o que gera ainda mais economia. Qual é a situação atual da energia fotovoltaica no Brasil? No Brasil, o potencial de energia fotovoltaica é imenso, dados seus altos índices de radiação solar. Atualmente, os governos e as concessionárias de serviços públicos São os principais investidores, utilizando painéis fotovoltaicos em sinalização e fiscalização rodoviárias, iluminação pública,

Foto: Reprodução Fontes: Sistema Educacional de Energia solar Grupo FCR Agência Formento de Goiás

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CIDADE-ESTADO Fotos: André Cardoso (Landre)

PARQUES, CONCRETOS, BOSQUES A vida às vezes é ligada a algum verde. Onde histórias perpassam bosques e parques de uma cidade. Por: André Cardoso Nascimento (Landre)

Gabriela Dutra, 30 anos, jornalista, de Goiânia - GO. Se exercita, medita e relembra momentos especiais, no parque flamboyant. 16

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ela estrada a fora, vais bem sozinha, levando doces lembranças da mamãezinha. Tal frase clássica-clichê (adaptada) do canto do conto da Chapeuzinho Vermelho representa a história de Gabriela e o Parque Flamboyant. Os últimos dias de vida de dona Lisberte foram junto da menina e do mascote Joaquim, “o schnauzer sisudo e antissocial”. Foram os derradeiros, porém recheados dias de emoções. Eram risos e sorrisos, ares puros e verdes escuros, sempre em um mesmo banco especial daquele parque. Essa é a peculiar história que a jornalista de 31 anos, Gabriela Dutra tem com o parque Flamboyant de Goiânia (GO). Ao abrir as páginas de sua trajetória, a jovem certifica-se que parques e bosques estão ligados diretamente a sua vida. “Contando essa história da minha mãe, me lembrei do meu pai. Foi no Bosque dos Buritis que eu o abracei tão forte quanto nunca e no outro dia ele faleceu”. Lugar de passeio, admiração, sossego e exercício, seja na capital goiana ou em qualquer outro lugar do mundo, os parques e bosques têm ofícios de diversão e integração social. Do mato vieram arranha-céus e do barro, os lagos. Gabriela, que mora no setor Jardim Goiás desde sempre, narra que a partir da criação do parque o setor mudou muito. “Tirou a questão do concreto, do urbano e surgiu harmonia e vida ao bairro. Todos os dias tem alguém meditando, como eu, ou uma pessoa brincando com o cachorro.” Além de refletir, a jornalista corre no Parque Flamboyant três vezes durante a semana e retorna no final de semana. Para a jovem, o melhor dia para ir é no domingo, quando há encontro de cachorros, muay thai, yoga e pessoas fazendo slackline (equilíbrio sobre elástico). “O parque que já tem vida, aos domingos ganha ainda mais”, relata Gabriela. O dentista e turismólogo Elripedes Machado de Araújo também teve a vida marcada pelo Parque Flamboyant. Morador da região há mais de 50 anos, o aposentado lembra que no local havia muita pastagem e uma estrada

de chão, frente ao que era o antigo Automóvel Clube de Goiânia. Como era sócio, ali nadava e andava a cavalo. Para Elripedes, as áreas verdes são de extrema importância para o convívio social, “são a humanização dos setores. Uma cidade que não tem um bosque, uma praça ou qualquer tipo de ambiente de lazer, torna-se um ambiente dessocializado”. Não muito diferente, o comerciante José Carlos Borges compartilha a ideia de que as áreas ambientais desempenham uma função notável. “Os parques e bosques de Goiânia são os quintais de muitos apartamentos, eles são necessários, principalmente para as pessoas que moram aqui hoje, mas nasceram no interior”, explanou o dono do quiosque de água de coco e picolé.

Elripedes Machado de Araújo, 64 anos, dentista e turismólogo aposentado, de Goiänia - GO. Mora próximo ao parque flamboyat, desde criança.

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Verde como Goiânia Parques e bosques devem ser monitorados. À priori com o um trabalho de conservação, não de reparação dos agravos. Caso detrimentos aconteçam, pelas mãos da natureza ou por ocorridas ações humanas (em sua maior parte), “o dano pode ser irreversível”. É o que frisa o responsável pela Delegacia Municipal de Meio Ambiente (Demma), delegado Luziano Severino Carvalho. O trabalho da Demma em si é agir depois que um crime é consumado. Contudo, nessa área, o princípio básico norteador do direito ambiental é a prevenção dos delitos contra o meio ambiente, não o conserto dos mesmos. O delegado destaca que é tarefa do poder público e também da comunidade civil, “tomar partido”, realizar iniciativas concretas e promover ações emergenciais, “para manter o meio ambiente em equilíbrio”. Precaução é um substantivo que deve ser ligados a todos os pronomes pessoais. Mesmo que a “cidade nossa de cada dia” tenha 1,5 milhão de metros quadrados de 28 parques e bosques mais verdes do que nenhuma outra, como afirma a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), baseada no título de capital brasileira com melhor qualidade de vida, concedido à Goiânia pelo Instituto Brasil Américas em 2009. Responsabilizar exclusivamente o governo não enverdecerá mais as ruas. A boa e velha política da vizinhança se fosse má mesmo, não sobreviveria às eras como um cabível ditado popular. Quando se poupa a essência ecológica e ambiental das Áreas de Preservação Permanente (APPs), esses ambientes podem manter-se em propriedade particular e ainda promover benefícios a todos. Os crimes ambientais são passíveis de punição, entretanto, Severino aponta a importância da conscientização dos proprietários das áreas de APPs, para que não ocorram situações de dano aos locais. “O mal do século é a inconsciência. As pessoas querem consumir, construir ao redor dos verdes, mas não veem que a maioria das tragédias ambientais 18

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no Brasil são causadas pelo manejo ambiental inadequado”, adverte o delegado. Assim como tudo que é bom pode durar pouco, existem contrapontos a cerca das áreas verdes de Goiânia. A socióloga Maria de Lourdes Peres, mestre em desenvolvimento e planejamento territorial, relata que esses espaços tornam-se mercadorias urbanas exploradas de forma inconsciente, gerando impactos irreparáveis “nas nascentes de água e na vegetação nativa. E aquilo que era para ser preservado passa a ser explorado e apropriado por quem tem poder aquisitivo maior”. Autora do livro “Imaginário, paisagens e urbanização: os parques de Goiânia”, ela criticou que dessa forma surgem “ilhas de residências de luxo entorno dos bosques e parques, como no caso do Vaca Brava e do Flamboyant. Isso não tem limites e assim pode acabar destruindo elementos fundamentais dos lugares, as nascentes”, lamenta a socióloga.

Verde através do tempo Desde o princípio, a natureza é cultuada pela humanidade. Na religião, o sacro-paradisíaco Jardim do Éden foi o palco da origem na história cristã. No mundo antigo, os míticos Jardins Suspensos da Babilônia, intitulados como uma das sete maravilhas do mundo. Na literatura, o Jardim Secreto, um clássico metafórico título da escrita inglesa, original de 1911, e até mesmo nos contemporâneos e febris livros de colorir, que asseguram acabar com o fruto proibido do estresse. Maria de Lourdes destaca ainda que há muito tempo as pessoas cultivam o verde no meio urbano, “seja na forma de parques, jardins, praças ou bosques, isto está no inconsciente coletivo dos povos”. A socióloga destaca também, que hoje a sociedade vive um momento de reencontro das raízes, “o cidadão está voltando aos elementos da natureza de forma encantada, é o chamado ‘reencantamento do mundo’, onde o meio ambiente deixa de ser só racional e passa a ter um ‘Q’ de mistério”.

História do Parque Flamboyant Dentre domínios de condomínios, andares e sonhos arquitetônicos, ter espaços de convívio ambiental é um direito coletivo, um patrimônio que toda e qualquer comunidade pode e deve desfrutar. Concretos não concretizam consciências, mas bosques e parques podem conectar vidas, dando-as saúde, tranquilidade, diversão e quem sabe um pouco de esperança, já que esse é o significado da cor verde. #Enverdecer.

O Parque Municipal Flamboyant Lourival Louza foi inalgurado em setembro de 2007. Localizado no Jardim Goiás, que fica na Região Sudeste de Goiânia - GO, o parque possui dois lagos, ponte de madeira, mirante, parque infantil, ciclovia, pista de cooper, estação de ginástica, caminhos internos e um jardim japonês. Fonte: Prefeitura de Goiânia.

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CIDADE-ESTADO

Eliminação

de praças públicas

um erro conceitual Ambientes de admiração e identidade visual são vítimas do crecer de uma metrópole.

Antiga Praça do relógio, que deixou de existir no setor Jardim Goiás, de Goiânia - GO. Por: Gabriela Rosália Aline Costa

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raças, parques, monumentos, espécies de árvores, edificações históricas, museus, jardins, obras de arte públicas, estabelecimentos tradicionais etc, compõem o panorama de uma cidade. São marcos referenciais urbanos que estabelecem relação de intimidade com a população. Traduzem a história, usos e costumes de gerações. Por isso devem merecer especial dedicação e otimização contínua. As áreas verdes são consideradas um indicador na avaliação da qualidade ambiental urbana e também obrigatórias por lei. Quando não existem ou não são efetivadas no ambiente urbano interferem na qualidade de vida da população. As praças, enquanto públi20

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cas desempenham importantes funções em uma cidade, dentre elas a integração da comunidade e a melhoria da qualidade ambiental, o respeito ao meio ambiente e patrimônio, além de auxiliar no controle da radiação solar, umidade do ar e ação dos ventos. O recorte, modificação ou eliminação de praças, para dar mais espaço aos carros está longe de ser uma prática nova em avenidas de capitais. Em Goiânia, desde 2006, já são pelo menos oito praças que sofreram adaptações ou desapareceram para dar espaço aos veículos. A Praça do Chafariz na avenida T-63 com 85, por exemplo, deu lugar a um viaduto em 2008. O mesmo ocorreu na Praça do Ratinho,

na Avenida 85 do setor Marista, um ano antes. A gestão moderna hoje no mundo se caracteriza por dificultar a vida do transporte individual motorizado (carro/motocicleta), ao mesmo tempo em que prioriza os espaços de mobilidade para os ônibus, trens, bicicletas e pedestres. É assim que problemas de mobilidade mundo afora têm sido resolvidos (ou atenuados). Isto está previsto na legislação brasileira, mas na prática o que se vê é a insistência no contrário: abrir mais espaço pra carros/ motos com a construção de viadutos, túneis, trincheiras e recortes de praças e calçadas públicas. Ou seja: enquanto centenas de cidades estão a destruir viadutos e suprimir viários saturados e poluentes, priorizando o coletivo/ bicicletas/pedestres, Goiânia reproduz a mais atrasada das políticas de mobilidade: abre espaços para a fluidez de carros/motos destruindo espaços orgânicos (verde) e de convivência (praças) de pessoas. Para o especialista em perícias e eventos de trânsito, Antenor Pinheiro, recortar ou eliminar praças para dar fluidez para carros é um equívoco conceitual, pois além de comprometer esteticamente a cidade, ela estimula o uso do transporte individual. “Trata-se de medida pontual que alivia a fluidez no imediato, mas mostra-se inútil no momento seguinte, pois carro é feito gás, se há espaço disponível, ele ocupa”, diz o especialista. Cidadãos como a estudante de jornalismo, Emanuelle Ribeiro, que diariamente enfrentam o trânsito conturbado da capital goiana, vê nas áreas verdes espaços de convivência de grande importância para a prática de esporte, apreciação da natureza e convívio social. “A praça é local de lazer. É questão até de saúde, eu diria. Pensa naquela senhora que tem hipertensão e foi recomendada pelo médico para caminhar, diariamente. Onde ela pode ir com custo zero, cuidar da sua saúde? A praça. O mesmo diria pra aqueles pais que ao fim do dia desejam estar mais presentes com seus filhos e podem colocá-los em contato com a natureza. A praça seria o lugar ideal”. Para Emanuelle um gestor público preocupado com a

qualidade de vida dos cidadãos, investe, cuida e preserva esses espaços públicos. A identidade de uma cidade está no seu nível de urbanidade, qual seja, sua capacidade de garantir para o cidadão espaços e oportunidades de convivência harmônica entre seus mais distintos valores e interesses. O coletivo/ público prevalente sobre o individual/privado. Uma cidade pensada e vivida para pessoas, não para carros, motos e/ou interesses econômicos que lhes diminuam a qualidade de vida. Desconhecer estes princípios compromete a história de todo um povo, contribuindo para a construção de uma cidade embrutecida e atrasada.

Medidas para racionalizar o sistema viário no mundo 1) Implantar e (fiscalizar) zonas de restrição de tráfego (zrts) que proiba a circulação de veículos de grande porte nas regiões saturadas; 2) Implantar política temporal de carga/descarga de mercadorias, definindo dias e horários para as operações; 3) Regulamentar fluxo de veículos de serviços (operações na contrução civil, transporte de valores, mundanças domésticas/comerciais etc.); 4) Implantar sistema automatizado de controle de estacionamentos em vias públicas (parquímetros), melhorando rotatividade de vagas e horários alternativos; 5) Atualizar medição de velocidades máximas permitidas no sistema viário; 6) Implantar medidas de moderação de tráfego nas regiões críticas (zona 40, diminuição de bitolas viárias, mini-rotatórias, paisagismo viário etc.) 7) Otimizar e manter sinalização viária inteligível; 8) Modernizar e monitorar iluminação noturna; 9) Implantar central de monitoramento eletrônico de trânsito que permita intervenções na sinalização semafórica e gerenciamento de situações críticas (congestionamentos, retenções, acidentes, etc.) Em tempo real. 21


CIDADE-ESTADO

Fotos: Jota Eurípedes e André Saddi

dados da Amma, a central de denúncias recebe mais de 3,3 mil reclamações por mês totalizando 40 mil todos os anos. Pelo menos 90% são referentes a perturbações sonoras de festas, bares e afins, o que necessita da ação conjunta dos fiscais e da PM. Por isso, a fiscalização de denúncias do órgão é focado nos fins de semanas e à noite, período em que a maioria das reclamações são feitas.

Como denunciar

Medida traz mais agilidade, efetividade e segurança na fiscalização das práticas delituosas de poluição ambiental.

É SÓ DENUNCIAR

Mecanismos de denúncia agilizam o atendimento da Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA).

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Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), responsável pela fiscalização de todas as infrações cometidas contra o Meio Ambiente na capital goiana, apresenta novos canais de denúncia para a população. As denúncias podem ser feitas todos os dias da semana através do aplicativo WhatsApp. Com o objetivo de melhorar o atendimento à população sobre denúncias de poluição ambiental - sonora, visual, atmosférica e hídrica, a Prefeitura de Goiânia, por meio da Amma, firmou um convênio com a Polícia Militar de Goiás (PM-GO). A parceria tende a aprimorar o serviço e integralizar os policiais para que possam acompanhar os fiscais nas vistorias quando necessário. As reclamações, segundo a assessoria de comunicação da AMMA, costumam ser variadas e abrangem desde a questão de desmatamento até a poluição sonora (maioria das denún22

Sustentai

Por: Eduardo Maidana Wesley Cassimiro

cias). Tão logo recebe a denúncia, a equipe se desloca para averiguar o fato. Por questão de segurança, em algumas situações, o trabalho tem que contar com o apoio de órgãos como a Guarda Municipal, agentes da Ordem Pública e Polícia Militar. O diretor de fiscalização da Amma, Gustavo Caetano Peixoto, afirma que o atendimento será mais eficaz e vai viabilizar a resolução de todas as denúncias pelo acompanhamento da polícia. “A atribuição de fiscalização a perturbação do sossego público passará a ser conjunta entre a Amma e PM. Com o convênio, vamos conseguir restringir ainda mais essas práticas delituosas. Por ser uma infração, é caracterizada como administrativa ambiental e contravenção penal”, pontua. A desativação do número 156 para denúncias ambientais é uma tentativa de tornar mais eficaz a fiscalização e resolução com o acompanhamento direto da polícia. Segundo

Caso a população constate qualquer irregularidade de competência da Fiscalização Ambiental na Cidade de Goiânia, poderá registrar sua denúncia entrando em contato com o Telefone Verde (161), no WhatsApp ou comparecendo na AMMA e protocolizar um processo de denúncia. Após o registro da denúncia, será fornecido ao denunciante o número da Ordem de Serviço ou do Processo, o que permite acompanhar a reclamação. No ato, o denunciante deve informar o endereço completo do denunciado (com quadra, lote, número e ponto de referência), bem como deverão ser apresentados todos os dados importantes para a identificação da infração e do infrator. De acordo com o Artigo 66 do Decreto Federal nº 6.514/2008 é obrigatória a licença ou a autorização dos órgãos ambientais competentes para a construção, reforma, ampliação, instalação ou funcionamento de estabelecimentos, atividades, obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores. As denúncias podem ser realizadas de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h, pelo telefone (62) 3524-1440. No período noturno, de segunda à sexta-feira, ou seja, das 18h às 8h. Aos sábados, domingos e feriados, as reclamações devem ser realizas pelo número 190. Paralelamente, os solicitantes poderão fazer as denúncias todos os dias da semana, 24 horas por dia, via WhatsApp, pelo número (62) 8545-2886.

AMMA retira outdoors que provocam poluição visual em toda a Capital Goiana.

Poluição sonora A exposição contínua a níveis de ruído superiores a 50 decibéis pode causar deficiência auditiva em algumas pessoas. Há variação considerável de indivíduo para indivíduo relativa à susceptibilidade ao barulho. Entretanto, padrões têm sido estabelecidos que indique o quanto de som, em média, uma pessoa pode tolerar em relação ao prejuízo de sua saúde.

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Fotos: Fernanda Meireles

CIDADE-ESTADO

Estruturas de bambu reutilizado no Taiuá Ambiental.

Turismo sustentável Chapada dos Veadeiros A natureza não está longe, descubra-a e saiba diferenciar turismo ecológico de turismo ambiental.

O

turismo de natureza é um segmento turístico que engloba o turismo de aventura, turismo educacional ao ar livre e o ecoturismo. Segundo o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), o ecoturismo é um “segmento de atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista 24

Sustentai

Por: Fernanda Meireles Jamylle Viana

através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. No Brasil existem vários roteiros com propostas de turismo de natureza, como é o caso da Chapada dos Veadeiros. A Chapada dos Veadeiros é uma região de cerrado, localizada no nordeste do estado de Goiás, que abrange cinco municípios: Alto Paraíso, Cavalcante, Colinas do Sul, São João D’aliança e Teresina. A Chapada abriga ainda

o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, reconhecido como Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO, sendo também uma unidade de conservação brasileira de proteção integral à natureza. A Chapada é, além disso, uma região que concentra inúmeras cachoeiras, trilhas, cânions, vales rochosos e outras opções para o turismo ambiental, atraindo durante todo o ano milhares de turistas de todas as partes do mundo que procuram justamente estar próximo à natureza. O professor do Centro de Excelência em Turismo da UNB, André Cunha cita que o turismo mais comum na Chapada dos Veadeiros é o turismo de natureza, que possui atividades como o arvorismo, canionismo, tirolesa, observação da fauna e flora, etc. O professor cita ainda que o ecoturismo é pouco explorado nessa região e como exemplo de proposta sustentável, aponta a região do Vale das Araras. Localizada em Cavalcante, é um dos poucos lugares que possuem uma proposta realmente voltada para um cuidado ambiental. Outra opção de turismo sustentável e de imersão e contato com a natureza é o Taiuá Ambiental, que começou como um camping e hoje se apresenta como uma nova concepção de consciência ambiental que se desenvolveu ao longo de vários anos. Bruno Mello fundou o camping na Vila de São Jorge. Ele tem 22 anos de experiência com turismo na Chapada e explica que a ideia de montar um projeto ambiental voltado para a sustentabilidade surgiu quando o Taiuá Ambiental já existia, porém, com uma proposta mais voltada para atividades culturais. O espaço reunia centenas de pessoas e “começou como um movimento cultural bonito”, como explicou Bruno, entretanto acabou passando dos limites em alguns momentos devido ao comportamento dos hóspedes no local. A ideia foi modificar a proposta do ambiente, instaurando algumas regras (como a proibição de bebida alcóolica e fumo no local) para que a atmosfera se voltasse a um ambiente mais saudável, de coopera-

ção e busca por tecnologias, pesquisas e ações que abordem questões sustentáveis. Diversos pesquisadores, professores, estudantes e pessoas que se envolvem com ações ambientais se hospedam no local, que tem como meta dar oportunidade para que diversos projetos ambientais se desenvolvam. Bruno também faz parte da Fundação Mais Cerrado, que surgiu como uma forma de expandir o alcance das iniciativas de educação ambiental e preservação do cerrado para além do Taiuá Ambiental, alcançando todos os espaços que contenham este bioma. O Taiuá se insere nessa rede como uma espécie de órgão mantenedor da fundação. “O cerrado tem um papel tão importante quanto a Amazônia, nas questões hídricas e ambientais. Não é um punhado de árvores tortas e feias como muitos insistem em pensar”, comenta o empreendedor. No Taiuá Ambiental acontecem periodicamente seminários, oficinas e projetos de pesquisa que estão em constante desenvolvimento, como ações de conscientização, conservação, proteção e recuperação da natureza. Conheça a Chapada dos Veadeiros: www.youtube.com/watch?v=u2SQJ-LWkFU

Estrada para Chapada dos Veadeiros - GO. 25


CIDADE-ESTADO

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Sustentai

Bruno Mello, do Taiuá Ambiental, destaca a importância do cuidado com o meio ambiente em regiões de turismo. “Em regiões ambientais, o turismo pode ser uma solução de preservação, desde que sejam exigidas construções e empreendimentos verdes, sustentáveis. O valor do nosso cerrado, por exemplo, é gigante - mas é invisível. A questão ambiental também é invisível, mas é essencial”, pontua. O ecoturismo é o segmento turístico que mais cresce no mundo, enquanto o turismo convencional cresce 7,5% ao ano e o ecoturismo entre 15 a 25%. Para o professor André Cunha esse crescimento pode trazer danos ao meio ambiente, mas também é uma oportunidade de conscientização para a conservação da natureza. Em momentos de crise ambiental, financeira, entre várias outras, não é necessário sofrer os reflexos na pele para que haja mudanças governamentais, de estilo de vida e comportamento das pessoas. As preocupações não devem mais ser individuais, mas sim coletivas. Desta forma, sustentabilidade não diz respeito apenas à integridade dos recursos e processos ambientais naturais, mas tem também como pressupostos a diversidade biológica, cultural, étnica, racial e religiosa. Da mesma forma, o trabalho de preservação ambiental não se baseia apenas no conservacionismo, mas também diz respeito a áreas da economia, estrutura e organização social da humanidade.

Ande de mão dadas com o planeta. O mundo é verde, sutente-ô.

Foto: Reprodução

Entre eles está a estação de tratamento de água cinza e negra, construída pela própria equipe do local com técnicas e modelos sustentáveis, que são explicados por uma das coordenadoras do local, Naiara Martins de Araújo. “Para tratar a água cinza, que é aquela que sai das torneiras do banheiro, da cozinha e da área de limpeza, usamos bacias que têm vários minerais dentro, onde a água é filtrada e sai 99% limpa, podendo ser reutilizada. Já a água negra, que contém resíduos liberados por nosso próprio corpo, passa por três pneus e algumas plantas, inclusive frutíferas, são plantadas no local da fossa e se alimentam destes resíduos filtrados”, revela a coordenadora. A iniciativa contribui para conectar o turista ao meio ambiente e mostra que é relativamente simples realizar ações sustentáveis em suas próprias casas. Além desta estação existem também no local construções de áreas de convivência feitas totalmente com amarrações simples e bambus restaurados com resina de mamona, coleta seletiva de lixo, uma agrofloresta em desenvolvimento e diversas ações de conscientização, como foi o caso de uma oficina que ensinou a fazer produtos de limpeza naturais. Conrado Andrade Silva, que trabalha no mercado financeiro de São Paulo, foi para Brasília ministrar um treinamento e aproveitou para conhecer a Chapada dos Veadeiros, se hospedando no Taiuá Ambiental. Ele comenta que a experiência serve para uma maior reflexão. “O homem é o principal agente que depreda o meio ambiente. Nós temos que cuidar e preservar a riqueza natural que temos. É importante aprender a se adaptar ao meio ambiente, não degradá-lo para poder produzir, como acontece em grandes metrópoles. Esta não é a definição correta de progresso”, defende Conrado. Atividades físicas em união com a natureza também são boas opções, como é o caso do projeto Integral Bambu, que utiliza estruturas feitas com bambu para a prática de acrobacias e Yoga em Alto Paraíso.

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SAUDÁVEL

Fotos: Acervo do CRER

U

Equoterapia: tratamento pode ser feito com crianças maiores de três anos.

Meio

ambiente em

prol da saúde Terapia realizada com cavalos favorece pacientes com necessidades especiais 28

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Por: Mel Castro Thiago Lucas

m método terapêutico realizado com cavalos, conhecido como equoterapia, traz cada vez mais benefícios para a recuperação de determinados pacientes. Atividades realizadas com o animal ajudam a desenvolver a coordenação motora, a movimentação corporal e a auto-estima. A interação entre o ser humano e o animal estimula a movimentação, ajudando o paciente a se desenvolver tanto fisicamente, quanto psicologicamente. A terapia é indicada para pacientes acima de três anos de idade e para vários tratamentos, como de problemas posturais (vindos de má formação ou acidentes), patologias neuromusculares, cardiovasculares e respiratórias, hiperatividade, paralisia cerebral, autismo, síndrome de down, doenças metabólicas, distúrbios mentais e sensoriais, pessoas que sofreram AVC, entre outros. Através de uma parceria feita com a Polícia Militar do Estado de Goiás, o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), oferece a terapia à aproximadamente 280 crianças. As sessões, que duram aproximadamente 30 minutos, contam com o apoio de fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e veterinários. De acordo com Cloves Alencastro, agente administrativo do setor de equoterapia do Crer, a unidade trabalha hoje com 12 cavalos provenientes de doações, geralmente de pessoas que possuem ligação com pacientes e da própria cavalaria da PMGO, que é responsável também pelos cuidados veterinários e alimentação dos animais. “Para trabalhar com um paciente, o animal precisa passar por um processo de treinamento. Após feito isso, os animais ficam mais dóceis, tanto que observamos que quando uma criança que necessita está em cima dele, ele fica tranqüilo e se deixa levar, é como se o animal sentisse que está ajudando”, alega. Segundo a fisioterapeuta Larissa Pires Jácome Gornattes, o principal objetivo da equote-

rapia é trabalhar a reabilitação motora, através do equilíbrio de tronco, pois cada passada do cavalo oferece de 50 a 60 movimentos oscilatórios para o paciente, fazendo com que trabalhe a angulação do quadril, o ajuste postural para manter o alinhamento de tronco, o controle de cabeça e o controle cervical. “Associado a isso a criança precisa ter a estimulação sensorial para se manter alinhada em cima do cavalo, trabalhando também a força de membro inferior”, completa.

O objetivo da terapia é desenvolver a capacidade motora do paciente.

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SAUDÁVEL Larissa ressalta que para as crianças que se locomovem em cadeira de rodas e estão acostumadas a ver o mundo de baixo, quando são colocadas em cima de um cavalo, além de sentirem o que é o movimento de andar, têm outra visão do mundo, passando a vê-lo de cima. “Isso melhora a confiança da criança, e consequentemente a autoestima e a interação social. Ela fica mais segura e vê que consegue controlar o animal e, no entanto, consegue também realizar outras atividades”, afirma a fisioterapeuta. Durante uma sessão semanal, Mariana Cardoso Vieira, que tem quatro anos de idade e possui paralisia cerebral, acaricia e beija o animal. A mãe, Reginalda de Fátima Cardoso, diz que após o início do tratamento com a equoterapia, a menina que não tinha forças para nada nas pernas, já começou a dar os seus primeiros passinhos. “A terapia com os cavalos foi uma coisa maravilhosa para ela, eu acredito que ela teve uma melhora muito significativa e espero que melhore ainda mais”, conclui.

Interação com o meio ambiente

A equoterapia é realizada ao ar livre. Entretanto, além de andar em cima dos cavalos e sentir os movimentos tridimensionais do animal, o paciente pode também apreciar a natureza. Larissa afirma que devido a isso, os cinco sentidos da criança podem ser explorados: “Aqui a gente trabalha até mesmo o paladar. Como é um ambiente que possui arvores frutíferas, o paciente que é liberado para a alimentação pode degustar a fruta à vontade”. A terapeuta ocupacional, Amanda Quintonilha, acredita que o ambiente externo influencia muito na reabilitação do paciente. Ela conta que atende pacientes nos consultórios e na unidade de equoterapia do Crer e na maioria das vezes, consegue mais resultados dos pacientes montados no cavalo. “Não sei como, mas acontece. Às vezes eu fico lá em cima lutando para o paciente fazer uma ativi30

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dade funcional e não consigo. Quando chega aqui, ele rapidamente responde aos comandos simples. É interessante, um trabalho diferenciado devido ao contato direto com a natureza e com os animais. O paciente se sente a vontade”. Contudo, o cavalo que desde os tempos mais remotos já era útil ao homem, hoje é ainda mais graças ao trabalho dos profissionais da equoterapia.

Surgimento e normatização Acredita-se que os cavalos foram inseridos em processos terapêuticos por Hipócrates, considerado o pai da medicina. A primeira experiência de equitação terapêutica para crianças com necessidades especiais aconteceu na Noruega e em 1967 os Estados Unidos fundaram o primeiro centro de equitação com finalidade fisioterápica. No Brasil a equoterapia começou a ser adotada como modalidade de terapia somente a partir de 1989 e foi reconhecida como tal em 1997 pelo Conselho Federal de Medicina. Devido o avanço da equoterapia no Brasil, ações têm sido realizadas para que sua prática seja normatizada, de forma a estabelecer a sua padronização e a sua natureza científica, garantindo que os praticantes sejam atendidos de forma profissional, ética e benéfica às necessidades que apresentem. O projeto de lei Nº 264, de 2010 do senador Flávio Arns recentemente aprovado regula a prática da equoterapia, como todo método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas da saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial da pessoa com deficiência e a PLS nº 456, de 2003 torna disponível a equoterapia no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Além do tratamento físico, pacientes da equoterapia desenvolvem uma relação de afeto com cavalos.

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SAUDÁVEL

Fotos: Acervo Pessoal

Eles

têm quatro patas e muito calor

Animais de estimação reclamam das variações de temperatura tanto quanto os humanos. Resta a nós decifrarmos suas vontades sem precisar ouvir palavras. Por: Douglas Borges Gabriel Valle Rafael de Sousa, estudante. Utiliza o ar condicionado para aliviar o calor de seu companheiro, o Sansão.

É

só aparecer um tempo mais seco e quente que as publicações nas redes sociais começam a borbulhar. Quem não gosta de frio enfrenta um grave problema morando em Goiânia: altas temperaturas, principalmente nos meses de setembro e outubro. O que muitas vezes se esquece é que não apenas o ser humano enfrenta uma maratona de ondas de calor neste período, mas os nossos amigos fiéis de longa data, os animais de estimação, com suas características anatômicas e peculiares, também têm muito a suportar nesta situação. Segundo a normal climatológica (valores médios do clima em um período de no mínimo trinta anos) do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as temperaturas médias dos meses de setembro e outubro em Goiânia foram 24,5ºC e 24,6ºC. No ano de 2015, entretanto, elas foram mais além: 27,7ºC e 29ºC, respectivamente. Ou seja, 3,2ºC e 4,4ºC a mais para os bichanos suportarem debaixo de tanta pelugem. 32

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Esse aumento na temperatura tem como explicação o fenômeno climático El Niño, que exerce influência em todo mundo e principalmente no Brasil Central. Segundo o geógrafo Eduardo Petri, o fenômeno se dá pelo aquecimento das águas no Oceano Pacífico provocado pela ação do homem – o que gera uma disfunção climática que afeta correntes marítimas e massas de ar. Em Goiás, a consequência é ainda mais severa. “Como aqui é uma região de cerrado, com vegetação mais forte, poucas chuvas e baixa umidade relativa do ar, o fenômeno causa mais sensibilidade. Isso acaba influenciando todas as formas de vida, sejam vegetais, animais ou racionais. A vida na Terra ainda não está totalmente adaptada a essas mudanças”, explica Eduardo. E encontrar situações de donos que precisam conviver com essas mudanças e atender ao chamado de seus animais não é uma tarefa difícil. A dona de casa Maria Aparecida Carneiro é um exemplo de que medidas precisam ser tomadas na hora de observar o com-

Hora de passear portamento desses bichos. Ela é dona de um Shih-tzu e tem lutado pra entender o que ele demonstra nesse tipo de situação. “O Beto fica agitado, procura sempre um local mais fresco para dormir, um piso mais fresco, toma muita água e só quer lugar ventilado. Não gosta de colo e tem que ficar sempre tosado, porque sente muito calor”, relata a dona de casa. Até mesmo na hora de passear, atividade prazerosa para os cães em geral, é necessária muita atenção. “Ele cansa bem mais rápido. Tem que ir onde não tem sol, de preferência bem de manhã, porque à noite o asfalto e a calçada estão muito quentes”, conta Maria Aparecida. O Shih-tzu, raça originária do Tibete, é um cão da família dos peludos que precisam manter cuidados com tosa e higiene frequentemente. Assim como ele, outra raça muito famosa no Brasil é a Chow-chow. Vindos diretamente da China, os cachorros dessa raça já foram utilizados até mesmo como cães de trenó. Por se acostumarem com o frio chinês, cuja capital chegou à temperatura de 10ºC em outubro deste ano (segundo o aplicativo AccuWeather), eles também têm dificuldades na adaptação ao clima goianiense.

As alterações no tempo e no clima afetam não apenas os pets e seus donos, mas também quem trabalha de alguma forma com animais. O estudante de medicina veterinária Alexandre Arroyo decidiu, há alguns anos, se aventurar em uma profissão diferente. Quando passou no vestibular em Goiânia, resolveu tirar férias em Toronto, no Canadá, e lá descobriu uma nova paixão: ser dog walker. A profissão, que surgiu nos Estados Unidos e chegou a ser regulamentada na Argentina, está em ascensão no Brasil e já conta com alguns cursos de especialização pelo país.Para Alexandre, foi uma mão na massa. “A rotina me cativou completamente. Exatamente o estilo de vida que eu gostaria de levar. Voltei para Goiânia e não desisti. Com tempo e esforço, deu tudo certo”, relembra o estudante, que hoje passeia com vários cães nos parques Areião, Vaca Brava, Lago das Rosas e Flamboyant. E esses passeios precisam ter hora, local e data marcada. É que, com todas as alterações no clima, a atenção com os cães deve ser redobrada. “Meus cuidados com eles mudam. Da escolha dos horários menos quentes do dia, da busca por sombras no decorrer do passeio a até mesmo o uso de protetor solar nas áreas da pele mais expostas”, afirma Alexandre. Ele diz que cuidar de cães é uma atividade trabalhosa e cheia de peculiaridades, mas que os donos não poupam esforços quando se trata de respeitar e dar carinho a eles. “Todos têm preocupação com seus pequenos. A maioria, com certeza, é aquela que realmente não tem tempo ou condição física para caminhar todos os dias com eles, mas, independente da condição financeira ou física, o motivador maior para me ligarem sempre é a consciência da necessidade dos cães e do amor que sentem por eles”, completa o dog walker.

Alexandre Arroyo, Dog Walker. Viu oportunidade em um profissão diferente.

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Dono de um Chow-Chow preto de dois anos de idade, Rafael de Sousa defende essa teoria. Ele diz que o ar condicionado, nesse caso, é um grande aliado do Sansão. “Sempre o deixei dormir comigo no ar condicionado. Eu também coloco gelo na água dele, principalmente quando chegamos de passeios”, revela Rafael. Caso não esteja satisfeito, entretanto, Sansão desenvolveu uma técnica própria para lidar com o calor. “Ele tira as pedras do jardim e deita com a barriga sobre a terra gelada”, diz o dono, que aproveita para deixar dicas a quem pensa em adotar um cachorrinho dessa raça e vai enfrentar períodos de alta temperatura. “É importante ter um lugar na casa onde ele possa se refrescar, paciência para manter a água sempre fresca e o mais gelada possível e passear para distraí-lo do calor, mas nunca sob sol”, finaliza Rafael.

Gabriela Hadler, especialista em patologia animal. Alerta para as consequências provocadas pelo calor.

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Todos esses comportamentos têm explicações e é preciso sabê-las para que seu cãozinho esteja sempre nas melhores condições. A veterinária especialista em Patologia, Clínica e Cirurgia Gabriela Hadler explica que o calor pode gerar várias consequências para os bichanos, se não tomado o devido cuidado. “Os animais são como a gente e sofrem com o calor da mesma forma. Eles podem perder o apetite, ficam menos ativos, bebem mais água, ficam ofegantes e alguns podem até apresentar episódios de vômito. Em locais úmidos, pode ocorrer ainda proliferação de fungos, causando problemas nas orelhas e pele dos bichinhos. Além dos efeitos do calor, as almofadinhas das patas (os coxins dos animais) podem se queimar no chão quente”, explica a veterinária.

Maria Aparecidade, dona de casa. Procura entender os sinais de calor em seu shitzu, Bento.

Por isso, ela relembra que é importante tomar atitudes específicas no dia-a-dia do animal de estimação. Maria Aparecida e Rafael acertaram em algumas delas. “É importante evitar passeios nas horas mais quentes do dia. Prefira o começo da manhã e final da tarde para passear. Deixe água fresca sempre disponível e o ambiente sempre ventilado para os animais. O banho semanal e a tosa também são uma opção para o controle da temperatura. A tosa é ideal para os animais que vivem em locais úmidos”, aconselha Gabriela. Ela mesma exemplifica essa situação. A veterinária vive com uma bulldog bem calorenta e tem que dar um jeito para que o animal se sinta confortável. “Nos dias quentes, opto pelo banho mais fresco e deixo sempre água disponível. Ela adora quando coloco pedrinhas de gelo na água”, conta. Gabriela avisa ainda que cuidados com gatos são os mesmos, exceto pelos banhos: a frequência deles é menor, geralmente de uma vez por mês.

Ela finaliza dando mais dicas e ressaltando a importância do carinho e atenção para com o animal. “O proprietário deve sempre observar seu animal e se preocupar com detalhes como a respiração, se o animal está ofegante, se apresenta comportamento normal ou está mais prostrado e se está tendo uma alimentação adequada ou não. Caso os donos não tenham prática em cuidar de um animal, é ideal procurar um médico veterinário que vai dar todas as dicas para que eles tenham uma vida saudável. É importante pensar nisso quando decidimos adotar um bichinho, já que a posse deve ser responsável e devemos nos preocupar sempre com o seu bem-estar”.

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SAUDÁVEL

No

calor do futebol

O tempo seco pode interferir na saúde do atleta. Por: Guilherme David

Fotos: Preprodução

Jogador de Futebol, Fred diz sofrer com as altas temperaturas, maso jogo tem que continuar.

Confira a reportagem sobre a influência do tempo seco nas partidas de futebol, no link: https://www.youtube.com/watch?v=RdpZHoeaZ10

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SAUDÁVEL

Fotos: Reprodução

T

A natureza a partir de seus frutos pode oferecer a cura e tratamento para algumas doenças.

VOCÊ CONHECE A FITOTERAPIA? Aquele ditado “a natureza é sábia” se comprova por meiodas ervas medicinais. Extrair o princípio ativo da planta é uma arte, arte que traz grandes benefícios para a sáude.

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ão antiga quanto a civilização humana o uso da natureza para fins terapêuticos está mais presente no seu cotidiano que você imagina. Mesmo que você tome remédios alopáticos ou farmacêuticos, diferentes tipos de plantas servem de base para pelo menos 25% de todos os medicamentos. Os produtos minerais das plantas foram e ainda são fundamentais para a saúde humana, e apesar de dados do Governo Federal apontar o Brasil como uma megabiodiversidade, com cerca de 55 mil espécies de plantas, apenas 0,4 % da flora do país foi oficialmente investigada. É preciso mais investimento em conhecimento científico e melhor especialidade na medicina alternativa. Na medicina tradicional chinesa acredita-se que a cura de qualquer enfermidade pode vir da própria pessoa, através de seus hábitos saudáveis. E utilizando como uma de suas bases, essa medicina milenar, a fitoterapia se torna a solução para quem não pode usar os remédios industrializados. Desde um chá que a sua avó te servia para sarar uma gripe, até os medicamentos fitoterapicos, obtidos atraves da matéria prima vegetal, podem ser uma opção para quem deseja melhorar a qualidade de vida de forma natural, e de maneira eficaz. A ciência védica também é base para a medicina alternativa com o ayurveda que utiliza uma abordagem terapêutica de plantas medicinais, dieta, exercícios físicos, meditação, yoga, astrologia hindu, massagem, aromaterapia, cirurgia e psicologia, em prol da cura do corpo e da alma. No Brasil o tratamento fitoterápico esta em processo de implantação no Sistema Único de Saúde (SUS), o que traz ao cidadão comum uma possibilidade diferente de medicação, mas com certeza da eficácia garantida pelo conhecimento cientifico e ainda, com preço mais acessível. O Ministério da Saúde reconhece os fitoterápicos como medicamentos que desempenham um papel importante em cuidados contra dores, inflamações, disfunções e outros incômodos, ampliando as alternativas de tratamento seguras e eficazes.

Segundo a médica e responsável pela seção de ensino e pesquisa do Hospital de Medicina Alternativa, Mara Rúbia Ferreira de Freitas, o hospital contabiliza uma média de dois mil atendimentos por mês, “As pessoas tem procurado cada vez mais a fitoterapia devido ao efeito terapêutico potentes das plantas. São muitas patologias que podem ser tratados com as plantas medicinais” afirma a pesquisadora. Dependendo da gravidade da doença e também do conhecimento medico sobre a fitoterapia, é possível tratar com eficiência desde sintomas mais leves até melhoria em quadros como câncer. É importante lembrar que cada pessoa responde a um medicamento de forma particular e a fitoterapia pode servir, em alguns casos, para auxiliar no tratamento convencional e possibilitar uma melhor qualidade de vida. A pesquisadora ainda ressalta que por dificuldades estruturais e financeiras o atendimento no hospital tem deixado a desejar ”Possuímos médicos especializados, mas já tem quatro meses que não recebemos agulhas para o tratamento de acupuntura nos pacientes.” Sem incentivo do governo estadual é a população que sofre, pois tratamentos alternativos como esse interferem de maneira positiva em pacientes que tratam doenças crônicas, por exemplo. Efeitos colaterais dos medicamentos sintéticos também são alguns dos motivos que fazem a medicina natural ser muito procurada, já que as plantas medicinais reforçam as defesas naturais do organismo com capacidade de aliviar e curar enfermidades. A empresária Vera Lúcia usa essa alternativa como fonte de saúde depois de uma crise alérgica por uso de antibiótico, “Eu inchei e tive que retornar imediatamente para o consultório e acabei sendo internada. Fiz alguns testes e descobri que sou alérgica a todas as famílias de antibióticos” conta. Para problemas como o da empresária, a fitoterapia entra diretamente como a única forma de tratamento e muitas pessoas só encontram nas plantas o alívio e a cura de enfermidades. “São pessoas que já recorreram a vários outros tratamentos sem resultados, eles falam que aqui é a ultima esperança para melhorar. 39


SAUDÁVEL OS 12 FITOTERÁPICOS DO SUS Alcachofra: para má digestão e colesterol; Aroeira: para problemas ginecológicos; Babosa: para queimaduras e psoríase; Cáscara-sagrada: para constipação; Espinheira-santa: para gastrite e úlcera; Guaco: para problemas respiratórios; Garra-do-diabo: para dor nas costas e artrose; Hortelã: para desordens intestinais Isoflavona; Soja: para incômodos da menopausa; Plantago: para distúrbios intestinais; Salgueiro: para dor lombar; Unha-de-gato: para problemas reumatológicos.

Babosa O uso da Aloe vera só é permitida pela Legislação Brasileira para fabricação de cosméticos e medicamentos fitoterápicos.

• Indicações: Afecções da pele e anexos, reumatismo, úlceras, anemia, prisão de ventre, verminose, câncer, AIDS, imunodepressão, infecções respiratórias, etc. • Propriedades: laxante, antiinflamatória, antibiótica, antiviral, anticârcinogênica, cicatrizante, antipruriginosa, hidratante, tônica, estimulante, anti-helmíntica, emenagoga, emoliente. • Partes usadas: folhas, seiva.

Alecrim Rosmarinus officinalis provoca suor e faz limpeza no sangue, tônico para o coração e anti-reumático. É usado para banhos de pele e do cabelo e para caspa. Também utilizado como tempero na culinária tradicional brasileira.

Bardana Os gregos já utilizavam a bardana (Arctium lappa) como medicamento. Combate o reumatismo, afecções cutâneas, dermatose, furúnculo, bronquite, cálculos da bexiga e biliar, prisão de ventre, queda de cabelo, hidropisia.

• Indicações: Reumatismo, depressão, cansaço, gaAlecrim ses intestinais, debilidade cardíaca, inapetência, cicatrização de feridas. • Propriedades: Estimulante, anti-espasmódico, vasodilatador, anti-séptico e digestivo. • Partes usadas: Flores e folhas

Alcachofra • Indicações: Afecções da pele, mucosas e cabelos, problemas digestivos e do fígado, escorbuto, reumatismo, diabetes, herpes simples, picadas de insetos. • Propriedades: Antisséptico, bactericida, fungicda, diurética, diaforética, adstringente, antiinflamatória, anestésica, calmante, tônica, cicatrizante. • Partes usadas: Folhas e raízes.

Carqueja A Baccharis trimera auxilia no tratamento de má digestão, prisão de ventre, diarreia, anemia e gripe. Possui propriedades de ação antianêmica, antiasmática, antibiótica, antidiarreica, antidiabética, antidispéptica, antigripal, anti-inflamatória, anti-reumática e aromática.

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Sustentai

• Indicações: Diabetes, obesidade e sobrepeso, alterações hepáticas e da vesícula biliar, afecções da pele, Alecrim anemias. • Propriedades: Colagogas, digestivas, diuréticas, hepatoestimulantes, antipiréticas, hipoglicêmicas, laxantes, emagrecedoras, vermífugas. • Partes usadas: Hastes.

A Cynara scolymus possui propriedades medicinais e excelente uso na culinária. Contém muito ferro e cálcio e repõe sais minerais no organismo, também com ação antioxidante para o fígado.

• Indicações: Afecções hepatobiliares, arteriosclerose, diabetes, afecções urinárias, hipertensão, obesidade, reumatismo. • Propriedades: Colagoga, depurativa, digestiva, diurética, colerética, anti-reumática, hipoglicemiante, antiuréica, anticolesterolgênica. • Partes usadas: Folhas, brácteas e raízes.

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PLANTE, CULTIVE, COLHA Plante bem, o bem. Colha os frutos, brutos. Tudo muda, até a muda.

- André Cardoso Nascimento (Landre)

Foto: Reprodução

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ALIMENTAÇÃO Fotos: Bernardete Borges de Freitas

Produtos orgânicos expostos para venda em um supermecado de Goiânia.

O

poder dos orgânicos

Além de saborosos e ricos em nutrientes, os alimentos orgânicos são isentos de agrotóxicos e outros produtos químicos, trazendo inúmeros benefícios para à saúde humana e o meio ambiente. Por: Bernardete Borges de Freitas Marília Dourado Gonzaga

C

omer bem, que mal tem? Afinal, uma boa alimentação representa saúde, tanto no quesito físico, quanto metal. O que também deve ser conhecido pela sociedade são os processos na produção e venda dos alimentos que consomem, pois, a partir dessa informação, os consumidores podem compreender o valor nutritivo, as qualidades e a quantia a ser cobrada em cada produto. Acredite ou não, é de conhecimento geral que quem se alimenta melhor vive com maior qualidade. Muitas vezes, isso significa um custo maior no bolso, mas compensa pelo resultado satisfatório. 44

Sustentai

Atrás de uma vida saudável, existe uma boa alimentação, algo que pode ser alcançado por meio do consumo de alimentos orgânicos. Esses alimentos diferenciam-se dos tradicionais por ficarem isentos do uso de qualquer tipo de agrotóxicos e de adubos químicos durante seu processo de produção. Os produtos ou alimentos orgânicos são plantados em solo fértil e irrigados de forma natural, o que proporciona maior número de nutrientes, além de torná-los mais saborosos e saudáveis. Essa técnica de agricultura traz inúmeros benefícios para o meio ambiente, pois o principal dano provocado por agrotóxicos é a intoxicação, que

prejudica a saúde do ser humano, dos animais e causam graves problemas ambientais como a contaminação do solo, lençóis subterrâneos, lagos e rios. É inegável que um alimento saudável resulta de muitos cuidados. Alguns aspectos dessa produção são esclarecidos pelo produtor Mariano Alejandro Parejo. “No cultivo desses alimentos a mão de obra é intensiva, fazemos uso de adubos orgânicos que são derivados da compostagem e de esterco bovino. É necessário manter a terra equilibrada para prevenir o aparecimento de praga, entre outras precauções”, relata. Mariano também explica que o plantio feito com a associação de várias espécies diferentes em um mesmo local auxilia na proteção dos alimentos contra as pragas. Se o trabalho é árduo, o produto não pode ser doado, mas sim vendido, e neste caso com um custo bem maior - o que faz os goianos sentirem essa diferença no bolso. Entretanto, alguns não priorizam a diferença em dinheiro, mas sim, na qualidade de vida que os alimentos orgânicos proporcionam. A funcionária pública Sônia Prado consome os produtos e se posiciona a respeito dos benefícios obtidos através deles. “Eu sempre compro alimentos orgânicos e apesar de serem mais caros, acredito que o beneficio é maior, por não conterem produtos químicos, então eu acho que compensa”, afirma a consumidora. Ainda que os alimentos industrializados possuam uma boa apresentação, não se deve julgar o mesmo de seu valor nutricional. Pois, como diz o ditado, nem tudo que reluz é nutritivo! De acordo com o consumidor João Marcus Bertoldi, o goiano tem conhecimento sobre o alimento orgânico, mas muitos preferem consumir produtos industrializados. “Fazendo um balanço hoje, acredito que o goiano está decaindo muito na qualidade de sua alimentação. Muitos estão entrando nesta onda de produtos artificiais”, relata. Outro fator também abordado pelo consumidor é a relevância dos alimentos orgânicos. “A qualidade nutritiva dos orgânicos é representada pela ausência de agrotóxicos. Por conta disso,

sempre compro”, afirma Bertoldi. A pressa é inimiga da boa alimentação - é o que nos conta a nutricionista Andressa Menezes Lobianco. “O consumo de alimentos prontos, incluindo os industrializados e refrigerantes, tem aumentado entre os goianos, isto é, o resultado do comodismo e da correria do dia a dia”, ressalta a nutricionista. Uma alimentação saudável traz inúmeros benefícios para o ser humano, pode combater e prevenir doenças, melhora o condicionamento físico, reduz o cansaço e a insônia, promove o bem-estar e, consequentemente, esses fatores prolongam a vida. Dessa forma, pode-se concluir que os alimentos orgânicos são essenciais para se obter uma vida saudável. Então, saia do comodismo e alimente-se melhor.

Boa e má alimelimentação O que é Bom? Uma boa alimentação... - Aumenta a imunidade; - Reduz os riscos de infecções e outras doenças; - Melhora o humor e evita o estresse; - Previne a depressão ainda; - E retarda o envelhecimento..

O que é mau? Maus hábitos alimentares podem causar... - Doenças cardiovasculares; - Obesidade; - Diabetes; - Cansaço’ - E até mesmo câncer. 45


ALIMENTAR Fotos: Wison Santos

Plantação de uvas

A

boa e velha horta

A arte de cultivar frutas e verduras em casa ainda é uma “engenhoca” do século XXI. Por: Anna Marins Nayane Ferreira

O

cheiro de ar puro e o frescor da horta de Wison Santos vêm nos recepcionar logo na entrada. Assim, é a casa do representante comercial que resolveu plantar no fundo do quintal. Ao adentrar, nos deparamos com uma linda parreira toda carregada, que nos contempla com sua beleza, pois as uvas já estão quase no ponto de colheita para as festas de natal. Mais adiante podemos observar hortaliças de várias espécies e tamanhos. Wison cultiva alface, cebolinha, couve, pimenta e coentro. O próprio Wison é quem realiza o preparo da terra com uma espécie de compostagem, que é o processo de amontoar as folhas e restos de matéria orgânica para adubação do plantio. Segundo Wison, tudo precisa ser feito com 46

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amor, e esse amor pela terra vem dos avós. “Tudo na vida depende da terra, quero manter essa identidade”, conta Wison. Além de se dedicar ao cultivo de espécies frutícolas e de hortaliças, o representante comercial ainda buscou inspiração para a construção de uma “engenhoca”. Ele reservou dois tambores de 200 litros para o armazenamento de agua da chuva. Com isso, ele consegue manter os cultivares irrigados durante todo o ano, evitando maiores perdas devido ao déficit hídrico. Essa ideia faz com que a água reservada se espalhe por toda a horta numa espécie de chuveiro. Ele coloca essa engenhoca pra funcionar 5 minutos durante a manhã e 5 minutos no período da tarde, logo após o sol se esconder. O representante colocou calhas ao redor da

casa, e canos que levam a água da chuva para tambores. Dentro do reservatório de agua contém uma bomba que bombeia a água levando para as caixas de água, dali quando a “engenhoca” é ligada, essa água que foi reservada vai direto para as plantinhas. Um jiló também faz parte de uma das curiosidades da horta, já que a semente do jiló veio do Japão, mandada pela irmã do Wison. “Por ter vindo do Japão e ser totalmente diferente da espécie quer temos aqui no Brasil, eu não vou consumir, vou esperar ele cair naturalmente, colocar as sementes pra secar e plantar para me dar novos frutos”, menciona Wison apontando para o Jiló gigante, já maduro. Juntamente com as frutas e hortaliças produzidas, nasceu também um único pé de milho que o representante faz questão de dizer que vai dar um bom refogado. Além de toda a dedicação com a horta, Wison ainda divide parte do que colhe com os vizinhos. A aposentada Geni da Silva, de 74 anos, diz que fica feliz com as hortaliças que recebe do vizinho. “Às vezes a gente não tem uma mistura pra complementar um almoço né? Ai o Wison vem e traz uma alface, uma couve e isso é muito bom. Eu só não planto nada aqui por causa de espaço, já até tentei plantar um pé de boldo, mas por falta de terra ele morreu”, disse Geni. Em contrapartida, Wison diz que não precisamos de um espaço grande para ter uma hortinha em casa, até numa garrafa pet dá pra se plantar. Ele acrescenta ainda que faz muito bem pra saúde e mais ainda, pra alma. “É uma terapia das boas”, declara Wison.

Entre frutos e rosas Além do pequeno espaço que reservado para o plantio das hortaliças, ele também se dedicou a frutas e rosas. Num espaço mais restrito, encontramos também um pé de mamão e um de cajá-manga, que estava plantado em um vaso, é uma espécie da fruta anã. Além disso, ele cultiva lindas rosas, que Wison faz questão de lembrar que estão com ele desde quando sua mãe faleceu, e que hoje ele cuida com muito carinho. Já as rosas que dão um ar de harmonia, se realçam em meio ao verde, são quatro pés, com flores que literalmente é rosa, e tem também um lindo girassol que se destaca com um amarelo no meio da plantação de hortelã.

Canceitoros de alfaces irrigados pela “engenhoca”.

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ALIMENTAR Fotos: Renato Campos

locais abandonados e fazemos com que esses cenários sejam habitáveis novamente”, explica Furquim.

O futuro se faz agora

Pneus também podem virar canteiros de alimentos.

Da

revitalização ao efeito terapêutico Agricultura urbana está presesente no cotidiano de uma cidade.

E

m tempos onde muita se fala e pouco se escuta, a correria e agitação dos centros urbanos fazem com que muitos moradores das cidades almejem o sossego do campo. Por meio das noções do campo, moradores das cidades goianas podem contar com um pouco da agricultura, da lida do campo e do aconchego rural em seu cotidiano. Trata-se da Agricultura Urbana, que defende a necessidade de repassar aos moradores da zona urbana, conhecimentos necessários sobre as práticas da agricultura em grandes e pequenos centros. A prática da agricultura nas cidades, há tempos, foi considerada impossível, mas para o coordenador do programa pelo Serviço Na48

Sustentai

Por: Laryssa Carvalho Renato Campos

cional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás), Leonnardo Furquim, a ideia de que agricultura é coisa do campo, deve ser desmitificada. “É necessário destacar que a agricultura pode ser viavelmente utilizada e incorporada aos centros urbanos, sejam metrópoles ou cidades do interior” expôs o coordenador. Para Leonnardo, as vantagens proporcionadas pelo programa para as cidades são inúmeras, entre elas a revitalização dos cenários urbanos abandonados. “Nós do Sistema Faeg/Senar investimos esse mês na revitalização da praça localizada em frente à Federação. Nossa intenção foi mostrar que o programa ultrapassa os conceitos de plantio de hortaliças ou floricultura, nós focamos também na revitalização de

Nas escolas goianas, os pequenos entendem, desde cedo que produzir seu próprio alimento vai além da necessidade humana, e é sinônimo de responsabilidade social e muito trabalho em equipe. “Um ponto legal do programa agricultura urbana e um dos pontos mais gratificantes também é levar os conhecimentos sobre a área às crianças. Desde cedo elas podem aprender a importância do alimento, entender que os produtos alimentícios passam por um processo árduo antes de estarem disponíveis nas prateleiras do supermercado e fazer com que certas ideologias radicais sejam analisadas”, defende Leonnardo Furquim. O coordenador ainda afirma que orientações corretas sobre uso da água para irrigação e a utilização de defensivos agrícolas na medida certa são repassadas aos pequenos. “A criança vai saber que a irrigação, por exemplo, é fundamental para a produção de alimentos e que sem ela, não poderíamos nos alimentar. Então, o que nós procuramos repassar é que não estamos roubando a água, mas sim utilizando-a de forma correta para que possamos alimentar tantos os moradores da zona urbana quanto da zona rural, além de informar também que o uso de defensivos agrícolas é necessário de acordo com o tipo da produção e que, utilizado corretamente, não é algo prejudicial”, enfatiza Furquim. Para a diretora da escola estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira, Celi Madeiros, o programa foi visto com bons olhos pelas crianças. “Eles ficaram animados e empolgados com a inciativa”, afirma a diretora. Ainda para Celi, que levou os alunos até a sede da Faeg no lançamento do Programa, além de estimular o senso de união entre os pequeninos, as crianças aprendem também a valorizar o trabalho realizado. “Você consegue ver a felicidade nos

olhos dessas crianças que produzem seu próprio alimento. Elas passam a valorizar o trabalho feito por eles e passam também a exercitarem sua autoconfiança”, diz Celi

Alunos desde pequenos aprendem sobre o valor da agricultura urbana.

Conquistando corações Instrutor há 10 anos, Ricardo Pereira tenta usufruir da imparcialidade, mas quando o assunto é Agricultura Urbana, não esconde que o Programa é a “menina de seus olhos”. “Trabalho com a parte de hortaliças e hidroponia e, apesar de recente, acredito seriamente que o Programa só tem coisas boas para acrescentar, tanto aos moradores da cidade quanto para aqueles que lidam diariamente com isso, como no caso dos instrutores”, afirma Ricardo, sem esconder o amor ao curso. Para o instrutor, a agricultura urbana proporciona, além dos efeitos terapêuticos e conhecimento sobre a importância da produção alimentar, o estimulo do convívio entre todos os integrantes da família. Sobre o assunto, Ricardo tem propriedade ao falar. “Tenho dois filhos e uma esposa e sempre que posso, planto algumas coisas em casa e sempre procuro realizar a atividade com a família unida. Outro ponto que eu gosto muito de destacar para as crianças é que não basta plantar, é necessário que elas cuidem daquela planta, que deem todo o cuidado necessário para que aquela planta sobreviva”, destaca Pereira. 49


AMBIENTE

Foto: Embrapa Solos

Plantio em nível.

Conservação

do solo,

uma prática sustentável e lucrativa

Manejo inadequado do solo podem causar degradações ao meio ambiente. Por: Geiseane Teixeira

A

aplicação do plano de manejo e conservação do solo e água ou plano conservacionista, inicialmente, requer a adoção de procedimentos referenciais, a partir dos quais as práticas se associam, ou seja, são realizadas. “As práticas conservacionistas sejam elas, mecânicas, edáficas ou vegetativas, são todas as medidas utilizadas para a conservação e o controle dos processos erosivos nas áreas ocupadas com as atividades agropecuárias”, explica o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Solos, José Ronaldo de Macedo. A erosão dos solos é um processo geológico, porém seu agravamento em solos agrícolas se deve à quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente, geralmente promovida e acelerada pelo homem. O plantio de árvores irá reestabelecer a 50

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funcionalidade do ambiente. Isso, em termos de aumento da retenção de água no solo, de regulador das nascentes, redutor de enxurradas, amenizando e equilibrando o clima, propiciando, assim, a conservação do solo contra a erosão. “O reflorestamento é, também, uma das formas mais eficazes para evitar que florestas nativas sejam usadas para produzir papel, móveis, carvão vegetal e chapas de madeira”, comenta o especialista.

Práticas vegetativas, edáficas e mecânicas As estratégias para conservar o solo resultam na melhoria das condiçwões da terra e na adaptação aos modelos de exploração adotados pelo agricultor. As práticas vegetativas são aquelas em que o produtor utiliza a vegetação para proteger o solo contra a erosão. As mais

comuns são o uso de plantas de cobertura viva e morta, o cultivo em faixas e a rotação de culturas. Em geral, essas práticas promoverão a formação de cobertura vegetal, evitando assim, deixar o solo desprotegido. As medidas de caráter edáfico são aquelas, que além de atuar na conservação do solo, mantém ou melhoram as condições de fertilidade do solo. Essas práticas envolvem a correção do solo pela calagem, adubações químicas, orgânicas e verdes. Esta última, por meio do uso de leguminosas fixadoras de nitrogênio com o corte na época de pleno florescimento. As práticas mecânicas são aquelas em que são construídas estruturas artificiais mediante a disposição adequada de porções da terra, com a finalidade de reduzir a velocidade do escoamento superficial das águas das chuvas, possibilitando a infiltração ou ordenando a retirada por meio de canais. Vale enfatizar que essas práticas envolvem o uso de maquinário agrícola para movimentação do solo e apresentam um custo financeiro ao produtor.

Manejo sustentável O manejo inadequado do solo causa degradação, que pode ser entendida como a deterioração das propriedades edáficas e tem como uma das principais causas a erosão. Este é um processo geológico, porém o agravamento em solos agrícolas se deve à quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente, geralmente promovida e acelerada pelo homem. “Seguindo as normas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), para recuperação das áreas degradadas é necessário fazer um Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) para fins de cumprimento da legislação ambiental”, afirma José Ronaldo. Nesse projeto deve constar o conjunto de atividades agropecuárias e de reflorestamento a serem executadas com a finalidade de recuperar a cobertura vegetal da área degradada. O objetivo principal é a recuperação do ambiente, garantindo a proteção do solo contra

José Ronaldo de Macedo - Pesquisador da Embrapa Solos

processos erosivos e o carregamento de partículas, acarretando o assoreamento de rios e córregos. Nesse plano deverão estar descritas as estratégias de curto, médio e longo prazos. As ações de curto prazo envolvem o diagnóstico socioeconômico e ambiental, no local da área a ser recuperada, com a caracterização ambiental que consiste, essencialmente, em: inventário e levantamento de dados e informações sobre as condições socioeconômicas sobre os meios físicos e bióticos e a hierarquização em prioridades de políticas públicas. Em médio prazo, as ações compreendem propriamente a execução do PRAD, envolvendo a execução do cronograma físico-financeiro, sistematização do terreno, preparo do solo adequado às normas técnicas, aplicação de corretivos agrícolas, início da coleta de sementes e a produção de mudas para o reflorestamento das áreas de proteção ambiental, ou seja, das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e da Reserva Legal, atendendo as exigências do atual código florestal. As ações de longo prazo compreendem as ações de monitoramento relativas às atividades executadas nas ações de médio prazo do PRAD. Durante o monitoramento deverão ser elaborados relatórios com os resultados obtidos. Nesse momento, deverão ser redefinidas as atividades que não estiverem apresentando resultados favoráveis, conforme definido no plano de execução. Os monitoramentos ambientais envolvem: monitoramento do solo, da qualida51


AMBIENTE Pastagem degradada (Voçoroca).

O especialista pontua que “é importante ressaltar que, dependendo da extensão da área a ser recuperada, a elaboração e execução do PRAD devem ser feitas por meio de uma equipe multidisciplinar, pois é necessário agregar diferentes profissionais com diferentes formações”. A integração das práticas conservacionistas tem gerado diversos sistemas de produção que apresentam manejos sustentáveis. Além disso, vale salientar que todo sistema sustentável deve considerar as variáveis ambientais, técnicas, econômicas e sociais. Assim, dentre esses manejos, tem-se o sistema de plantio direto na palha que contempla o preparo mínimo do solo e também a prática de rotação de culturas. de várzea ou floresta ripária, contribui para a conservação do solo. Dentre as principais funções, está o controle da erosão nas margens dos cursos d’agua. “Esse controle nas margens dos cursos d’agua, evita o assoreamento dos mananciais, redução dos efeitos de enchentes, manutenção da quantidade e qualidade das águas, auxilio na proteção da fauna local e o equilíbrio do cli-

Solo sob os efeitos de erosão .

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Sustentai

ma”, afirma o engenheiro agrônomo. Portanto, as práticas conservacionistas do solo permitem a agricultura sustentável, atingindo altos rendimentos, sem degradar o meio ambiente. Assim, é possível produzir atendendo os anseios sociais e econômicos da sociedade. Todas essas vantagens do sistema de plantio direto proporcionam redução dos processos erosivos. Os sistemas de integração lavoura-pastagem (SILPs) - têm sido muito utilizados para a recuperação das pastagens degradadas via cultivos simultâneos ou não de lavouras agrícolas. O pesquisador da Embrapa os define como sistemas produtivos de grãos, fibras, carne, leite, lã, e outros, realizados na mesma área, em plantio simultâneo, sequencial ou rotacionado, onde se objetiva maximizar a utilização dos ciclos biológicos das plantas, animais, e seus respectivos resíduos. Além disso, busca aproveitar efeitos residuais de corretivos e fertilizantes, minimizar e otimizar a utilização de agroquímicos, aumentar a eficiência no uso de máquinas, equipamentos e mão de obra, gerar emprego e renda, melhorar as condições sociais no meio rural e diminuir impactos ao meio ambiente, visando a sustentabilidade. Outro ponto importante é que a mata ciliar, também conhecida como mata de galeria, mata.

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AMBIENTE Fotos: Guiaecologico.com

Margens do Rio Meia Ponte repletas de lixo.

Meia Ponte e Ribeirão João Leite: Rios que fluem problemas Recursos hídricos de Goiânia e região enfrentam adversidades climáticas e ações humanas. Por: Carolline Alves Jaqueline Ferreira

A bacia do rio Meia Ponte é a mais importan- ocupação de áreas de preservação permanente do estado de Goiás. Sua área territorial cor- te, comprometendo a qualidade das águas. responde a 3,6% do estado Goiás, onde estão inseridos 39 municípios. A bacia se concentra Seca a maior parte da população goiana, aproximadamente 48. Com o tempo quente e seco em decorrênOutra bacia que rega o estado de Goiás é o cia da escassez de chuva sempre há queda no Ribeirão João Leite. Ele é essencial para a ma- nível do rio Meia Ponte o que causa problema nutenção da vida e indispensável insumo para de mau cheiro e exposição do lixo no trecho a agricultura, pecuária, indústria, comércio, urbano. O presidente do comitê da bacia do consumo doméstico, manutenção da fauna, Rio Meia Ponte, Marcos Correntino afirma flora e beleza paisagística nas cidades. que o problema é grave. “Em 1982 tivemos um Atualmente esses rios vêm recebendo ao lon- diagnóstico de que 90% era esgoto ou dejetos. go de toda a sua extensão contaminações por Mais de 30 anos se passaram e nada foi feito lixo e esgoto domésticos, detritos da agricul- para mudar essa realidade. O rio morre a cada tura e estabelecimentos industriais. Em decorrência se elevou o índice de desmatamento e Ribeirão João Leite poluído por dejetos.

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dia e quando chega à seca, toda a população Solução se lembra dele porque o mau cheiro incomoda. Mas sua situação é grave todos os dias do Para amenizar o problema do Meia Ponte, ano”. Correntino afirma que apenas com a volta do Já o Ribeirão João Leite enfrenta o desmata- período chuvoso. Ele explica que o mau cheimento em virtude do processo histórico dos ro é causado, principalmente, pela pouca vaprodutores, desde a época de café, há pelo me- zão do rio. “Sobra pouca água para diluir os nos 50 anos, e da pecuária, afirmou a Secreta- dejetos que a Saneago não consegue tratar e ria das Cidades e do Meio Ambiente (Secima) tem muito esgoto clandestino em Goiânia”. que tem procurado alternativas para diminuir Godoy, afirma que há um plano para solucioo impacto. “Esse é um problema complicado”, nar o problema de poluição e as ações serão pondera o superintendente da Secima, Bento coordenadas a médio e longo prazo. “Não é de Godoy. só retirar lixo e entulho. Precisamos de plano Godoy afirma que um projeto-piloto tem sido estratégico com muitos envolvidos e comprodesenvolvido na região de Ouro Verde e Neró- metidos, como estado e prefeituras”, afirmou polis. “Estamos trazendo o plantio de aproxi- o superintendente. madamente 800 mil mudas começando em Os Novos membros do Comitê da Bacia do 2016. Já fizemos o plantio no Parque Altamiro Meia Ponte serão escolhidos por votação em Pacheco de 100 mil mudas e plantaremos ain- dezembro. A partir daí, Godoy entende que da mais 200 mil este ano.” serão possíveis novos passos no sentido de coA cota do nível de água da barragem do Ri- locar em prática o estudo elaborado para dar beirão João Leite chegou a 90 centímetros a solução ao caso do rio. As custas desses ações menos que o registrado na mesma época no serão de responsabilidade da Saneago e da ano passado. Para a Saneago a estiagem pro- própria Secima. “Mas precisaremos de muito longada, aliada ao alto consumo por conta da empenho de órgãos municipais no sentido de onda de calor, resultou na queda no volume gerir a gestão da água e do ordenamento terdo reservatório. “No período entre maio e no- ritorial”, frisou Godoy. vembro dos anos de 2014 e 2015, houve uma O superintendente entende que há urgência queda na precipitação de aproximadamente para colocar as diretrizes, que ainda terão que 45%, um aumento na temperatura ambiente ser ajustadas, em prática. “Nossa meta é traçar da ordem de 4ºC e, na umidade, da ordem de uma política de estado, não de governo. Que10%”. remos chegar à classe 3 (quando a água ofereSobre o baixo nível do rio, Correntino acredi- ce condição de abastecimento e irrigação) em ta que exista a captação irregular da água no até 30 anos, inclusive na área metropolitana Meia Ponte. A Saneago alerta que a vazão do de Goiânia, onde seu estado é mais crítico”. rio varia muito em um intervalo de 24 horas, principalmente à noite, confirmando a capFonte: Google Mapa dos rios e córregos de Goiânia. tação irregular de água. Porém afirma que a situação não é drástica mas o quadro pode ser agravado. A Estatal encaminhou ofício para a Secima fazer uma varredura na região do Meia Ponte para entender o que pode estar causando essa redução. A assessoria da estatal diz que, por enquanto, não chega a ser drástica a redução, mas pode se agravar. 55


AMBIENTE Fotos: Walacy Neto

Mãos à obra

O Córrego Jambo (foto) é um dos afluentes do Rio das Pedras, em Itaberaí - GO.

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brilho apagado

Rio das Pedras, que corta a cidade de Itaberaí, é parte da história da região, mas sofre com os descuidos Por: Walacy Neto

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equenas pedrinhas podiam ser vistas no fundo daquele rio. Mas foram anos atrás. Possivelmente há cerca de 147 anos atrás. Quando a cidade de Itaberaí, no interior do Estado de Goiás, era conhecida como Curralinho. As pequenas pedrinhas brilhantes no fundo do rio foram o que de fato chamou a atenção dos exploradores bandeirantes que passaram por estas terras. Em tupi, Itaberaí quer dizer Rio das Pedras Brilhantes, mesmo nome que é dado ao rio que corta a cidade e que, antigamente (muito antigamente), era possível se ver sobre a ponte as pequenas pedras brilhantes no fundo do rio. A destruição do rio tem origem nessa época. As pedrinhas brilhantes, também conhecidas como pepitas de ouro, eram extraídas com o mercúrio, altamente prejudicial

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Assim como eu, nascido e criado na cidade, um grupo de pessoas também sentiu esse mal cheiro vindo de baixo da ponte. O grupo se reuniu e criou uma Organização Não Governamental (ONG) a fim de cuidar da nascente e das margens do Rio das Pedras. A Sociedade Ecológica de Itaberaí, ou Seíta é composta por quatorze moradores, políticos e comerciantes de Itaberaí que começam a se preocupar com as condições do principal rio que corta a cidade. A criação da Sociedade veio justamente da preocupação com o Rio das Pedras, devido ao descaso que as nascentes do rio sofrem e por este ser a principal fonte de água para Itaberaí e também para a Cidade de Goiás.

para os mananciais. Porém, com o desenvolvimento da cidade, o crescimento urbano e tudo mais que anda acontecendo no mundo atual, foi o que fez rio deixar de brilhar. Meu avô, José Antônia da Silva, conhecido na cidade como Zé Carreiro, diz, até hoje, que pescar no Rio das Pedras era algo tão comum quanto fazer compras no supermercado da esquina (que por sinal, leva o mesmo nome). Pacus, piaus, traíras, piranhas e uma diversidade grande de peixes que enchiam com fatura a mesa dos itaberinos. Outro dia, enquanto passava sobre a velha ponte (a primeira construída sobre o rio), não vi peixes nem pedrinhas. A água turva do Rio das Pedras me dá medo, pois é ele a principal fonte de abastecimento hídrico de Itaberaí e também da Cidade de Goiás.

A presidente da Seíta, Ana Fagundes, é graduada em Letras e Direito e pós-graduada em Língua Portuguesa. Moradora da cidade de Itaberaí, Ana afirma que vive na cidade “desde sempre”. Ana explica que o problema principal do Rio das Pedras são as nascentes. “Hoje às nascentes do Rio das Pedras estão bem comprometidas. São várias, por volta de 200, durante o curso do Rio”, diz. Uma das causas que pode ter resultado no desgaste das nascentes é o alargamento da cidade. Itaberaí é sede da Super Frango, uma das maiores fornecedoras de carne do país. Muitas pessoas, portanto, mudam para a região em busca de um emprego na empresa o que torna a cidade um imenso parque de loteamentos. Ana conta que uma das nascentes localizadas mais próximo da região urbana da cidade já foi totalmente engolida por um destes novos loteamentos.

A primeira iniciativa do grupo foi a nascente do Rio das Pedras. Apesar da simplicidade do gesto, a ação dos moradores teve grande significado na região. “O rio das pedras anda Restauração tão sujo que é difícil passar aqui perto. O povo não ta nem aí, joga lixo de cima da ponte e sai Formado em Ecologia pela Universidade Estade carro. Parece que não sabem que a gente dual de Goipas e mestrando pela UFG, Jáder bebe dessa água”, afirma Regina Célia Berga- de Castro, diz que o Rio das Pedras tem potenmini Gomes, a tesoureira da instituição. Ela cial para retornar ao que era. Jogo uma pedra mora na região próxima ao rio e logo que sou- dentro do rio. Lá de cima da ponte a pedra cai be da iniciativa dos moradores solicitou um devagar e entra na água. Várias ondas pequenas vão se formando a partir do centro, onde espaço para que pudesse colaborar. entrou a pedrinha. As ondas vão se prolongando até encontrar a margem esquerda do rio. Um pequeno toque na água gera uma movimentação em toda a dimensão do Rio das Pedras. Assim é o trabalho da Seíta. Pequeno e Integrante da Seíta coleta garrafas plásticas e lixo acumulado em uma das nascentes do rio. direcionado ele pode afetar toda a dimensão da cidade e melhorar a qualidade de vida de diversos moradores. Dessa forma, dentro de algum tempo, talvez, o rio volte a brilhar.

Tem pedras brilhantes naquele rio Viram os índios descansavam Tem raios de sol naquele fio De cabelos castanhos que aqui se banharam. Carlos Magno Alexandre Vieira

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Foto: Reprodução

Corra, ainda dá tempo de salvar o verde!

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Valorize a sombra ao fim da jornada.

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