Gabriel Bonetto - Nat Geo

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EDIÇÃO ESPECIAL AS MONTANHAS MAIS PERIGOSAS DO MUNDO

NEPAL: O ÚLTIMO CAÇADOR DE MEL

PARKOUR A ESCALADA DAS CIDADES GRANDES

A VIDA AO EXTREMO

SETEMBRO 2017




SUMÁRIO

SETEMBRO 2017 ANO 18 Nº210 REVISTA DA NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY

SEÇÕES EXPLORE AVENTURA PORTFÓLIO

REPORTAGENS 7

ESCALADA URBANA

O inicio de um esporte urbano que se inspirou nos demais esportes radicais. Parkour, a “escalada urbana”.

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FUGINDO DA ROTINA COMUM

Esse é o dilema da maioria dos alpinistas que arriscam suas vidas escalando montanhas enormes.

A sensação de voar bem de perto registrada pelos fotógrafos de Wingsuit.

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ESCALADA ATRÁS DO MEL

Colinas e montanhas altas para colher o melhor mel do mundo no Nepal. De geração para geração, as aldeias colhem esta iguaria a mais de um século.


Acreditamos no poder da ciência, da exploração e da reportagem para mudar o mundo.

ContentStuff PUBLISHER E DIRETOR-GERAL: Farnando Dias Martins EDITOR SÊNIOR: Ronaldo Ribeiro EDITOR DE ARTE: Roberto Sakai

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LADY DI: SUAS ÚLTIMAS PALAVRAS Em 1991, dentro do Palácio Kensington, em Londres, Diana, Princesa de Gales, participou de uma série de entrevistas secretas, gravadas com sua permissão por um amigo próximo em nome do jornalista Andrew Morton. Morton estava escrevendo um livro sobre Diana revelando como era a vida para uma das mulheres mais fotografadas do mundo. O público não sabia que Diana, Princesa de Gales, havia se casado com Sua Alteza Real, o Príncipe de Gales num momento de crise. Conheça os pensamentos e sentimentos de Diana em um momento muito específico de sua vida, onde apresenta um lado de uma história muito complicada... o lado dela. Contado inteiramente na voz da Princesa, muitas destas gravações únicas nunca foram exibidas anteriormente. 5 NATIONAL GEOGRAPHIC SETEMBRO 2017


ASSINE E GANHE UM BONÉ EXCLUSIVO O tubarão-mako é um tubarão encontrado em mares tropicais e temperados, usualmente a temperaturas acima de 16°C; o nome comum mais estendido em Portugal é o de tubarão-sardo e na Galiza, marraxo Pode chegar até 4,3 metros de comprimento, 580 kg e possui uma cor azul metálica. É considerado o tubarão mais rápido, sendo um excelente nadador e podendo chegar aos 88 km/h em curtas distâncias, ultrapassado em velocidade apenas pelo atum dourado e pelo marlim...

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EXPLORE PARKOUR

A ORIGEM DO PARKOUR Por Luiz Fujita

Nosso corpo e nossa mente funcionam de forma conjunta. Se o corpo está bem, a mente também está. Para manter nosso organismo sadio, é preciso uma alimentação equilibrada e saudável, além da pratica de esportes ou qualquer atividade física, bem como o uso da nossa mente em trabalhos como decoração, artes, leitura de um bom livro e assistir a um noticiário. A mente precisa de ocupação, assim como o corpo. Vamos conhecer uma modalidade de esporte, mas que para muitos é uma filosofia de vida. Trata-se do Le Parkour! Essa prática teve seu início na França por volta de 1980, por David Belle.

Ele cresceu vendo seu pai praticar exercícios relacionados às técnicas de combate de guerra, pois seu pai foi ex-combatente da Guerra do Vietnã. Sua técnica consiste em treinamento dado aos militares e ao método natural de educação física. David Belle adaptou e criou as técnicas para saltar obstáculos apenas com o movimento do corpo, superando seus limites e vencendo os obstáculos. Ele criou o “Le Parkour” que do francês significa “O Percurso”. O David, além de praticar esse esporte, também pratica artes marciais. Le Parkour é uma modalidade que significa a arte de deslocar-se de um ponto para o outro rapidamente, usando técnicas para saltar os obstáculos como rampas, escadas, muros, corrimãos, qualquer lugar onde se possa escalar de forma ágil.



EXPLORE

PARKOUR

EU NÃO SABIA QUE ERA CAPAZ DE FAZER ISSO! O Parkour não é um esporte, ou tampouco um esporte radical. Mais do que isso, buscamos lidar com nosso próprio corpo sem a dependência de acessórios, construir um corpo forte e duradouro, sair da zona de conforto e nos tornar sempre melhores. Melhores para nós e para o mundo ao redor, e não uma busca por riscos ou por adrenalina. Não há regras ou um juiz dizendo o que é certo ou errado, não há competidores fazendo você ganhar ou perder, é uma batalha interna entre você e o ambiente, ou de você contra você mesmo. Apenas você e o seu corpo ditam as regras. Uma atividade rica em experiências e valores para o desenvolvimento do ser humano em seu potencial. A superação de obstáculo treinada no meio físico se transfere para as mais diversas dificuldades que podemos encontrar em nossas vidas – “Eu não sabia que era capaz de fazer isso!” é uma frase comum de se ouvir dos iniciantes que vão descobrindo em suas habilidades um potencial inexplorado. Interagimos e reaproveitamos o ambiente ao nosso redor. Não dependemos de equipamentos. Buscamos ser fortes. Negociamos com nossos medos. Saímos da zona de conforto. Treinamos para ser e durar: Que sejamos fortes e que essa força dure por toda nossa vida. Buscamos maior autonomia em nossas vidas. Um momento de introspecção em nossas fraquezas, e busca pela melhora delas. Tudo isso de uma forma não esportiva que transcende o movimento, sem padronização, sem competição, só rendendo a você mesmo os frutos do seu esforço. A experiência do parkour não pode ser explicada, deve ser vivida. Basta ter vontade de superar seus obstáculos. -Por David Belle 9 NATIONAL GEOGRAPHIC SETEMBRO 2017


EXPLORE

PARKOUR


AVENTURA ESCALADA

“E os que dançavam foram considerados loucos por aqueles que não ouviam a música”. Nietzsche Por Viviane Durigon

Aposto que essa frase também resume o seu sentimento em relação a escalar. Quantas vezes você já deve ter sido questionado ou chamado de louco, destemido, inconsequente e por aí vai… Muitos tentam entender os motivos que levam estes “loucos” a encontrarem seu estado de espírito perfeito estando pendurados por uma corda, respirando o ar que as pedras ignoram misturado com a nuvem branca de magnésio, que entre um perrengue e outro pairam no ar. Pense aí, você lembra o que te levou a escalar? Talvez a ânsia pelo desconhecido, ou o desejo de encontrar no alto o sentido para a vida marasma que se arrastava lá embaixo, feito relógio sem pilha? Talvez a vontade de ir contra uma vida considerada “normal” e provar para si mesmo que em domingos a fio no conforto e proteção do lar nunca encontraria esta sensação de estar com o coração na ponta dos dedos e fazer com que cada pedacinho do seu corpo encontrasse a razão de existir? Uma coisa é certa, e isso todos nós aqui já sabemos, a vida pode sim ser mais que televisão e sofá, e

adrenalina pode ser muito mais que uma cena hollywoodiana cheia de efeitos especiais. Naturalmente cada um tem em si a necessidade de sentir-se parte do mundo e por sorte, muitos se sentem parte quando rodeados pela natureza, sentindo-se abraçados pelo arco-íris vivo de cores e sons que ficam lá esperando para contemplar nossa escalada. Poderiam ser várias outras atividades ou esportes, a escolha foi escalar. Aceitar que a escalada entre na sua vida é o primeiro desafio, é preciso estar disposto a entender que ela mudará seus hábitos, sua alimentação, sua rotina, sua consciência ambiental, seu corpo, ela exigirá de você disciplina, foco, tempo, mente e coração. Inclusive muitos dos seus amigos não entenderão sua ausência tampouco essa “cachaça” que programará sua agenda. Mas só assim você passará a entender que é você quem precisa da natureza e do que ela oferece e não o contrário, como arrogantemente a sociedade urbanista, materialista e egocêntrica vem tentando doutrinar. E quando você entende tudo isso e descobre que desse modo sua vida pode


ser mais plena, logo você está na rocha e entre um crux e outro, entre uma costurada e um suspiro de “Consegui!”, ou naquele momento que você chega na parada da via, grita para o seg “em auto” dá aquela olhada para a vista, sente como se o mundo desse boas vindas a você e finalmente entende-se a razão de tantas renúncias e tanto paixão por este esporte. Essa vida nova do coração acelerado, da respiração contida, da perna indomável quando a tremedeira começa é que faz pensar lá do alto: Eu não quero mais descer daqui! Ou melhor… eu quero sempre subir até aqui. Esse “aqui” você passa a chamar de VIDA…e essa decisão de LIBERDADE.


AVENTURA

ESCALADA

Sistema de Classificação: Nos Estados Unidos, os escaladores usam um sistema de classificação padrão para descrever a dificuldade nas diferentes rotas.

5,0 até 5,4

nível iniciante. Fácil de escalar, como uma escada.

5,5 até 5,7

nível intermediário. Escalável com sapatos normais ou botas, mas requer mais habilidade.

5,8 até 5,10

nível experiente. Requer calçados de escalada, experiência e força.

5,11 até 5,12

nível perito. Talvez apenas 10% dos melhores escaladores do mundo possam lidar com estas rotas.

5,13 até 5,14

nível elite. Apenas para os melhores dos melhores.

12 NATIONAL GEOGRAPHIC SETEMBRO 2017

Quando começou a ser praticado o montanhismo? Os europeus diriam que foi em 1786, com a conquista do Mont Blanc (4.808m), ponto culminante dos Alpes, na fronteira França-Itália. Mas, dependendo do que se considera montanhismo, pode até ter sido antes. Aliás, boa pergunta: o que se define por montanhismo? É quando se escala apenas por puro prazer e realização pessoal, ou também quando se é movido por razões religiosas, científicas, econômicas ou até militares? Alguns historiadores consideram a ascensão do poeta italiano Francesco Petrarca ao Mont Ventoux (1.912m), na França, em 24 de abril de 1336, como a primeira ascensão documentada de uma montanha com fins puramente pessoais – no caso, para fazer reflexões filosóficas -, sem desejo de conquista ou exploração. Petrarca descreveu com tanta riqueza de detalhes a beleza e os mistérios de sua jornada, que acabou sendo chamado de Pai do Alpinismo. Dois anos antes dele, em 1334, o filósofo Jean Buridan já havia feito o cume do Ventoux, a fim de buscar argumentos cosmológicos para seus escritos. Pouco depois, em 1358, Boniface Rostario d’Asti fez o cume do Rochemelon (3.557m) na região do Piemonte, Itália, que acabou se tornando local de peregrinação. Esta foi a primeira ascensão conhecida de um cume com mais de 3.000m nos Alpes. Mas, para outros estudiosos, foi Antoine de Ville quem fez o primeiro cume que de fato envolveu escalada,


AVENTURA

ESCALADA

indo além de uma simples caminhada de altitude, ao chegar ao cume do Mont Aiguille (2.087m) no maciço do Vercors, também na França, em 26 de junho de 1492. De Ville, no entanto, não escalou por motivação estritamente pessoal, já que o fez a mando do rei de França, Charles VIII. Fora do Velho Mundo, porém, há muitos relatos e comprovadas ascensões a cumes de montanhas desde épocas bem mais remotas. No Japão, por exemplo, o monge Em no Chokaku fez a primeira ascensão ao cume nevado do monte Fujiyama (3.776m) em 633, o que é considerado o primeiro relato escrito de uma montanha de altitude considerável. Já na América do Sul, os incas comprovadamente pisaram, entres outros, no cume do Llullallaico (6.723m), por volta do ano 1400, ou seja, mais de 100 anos antes da chegada dos colonizadores espanhóis. No entanto, os incas subiam aos cumes das montanhas para fazer oferendas aos deuses, tanto que no próprio Llullallaico foram encontradas três múmias de crianças muito bem conservadas, que hoje estão expostas no Museu de Arqueologia de Alta Montanha, na cidade de Salta, Argentina. Incas, monges japoneses, poetas e filósofos europeus à parte, o fato é que não está errado quem diz que o montanhismo começou de fato com a conquista do Mont Blanc, em 1786. A saga da conquista do Mont Blanc iniciou-se em 1760, quando o filósofo

e naturalista suíço Horace Bénedict de Saussure, natural de Genève, mas um apaixonado por Chamonix, ofereceu um prêmio em dinheiro para quem encontrasse uma rota viável até o cume da montanha, a mais alta dos Alpes. Saussure tinha por objetivo fazer medições científicas no cume da montanha. Várias tentativas foram feitas, sendo que em uma delas, até se ganhou certa altura, mas os ousados aventureiros voltaram, porque a ascensão deveria ser feita em apenas um dia. “As pessoas não acreditavam que fosse possível aventurar-se a passar a noite naquelas neves”, teriam dito a Saussure. Finalmente, às 18h23m do dia 8 de agosto de 1786, os franceses Jacques Balmat e Michel Gabriel Paccard, ambos naturais de Chamonix, pisaram o cume da montanha. Paccard, 21 anos, era médico de família rica, enquanto que Balmat, 34, tinha origem humilde, era guia de montanha e caçador de cristais nos Alpes. O que faz esta primeira escalada ao Mont Blanc ser considerada como o marco zero do montanhismo é que, antes dela, nada mudara no mundo em função das ascensões conhecidas, já que elas não geraram nenhum movimento. Até então, só o vento, os dragões e os deuses reinavam nas alturas. Após o Mont Blanc, as montanhas deixaram de ser reinos terríveis, onde ninguém sobrevivia, nem mesmo por uma só noite, e passaram a ser exploradas e conhecidas de fato. 13 NATIONAL GEOGRAPHIC SETEMBRO 2017



AVENTURA

ESCALADA

PRÁTICA DA ESCALADA Por Viviane Durigon

Há muitas maneiras de se praticar esse esporte, com modalidades para todas as idades, respeitando-se limites físicos: caminhadas de um dia em serras e morros, escalas em rochas, expedições a grandes montanhas geladas e perigosas e etc. Basta escolher de acordo com o gosto e referências. São muito diversas as modalidades do montanhismo assim como acontece em outros esportes, mesmo aqueles que nada têm a ver com aventura. As diferenças que existem entre cada tipo de escalada vão muito além das atribuições de cada montanha e da região onde ela está, como relevo e clima, e dos equipamentos necessários para cada situação. É preciso sempre levar em conta o preparo físico e as características psicológicas de quem escolhe o montanhismo. Deve-se procurar um equilíbrio entre vontade e possibilidade, procurando o tipo de atividade que melhor convém ao aspirante a montanhista.

Foto de um alpinista escalando um das partes da “cratera” mais famosas da America do Norte, Grand Canyon – Estados Unidos.

TIPOS DE ESCALADA Escalada tradicional Preso a uma corda, escaladores aos pares usando equipamento profissionais.

Escalada indoor Os escaladores usam estrutura de escalada interna feita de madeira compensada.

Escalada no gelo escala-se uma formação de gelo como uma cachoeira congelada ou uma geleira.

Bloco de rocha escala-se em blocos de rocha ou as laterais de chaminés e edifícios.


O começo de uma nova modalidade Foi nos anos 80 também que se começou a praticar o que hoje chamamos de escalada esportiva. O princípio foi tímido, com vias sendo escaladas em top rope, na Pedra do Urubu. Mas logo essa nova modalidade se desenvolveria, principalmente depois da conquista do Ácido Lático (VIIa), em 1983, por André Ilha, Marcelo Braga e Marcello Ramos, na Parede dos Ácidos. Até o final 16 NATIONAL GEOGRAPHIC SETEMBRO 2017

da década surgiram várias outras vias neste estilo, incluindo o primeiro VIIIc, a via Andrômeda, aberta em 1986 por Marcello Ramos e Pedrag Pancevski, no Morro São João, em Copacabana. Mas, a maior concentração de vias de grande dificuldade estava mesmo na Parede dos Ácidos e na Pedra do Urubu, local que servia como ponto de encontro dos escaladores esportivos ou


AVENTURA

ESCALADA

falesistas, como eram conhecidos. Entre eles estava Paulo “Macaco”, responsável por abrir três lances de IXa: o boulder Olhos de Fogo, no Grajaú, em 1987; o Expressão Corporal e o Urubu Sacana, ambos na Urca e cotados hoje em VIIIc. Na busca da evolução técnica, alguns equívocos com relação à ética foram cometidos, como a colocação de agarras artificiais na Pedra do Urubu. Esta foi a opção encontrada pelos escaladores locais da época para se criar uma via de IXb, o famoso grau 5.13a americano.

Este fato não se justificou por causa da grande quantidade de vias naturais de nono grau, ou até mais difíceis, que foram descobertas posteriormente em outras áreas da cidade, além da proliferação de muros artificiais. As agarras de plástico, como eram chamadas, foram então retiradas. Atualmente, a grande maioria dos escaladores abomina este tipo de via em rocha.


PANORAMA

NEPAL

OS ULTIMOS CAÇADORES DE MEL

No sopé da montanha do Himalaia, os destemidos homens de Gurugun arriscam suas vidas para colher os ninhos das maiores espécies de abelha do mundo: Apis dorsata. Originárias do Sul e Sudeste da Ásia as ‘Abelhas Gigantes’ habitam principalmente as áreas florestais.



Cada colônia é formada por um único favo vertical que chega a medir um metro quadrado e conter 60Kg de mel. Para chegar às grandes colmeias, é preciso enfrentar o vertiginoso vazio das falésias e a fúria das abelhas em escadas feitas de bambu.


O conhecimento da extração do mel das colmeias nas encostas do Himalaia foi passado de pai para filho durante milênios. Em toda a tribo, apenas 9 pessoas são capazes de percorrer o caminho até as abelhas gigantes, direito herdados de seus pais.


PANORAMA

NEPAL

Enquanto os caçadores mais tradicionais respeitam as regras, guias pouco preparados têm abusado da prática para atender a uma demanda cada vez maior de turistas

O mel da Apis dorsata não é do tipo que se vende em supermercados mundo afora. Ele contém um tipo de toxina natural e, se consumido em excesso (uma colher de sopa por dia é a recomendação máxima), pode causar alucinações, convulsões, vômito e até a morte. Não à toa é também conhecido como “mad honey”. As abelhas, porém, estão correndo um sério risco. Enquanto os caçadores tradicionais respeitam as regras, como caçar apenas duas vezes ao ano e nunca destruir as colmeias por inteiro, alguns moradores locais têm abusado da prática para atender a uma demanda cada vez maior de turistas. O excesso de visitantes em busca de uma experiência “autêntica” e guias pouco preparados com esse impacto têm feito com que as abelhas produzam cada vez menos. Uma caçada de outono, que costumava render 50 galões (190 litros) de mel há poucos anos, hoje rende apenas 20 galões (75 litros). E não é apenas a produção do mel que está sob ameaça, mas sim um ritual que tem raízes na crença local. Para os Gurung, a caça ao mel deve ser realizada em meio a uma série de cuidados para proteger a “alma” da floresta. Antes de se pendu-

rarem na escada para coletar o mel, as equipes fazem suas preces, acendem incensos e sacrificam um animal (um galo, por exemplo) para aplacar os ânimos dos deuses das montanhas. Para eles, a ausência dessa cerimônia pode levar a uma caça pouco produtiva ou até mesmo à morte de algum caçador. Se alguém é picado, se machuca ou morre no penhasco (já foram diversos casos), é porque não rezou o suficiente, segundo eles.

“Ali, ninguém pode cometer erros, para seu próprio bem e pelo bem dos outros. É muito arriscado. Você tem que tomar conta de tudo a todo momento e ser positivo em qualquer circunstância”, diz o fotógrafo francês Eric Tourneret à Status. Especializado em clicar a natureza, especialmente abelhas, ele é o autor das fotos que acompanham essa reportagem. Por intermédio de um apicultor e de um guia nepalês, e com a ajuda do comitê responsável pelo manejo das florestas da região, ele visitou o Nepal duas vezes para registrar a prática. “Ao arriscar a vida com alguém no penhasco, você desenvolve uma ligação muito humana e muito forte com essas pessoas”, diz Tourneret.





CALAFRIO NA ESPINHA As maiores montanhas do mundo para escalar ou apenas para olhar de longe apreciando a vista.


As 5 maiores se situam-se nas cordilheiras do Himalaia e do Karakoram, na regiĂŁo norte da Ă?ndia, sul da China (Tibete), PaquistĂŁo e Nepal. As montanhas foram grandes obras da natureza providas naturalmente, mas nas mĂŁos dos homens, se tornaram grandes desafios de coragem para escaladores, alpinistas e amantes de todas as nacionalidades.


5. Makalu É um pico isolado cuja forma lembra uma pirâmide de quatro faces. O Makalu é considerado uma das montanhas mais difíceis de se escalar em todo o mundo por causa de suas subidas íngremes e cumes afiados. Altitude: 8.485 m/ 27.838 pés.

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3. Kangchenjunga Situada na cordilheira do Himalaia, na fronteira entre o Nepal e a Índia. É a montanha mais alta do país indiano. Altitude:8.586 m/ 28.169 pés.

2. K2 É o ponto mais alto da cordilheira de Caracórum e o ponto mais alto no Paquistão e de Xinjiang. O monte é conhecido como “montanha selvagem” devido à extrema dificuldade de subida. Altitude:8.611 m /28.251 pés.


4. Lhotse Essa montanha tem uma ligação com o monte Everest pela coluna sul, dada essa proximidade, ela tem um baixo valor de proeminência topográfica. Altitude:8.516 m / 27.940 pés.

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1. Monte Everest É a montanha mais alta da Terra. Seu pico está a 8.848 metros acima do nível do mar. O monte está localizado na cordilheira Mahalangur Himal. O local atrai muitos alpinistas, alguns deles experientes. Existem duas rotas principais de escalada. Altitude: 8.848 m/29.028 pés.


PORTFÓLIO

DIÁRIO DE UM FOTÓGRAFO

MEDO DE ALTURA Os fotógrafos que se aventuram junto com os atletas nos saltos de wingsuit.

Não é de hoje que o homem, pelo menos alguns de nós, tem a vontade de voar como os pássaros. Se o paraquedas, a asa-delta ou o parapente não causam fortes emoções em você, espere para conhecer o wingsuit.


31 NATIONAL GEOGRAPHIC SETEMBRO 2017


PORTFÓLIO

DIÁRIO DE UM FOTÓGRAFO

Esse traje foi desenvolvido para que o paraquedista tenha um controle maior sobre o seu voo, baseando-se em leis da Física com um toque de tecnologia. A roupa especial permite que a pessoa que o utiliza consiga percorrer grandes distâncias e passe muito (muito mesmo) perto do solo. Os fotógrafos arriscam as suas vidas para registrar esse momento que pode ser considerado único. O perigo é real e assustador, mas o resultado são fotos incríveis. 32 NATIONAL GEOGRAPHIC SETEMBRO 2017




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