O Soldadinho de Chumbo - Hans Christian Andersen

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Hans Christian Andersen Ilustraçþes: Patrick Nascimento





Hans Christian Andersen

Ilustraçþes: Patrick Nascimento


Título Original: Den standhaftige tinsoldat (1838) Tradução: Pepita de Leão Capa, projeto gráfico e diagramação: Gabriel Capitaneo Patrick Nascimento Revisão: Renato Deitos

A864p Andersen, Hans Christian, 1805-1875. O soldadinho de chumbo / Hans Christian Andersen; tradução de Pepita de Leão. -- Porto Alegre: Editora da Universidade, 2016. 8 p. ; 21 cm 1. Ficção Infantil. 2. Andersen, Hans Christian. I. Título. II. Série.

CDD 028-5 CDU 087-5

Catalogação elaborada por Izabel A. Merlo, CRB 10/239 © Editora da Universidade, 2016 Todos os direitos desta edição reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do SulRua Ramiro Barcelos, 2500 | Porto Alegre, RS, Brasil | CEP 90035-003Fone/fax +55 (51) 3308-5645 | admeditora@ufrgs.br ISBN 978-85-060-7621-7 Impresso no Brasil




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ra uma vez vinte e cinco soldados de chumbo, todos iguais, por terem sido feitos da mesma velha colher de chumbo. Que boa presenรงa a deles, de arma ao ombro, olhar fixo e uniforme 09


hans christian andersen Foram oferecidos como presente de aniversário a um rapazinho que batia palmas cheio de alegria e agora entretinha-se colocando-os em fila sobre a mesa. Os soldados eram perfeitamente iguais, exceto um, que só tinha uma perna: tinha sido o último a ser moldado e o chumbo não fora suficiente para o terminar. No entanto, conservava-se em pé como os outros, sobre a sua única perna. A mesa onde se encontravam os nossos soldadinhos estava cheia de outros brinquedos, mas aquele que despertava mais atenção era um castelo de cartão. Em frente do castelo erguiam-se arvorezinhas em redor de um espelho que imitava um lago, onde cisnes de cera nadavam. Tudo isto era muito bonito, mas o mais belo era uma menina pequenina que estava de pé, à porta do castelo. Era também de cartão, mas tinha vestida uma saia de tule e sobre as costas, uma 10


o soldadinho de chumbo fita azul, estreita, no meio da qual cintilava uma lantejoula enorme, do tamanho do seu rosto.

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o soldadinho de chumbo A menina era bailarina. Tinha os braços estendidos e levantava tanto uma das pernas no ar que o soldadinho de chumbo não a conseguia ver e, por isso, julgou que a menina, tal como ele, só tinha uma perna. Apaixonou-se imediatamente. Escondeu-se atrás de um tubo de varetas. Dali podia contemplar à vontade a elegante bailarina que se apoiava sempre numa só perna. À noite, os outros soldados foram arrumados na caixa, e as pessoas da casa foram dormir. Os brinquedos começaram imediatamente a brincar. O palhaço dava cambalhotas e o lápis saltava em cima da mesa. Só o soldado de chumbo e a bailarina permaneciam quietos.

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No dia seguinte, quando as crianças se levantaram, puseram o soldado de chumbo na janela. De repente, levado pelo vento, caiu do terceiro andar de cabeça para baixo. Que terrível queda! O menino desceu à sua procura. Quase o pisou, mas não o viu. Se o soldado tivesse gritado “Estou aqui!” o teriam encontrado. Mas ele julgou que, assim, desonraria o seu uniforme. Começou a chover forte, um verdadeiro dilúvio. Passada a chuva, chegaram dois garotos. Um deles gritou: – Olha! Olha! É um soldado de chumbo! Vamos pô-lo a navegar! Fizeram um barquinho de papel, meteram dentro o soldado de chumbo e fizeram-no descer o regato da valeta, enquanto corriam e batiam palmas. O barco de papel andava aos solavancos, mas, apesar disso, o soldado de chumbo continuava impassível, com o olhar fixo e a arma ao ombro. De súbito, o barco foi levado por

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hans christian andersen um canal escuro. “Para onde irei?” – pensou o soldadinho. “Se a menina estivesse aqui comigo, a escuridão não me incomodaria.” Nisto, apareceu uma ratazana que morava no canal. – O teu passaporte! – exigiu a ratazana. – Anda! Mostra o passaporte! O soldado não disse uma palavra e apertou a espingarda contra o corpo. O barco continuou e a ratazana foi atrás dele, rangendo os dentes e gritando à sujeira que boiava no regato:

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– Prendam-no! Prendam-no, porque não pagou a alfândega e não mostrou o passaporte! Mas a corrente aumentava cada vez mais. O soldado já avistava a luz do dia e ouvia

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hans christian andersen também um barulho capaz de intimidar o homem mais valente. O canal ia dar em uma queda de água que, se era perigosa para nós, muito mais o era para o soldadinho. Impossível parar. Caíram a embarcação e o pobre soldado, imóvel. O barquinho, depois de duas ou três voltas, afundou. O soldado pensou na linda bailarina que nunca mais tornaria a ver. De repente, foi devorado por um grande peixe e viu-se numa escuridão muito mais profunda do que a do canal! E como estava apertado!

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hans christian andersen Mas, intrépido como sempre, o soldado de chumbo estendeu-se ao comprido, de arma ao ombro. O peixe agitava-se em todos as direções e fazia movimentos bruscos. Parou finalmente e um relâmpago pareceu atravessá-lo. O dia raiou enfim, e alguém exclamou: – Olha! Um soldado de chumbo!

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hans christian andersen Tinham pescado o peixe, exposto no mercado, vendido e levado para uma cozinha. A cozinheira o abriu com um facão. Ao ver o soldado de chumbo, levou-o para a sala onde todos foram contemplar aquele homem notável que viajara na barriga de um peixe. Todavia, o soldado não se envaideceu com isso. Puseram-no em cima da mesa e – espantoso! – percebeu que estava na mesma sala de onde caíra desastradamente. Reconheceu as crianças e os brinquedos que estavam em cima da mesa, o encantador castelo com a linda bailarina, sempre de perna no ar. O soldado de chumbo comoveu-se tanto que choraria lágrimas de chumbo, se isso não fosse inconveniente. Contemplou-a. Ela contemplou-o também, mas não disseram uma só palavra.

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o soldadinho de chumbo De repente, um menino, sem mais nem menos, atirou o soldadinho na lareira. E viu-se o soldado de chumbo em pÊ, iluminado por uma luz intensa, sofrendo um horrível calor. Fitava sempre a linda bailarina e ela tambÊm o fitava. Sentia-se derreter, mas, valente, conservava sempre a arma ao ombro. De repente abriu-se uma porta e o vento arrastou a bailarina, que caiu na fogueira onde ardia o soldado e com ele desapareceu nas chamas. No dia seguinte, quando a criada levou as cinzas, encontrou um coração de chumbo brilhante como uma lantejoula.

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O dinamarquĂŞs Hans Christian Andersen (1805-1875) ĂŠ considerado o pai da literatura infantil. Nesta histĂłria, um soldadinho corajoso e diferente apaixona-se por uma linda bailarina de papel.

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