Dogs HEROÍNA DO ESPAÇO Laika: Da Terra ao espaço.
Ele já foi o seu amigo. Agora ele virou o seu filho.
Por que tratamos os cães como seres humanos e o que há por trás dessa nova revelação social e afetiva. 1
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Algo de novo no reino dos humanos.
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A evolução dos cães até se tornarem animais de estimação
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A heroína do espaço Laika: Da Terra ao espaço
A varibilidade fetípica dos cães
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ALGO DE NOVO NO REINO DOS HUMANOS
Eles estão ao nosso lado há 14 mil anos, mas nossa relação nunca foi tão intensa. Suas biografias viram best sellers, gastamos bilhões para agradá-los e vivemos chamando-os de “filhos”. Afinal, quem é dono de quem?
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Vale a pena saber de algumas situações que os lobos jamais poderiam imaginar que os seus descendentes - sim, os cães vêm deles - viveriam neste século 21. Os norte-americanos, por exemplo, desembolsam US$ 41 bilhões por ano com seus bichos. Mais do que o montante que gastam para ver filmes (US$ 10,8 bilhões), jogar videogame (US$ 11,6 milhões) e ouvir música gravada (US$ 10,6 milhões). Note que, nem somadas, essas indústrias conseguem ser páreo para o movimento no mercado pet. “Marley e Eu”, de John Grogan, foi o livro de nãoficção mais vendido do mundo em 2006. Mais do que um objeto de adoração, os cães viraram parte da família humana. Tanto que cada vez mais casais adiam a chegada dos filhos - às vezes, indefinidamente - para curtir seus animais de estimação. Reflexo disso é o dado no mínimo curioso que dá conta de que 42% dos cães dormem na cama com seus donos nos EUA. Apesar de não apresentar números tão surpreendentes, o Brasil é vice mundial em mercado pet. Com crescimento de 20% ao ano, as 20 mil pet shops nacionais movimentaram US$ 1,5 bilhão no ano passado. Isso ajudou a manter felizes e saudáveis os 28 milhões de cães que vivem por aqui. Pronto. Tudo isso dito, agora você já pode mergulhar na incrível história de amor de 14 mil anos entre humanos e seus mais fiéis parceiros.
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A EVOLUÇÃO DOS CÃES ATÉ SE TORNAREM ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
O melhor amigo do homem é descendente dos lobos. No começo a amizade não foi fácil, explica especialista.. Os cães são animais totalmente adaptados ao convívio com os seres humanos, mas para chegar ao estágio atual, os animais passaram por diversas fases evolutivas. Uma história que começou há cerca de 20 mil anos, quando ainda nem latiam e não podiam ser considerados cachorros. Na primeira reportagem da série “Mundo Pet”, o TEM Notícias mostra como foi esse processo. Os cães que conhecemos são descentes dos lobos, o que muita gente discute é como parte deles se aproximou do homem e acabou domesticado. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cinófilos (Sobraci), são várias teorias e, segundo o vicepresidente da instituição, esse laço histórico teve um início ruim. “Não foi uma amizade com um começo fácil. Era um jogo de interesses para ambas as partes”, afirma Éric de Moraes Bastos. As teorias apontam que os alguns lobos andavam atrás dos homens para se aproveitar dos restos de comida. Instintivamente eles perceberam que ao lado das tribos teriam alimento fácil e passaram a dividir o território. Com os lobos por perto, os homens viram que estavam mais protegidos de ataques de outros animais e permitiram a aproximação. Com o tempo, os filhotes das gerações futuras dos lobos não caçavam mais sozinhos e tinham o homem como única fonte de alimentos. Foi aí que começou uma das amizades mais longas e sinceras do planeta: o cão e o homem. “O cão precisa enxergar o homem como sendo o seu macho alfa e isso começou nesta época. Quanto mais o filhote percebe a presença do homem, mais ele entende como somos ‘lideres’ deles. Um protetor e provedor de alimento, tudo na base da troca”, explica Éric. Nos anos que se seguiram, os homens deixaram de viver somente da caça e passaram a explorar a agricultura e a criar os animais que comeriam nas refeições, como ovinos
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e bovinos. Os cães perderam a função e tiveram que se adaptar. Passaram de caçadores a pastores. Para isso, foi feita mais uma seleção genética. Era preciso cruzar somente os cães que tinham menos propensão de comer os rebanhos e eles passaram a trabalhar. “Enquanto o pastoreiro você precisa de um cão forte que imponha respeito frente ao bando, não pode se trabalhar com um animal que tem uma agressividade maior. Ele tem que ser territorialista sem demonstrar perigo para o rebanho”, ressalta o vice-presidente da Sobraci. Segundo o adestrador Duval Ramos, o rottweiller, como conhecemos hoje, era um cão usado para cuidar de rebanhos de gado. “Ele foi desenvolvido para ser um cão boiadeiro, mas ele é adaptado para o trabalho de guarda. Assim como quase todas as raças, com exceção do doberman que tem uma propensão genética muito maior para a função, todos trabalham com a segurança”, comenta o adestrador.
Carvalho e Alinda Silva. O casal mora em um apartamento e encontraram a cadela Gioconda abandonada em um parque. O coração falou mais alto, eles levaram o filhote pra casa e nunca mais se separaram dele. No entanto, em 10 meses, o apartamento ficou pequeno para o animal. “Com cinco meses ela já estava com 20 quilos. É bastante coisa e ocupa muito espaço”, comenta Aline. Segundo os especialistas, é preciso pensar que antes de ter uma raça. A espécie, os ancestrais falam mais alto e uma das saídas para aliviar a tensão é o adestramento. Com um pouco de treino e paciência, qualquer animal, independentemente da raça, pode se transformar em um cão obediente. Na mão de um profissional, alguns animais podem fazer coisas inacreditáveis. Como, por exemplo, andar em um skate. Além de andar de skate, eles aprendem a rezar, fingir de morto, até fazer uma cesta. Os maiores gastam energia fazendo agilit, um percurso onde os cães realizam tarefas de equilíbrio, obediência e habilidade, tudo para gastar energia.
Animal de estimação A humanidade seguiu evoluindo e o cão virou apenas um animal de estimação. Em sua maioria, integrantes da família, mas sem nenhuma função econômica. Não comem mais carne crua e sim ração desenvolvida especialmente para eles. Hoje, as antigas feras são o que chamamos de PET: conceito nascido na Escócia, no século 14 e que significa basicamente animal domado. A mudança é tão drástica, que o animal que ainda carrega 98% do DNA dos lobos tem que sobreviver em espaços cada vez menores. Uma adaptação que não é fácil, demora anos, e nós estamos vivendo as consequências. É o caso de Vitor
Mudanças e modismo Diante da evolução e da mudança do papel dos cães na sociedade, muitas raças acabaram extintas e outras ficaram deformadas. Um caso curioso é o do Turnspit Dog, um cão europeu que foi criado com apenas uma finalidade: girar o espeto de carne durante o churrasco. “Veio a modernidade e o homem percebeu que era fácil virar o espeto. Com isso, simplesmente acabaram com a raça. E é assim que a gente pode perceber como não havia carinho naquela época”, conta Éric.
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Os cães entram e saem de moda como roupa. Quem passou pelos anos 1980 conviveu muito com os pastores alemães, que hoje não são tão populares. O Pequinês também era febre e acabou esquecido. Os filmes com cães colaboram para esse modismo. Lendas urbanas também podem fazem uma raça sumir. Uma mentira sobre o Doberman colaborou e muito para que eles praticamente desaparecessem.“É difícil entrar cachorros dessa raça hoje em dia. Nos anos 1980, ele era uma febre e todo mundo queria um, mas criou-se o mito de um cão assassino”, lembra o vicepresidente da Sobraci.
No momento da escolha Na hora de ter um cãozinho é preciso conhecer a raça e o temperamento do animal. É sempre bom ter em mente que cachorro não é uma regra matemática. Ou seja, nem todo bordercollie é inteligente, nem todo labrador é dócil, nem todo pitbull é violento. “Não é porque aquela determinada raça é muito calma que não possa existir um deles que não seja agressivo. Tem que pesquisar bastante”, explica Ana Paula.
s bulldogs merecem destaque. Eles não sumiram, mas passaram por drásticas transformações. A raça foi criada por açougueiros ingleses há quase 1 mil anos exclusivamente para batalhas sangrentas nas lutas com touros. Com a proibição das lutas, no fim do século XIX, a raça quase desapareceu.
É o exemplo de uma família de Bauru. O Uru é um fila brasileiro extremamente dócil e assusta somente pelo tamanho. No entanto, Agatha e a Mila, dois cachorro da família com a mesma raça e a mesma criação são muito mais agressivas. “Tem que separar porque elas não conseguem ficar juntas. No começo a gente tentou, mas tinha briga de tirar sangue uma da outra e correr para veterinário. Resolvemos com cada uma no seu espaço”, conta Cláudia Sartorri Hilsdorf.
A saída foi criar somente os mais dóceis de cada ninhada. Por estética, diminuíram o focinho, ele ficou mais baixo e engordou. Essa mudança trouxe problemas para os animais da raça. “Ele tem a pele mais grossa, um acúmulo de gordura e o focinho muito achatado, o que dificulta muito a respiração. E é na troca de ar que os cachorros fazem o resfriamento do corpo, como ele não consegue fazer isso direito, passa muito mal durante o calor”, aponta a médica veterinária Ana Paula Guerra.
Mas segundo os especialistas é possível prever a personalidade do animal quando eles ainda são filhotes. É preciso tomar a decisão correta naquela hora difícil de escolher um entre muitos na ninhada. “Ele tem que olhar o cão que não tenha essas atitudes e impulsos mais aflorados. É possível diferenciar um cão mais tranquilo, que não precisa ser inseguro, mas com um nível de atividade menor do que outro irmão dele”, ressalta o adestrador Duval Ramos.
Ricardo Fischer, armador do Bauru Basquete é dono do bulldog Barthô e ele sabe da dificuldade que é criar um cão dessa raça. “Ele só consegue passear quando escurece, tem que ter um ventilador individual e tem que secar bem as dobras perto dos olhos. Além disso, a alimentação é balanceada”, conta o jogador.
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A VARIABILIDADE FENOTÍPICA DOS CÃES
Tão variada quanto no tamanho, a espécie canina também apresenta diversas caraterísticas físicas. A família Canidae possui 13 gêneros e 37 espécies. Oficialmente a FCI agrupa os cães em onze grupos de raças oficiais, que podem variar de país para país, já que cada organização internacional admite diferentes grupos para a classificação do conjunto de raças que reconhece. O agrupamento oficial, considera no mesmo grupo os cães que realizam o mesmo tipo de trabalho ou que tenham a mesma semelhança física. Com isso os cinófilos passam a ter mecanismos que facilitam o julgamento da estrutura e dinâmica dos exemplares nas exposições de conformação. Os grupos organizam as raças com particularidades e utiliadades similares, ou seja, pela sua função. A classificação da FCI é:
Grupo 01: cães pastores e boieiros (exceto boieiros suíços)
Grupo 02: tipo pinscher e schnauzer, molossóides e boieiros suíços Grupo 03: terriers Grupo 04: dachshunds Grupo 05: spitz e do tipo primitivo Grupo 06: sabujos farejadores e raças semelhantes Grupo 07: cães apontadores e de parar Grupo 08: cães d’água, levantadores e retrievers Grupo 09: cães de companhia Grupo 10: lebréus ou galgos Grupo 11: raças não reconhecidas pela FCI, como american pit bull terrier, dogue brasileiro, ovelheiro gaúcho e o bulldog americano
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Dentro destes grupos estão classificadas as mais de 400 raças ao redor do globo. Na prática, o homem classificou o cão de uma forma muito mais simples, que podem ser enumeradas em seis agrupamentos básicos de acordo com sua utilidade:
Caça: spaniels, setters, retrievers, pointers; Companhia: buldogue, pequinês, pug, chihuauhua; Pastores: alemão, collie, border collie; Sabujos: foxhound, basset, beagle, dachshound; Terriers: fox, pitbull, yorkshire, pinscher; Guarda e utilidade: doberman, rottweiller, dálmata, husky. Esses grupamentos remetem ao tipo de trabalho à para qual o cão foi selecionado através dos cruzamentos iniciais, no início da domesticação.
Cão de guarda Para o veterinário Bruce Fogle2, explica que o primeiro papel de trabalho do cão junto ao homem foi o de “sentinela em acampamentos”. Os pequenos filhotes de lobo, que foram criados no acampamento, respeitavam quem cuidava deles como se fosse parte da matilha. Assim, o homem se beneficiou da excelente audição, olfato e visão periférica do cão que avisavam sobre perigos de animais ferozes e de pessoas intrusas. Até hoje o sentimento de proteção fornecido pelo cão é umas das principais razões pelas quais nós queremos tê-los por perto.
Cão de guarda.
Cão de pastoreio e gado Para Dr. Bruce2 um cão protege a família quando são criados com essas pessoas desde filhote. Da mesma forma, se criado com gado desde cedo, protege o rebanho, ao invés de caçá-lo. Antigamente grandes mastiffs já trabalhavam como pastores nas regiões montanhosas onde o gado estava desprotegido contra lobos e ursos.
Cão de pastoreio.
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Caça guiada pela visão Outro sentido presente no cão, que foi selecionado pelo homem para trabalhos específicos, foi a visão periférica do cão. Dr. Bruce explica que geneticistas provaram que raças de grande visão periférica, tais como Salukis e Afghans, são de fato muito antigas. Estes cães foram utilizados como auxiliares na caça e eles faziam isso por vontade própria, pois cães socializados por pessoas acompanhavam homens que deixavam o acampamento para a caça. Com os sentidos excepcionais e uma velocidade exemplar, ajudavam a detectar e capturar a presa. Esse foi o trabalho principal dos cães até à invenção das armas de fogo. Campo de visão do cão
Caça guiada pelo olfato Apesar de seu campo de visão ampliado ser de muita utilidade, nada superou a descoberta do poder do olfato canino – assim nasceu a caça guiada pelo cheiro. Dr. Bruce2 explica que essa habilidade foi amplamente melhorada pelo homem que compreendeu que podia interferir seletivamente nos cruzamentos caninos a fim de melhorar o desempenho de certos sentidos. O autor exemplifica que, ao obter pernas curtas num cão, o homem aumentava a suprema habilidade de localizar presas. O nanismo, encurtamento de ossos longos, diminui a velocidade de um cão permitindo que eles sejam úteis em regiões montanhosas e florestais da Europa, onde só era possível a caçar a pé.imageBasset Hound, exemplo de raça anã utilizada para o faro.
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Essa teoria é comprovada pela falta de cães anões em regiões como a Índia e a Arábia, onde homens caçavam à cavalo por áreas vastas.
Basset Hound, exemplo de, raça anã utilizada para o faro.
O trabalho pela força Os cães também já foram muito utilizados pela força de seus músculos. Bruce conta que antigamente havia cães turnspit, cujo trabalho era girar o espeto onde a carne assava.
Turnspit dog, espécie de roldana movida à cães.
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Turnspit dog .
Na América do Norte, índios usavam cães para puxar cargas. E, claro, não podemos nos esquecer dos cães de trenó, indispensáveis, até os dias atuais, para os moradores de região ártica. Cães Huskys Siberianos em competição de Mushing.
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Funções lamentáveis Algumas funções caninas, ainda presentes no mundo de hoje são lamentáveis. Na China, Coréia e Filipinas cães são utilizado como alimento humano regularmente. São bilhões de cães comidos todos os anos. Inclusive eles acreditam que a carne canina melhora o desempenho sexual do consumidor. De sorte, instituições envolvidas com o bem estar animal vem desenvolvendo campanhas para exterminar esse costume abominável. Outra atividade canina desprezível que felizmente é proibida no Brasil pela lei de crimes ambientais é a briga de cães, porém é muito comum em países do Afeganistão.
Brigas de cães no Afeganistão.
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A HEROÍNA DO ESPAÇO Laika: Da Terra ao espaço 16
Laika foi enviada ao espaço quando não havia ainda tecnologia para voltar à Terra. A morte dela era certa...
Há exatos 60 anos, um ser vivo deixou, pela primeira vez, o planeta Terra rumo ao espaço: a cachorrinha Laika, lançada no satélite russo Sputnik 2, em 3 de novembro de 1957. A pioneira de quatro patas não retornou. Tornou-se a primeira “vítima” das aventuras espaciais, encabeçando uma lista que aumentaria ao longo do tempo com outros bichos e seres humanos. Entre 1948 e 1961, 48 cães, 15 macacos e dois coelhos abriram caminho para descobertas no espaço, sendo que 27 deles morreram em acidentes e devido a circunstâncias imprevistas durante a empreitada. Laika foi o único animal deliberadamente enviado para uma morte certa longe da Terra.
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Corrida espacial No auge da Guerra Fria, o líder soviético Nikita Khrushchev, que assumiu o comando da União Soviética dois anos após a morte de Josef Stálin, se engajou em uma corrida espacial contra os Estados Unidos - uma disputa de poder amplamente exposta em propagandas nos dois países. Os dois impérios tentavam ampliar suas esferas de influência no mundo. “Conquistar o espaço” seria uma demonstração de força, tecnologia e desenvolvimento. Se, por um lado, Khrushchev alocou enormes somas de recursos para a pesquisa espacial, a pressa impedia um trabalho sistemático e detalhado. O primeiro satélite russo desocupado entrou em órbita no dia 4 de outubro de 1957. Entusiasmado, o líder da União Soviética exigiu do engenheiro responsável programa espacial, Sergey Korolev, algo “espetacular” para o 40º aniversário da revolução comunista. Korolev propôs, então, enviar um cachorro ao espaço. Como, àquela altura, eles não tinham tecnologia suficiente para garantir o retorno do satélite, o animal estaria sendo enviado para a morte.
Grupos de defesa dos direitos dos animais protestaram após saberem que Laika havia morrido
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O pesquisador Alexander Nikonov sugere que Khrushchev tenha concordado porque nunca teve um cachorro na vida. Durante muitos anos, o governo soviético divulgou a notícia de que Laika teria morrido, sem dor, após uma semana em órbita. Mas hoje já se sabe que o cão morreu seis horas após o lançamento, da combinação de problemas respiratórios e uma parada cardíaca após o superaquecimento da cabine. A primeira evidência das circunstâncias da morte foi apresentada em 2002 no World Space Congress, em Houston, no Texas, por Dimitri Malashenkov, do Instituto para Problemas Biológicos de Moscou.
Cães espaciais Alguns critérios eram seguidos para a seleção dos cães que poderiam ser enviados ao espaço. Primeiro, por causa do tamanho do foguete, o animal deveria ter até no máximo 7 kg. Cães de raça e com pedigree foram considerados mimados demais e incapazes de alcançar bons resultados nos cursos de “sobrevivência em situações graves”. Portanto, o “esquadrão de cães cosmonautas” foi recrutado, principalmente, nas ruas. Laika, por exemplo, zanzava pelas ruas de Moscou quando foi recrutada. Os especialistas preferiam trabalhar com fêmeas, por considerá-las mais disciplinadas, e os animais de pelo liso eram considerados mais adequados para a instalação de sensores.
Contêiner de tamanho semelhante à capsula foi usado antes do lançamento, para que Laika se acostumasse a ficar quase imobilizada, num ambiente pequeno.
Dos 10 candidatos pré-selecionados para o teste final - resistência na câmara de pressão centrífuga -, três se sobressaíram: Albina, Laika e Mukhu. Albina estava grávida, Mukhu foi rejeitada por ter curvas não fotogênicas nas patas. Laika foi escolhida para morrer no espaço e entrar para a história.
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Cápsula do tamanho de uma máquina de lavar O Sputnik 2 não foi tecnicamente projetado para pousar. Era um cilindro de cerca de 4 metros de altura e 2 metros de diâmetro. Laika estava em uma cápsula do tamanho de uma máquina de lavar roupa, com um dispositivo para regeneração química do ar e um alimentador automático que abria, duas vezes por dia, a tampa de um recipiente com uma mistura de nutrientes gelatinosos. Cirurgiões implantaram nas costelas de Laika um sensor para medir respiração. Um sensor para medir o pulso foi implantado na artéria carótida. Também foram ativados dispositivos para medir temperatura, pressão e realizar cardiogramas. Nos últimos dias antes do lançamento, a cadelinha foi colocada em uma cápsula todos os dias, por várias horas, para que se acostumasse com a situação.
Laika foi treinada por várias semanas para ir ao espaço, mas morreu poucas horas depois do lançamento por causa de um superaquecimento da cápsula
A morte Os sensores implantados em Laika mostraram que, durante o lançamento, o ritmo do batimento cardíaco da cadelinha aumentou muito, ficando três vezes acima do batimento em estado de repouso. Demorou três vezes mais tempo para o pulso voltar aos níveis pré-lançamento do que tempo registrado em testes centrífugos feitos com ela antes do lançamento - um indicador do alto grau de stress sofrido por Laika no trajeto ao espaço. Sensores de temperatura mostraram que a umidade e temperatura da cápsula onde o cachorro estava aumentaram pouco após o início da missão. A temperatura chegou a ultrapassar 40 graus. Seis horas depois da decolagem, os sensores registraram a parada cardíaca de Laika. Estava claro que a cadelinha havia morrido em decorrência do superaquecimento da cabine e do stress.
A Nasa usou macacos em várias viagens espaciais; oito deles morreram
O satélite com o corpo de Laika fez 2.370 voltas em órbita e pegou fogo ao entrar na atmosfera em 14 de abril de 1958.
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A informação que chegou ao público O governo soviético ocultou a informação sobre a morte de Laika. Por uma semana, os jornais locais publicaram boletins informativos sobre a saúde da cadelinha que, na verdade, já estava morta. A informação repassada dava margem para que a população pensasse que ela poderia retornar. A mídia mundial se admirava do feito soviético e manifestava preocupação com o viajante de quatro patas. Mas quando a agência de notícias soviética informou que Laika fora sacrificada em órbita “por motivos de humanidade” , os aplausos se transformaram protestos de defensores de animais. Centenas de cartas foram enviadas a Moscou e às Nações Unidas denunciando a “crueldade” do programa espacial. Algumas argumentavam que teria sido melhor mandar Khrushchev ao espaço em vez do cachorro.
Animais continuaram a ir ao espaço Mas o uso de animais em testes espaciais continuou, com a finalidade de garantir o lançamento seguro de seres humanos. Enquanto a União Soviética usou cães e, depois, coelhos, os Estados Unidos usaram macacos. Na União Soviética, de 1948 a 1961, 48 cães foram lançados ao espaço, 20 deles morreram: Desik, Fox, Mishka, Chizhik, Mishka-2, Ryzhik, Lisa-2, Bulba, Rita, Red, Joyna, Palma, Pushok, Julba, Botão, Laika, Gaivota, Chanterelle, Bee e Fly. Ao mesmo tempo, os americanos enviaram 15 macacos para o espaço, sendo que oito morreram: Albert-1, Albert-2, Albert-3, Albert-4, Albert-5, Gordo, Goliath e Scatback.
Cães e coelhos foram usados em testes espaciais, depois de Laika.
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As primeiras criaturas vivas que voltaram à Terra com segurança, usando paraquedas, foram os cães Desik e Gypsy (União Soviética, 22 de julho de 1951) e o chimpanzé Yorik (EUA, 20 de setembro de 1951). Desik morreu uma semana depois de retornar. Gypsy foi levado para a casa do acadêmico Anatoly Blagonravov. Em 1966, quando havia dúvida sobre a possibilidade de permanência prolongada de seres humanos no espaço, a União Soviética enviou o satélite Kosmos-110, com os cães Vaterk e Ugolkom. Ambos retornaram vivos, porém exauridos, após 23 dias em órbita. O envio de animais ao espaço começou a cessar com o lançamento de seres humanos. Yuri Gagarin, que ficou uma hora e meia no espaço em 1961, em uma missão que exigia pouca destreza, brincou uma vez dizendo que foi, ao mesmo tempo, a “primeira pessoa e o último cachorro no espaço”.
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COMO ENCONTRAR OS MÉDICOS CERTOS EDIÇÃO #323 JÁ NAS BANCAS 23
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