Revista Caminhos para Educomunicação

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CAMINHOS PARA EDUCOMUNICAÇÃO EDIÇÃO 1 | ANO 1 | 01 de Setembro de 2017

Pesquisas em Educomunicação: um desafio crescente SEÇÃO 1

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SEÇÃO 3

COMO SURGIU A EDUCOMUNICAÇÃO NO BRASIL?

PROJETOS CRESCEM EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS DO PAÍS

INSPIRE-SE EM IDEIAS PARA TRABALHAR NA SALA DE AULA


EDITORIAL

EXPEDIENTE

Nesta edição começamos a palmilhar o caminho da Educomunicação no processo educacional de Mato Grosso do Sul. Acreditamos que neste momento de descaminhos embaralhados em cenários de crise, descrença nas instituições públicas, discussão de valores humanitários e redifinição de papéis sociais, atravessados pelas tecnologias comunicativas, a revista Caminhos da Educomunicação, é o ponto de convergência para as experiências desenvolvidas neste campo de conhecimento. Com a iniciativa, temos a intenção de estabelecer pontes, intercambiar experiências e propiciar aos estudantes, pesquisadores, educadores, estudantes, gestores públicos e organizacionais a oportunidade de um mergulho, uma imersão, nesta nova área do saber. A Educomunicação tem raízes fincadas no conhecimento acumulado da educação popular latino-americana. É o instrumento para restabelecer o espaço de integração das diversas áreas de conhecimento, entrelaçar disciplinas isoladas, fragmentadas, produzidas pelo pensamento funcionalista, especializado, da valorização da parte, sem a compreensão do todo neste universo plural de pensamentos, intenções e concepções de mundo. Desejamos que esta edição, contríbua na valorização e incorporação da Educomunicação no contexto sócio-educacional, no reconhecimento científico, no avanço das relações humanas e na compreensão do mundo tecnólógico do qual fazemos parte.

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A transformação do ser pela educomunicação

Teóricos: Jesus M. Barbero, Jorge Huergo, José Luiz Braga, Paulo Freire e Ismar Soares.

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á dizia o ensaísta francês Joseph Joubert que “ensinar é aprender duas vezes”. Mesmo datado do século 18, o conceito não poderia ser mais oportuno. As sociedades em rede têm proposto debates cada vez mais amplos sobre diversos temas que, se não por serem considerados tabus, encontravam-se estagnados sob os cuidados dos “valores familiares” e “tradições culturais”. E nesse contexto, cada vez mais se questiona o sentido unidirecional da educação formal e o seu papel na disputa ideológica em que estamos inseridos, onde ela geralmente ocupa o assento do espectador nas arenas de digladiação digital das redes sociais. As pautas de interesse geral enfrentam uma transformação em suas mídias, que passaram da exclusividade dos meios de comunicação estabelecidos para a parceria com a web 2.0 e a interatividade do leitor. Com isso, as fontes de conhecimento tornaram-se cada

vez mais amplas e distantes da posição absoluta das escolas. Em uma tentativa de retomada, a educomunicação surge então como o resultado do ato de repensar seus métodos e de atender às novas demandas dos alunos, por parte tanto das instituições de ensino quanto de seus profissionais.As propostas dessa área, que une os modelos de educação tradicionais com novas metodologias baseadas no diálogo com os alunos, se apoia em algumas práticas-chave. Seriam ações como envolver a comunidade educativa em projetos de cidadania participativa, entender a comunicação (mensagem e feedback) como elemento essencial do processo educativo, introduzir tecnologias como elemento de mediação para o aprendizado democrático e, ao desenvolver um plano político-pedagógico que inclua tais itens, garantir que sejam devidamente aplicados.

Revista produzida por acadêmicos do Seminário de Educomunicação do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Editora-chefe: Rose Pinheiro Editores de diagramação: Gabriel Ferraciolli e Cezinha Galhardo Repórteres: Claudia Aparecida Correia Dias, Gerson Jara, João Marcelo Correia Sanches, Malu Cáceres, Marcele Aroca e Naiane Mesquita. REVISTA CAMINHOS PARA EDUCOMUNICAÇÃO


Desafios da Educomunicação na efetivação de políticas públicas

Projeto de Educomunicação realizado na USP.

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Educomunicação virou uma nova ferramenta do conhecimento disponível para ser empregada na efetivação de políticas públicas e organizacionais no contexto educacional. A primeira experiência do campo de estudo foi aplicada em escolas municipais da Prefeitura de São Paulo. A parceria foi estabelecida entre o município e a USP (Universidade de São Paulo) que já desenvolvia estudos sobre a educomunicação nos cursos da instituição. O objetivo inicial do proje-

to era minimizar os índices de violência nas escolas públicas do município. O projeto Educom uniu professores e estudantes da USP em oficinas ao lado de professores da rede municipal e alunos que frequentavam o ensino regular. Nesse caso, o meio escolhido para mediar essa experiência foi o rádio. A experiência apontou a sua contribuição como canal de expressão e redescoberta de novas linguagens na compreensão do fênomeno da violência juvenil, a partir da introdução do rádio nas escolas em torno de projetos coletivos de aprendizagem interdisciplinar. O projeto foi composto por sete fases com início no ano de 2001 e término em dezembro de 2004. Foram realizados workshops sobre educomunicação, oficinas e produção de material radiofônico.

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É relevante entender e identificar a iniciativa diante do cenário atual da educação e política, onde integrar e desenvolver este conceito em que a participação coletiva procura “dar luminosidade” às práticas, aprimorando e fortalecendo a reflexão do uso das tecnologias para o exercício do direito universal à expressão do indivíduo. Como resultado positivo da experiência, o projeto educomunicacional foi transformado em lei estadual em 2004. A Educomunicação também tem experiência positiva na área de inclusão de portadores de deficiência visual e pode se transformar em ferramenta para o grande desafio desses alunos na escola pública, além de contribuir de forma efetiva em políticas públicas em todas as áreas de conhecimento.

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Pesquisas sobre comunicação e educação no Brasil: um desafio crescente

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egundo o banco de teses da Capes (2012), a região Sudeste do Brasil lidera o número de pesquisas em Educomunicação realizadas no país (65%), seguida pela região Sul (17,5%), Nordeste (9,5%), Centro-Oeste (6%) e Norte (2%). Os dados analisam o período de 1998 a 2001, tendo por base 97 teses de Doutorado e dissertações de Mestrado, sendo duas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Já em uma entrevista para a Revista Diálogos, realizada em dezembro de 2016, Ismar de Oliveira Santos cita uma

E ainda durante a entrevista, ele afirma que a questão é criar bons projetos e defende a multiplicação dos estudos nessa área. Sobre as áreas de concentração, o banco de teses da Capes (2012) aponta que 49% das pesquisas são realizadas pela Comunicação, 35% pela Educação e os outros 16% por outras áreas como Ciências Sociais, Direito, Engenharia Ambiental, Saúde Pública e Sociedade e Cultura na Amazônia. O mesmo banco mostra que a área de intervenção mais estudada é a de Mediação Tecnológica (47%), uti-

falta de padronização para indexação de palavras-chaves (+130) e baixa presença de autores latinos (9,1%). Nesse contexto, a USP ainda possui significativa concentração de produção acadêmica sobre o assunto: 42% apenas nesse centro acadêmico, contra 58% de outros centros de pesquisa. Mas a professora Doutora Rose Mara Pinheiro - do Mestrado em Comunicação da UFMS, se diz otimista quanto a mudança positiva das estatísticas, que devem segundo ela, pulverizar-se cada vez, com a mudança de profissionais da USP

defesa de tese em que a autora (Rose Mara Pinheiro) faz um levantamento da produção acadêmica em Educomunicação (dissertações e teses) entre 2000 e 2012, e posteriormente em 2013 a 2016, na qual observa um aumento no número de trabalhos registrados pela Capes (201) e nos programas de pós-graduações na área, que passam de 30 para 57.

lizando o Audiovisual como principal suporte tecnológico (61%). Além disso, a metodologia de Estudo de Caso prevalece em 50% dos estudos realizados, a principal fonte de pesquisa ainda são os livros (61%), com a liderança do idioma da Língua Portuguesa (86%) e predominância de autores nacionais (62,2%). No entanto, há também uma

para outras regiões do país e a chegada de novos pesquisadores, o que consequentemente resultarão em novos projetos de pesquisa sobre a Educomunicação, o que é muito positivo para essa área do conhecimento e incentiva práticas transformadoras.

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Educomunicação caminha a passos firmes em escolas públicas de MS

Alunos da escola Arlindo de Andrade Gomes realizaram curtas-metragens em projetos de Educomunicação. (Foto: Reprodução/Facebook)

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ficinas de stop motion, curtas-metragens produzidos por alunos e programas de rádio que empoderam seus locutores adolescentes. Esses são alguns exemplos de como a Educomunicação caminha a passos decididos em Mato Grosso do Sul. Atualmente, a estimativa é que apenas em Campo Grande 84 escolas municipais têm oficinas que buscam colocar em prática a reflexão sobre o papel da mídia na sociedade. A necessidade de propostas práticas na área de pesquisa é eminente. Segundo o jornalista Leonardo Sakamoto, que esteve em Campo Grande na noite do dia 31 de agosto, a educação para a mídia é a única forma de combater as manipulações midiáticas e políticas, que se espa-

lham de forma eficaz na internet, principalmente no formato das fake News, em tradução livre, as notícias falsas. Acostumado com críticas no meio por causa do que escreve em seu blog, o jornalista paulistano esteve em Campo Grande, no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) com a palestra “Jornalismo em tempos de Cólera – Ódio e Intolerância nas Redes Sociais”. Assim como o jornalista, muitos pesquisadores e educandos concordam que a educação para a mídia é uma arma poderosa no combate a manipulações ideológicas. Nas escolas municipais de Campo Grande há iniciativas de formação de professores e de práticas que utilizam meios tradicionais de mídia, desde jornais

impressos e murais, até oficinas de cinema, como documentários e ficção. Em instituições de ensino estaduais, a prática também está em alta. Ao menos nove escolas realizam ações educomunicativas, com o foco em produtos de rádio e cinema. Na Escola Estadual Arlindo de Andrade Gomes, por exemplo, o debate sobre o uso de drogas chegou à mídia tradicional da cidade, provocando nos alunos a necessidade de mostrar que eles também estavam sensibilizados com a causa. Munidos de celulares, eles foram às ruas com os professores e gravaram pequenos curtas-metragens. Para tornar o produto disponível a toda comunidade, os estudantes disponibilizam os vídeos na página oficial da escola e no Youtube. Pelos comentários da rede social, o corpo docente da escola ficou emocionado com o resultado e os alunos apoiaram a causa. Foram mais de 3 mil visualizações e 50 compartilhamentos na página do Facebook. Confira os vídeos em: http://fb.com/pg/EscolaAAG

Moradores de rua são entrevistados em projeto. (Foto: Reprodução/Facebook) REVISTA CAMINHOS PARA EDUCOMUNICAÇÃO

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Do jornal mural a internet, o que importa em sala é ter criatividade

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ara que sejam aplicados os princípios da Educomunicação em sala de aula, o professor, como gestor das atividades, deve se posicionar como um intermediário do conhecimento. Dessa maneira, ele poderá lecionar o conteúdo de forma dinâmica levando em consideração as características particulares de cada aluno. O uso de ferramentas para essa aplicação podem tornar o ensino mais lúdico e

divertido, contribuindo para um melhor aprendizado por parte do aluno, o que torna a prática educativa muito mais prazerosa e motivadora. Vale lembrar a importância do uso de tecnologia a favor da autonomia do professor, e que hoje em dia se tornou muito mais disponível e presente no dia a dia da comunidade escolar, e inúmeras propostas gratuitas são apresentadas como forma de enriquecer a prática escolar.

Mas, nem só de tecnologia está o uso da Educomunicação. Conheça algumas opções de aplicação prática, com ou sem tecnologia, como forma de ampliar as relações de comunicação entre professores e alunos. A fim de trazer à luz a aplicação prática em Educomunicação, os exemplos foram divididos em duas formas:

SEM USO DE TECNOLOGIA Qualquer aparato que não dependa de energia elétrica: Ex: papel, lápis (e similares de escrita), livros, revistas, recortes, colagem, bambolê, caminhadas, natureza, lousa, jornal escolar, mural, entre muitas outras.

Projeto Ler e Pensar usa jornais em sala de aula (Foto: Gazeta do Povo)

USO DE TECNOLOGIAS Dependem de energia elétrica e outros aparatos tecnológicos, como internet, para o funcionamento. Ex: Rádio, computador, celular, câmera digital, filmadora, tablet, TV, internet. Produção do Cipó envolve atividades em vídeo (Foto: Cipó Comunicação Interativa)

EXEMPLOS DE APLICAÇÃO PARANÁ - Ler e Pensar é um projeto de incentivo à leitura desenvolvido desde 1999 em escolas públicas e particulares do Paraná. A proposta é incentivar o hábito da leitura na escola utilizando o jornal como um recurso pedagógico complementar. Saiba mais: http://www.gazetadopovo. com.br/vida-e-cidadania/ler-e-pensar-comemora-15-anos-com-premio-mundial-ee0f6sop2tepv9fcpmq7rmzbi 6

SÃO PAULO - Movimento Um Milhão de Histórias de Vida de Jovens, que tem como objetivo mobilizar jovens para contar e divulgar suas histórias e assim alterar a forma como a sociedade vê e age em relação à juventude. As histórias são publicadas pelos próprios jovens em um ambiente virtual e divulgadas através de boletins, peças de teatro, vídeos e programas de rádio. Saiba mais: www.museudapessoa.net/

BAHIA - Cipó Comunicação Interativa Pelo Projeto Escola Interativa alunos e professores se envolvem na produção de peças de comunicação (ensaios fotográficos, vídeos, cartazes, HQ, site) e geram novos processos de educação e/ ou de mobilização social. Saiba mais: http://cipo.org.br/

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