Crista Mchugh - Paixões no Gelo-Os Irmãos Kelly 2

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Table of Contents Title Page Capítulo Um Capítulo Dois Capítulo Três Capítulo Quatro Capítulo Cinco Capítulo Seis Capítulo Sete Capítulo Oito Capítulo Nove Capítulo Dez Capítulo Onze Capítulo Doze Capítulo Treze


Capítulo Quatorze Capítulo Quinze Capítulo Dezesseis Capítulo Dezessete Capítulo Dezoito


Paixões no Gelo Os Irmãos Kelly, Livro 2 de Crista McHugh Ele conseguirá aquecer o coração gelado dela? A estrela de hóquei Ben Kelly foi para o seu chalé na montanha na cidade de Cascade, Colúmbia Britânica, para se recuperar de uma lesão no joelho que o tirou do time, e para pensar em seu futuro na NHL. Ele jamais esperava encontrar a mulher mais inesquecível em seu passado. Depois de nove anos, nada


havia diminuído a química explosiva entre eles. Agora, ele quer mais do que uma noite. Hailey Eriksson sonhava com a medalha olímpica, até que uma gravidez acidental após uma noite de paixão deu fim às suas ambições. Sua vida desmoronou quando o seu filho morreu. Nada irá impedi-la de cumprir a promessa que fez a ele de fazer parte da equipe olímpica, muito menos o charmoso Ben Kelly. Infelizmente, ele está disposto a conquistá-la, e ela está achando cada vez mais difícil resistir a ele com cada beijo apaixonado. Mas quando ele ficar sabendo sobre o filho que nunca


conheceu, o seu novo romance estará em risco? Aviso: Contém duas estrelas de hóquei com o gelo no sangue, um herói que está disposto a lutar contra os seus medos para ter uma segunda chance, uma heroína com um slap shot furioso que ganha qualquer aposta, uma cidade pequena cheia de bisbilhoteiros e um bolo de carne que deveria ser servido com um alarme de incêndio. Esta história também trará lágrimas aos seus olhos (e não só porque Cindy não sabe cozinhar). Recomendado para quem gosta de:


Heróis torturados; Heroínas fortes e determinadas; Romance nos esportes; Romance contemporâneo sexy; Romance de cidade pequena; Histórias de segundas chances.


Capítulo Um Ben Kelly havia sido jogado contra as placas muitas vezes na sua carreira no hóquei, mas nunca desta maneira. Hailey, a mulher que ele havia conhecido no jogo contra os Vancouver Whales a algumas horas atrás, estava examinando o seu corpo agradavelmente. Ela passava os dedos pelo seu cabelo, abraçando-o enquanto seus lábios devoravam os dele durante a subida de elevador até o seu quarto de hotel. Ele não tentou afastá-la. Ele enfiou os dedões nos bolsos de trás dos jeans dela, suas mãos cobrindo o traseiro perfeitamente redondo enquanto ele


aceitava o ataque e lançava o seu próprio. Um gemido emergiu de sua garganta enquanto a sua língua mergulhava na boca dela. O sabor sutil de morango do Red Vines ainda podia ser sentido, complementando a doçura dela. Ela estava comendo o doce quando a Câmera do Beijo focou neles durante o jogo, e ela usou um para aproximá-lo dela, no estilo A Dama e o Vagabundo. Quando os seus lábios se tocaram, o que havia começado como uma faísca de atração explodiu em um desejo total. Ao fim do jogo, ele sabia que precisava levá-la para o seu quarto, e rápido. Ela pressionou o corpo de leve contra a ereção dele.


Agora, era a sua vez de gemer. Essa droga de elevador não vai mais rápido do que isso? Finalmente, o som que anunciava a chegada ao andar dele havia soado, e Hailey se afastou, sorrindo com seus olhos azuis brilhantes enquanto mordiscava o lábio inferior dele pela última vez. Uma covinha surgiu na sua bochecha esquerda quando ela deu um sorriso travesso. Ben procurou a chave do quarto no bolso, sua mão tocando a camisinha que Caleb havia enfiado ali quando Ben perguntou se ele não se importaria de dormir em outro quarto. Normalmente, quem conseguia as garotas e as trazia


para casa era o seu irmão mais novo, e não ele. Ben preferia ir mais devagar, observar e agir depois de excluir outras alternativas. A espontaneidade não fazia parte da natureza dele. Era isso que tornava esta noite tão estranha. Bem, isso e o fato de que a mulher que ele estava levando para o seu quarto para o que poderia ser a noite de sexo mais incrível da sua vida tinha cabelos da mesma cor dos seus olhos. Não era do tipo com quem ele costumava sair. Ele costumava preferir mulheres quietas como ele, tímidas, com cabelo e maquiagem conservadora. Quando ela se sentou ao lado dele, ele estava pronto


para ignorá-la, achando que ela fosse apenas uma tiete de hóquei alternativa, até que ela começou a recitar tabelas de hóquei como se fosse Don Cherry. A garota sabia tanto quanto ele sobre o jogo. Sem perceber, ela havia captado totalmente a sua atenção. Quando os dois apareceram no telão do estádio, ele já estava completamente cativado pela garota com o cabelo azul Smurf. Hailey segurou a mão livre dele e o puxou para fora do elevador. “Onde é o seu quarto?” “Por ali.” Ele a levou pelo corredor, seu coração batendo forte, e esperou que os alarmes soassem. Em vez disso, as suas dúvidas diminuíram com cada


passo. Ele nunca havia imaginado que uma noite de sexo casual podia ser tão boa. Sua mão tremeu quando ele colocou o cartão-chave no leitor, mas não sabia se era de ansiedade relacionada ao desemprenho ou pelo fato de Hailey ter colocado os braços em torno da sua cintura por trás e já estar abrindo o seu cinto. “Eu mal posso esperar para deixar você nu,” ele sussurrou no seu ouvido. A dor no pênis dele triplicou. “A recíproca é verdadeira.” A porta se abriu, e era a vez dele de puxá-la para dentro. Ela chutou a porta para fechá-la e colou os lábios nos dele


novamente. A fome do seu beijo o deixou sem fôlego. Ele navegou pelo corredor estreito cegamente, focado demais em tirar a sua camiseta justa do Vancouver Whales. Quando eles finalmente caíram na cama de casal mais próxima, já haviam conseguido ficar apenas com as roupas de baixo. Por Deus, ela era linda. Alta e magra com músculos discretos ondulando sob a sua pele pálida e perfeita, ela tinha o corpo de uma atleta, com apenas traços de curvas femininas. Seu cabelo azul caía ao redor da sua cabeça como uma fonte de água, e aquela covinha na sua bochecha esquerda praticamente o instigava a beijá-la.


“Você vem?” O olhar dela caiu sobre a saliência nas cuecas dele, e outra covinha surgiu na sua bochecha direita. Todo o sangue correu da sua cabeça para a sua virilha. Se a sorte estivesse do seu lado, ele estaria gozando em alguns minutos. Ele encontrou seus jeans no chão e tirou a camisinha do bolso, colocando-a no criado-mudo. Era a sua pergunta silenciosa para ela. Ela queria continuar? Ou queria que ele parasse? Ela pegou o pacote de plástico. “Ainda bem que você tem uma dessas. Eu estou tomando pílula, mas não faz mal se precaver.” O último traço de hesitação sumiu. Ele iria transar hoje à noite e estava


livre para desfrutar de cada minuto. Ela a jogou de volta no criado-mudo e o puxou para que o seu corpo cobrisse o dela. A maciez da sua pele o lembrou de que ela era uma mulher de verdade. Suas pernas longas e finas se enroscaram em torno dos quadris dele e o pressionaram contra o calor do seu centro, alimentando a necessidade que crescia dentro dele. Mesmo que ela ainda estivesse de calcinhas, ele conseguia sentir o quão úmida e pronta ela estava para ele cada vez que roçava o corpo contra o dele. Depois do que pareceu uma eternidade de trinta segundos, ele conseguiu abrir o sutiã dela e o jogou do


outro lado do quarto. Seus seios eram pequenos, facilmente cobertos pelas mãos dele, com mamilos rosados e incrivelmente delicados. Ele passou o dedão sobre um deles, e ela tremeu. A resposta dela o intrigou. Ele repetiu o movimento, observando o tremor quase imperceptível fluir pelo corpo dela. Em seus dezenove anos, ele havia estado apenas com duas outras mulheres, e nenhuma delas havia respondido ao seu toque como Hailey. Mas nenhuma delas havia despertado o tesão que o consumia agora. Ele a desejava completamente. Mal podia esperar para penetrá-la, para sentir o quão apertada ela seria em torno dele


quando deslizasse dentro dela, para ouvi-la gritar o seu nome quando ele a fizesse gozar. Mas primeiro, ele precisava saber como ela iria reagir se ele colocasse um daqueles lindos mamilos rosas na boca. Ela gemeu quando a língua dele a tocou, e arqueou as costas, pressionando seu seio para dentro da boca dele. Um momento depois, mais um gemido seguiu, quando os dentes dele mordiscaram o bico sensível. Agora era a vez dele tremer. Cada som que ela emitia, cada movimento minúsculo tinha um significado erótico. A dor em seu pênis havia se espalhado para suas bolas, um sinal de que ele


estava se aproximando do gozo, mas não conseguia se afastar dos seios dela e dos murmúrios sedutores que ela emitia com cada mordida e toque da sua língua. Os gemidos baixos dela se tornaram gritos agudos. Seus quadris se moviam embaixo dele, roçando cada vez mais rápido contra o seu pênis, mas ele continuou. Ele não conseguia se afastar dela. Então, em um único movimento rápido, ela o virou de costas e o montou. “Já chega,” ela disse com a voz trêmula e a respiração acelerada. “Eu preciso de você dentro de mim agora.” Ele sorriu enquanto ela tirava suas cuecas com uma puxada rápida, seguida


pelas suas calcinhas. Mais um evento inédito. Normalmente, era ele quem implorava para ficar nu, esperando pacientemente que a sua parceira desse a permissão. Hailey não pediu—ela agiu. Aquela covinha reapareceu quando ela examinou o pênis totalmente ereto, seus olhos arregalados. “Meu Deus, você é enorme.” Seu momento de orgulho se transformou em pura felicidade no segundo em que ela o colocou na boca. Tão quente. Tão úmida. Ele não conseguiu reprimir o gemido que subiu à sua garganta. Então, isso era um boquete. Ele agarrou as cobertas


enquanto a língua dela girava pela sua lança até a ponta e de volta à base. A firmeza das suas bolas aumentava com cada movimento da cabeça dela. Um gemido se formou em sua garganta e ele se viu implorando, “Pare, por favor, pare.” Ela o soltou e nivelou seu olhar com o dele. Um olhar de preocupação brilhou em seus olhos. “Eu estava fazendo algo errado?” “Não, de forma alguma.” Seu peito arfava tão rápido quanto o dela quando ela o parou antes. “Mas se você continuar com isso, eu vou gozar rápido demais para que você se divirta.” Uma risada de alívio trouxe de volta


as covinhas. “Não podemos deixar isso acontecer, não é?” Ela pegou a camisinha no criado-mudo. “Você está pronto?” Ela havia estado pronto desde o momento em que seus lábios se tocaram. Ele se sentou para pegar a camisinha das mãos dela, pausando para roubar mais um beijo. O sabor do desejo dela era ainda mais forte do que antes, mas temperou o dele o suficiente para que ele não se preocupasse em gozar no momento em que a penetrasse. Ele queria que durasse o máximo possível, queria prolongar o momento tanto quanto pudesse para saborear cada segundo com ela.


Ela colocou os braços ao redor do pescoço dele, passando os dedos pelos seus cabelos enquanto aprofundava o beijo. O clima de "rapidinha" havia sumido. Sua língua seguia o ritmo mais lento dele em uma dança sensual que espalhava fogo pelas suas veias. Ben fechou os olhos e inspirou o cheiro limpo dela. Ela tinha cheiro de sabonete e neve, como gelo e Red Vines. Nenhum perfume floral, feminino ou doce demais. Apenas uma fragrância que era só dela. Ela terminou o beijo, tentando respirar, olhando para baixo e tremendo o lábio inferior. “Ben, o que você quer de mim?”


Mais do que uma noite. O pensamento o surpreendeu e fez o seu peito se apertar. Ele havia acabado de conhecer Hailey. Ele só sabia que ela era canadense e amava hóquei como ele. E mesmo assim, ele queria mais. Ele queria passar tempo com ela, assistir mais jogos com ela, sentar ao seu lado para jantar e segurar a sua mão enquanto a conhecia melhor. Mas ele não tinha coragem de dizer isso a ela. A última coisa que ele queria era assustá-la quando estava tão próximo do alívio. Talvez, ele pudesse comentar sobre isso depois e pedir o seu número de telefone, ver como as coisas iriam. Mas agora, ele precisava dela da


mesma forma que ela havia dito que precisava dele. Ele abriu o pequeno pacote e colocou a camisinha com um abandono imprudente. Ela acenou com a cabeça como se entendesse o que ele estava pensando e o puxou para o colchão, guiando seu pênis até a entrada do seu sexo. Ele a penetrou lentamente e respirou fundo entre dentes cerrados. Estar dentro dela era ainda melhor do que ele havia imaginado. “Você parece o céu,” ela disse suavemente. A voz dele tremulou. “Você também.” “Mais, Ben.” Ela enroscou as pernas


em torno dele, puxando-o para que ele a penetrasse mais profundamente. “Eu preciso de mais.” E ele a daria mais, com prazer. Ele começou lentamente, focado em extrair a maravilhosa fricção, como havia feito durante o beijo. Ele saiu dela até que apenas a ponta estivesse dentro, antes de deslizar de volta o mais profundamente possível. A base da sua coluna formigou, e o suor brotou em sua testa. Mesmo lentamente, aquilo era quase mais do que ele podia suportar. Ele parou, tentando focar a mente em algo que não fosse a sensação maravilhosa que sentia dentro dela, para que não gozasse imediatamente.


Ela mexeu os quadris impacientemente embaixo dele. “Mais rápido, Ben.” Ah, já era! Ele desistiu de tentar durar mais do que todos os outros com quem ela havia transado antes. Se ele não começasse a se mover rápido, nenhum dos dois iria gozar. Ele agitou os quadris para cima e para baixo, encontrando um ritmo que ambos gostassem, e foi recompensado com um sorriso radiante. “Sim, Ben, aí, bem aí.” A aprovação dela o incentivou. Ele aumentou o ritmo, indo cada vez mais fundo com cada estocada, seu pulso acelerando com cada suspiro de prazer.


Hailey inclinou o pescoço para trás, convidando-o a provar cada reentrância delicada enquanto o seu corpo se elevava para encontrar o dele. Suas pernas se apertaram em torno dele. Seus dedos tocaram a extensão da sua coluna e se enrolaram em seu cabelo, sua respiração ofegante e rápida. Suas palavras se tornaram incompreensíveis, mas continuavam a fluir de seus lábios. A dor na base do pênis dele havia voltado com força total, o que indicava o fim da linha. Ele mordeu o lábio inferior e se moveu mais rápido, com mais força, determinado a fazê-la gozar antes dele. O olhar dela encontrou o dele. “Tão


perto, Ben, eu estou tão—” As palavras dela foram interrompidas por um grito reprimido, e as suas paredes internas vibraram em torno dele, apertando-o até que ele não pudesse mais segurar o orgasmo. Ele mergulhou dentro dela mais uma vez e gritou o seu nome ao gozar. O tempo pareceu parar. As batidas de seu coração vibraram em seu pênis, lembrando-o que ainda estava vivo, mesmo que o resto do seu corpo se recusasse a obedecer seus comandos. Seus músculos se enrijeceram, paralisando-o até que ele não conseguisse fazer nada a não ser olhar para ela e sentir as ondas de prazer que


o inundavam. Então, seus braços cederam e ele caiu sobre ela. “Isso foi incrível,” disse ele, sua voz rouca e exausta. “Você tirou as palavras da minha boca.” Ela continuou a passar as mãos pelas costas dele de uma maneira suave que ameaçava fazê-lo dormir. “Por acaso você não tem outra camisinha do seu bolso, tem?” Ele riu alto. A única razão pela qual ele tinha a primeira era o seu irmão tê-la posto ali. Ele não era o tipo que mantinha uma camisinha no bolso para algum “imprevisto”. “Infelizmente, não.” Ela suspirou. “Que pena. Eu esperava que nós pudéssemos começar de novo


depois que você se recuperasse.” Era tentador. Muito tentador. E ela havia dito que estava tomando pílula, então o risco era pequeno. Ele levantou a cabeça e lançou um sorriso sonolento para ela. “Você decide.” Ela riu e puxou o cabelo dele para longe do rosto. “Você parece estar prestes a desmaiar.” “Você ficou me mandando ir cada vez mais rápido.” Ela riu e desviou o olhar. “Sabe, isso não é algo comum para mim, mas eu estou feliz por ter vindo para cá com você esta noite.” Ele sentiu seu estômago se apertar


quando ela levantou os olhos para ele e esperou por sua resposta. “É, eu também.” Ele queria dizer mais, seguir o seu plano de pedir o número de telefone dela e sugerir que eles mantivessem contato, mas sua língua estava tão mole e pesada quanto o resto do seu corpo. Ele se virou de lado, levando-a com ele. Ela se esticou ao lado dele e deitou a cabeça no seu ombro. “Durma enquanto pode, Ben.” Ele respirou fundo, sentindo o cheiro dela, e fechou os olhos. Quando ele os abriu novamente, estava sozinho. O relógio marcava 3:34 da manhã. Os lençóis revirados ao seu


lado marcavam onde Hailey tinha estado, mas haviam esfriado a muito tempo. Ele se sentou e chamou o nome dela, mas não obteve resposta. Ele se levantou e procurou por algum sinal dela no quarto, mas não achou nada. Suas roupas haviam sumido. Ela havia sumido e não havia nada mais, a não ser uma memória. Droga! Ben caiu na cama e passou os dedos pelo cabelo, irritado com a oportunidade perdida. Ele deveria ter pedido o número dela quando teve a chance. Agora, ele não fazia ideia de como encontrá-la. Ele nem sabia o seu


sobrenome. Depois de se lamentar por alguns minutos, ele olhou para baixo e percebeu que havia ficado tão exausto que nem sequer havia tirado a camisinha. Ele pegou o pedaço de látex murcho notando a escassez incomum de esperma que permanecia nela, e foi ao banheiro para jogá-la fora. E lá, escrito em um bloco do hotel no balcão, estava um recado. Querido Ben, Obrigado por tudo. Eu nunca esquecerei desta noite. <3, Hailey Ele traçou os sulcos feitos pela


caneta, parando no pequeno coração que ela havia desenhado, e tremeu. O arrependimento o arranhava por dentro como um urso selvagem. Ele podia ter perdido a sua chance com ela, mas também não iria se esquecer desta noite. Ele arrancou a folha do bloco, dobrou-a em quatro e a colocou no fundo da carteira.


Capítulo Dois Nove anos depois O gelo o chamou. Depois da lesão no joelho, Ben havia jurado que nunca se aproximaria de um rinque de hóquei novamente. E, no entanto, lá estava ele, nas sombras, segurando sua bengala com os nós dos dedos brancos enquanto assistia alguns adolescentes jogando, desejando poder se juntar a eles. “Vamos lá, rapazes,” o treinador gritou. “Erikson está acabando com vocês.” Ele seguiu o dedo do treinador até o jogador com o puck. O garoto era alto e


magro, provavelmente um jogador iniciante, com base na sua massa muscular. Mas o que não tinha em tamanho, ele compensava com velocidade e habilidade. Ele lidava com o puck tão bem quanto qualquer jogador que Ben havia enfrentado na NHL, movendo-se para a esquerda e para a direita, desarmando o oponente com um deke e deslizando por ele até as placas. Depois de um slap shot, o puck estava na rede. Um grunhido veio do time quando Erikson levantou as mãos e deu uma pequena volta da vitória pelo rinque. O treinador resmungou algo em voz baixa e olhou para a sua prancheta antes


de rabiscar algumas anotações. “Agora são seis, rapazes. Vocês estão me envergonhando.” Não foi até Erikson se aproximar que Ben entendeu o porquê. Erikson era uma garota. O capacete havia escondido o seu cabelo, mas não havia como confundir a curva feminina dos seus lábios ou dos seus cílios. Um par de covinhas surgiram em suas bochechas quando ela bateu quadris com um dos meninos, e uma sensação estranha de déjà vu o inundou. Ela parecia familiar, mas ele não conseguia se lembrar da razão. Sua curiosidade o fez sair das sombras, descer as escadas e ir até o


treinador, seu joelho menos dolorido com cada passo. Ele esperou até que o treinador terminasse de dar as instruções para a próxima jogada antes de perguntar, “Time local?” O treinador pulou, depois o observou com os olhos semicerrados. “Eu nunca vi você antes.” Ben abafou uma risada. Depois de anos sendo reconhecido onde quer que fosse, o anonimato era uma boa mudança. Incrível o que tirar a barba e cortar o cabelo podia fazer. Ele não tinha cabelos tão curtos desde antes de entrar para o exército. “Eu sou novo na cidade.” O treinador o observou de perto e,


por um segundo, Ben temeu que o seu segredo fosse revelado. “Eu tenho certeza que já vi você antes. Já jogou hóquei?” Ben riu. “Sim, um pouquinho.” “Foi o que eu imaginei. Você tem corpo de atacante.” Ele não era o primeiro treinador a lhe dizer isso. Com 1,92 m e 100 quilos, ele havia sido um dos maiores jogadores do time, mas não tinha a natureza agressiva para jogar nesta posição. Em vez disso, ele construiu uma carreira de sucesso como goleiro. Times profissionais, medalhas olímpicas, até finais da Stanley Cup. Até que uma batida feia a duas


semanas atrás acabou com tudo isso. Ele havia se isolado na cidade de Cascade, Colúmbia Britânica, para cuidar da sua lesão, mas depois de uma semana preso em casa, a solidão se tornou insuportável. Ele desceu a montanha e dirigiu até a pequena cidade onde a maioria dos habitantes locais morava, chegando até o único lugar que conhecia. O rinque de patinação. Ele ficou parado silenciosamente ao lado do treinador e observou a próxima jogada. Erikson estava na defesa agora. Ela bateu seus patins contra o gelo, alcançando o jogador com o puck e o ultrapassando. Com uma meia volta


rápida, ela ficou na sua frente, patinando para trás, e roubou o puck enquanto o jogador escorregava na direção das placas. Ela o levou de um lado para o outro e o puck voou através do maior five-hole que ele já havia visto em um goleiro. O treinador jogou a prancheta no banco. “Ah, qual é, Watson! Você não pode deixar um buraco destes, especialmente com ela. Você quer entrar para a liga amadora ou não?” Erikson parou e ajudou o goleiro a levantar. “Não seja tão duro com ele, Gus. Eu o peguei de surpresa.” “Você o pegou dormindo de patins.” Ele andou de um lado para o outro,


passando os dedos pelos cabelos escassos. “Tudo bem, já chega. Para os chuveiros.” “Você está pegando leve com eles,” Ben murmurou. “O meu treinador antigo teria nos feito correr de patins depois do treino.” “Sim, mas os meus garotos acabaram de enfrentar a Erikson, já foram punidos o suficiente.” Ben a viu fazer piadas com os garotos e os encorajar enquanto eles patinavam até o banco. Mas quando o olhar dela focou no dele, seu sorriso esvaneceu e seus olhos azuis se tornaram frios. O coração dele pulou com a tensão palpável no ar. Ele revirou a mente,


tentando lembrar de onde a conhecia, mas não conseguiu. A frustração deu um nó em seu estômago. Os médicos haviam lhe avisado que o número de lesões que ele havia sofrido durante a carreira poderiam afetar a sua memória, e esta era a prova. Ela se virou. “Eu vou verificar se a porta dos fundos está trancada, Gus.” Ela patinou para o outro lado do rinque como se estivesse perseguindo um puck. Gus apertou os olhos para Ben novamente. “Vocês dois se conhecem?” “Talvez.” “Talvez?” “Ela parece familiar, mas você sabe


como a mente dos jogadores de hóquei podem ser.” Ben bateu na cabeça e acenou na direção em que Erikson havia ido. “Ela é boa.” “Isso é óbvio.” Gus levantou um balde de pucks com um resmungo. “Se ela fosse um menino, estaria jogando na NHL agora mesmo.” “O próximo Sid Crosby?” “Há! Está mais para o próximo Gordie Howe, com a pancadaria e tudo. A garota é temperamental, e se eu fosse você, ficaria longe dela. Ela não é a melhor parceira de dança.” “O que faz você pensar que eu teria problemas?” “Eu vi como ela olhou para você.”


Gus entrou na pista com o balde e foi em direção ao Zamboni. “Eu a conheço desde que era criança e vi tudo pelo o que ela passou. Se você está aqui para causar problemas para ela, não é só com ela que você terá que se preocupar. Nós cuidamos dos nossos.” Ben parou de repente, olhando para o gelo como se fosse um velho inimigo. Ele não estava prestes a seguir Gus. “Eu não estou aqui para isso. Eu mal consigo me lembrar se nós nos conhecemos ou não.” “Bem, você está fazendo muitas perguntas.” Gus colocou o balde atrás da parede com mais um resmungo e subiu no Zamboni. “O que você está


fazendo aqui, afinal?” Ele suspirou e observou o seu reflexo no gelo, mal reconhecendo a si mesmo. “Eu não tenho certeza.” “É, você precisa ir embora agora. Eu tenho de dar algumas voltas nessa coisa antes de fechar, e eu não quero ter que me preocupar com você passando a noite aqui.” “Sem problemas. Só uma pergunta— você sabe onde eu posso encontrá-la?” “Você não entende indiretas, não é?” O Zamboni rosnou e Gus o dirigiu para a pista. “Se você está procurando problemas, ela vai estar no Sin Bin, no centro. Mas não se esqueça de usar uma coquilha antes de conversar com ela.”


“Vou fazer isso, obrigado.” Ben se virou e subiu as escadas, apoiando-se na bengala até chegar ao topo. Ele não teria paz até descobrir de onde a conhecia. Próxima parada: Sin Bin. **** Hailey segurou o volante e respirou fundo, mas isso não tranquilizou os seus nervos como costumava fazer. Quem poderia imaginar que estar frente a frente com Ben Kelly depois de nove anos a afetaria assim? E o pior, ela não tinha a mínima ideia da razão de ele estar ali. Ele não tinha estado lá quando ela realmente precisava dele. E agora que ela estava finalmente organizando a sua vida, ele aparecia na sua


cidadezinha. “Deve estar botando banca no resort de esqui,” ela resmungou e deu partida no seu Jeep Cherokee velho. Afinal, era lá que as celebridades como ele ficavam, não aqui na cidade verdadeira. “Eu não me surpreenderia se ele não tivesse um pequeno harém de fãs de hóquei cuidando dele enquanto se recupera.” Ela havia visto a batida que o tirou do resto da temporada. Quase todo o Canadá havia visto, já que o jogo tinha sido transmitido em rede nacional. O defensor do outro time o atacou, prendendo os seus patins com o taco, e derrubou Ben no gelo. Apesar da


história entre eles, ela havia prendido a respiração quando ele estava lá, caído, sem se mexer, sua perna torcida em um ângulo terrível. Quando ele finalmente recuperou a consciência, foi retirado do gelo, mas era o fim para ele. O jornal da manhã seguinte listou todas as lesões que ele havia tido. Contusão. Ligamentos do joelho rompidos. Então, começaram as apostas sobre se o goleiro titular do Vancouver Whales iria voltar na próxima temporada, ou nunca mais. Ela esperava que Gus tivesse lhe mandado dar o fora e acabado com o assunto. A temporada de esqui estava quase no fim e os verões em Cascade


costumavam ser calmos, sem a chegada e saída de turistas. Ele provavelmente iria embora em duas semanas, e seria a última vez que ela o viria. Mas uma leve pontada em seu estômago a lembrou de que ela queria vê-lo novamente, mesmo que só para xingá-lo depois de tudo o que ele a fez passar. Não o deixe distrair você do seu objetivo. Lembre-se da sua promessa ao Zach. Ela parou no estacionamento do bar de seu pai e respirou fundo mais uma vez pelo nariz. Desta vez, funcionou. Toda a raiva, ódio e frustração saíram dela com o ar dos seus pulmões. Ela


havia perdido muito tempo e muitas lágrimas com Ben Kelly, e agora não era a hora de perder o foco. O Sin Bin dos Erikson ficava no coração da cidade, na rua principal. Com meia dúzia de TVs de plasma exibindo os últimos jogos, ele era o bar favorito dos habitantes. As eliminatórias da Stanley Cup estavam pegando fogo, por isso, o lugar estaria cheio esta noite. Os Whales também iriam jogar, o que significava que todos estariam ainda mais focados no jogo. E se os Whales ganhassem, as suas gorjetas subiriam. Ela entrou pela cozinha e pegou seu avental embaixo do balcão. “E aí, pai, você está pronto para esta noite?”


“Comprei sete caixas de Labatt.” Seu pai se inclinou e lhe deu um beijo no rosto. Ela tinha a estrutura dele, alta e magra, com os mesmos olhos azuis brilhantes e cabelos loiros. “Como foi o treino hoje?” Além de o homem que havia se recusado a reconhecer que eu existia dois anos atrás ter aparecido? “Eu os machuquei um pouco,” ela disse depois de uma pausa. Não era necessário contar a ele sobre Ben. Seu pai provavelmente arregaçaria as mangas e daria uma surra nele se soubesse. “Qual foi o estrago?” “Seis a zero.”


“Essa é a minha garota. Continue jogando assim e a seleção canadense vai ter que lhe oferecer uma vaga.” “Primeiro, eu preciso convencê-los a me deixar fazer um teste.” Com vinte e sete anos, ela era um pouco mais velha do que a média dos jogadores, mas ainda estava em ótima forma e podia jogar melhor do que qualquer outro que conhecia. “Gus esqueceu de trazer a câmera hoje, mas irá filmar o próximo massacre.” “E não se esqueça do jogo da liga na segunda.” Ele agitou o seu cabelo, soltando alguns fios do rabo-de-cavalo antes de atravessar o bar para atender um cliente.


“Hailey, querida,” sua madrasta Cindy chamou da cozinha em seu sotaque forte do Texas, “você se importa em ver o que o homem na mesa 12 quer beber? Eu estou tentando terminar o pedido da mesa 14.” Uma olhada na cozinha revelou que a pequena mulher estava tentando equilibrar cuidadosamente quatro pratos de asinhas de frango e cascas de batata. “Posso ajudar você?” “Não, eu estou bem. Só veja a bebida da mesa 12 que eu passo lá em alguns minutos para ver se ele quer comer alguma coisa.” O Sin Bin era um verdadeiro negócio de família. Seu pai havia aberto o bar


um pouco depois de o seu irmão mais velho nascer, e a família inteira contribuiu para mantê-lo funcionando. Seu irmão havia se mudado a 10 anos para trabalhar em Toronto, mas foi exatamente neste momento que Cindy apareceu na cidade para tomar o lugar dele no bar. Em noites de movimento como esta, todos estavam ali. Seu pai ficava atrás do bar enquanto ela e Cindy dividiam as mesas. A mesa 12 era uma pequena cabine de canto, geralmente ocupada por alguém que não estivesse muito interessado no jogo, já que a vista para a TV é péssima. Um homem sozinho estava sentado lá, de costas para o resto do bar e inclinado


sobre o seu iPad. Ele era grande, tinha uma estrutura reforçada, cabelos pretos e vestia um suéter que abraçava seus ombros largos. Definitivamente não era local. Ela se aproximou da mesa e tirou a caneta e o bloco de pedidos do bolso do avental. “Posso lhe servir algo para beber?” Ele olhou para cima e o coração dela acelerou assim que viu aqueles olhos azuis-ardósia. Ben Kelly. Sua garganta se apertou, o que era uma pequena bênção. Era a única coisa que a impedia de chamá-lo de todos os nomes possíveis.


Ele levantou o display que ficava na ponta da mesa. “Vocês estão mesmo servindo Labatt por um dólar?” Ela engoliu em seco, empurrando o nó de raiva para o seu estômago, onde ele queimou com mais calor do que as asinhas de frango extra picantes de Cindy. Dois podiam jogar este joguinho de eu não sei quem diabos você é. “Sim, mas só quando os Whales estão jogando.” Gritos da torcida vieram do outro lado do bar quando a TV mostrou o time entrando no gelo. “Parece que o jogo está prestes a começar,” disse ele. Ela apertou a caneta até que ela


começasse a entortar no meio. “Então, você quer uma ou não?” Ele colocou o display na mesa, seus olhos focados nos dela. “Claro, por que não?” “Ok. Cindy virá aqui em alguns minutos para anotar o resto do seu pedido.” Ela enfiou o bloco e a caneta no bolso e deu meia volta. Ele tinha muita coragem de aparecer aqui, mas ela não lhe daria a satisfação de saber o quanto a havia afetado. Ela pegou uma garrafa do freezer e a abriu, deixando-a no bar. “Aqui está o pedido da 12.” “Você não vai levá-la para ele?” seu pai perguntou.


“Não.” No que lhe dizia respeito, ele podia apodrecer no inferno.


Capítulo Três Ben observou a bela garçonete loira correr para o bar, seus ombros combinando com o olhar gelado que ela havia lançado quando ele olhou para ela. E ele achava que os canadenses eram educados e amigáveis. Não era o caso dela, apesar de ele não conseguir entender o porquê. Mas não havia como negar—ela era a mesma garota determinada que ele havia visto no rinque de patinação. Ele se inclinou sobre o iPad e voltou a examinar todas as fotos salvas na nuvem, esperando conseguir encontrar uma com ela e preencher as memórias


que faltavam em sua mente. A coisa mais fácil a fazer seria perguntar a ela se eles já se conheciam, mas com base no comportamento dela até agora, ele duvidava que isso terminasse bem. Era melhor esperar até que ele conseguisse entender a situação antes de tentar se desculpar por seja lá o que ele havia feito para merecer aquele tratamento. “Aqui está, querido,” uma mulher pequena com cabelos vermelhos disse ao colocar a garrafa de Labatt na mesa. “Você gostaria de mais alguma coisa para acompanhar?” Em uma cidade tão pequena, ela definitivamente se destacava com seu sotaque exageradamente gentil. Ele riu.


“Você não parece ser daqui.” “Ah, não sou mesmo. Nasci em Dallas, mas moro aqui a 10 anos.” Ele tomou um gole da cerveja e a estudou. Pequenas rugas apareciam ao redor dos seus olhos e boca quando ela sorria. Ela era mais velha do que a outra garota, seu rosto ainda era atraente, mas com aquela cor de cabelo, ele teve dificuldade em adivinhar a sua idade. “Você conhece bem aquela garota que anotou o meu pedido?” “Muito bem, ela é minha enteada. O que a Hailey fez?” Ele ficou paralisado com a garrafa na frente dos lábios. Hailey. Por que aquele nome soava tão familiar? Mas,


novamente, a sua memória tinha mais falhas do que ele podia preencher. “Ela agiu como se não me quisesse aqui.” “Desculpe por isso. É só dar um tempo a ela. Os habitantes daqui são um pouco distantes no começo, mas logo ficam amigáveis.” Ela olhou para Hailey, rindo com uma mesa cheia de clientes. “Então, vai querer comer alguma coisa?” Ele examinou o menu de uma página. “Um hambúrguer parece bom.” “Saindo já, já. Meu nome é Cindy. Se precisar de alguma coisa, é só chamar.” Para confirmar isso, a mesa ao lado a chamou pelo nome. Ela sorriu para eles enquanto voltava para a cozinha. “Já


estou indo, querido.” Ben se recostou na cabine e coçou o início de uma barba sobre o maxilar. Talvez, ele tivesse entendido errado. Talvez, a reação dela fosse algo do tipo “nós contra eles”. Isso ainda não explicava as perguntas inquietantes que surgiram em sua mente. Ou a sensação avassaladora de atração. Se ela o demonstrasse o mínimo de gentileza, ele já começaria a endurecer e querer levá-la para casa. Mesmo sob o olhar duro dela, ele havia desejado tocá-la, apertar o corpo dela contra o dele, beijá-la até fazê-la sorrir e gemer. Eu devo estar ficando desesperado


se estou excitado desse jeito com ela. Mas ele não podia negar a resposta do seu corpo quando a viu sem o uniforme. Ele voltou a examinar as fotos, ignorando os gritos ao redor enquanto as outras pessoas no bar assistiam o seu ex-time jogar. Ele não queria lembrar do fato de que teria sido o goleiro esta noite se não tivesse sido tirado do jogo por um defensor com sede de sangue. Ele estava mais interessado em resolver o mistério da primeira jogadora de hóquei que havia capturado a sua atenção desde a colisão. Cindy chegou com o seu jantar e, quando a sua cerveja terminou, deixou uma nova garrafa na mesa sem dizer


nada. Os gritos do resto do bar indicavam que os Whales estavam perdendo e, ao fim do jogo, ele sentia a mesma frustração, mas por uma razão completamente diferente. Ele havia olhado todas as suas fotos e não tinha encontrado uma sequer com ela. “Quer mais uma antes do bar fechar, querido?” Cindy perguntou enquanto os últimos segundos se passavam. Ele olhou para o outro lado do bar, onde Hailey estava servindo mais uma rodada, para que eles pudessem afogar as mágoas da derrota dos Whales. Talvez, se ele ficasse ali por tempo suficiente, pudesse conseguir alguma informação com a madrasta dela. “Sim,


eu quero mais uma.” Quando Cindy trouxe a garrafa até a mesa, ele colocou seu plano em ação. “Eu a vi jogar esta tarde.” Os olhos de Cindy se arregalaram e ela sentou ao lado dele. “Você é um olheiro da seleção canadense?” Ele riu. “Não, não sou, mas eu consigo reconhecer uma boa jogadora quando vejo uma.” “Você poderia dizer isso para a treinadora do time de hóquei feminino?” Cindy pegou o prato dele e limpou a mesa. “A pobre Hailey tem treinado como louca o ano todo por uma chance de ir para Sochi, e nós estamos todos torcendo por ela.”


“Ideais olímpicos?” “No mínimo. Aquela garota vive, respira e sonha com hóquei. E todos nós achamos que esta é a sua última chance de ganhar uma medalha.” “Ela não tentou uma vaga nos jogos de Vancouver?” O rosto de Cindy se contorceu e ele sentiu como se alguém tivesse batido uma porta na sua cara. “Não, ela tinha outras coisas com que se preocupar naquela época.” Mais uma vez, ele havia esbarrado nos habitantes locais protegendo os seus. Seja lá o que tenha acontecido no seu passado, todos queriam protegê-la impedindo que ele soubesse o que era.


Ela levantou com o prato na mão e perguntou, “Posso lhe trazer mais alguma coisa?” “Não, isso é tudo por hoje.” Ele não havia tido sorte até agora, mas talvez pudesse encontrar a resposta depois de uma boa noite de sono. “Eu já volto com a conta.” Cindy voltou para a cozinha, deixando-o sozinho para observar Hailey. Era o sorriso dela que o fascinava. Um sorriso de lado criava uma covinha na sua bochecha esquerda, enquanto um sorriso aberto criava duas. Ela parecia conhecer todo mundo lá, acenando para cada um enquanto saíam e exibindo aquele sorriso charmoso.


Ele queria que ela sorrisse daquele jeito para ele, mas quando ela olhou para ele, o sorriso se tornou uma carranca. “Prontinho, querido.” Cindy deixou a conta na mesa e voltou para o bar, dando um beijo na bochecha do bartender antes de desaparecer na cozinha. Ben pegou a conta e deu uma risada silenciosa. Pelo menos, havia um lado bom naquela noite. Esta havia sido a refeição mais barata que ele havia tido em anos. Ele pegou uma nota de cem dólares e a deixou na mesa antes de sair da cabine. Diferente dos outros clientes, a sua saída não recebeu um adeus dos donos.


Apenas mais um lembrete de que ele era um forasteiro nesta cidade pequena. Ele se sentou na sua Land Rover e esperou que ela aquecesse antes de começar a viagem para casa, o zumbido em sua mente cada vez mais alto. Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás. Ele duvidava que conseguiria dormir até descobrir como conhecia Hailey. Hora de chamar reforços. Ele digitou o número do seu irmão mais velho, Adam. “Você tem um minuto para conversar?” “Claro,” Adam respondeu, mesmo que a sua voz parecesse um pouco mais estridente do que o normal.


“É uma boa hora?” Ele ligou o Bluetooth para começar a viagem pela longa e tortuosa estrada até o seu chalé. “Sim. Lia e eu só estávamos conversando sobre o nosso dia.” Ele riu. Ele tinha sérias dúvidas de que alguma palavra tivesse sido trocada entre o seu irmão e a namorada. Em qualquer outro dia, ele teria provocado o irmão, mas tinha perguntas demais sobre uma certa jogadora de hóquei para se divertir às custas de Adam. “Você se lembra de eu ter tido alguma coisa com uma loira com covinhas?” “Você não costuma gostar de loiras— elas são as preferidas do Caleb.” “Exatamente, mas eu vi uma mulher


aqui na cidade, e eu juro por Deus que a conheço, mas não consigo me lembrar de como.” Ele passou os dedos pelo cabelo. “É por isso que eu estou lhe perguntando.” “Ela não parece ser nenhuma das suas ex-namoradas.” “Ela é jogadora de hóquei. Eu estava pensando em dar uma olhada nos meus anuários antigos, mas eu não acho que ela tenha estudado na Shattuck-St. Mary’s.” “Ela deu a entender que conhecia você?” “Adam, eu sou um dos jogadores mais conhecidos dos Whales. Ou pelo menos era antes do corte de cabelo.” Ele


passou os dedos pelos cabelos curtos, perguntando-se por quanto tempo ele conseguiria passar despercebido até que o cabelo começasse a crescer. “Sim ou não?” “Sim, e ela faz aquele jogador que me tirou do jogo seis semanas atrás parecer bonzinho.” “Ela torce para os Bruins?” Ele riu. “Não.” “Então, talvez ela esteja irritada por você ter saído do time, e agora eles estão prestes a ser eliminados.” Ben bateu os dedos no volante. Seria fácil demais acreditar em uma explicação tão simples, mas ela não acalmava os nós em seu estômago.


“Não, não é isso, e eu não faço a mínima ideia do que eu fiz para irritá-la.” “Eu também não tenho ideia. Talvez, você possa tirar uma foto dela e me enviar. Se eu ver o rosto dela, talvez possa ajudar você.” “Boa ideia. Eu vou fazer isso amanhã.” Ele estava quase em casa e não queria descer na escuridão mais uma vez depois de três cervejas. “Por enquanto, eu vou continuar procurando.” “Desculpe por não poder ajudar.” “Sem problemas.” Ele se mexeu no banco, perguntando-se se deveria fazer mais uma pergunta. “A mamãe me contou que você lhe pediu o anel da vovó.” O som abafado de uma porta se


fechando encheu o ar, seguido de uma pausa. “Sim, eu pedi.” “As coisas já estão tão sérias?” “Sim,” Adam disse suavemente. “Eu sei que parece loucura, especialmente considerando que Lia e eu só nos conhecemos a alguns meses, mas você já conheceu alguém que fez tudo parecer perfeito?” A imagem de uma garota com cabelos azuis surgiu na mente dele. Nenhuma mulher havia chegado perto dela. Uma onda de memórias o inundou. A maciez da sua pele. O sabor dos seus mamilos rosados. O cheiro de gelo que havia se impregnado nela. As covinhas que surgiam em suas bochechas quando ela


sorria para ele. Merda! O Range Rover desviou pela linha central quando todas as lembranças voltaram de uma só vez. Ben agarrou o volante, fazendo o SUV voltar para a sua pista. O coração dele batia forte, mas não tinha nada a ver com o fato de ele ter quase saído da estrada. “Ben, você está bem?” “Sim, sim,” ele respondeu, apesar de seus pulmões estarem no limite. “É que eu acabei de me lembrar de onde eu a conheço.” “É?” As bochechas dele ficaram quentes e ele se perguntou se deveria dizer mais.


Dos seus seis irmãos, apenas um sabia o que havia acontecido naquela noite em Vancouver. “O Caleb lhe contou sobre aquela garota que eu conheci quando fomos ver aquela eliminatória nove anos atrás?” “A garota com o cabelo azul?” Ele reprimiu um gemido e apertou as mãos no volante. “Sim, ela mesma.” “É ela?” “Noventa e nove por cento de certeza.” Ela tinha a mesma estrutura, os mesmos olhos, as mesmas covinhas. A única coisa diferente era a cor do cabelo. Ah, e o fato de ela parecer odiá-lo agora.


“Então, o que você vai fazer?” Adam perguntou. “Descobrir o que aconteceu nos últimos nove anos.” E talvez, ver se a química ainda existe. “Boa sorte para você.” Adam parecia estar finalizando a conversa, mas um segundo depois, ele adicionou, “Falando nisso, você já voltou ao gelo?” “Não.” Não era um assunto que ele queria discutir. “Você vai ter que encarar os seus medos em algum momento. Você ama o jogo demais para desistir dele.” Ben expirou por dentes cerrados. Adam estava certo, mas ele se recusava a admitir. “Ainda estou esperando que o


joelho fique 100%,” ele mentiu. “Já fazem três meses.” “Sim, mas uma lesão como a minha pode acabar com uma carreira.” Um suspiro de derrota veio do outro lado da linha. “Tudo bem, faça o que você quiser, mas eu sei que você não vai conseguir ficar longe por muito tempo. Eventualmente, você vai sentir a necessidade de colocar os patins de novo.” Era assustador perceber o quanto o seu irmão mais velho o conhecia. O gelo o havia chamado hoje e ele sentiu aquela vontade. Mas não era forte o suficiente para fazê-lo voltar. “Talvez. Por enquanto, eu tenho outras coisas para me


preocupar.” “Me conte como as coisas saíram depois.” “Você também. Eu espero que, da próxima vez que nós nos falarmos, você esteja noivo.” Adam riu. “Dedos cruzados. Eu só preciso criar coragem para fazer o pedido.” Uma pontada de inveja o perfurou. Seu irmão tinha tudo. Um emprego seguro administrando os imóveis da família. Uma casa com vista para o lago. Uma mulher incrível com quem ele estava prestes a se casar. Ele parecia verdadeiramente feliz. A pontada se transformou em dor de


arrependimento. Se ele tivesse se dado ao trabalho de pedir o número de Hailey naquela noite antes de dormir, seria ele quem estaria vivendo a vida dos sonhos? “Nos falamos depois,” disse ele, e desligou. Pelo resto da viagem, ele se concentrou em Hailey e na razão de ela ter agido daquela forma depois de nove anos. Sempre que ele tentava pensar do que poderia ter feito, não conseguia lembrar de nada. Afinal, quem havia ido embora sem dizer uma palavra era ela. Apenas um pequeno recado agradecendo-o e dizendo que nunca esqueceria aquela noite.


Ele entrou na garagem e pegou o pedaço de papel. Os nove anos em que ele havia passado dentro da sua carteira haviam danificado o papel frágil, mas a tinta ainda era visível. Ele passou o dedão sobre o pequeno coração que ela havia desenhado. Às vezes, a vida era feita de segundas chances, e agora que ele tinha uma com ela, não estava prestes a deixá-la escapar de novo.


Capítulo Quatro Hailey entrou pela porta da frente do Sin Bin e parou no bar. Um par de olhos azuis-ardósia a encaravam em uma foto ao lado da caixa registradora, e uma onda de tristeza encheu o seu peito e ameaçou transbordar de seus olhos. Ela arrancou a foto do jarro e a colocou no balcão, virada para baixo, antes que as lágrimas corressem. Ela não havia chorado desde o dia em que ficou sabendo do diagnóstico de Zach, e nenhuma quantidade de lágrimas poderia trazê-lo de volta. Seu pai olhou para ela, baixando o


jornal. “Por que você fez isso?” “Pai, eu achei que nós já havíamos falado sobre isso.” “E eu deixei bem claro que, só porque Zach se foi, não quer dizer que nós temos que desistir de outros garotos como ele.” Ela olhou para a parte de trás da foto que estava no balcão. Parte dela queria rasgá-la em mil pedaços para que ela não precisasse continuar a reviver a dor, que ainda estava viva, mesmo depois de um ano. Mas o resto não a permitia fazer isso. As fotos eram tudo o que ela tinha do seu filho. Ela a enfiou embaixo do jarro. “Está bem, mas podemos coletar doações para


o hospital infantil sem usar esta foto, por favor?” Ela foi até a cozinha para largar a sua bolsa no escritório. O cheiro de pimentas queimou o seu nariz quando ela passou pelo forno. Isto significava apenas uma coisa—o bolo de carne de Cindy era o prato especial desta noite. Talvez, ela pudesse culpá-lo pelas lágrimas em seus olhos. Seu pai a seguiu até o escritório. “Alguma coisa errada, Hailey?” “Não.” Ela passou a parte de trás da mão no rosto. “É que ainda é difícil, entende?” E a aparição misteriosa do pai de Zach na cidade com um ano de atraso


não melhorava as coisas. Ele a puxou para um abraço. “Eu sei, querida.” “Eu continuo esperando que, se eu mantiver a minha promessa a ele, as coisas vão ficar mais fáceis.” “E irão.” Seu pai sabia do que estava falando. Ele havia lidado com a perda de um filho, um irmão mais velho de quem ela mal lembrava. Tinha sido a morte dele que havia distanciado os seus pais. “Apenas se concentre no positivo.” “Eu vou tentar.” Ela apertou o rosto com as mãos e removeu qualquer traço de umidade. “Então, é noite de bolo de carne?” Seu pai contorceu o rosto e


confirmou. “Sim, Cindy estava se perguntando por que nós não tínhamos mais servido o prato.” “Talvez, você devesse tentar ser honesto com ela.” “Eu sei o suficiente para não fazer isso.” Ele lhe deu um beliscão no nariz. “Você acha que nós vamos conseguir que alguém peça um esta noite?” Ela riu, libertando-se do último traço da sua tristeza. “Eu acho que a cidade inteira conhece o bolo de carne da Cindy. Ele deveria vir com um daqueles avisos de risco biológico.” Agora, era a vez de seu pai rir. “Eu acho que o Dozer vai ter um banquete esta noite.”


“Se ele for corajoso o suficiente para chegar perto da comida. Você sabe que algo está muito ruim quando um cachorro se recusa a comer as sobras.” Eles riram juntos mais uma vez e voltaram para o bar. Era o fim da tarde, mas os frequentadores mais assíduos estavam começando a chegar. Os Whales não iriam jogar esta noite, então, Cindy estava tirando a noite de folga. Isto significava que Hailey teria que servir todas as mesas, o que foi tranquilo até uma hora antes do fechamento, quando ele entrou. Ben estava parado na porta, seu olhar focado no dela. Nenhum dos dois se moveu. Era como um duelo entre dois


pistoleiros naqueles velhos filmes de faroeste. Finalmente, ele desviou o olhar e foi para a mesma mesa que havia ocupado na noite anterior, quase sem precisar se apoiar na bengala em sua mão. Seu pai se aproximou dela, enxugando um copo. “Aquele é o mesmo cara que deixou aquela gorjeta enorme para a Cindy ontem à noite?” “É.” “Você pode avisá-lo discretamente que ela está bem casada comigo?” “Claro.” Incluindo o aviso de que ele não é bem-vindo aqui. Ela levou o máximo de tempo para cruzar o salão até a pequena cabine de


canto dele. “De volta?” “Eu não consegui resistir,” Ben disse com um sorriso. Nove anos atrás, aquele mesmo sorriso a havia conquistado e a feito segui-lo até o seu quarto de hotel para ter o melhor orgasmo da sua vida. Mas agora, ela sabia como ele era realmente. Mas isso não diminuía a fisgada entre as suas pernas quando ela lembrava de quão maravilhoso havia sido tê-lo dentro dela. “O que você quer?” Ele olhou para o display na mesa. “Nenhum prato especial esta noite?” Os lábios dela tremeram quando uma ideia maldosa penetrou a sua mente. “É


o bolo de carne de Cindy.” “É bom?” O sorriso dela se alargou. Ela mal podia esperar para ver o seu rosto quando ele desse a primeira mordida. “Ela é do Texas e criou a maioria das nossas receitas.” “Então, eu acho que vou experimentar.” Idiota. Ela fingiu anotar o pedido no bloco. “Alguma coisa para beber?” Porque ele certamente iria precisar de algo para beber depois de provar o especial. “O que você tem nas torneiras?” Ela apertou os dentes. Esta conversa não podia terminar rápido o suficiente.


“O que você está a fim de tomar?” “Alguma coisa local.” Ela revirou os olhos e listou as cervejas que tinha. Com a sorte dela, ele provavelmente iria escolher alguma coisa genérica como uma Labatt ou uma Bud Light. Mas quando ela terminou, ele disse, “Eu quero a Old Yale Pale Ale.” Hailey anotou o pedido e voltou ao bar para servir a caneca dele. A sua vingança de Ben Kelly começaria esta noite e ela esperava que, ao fim daquela noite, ela nunca tivesse que vê-lo novamente. Ela colocou a cerveja na mesa dele sem dizer uma palavra e voltou para a cozinha para esquentar


uma fatia do bolo de carne de Cindy. À primeira vista, o pedaço de carne parecia bom—grosso e suculento e perfeitamente dourado, ao lado de uma montanha de purê de batata fofinho e ervilhas a vapor. Mas eram os temperos secretos de Cindy que transformavam simples carne moída em um incêndio fora de controle na língua. Lenhadores haviam chorado ao prová-lo. As coisas não deveriam ser diferentes com Ben. Os olhos do seu pai se arregalaram quando ela saiu da cozinha carregando o prato. Alguns dos habitantes locais cutucaram uns aos outros e riram. Todos sabiam o que estava prestes a acontecer. “Aqui está.” Ela colocou o prato na


frente dele e tentou ficar séria. “Me avise se precisar de mais alguma coisa.” Ela voltou para o bar e ficou ao lado do pai. Todos no bar estavam olhando na direção da cabine de Ben, esperando o momento em que ele daria a primeira mordida. Sem perceber que estava se tornando um espetáculo, Ben cortou um pedaço do bolo de carne e o levou à boca. Cinco segundos depois, uma tossida rouca soou pelo salão, seguida de uma onda de risos. Mais uma pessoa havia sido vítima do bolo de carne de Cindy. Seu pai parou de rir por tempo suficiente para lhe jogar alguns pacotes de biscoitos salgados. “Dê alguns a ele


para aliviar a dor.” Ela se aproximou da mesa lentamente, enquanto Ben engolia o caneco de cerveja que ela havia trazido mais cedo. “Tome, experimente estes.” Ele pegou os biscoitos da mão dela e rasgou o pacote de celofane como um homem faminto, enfiando os biscoitos na boca. Suas bochechas estavam vermelhas e o som de fungadas constantes interrompeu os sons de mastigação. Depois de ter comido o último biscoito, ele respirou fundo. “Existe alguma razão para você não gostar de mim?” “Várias.” “E isso lhe dá o direito de pregar uma


peça dessas?” O sorriso sumiu do rosto dela. “Todo mundo na cidade conhece o bolo de carne da Cindy. Você só foi tolo o suficiente para experimentá-lo.” “Então, isso tem a ver com aquela coisa de habitantes contra forasteiros?” “Não.” Ela se inclinou na mesa e falou para que apenas ele conseguisse ouvi-la. “Escute aqui, mesmo que você esteja tentando passar despercebido com esse novo visual, eu sei quem você é.” Ele a olhou nos olhos, recusando-se a desviar o olhar. “E?” Agora, era a sua chance de contar tudo a ele, de humilhá-lo na frente do bar inteiro. Mas quando ele cobriu a


mão dela com a dele, um vulcão de emoções explodiu dentro dela, e a sua língua se recusou a funcionar. Ela nunca havia revelado o nome do pai de Zach a ninguém, nem mesmo ao seu pai. Inicialmente, era porque ela não sabia mais do que o seu primeiro nome. Depois, quando finalmente percebeu que o goleiro titular dos Vancouver Whales era o mesmo homem com quem ela havia tido uma noite selvagem, ela duvidou que alguém acreditaria nela. E depois de ter recebido a carta do diretor de relações públicas do time declarando que Ben havia negado conhecê-la, ela havia decidido que não valia a pena. Mas agora, ele estava à sua mercê, e


mesmo assim, ela não conseguia contar a ele sobre Zach. E o pior, ela não conseguia desviar o olhar dele. Fogo subia pelo braço com a mão que ele estava segurando, aquecendo o seu sangue e trazendo à tona a mesma onda de desejo que ela havia sentido a nove anos atrás. E quanto mais ela encarava aqueles olhos azuis metálicos, mais fortes as memórias daquela noite se tornavam. Meu Deus, ela ainda sentia atração por ele, mesmo depois de tudo o que ele a fez passar. Hailey puxou a mão e baixou os olhos. “Olha aqui, fique longe de mim, entendeu?”


Ela não esperou pela resposta. Em vez disso, ela voltou para o bar e serviu mais uma cerveja. “Pai, você pode levar isto para a mesa 12? Eu preciso de um minuto.” Seu pai olhou para ela sem entender, mas levou o caneco até a mesa de Ben enquanto ela passava pela cozinha e saía pela porta dos fundos. O ar fresco da noite acalmou os seus nervos e limpou a sua mente. Ela o respirou e colocou os braços em torno da cintura. Por nove anos, ela havia imaginado milhares de coisas para dizer se encontrasse Ben novamente e, esta noite, nenhuma delas havia saído. Mas, pelo menos, ela havia deixado claro que não o queria por


perto. Quando ela voltou para dentro, ele estava se levantando da mesa. Uma pilha de notas descansava sobre ela, sem dúvida uma gorjeta menor do que a que ele havia deixado para Cindy. Ela esperou até que ele saísse para pegá-la. Um pedaço de papel estava sobre o dinheiro. Estava gasto e amarelado, colado com fita adesiva em algumas partes. A tinta havia desbotado, mas ela ainda conseguia reconhecer a sua própria letra. Era o mesmo recado que ela havia deixado no quarto de hotel de Ben naquela noite. Ela fechou a mão em torno do papel e


correu pela porta da frente para alcançálo. A maioria das lojas locais haviam fechado e as ruas estavam quase desertar àquela hora. As luzes dos postes criavam cones de luz nas calçadas. Ela olhou para a direita, depois para a esquerda, procurando pelo homem que lhe daria as respostas de que ela precisava. Depois de várias batidas do coração, ela viu uma figura solitária entrando em uma Land Rover. Hailey correu até ele e segurou o seu ombro, virando-o para ela. Ela não se importou com o fato de que ele segurava uma bengala e podia machucá-la se decidisse usá-la. Ela levantou o papel. “O que significa isto?”


Ele observou o rosto dela por um momento, como se estivesse preocupado em ter cometido um erro. Então, ele a puxou e cobriu a sua boca com a dele. Inicialmente, ela estava chocada demais para se mexer. Ela ficou ali, em seus braços, paralisada enquanto ele a beijava. Quando os seus braços decidiram se mexer, eles a traíram. Ao invés de o empurrar para longe, eles agarram o seu pescoço. Sua boca se abriu e o permitiu aprofundar o beijo. Meu Deus, ele era ainda melhor do que ela lembrava. O calor que ela havia sentido antes com o toque dele era uma mera vela em comparação com o incêndio que a queimava agora. Ela


apertou seu corpo contra as planícies rijas do seu peito, abdome, ombros. Ela seguiu a língua dele em uma súplica sedutora que a fez esquecer da dor dos últimos nove anos. Era como se o tempo tivesse voltado, e eles estavam de volta naquele elevador, a caminho do quarto de hotel dele. E se tivesse que fazer tudo de novo, ela duvidava que diria não. Ele se afastou, com fogo nos olhos. “Eu achei que era você.” Ela deu um passo para trás, tentando respirar. Que diabos havia acabado de acontecer? “Vejo você por aí, Hailey.” Ele entrou na SUV e foi embora, deixando-a


paralisada no meio da rua. Ela não tinha ideia de quanto tempo havia passado, mas quando olhou para baixo, ela ainda estava com o recado na mão e nenhuma resposta a mais. “Está tudo bem?” seu pai perguntou quando ela voltou para o Sin Bin. “Ele não estava tentando nos passar a perna na conta, não é?” Ela balançou a cabeça. Ela não tinha ideia de quanto ele havia deixado, mas parecia ser mais do que o suficiente para duas cervejas e um especial. “Pai, você acha que vai precisar de mim para fechar hoje?” O rosto dele se enrijeceu. “Há algo que você não está me contando, não é?”


“Talvez.” Ela dobrou o recado, tomando cuidado com as dobras frágeis, e o colocou no bolso. “Eu só preciso ir para casa e verificar uma coisa.” Os cantos da boca dele desceram, mas ele voltou a secar os copos. “Não torne isso um hábito.” “Não tornarei.” Ela pegou suas coisas no escritório e dirigiu até o pequeno trailer no terreno do seu pai que servia como sua casa. Ele o havia dado para ela quando Zach ficou grande o suficiente para precisar do seu próprio quarto. Tudo nele a lembrava do seu filho, mas ela se recusava a se mudar. Ela foi direto para o quarto e pegou uma caixa embaixo da cama. Dentro


dela, estava um álbum de recortes que ela havia feito, catalogando cada evento da vida breve do seu filho. Ela o pegou sem abri-lo, procurando pela pilha de cartas que havia recebido dos Vancouver Whales. Quando percebeu quem Ben era inicialmente, ela tentou entrar em contato com ele, dizendo que queria conversar. Ela não obteve nenhuma resposta. Quando Zach ficou doente, ela tentou uma abordagem mais desesperada, tentando contar a ele sobre o seu filho antes que fosse tarde demais. Foi então que ela recebeu a carta do diretor de RP do time, dizendo que Ben havia negado conhecê-la.


Ela desdobrou a carta que Ben havia deixado na mesa naquela noite e a colocou na cama ao lado da carta que dizia que ele não a conhecia. Seu olhar foi de uma para a outra, lendo cada palavra cuidadosamente. Se Ben havia dito ao seu diretor de RP que não a conhecia, então por que ele havia guardado aquela carta por todos aqueles anos?


Capítulo Cinco Ben colocou o braço sobre os olhos para bloquear a luz do sol que entrava pela sua janela. Este era o problema dos verões na CB—o sol se levantava cedo demais. E não ajudava em nada sonhar com uma mulher com covinhas incrivelmente sexy deitada embaixo dele cada vez que fechava os olhos. Às vezes, o cabelo dela era azul, às vezes, loiro. Não importava. Tudo o que ele sabia era que estava mais excitado do que um adolescente virgem querendo transar antes da formatura. Nove anos haviam se passado desde que ele tinha conhecido Hailey, e nada


havia extinguido o fogo entre eles. Aquele beijo na noite passada era a prova. Ele precisou de todo o seu autocontrole para não convidá-la para vir ao seu chalé e recriar aquela única noite entre eles. A única coisa que o impediu foi a mudança no comportamento dela. Ela obviamente o odiava, e ele não fazia a mínima ideia do porquê. Mas isso não significava que ele não podia descobrir a razão. Ele tinha tempo de sobra em Cascade, e havia ganho uma segunda chance com a única mulher que nunca esqueceu. Talvez, se ele fosse persistente, conseguiria se dar bem em mais de um sentido.


Ele se sentou na beira da cama e testou o joelho antes de levantar. O médico o havia liberado para começar a patinar novamente, mas a cautela ainda o impedia. Era tudo psicológico—ele admitia isso tranquilamente. Mesmo quando levantava e colocava todo o seu peso sobre o joelho, ele sentia apenas uma pequena pontada. Mas a ideia de voltar para o gelo—de cair para bloquear um puck e ser atropelado por outro jogador e ter outra lesão no joelho —fazia o seu coração pular mais rápido do que uma jogada veloz. Ele procurou o conforto tranquilizador da sua bengala. Enquanto ele a carregasse, ninguém o pressionaria


a voltar para o time. Uma hora depois, ele havia terminado a sequência de exercícios que o seu fisioterapeuta em Vancouver havia recomendado. Os músculos ainda se cansavam rapidamente, mas ficavam cada vez mais fortes com cada dia. E todos os dias, ele chegava mais perto de tomar uma decisão que ele gostaria de adiar indefinidamente. Ele voltaria para o time na próxima temporada? Ele limpou o suor do seu rosto e pensou naquela pergunta, ainda sem conseguir pensar na resposta. Tudo o que ele sabia era que o gelo ainda o chamava, gostasse ou não.


Mas agora ele sabia que o gelo seria ocupado por uma jogadora cujo amor pelo jogo era maior do que o dele. Depois de um banho e o café da manhã, ele se viu de volta ao rinque de patinação. Ele entrou pela porta dos fundos e esperou nas sombras, como havia feito antes. E, como ele esperava, Hailey estava no gelo. Hoje, ela estava sozinha. Não haviam garotos do ensino médio para derrotar. Nada de Gus gritando com os garotos para que acompanhassem o ritmo dela. Apenas uma fileira de pucks sobre a linha azul e um goleiro de papelão na frente da rede. Hailey lançou o slap shot na direção


da goleira. Ele atingiu o goleiro de papelão na virilha, derrubando-o. Ben cobriu a sua própria virilha por reflexo e fez uma careta. Nenhum homem gostava de ver um tiro nas bolas, mesmo que fosse em um objeto inanimado. Não foi muito confortável perceber que o goleiro de papelão era ele. “Você realmente me odeia tanto assim?” ele perguntou antes que ela o recolocasse no lugar. Ela se virou nos patins, olhos arregalados. Um segundo depois, com o rosto enrijecido, ela voltou para a fileira de pucks. “O rinque está fechado, Kelly.” “A porta dos fundos está aberta.”


“Não para você.” Ela pegou o taco e mandou um tiro de canto incrível. Ele passou pelo ombro do goleiro e bateu na rede. A próxima jogada deslizou por debaixo das pernas dele, seguido de uma batida na trave que quase acertou a cabeça do pedaço de papelão. Ele assoviou baixo enquanto ela fazia jogada após jogada com total precisão. “Você é uma atiradora de elite, mesmo que não esteja jogando contra um goleiro de verdade.” Ela patinou até ele, parando um pouco antes de esbarrar com a parede. “Por que você não vem aqui e me desafia de verdade?” “Não posso.” Ele bateu na perna


lesionada com a bengala. “Bobagem.” Ela se afastou da parede, seus olhos nos dele, desafiando-o. “Você só está com medo de me encarar.” Ele estava com medo sim, especialmente depois de ver como ela havia tratado o Ben de papelão. “Eu estava falando sério ontem à noite. Deixe-me em paz.” “E o que acontece se eu não quiser fazer isso?” Ele mancou exageradamente ao descer as escadas de propósito. “Droga, Ben.” Ela jogou o taco no gelo e tirou as luvas, como se estivesse se preparando para dar uma surra nele. “O que você quer de mim?” Ele se recusou a ceder à ira dela.


Crescer com seis irmãos o ensinou que a melhor forma de evitar uma briga era ficar calmo e longe do alcance dos pulsos. Ele a observou friamente de longe, tentando encontrar uma forma de desarmá-la antes que ela estourasse. Ele manteve a voz baixa e calma ao responder, “Uma segunda chance.” A boca dela se abriu como se ele tivesse acabado de lhe dar um chute no estômago, seguida por um flash de dor nos seus olhos. Ela inspirou tremulamente. “E por que eu deveria lhe dar uma?” “Eu estou com dificuldades para entender por que você está tão hostil comigo.” Ele diminuiu o espaço entre


eles, um passo por vez. “Afinal, foi você que me deixou sem sequer um adeus.” “Eu deixei um recado.” “Sim, e eu o guardei por nove anos.” Ele esticou o braço, ficando com a boca seca ao pegar a mão dela. Ela era forte e quente, com calos que comprovavam as horas que ela havia dedicado ao esporte. E a sensação da sua mão na dele era absolutamente perfeita. Ela olhou para as suas mãos, sua raiva sumindo como havia acontecido na noite anterior. Não importava o quanto tentava parecer durona, ela não conseguia esconder a conexão física entre eles. Ele havia percebido isso na noite anterior, quando a beijou, e agora


tinha a prova. Ela lhe deu a coragem para continuar. “Eu não tenho nenhuma intenção de perder esta oportunidade, Hailey. Nós vivemos algo especial naquela noite, e eu quero saber se podemos viver mais.” Ela puxou a sua mão da dele, um invólucro frio a envolvendo enquanto ela se afastava, seus olhos fixos no gelo. “Não, eu não posso me distrair, especialmente com você.” “Por quê?” Seus olhos azuis brilharam, e o ódio cego reapareceu. “Escute, se você está querendo uma rapidinha, eu tenho certeza que o grande Ben Kelly não vai ter dificuldades em encontrar muitas


vadias no resort para satisfazer as suas necessidades.” “Eu nunca disse que queria uma rapidinha.” Ele lutou para manter a sua voz baixa e firme, mesmo que estivesse em pânico internamente. Ele havia esperado anos para ter uma segunda chance com ela e, de alguma forma, esta chance estava escorrendo pelos seus dedos. “Eu estava pensando em ir mais devagar, conhecer você melhor.” “É, mas não foi isso que o seu beijo sugeriu ontem à noite.” “E se eu me lembro bem, você correspondeu àquele beijo.” Duas manchas rosadas surgiram nas bochechas dela, mas ele não sabia se


eram de raiva ou de constrangimento. Ela se virou e voltou para a sua fileira de pucks. “Não vai acontecer, Kelly,” ela disse antes de atirar mais um míssil contra a rede. Ele queria correr para o gelo e beijála até que ela concordasse em lhe dar uma segunda chance, mas a parede não era a única coisa que o impedia. “Nem um jantar?” “Não.” Hora de uma tática nova. “O que eu teria que fazer para convencê-la?” Ela pausou, seu taco suspenso no ar, pronto para fazer mais um slap shot. Então, ela o abaixou e patinou lentamente até ele. Seus lábios estavam


apertados em uma linha desafiadora, mas seus olhos brilhavam sobre ele com um toque de curiosidade. “Você não vai aceitar não como resposta, não é?” A esperança aqueceu o seu sangue. Ele estava finalmente tendo algum progresso com ela. “Eu esperei nove anos. O que são mais alguns dias?” Os cantos da boca dela subiram com um meio sorriso que esculpia a covinha em sua bochecha esquerda. “Tudo bem. Eu saio para jantar com você depois que você bloquear esta jogada.” Ela o encarou enquanto voltava para a linha azul, seu sorriso se alargando e fazendo a segunda covinha surgir. Então, como se para provar o que havia dito,


ela fez mais uma jogada na direção do goleiro de papelão. O puck voou logo acima da luva do goleiro. Ben fechou o rosto e olhou para o gelo como se fosse um pântano infestado de jacarés. As coisas definitivamente não seriam fáceis se ele aceitasse a oferta dela. Mas isso não significava que ele não podia tentar conquistá-la de outras formas. Ele forçou um sorriso e acenou. “Vejo você por aí, Hailey.”


Capítulo Seis Hailey pulou do Zamboni e pegou seu equipamento. Suas pernas tremiam como borracha depois de correr vários quilômetros no treino de patinação, mas a dor havia sumido quando o seu sangue começou a circular novamente. Aquele havia sido um bom treino. E o que era ainda melhor, Ben Kelly não havia aparecido para distraí-la hoje. A dedução dela estava correta—ele estava com medo de pisar do gelo novamente. Ele havia parado de mancar totalmente quando desceu os últimos degraus até ela ontem. Ele estava se escondendo atrás da sua lesão, e ela


duvidava que ele iria superar o seu medo para aceitar o desafio dela. Ela só podia esperar que ele aceitasse não como resposta desta vez e fosse embora. No entanto, uma pontada de tristeza doeu em seu peito ao pensar nele indo embora. Ele parecia tão honesto, tão sincero sobre querer uma segunda chance que ela quase acreditou nele. Pergunte a ele sobre as cartas e descubra a verdade. Mas ela era covarde demais para fazer isso. Perguntar a ele sobre as cartas significava falar em Zach, e esta ferida ainda não havia cicatrizado. Além disso, ela mal conhecia Ben, a não ser a sua habilidade na cama. E que


ele era um bom jogador de hóquei— talvez o melhor goleiro da NHL. E ele realmente não parecia ter uma reputação de briguento ou festeiro. Na verdade, a única cobertura que ele recebia da mídia era durante os melhores momentos das suas defesas incríveis. Em outras palavras, ele realmente parecia ser um cara decente. Talvez, até um pouco romântico, por ter guardado a carta dela todos aqueles anos. Ela gemeu e bateu a cabeça na porta dos fundos. Continue pensando assim, e você vai acabar na cama dele e grávida antes de Sochi. Ela pegou suas chaves do rinque e trancou a porta dos fundos. O sol de


verão batia nas suas costas e ombros, aliviando o seu cansaço. Era um dia perfeito para subir até as montanhas e desfrutar da paisagem antes de ir para o trabalho. “Como foi o treino?” uma voz familiar masculina surgiu atrás dela. Hailey pulou e se virou. Ben estava a cerca de dois metros de distância com um sorriso maroto no rosto. “Você não tem nada melhor para fazer do que me perseguir?” Ela passou por ele e jogou seu equipamento na traseira da sua pick-up. “Na verdade, não. Afinal, eu ainda sou novo na cidade.” Ele a seguiu até a


pick-up. “Se eu encontrasse alguém daqui para me mostras a cidade e indicar algumas coisas para se fazer, talvez, eu pudesse encontrar alguma distração interessante.” Ela descansou o braço esticado na traseira do Jeep. Uma risada de surpresa emergiu do seu peito. “Você não vai desistir mesmo, não é?” “Eu acho que você já sabe a resposta para esta pergunta.” Ele estava tão perto que a sua respiração banhava a nuca dela. “Você se importa de me mostrar a cidade?” Ela fechou os olhos e tentou esmagar a onda de desejo que corria por suas veias com a proximidade dele. O aroma


picante da colônia dela era excitante e reconfortante ao mesmo tempo. Ele a fazia querer enfiar a cabeça embaixo do queixo dele e apertar o nariz contra o seu pescoço para absorvê-lo. Ele segurou o queixo dela com o dedo e guiou a sua cabeça na direção dele. Seus olhos imploravam a ela da mesma forma que Zach fazia quando queria algo. “Por favor.” E, da mesma forma que fazia com o filho, ela não conseguia dizer não. “Tudo bem.” Ela afastou a mão dele. “Mas nós vamos no meu carro.” Ele examinou a pick-up velha dela com olhos desconfiados. “Você tem certeza de que essa coisa é segura?”


“Sim.” Ela sentou no lugar do motorista e implorou aos céus que ele desistisse. “Você tem certeza de que não prefere ir no meu carro?” Ela balançou a cabeça. “Eu não ficaria confortável em um carro mais caro do que a minha casa.” “Eu posso dirigir, e você me diz onde ir.” “Como se um homem ouvisse as instruções de uma mulher.” “Eu não tive problemas em seguir as suas instruções antes.” As bochechas dela ficaram quentes quando ela percebeu que ele estava se referindo à única noite que tiveram


juntos. “Ouça, Kelly, você queria um passeio turístico, e eu estou disposta a lhe dar isso, mas nos meus termos. Nós vamos no meu carro porque eu sei que ele aguenta as estradas daqui. Agora, entre ou me deixe ir.” Ela ligou o motor, e ele correu para entrar no lugar do passageiro mais rápido do que um homem com uma lesão no joelho conseguiria. Sim, ele estava definitivamente se escondendo por trás da lesão. Mas quando ele entrou no carro e viu o interior gasto, uma nova emoção a inundou—constrangimento. Ela segurou o volante com mais força. “Eu sei que não é tão chique quanto uma Land Rover


—” “É ótimo.” Ele colocou o cinto de segurança e lançou um meio sorriso para ela. “Como você disse, ele aguenta as estradas daqui.” Ela saiu do estacionamento, o arrepio na base da sua coluna lhe avisando que ela ainda estava muito ciente da presença dele. “Você já sabe onde o rinque de patinação é,” disse ela, com a melhor imitação de uma guia turística ao virar para a direita. “Esta é a rua principal de Cascade. Ali fica o mercado, a ferragem. Você já conhece o Sin Bin. E ali está a clínica.” Ele acenou com a cabeça enquanto ela apontava todas as maiores lojas da rua.


“É uma cidade bem pequena se você não incluir o resort.” “É, mas eu não iria querer morar em nenhum outro lugar. É como ter uma grande família.” “É o que todo mundo me diz. Eu já ouvi mais de uma vez que todos cuidam uns dos outros aqui.” Ele se virou para ela. “Especialmente quando se trata de você.” Ela sacudiu os ombros, apesar de as suas bochechas terem ficado quentes. “Todos sabem que eu tenho só mais uma chance de jogar nas Olimpíadas, e querem me ajudar a chegar lá. Lou me deixa usar o rinque de patinação fora do horário comercial de graça, desde que


eu limpe as coisas antes de sair. Gus filma os meus jogos para que eu possa mostrar o que eu tenho a oferecer aos treinadores. Papai mantém o meu horário no Sin Bin flexível.” “É, exatamente como uma grande família.” Ele relaxou no banco. “Jogar em Sochi é bem importante para você, não é?” Uma pontada de dor se formou no coração dela, lembrando-a da sua promessa a Zach. “Mais importante do que qualquer coisa na minha vida inteira.” “Por que você não concorreu por uma vaga na seleção canadense antes?” A respiração dela se acelerou. Ele


sabia? Ou estava apenas tentando descobrir alguma coisa? Ela escolheu suas palavras com cuidado. “A vida me impediu.” “Foi o que a Cindy disse.” Hora de lembrar a Cindy para ficar com a boca fechada. “É?” “Sim, mas ela se recusou a dar qualquer outro detalhe. Como eu disse, todos parecem querer proteger você, em especial.” “Pode ser apenas porque você não é daqui.” Ela parou no cruzamento que levava até o resort. “Eu preciso lhe mostrar alguma coisa aqui?” “Não. Eu já estou familiarizado com esse lado da montanha.” Essa era a


chance dela para terminar o passeio ali mesmo e livrar-se dele, mas ele adicionou, “Você se importaria de me mostrar alguns dos seus lugares favoritos?” Hailey agarrou o volante, pesando o risco de passar mais tempo com ele ou não. Mas se ela o levasse até o mirante, talvez tivesse uma oportunidade para falar de Zach. Ela entrou na próxima estrada, saindo do resort. “Então segurese. Vamos passar por alguns buracos.” A parte pavimentada da estrada terminava a alguns quilômetros do cruzamento e se transformava em uma estrada de chão batido que levava à montanha oposta. Ben segurou a alça de


teto silenciosamente, seu rosto tenso enquanto ela navegava pela ladeira íngreme que conhecia de cor. Mesmo com a tração nas quatro rodas, a subida era lenta, mas depois de vinte minutos, eles chegaram à planície ao longo do cume. As nuvens da manhã haviam se dissipado, revelando quilômetros de picos irregulares. À distância, uma tira de água azul brilhava como um pequeno diamante escondido de todos, a não ser daqueles que sabiam onde procurar por ele. O vento frio soprava sobre as geleiras próximas enquanto ela saía da pick-up, congelando a sua respiração e fortalecendo a sua alma. Este lugar era


uma parte tão importante dela quanto o rinque de patinação. Ela se virou a tempo de ver Ben boquiaberto de surpresa e riu. “Além do gelo, este é o meu lugar favorito na cidade.” “Entendo o porquê.” Ele saiu do carro, deixando a sua bengala dentro dele, e se uniu a ela na frente do Jeep. “Eu nem sabia que este lugar existia.” “A maioria dos turistas não sabe.” Ela subiu no capô quente do carro e puxou as mangas do casaco sobre as mãos. “Eu tenho medo do dia em que eles descobrirem o lugar e tentem construir outro resort aqui.” “A cidade não deixaria isso


acontecer, não é?” Seus olhos arderam ao lembrar da vez em que ela havia trazido Zach ali e ele havia feito a mesma pergunta. Ela puxou os joelhos até o peito e deu a Ben a mesma resposta que havia dado ao seu filho. Sua voz tremeu. “Não se pudermos fazer algo para impedir.” Ele inclinou a cabeça para o lado com uma expressão confusa, e ela esperou que ele lhe perguntasse qual era o problema. Os cantos da boca dele desceram, seu lábio inferior se projetando para frente no processo. O coração dela saltava, e seu estômago se retorceu. Conte para ele, a sua mente gritava, mas sua língua se


recusava a obedecer. Se ela se atrevesse a abrir a boca, poderia começar a chorar. Não, ela não podia arriscar qualquer demonstração de fraqueza. Felizmente, ele não a pressionou. “Este lugar é especial para você, não é?” Ela confirmou e pressionou a bochecha contra os joelhos. A última vez que ela havia ido até lá tinha sido quando eles jogaram as cinzas de Zach ali no verão. Ele amava aquele lugar tanto quanto ela. Parecia apropriado que ele se tornasse parte dele. Ben ficou na frente dela e colocou as mãos nos seus quadris, puxando-a para perto dele. “Então, obrigado por


compartilhá-lo comigo.” Seria fácil demais cair nos braços dele. Ele colocou a cabeça dela embaixo do queixo, e o seu perfume a tranquilizou, exatamente como ela havia imaginado. Em seu peito, o coração batia em um ritmo calmo e previsível que não tinha nada a ver com o homem na sua frente. Ben Kelly era qualquer coisa, menos previsível, e estar tão perto dele não ajudava a acalmá-la. Sua pulsação dançava, dissipando a sua tristeza no processo. Ela havia ido até lá para contar a ele sobre o passado mas, para a sua surpresa, ela havia começado a se perguntar se teria um futuro com ele.


Como se soubesse o que se passava na sua mente, ele se afastou o suficiente para que os seus lábios encontrassem os dela. Diferente do seu beijo anterior, este havia sido lento e suave. Ela apertou as mãos contra o peito dele, tentando resistir ao máximo. E mesmo assim, ela cedeu ainda mais aos encantos dele. Ela segurou a gola da sua jaqueta e retornou o beijo. Em vez do incêndio fora de controle que a havia deixado pronta para arrancar suas roupas, este beijo produziu uma onda de calor que começou no seu peito e se espalhou pelas suas veias como uma dose de Crown Royal em uma noite fria. Ele


afastou o frio, a tristeza, o vazio que a tinha consumido desde a morte de Zach, e a deu algo novo no qual se apoiar. Ela sabia desde o momento em que conheceu Ben que ele era diferente de todos os homens que ela havia conhecido. Ele fazia o seu coração pular e seu sangue ferver. Ele a fazia sentir coisas que ela não queria sentir— paixão, desejo, raiva, ódio. Mas, por um momento, ela imaginou o que aconteceria se ela lhe desse uma segunda chance. Ele se afastou, sua respiração acelerada, e segurou o rosto dela nas mãos. “Hailey,” disse ele com um gemido sussurrado que a atingiu em


cheio. Seria muito fácil segui-lo até o chalé e repetir a noite que eles haviam tido juntos. Uma onda de pânico inundou o seu peito quando o pensamento surgiu em sua mente. Se ela caísse naquela tentação, sofreria as mesmas consequências de antes? Desta vez, ela não teve dificuldades em afastá-lo. Ela desceu do capô da pick-up e resmungou, “Eu preciso ir trabalhar.” A magia do momento havia sumido, e eles voltaram a ser dois estranhos em lados opostos do carro. Ben se virou, seus ombros caídos, e observou a


paisagem até que ela ligasse o motor. Ao voltar para o carro, ele se moveu como um homem com o dobro da sua idade. Hailey manteve os olhos fixos na estrada durante o caminho de volta, ignorando seu passageiro. Aos poucos, Ben estava destruindo a imagem que ela havia guardado por todos aqueles anos. Quanto mais tempo ela passava com ele, mais difícil era desprezá-lo. O jogador de hóquei famoso que havia negado conhecê-la havia sumido, deixando um romântico tímido que havia guardado a lembrança de uma noite na carteira por nove anos. O silêncio na viagem de volta ao rinque de patinação havia aumentado o


espaço entre eles. Ao chegar de volta ao estacionamento, ela havia conseguido restaurar suas barreiras. “Eu espero que você tenha gostado do passeio.” O sorriso dele não alcançou seus olhos. “Gostei. Obrigado.” Ele pegou sua bengala e saiu da pick-up. “Alguma chance de você mudar de ideia sobre o jantar?” Ela engoliu em seco, sufocando a vontade de dizer sim. Seu olhar caiu sobre a bengala que ele obviamente não precisava. Talvez, se ela o pressionasse para voltar a jogar, eles pudessem curar um ao outro. “Sem chance, Kelly.” Ele suspirou exageradamente. “Foi o que eu pensei. Vejo você por aí.”


Ela esperou por um momento depois de ele bater a porta e o observou voltar para o seu Land Rover, tentando entender os seus sentimentos por ele. Seu coração e mente estavam em guerra um com o outro. Quando nenhuma solução clara surgiu, ela dirigiu até o Sin Bin e ficou sentada na pick-up até ver Ben passar por ela no carro. Então, ela atravessou a rua e entrou na clínica médica. “Oi, Lisa,” ela disse ao passar pela recepcionista. “A Jen está com um paciente agora?” “Não, ela está no horário de almoço pelos próximos dez minutos.” “Perfeito.” Era tempo suficiente para


ouvir as opiniões da sua melhor amiga. Jen estava no seu escritório, comendo uma salada enquanto surfava na web à procura de roupas de bebê. O brilho no seu rosto complementava a saliência crescente que esticava o seu vestido. Ela teria o bebê em dois meses, e a cidade já estava ansiosa para saber quem iria ficar no seu lugar na clínica quando ela estivesse em licença-maternidade. Hailey bateu na porta. “Tem um minuto?” “Sempre.” Ela jogou os cabelos negros sobre o ombro e sorriu. “O que está acontecendo?” Hailey sentou na cadeira vazia ao lado da mesa e esfregou os braços. Ela


conhecia Jen desde sempre, mas um manto não familiar de estranheza a cobriu enquanto ela tentava encontrar as palavras. “Sabe aquele DIU que você colocou a uns dois anos atrás? Ele ainda está funcionando, não é?” Jen levantou uma sobrancelha, seus olhos castanhos cheios de dúvida. “Ele funciona por cinco anos.” “E ele funciona tão bem quanto uma ligadura, não é?” “Sim, mas se você está pensando em ficar com aquele cara novo na cidade, eu recomendo usar uma camisinha como precaução.” “Espere, como você—” Hailey pulou da cadeira. “Alguém consegue guardar


segredos nesta cidade?” Jen riu e balançou a cabeça. “Eu estava me perguntando quando você iria me contar sobre ele. Então, o que está acontecendo?” “Ele é simplesmente o homem mais frustrante e confuso que eu já conheci.” Ela andou de um lado para o outro. “Eu sei que deveria ficar longe dele, mas—” “Mas o quê? Pelo que eu ouvi, ele é bonito e está interessado em você.” Jen enfiou uma garfada de salada na boca. “Ah, e ele deixa gorjetas incríveis para a Cindy.” “É só porque ele estava tentando conseguir informações com ela.” “Melhor ainda. Isso mostra que ele


realmente está interessado em você. E já era hora de você começar a sair novamente.” “As coisas não são tão simples.” Ela parou e passou os dedos pelo cabelo, tentando encontrar coragem para revelar o seu segredo à sua melhor amiga. “Ben e eu temos uma história.” O queixo de Jen caiu junto com o seu garfo. “Ben? O senhor “Oh Meu Deus, o Melhor Sexo do Mundo”?” Hailey confirmou e olhou para o chão. “Mas isso o faria...” A voz da sua amiga silenciou antes que ela pudesse dizer o que as duas não se atreviam a mencionar. Jen se endireitou na cadeira. “Ele sabe sobre o Zach?”


“Eu não tenho certeza.” “Como assim, você não tem certeza? Ou você contou para ele ou não contou.” “Droga, Jen, eu tentei contar a ele quando o Zach ficou doente, mas eu não tenho a mínima ideia se ele recebeu aquelas cartas.” Ela se inclinou para trás na cadeira e esfregou a nuca. “Nove anos de nada, e bam! Ele aparece na nossa cidade e está pedindo por uma segunda chance.” “Ele estava procurando por você?” “Eu acho que não. Quer dizer, tudo parece ser uma grande coincidência.” “Ou destino.” Jen bateu palmas e soltou um gritinho de excitação. A mulher certamente havia lido romances


demais. “Então, o que você vai fazer a respeito?” “O que eu posso fazer? Quer dizer, se eu me envolver com ele de novo, eu não só corro o risco de perder a minha última chance de ir para as Olimpíadas, mas também posso acabar machucada novamente.” Jen acenou, incentivando-a a continuar. Hailey engoliu em seco. Agora, vinha a parte difícil—expor aquela vontade oculta que ela não gostava de admitir que tinha. “Mas, sinceramente, eu estou achando cada vez mais difícil dizer não. A atração física ainda existe.” “E quanto ao Zach?”


A pergunta a atingiu como um soco no estômago e a lembrou de que ela era covarde. “Eu estou com medo de falar no assunto.” “Por quê?” “Porque eu tenho medo que ele me deixe de novo.” Ela colocou os braços ao redor do estômago e se inclinou para frente. “Se ele realmente não sabe sobre Zach, como você acha que ele vai reagir quando eu contar? Zach morreu, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso.” “Mas ele merece saber do seu filho.” “É fácil para você dizer.” Seu olhar caiu sobre a mão que descansava sobre a barriga da amiga e a aliança de


casamento que Jen usava. “Você está bem casada com um homem que sabe que vai ter um filho.” Jen apertou os lábios e balançou de um lado para o outro na cadeira. “O que realmente está em jogo aqui?” Seus dedos ficaram frios e sua boca secou. Ela umedeceu os lábios. “Eu estou com medo de me apaixonar ainda mais por ele do que antes e terminar ainda pior. Eu fiz uma promessa ao Zach, e tenho a intenção de cumpri-la. Mas o Ben pode me distrair tanto que eu vou acabar esquecendo dela.” “Ah, querida.” Jen esticou o braço e segurou a sua mão. “Eu sei que o momento é péssimo, mas é uma chance


de consertar as coisas. Quer dizer, ele parece estar procurando por só mais uma noite ou parece querer mais?” A memória do beijo deles na montanha inundou seus pensamentos. Não, aquele não era o beijo de um homem que queria apenas diversão rápida. Era o beijo de um homem que estava tentando dizer a ela que estava disposto a ser paciente até que ela mudasse de ideia. “A segunda opção.” “Então, vá com calma e veja no que dá. Mas não mantenha o Zach em segredo por muito tempo.” Ela abriu a gaveta da mesa e pegou uma das camisinhas que dava aos pacientes. “Você pode querer ter uma dessas à


mão, caso precise.” Os cantos da sua boca curvaram em um meio sorriso, apesar do seu desejo de não rir. Ela pegou a camisinha e a colocou no bolso. “Agora, eu consigo me controlar, sabia? Não sou mais uma menina excitada de dezoito anos.” “Não, você é pior. Você já sabe que ele é bom de cama. É como se você já tivesse provado o melhor chocolate e não vai se satisfazer até comer mais.” Agora, ela riu. Ben era como um bom chocolate, mas havia um perigo claro em abusar de algo bom. “Então, quando eu devo contar a ele?” “Quando o momento certo surgir.” Hailey respirou fundo e segurou,


esperando que a resposta viesse até ela. “E se nunca for o momento certo?” Jen apertou a sua mão e lhe deu um sorriso reconfortante. “Isso quer dizer que você não está ouvindo o seu coração.” Ela se inclinou e abraçou a melhor amiga. “Obrigada, Jen.” “Sempre que precisar.” Ela se afastou com um sorriso travesso. “E se você decidir aproveitar mais uma noite com ele, me conte como foi.” “Já está cansada do Nick?” Jen balançou a cabeça, abrindo o sorriso enquanto alisava a barriga. “Só estou tentando viver através de você.” Hailey saiu da clínica mais tranquila


do que estava quando entrou. Jen havia dito para ir com calma, e ela faria isso. Ela sĂł esperava que tudo nĂŁo acabasse quando ela finalmente contasse a Ben sobre Zach.


Capítulo Sete Ben pegou o telefone sem ver quem estava ligando. “Alô?” “Oi, Ben.” A voz do seu treinador, John McMurty, o pegou de surpresa, como um wrist shot no seu ponto cego. “Como está o joelho?” Uma lista de xingamentos passou pela sua mente enquanto se recostava na cadeira. Ele ainda estava tentando criar coragem para voltar ao gelo, e o seu treinador já estava querendo um relatório de status. “Melhorando.” “Bom.” Uma pausa seguiu. “Alguma chance de vermos você no acampamento de treino em setembro?”


Ben olhou para o teto e passou os dedos pelo cabelo. “Talvez.” “É só isso que você pode me dar? Um “talvez”?” “O que você quer que eu diga, Mac? Que o meu joelho melhorou como mágica e que eu estou em perfeitas condições para jogar? Fazem só três meses.” “Eu sei que você não vai estar 100% ainda, mas logo eu vou ter que fazer as convocações e preciso saber se vou precisar de outro goleiro.” Ele olhou para o par de patins que havia trazido de Vancouver naquela manhã e começou a suar frio. O reflexo da luz nas lâminas zombava dele.


Depois de Hailey ter deixado claro ontem que não iria mudar de ideia, ele havia ido até a sua casa em West Point Grey, ainda embriagado com o beijo dela, e pegou o seu equipamento. Agora que havia tido tempo para analisar as suas ações, ele se perguntou no que estava pensando. Pelo menos, aquilo lhe dava algo para contar a Mac sem mentir. “Eu peguei meu equipamento ontem à noite e devo estar voltando ao gelo em um ou dois dias.” Ele esperava que fosse tempo suficiente para conseguir que Hailey saísse para jantar com ele. Ele teria tempo para pensar na sua carreira depois disso.


“É isso que eu gosto de ouvir.” Ele quase pôde ver Mac rindo pelo telefone. “Me mantenha informado.” “Farei isso.” Ben desligou e jogou o telefone no sofá. Teria que haver um jeito mais fácil. Mas quando ele não conseguiu pensar em uma solução, atravessou o quarto e pegou um dos patins. A última vez que ele havia usado um tinha sido na noite em que ele sofreu a lesão. E agora, ele estava disposto a correr o risco de se machucar novamente, só para impressionar uma garota. Bem, não era uma garota qualquer. Era Hailey. E, no entanto, ela permanecia um


mistério. Mesmo estando em um lugar que deveria ser um dos seus favoritos, ela parecia estar prestes a chorar ontem. Vê-la sentar encolhida no capô com os olhos marejados o havia afetado mais do que ele esperava. A vontade esmagadora de confortá-la o havia atingido com tanta força quanto a do defensor que havia fraturado o seu joelho. Mas, em vez de derrubá-lo e deixá-lo sem ação, aquilo o havia feito se aproximar dela, havia lhe dado a coragem de pegá-la nos braços e aliviar a sua dor. E o beijo que se seguiu… Bem, ele ainda não estava pronto para analisá-lo. Tudo o que ele sabia era que ele parecia tão natural quanto respirar, e mesmo


assim, havia-o deixado sem fôlego no fim. Ele segurou o patim na sua frente. “É melhor você não estar me enganando,” ele disse antes de colocá-lo de volta na bolsa. O sol estava começando a se pôr, iluminando os picos ocidentais com um brilho dourado. Como seria o pôr do sol no cume da montanha a qual Hailey o havia levado? Ainda mais espetacular do que o de ontem? Ele esfregou o queixo e se perguntou se conseguiria voltar lá sem ela enquanto via o sol desaparecer por trás das montanhas e banhar o vale abaixo em sombras. Ele queria vê-la de novo.


Correção—ele precisava vê-la de novo, mesmo que fosse apenas para tirála da cabeça por algumas horas depois. Ele pegou as chaves do carro e foi até o Sin Bin, imaginando que aquele fosse o lugar mais provável para encontrá-la àquela hora da noite. O estacionamento estava tão vazio quanto o bar. Duas mulheres estavam sentadas nos bancos, conversando com Cindy, mas o lugar estava deserto. “Olá, querido.” Cindy lançou um sorriso brilhante e acenou para ele de trás do bar. “O que o traz aqui esta noite?” “Eu estava procurando pela Hailey.” As duas mulheres riram, forçando


Cindy a silenciá-las com um aceno da mão. O desconforto subia pelas suas costas. Ele estava no meio de outra pegadinha dos habitantes locais contra os forasteiros, como o bolo de carne da outra noite? “Hailey está jogando esta noite, querido. Você pode encontrá-la no rinque.” “Obrigado.” Ao se virar para sair, três pares de olhos se fixaram em suas costas. Ele não duvidava de que seria o assunto da conversa das mulheres pela próxima hora. Diferente do Sin Bin, o estacionamento do celeiro estava lotado,


forçando-o a estacionar a duas quadras de distância. Foi apenas quando ele saiu do carro que percebeu que havia deixado a bengala em casa. Seu joelho reclamou nos primeiros passos, mas quando chegou ao rinque, a dor havia sumido. A cidade inteira parecia estar nas arquibancadas. O som de gritos e pisadas encheu os seus ouvidos, todos os habitantes locais torcendo para um dos times. Ao chegar mais perto do gelo, ele viu as camisetas dos jogadores. O Sin Bin dos Erikson estava jogando contra o Ferragem McInnis, mas o jogo local havia deixado a população daquela pequena cidade tão


entusiasmada quanto uma final da NHL. Ele não levou muito tempo para encontrar Hailey. Ela era uma das menores jogadoras no gelo, mas a sua habilidade com o taco deixava os outros comendo poeira. Ela deslizou por ele com o puck, fazendo uma parada forte para evitar um dos defensores do outro time antes de dar a volta na rede e lançar o puck no ponto cego do goleiro com um wrist shot. A torcida vibrou em uma mistura de gritos de apoio e resmungos, e Ben se viu aplaudindo com eles. Hailey era boa. Ela merecia estar na seleção canadense. E talvez ele pudesse ajudá-la de alguma forma.


Ele continuou a descer as escadas até onde Gus estava com uma pequena câmera. “Filmando o jogo?” “Sim,” o treinador respondeu, seus olhos fixos no gelo. “Eu tenho alguns garotos que estão esperando conseguir uma vaga nas ligas de juniores, e eu quero ter vídeo suficiente deles para dar aos olheiros.” Ben levantou uma sobrancelha. Ele duvidava que algum dos jogadores no gelo fossem adolescentes. “E Hailey?” Isso fez Gus se virar. “Sim, ela também.” Ele apertou os olhos. “Eu ainda não consigo deixar de achar que conheço você de algum lugar.” Os gritos da torcida o fizeram voltar


ao gelo, onde um dos jogadores do Sin Bin havia pego o puck do time oposto e passado para Hailey. Um garoto grande se movia na frente dela, abrindo caminho pelo gelo. “Esse é o meu garoto!” Gus gritou, mantendo a câmera em Hailey enquanto balançava o braço no ar. “É assim que se faz, Alce.” Alce olhou para o defensor direito, derrubando-o e dando a ela a chance de fazer um lance livre para a rede. E, exatamente como no outro dia, ela lançou o puck na trave superior, fazendo o gol. “Oh, ela está acabando com eles,” Gus disse com um sorriso.


Hailey mal teve tempo de comemorar o gol. Um dos jogadores da loja de ferragens a encarou e gritou com ela. A torcida abafou as suas palavras, mas com base na forma como o maxilar dela se contraiu, não havia sido uma conversa amigável. O jogador a empurrou com o ombro, depois com a mão, ainda gritando com ela enquanto os outros jogadores se aproximavam deles. Ela largou o taco e apertou os olhos. “Ah, merda,” Gus murmurou no momento em que o punho de Hailey tocou o rosto do outro jogador. Os gritos da torcida quando ela fez o gol pareciam aplausos educados em comparação com os aplausos de pé que


deram à pancadaria que se instalava no gelo. O estômago dele se apertou quando o outro jogador tentou acertá-la, seu pulso quase atingindo o nariz dela. Hailey conseguiu dar um soco bem colocado no estômago do outro jogador antes que os juízes os separassem e os mandassem para o banco. Ela sentou, bufando, e mastigou o protetor de dentes enquanto o juiz recomeçava o jogo. Ben foi com Gus até o banco dos Sin Bin. “Erikson, você tem que controlar esse temperamento. Ninguém quer um jogador descontrolado no time, especialmente quando se trata das Olimpíadas.”


“Mas ele começou, Gus.” A boca dela permaneceu aberta, como se ela quisesse dizer mais, mas a sua justificativa foi interrompida quando ela o viu. “O que você está fazendo aqui?” “Assistindo a um jogo local.” Ela colocou o protetor de dentes de volta, mas não antes de ele ver um traço de sorriso em seus lábios. Um arrepio correu pela pele dele. Ele estava finalmente progredindo com ela. Incentivado pela reação dela, ele se aproximou. “E Gus está errado. Eu vi muitas faltas por brigas nas últimas Olimpíadas.” Ela se virou e fixou o olhar no dele. A inveja brilhou em seu rosto antes que ela


voltasse a olhar para o jogo. “Sim, mas Gus está certo. Eu já tenho pontos negativos suficientes. Não preciso ser rotulada como uma encrenqueira.” O período de penalidade terminou e Hailey pulou de volta no gelo assim que o cronômetro chegou a zero, fazendo mais um gol em menos de um minuto. “E esse é um belo truque.” Gus riu, seguindo-a com a câmera. Ele olhou para Ben. “Ei, eu acho que finalmente sei de onde eu conheço você. Você é Ben Kelly, não é?” Seu disfarce havia sido descoberto. “Sim.” O topo da sua careca ficou vermelho, e seus lábios tremiam com um sorriso


nervoso. “Foi o que eu imaginei. Você vai voltar para os Whales na próxima temporada? Porque eles realmente precisam de você.” Antes que ele pudesse responder, Alce marcou outro jogador, derrubandoo no gelo. O juiz soprou o apito, e o jogo foi interrompido enquanto o jogador caído tentava ficar de pé. O gelo ficou vermelho embaixo dele com o sangue que escorria do seu rosto. O pânico tomou conta de Ben enquanto ele via os outros jogadores cercarem o jogador ferido. Uma dor aguda e forte surgiu em seu joelho, e sua pulsação acelerou. O suor brotava em sua pele. Memórias da noite em que ele


se feriu passaram pela sua mente, e a sua cabeça rodou. Ele se esforçou para desviar o olhar e caiu no assento mais próximo para não vomitar. “Ah, qual é, o Alce não bateu nele com tanta força,” Gus gritou para o juiz enquanto ele levava o seu filho para o banco. “Eles estão acabando com a graça do jogo.” Era fácil para ele dizer. Ele provavelmente nunca havia sido atingido por uma pancada daquelas. Ben se concentrou na respiração, inspirando fundo lentamente até que a sua ansiedade fosse controlada. Gus disse algumas palavras para Alce antes de voltar para Ben. “Você


realmente tem mostrado muito interesse na Erikson.” “Talvez seja pessoal.” Uma careta contorceu a boca do treinador. “Nem sequer pense nisso. Hailey já perdeu uma ida aos jogos olímpicos por se envolver com o cara errado, e eu não vou deixá-la estragar as suas chances desta vez.” Ben deixou a sua mente absorver aquela informação por um momento antes de perguntar, “O que ele fez com ela?” Gus abaixou a câmera e diminuiu o espaço entre eles. Mesmo que ele fosse pelo menos 15 cm mais baixo do que Ben, o temperamento do treinador


compensava o que ele não tinha em altura. “Escute aqui, eu falei sério antes. Fique longe da nossa menina.” “Entendi.” Ben levantou as mãos e se afastou. Diferente de Hailey, ele não tinha nenhuma intenção de confrontar um oponente irado. “Só estou curioso sobre ela.” “Você pode ficar curioso sobre ela depois de Sochi.” Ele voltou a levantar a câmera e continuou a gravar o jogo. Ben continuou por perto, notando que a pequena tela presa à câmera mostrava apenas os movimentos de Hailey. Gus estava gravando imagens dela e de mais ninguém. Então, ele reproduziu a ameaça do treinador. Ele havia se referido a ela


como “nossa menina,” confirmando o que Hailey havia dito a ele sobre a cidade ser como uma grande família. Todos estavam fazendo o possível para tornar os sonhos olímpicos dela uma realidade, inclusive tentar afastá-lo dela. Mas, talvez, ele pudesse fazer alguma coisa. “Ei, Gus, quanto você já gravou dela?” “Horas. Por quê?” “Você pretende editar tudo?” “Ela já tem sorte por eu saber gravar os jogos.” Eureca! Ele havia encontrado uma forma de ajudá-la. “Eu sou muito bom com programas de edição de vídeo.


Você podia me enviar alguns dos arquivos para que eu possa fazer uma compilação de melhores momentos para a seleção canadense?” A câmera caiu novamente, mas desta vez, o rosto de Gus estava paralisado de surpresa. “Você estaria disposto a fazer isto por ela?” Ben confirmou. “Eu quero que ela tenha uma chance de ir para Sochi tanto quanto todos aqui.” Os olhos redondos de Gus o observaram de cima a baixo. “Deixe-me ver o que eu posso lhe enviar.” “Obrigado.” Uma sirene soou, marcando o fim do período, e Ben saiu do rinque. Ele


precisava se certificar de que o seu computador estava em condições cumprir a tarefa que ele havia se disposto a fazer. Além disso, ele precisava checar com seus contatos se havia alguma forma de fazer com que os vídeos de Hailey chegassem às mãos certas. Na viagem de volta para casa, seus pensamentos se voltaram para o comentário de Gus sobre Hailey se envolvendo com o homem errado. Dezenas de cenários cruzaram a sua mente, nenhum deles bom. Mas aquilo explicaria as lágrimas dela na montanha ontem, e a razão de ela estar tão diferente da garota que ele havia


conhecido nove anos atrás. Ele só esperava que, talvez um dia, ela confiasse nele o suficiente para contar a sua história. **** Ben olhou para a sua bolsa de equipamentos como se fosse uma cascavel pronta para atacar. Ele a havia atirado na Land Rover naquela manhã com a intenção de encontrar Hailey no rinque e cumprir a sua parte do acordo. Mas depois de ficar sentado no estacionamento pelos últimos dez minutos, ele ainda não tinha certeza de que estava pronto para colocar os patins novamente. O problema não era a dor no seu


joelho. Sim, ele ainda sentia uma pontada ocasional, mas nada como a dor que ele havia sentido depois do acidente. Ele havia jogado em piores condições. Era a possibilidade de ir longe demais, rápido demais, e nunca mais poder jogar que o assustava. Ele já havia visto acontecer com muitos jogadores ótimos, e era esse medo que havia desencadeado o ataque de pânico na noite anterior, ao ver o jogador ferido. Ele desviou a atenção para o carro ao lado do de Hailey e se perguntou quem estava no rinque com ela. A curiosidade se misturou à um toque de ciúme e finalmente lhe deu o incentivo que ele


precisava para sair da SUV. Sem pensar muito, ele pegou seu equipamento e entrou no rinque pela porta dos fundos. Hailey estava no gelo com Alce, o garoto grande do jogo da noite anterior, praticando algum tipo de exercício de controle do puck. Ela estava em um dos círculos de face-off, lançando passes para ele enquanto ele deslizava por uma fileira de cones em ziguezague. Quando chegou ao fim, eles trocaram de lugar. Diferente do seu colega de time, Hailey era leve e rápida nos patins, lidando com o puck com total precisão. Quando chegou ao fim, ela atirou o puck na rede com um movimento rápido do pulso. “Impressionante,” ele disse enquanto


descia as escadas. Alce se posicionou na frente dela como um guarda-costas, as espinhas em seu rosto desvalorizando a barba esparsa em suas bochechas. Apesar do seu tamanho, o garoto não podia ter muito mais do que 15 ou 16 anos, mas parecia pronto para acabar com Ben se ele se aproximasse. “Tudo bem, Alce.” Hailey deslizou por ele e se aproximou de Ben. “Eu o conheço.” “O nome dele é Alce mesmo?” ele perguntou quando ela parou na frente das placas. Ela riu e balançou a cabeça. “É Ryan, mas todo mundo na cidade o chama de


Alce.” “Eu entendo o porquê. Ele seria um belo defensor.” “É isso que nós esperamos.” Ela apontou para o equipamento dele. “Está aqui para cuidar da goleira para nós?” Seu estômago se apertou. “Não, hoje não. Mas eu queria dar algumas voltas quando você tiver acabado.” Ela levantou as sobrancelhas, mas não disse nada antes de voltar ao treino com Alce. Depois de uma conversa sussurrada, eles começaram a recolher os cones. “É hora de colocar os patins, Ben,” ela gritou. Ele os pegou na bolsa e respirou fundo. Não era um jogo. Não haveria


nenhum contato. Seria apenas uma chance de testar o seu joelho e ver como ele se saía no gelo. Ele deu uma risada amarga ao amarrá-los. Ele costumava agarrar uma chance de colocar os patins e entrar no gelo. Agora, isso era quase comparável a pular de bungee jumping de uma ponte alta. Alce parou na frente dele ao sair do gelo, encarando-o de uma forma que fez Ben se perguntar se não o chamavam de Alce por outra razão, que não o seu tamanho. Depois de meio minuto, ele bufou e se sentou para tirar os patins. Ben o observou pelo canto do olho, caso o brutamontes decidisse atacar. “Pronto?” Hailey perguntou,


chamando a atenção dele. Ele se levantou e testou seu equilíbrio sobre as lâminas finas. Tudo bem, por enquanto. “Pronto.” “Então, venha.” Ela ofereceu a sua mão a ele e esperou. Uma torrente de emoções travava uma guerra dentro dele. Constrangimento e raiva com o fato de ela achar que ele precisava de ajuda. Medo de que possa ser cedo demais. Orgulho ferido. E finalmente, uma pequena faísca de gratidão por ela querer ajudar. Ele pegou a mão dela, dizendo a si mesmo que era apenas porque ele queria tocá-la, abraçá-la. Então, ele criou coragem e entrou no gelo.


Seus calcanhares tremeram imediatamente, e ele se segurou nas placas. Uma risada profunda veio das arquibancadas. “Fracote,” Alce disse com uma fungada. A pele de Ben queimava enquanto ele se firmava e recuperava o equilíbrio. Ele daria uma lição àquele moleque. “Cuidado,” Hailey sussurrou em seu ouvido, suas palavras tão reconfortantes quanto a sua preocupação. Ele apertou a sua mão. “Fazem alguns meses desde a última vez que você fez isso, e vai levar tempo para o seu corpo se ajustar ao gelo novamente. Só dê um passo de cada vez.”


Ele acenou com a cabeça e soltou as placas, mas não a mão dela. Meu Deus, ele se sentia como se tivesse três anos novamente, e seu pai estava ensinando-o a patinar. Ele deu o impulso com a perna boa e deslizou para frente. Então, ele tentou fazer o mesmo com a perna lesionada. A pontada no joelho o fez respirar com força e apertar os dentes. Hailey o segurou com força. “Você está bem?” Ele fechou os olhos e assentiu. “Eu só preciso superar isto.” “Se o seu joelho está doendo—” “Está tudo bem,” ele rosnou, e continuou a se mover para frente. A


rigidez diminuía com cada passada, e quando ele chegou ao lado oposto, a dor era quase inexistente. Ele se encostou na parede e aliviou o peso do joelho. “Pronto.” Hailey guiou o rosto dele na direção dela. “O que você está tentando provar?” “Eu não sei. É você quem quer que eu volte para a goleira.” Os olhos azuis dela suavizaram, e ela correu o dedo pelo maxilar dele. “Não se for se machucar de novo.” Ele deu uma risada desanimada. “Então, isso significa que você vai sair comigo sem que eu precise bloquear um dos seus lances?”


“É pouco provável.” “Então, você não me dá outra saída, a não ser patinar.” Ele soltou a mão dela e começou a patinar ao redor do rinque. Hailey o alcançou, patinando no seu ritmo lento. “Gus me contou sobre a sua oferta.” “E eu imagino que você vai me dizer que eu não preciso me incomodar.” “Na verdade, eu queria agradecer.” Ele parou, sua pulsação acelerada. “Quer dizer que você vai mesmo ser gentil comigo?” A covinha apareceu na sua bochecha esquerda. “Não fique todo excitado, Kelly. Existe uma diferença entre ser gentil e ser educado. Nós, canadenses,


somos mestres em ambos.” “Mas você não vai ser gentil o suficiente para jantar comigo.” A outra covinha apareceu quando ela balançou a cabeça. “Eu não quero facilitar as coisas para você.” “Que bom, porque eu não quero que as coisas terminem como da última vez.” O sorriso dela esvaneceu, e ele percebeu que havia tocado em um ponto fraco dela. Sua voz era um sussurro pesaroso quando ela respondeu, “É, nem eu.” Ela se distanciou mais dele. “Que tal acelerar o ritmo?” “Eu não estou pronto para treinos de velocidade, mas posso tentar ir um


pouco mais rápido.” Ele perdeu a conta de quantas voltas eles deram ao redor do rinque. Hailey permaneceu ao seu lado, olhando para baixo. Nenhum dos dois disse uma palavra. Alce havia ido embora a muito tempo quando ele olhou para as arquibancadas e percebeu que eles estavam sozinhos. “Você não precisa ficar comigo.” “Sim, eu preciso.” Ela apontou para o Zamboni. “Eu tenho que limpar o gelo antes de ir embora.” Os músculos em suas canelas e tornozelos doíam, mas ele queria fazer um último esforço antes de parar. “Que tal fazer uma corrida comigo?”


Ela levantou uma sobrancelha. “Você tem certeza de que está pronto para isso?” “Só há uma maneira de descobrir.” Ele deslizou para o fundo do rinque e parou na frente da linha do gol como um patinador de velocidade esperando pelo tiro de partida. “Me avise quando você estiver pronta.” Hailey assumiu a mesma postura do lado oposto da rede. “Aceito o desafio. Preparar. Apontar. Fogo!” Ele fincou as lâminas no gelo e correu. O som do metal cortando o gelo e da respiração ofegante de cansaço ecoavam pelo celeiro. Ele balançou os braços para se impulsionar para frente,


seus olhos fixos na goleira oposta. A princípio, ele e Hailey estavam correndo no mesmo ritmo. Então, ela acelerou e o passou, deixando apenas um borrão do seu rabo-de-cavalo loiro para trás. Mas não importava que ela tivesse ganho a corrida informal deles. Uma onda de alegria corria nas veias dele ao frear para evitar uma batida nas placas. Ele estava de volta ao gelo, e isso era tudo o que importava. “Nada mal.” Hailey se aproximou dele, suas bochechas rosadas e seus olhos brilhando, como se ela soubesse exatamente como ele estava se sentindo. “Nada mal mesmo.”


A ardência em seus pulmões sugeria o contrário, impedindo-o de falar qualquer coisa. “Você me surpreende, Ben.” Ela o empurrou alegremente com o quadril, desequilibrando os seus músculos cansados. Ela se inclinou para firmá-lo, mas ambos acabaram caindo no gelo. Ele apertou seu corpo contra o dela, grato pela ausência dos equipamentos de proteção, e esqueceu completamente do cansaço. A maciez dos seus seios tocava o seu peito, e todo o sangue correu para a sua virilha. Sua boca secou. Ele ficou paralisado, sem querer se afastar dela. O tempo não havia diminuído em nada a reação física


dele a ela. As pupilas dela cresceram ao encarálo, e ela umedeceu os lábios. Seus dedos agarraram a camisa dele. Ao invés de afastá-lo, ela o puxou para perto com um aceno da cabeça. A fisgada fria do gelo evaporou quando os seus lábios tocaram o dela. Ele se conteve, deixando-a assumir o controle desta vez. Inicialmente, ela parecia hesitante, como se tivesse medo de ir longe demais. Mas, como cada toque dos lábios, cada movimento da língua, a timidez se esvaia. Ela ficava cada vez mais ousada, mais apaixonada, e se abria para ele. Fogo corria em suas veias. Sim, era


disso que ele lembrava. A única mulher que o havia deixado duro com um beijo. A única mulher que fazia seu coração pular até sentir a pulsação nas pontas dos dedos. A mulher que havia despertado desejos que ele sequer sabia ter. Um gemido baixo veio de um deles, e as pernas dela se moveram como se os dois já estivessem nus sob os lençóis. Os quadris dele se agitaram, pressionando a sua ereção contra as coxas dela. Ele a queria mais do que nunca. Suas mãos desejavam deslizar para baixo da camiseta e acariciar a sua pele macia, segurar aqueles seios redondos e traseiro firme.


E, no entanto, ele não queria ir mais longe do que isso. Ele estava feliz em deixá-la assumir o controle, dizer a ele até onde ela estava confortável em ir. Se ele a pressionasse para transar, arriscava perdê-la completamente. Exatamente como na patinação, ele precisava dar um passo por vez. Seu pênis pulsava, forçando-o a terminar as coisas antes que ele perdesse o controle e fosse longe demais. “Se nós não tivermos cuidado, vamos derreter o gelo.” Ela concordou, respirando com dificuldade. “Sim, eu não consigo sentir o meu traseiro.” Ele riu. Nada parecia congelado para


ele. Ele estava vivo e queimando depois daquele beijo. Talvez, ele não precisasse aceitar o desafio dela para levar as coisas para outro nível. Quem precisava de jantar quando eles podiam ir direto para a sobremesa? Ele se levantou e ofereceu sua mão a ela. Agora, era a vez dela de tremer nos patins. Seus olhos estavam escuros e abertos, como se ele a tivesse acordado de um sonho. O rubor delicioso das suas bochechas confirmou que o seu beijo a havia excitado tanto quanto a ele. Ele fez uma dança da vitória mentalmente enquanto a guiava até as placas. “Você está bem?” Ela acenou com a cabeça e baixou os


olhos. “E você?” “Bem.” Por enquanto. Mas se ela continuasse a beijá-lo daquele jeito… Sim, ele definitivamente havia feito progresso hoje. “Ótimo.” Ela esfregou os braços e se afastou, sem encontrar o olhar dele. “Eu preciso deixar o rinque pronto para abrir antes de ir para o Sin Bin.” Ela estava pedindo para ele ir embora. Uma pitada de derrota temperou o seu bom humor. Ele havia feito progresso, mas ela ainda estava se afastando. “E eu provavelmente preciso colocar gelo no meu joelho depois de patinar.” “Com certeza.”


A língua dele parecia ter o dobro do tamanho enquanto ele tentava criar coragem para perguntar, “Posso voltar amanhã e patinar com você?” Ela finalmente levantou os olhos, a cautela neles apagando o último fogo de desejo nele. Mas ela assentiu antes de se virar e patinar até o Zamboni. Ben saiu do gelo e tirou os patins, seus movimentos dificultados pela frustração. Ele passou os dedos pelo cabelo e suspirou lentamente. Um dia de cada vez.


Capítulo Oito Hailey viu quando Ben entrou no Sin Bin. Ele acenou brevemente para ela antes de ir para a sua cabine de costume. “Você quer atender a mesa 12?” Cindy perguntou, com olhos cheios de malícia. “Eu não sei—foi você quem ganhou a gorjeta de 80 dólares.” “É, e eu passei o resto da noite tentando convencer o Sam a não esfolálo.” Ela riu como uma garotinha. “Eu nunca percebi que ele era tão ciumento, principalmente sem razão.” “Então, talvez eu deva colaborar para manter você e o papai um casal feliz.”


“Não se faça de inocente comigo, docinho. Eu vi a forma como vocês olham um para o outro.” A nuca de Hailey ficou desconfortavelmente quente. “Do que você está falando?” “Como se você não soubesse.” Cindy se inclinou sobre o balcão e riu. “Parece que alguém tem um novo colega de treinamento no rinque de patinação.” “Às vezes, eu odeio essa cidade,” ela resmungou e jogou o pano de secar embaixo do balcão. Claro que alguém iria notar a Land Rover estacionada ao lado do Jeep Cherokee dela no rinque. Ben havia aparecido todas as manhãs pelas duas últimas semanas para treinar


patinação e taco com ela. E todos os dias, ele progredia. Mas ele ainda não havia vestido o seu equipamento de goleiro. Ele também não a tinha beijado como na primeira manhã. Treinar com ele havia se tornado tão neutro quanto treinar com Alce, e ela suspeitava que tinha algo a ver com o número crescente de curiosos que se escondiam nas arquibancadas para ter a chance de conhecer o grande Ben Kelly. Não havia demorado muito para a cidade reconhecê-lo, mesmo que ele tivesse tentado mudar de aparência. O calor em seu pescoço havia se transformado em um formigamento


irritante. Por mais que a cabeça dela lhe dissesse que era melhor assim, ela ainda desejava o sabor dos seus lábios, o peso do seu corpo sobre ela, o calor dos seus braços em torno dela. Dúvidas a perturbavam. Ele havia perdido o interesse nela?” Mas quando ela se aproximou da mesa dele, o desejo queimou em seus olhos, e as suas dúvidas se esvaíram. Não, ele definitivamente não havia perdido o interesse nela. “O que o traz aqui esta noite?” “Você.” Seu sorriso sexy a forçou a esticar as pernas para não desmaiar. “E, claro, o jantar.” “Existem vários restaurantes chiques


no resort, sabia?” “Eu sei.” Ele olhou para ela como se estivesse faminto e ela fosse a única coisa no menu que o satisfaria. Ele estava jogando cada gota de charme que tinha nela e, por enquanto, estava funcionando, para a sua infelicidade. Envolver-se com ele significava mais do que ela estava pronta para lidar. Ela limpou a garganta e prendeu alguns fios de cabelo soltos atrás da orelha. “Então, o que você vai querer?” “Não tem bolo de carne hoje?” Ele estava provocando, droga. Como ele conseguia passar de frio e objetivo no gelo para caloroso e sedutor aqui?


“Eu posso pedir para a Cindy preparar um para você.” Ele balançou a cabeça, sorrindo abertamente. “Eu me contento com um sanduíche e uma cerveja.” Ele baixou a voz e adicionou em um tom grave que a fez sentir arrepios, “E talvez, alguns minutos do seu tempo, quando você puder.” Ela concordou, sem saber o que dizer. Foi só depois de voltar para o bar que ela percebeu que havia esquecido de perguntar qual cerveja ele queria. Ela serviu um caneco da última cerveja que ele havia pedido e esperou até a sua pulsação voltar ao normal. “Você não está ficando com febre, não


é, docinho?” Cindy colocou uma mão fria no rosto de Hailey. “Você está bem vermelha.” “Eu estou bem.” Ela afastou a mão de Cindy e levou a cerveja para Ben. Ele a agradeceu, seu olhar fixo nela até ela se virar. Quando ela saiu da cozinha alguns minutos depois, ele estava inclinado sobre o iPad com fones de ouvido, dando a impressão de que não queria ser perturbado. “O movimento está fraco hoje,” ela disse para Cindy, testando para se certificar de que era seguro passar alguns minutos com Ben. “É, o que você espera agora que os Whales foram desclassificados? As


coisas vão ficar paradas por aqui até que eles comecem a jogar novamente.” “Nós ainda temos alguns clientes assistindo as eliminatórias.” Ela apontou para as mesas, que estavam 75% ocupadas. “Mas, com certeza, não é tão animado.” “Concordo.” Cindy desviou os olhos para a mesa de Ben. “Eu não me importo de segurar as pontas por aqui se você precisa fazer um intervalo.” Ela torceu os lábios ao ouvir a oferta da madrasta. “Se eu não te conhecesse, pensaria que você estava tentando dar uma de casamenteira.” “Quem disse que eu preciso fazer isso?”


Hailey esperou até que o sanduíche de Ben estivesse pronto antes de voltar à sua mesa. Ele sorriu e tirou os fones de ouvido enquanto ela colocava o prato na mesa. “Você tem tempo agora?” Ela olhou para Cindy, que piscou e levantou o dedão em sinal afirmativo, e deslizou para sentar ao lado dele. O calor da sua coxa penetrou a pele dela e se espalhou pelo seu corpo, afastando qualquer desejo de adicionar espaço entre eles. “O que você queria?” “Eu queria lhe mostrar isso.” Ele colocou os fones sobre os ouvidos dela e tocou em alguns ícones no iPad antes de passá-lo para ela. A tela se acendeu com o nome dela,


seguido de uma grande jogada após a outra, todas coreografadas com uma trilha sonora techno pulsante. Sua mão cobriu sua boca, e seus olhos queimaram quando o clipe chegou ao fim. “Isto é fantástico.” Ben retirou os fones dela. “Eu estou só começando, mas queria lhe mostrar no que eu estou trabalhando.” “Não, realmente, isso…” Suas palavras silenciaram quando ela o encarou. A luz que brilhava nos seus olhos lhe disse que ele havia feito aquilo por ela, e ela teve dificuldade em encontrar uma forma adequada de demonstrar a sua gratidão. “Isto é mais do que eu esperava, mas por quê?”


“Além do fato de eu achar que você é boa e merece uma chance?” Ele se mexeu ao lado dela, alongando o seu corpo alto e colocando um braço sobre a cabine, atrás dela. “Vamos dizer que eu estou tentando aproveitar a minha segunda chance ao máximo. Eu sei que isso é importante para você, e apesar de não poder ajudar muito no gelo, eu posso ajudar de outras formas.” Cuidado, garota. Você está chegando perto demais de se apaixonar por ele. Lembre-se que, quando você mais precisou dele, ele não estava lá. Ela engoliu em seco e devolveu o iPad para ele. Agora, era uma boa hora para começar a fazer as perguntas


difíceis. “Por que você guardou o meu recado por todos esses anos?” Ele olhou para ela e lhe deu mais um daqueles sorrisos que a fazia querer levá-lo direto para a cama. “Eu queria uma lembrança daquela noite.” “Então, você o guardou?” Ele concordou. “Ele ficou no fundo da minha carteira desde aquela manhã até eu o devolver a você. Ele causou alguns problemas com uma das minhas namoradas.” “Qual delas—a modelo, a atriz ou a cantora?” Ela relaxou e se aproximou dele. Era fácil provocá-lo, no entanto, ela não havia sentido nenhum ciúme quando ele mencionou as mulheres com


quem namorou depois dela. “A cantora. Ela até escreveu uma música sobre ele,” ele disse com uma risada irônica. “Ela se convenceu de que estava fixado em uma mulher do meu passado. Ela nem quis ouvir a minha verdadeira razão para guardá-lo.” “Então, você não o guardou por minha causa?” “Sim e não.” Ele passou o dedão sobre o lábio inferior dela e se concentrou em sua boca. “Eu sempre quis lembrar de você e daquela noite, mas também queria um lembrete para agir quando tiver vontade, e não deixar algo especial escapar de mim novamente.”


Um brilho inundou o seu peito e se espalhou pelos seus dedos das mãos e dos pés. Ele não havia esquecido dela. Mas quando ela pensou melhor na explicação dele, um arrepio correu pelo seu corpo, lembrando-a de que ela ainda precisava contar a ele sobre o seu filho. Ela se afastou e adicionou um pouco de espaço entre eles. “Ben, eu—” Conte para ele! Mas uma onda monumental de tristeza surgiu em seu estômago e sufocou as suas palavras. Não, ela não podia contar a ele. Ainda não. Não quando as coisas pareciam tão perfeitas. Covarde! Mas Jen havia lhe dito para ouvir o


seu coração, e agora, o seu coração estava dizendo que esta não era a hora certa. Ela saiu da cabine e focou o olhar no chão. “Eu preciso voltar ao trabalho. Papai tirou a noite de folga, só eu e Cindy estamos trabalhando.” A decepção dele apertou o seu coração tanto quanto a dela própria, e a fez caminhar lentamente de volta para o bar. Até encontrar coragem para contar a ele sobre Zach, sempre haveria algo que a impediria de se dar completamente ao Ben. Cindy fez uma careta quando viu Hailey voltar a lavar copos como um zumbi. “Tudo bem, docinho?” “Sim.”


Seu rosto se contorceu ainda mais. “Ele—” “Não, Cindy, não é ele—sou eu.” Ela enfiou um copo na prateleira, balançando os outros com uma batida dissonante. “Você sabe como eu sou com os homens.” “Hailey, querida, você não pode continuar a afastar todos os homens que demonstrarem interesse em você. Você merece alguém especial.” “Talvez, mas agora, a única coisa que importa é a minha promessa.” Ela pegou o suporte de copos vazio e voltou para a cozinha antes que Cindy resolvesse insistir no assunto. ****


Ben viu Hailey sair e xingou baixo. Ele havia quase conseguido reconquistála. Ele havia visto nos olhos dela, no seu rosto, no seu corpo ao lado dele. Mas então, tão rápido quanto um raio, ela deu meia volta e fugiu. Se fosse qualquer outra mulher, ele teria a acusado de estar jogando com ele, mas ele havia visto algo antes de ela fugir. Ela estava com medo. E se o que Gus havia dito a ele fosse verdade, então, ela teria razão para estar com medo. Era um caso clássico de dedos queimados. O que ele não daria para encontrar o homem que a tinha magoado e acabar com ele. O pensamento o fez parar. Ele nunca


havia sido o tipo de homem com pensamentos violentos. Geralmente, era o seu irmão Frank quem sempre estava louco para bater em alguém, não ele. Quando criança, ele sempre havia sido o pacifista entre todos os seus irmãos. Agora, seus pensamentos estavam tão cheios de raiva quanto os de Frank. Ele passou os dedos pelo cabelo enquanto resmungava e olhava para o teto. Que diabos ela estava fazendo com ele? “Algum problema com a comida, querido?” Ele olhou e viu Cindy ao lado da sua mesa. “Por que você diz isso?” “Você não tocou nela.”


O sanduíche e as fritas haviam esfriado ao ponto de não serem mais apetitosos. “Você pode embalá-los para mim?” “Claro.” Cindy correu até o bar e voltou minutos depois. “Mais alguma coisa?” Ele pegou a carteira do bolso traseiro para pagar pela refeição. “Você podia me dizer por que Hailey fica me evitando?” “Isso não é da minha conta.” Mas algo no tom dela dizia que, se ele fizesse as perguntas certas, ela estaria disposta a lhe dar alguma informação. Ele decidiu correr o risco. “Gus disse que Hailey tinha perdido a chance de ir


para as Olimpíadas antes porque havia se envolvido com o cara errado. É por isso que ela não sai comigo?” “Foi você quem disse, não eu.” Ela esvaziou o prato dele em uma embalagem para levar. “O que ele fez para ela?” Cindy tremeu como se ele tivesse lhe dado um choque. Ela o estudou lentamente, sua boca se torcendo em uma careta. “Tudo isso aconteceu um pouco depois de eu chegar na cidade, então eu não sei de todos os detalhes.” “Você pode me dar uma pista?” Ela olhou para a porta da cozinha antes de se aproximar dele e sussurrar, “Vamos dizer que ele a deixou com mais


do que um coração partido.” Ela abriu a boca para dizer mais, mas a batida da porta da cozinha a fez parar. Ela voltou a limpar a mesa dele. “Você precisa de troco?” “Não, assim está bom.” Hailey não olhou na sua direção enquanto ele levantava da mesa. “Eu acho que vou ter que ser paciente e esperar que ela se abra comigo.” Cindy concordou. “Eu sabia que você era do tipo bom de homem desde o momento que eu botei os olhos em você. Sim, é só dar um tempo que ela vai mudar de ideia.” Ele saiu do Sin Bin e ligou o motor do carro, sua mente focada na pequena


informação que Cindy havia lhe repassado. O que mais aquele idiota havia feito além de partir o coração dela? Mais uma vez, aqueles pensamentos perturbadores surgiram, e ele voou pela estrada até o chalé. Seu telefone tocou quando ele estava praticamente saindo da cidade. Ele clicou no botão de atender do seu Bluetooth e rezou para que não fosse Mac querendo notícias novamente. “Alô?” “Oi, Ben,” sua mãe cantarolou do outro lado da linha. “Adam lhe contou as boas novas?” “Não.” Mas ele suspeitava que tinham a ver com Lia.


“Ele veio aqui esta noite enquanto a Amélia e eu estávamos jogando bridge e pediu permissão para casar com Lia.” Que atitude pitoresca e responsável do seu irmão mais velho. Era exatamente o tipo de coisa que Adam faria. “E a mãe dela concordou?” “Claro que sim. Que mulher não iria querer Adam como genro?” Sua mãe era refinada demais para gritar, mas o entusiasmo na sua voz mal podia ser contido. “Ele vai pedir Lia em casamento esta noite, quando ela chegar em casa.” “Vamos esperar que ela também diga sim.” Uma pontada de inveja acompanhou a sua resposta seca.


Sua mãe não deixou de perceber. “Alguma coisa errada?” “Não, não mesmo, mãe.” “Você não está feliz pelo seu irmão?” “Sim.” “Então, por que você não parece estar?” Ele apertou o maxilar e expirou lentamente. “Só estou lidando com algumas coisas.” “Você conheceu alguém?” Droga. Se ele contasse a ela sobre Hailey, era provável que a sua mãe começasse a planejar um casamento duplo. Ao mesmo tempo, ele sabia que ela não o deixaria em paz até que ele lhe contasse algo. “Sim, tem uma garota na


cidade de quem eu gosto, mas ela não quer sair comigo.” “Por que não? Você é bonito, bemsucedido, gentil—” “Já chega, mãe. Você parece estar prestes a colocar um anúncio em um outdoor para conseguir uma namorada para mim. Ela não me diz o porquê, mas pelo que eu consegui descobrir, ela foi muito magoada no passado, e tem um pouco de receio de entrar em um relacionamento.” “Não se preocupe, Ben. Se você a quiser mesmo, ela mudará de ideia.” Ele tamborilou os dedos no volante, perguntando-se quanto tempo isso iria levar. “Talvez.” Hora de mudar de


assunto antes que a sua mãe decidisse interferir, como havia feito com Adam e Lia. “Por enquanto, eu estou voltando a patinar, tentando ver se o joelho consegue aguentar mais uma temporada.” “Que notícia boa! Eu sabia que não devia levar a sua ameaça de aposentadoria tão a sério. Você ama demais o hóquei para desistir.” E era conveniente que a sua única chance de jantar com Hailey envolvia a sua volta ao jogo, mesmo que apenas para um lance. “Não se entusiasme demais. Eu ainda não estou pronto para jogar. Mas estou progredindo.” “Eu estou muito feliz em ouvir isso.”


A voz da sua mãe mudou para o tom que ela usava quando queria se intrometer sem ser rude. “Então, essa garota gosta de hóquei?” Ele riu. “Gostar é pouco.” “Então, parece que você já tem algo em comum com ela. Ela sabe quem você é?” “Sim, sabe, e isso não importa para ela. Ela era uma torcedora dos Whales muito antes de eu entrar para o time.” Na verdade, uma das razões de ele ter assinado com o Vancouver era a esperança de ver uma garota com cabelos azuis e covinhas na torcida algum dia. “Ok, só estou tentando ajudar. Eu


adoraria ver todos os meus garotos felizes e casados com a garota certa.” Ele revirou os olhos. Não, ela só queria netos e estava disposta a mexer os pauzinhos para ter alguns. “Obrigado, mãe.” “Quando quiser, querido. E se você precisar de alguma coisa, não deixe de me ligar.” “Tudo bem. Boa noite, mãe.” “Boa noite, Ben. Eu te amo.” “Também te amo.” Ele desligou o telefone e estacionou na garagem do seu chalé vazio. Por um momento, ele tentou imaginar como seria ter alguém esperando quando ele chegasse em casa, ter um corpo quente


com o qual se aconchegar à noite, acordar e ver o rosto da mulher que ele amava. Mas cada vez que ele tentava imaginar aquilo, a mesma mulher surgia. Hailey. Ele esfregou os olhos com as palmas das mãos. “Isto não é nada bom.” Ben saiu do seu SUV com as sobras do jantar. Assim que entrou, ele as colocou no micro-ondas, abriu uma garrafa de cerveja e tomou um grande gole. Hailey havia conseguido fazer mais do que afetá-lo fisicamente. Se esta noite fosse alguma indicação, ela também estava afetando-o emocionalmente. Mas até reconquistar a sua confiança, ele estava em um beco


sem saĂ­da.


Capítulo Nove Hailey jogou o balde de pucks sobre a linha azul, tentando pensar em qualquer coisa que não fosse Ben. Seu tempo no gelo estava quase no fim e ele não havia aparecido naquela manhã. É isso que você ganha por fugir ontem à noite. Ela atirou o balde sobre as placas e lançou o primeiro puck na direção da rede. Ele deslizou pela direita da goleira. Ela resmungou e levantou o taco para o próximo lance. Ben estava interferindo mais no seu treino por não estar lá do que quando estava. O puck bateu na


trave e passou por cima da rede. Droga! A porta dos fundos se abriu com um barulho. Ela se virou e apertou os olhos para ver a figura que se aproximava. “Ben?” Ele jogou seu equipamento na primeira fila da arquibancada. “Você estava esperando outra pessoa?” “Não, mas eu esperava que você estivesse aqui a algumas horas atrás.” “Eu dormi demais.” Ele sentou no chão e pegou seu equipamento de proteção. “Você vai cumprir a sua parte do acordo?” O coração dela disparou. Todas as vezes que havia vindo treinar, ele havia


usado pouco mais do que as calças e o capacete de hóquei. “Você tem certeza de que está pronto?” “Não, mas se é só assim que você vai sair comigo, eu estou disposto a arriscar.” Ele vestiu a proteção de ombros e a ajustou. “Só me dê alguns minutos para vestir tudo. Eu vi a força dos seus lances, e não quero sair daqui com alguma lesão nova.” Camada por camada, ele adicionou os elementos do seu uniforme de goleiro. Os patins. Os protetores de goleira. A luva de bloqueio. A máscara de goleiro. Quando terminou, o seu tamanho já impressionante havia dobrado. Ele andou até o gelo. “Me dê tempo


para chegar à frente da rede antes que você comece, por favor.” Ela assentiu e patinou até a linha azul, sua pulsação pulando como uma britadeira. Parte dela queria saber se era boa o suficiente para fazer um gol contra um dos melhores goleiros da NHL. Outra parte dela se perguntava o que ia acontecer se ele bloqueasse o seu lance e ela tivesse que sair para jantar com ele. Ele fez alguns ajustes finais ao seu equipamento e se agachou na frente da linha do gol. “Pronto.” Ela pegou um dos pucks com o taco e procurou por algum ponto fraco nele. Ela o havia visto jogar o suficiente para


saber que ele tinha mãos rápidas. O melhor ponto seria entre as pernas, já que ele ainda estava se recuperando da lesão no joelho. Ela duvidava que ele fosse se abaixar totalmente se ela atirasse ali. Os olhos azuis metálicos dele a encaravam por trás da máscara como se ele estivesse analisando-a também. Com certeza, ele havia visto vídeos suficientes dela para conhecer algumas das suas jogadas. Ele estaria esperando que ela lançasse o puck entre as suas pernas. Ela deslizou o puck de um lado para o outro com o taco, tentando decidir o que fazer em seguida. Se ela errasse, teria


que sair para jantar com ele, e quem sabe onde as coisas iriam parar? “O relógio está correndo,” ele provocou e bateu nos protetores em suas pernas. “Eu estou pensando.” “Você não teria tempo para pensar se este fosse um jogo de verdade. Agora, atire.” Ele estava se preparando para um slap shot da linha azul, mas seria capaz de defender um screen shot? Hailey riu e patinou na direção dele, levando o puck com ela. Ele deu alguns passos para trás. “O que você está fazendo?” “Marcando um gol no melhor goleiro


da NHL.” Ela deslizou por detrás da goleira antes de fazer um wrist shot em torno da trave oposta. Ela levantou as mãos quando o puck bateu na rede. Ele jogou o seu taco no gelo, mas o riso ecoava em sua voz. “Ok, você conseguiu um, mas eu estou pronto agora. Pode vir.” Ela pegou outro puck da linha azul e patinou ao redor da goleira, tentando ver se ele havia caído na jogada dela. Ele não caiu, então, ela carregou o puck de volta e levantou o taco para fazer um lance à distância. Ela mirou no meio das pernas dele, prendeu a respiração e jogou. O barulho de grafite batendo em metal


encheu o rinque. O puck voou como uma bola de canhão, se mantendo no alvo. Os olhos de Ben focaram nele. Ele virou o seu taco para cobrir o espaço entre as suas pernas enquanto descia para ficar na posição de borboleta. O puck passou pela lâmina e sumiu. Hailey prendeu a respiração e esperou. Então, Ben ficou de pé e levantou a sua luva. “Perdeu isso?” Ele abriu a mão e o puck caiu no gelo. Ela soltou a respiração com um suspiro. Ele havia conseguido, e agora ela tinha que cumprir a sua parte do acordo. Ben levantou a máscara, um sorriso


iluminando o seu rosto, e patinou por ela até chegar às arquibancadas. “Eu encontro você às sete no Black Bear Bistro. Use um vestido se tiver um.” Excitação e medo dançavam um tango tempestuoso dentro dela, cada um lutando pelo controle. Gostando ou não, ela tinha um encontro com Ben Kelly. **** Ben entrou no estacionamento do restaurante às sete, contemplando a possibilidade de Hailey desistir no último minuto. Ele havia feito reservas no Black Bear naquela manhã, antes de ir para o rinque. Ele havia apostado e, desta vez, havia ganho. Ele havia bloqueado o lance de Hailey e o seu


humor estava ótimo por mais de uma razão. Ele estava de volta ao jogo e agora tinha uma chance de finalmente levar as coisas para outro nível com ela. Ele avistou o Jeep Cherokee dela no meio de um mar de carros de luxo e conseguiu liberar a tensão que havia acumulado em seus ombros desde que tinha saído do rinque em torno do meiodia. Hailey não havia desistido. Agora, ele só precisava garantir que ela se divertisse e esperar que as coisas evoluíssem dali. Seu queixo caiu quando ele a viu parada na porta do restaurante. Seus cabelos loiros estavam soltos, descendo sobre os seus ombros como luz do sol


líquida. Ela estava usando um vestido que desenhava as suas curvas e dava a ele uma bela visão do seu colo e das suas pernas longas e finas. A sombra brilhante e dourada destacava os seus olhos azuis e o rosa profundo dos seus lábios praticamente o implorava para beijá-la. “Uau.” Um sorriso tímido surgiu em sua boca. “Você também não está nada mal.” Ela passou a mão pela lapela da jaqueta dele até o suéter por baixo dela. “Casimira?” Ele confirmou, ainda encantado com a beleza dela. “Claro.” Ela enganchou o braço no dele. “Vamos começar, eu estou


faminta.” Ele também estava, mas por uma razão completamente diferente. Ele estava pronto para pedir a conta, e eles ainda não haviam sequer chegado à sua mesa. Ele conseguiu balbuciar o seu nome para o maître quando Hailey o levou até a bancada, e o homem os acompanhou pelo restaurante. Dezenas de olhos pareciam segui-los pelo caminho, muitos deles homens. Ele cobriu a mão dela com a dele enquanto eles caminhavam até a cabine privada semicircular e colocou uma mão possessiva nas suas costas enquanto ela se sentava. Eles mal haviam esquentado seus


assentos quando o garçom encarregado da carta de vinhos apareceu. “Posso lhe oferecer algumas sugestões, Sr. Kelly?” Ele ficou sério com a atenção. Ele havia se acostumado ao anonimato descomplicado que tinha na cidade, mas teve que usar seu nome para conseguir uma mesa no melhor restaurante da área. Felizmente, ele havia conseguido encaminhar a carta de vinhos para a sua futura cunhada depois de ligar e parabenizar Adam pelo noivado. Ele deu o nome do vinho francês que Lia havia recomendado e relaxou quando o garçom acenou com a cabeça e foi embora. “Tentando me deixar bêbada?” Hailey


brincou. “É um jantar de seis pratos. A não ser que você esteja planejando beber a garrafa inteira de uma vez só, eu acho que nós vamos ficar bem.” Ela apertou os lábios como se estivesse tentando não rir. “Você vem tanto aqui que memorizou a carta de vinhos?” “Não, mas eu queria que você tivesse uma boa impressão minha.” A expressão de surpresa permaneceu quando o garçom reapareceu com a garrafa de vinho. Depois de todo o show de abrir a garrafa e esperar que ele provasse o vinho, eles voltaram a ficar sozinhos.


Hailey provou o vinho. “Eu costumo preferir cerveja, mas este vinho é muito bom.” Um ponto para Lia. “Eu tive uma ajudinha para escolher.” “Ah é?” “A noiva do meu irmão. Ela tem um restaurante em Chicago e sabe mais sobre isso do que eu.” Ele tomou um gole maior do vinho, saboreando os sabores fortes de fruta e suaves de pimenta. Ao fim, ele sentiu um leve sabor de Red Vines e sorriu. “Foi bom tê-la consultado.” “Alguma recomendação de pratos?” “Peça o que quiser.” As sobrancelhas dela se levantaram.


“E se eu pedir tudo o que tem no menu?” “Então, eu espero que você tenha lugar no seu estômago para tudo.” Ela riu e se escondeu atrás do menu. Antes que ele percebesse, o garçom estava de volta para anotar o pedido deles. Felizmente, ela não pediu tudo o que havia no menu, apesar de ter pedido o filé mignon e a cauda de lagosta como pratos principais. Ele não se importava, queria lhe dar um jantar extravagante. Depois de terminar de pedir, ele se aproximou dela. “Eu já lhe disse o quanto você está bonita?” Um toque de rosa pintou suas bochechas. “Eu tive que pedir um vestido emprestado para a minha melhor


amiga.” “Fica lindo em você.” Mas ele podia apostar que ela ficaria ainda mais linda sem ele. Seu pênis respondeu, endurecendo, e ele se mexeu no assento. “Obrigado por se arrumar para esta noite.” “Eu duvido que eles me deixassem entrar aqui se estivesse de calça jeans,” ela disse com uma encolhida de ombros e brincou com os dedos. “Você mencionou um irmão. Você tem outros irmãos ou irmãs?” “Eu tenho seis irmãos.” Os olhos dela se arregalaram. “Seis?” Não era a primeira vez que ele havia visto aquela reação quando falava da


sua família. Ele não costumava ter a chance de falar deles, mas com Hailey, ele queria falar. “Sim. Adam, Caleb, Dan, Ethan, Frank e Gideon.” “Eles jogam hóquei também?” A pergunta dela o surpreendeu. “Para uma mulher que sabe tudo sobre as minhas ex-namoradas, como você não sabe dos meus irmãos?” Ela balançou a cabeça. “A única razão pela qual eu sei sobre a sua vida amorosa é que ela acaba nas notícias locais. Fora isso, eu prefiro não me intrometer na sua vida pessoal.” Que ótima novidade. Todas as suas namoradas anteriores haviam tido algum tipo de conexão com os irmãos dele.


Gideon tinha apresentado-o para a atriz, Dan o apresentou para a modelo e ele havia conhecido a cantora em um show de Ethan. Claro que ele provavelmente precisava agradecer ao Caleb por incentivá-lo a abordar Hailey na noite em que eles haviam se conhecido. “O que você quer saber?” “Eu acho que só mais sobre você e sobre como foi crescer com seis irmãos.” A conversa fluiu livremente depois disso. Ele começou com Adam, e quando chegaram ao Gideon, já estavam no meio do prato principal. Diferente das suas outras namoradas, ela não parecia ter ficado deslumbrada com a


família dele. Ela preferia saber mais sobre eles antes de terem ficado famosos, e sobre como eles eram como irmãos, e não como celebridades. Quando terminou de contar histórias sobre as travessuras deles quando crianças, ele disse, “Agora é a sua vez —me conte sobre a sua família.” Os ombros dela ficaram tensos e ela desviou o olhar, criando a barreira entre eles novamente. “Não há muito para contar.” Ele apertou o maxilar. Ele não havia chegado até ali para deixá-la afastá-lo. “Claro que tem. Você tem irmãos ou irmãs?” “Um irmão. Ele mora em Toronto,


perto da minha mãe.” “Me conte sobre eles.” O pânico se instalou no seu rosto, e por um momento, ele teve medo que ela fosse sair correndo do restaurante. Ela limpou a garganta e disse, “Não há muito para contar. Quer dizer, eu mal falo com a minha mãe. Ela e papai se separaram quando eu tinha quatro anos.” “Você sabe por quê?” Ela confirmou. “Eu tinha outro irmão, Shawn. Quando ele morreu, meus pais simplesmente desmoronaram.” “O que aconteceu?” Talvez, ele estivesse pressionando demais, mas até o momento, ela estava respondendo às perguntas dele. Pouco a pouco, ele iria


fazê-la se abrir e confiar nele. Bastava dar um passo de cada vez. Ela lambeu os lábios e um pouco da tensão sumiu da sua postura. “Antes do rinque ser construído, as crianças costumavam brincar no lago Fisher no inverno. Um dia, Shawn caiu no gelo.” Um arrepio atravessou o seu corpo como se ele tivesse caído na água frígida. “Minha mãe culpou o papai porque ele estava sempre nos incentivando a jogar no gelo. Ele jogou nas ligas menores por alguns anos e teria ido para os jogos de Innsbruck se o Canadá tivesse enviado um time. Ele sempre esperou que um de nós amasse o jogo


tanto quanto ele e jogasse profissionalmente. Eu me lembro de mamãe acusando-o de tentar nos forçar a ter os mesmos sonhos que ele, e que isso havia matado Shawn.” “Havia alguma verdade nisso?” “Não.” Ela pausou, depois adicionou, “Pelo menos, eu acho que não. Como eu disse, eu tinha quatro anos na época, e Shawn era seis anos mais velho do que eu, então, talvez fosse o caso com ele.” “O seu pai é a razão de você estar tão determinada a entrar na seleção canadense das Olimpíadas?” A mesma sombra de tristeza que ele havia visto na montanha escureceu os olhos dela. “Não,” ela sussurrou.


“Então por quê?” “Porque eu fiz uma promessa a alguém.” Ela se afastou mais dele, mas o espaço parecia ainda maior do que os poucos centímetros que os separavam na cabine. “Ouça, eu não quero falar disso, Ben. É pessoal demais.” Merda. Ele havia batido em mais uma parede, Ele respirou pelo nariz e seguiu em frente. “E o seu outro irmão? O que mora em Toronto?” “Kyle?” O frio se dissipou e ela voltou a se aproximar dele. Eles estavam de volta aos assuntos seguros. “Ele é um professor de matemática em York.” Ele não deixou de perceber a


conexão. “E era assim que você estava planejando entregar o seu vídeo de melhores momentos para o técnico da seleção feminina?” A boca dela se abriu em um círculo perfeito. “Como você sabia disso?” “Porque eu tenho feito a minha própria pesquisa. Eu quero garantir que o meu vídeo acabe nas mãos certas, afinal.” “E você tem mais acesso a ele?” Ben espetou o último pedaço de filé do seu prato e riu. “Talvez.” “Droga, Ben, isso é importante.” “O jantar também é.” Ele mastigou lentamente. “Eu odiaria achar que você só está sendo gentil comigo porque eu


posso ter uma conexão com o técnico principal.” Ela cruzou os braços e se recostou no assento, bufando. Mesmo quando ela estava fazendo biquinho, ele desejava tocá-la. “Você pode ser completamente desesperador às vezes, sabia?” “Você também.” Ele afastou o prato e a estudou, perguntando-se se ele bateria na mesma parede se a convidasse para ir ao chalé. “Já sabe o que você vai querer de sobremesa?” A insinuação escapou em sua voz antes que ele pudesse reprimi-la e, julgando pela forma como os lábios dela se abriram, ela não havia passado despercebida. Ela olhou para ele com


olhos cheios de desejo, mas depois os desviou. “Eu acho que qualquer coisa com chocolate seria bom.” Por um breve segundo, ele quase sugeriu que eles comprassem um pouco de calda de chocolate na cidade e a levassem para a casa dele, para a sobremesa. Ele só podia imaginar o quão maravilhoso seria se ela lambesse a calda na pele dele. Ele fechou as mãos com força, esperando que isso desviasse a sua mente da dor no seu pênis. Ele a queria tanto que mal conseguia pensar. Mas, se ele pressionasse demais, ela fugiria. Havia algo frágil demais, arisco demais na forma como ela interagia com ele.


Era como se ela estivesse com medo se ceder a ele. Uma grande mudança, em comparação com a garota que o arrastou para o quarto de hotel nove anos atrás. “Ouça, Hailey, se eu estiver fazendo qualquer coisa que a deixe desconfortável—” “Você não está,” ela disse rapidamente, cortando-o. Ela esfregou os braços, como se eles estivessem no cume da montanha novamente. “Quer dizer—ah, merda.” Ela baixou o olhar, mais concentrada em um fiapo solto no seu vestido do que nele. Ele prendeu a respiração, preparando-se para a pancada que ela estava prestes a dar.


“Se você está esperando que eu seja a mesma garota sem medo e inconsequente que eu era, sinto muito, Ben. Eu não posso ser mais assim.” Ele esperou que ela explicasse o porquê, mas quando ela não se aprofundou, ele fez a única coisa que conseguiu pensar. Ele segurou a mão dela. “Eu sei disso. Eu também não sou a mesma pessoa. E, na verdade, eu gosto da Hailey que está na minha frente muito mais do que da outra.” Ela o recompensou com um sorriso tão brilhante que ele se perguntou se estava olhando para o sol. “Você realmente acha isso?” Ele confirmou, sua confiança


voltando. Ele nunca tinha sido capaz de dizer a uma mulher o que estava em sua mente até aquele momento, mas com ela, era tão fácil quanto conversar com seus irmãos. Talvez mais fácil, já que ele só havia conseguido pensar em Hailey nas últimas semanas. “Você está mais forte, mais determinada, mais confiante agora, e tudo isso torna você ainda mais sexy do que antes. É por isso que eu tenho sido tão persistente, e é por isso que eu estou disposto a ser paciente.” Ela entrelaçou seus dedos nos dele e se aproximou. Seus lábios estavam a centímetros dos dele quando ela disse em uma voz suave, “Obrigada.” “Sempre às ordens.” Ele acabou com


o espaço entre eles e esperou pela chama que se acendia nele sempre que a beijava. Infelizmente, o garçom os interrompeu quando estavam a menos de um respiro de distância. Hailey pegou o menu de sobremesas com uma mão. A outra, ela deixou entrelaçada com a dele pelo resto do jantar. Não era exatamente como ele havia imaginado que as coisas acabariam, mas estava bom para ele. Assim que os pratos de sobremesa haviam sido retirados, ele olhou para as suas mãos unidas e perguntou, “Você gostaria de voltar para o chalé comigo?” Ela levantou uma sobrancelha e a desconfiança escureceu seus olhos.


“Não por essa razão,” ele respondeu antes que ela o acusasse de tentar atraíla para lá apenas para transar. Ele queria poder culpar o vinho pela sua boca seca repentina. “Eu queria lhe mostrar como o vídeo está ficando e ver o que você acha.” Aquela sobrancelha não baixou, mas uma covinha apareceu em sua bochecha. “Eu acho que posso passar lá por alguns minutos.” O momento de pânico havia acabado. Ela havia concordado em ir, e seriam alguns minutos a mais que ele poderia passar com ela, mais alguns minutos para convencê-la de que ele estava ali para ficar.


Basta dar um passo de cada vez.


Capítulo Dez Hailey seguiu o Land Rover de Ben pela estrada longa e cheia de curvas que circundava o vale. No inverno, aquele seria o lugar perfeito para esquiar, com acesso fácil às pistas de esqui do resort, mas no verão, ele ficava cercado de flores do campo multicoloridas que dançavam na brisa sob o sol poente. Ela parou a pick-up atrás dele e saiu. “Este é o seu chalé?” “Sim.” “Ele tem o dobro do tamanho da minha casa.” Ela observou a enorme estrutura com grandes janelas e madeira exposta. “Eu odiaria ver o que você


chama de casa se você chama isto de chalé.” Ele balançou a cabeça como se estivesse lidando com uma criança curiosa, mal reprimindo seu sorriso, e pegou a sua mão. “Pare de olhar e entre.” O parte de dentro era parecida com algumas das outras casas de férias dos ricos e famosos que frequentavam o resort. Uma lareira grande o suficiente para quatro adultos ficarem em pé dentro dela. Balcões de granito em uma cozinha enorme. Janelas do teto ao chão, oferecendo uma vista fantástica das montanhas. As únicas coisas que faltavam na decoração eram o alce, o


cervo e o urso. “Nada mal, Kelly.” “Venha até a varanda e veja o pôr do sol comigo.” Claro, a varanda coberta também incluía uma banheira com água quente que a implorava para entrar. Ela fechou os olhos e imaginou o que aconteceria se ela tirasse o seu vestido justo demais e entrasse na água quente. Ben provavelmente a seguiria, se juntaria a ela, e antes que ela percebesse, os dois estariam nus e entrelaçados um no outro. Seu sexo vibrava com a ideia dele tocando-a lá, dele deslizando seu pênis dentro dela e fazendo-a gemer até que ela gozasse em seus braços. Ela tremeu com a intensidade das suas


fantasias e abriu os olhos para ver Ben colocando uma colcha de flanela em torno dos seus ombros. “Você parece estar com frio.” Ele ficou atrás dela para protegê-la da brisa. Ela estava com tudo, menos frio. O calor de onde o corpo dele estava pressionado contra o dela havia afastado qualquer resquício de frio. Ela estava queimando de desejo, de tesão, de necessidade. Ela sabia que estava brincando com fogo ao vir com ele até ali, mas ela não conseguiu dizer não. “Está melhor?” ele perguntou. Ela se recostou nos braços dele, saboreando as sensações que ele havia despertado nela. Seus pensamentos


foram da consciência física dele para algo mais profundo. Havia algo seguro, algo confortável em estar tão perto dele. Quase como ter um lar com ele. “Muito melhor.” “Bom.” Ele deu um beijo na sua bochecha e a soltou. “Eu vou pegar o meu iPad.” Ela sentiu sua falta no momento em que ele saiu, e engoliu um gemido. De alguma forma, o homem que ela havia jurado odiar até dar o seu último suspiro havia conseguido chegar perigosamente perto do seu coração. Mas ele iria querer ficar lá se soubesse da verdade sobre ela? Ben apareceu um momento mais tarde


e reproduziu o vídeo. A mesma música de antes tocou, mas os clipes estavam mais polidos, mais precisos. Ele não só havia capturado as suas melhores jogadas, mas também havia conseguido inserir cenas dela passando e manobrando o puck pelos defensores. “Eu queria me certificar de que o técnico tivesse uma boa noção de todas as coisas que você pode fazer.” O vídeo terminou, e ele desligou o tablet. “Me certificar de que ele soubesse que você é o pacote completo, e não só uma oportunista.” Ela riu e se aproximou, esperando que ele colocasse os braços em torno dela novamente. “Eu fico muito grata por


isso.” “De nada. Considere isso um castigo, por eu ter estragado as coisas entre nós da última vez.” Uma pontada de desconforto perfurou o seu estômago, espalhando um alerta gelado por suas veias. “O que você quer dizer?” Um toque de medo o fez enrijecer o rosto, e ele se moveu na direção da sacada. Hailey prendeu a respiração, esperando pelo que viria. Era agora que ele diria a ela que sabia sobre Zach? Que ele pediria perdão por negar que os conhecia? E se ele fizesse isso, ela seria capaz de lhe perdoar?


“Eu só tenho um arrependimento na nossa noite juntos, e essa foi uma das razões pelas quais eu carreguei o seu recado comigo todos esses anos.” Ele passou a mão pela barra, segurando-a até que seus dedos ficassem esbranquiçados. “Eu cometi o erro de deixar você escapar de mim, eu devia ter pedido o seu telefone, seu e-mail, alguma forma de manter contato com você, porque o que nós vivemos naquela noite…” A voz dele travou, cheia de emoções que ela não se atrevia a identificar, mas que ela mesma sentia em seu coração. “Se eu tivesse feito só uma destas coisas naquela noite em vez de ser um


idiota egoísta e cair no sono, talvez nós não tivéssemos perdido nove anos.” Ela sentiu um nó na garganta. Todos aqueles anos, ele havia se sentido culpado por não ter pedido o número dela e transformar uma noite em algo mais. Mas ela era tão culpada quanto ele. Ela ficou ao seu lado. “Foi eu quem foi embora sem deixar nenhuma informação de como você podia me encontrar, Ben.” “Você tentou entrar em contato comigo alguma vez depois de saber quem eu era?” “Sim, mas você já era Ben Kelly, estrela da NHL. Mesmo que eu conseguisse passar pelas camadas de


pessoas que lhe protegiam, você teria se lembrado de mim?” Ele se virou e segurou o rosto dela nas mãos. “Eu nunca esqueci de você, Hailey. Eu deixei você escapar uma vez, mas eu juro que, desta vez, não vou deixar você sair da minha vida sem lutar.” Era inútil resistir a ele por mais tempo. Nove anos atrás, ela havia ficado atraída pelo cara sexy que ela tinha conhecido no jogo de hóquei. Agora, ela estava se apaixonando por um homem que a havia feito se sentir inteira novamente. Ela fechou os olhos quando seus lábios tocaram nos dele, e cedeu ao seu abraço.


Sua respiração se acelerou enquanto eles aprofundavam o beijo. Ela podia sentir a fome dele, a sua paixão, seu controle com cada movimento da sua boca. Por mais que a quisesse, ele não iria forçar as coisas. Exatamente como naquela noite a nove anos atrás, ele estava esperando que ela ditasse até onde as coisas iriam, e naquele momento, ele estava implorando pela permissão dela. Ela colocou os braços ao redor do pescoço dele, puxando-o para mais perto. Seu corpo se uniu ao dele, e mesmo que a colcha tivesse caído dos seus ombros, ela não notou o ar frio. Tudo o que ela sabia era Ben—o cheiro


da sua colônia, o sabor suave de morangos na sua língua, o som baixo do seu desejo pulsando em seu peito enquanto ele deixava para trás o último traço de controle. Suas mãos se moveram do rosto dela para o seu traseiro, pressionando-a contra a saliência rija de carne em suas calças. Um gemido emergiu de sua garganta, e ela parou o beijo, tentando recuperar o fôlego. Ela se sentia como se tivesse sido derrubada por um defensor durante uma jogada. O mundo girava ao seu redor, e ela se segurou em Ben para não cair. Ele colocou a cabeça dela sob o seu queixo. Seu coração pulava sob a mão


dela, e seus pulmões se enchiam com a mesma velocidade dos dela. Eles podiam estar mais velhos e sábios do que antes, mas o tempo não havia mudado a forma como o beijo dele a deixava sem forças e querendo mais. “Eu não trouxe você aqui para transar comigo, Hailey, mas se você quiser levar isto para o quarto, eu não vou lhe impedir.” Mais uma vez, a escolha era dela. Ela levantou o rosto e examinou o dele, procurando por um sinal. Da última vez que havia caído em tentação, ela tinha acabado sozinha e grávida, seus sonhos olímpicos destroçados. Desta vez era diferente. Ela havia feito uma promessa


a Zach, e não podia arriscar a possibilidade de a mesma coisa acontecer duas vezes. Ela o soltou e se afastou. “Desculpe, Ben, mas eu não posso. Não esta noite.” Os olhos dele se fecharam, mas não antes de ela ver um traço de dor nas suas profundezas azuis-ardósia. A rejeição dela o havia magoado, e mesmo que uma parte dela quisesse lhe contar o porquê, ela ainda não conseguia criar coragem para contar a ele sobre Zach. Assim como ela não conseguia abrir totalmente o coração para ele. A chance de se machucar era grande demais. Mas, em vez de pressioná-la para saber a razão, ele simplesmente aceitou


a derrota e lhe alcançou seu telefone. “Posso, pelo menos, ficar com o seu telefone?” “Sim.” Isso ela podia fazer. Não havia perigo nisso. Ela adicionou seu número no celular dele e o devolveu. “É melhor eu ir e dormir um pouco antes do treino de amanhã.” Ele acenou com a cabeça, ainda em silêncio. “Eu vou ver você lá?” Um sorriso fraco curvou seus lábios. “Provavelmente.” “Bom.” As palavras dela soavam vazias, como se ela estivesse conversando educadamente com um estranho em vez do homem que estava


ameaçando virar o seu mundo de pontacabeça novamente. Ele voltou a olhar para o vale, deixando-a encontrar a saída sozinha. Afinal, o que você esperava? Existe um limite de vezes que você pode rejeitar um homem antes que ele desista. Uma dor pulsava em seu peito enquanto ela saía pela porta da frente e entrava em seu Jeep. Quando o viu pela primeira vez na cidade, ela tinha certeza de que ele havia negado conhecê-la quando ela implorou a sua ajuda. Quando ele falou em segundas chances, sobre não cometer os mesmos erros de novo, ela percebeu que era ele quem


estava implorando agora. Ela segurou o volante com força, sua mente e coração divididos. Agora, era ela quem estava evitando-o. Agora, ela era a pessoa fria e sem escrúpulos que havia se recusado a deixá-lo entrar em sua vida. Se ela o deixasse agora, haveria alguma outra chance para eles algum dia? A torrente de emoções apertava o seu peito, expulsando o ar dos seus pulmões e queimando seus olhos. Desde a morte de Zach, ela havia se concentrado no jogo, na sua promessa de entrar no time. Fazendo isso, ela havia se fechado completamente. No início, aquilo havia a ajudado a lidar com a dor de perder o


seu filho, mas agora, isso a estava impedindo de se abrir com Ben. E por mais que isso a aterrorizasse, ela não podia negar que havia algo entre eles. Algo maior do que apenas sexo. Ele estava derrubando as suas barreiras, forçando-a a sentir novamente, e pedindo que ela lhe dê uma parte de si mesma que havia ficado isolada por muito tempo. Ela colocou a chave na ignição, tentando se convencer de que era melhor assim, mas seu coração se recusou a ceder. Jen havia lhe dito para ouvir seu coração, e agora, ele estava gritando com ela por ser uma covarde orgulhosa. Batida após batida, ela absorveu as


advertências. Sem risco, não há ganho. E se perdesse esta oportunidade, ela teria outra algum dia? Ela agarrou a chave e voltou para a casa, batendo na porta. Ben abriu, a confusão clara em seu rosto antes que ela cobrisse a boca dele com a sua. Ela o empurrou para dentro, seus braços famintos em torno dele enquanto ela fechava a porta com o pé. Ben abaixou as mãos dela e se afastou. “Hailey, o que—” “Eu mudei de ideia.” Então, ela o beijou de uma forma que, ela esperava, responderia todas as suas perguntas sobre o porquê de ela ter voltado. Mas, para ter certeza, ela adicionou, “Onde


fica o seu quarto?” Os olhos dele se iluminaram, transbordando de excitação. “Por aqui.” Era o corredor do hotel acontecendo novamente. Seus lábios devoravam um ao outro enquanto suas mãos trilhavam seus corpos. Eles tiraram as roupas enquanto subiam as escadas até o enorme quarto com tetos altos. Poderia ter sido o banco de trás do SUV dele, ela não se importava. A única coisa que importava para ela era estar com ele. Seu sutiã havia ido para o mesmo lugar que o seu vestido, como parte de uma trilha de roupas descartadas. Ben cobriu um dos seus seios com a mão e apertou seu mamilo entre os dedos. Um


choque correu diretamente para o seu centro, deixando-a trêmula e sem fôlego. Ben riu, sua boca próxima do ouvido dela. “Essa é uma das coisas que eu nunca consegui esquecer em você—o quão sensível você é.” Como se quisesse provar a sua declaração, ele esfregou o nó sensível com o dedão e o indicador, evocando a mesma reação nela. “E eu nunca esqueci de como foi bom ter você dentro de mim.” Ela procurou o zíper das suas calças, mas ele agarrou suas mãos e a empurrou para a beira da cama. “Haverá tempo suficiente para isso depois. Agora, eu vou fazer o que


deveria ter feito da última vez. Eu vou me concentrar em fazer você gozar até que esteja cansada demais para se mexer quando eu terminar.” Ele puxou suas calcinhas para baixo com um movimento rápido e caiu de joelhos entre as suas pernas. Com reverência, ele acariciou suas coxas, chegando cada vez mais perto do lugar que desejava o seu toque, mas seu olhar nunca deixou o rosto dela. “Você está ainda mais linda do que eu me lembrava.” Outro arrepio correu pelo corpo dela, mas desta vez, não tinha nada a ver com o toque dele. Tudo naquele momento a excitava, desde a reverência na sua voz


até a intensidade do seu olhar. “Por favor, Ben.” “Paciência.” Ele dobrou as pernas dela e as colocou sobre os ombros, deixando as suas áreas mais íntimas expostas. Então, ele baixou o rosto entre as suas pernas. Hailey suspirou quando a língua dele circundou o seu clitóris. No início, ela achou que ele estava provocando-a, testando-a, deixando-a pronta para aceitar a sua lança. Mas, com cada lambida lânguida, cada mordida e chupada, ficava muito claro que ele não iria parar até que ela gozasse. Ela agarrou os lençóis, aumentando a força na mesma intensidade da tensão


crescendo dentro da sua pélvis. Ela mordeu o lábio inferior, lutando contra ele, recusando-se a ceder até que não conseguisse mais resistir. E então, ela desmoronou. Ele apertou as mãos em seus quadris, segurando-a enquanto ela tremia, prolongando seu prazer com a boca o máximo que podia. Quando ele terminou, os membros dela estavam moles como gelatina, fracos e imóveis. Ele a puxou até os travesseiros com ele e tirou a cueca. O pico rijo da sua ereção pressionava contra a maciez do estômago dela enquanto ele distribuía seu peso sobre ela. Qualquer outro amante poderia ter usado aquele


momento para penetrá-la e se satisfazer, mas Ben segurou o seu rosto nas mãos e cobriu suas bochechas com beijos suaves. “Me avise quando você estiver pronta para continuar.” Ela mal havia voltado para a terra, mas ainda estava consciente o suficiente para perguntar, “Você tem camisinha?” Ele riu e abriu a gaveta do criadomudo, pegando uma longa tira de camisinhas. “Eu acho que são suficientes para esta noite.” Ela não conseguiu deixar de rir. “Se sentindo um pouco otimista demais, não é?” Ele acenou a cabeça e abriu uma. “Eu as comprei assim que percebi quem


você era. Assim, se eu tivesse uma segunda chance com você, estaria preparado.” “E agora, a sua paciência está prestes a dar resultados.” “Eu não me importo de esperar por você, Hailey. Você vale cada minuto.” A luz das palavras dele se espalhou pelo corpo dela como fogo, sem deixar nada intacto. Então, isso era ser amada e desejada. Era com isso que ela sempre havia sonhado mas tinha medo de pedir. E agora, ela estava de volta aos braços de Ben, na sua cama, e revivendo a alegria que ela pensava ter morrido. Ele colocou a camisinha e se posicionou na entrada do sexo dela.


Ela abriu mais as pernas e inclinou os quadris, ansiosa para recebê-lo. Ben a penetrou lentamente, permitindo que as suas paredes internas o acomodassem. Ao chegar à base, ele fechou os olhos e apertou o maxilar. “Meu Deus, Hailey, você é tão gostosa.” “Você também.” A leve ardência da entrada deu lugar à um sussurro de prazer. Ele a preencheu completamente, alcançando os seus recessos mais profundos, e isso a lembrou de como ela havia gostado de tê-lo dentro dela. “Eu falei sério quando disse que iria me concentrar em você. Eu quero fazer amor com você bem devagar.” A respiração dela acelerou, mas não


tinha nada a ver com a maravilhosa fricção dele se movendo dentro dela. Isto não era apenas sexo para ele. Ele queria fazer amor com ela, não apenas mais uma noite. As consequências da declaração dele perturbaram a sua mente, mas ela as afastou. Esta não era a hora de se preocupar com o passado ou o futuro. Ela lidaria com eles de manhã. Agora, tudo com que ela se importava era o presente. Os lábios dele caíram sobre os dela, suas línguas acompanhando o ritmo dos seus quadris que se moviam juntos. Cada estocada era o paraíso. Cada beijo falava de promessas sussurradas de que esta não seria a última vez que eles


estariam juntos daquela maneira. Cada carícia implorava a ela para deixá-lo entrar em seu coração. Ela lutou contra aquilo, mas os seus esforços haviam sido em vão. Ela sabia que Ben não iria desistir até conquistála. Tudo o que ele fazia era um pedido de rendição. Seus beijos ficaram mais exigentes. Suas estocadas ficaram mais fortes e rápidas. Suas mãos exploravam as curvas dela, dando atenção extra aos seus seios sensíveis. O aperto em seu ventre voltou, mas desta vez, ele perfurava o seu corpo, dobrando a sua vontade, quebrando-a e, finalmente, forçando-a a se render completamente a ele.


Seu nome caiu dos lábios dele quando o orgasmo correu pelo seu corpo como uma tempestade pulsante. Era selvagem, feroz e indomado, implacável em seu percurso, até possuí-la toda. Ela não podia esperar nada menos de Ben. Ele havia sido o único homem que sabia instintivamente como agradá-la. Esta era a recompensa por ter corrido o risco, por confiar nele o suficiente para se abrir. Ele repetiu o seu nome sem parar, como um homem delirante, seus movimentos rápidos e frenéticos. Ele deu uma última estocada e parou, seu rosto contorcido em uma mistura de prazer e dor. “Hailey,” ele disse com um


longo gemido antes de cair sobre ela. Minutos haviam se passado antes que ela percebesse que os dois estavam tremendo. Ben levantou a cabeça e deu um sorriso sonolento e satisfeito a ela. “Talvez, nós devêssemos entrar para baixo das cobertas.” Ele puxou o edredom sobre o corpo nu dela e se aconchegou ao seu lado. “Foi ainda melhor do que eu me lembrava.” Uma hora atrás, ela não teria achado possível que ele tivesse um desempenho melhor do que o daquela noite, mas ele havia provado o contrário. Ela mexeu a cabeça, sem conseguir fazer sua língua formar palavras coerentes. “Apenas me prometa uma coisa,


Hailey?” “O quê?” “Me acorde antes de ir embora desta vez.” Ela sorriu e se aconchegou em seus braços, sem sequer questionar o quanto eles se encaixavam bem. “Eu prometo.” Ela fechou os olhos e caiu em um sono feliz. Enquanto a vibração pósorgásmica se esvaía, seus sonhos tomaram forma. Zach estava correndo em um campo de flores, como as que cercavam o chalé de Ben, rindo e despreocupado. A alegria dele tomou conta do seu coração, infectando-o até que ela se sentisse tão livre e feliz quanto o seu filho. Ben estava atrás dela,


abraçando-a enquanto eles assistiam o seu filho brincar. Em um mundo perfeito, as coisas seriam assim, com o seu filho ainda vivo e o pai dele ao seu lado. Zach parou e foi até ela, segurando a sua mão e olhando para ela com aqueles olhos azuis metálicos que pareciam tanto com os do seu pai. “Não se esqueça,” ele sussurrou antes de soltá-la e voltar para o campo. As imagens sumiram na escuridão, lembrando-a de que aquilo não passava de um sonho. Zach estava morto, e ela ainda não havia contado a Ben sobre ele. Culpa e tristeza corroeram a sua alegria, destruindo-a até que um soluço


se libertasse de sua garganta.


Capítulo Onze Ben acordou com o som de choro angustiado. Hailey estava deitada com as costas viradas para ele, em posição fetal, tremendo e chorando. “O que houve?” ele perguntou, tocando nela, mas ela rolou da cama e correu para o banheiro. Um minuto mais tarde, o som da água corrente havia abafado os seus soluços. Ele se sentou e passou as mãos pelo rosto. Que diabos eu fiz dessa vez? Ele esperou que ela saísse do banheiro, que explicasse o seu comportamento, mas com o passar dos


minutos, a confusão e frustração dele aumentaram. Ele havia tentado ser paciente, tentado lhe dar espaço quando ela se afastou dele, mas o seu orgulho não podia suportar mais, especialmente quando uma mulher fugia chorando depois de fazer amor com ele. Era hora de fazer as perguntas difíceis e não desistir até que ela respondesse. Ele pulou da cama, seus pés tocando o chão com a mesma determinação que tinha para descobrir a verdade. Ele abriu a porta do banheiro e ficou paralisado. Hailey estava sentada no canto do chuveiro, seus joelhos dobrados até o peito, seu corpo magro tremendo com os


soluços. Aquilo o afetou como um soco no estômago. Todo esse tempo, ele havia visto apenas a jogadora de hóquei durona, a mulher confiante que ia atrás do que queria. Agora, ele estava vendo outro lado dela. Esta Hailey estava frágil e perdida, e seus braços queriam confortá-la. Ela levantou a cabeça e olhou para ele através do vidro embaçado do box. Lágrimas de terror brilharam em seus olhos antes que ela as secasse com a mão e baixasse o rosto. Ela tentou se levantar, apoiando-se na parede. “Desculpe,” ela balbuciou. “Não se desculpe.” Ele abriu a porta


de vidro e entrou embaixo da água quente. “Qual é o problema?” “Eu não quero falar sobre isso.” Ela tentou passar por ele, mas ele a segurou pelos ombros e bloqueou sua saída. “Que pena.” “Deixe-me ir, Ben.” “Não até que você me diga por que está sentada no meu chuveiro, chorando.” “Não é da sua conta.” Seu lábio superior se curvou em um rosnado, e seus olhos azuis brilharam de raiva. Esta era a Hailey que ele conhecia, a lutadora. Só que agora, ele desejava que ela desaparecesse, para que pudesse resolver o mistério do lado que ela


havia escondido dele. “E se eu quiser que seja da minha conta?” Ele fechou o espaço entre eles, bloqueando-a no canto, para que não pudesse escapar. “Eu gosto de você, Hailey. Eu quero ser parte da sua vida, mas não posso fazer isso se você continuar me afastando.” Ela levantou o queixo, mas o seu tremor crescente desmentiu o gesto de teimosia. Seus ombros caíram, e as lágrimas começaram a cair novamente. “Ben, eu queria poder—” Ele guiou o seu rosto de volta para ele, seu olhar fixo no dela. “Me diga, por favor.” As mãos dela se fecharam e, por um


segundo, ele pensou que ela fosse socálo antes de lhe contar a razão do seu choro. Em vez disso, ela as bateu contra a parede de azulejos. Um grito selvagem emergiu do seu peito, e seu corpo tremeu com a guerra que estava sendo travada dentro dela. “Sinto muito, Ben.” Ela baixou a cabeça e cruzou os braços sobre o peito. “Eu fiquei fechada por tanto tempo que...” Ela parecia estar se afastando novamente, então ele se aproximou, puxou-a para perto de si e colocou o queixo sobre a sua cabeça. “Você o quê?” “Eu não queria sentir nada. Eu não


queria me magoar. Então, eu me enterrei no jogo, na minha busca ridícula por um sonho, para focar em outra coisa que não fosse a dor. E por um tempo, o plano funcionou. Ele me fazia levantar todo dia e fez continuar. E aí, você tinha que voltar para a minha vida e desafiar esse escudo de monotonia com o qual eu me armei.” Ela levantou os braços e segurou os dele. “Esta noite, você me lembrou de como é sentir novamente—o bom e o ruim. Eu sei que não posso ter um sem o outro, mas você faz o risco valer a pena. Você me faz lembrar de como é sentir alegria. Você me faz querer esquecer do meu isolamento e me conectar com


alguém. Você me faz sentir viva, e mesmo que eu esteja morrendo de medo de me machucar novamente, eu ainda quero você.” Ele a abraçou, esperando que a sua força a consolasse. “Eu não quero lhe causar nenhuma dor.” “E não causou.” Ela levantou a cabeça. Seu nariz e olhos estavam vermelhos de chorar, mas ele viu um toque de esperança que não havia visto antes da confissão dela. “Tudo foi culpa minha. Mas eu não posso viver no passado e deixar que ele decida o meu futuro, Ben. Tudo o que eu posso fazer é aceitar o que eu tenho agora e aproveitar antes que acabe.”


Ela segurou as mãos dele e as uniu, cobrindo-as com as suas. “Você fala de segundas chances, mas sou eu quem deveria estar pedindo por uma segunda chance. Por favor, Ben, me dê outra chance e me ajude a sentir novamente.” Era quase demais para ele. Se ela fosse qualquer outra mulher, ele teria fugido. Mas algo no seu pedido o tocou, entrou em seu peito e lhe deu a coragem de aceitar o desafio dela. Ele se inclinou para frente e tocou os lábios dela com os dele, esperando para ver se era isso que ela queria. “Mais,” ela sussurrou e o puxou. Seu beijo procurava respostas, confirmação, um sinal de que ele estava disposto a


reviver todas aquelas emoções que ela havia reprimido. Naquela noite, ele havia feito amor com ela até que ela se rendesse a ele. Agora, era a vez dele de se dar completamente a ela. Ele aprofundou o beijo, e ela respondeu colocando seus braços ao redor dele e gemendo baixo. O desejo pulsava em suas veias, e ele percebeu, surpreso, que a necessidade dela era tão física quanto emocional. Ela havia temido a intimidade, mas desejava a conexão que se formava entre eles. Ele havia dito mais cedo naquela noite que se recusava a deixá-la escapar dele. Agora, ele estava sendo testado de uma forma que nunca havia imaginado.


As apostas eram mais altas do que nunca, mas dar o que ela precisava parecia mais fácil do que ele achou que seria. Aquilo não fazia sentido. Ele terminou o beijo. “Hailey, o que você quer de mim?” “Eu só quero você.” O medo voltou aos seus olhos, e ela se afastou. “Quer dizer, se você ainda me quiser.” Ele passou o dedão pelo rosto dela e absorveu a linda e complicada mulher em sua frente. Ele havia ido para Cascade para se curar e lidar com a perda de sua carreira, mas ela o havia forçado a juntar os pedaços e seguir em frente. E, em algum momento, ele havia se apaixonado por ela novamente. “Você


também me faz sentir vivo.” “Me mostre.” O seu pênis voltou a vida com o desafio dela. “Com prazer.” Ele a beijou novamente, guiando-a até a beirada do box sem soltá-la para pegar a camisinha que ele havia colocado na gaveta ao lado da pia. Uma rajada de frio cortou o vapor quanto ele abriu a porta de vidro. Os mamilos dela enrijeceram contra o peito dele, e ele se inclinou para aquecê-los com a boca. Ela ainda respondia da mesma forma ao toque dele—com um tremor delicioso que se transformou em um gemido de necessidade. Ele podia continuar assim para sempre, provocando-a, fazendo-a


murmurar promessas sensuais, mas a dor em suas bolas exigia alívio. Ele colocou a camisinha, levantou-a contra a parede e a penetrou. Hailey gritou o seu nome e entrelaçou as pernas ao redor da cintura dele. “Sim, assim. “ Seu joelho parecia mais forte do que nunca enquanto ele a penetrava sem parar. Ele havia feito amor com ela lentamente antes, e adorado cada segundo, mas agora era diferente. Isto era cru, primitivo, selvagem. Ele a observou para ver sinais de que havia ido longe demais na direção oposta, mas só viu êxtase em seu rosto. “Mais,” ela ordenou, enfiando as


unhas nas suas costas. “Mais forte, mais rápido.” Deus, ele amava isso. Ele amava estar com ela. Ele amava o fato de ela ainda estar disposta a se dar tão completamente a ele. Ele amava o aperto crescente das suas paredes internas, o aumento sutil da fricção com cada estocada, os suspiros rápidos que sinalizavam o seu clímax iminente. Ela gozou com um grito que ativou o orgasmo dele. Ele atravessou o seu corpo como uma explosão, derrubando as suas defesas e embaçando a sua visão. Linhas vermelhas pulsavam ao redor da sua visão no ritmo das batidas do seu coração. Ele a segurou com força


enquanto as ondas de vibração acabavam com a sua energia restante. Quando ele voltou à terra, estava de joelhos, ainda dentro dela, e empurrando-a contra a parede com as pernas dela em torno da cintura. A água quente batia em seus ombros e o deixava ainda mais perto do sono, mas ele não queria se mover. Por um momento abençoado, Hailey era dele, e ele se recusava a fazer qualquer coisa que arruinasse este momento perfeito. Ele enterrou o nariz na dobra do pescoço dela e inspirou o seu cheiro de limpeza. Foi Hailey quem se moveu primeiro. Ela passou os dedos pelos cabelos


molhados dele e beijou a sua testa. “Obrigado,” ela disse em uma voz suave e contente que encheu o seu peito e o fez esquecer de respirar. Ele levantou o rosto. O brilho que irradiava do sorriso dela o fez se esquecer de todo o resto. Ele estava se apaixonando por ela, e isso não o apavorava mais. “Vamos voltar para a cama?” ela perguntou. Ele assentiu e finalmente a soltou. Seu joelho doeu quando ele se levantou, mas valeu à pena. Depois de se secarem e voltarem para a cama, a dor se tornou apenas uma lembrança distante. Hailey se aconchegou ao seu lado,


com o braรงo sobre o seu peito e a coxa sobre a dele. Ele sorriu de lado e a abraรงou com forรงa. Esta nรฃo era uma mulher que estava planejando sair da sua cama assim que ele fechasse os olhos. Mas existia o suficiente entre eles para fazer isto durar para sempre?


Capítulo Doze O cheiro suave da colônia de Ben foi a primeira coisa que Hailey notou quando acordou. A segunda coisa foi o calor da pele dele ao seu lado. Ela se espreguiçou e começou a sair da cama, mas um braço forte a puxou de volta para o seu peito. “Eu pensei que você fosse me acordar antes de sair,” ele provocou. “Que possessivo!” Mas ela não o evitou. Depois de terem saído do chuveiro e ido para a cama, ela havia tido o sono mais tranquilo em anos. Um peso enorme havia sido tirado dos seus ombros, e seu coração estava lhe


dizendo para se abrir com Ben. Ela finalmente estava pronta para contar a ele sobre Zach, mas primeiro, ela queria ficar um pouco mais nos seus braços. “Eu avisei que não iria deixar você escapar.” Ele passou os dedos pelo seu cabelo e coluna lenta e suavemente, ameaçando fazê-la voltar a dormir. “Eu fico feliz em ouvir isso.” Ela se aproximou ainda mais dele, ouvindo as batidas constantes do seu coração enquanto ela tentava criar coragem. “Ben, tem algo que eu preciso lhe dizer.” As mãos dele continuaram a subir e descer pelas suas costas no mesmo ritmo suave, sem revelar nenhum sinal de


medo ou dúvida. “O que é?” Ela respirou fundo. Era a hora. Esta era a sua chance. Ela abriu a boca, mas o toque distante do seu telefone a silenciou. Ela levantou a cabeça para encontrá-lo, mas o seu olhar caiu sobre o relógio: 10:47. “Merda! Eu estou atrasada!” Ben continuou na cama enquanto ela corria pelo quarto, procurando por suas roupas. “Eu espero que o atraso não tenha nada a ver com a sua menstruação.” O estômago dela se apertou, expulsando o ar dos seus pulmões. Ele esperava que ela não estivesse grávida, apesar de eles terem acabado de dormir


juntos. O que ele diria se a notícia sobre a sua menstruação atrasada viesse nove anos depois do fato? Ela vestiu as calcinhas e tentou se manter calma. “Não. Eu estou atrasada para uma aula que estou dando no celeiro.” “Uma aula?” “Sim, quer dizer, tecnicamente eu não tenho tempo para treinar um time, mas eu dou aulas de tiros a gol e passes de vez em quando.” Ela havia começado quando Zach tinha idade para começar a jogar hóquei e continuou a dar aulas depois de ele ficar doente, porque ele havia pedido. Ela pegou o telefone e ligou de volta para o número não atendido.


Gus a atacou no minuto em que atendeu. “Onde você está, Erikson?” “Eu dormi demais.” Ela puxou o vestido sobre a cabeça. “Eu vou estar aí em alguns minutos.” Um par de mãos fechou o seu zíper. “Você vai jogar hóquei vestida assim?” Ben murmurou em seu outro ouvido. Ela lutou contra a vontade de dizer a Gus que não iria, para poder arrastar Ben de volta para a cama. “Tudo bem, eu vou trabalhar com os garotos, mas é melhor você chegar aqui o mais rápido possível. Eles estão ficando inquietos.” Gus desligou e Ben a puxou de volta para os seus braços. “Ele parecia irritado,” ele disse


enquanto continuava a plantar pequenos beijos em seu pescoço. “Ele estava.” Ela se virou para dar um beijo rápido em Ben antes de se afastar dele. “Ele está com o rinque cheio de iniciantes que estão me esperando para treinar.” “Precisa de uma ajudinha?” Pela segunda vez em dois minutos, ele a havia deixado sem palavras. “Você está se oferecendo para ajudar?” Ele confirmou. “Eu posso não estar muito bem na frente da goleira, mas me lembro de algumas coisinhas do tempo em que eu jogava. E se tudo mais falhar, eu posso me oferecer para dar uns autógrafos.”


“Ah é, eu me esqueci, você é uma superestrela da NHL,” ela disse, rindo. “Se não soubesse da verdade, eu diria que você está gostando de estar no gelo novamente.” Uma careta surgiu em seu rosto, mas ele não disse nada enquanto vestia os seus jeans. Mas ele estava certo sobre ela não poder jogar com o vestido que havia pedido emprestado para Jen. “Eu vou correr para casa, trocar de roupa e encontro você no rinque.” Ela saiu correndo antes que ele pudesse lhe oferecer uma carona. Dormir com ele era uma coisa. A cidade inteira ficar sabendo era outra. Agora, a


discrição era sua amiga, especialmente enquanto ela estava tentando criar coragem para contar a ele sobre Zach. Quando ela chegou ao estacionamento do rinque, ele estava esperando por ela na porta dos fundos com seus patins. “O quê? Nada de protetores hoje?” ela perguntou enquanto ele pegava o equipamento dela da traseira do Jeep. Ele balançou a cabeça. “Não, eu ainda não estou 100%.” “Você estava ótimo ontem.” “Eu só joguei ontem porque queria sair com você. O meu joelho não está pronto para bloquear jogadas a manhã inteira.” Os músculos em seu maxilar ficaram tensos quando ele entrou no


celeiro, e o coração dela se apertou. Ele ainda estava se escondendo atrás da sua lesão. Hailey colocou os patins em tempo recorde e entrou no gelo com o grupo de crianças de sete a nove anos, mas assim que Gus viu Ben atrás dela, ele disse, “Ei, crianças, vejam quem Hailey trouxe —Ben Kelly!” As crianças gritaram e cercaram Ben. Seus olhos se arregalaram de puro terror, e ele se segurou nas placas como se as crianças estivessem querendo tirálo do jogo. Algumas bateram na parede ao lado dele, mas nenhuma o acertou. Suas vozes agudas gritavam perguntas mais rápido do que uma linha azul de


pucks durante um treino de tiro a gol. Você pode jogar conosco? Você conhece o fulano de tal? Me dá um autógrafo? Você vai voltar na próxima temporada? Ben mal conseguia dizer uma palavra antes de ser bombardeado pela próxima pergunta, mas quando um dos garotos lhe perguntou sobre a sua volta, seu rosto ficou branco e ele se enrolou nas palavras. Hora de Hailey o salvar. “Ok, jogadores, já chega. Vocês podem conversar com o Sr. Kelly depois do treino.” Seus sorrisos eram preciosos ao


voltar para o centro do rinque. Tão parecidos com o sorriso de Zach quando conheceu Patrick, um dos jogadores dos Whales. Será que Ben tinha alguma ideia do que a mera presença dele significava para aquelas crianças? Ela começou o treino com uma série de exercícios de passe e foi falar com ele. “Sinto muito pelo Gus.” Ele continuou a amarrar os patins lentamente. “Já era de se esperar. Além disso, eu me ofereci para vir.” “Eu espero que eles não tenham sobrecarregado você.” Ele balançou a cabeça, depois pausou. “Bem, talvez um pouco. Crianças me assustam. É uma das razões


por eu ter recusado todos os convites de um dos meus colegas de time para ir com ele ao hospital infantil.” Uma dor aguda penetrou o coração dela, trazendo lágrimas aos seus olhos. E se ele tivesse aceito aquele convite, uma única vez? Ele teria conhecido Zach? “Sabe, você não precisa ficar, já que não curte crianças.” Ela começou a se afastar, mas ele pegou sua mão e a puxou de volta para as placas. “Não foi isso que eu quis dizer.” “Então o que você quis dizer quando disse que crianças lhe assustam?” “E assustam mesmo. Elas são tão pequenas e hiperativas que eu tenho


medo de tropeçar em uma e machucála.” “Elas são crianças, não chihuahuas.” “Hailey.” Ele disse o nome dela como se pedisse desculpas e colocou a sua mão no peito dele. “Eu disse alguma coisa que a incomodou, não é?” “Por que você acha isso?” “Porque você parece estar entre me dar um tapa e chorar.” Ela piscou para evitar as lágrimas. Ele estava começando a conhecê-la bem demais. Mas uma coisa era certa—ela não podia contar a ele sobre Zach agora. Ele provavelmente agradeceria aos céus por ter escapado dessa. “Eu tenho que voltar para a aula, Ben.


Já é ruim eu estar atrasada. Eu não preciso concentrar toda a minha atenção em você quando estou aqui por eles.” Ela puxou a sua mão da dele e voltou para as crianças, ignorando-o completamente pelo resto da hora. Quando a aula terminou, Ben ainda estava lá. Mas, em vez de estar se escondendo nos bancos como ela imaginou que ele estaria, ele estava no gelo conversando com três crianças que jogavam na posição de goleiros. Ele ficou atrás de um deles, dizendo algo em voz baixa enquanto mostrava ao menino como usar o taco e a luva para bloquear uma jogada no meio das pernas. O menino caiu de joelhos em uma posição


de borboleta modificada e ganhou um high-five de Ben quando levantou. O sorriso dele era o mesmo do menino, e a nuvem negra que havia estado sobre ela durante o treino começou a sumir. As outras crianças patinaram até ele, mas desta vez, ele não entrou em pânico. Ele respondeu as suas perguntas da mesma forma reservada que usava com a imprensa, se aproximando da beirada do rinque com cada resposta. Quando ele alcançou os bancos, os pais se aproximaram, alguns oferecendo canetas para Ben dar autógrafos. Quinze minutos se passaram antes que ela finalmente ficasse sozinha com ele. Ela trancou a porta da frente depois


que o último jogador saiu. “Eu acho que você não vai poder se esconder aqui por muito mais tempo.” “Iria acontecer mais cedo ou mais tarde.” Ele tirou um patim e olhou para ele. “Sabe, não foi tão ruim quanto eu pensei que seria.” “E o que isso quer dizer?” ela perguntou enquanto tirava os protetores. “Não me entenda mal—as crianças ainda me assustam. Mas em números pequenos, elas não são tão ruins.” “Diz o homem que cresceu com seis irmãos.” Ele riu e desamarrou o outro patim. “Pode ser que eu até queira ter um ou dois filhos um dia. Não agora, mas um


dia.” E com isso, o humor dela piorou novamente. E se você descobrisse que já teve um? Ela enfiou o equipamento dentro da bolsa. “Eu tenho que ir trabalhar. Jogos eliminatórios significam que o bar vai estar cheio.” “Espere.” Ele a puxou para um beijo no momento em que Gus ligou o Zamboni. “Quer vir novamente esta noite?” Sua mente hesitou. Por mais que quisesse passar outra noite nos braços dele, ela ainda precisava aceitar que teria que contar a ele sobre Zach. Tudo o que havia visto naquela manhã dizia a


ela que Ben não estava pronto para que aquela bomba caísse sobre ele. “Vamos ver como eu me sinto depois do trabalho.” “Eu vou ficar acordado esperando.” Hailey jogou seu equipamento na traseira do Jeep e ligou o motor, mas sua mente ainda estava martelando o que Ben havia dito. Não agora, mas um dia. Talvez, ela só precisasse dar mais tempo a ele. Quando ela tivesse certeza de que ele estava pronto para saber sobre o seu filho, ela contaria. Mas por enquanto, ela precisava esperar. **** Ben se deitou no sofá com uma cerveja e ligou a TV. Hailey havia


ligado a 10 minutos atrás para lhe dizer que estava vindo, e ele mal podia esperar para vê-la de novo, mesmo que apenas para entender as ações dela no rinque de patinação naquela manhã. Ela era tão contraditória. Em um minuto, ele acreditava que finalmente havia derrubado as suas barreiras, e no outro, ela havia voltado a usar aquela expressão de dor que ameaçava secar cada gota de alegria em seu coração. Ele queria que ela se abrisse com ele. Ele queria saber o que havia dito ou feito para magoá-la, para que não voltasse a fazer isso. Mas ela se recusava a contar a ele. Em vez disso, ela fugiu, usando o trabalho como


desculpa. Ele a tinha visto com as crianças hoje. Ela era uma treinadora nata, e estava claro que todas a adoravam. Ela era o tipo de mulher que seria uma boa mãe algum dia. E por mais que isso o surpreendesse, ele queria ser o homem que ela escolheria para ser pai dos seus filhos. No momento em que reconheceu isso, ele forçou a si mesmo a superar o seu medo de crianças. Ele zapeou pelos canais até chegar ao canal de esportes, onde eles estavam comentando os jogos eliminatórios do dia. As imagens se focaram em um jogador de Boston que bloqueou uma jogada e foi atingido pelo puck. A


expressão de agonia no rosto dele fez o estômago de Ben se apertar e o fez se esquecer de Hailey. Repetidamente, eles mostraram o jogador sendo atingido, seus olhos fechados de dor, sua boca aberta em um grito silencioso. O coração de Ben batia forte enquanto eles mostravam o jogador saindo do gelo, mancando. Então, a tela voltou aos repórteres atrás da mesa enquanto eles continuavam a discutir a lesão. Ele ouviu as palavras “perna quebrada,” e a dor no seu joelho voltou. Sua mente gritava para que ele trocasse de canal enquanto eles continuavam a falar sobre outras lesões significativas da temporada, mas ele não


conseguia desviar os olhos da TV. Ele viu o seu próprio rosto na tela. Sua respiração se acelerou quando ele percebeu o que eles estavam prestes a mostrar. O tempo pareceu ficar mais devagar enquanto eles exibiam imagens daquela noite a três meses atrás. Ele estava na frente da goleira, preparandose para o impacto, quando o outro jogador acelerou na direção dele. Ele levantou o taco e luvas para tentar absorver um pouco do impacto. O taco do atacante prendeu em seu patim, puxando-o para frente. A mesma expressão de agonia estava no seu próprio rosto um segundo depois do jogador tê-lo atacado.


O estômago de Ben estava cheio de nós, e o suor brotava em sua testa. Ele lembrava muito pouco daquela noite, com exceção do que os outros lhe contaram. Ele havia visto uma foto da colisão, mas nunca o vídeo. E agora, era como se ele estivesse revivendo tudo novamente. Seus músculos travaram. A dor explodiu de seu joelho para toda a sua perna. Sua visão embaçou com uma névoa de cores. Em algum lugar ao longe, ele ouviu alguém chamando seu nome, mas seus lábios se recusaram a funcionar. Por que eu? O que eu poderia ter feito de diferente? O que eu poderia ter feito para evitar isso? Eu vou


conseguir voltar a jogar algum dia? Aquelas eram as mesmas perguntas que ele havia feito milhares de vezes durante os dias após a sua lesão. E, exatamente como antes, ele não tinha respostas. Um par de mãos frias tocaram seu rosto, e uma sombra se moveu na frente da tela. “Ben, olhe para mim.” Quando a sua visão focou novamente, ele viu Hailey de pé ao seu lado. Um gemido cresceu em sua garganta. Ele tapou a boca para impedi-lo de sair. Ela tirou o controle remoto das mãos dele e desligou a TV antes de puxá-lo para os seus braços e pressionar o ouvido dele contra o seu peito. O


coração dela estava batendo no mesmo ritmo alucinante que o dele. “Foi a primeira vez que você viu o que aconteceu?” Tudo o que ele conseguia fazer era acenar com a cabeça. “Sinto muito.” Ela passou os dedos pelos seus cabelos, cada toque derretendo o medo congelante que o mantinha prisioneiro. “Eu sei que foi chocante para você.” “Eu não posso,” ele finalmente conseguiu sussurrar. “Eu não posso voltar lá.” “Bobagem.” Ela levantou o seu queixo e olhou para ele com um olhar austero que deixaria Mac orgulhoso.


“Uma lesão não vai destruir a sua carreira, Ben.” Ele a afastou e se levantou, sua perna explodindo de dor com o menor movimento. “É fácil para você dizer. Não foi o seu joelho que foi destruído.” “Não, mas eu sei como é ter os meus sonhos roubados de mim em uma questão de segundos. Diferente de você, eu não tive medo de voltar lá e continuar tentando.” Uma nova emoção queimou dentro dele e substituiu o seu medo—vergonha. “Droga, Hailey, não me compare a você.” “Eu não estou. Mas eu sei que você está se escondendo atrás da sua lesão.”


Seu joelho estalou quando ele colocou peso sobre ele, mancando enquanto tentava sair do quarto. “Eu estourei o meu joelho, Hailey. Ele nunca vai voltar a ser o que era antes.” “E, no entanto, o seu joelho estava ótimo quando você bloqueou a minha jogada ontem e quando você transou comigo no chuveiro ontem à noite.” Ela bloqueou a saída dele e apontou para a sua perna lesionada. “Eu tenho observado você desde que reapareceu na minha vida. Você só manca quando alguém lhe desafia a voltar para o gelo. Fora isso, o seu joelho está tão bom quanto era três meses atrás.” O quarto parecia estar se fechando em


torno dele. As acusações dela o atacavam, sufocando-o até que ele não pudesse mais lutar contra elas. “O que você quer que eu diga, Hailey? Que eu estou apavorado com a possibilidade de voltar lá? Que eu vivo com medo de que, da próxima vez, eles não consigam me consertar?” “Sim, porque só depois que você reconhecer os seus medos, vai poder enfrentá-los.” Ela segurou as mãos dele. Uma onda da calma e paz o inundou com o toque dela, e ele respirou fundo pela primeira vez desde que viu as imagens. “E como eu o enfrento?” “Um dia de cada vez.” Sua voz tremeu com o peso da sua


incerteza. Era realmente tão simples assim? Ele conseguiria voltar para o gelo e não ficar paralisado de medo quando visse um jogador deslizando na direção dele? “E se eu nunca conseguir superar isso?” “Você vai conseguir,” ela disse com tanta certeza que ele quase acreditou nela. Ela pressionou os lábios contra os dele em um beijo suave. “Você ama o jogo demais para não conseguir.” Ele pressionou sua testa contra a dele, suas defesas se enfraquecendo. “E se eu nunca mais jogar de novo?” “Então, essa será a sua decisão, mas eu não quero que você a tome porque está com medo. Se você decidir se


aposentar, faça apenas depois de tentar mais uma vez.” Uma faísca de esperança iluminou as suas dúvidas e aqueceu o seu sangue gelado. “Se você acha que eu consigo…” “Eu sei que você consegue, Ben. E eu vou estar lá para ajudar você em cada passo.” Ela o beijou novamente, desta vez, levando-o para longe da escuridão da sua mente. Ele se rendeu ao conforto dos braços dela, à paixão que esta mulher linda conseguia inspirar nele. Ele havia se ferido física e emocionalmente, mas ela estava disposta a ajudá-lo a se curar de todas as maneiras possíveis. “Eu não


mereço isso. Eu não mereço você.” “Deixe que eu decida isso,” ela respondeu antes de cobrir a boca dele com a sua. Este beijo foi mais cru e faminto do que os anteriores, reacendendo o desejo dele por ela até que não conseguisse pensar em mais nada. Seu pênis enrijeceu e ele a guiou até o quarto. “Nós podemos falar sobre isso de manhã.” “Com certeza.” Ela tirou a camisa dele e colocou os braços ao redor do seu pescoço. “Agora, eu quero provar que quero você, não importa a sua decisão.” Ele sorriu e a levou até a cama, a dor


em seu joelho sumindo. “Então, por favor, faça isso.”


Capítulo Treze Um puck voou pelo ar, na direção do espaço acima do ombro de Ben. Ele levantou a luva e o pegou antes que batesse na rede, e um sorriso se formou por trás da máscara. “Agora, são oito,” ele provocou. Hailey bateu o seu taco no gelo. “Se eu soubesse que você ficaria tão bom, tão rápido, eu nunca teria feito aquela aposta com você.” Ele levantou a máscara e patinou até ela. Três semanas haviam se passado desde que ele tinha bloqueado a jogada dela e a levado para jantar, e agora, ela estava na cama dele quase todas as


noites. Ele colocou o braço ao redor da sua cintura e a puxou para um beijo. “Por que você fez aquela aposta comigo?” “Eu achei que era óbvio. Você ama o gelo, Ben. Você ama o jogo. Tudo o que eu tive que fazer foi lhe dar aquele empurrão final para que você voltasse.” “E, por isso, eu lhe agradeço.” Enquanto os seus lábios cobriam os dela, ele pensou no quanto ela havia se tornado para ele. Ela não era mais a garota que havia lhe dado a melhor noite da sua vida, apesar de o sexo ainda ser incrível. Ela era a mulher que o acalmava quando ele ficava frustrado com seu joelho, que confortava seus


músculos doloridos com massagens que geralmente acabavam com ele deitado nu ao lado dela, que o desafiava a melhorar dentro e fora do gelo todos os dias. E, no entanto, de vez em quando, ele a sentia se afastar, exatamente como estava fazendo agora. Ela terminou o beijo e patinou até o puck caído, deixando uma brisa fria em seu lugar. “Qual é o problema?” “Quem disse que existe um problema?” Ele a interceptou. “Eu acho que conheço você o suficiente agora para saber quando está escondendo algo de mim.” Ele pousou a mão no seu ombro.


“Lembre-se, eu quero saber o que você está sentindo—o bom e o ruim.” Ela encolheu os ombros e deslizou o puck para frente e para trás com o taco, de costas para ele. “Você está quase em condições de voltar a jogar. Eu tenho certeza de que é só uma questão de tempo para você voltar para Vancouver e me deixar aqui.” Agora era ela quem tinha medo de ser abandonada. “Eu falei sério quando disse que não quero abrir mão de você. Quando eu voltar para Vancouver, eu quero que você venha comigo.” Os ombros dela ficaram tensos, e o puck parou. “Eu não posso.” “Claro que pode.” Ele se aproximou


dela e a virou, mas ela não levantou os olhos para olhar para ele. “Por que não?” “Para começar, eu preciso continuar a treinar.” “E quem disse que você não pode treinar em Vancouver? Eu tenho certeza que posso conseguir o tempo que você precisar no gelo.” “Mas quem vai assumir o meu lugar no Sin Bin? Papai precisa de mim.” “Eu tenho certeza que ele pode contratar alguém para servir as mesas.” Ele levantou o seu queixo para forçá-la a olhar para ele, e ele viu aquilo nos seus olhos novamente—a mesma mistura de tristeza, culpa e medo que havia visto


naquela noite, no chuveiro. “Qual é a verdadeira razão para você não vir comigo?” Ela fechou os olhos e os apertou. “Eu não posso me distrair agora, Ben.” “E é isso que eu sou para você? Uma distração?” “Não.” Mas isso não a impediu de adicionar mais espaço entre eles. “Mas, como eu já lhe disse, esta é a minha última chance de jogar nas Olimpíadas, e eu preciso me concentrar. Eu não posso me preocupar com ter que dizer ao papai que estou indo embora ou com fazer as malas para me mudar para Vancouver. Talvez, depois que a seleção for convocada, nós possamos falar sobre


isso, mas eu não posso agora.” O maxilar dele se apertou enquanto ela patinava para longe. Os seus argumentos eram válidos, mas ele não conseguia evitar de suspeitar que havia algo que ela estava escondendo dele. “Tudo bem, eu posso esperar.” Mas isso não significava que ele iria esperar em silêncio. Ele tinha uma forma de manipular a situação, e era tão fácil quanto fazer uma ligação e enviar um email. **** Ben olhou para o número na sua lista de contatos por vários e longos segundos antes de apertar no botão de ligar. O telefone tocou várias vezes


antes de Mac atender. “Oi, Ben, como está o joelho?” Seu treinador nunca perdia a chance de ir direto ao assunto. “Melhor. Eu tenho defendido algumas jogadas, e me sinto bem.” “Então, isso significa que você vai estar pronto para jogar em setembro?” Ele esperou pela onda de pânico que viria com a ideia de voltar a jogar de verdade novamente, mas sua garganta apenas se apertou. Nada de batimentos acelerados. Nada de náusea. Nada de suor frio. Talvez, Hailey estivesse certa sobre empurrá-lo de volta ao gelo. “Parece que sim.” Ele limpou a garganta e passou para a verdadeira


razão de ter ligado. “Você é amigo do técnico da seleção feminina de hóquei, se eu me lembro bem, não é?” “Sim, Dan e eu nos conhecemos a muito tempo. Por quê?” “Existe uma mulher aqui em Cascade que eu acho que ele deveria ver.” Ele segurou o mouse e apertou o botão de enviar no e-mail que continha o vídeo de melhores momentos. “Se você tem alguns minutos, dê uma olhada no vídeo que eu lhe mandei. Se você achar que ela é boa, poderia encaminhá-lo para ele?” “Como você se envolveu nisso?” A voz de Mac estava cheia de desconfiança, mas a batida techno da


trilha sonora encheu a linha telefônica, confirmando que o treinador havia aberto o arquivo. “Ela está me ajudando a voltar a jogar. Esta é a minha maneira de agradecê-la.” E de acabar com uma das desculpas que ela havia lhe dado naquela manhã. “Uau. Aquele slap shot dela tem potência.” “Não é só isso que ela tem. Ela é boa, Mac, e merece ter uma chance de entrar no time.” A linha ficou silenciosa por meio minuto, com a exceção da trilha sonora e o som ocasional de surpresa de Mac. “É, ela definitivamente tem alguma


coisa, mas eu não sei como ela vai se sair com as melhores.” “Tudo o que ela precisa é de uma chance.” “Tudo bem, eu vou encaminhar isto para o Dan e ver o que ele acha.” “Obrigado.” Ben tocou no botão de desligar e finalizou a ligação antes que Mac pedisse mais informações. **** O telefone de Hailey vibrava em seu bolso. Ela o pegou e riu ao ver a mensagem de Ben. Me encontre nos fundos em dois minutos. Não era a primeira vez que ela havia recebido aquela mensagem dele. Geralmente, ela significava alguns


beijos ardentes que a deixavam ansiosa para voltar para a casa dele depois do trabalho. A mensagem desta noite, no entanto, a deixou mais aliviada do que excitada. Ela havia terminado o treino com Ben de uma forma não muito agradável. Parte dela estava feliz por ele ter lhe pedido para ir para Vancouver com ele, mas ela não conseguiu desfrutar do momento, nem aceitar a oferta. Não sem ter contado a ele sobre Zach. As últimas três semanas haviam sido pura felicidade, no gelo e na cama dele. No entanto, ela continuava esperando que tudo desmoronasse no momento em que ela contasse a ele sobre o seu filho.


Quando ele a pressionou por uma razão para a sua recusa, ela quase contou. Você não passa de uma covarde, e agora está disposta a mentir para ele para não perdê-lo. Ela recostou o rosto na porta do freezer da cozinha e deixou o metal frio refrescar suas bochechas quentes. Ela não podia continuar a adiar a hora de contar a verdade a ele, mas também não conseguia encontrar o momento certo para contar. “Você está bem, docinho?” Cindy perguntou ao equilibrar vários pratos nos braços. “Sim—só preciso tomar um ar.” “Então vá fazer isso.” Ela piscou ao


sair para o bar. “Diga oi para o Ben por mim.” Uma risada dissipou a sua nuvem de culpa. Desde que o cabelo de Ben começou a crescer de novo, a cidade havia começado a cochichar sobre a estrela da NHL entre eles, mas achavam ainda mais divertido fofocar sobre a conexão dele com ela. A esta altura, todos sabiam que eles eram um casal, apesar de ela ter tentado ser discreta sobre dormir todas as noites na casa dele. Mas esta era a primeira vez que ela estava ouvindo algo da sua família. Seu estômago se apertou. E se o seu pai soubesse que ela estava dormindo com Ben?


Talvez, mudar-se para Vancouver fosse mais seguro do que ficar aqui. Ela fechou a porta do freezer e saiu. Um par de braços musculosos a agarrou e a puxou para um peito rijo e familiar. Um segundo depois, os lábios de Ben cobriam os dela em um beijo ardente que a fez desejar que o bar já estivesse fechando. “Sentiu saudades?” ele perguntou com um sorriso convencido. “Eu preciso lhe mostrar o quanto?” Ela baixou a cabeça e controlou o próximo beijo, girando a língua no ritmo do balanço dos seus quadris contra a saliência rígida em suas calças. Ele respirou fundo e moveu as mãos para o


traseiro dela, apertando-a firmemente contra ele. A voz dele estava cheia de desejo quando ela terminou. “Se você continuar me beijando assim, eu não vou me responsabilizar pelas minhas ações.” “Foi você quem começou.” Ela deu mais um beijo no seu rosto e deu um passo para trás, caso ele decidisse que ela tinha lhe provocado demais. Do jeito que as notícias se espalhavam nesta cidade, qualquer amasso atrás do Sin Bin acabaria na primeira página do jornal, mesmo que as lixeiras os escondessem um pouco. “Então, você está aqui porque é noite do bolo de carne?”


Ele enrugou o nariz. “Uh, eu não acredito que vocês ainda oferecem aquilo como prato especial.” Ele a balançou de um lado para o outro em seus braços com um sorriso brincalhão. “Não, eu só vim para lhe dar uma notícia.” Seu coração pulou. “O quê?” “Eu conversei com o Mac hoje.” E com isso, seu coração foi parar no estômago. Uma conversa com o seu treinador só significava uma coisa—ele estaria indo embora de Cascade em breve. “E?” “Você sabia que ele é amigo do técnico da seleção feminina?” Seu coração já era—seu peito estava


tão apertado que ela duvidava que ele pudesse bater. “É mesmo?” Ben confirmou, seu sorriso se abrindo. “Eu lhe mostrei o seu vídeo e ele acha que você tem uma chance. Ele o encaminhou para o Dan hoje à tarde.” Sua cabeça estava girando, e ela se segurou com mais força em Ben para não desmaiar. “Ele acha que eu sou boa o suficiente para entrar no time?” “Mac acha, mas a decisão não é dele.” Ele pressionou a ponta do nariz dele no dela. “Mas eu acho que a indicação dele pode ser o suficiente para conseguir um teste para você.” “Oh, meu Deus!” Ela colocou os braços ao redor do pescoço dele e o


apertou em um abraço de urso de pura felicidade. “Obrigado. Muito obrigado!” Ele a abraçou como se soubesse o nível exato de alegria que ela estava sentindo. “De nada.” “Isto é—quer dizer…” Quando não conseguiu encontrar as palavras para expressar a sua gratidão, ela apelou para a única coisa que sabia que ele entenderia. Ela o beijou, com força e rápido inicialmente, mas se tornando algo lento e sedutor antes que ela pudesse perceber. Ben havia feito isto por ela, havia lhe dado a chance de conquistar o seu sonho e manter a sua promessa ao Zach, e ela não sabia como agradecê-lo.


Um rosnado emergiu do peito dele, e ele a empurrou contra a parede. Suas mãos levantaram a saia dela e tocaram a sua pele, fazendo-a sentir arrepios de prazer. Ele não tentou esconder o quanto ela o deixou duro, ou disfarçar o quanto ele a queria. Com cada toque da língua, ele ficava mais ousado. Ele puxou a gola da blusa dela para baixo, depois o sutiã, até que um seio ficasse nu. Ele o segurou, seu beijo ficando cada vez mais faminto enquanto seus dedos tocavam o bico sensível. Ela não tentou pará-lo. Para o inferno com esta cidade e suas línguas compridas. A esta hora amanhã, a cidade inteira saberia que ela estava dormindo


com Ben, mas havia mais do que isso. Ela havia se apaixonado por ele, e não queria mais manter nenhuma faceta do seu relacionamento em segredo. E, com base nas suas ações, ele também não se importava mais com a possibilidade de ser pego. Seus lábios devoraram os dela, e quando ele terminou, começaram a percorrer uma trilha pelo seu rosto, queixo e pescoço, chegando cada vez mais perto do mamilo exposto em sua mão. Ele sussurrou o nome dela como um homem morrendo de sede antes que seus lábios absorvessem o bico rijo. Um tremor de prazer atravessou seu corpo, expulsando o ar dos seus


pulmões. Se ele não parasse logo, ela iria arrastá-lo para o banco de trás da Land Rover e embaçar as janelas enquanto balançavam o carro até tirá-lo dos eixos. Ben deu uma mordiscada final em seu seio antes de se levantar. “Você tem certeza de que não quer vir para o chalé esta noite?” “É tentador,” ela disse, especialmente quando os lábios dele deslizavam pelo seu pescoço em direção ao ponto sensível atrás da sua orelha, “mas eu acho que o papai está sabendo de nós. Ele fez um comentário esta manhã sobre como eu pareço nunca estar em casa ultimamente.”


“Você contou a ele que é uma mulher adulta e que pode fazer o que quiser?” “Você quer contar a ele o que nós estamos fazendo?” Ben deu uma risada baixa que a fez se perguntar se ele não se importaria, desde que tivesse o que queria. Mas quando a porta abriu ao lado deles, ele se posicionou rapidamente na frente dela, para protegê-la do que viria. Hailey conseguiu colocar o seio sensível de volta no sutiã antes que o seu pai visse, mas ela duvidava que conseguiria disfarçar a vermelhidão das suas bochechas. O olhar gelado e azul de seu pai foi de um para o outro e se fechou. “Cindy


disse que você tinha saído para tomar um ar.” Era só isso que ela havia dito? Hailey passou os dedos pelo cabelo como se pudesse esconder as evidências do que eles estavam fazendo. “Saí, e Ben estava por aqui.” O olhar do pai de Hailey focou em Ben e escureceu. “Bem, acabou o intervalo. A final da Stanley Cup começou e a casa está cheia.” “Eu já volto, papai. Só vou me despedir de Ben.” Felizmente, seu pai entendeu e voltou para dentro. Hailey mordeu o lábio inferior e sorriu timidamente. “É melhor eu ir


antes que o papai volte com um rifle.” “Boa ideia.” Ele deu um beijo em sua bochecha. “Você tem certeza sobre esta noite?” “Sim, especialmente depois disso.” Ela apontou para a porta, onde não seria surpresa nenhuma se o seu pai estivesse ouvindo cada palavra da sua conversa do outro lado. “Mas amanhã é meu dia de folga.” “Então, vamos marcar um encontro. Eu até preparo o jantar.” “Parece bom.” Isso se eles ficassem longe da cama o suficiente para comer. “Eu vou estar lá às sete.” Ele a puxou de volta aos seus braços para mais um beijo que tirou o seu


fôlego. “É melhor às seis.” “Tudo bem.” Seu coração pulava enquanto ela o via voltar para o SUV e ir embora. Ele não precisava impressioná-la com uma chance de entrar para a seleção, mas aquilo só a fez amá-lo mais. Hailey abriu a porta dos fundos e deu de cara com o peito do pai. A raiva ainda queimava em seus olhos, mas desta vez, ele a direcionou para ela. Quando ela tentou passar, ele bloqueou o seu caminho. “Sim, pai?” “Ele é o pai de Zach, não é?” Todo o calor sumiu do seu corpo, e seu estômago se apertou tanto que ela achou que fosse vomitar. Ela abriu a


boca para falar, mas sua língua seca se recusou a responder. Ela acenou com a cabeça e desviou o olhar. “Ele sabe?” Desta vez, ela encontrou palavras suficientes para responder honestamente. “Eu não sei.” “Como assim, você não sabe? Ou você contou para ele ou não.” Ela esfregou os braços e olhou para o chão. Um xingamento explodiu da boca de seu pai enquanto ele levantava as mãos para o ar com indignação. “Eu criei você melhor do que isso, Hailey. Se ele é o pai de Zach, merece saber sobre ele.”


A coluna dela se retesou. Ela podia ter agido errado, mas isso não significava que ela tinha toda a culpa. “Eu tentei entrar em contato com ele antes de Zach morrer—muitas vezes, na verdade. E a única resposta que eu tive foi uma carta do RP dos Whales, dizendo que Ben havia negado me conhecer.” “E se ele fez isso, por que você está agindo como se nada tivesse acontecido?” “Porque eu não acho que aquele cara chegou a perguntar ao Ben.” Ela pressionou a palma contra a testa que latejava. “Ben me reconheceu da primeira vez que veio aqui, mesmo


depois de nove anos. Eu não acho que ele negaria me conhecer se alguém tivesse lhe perguntado.” “Isso ainda não explica por que você não contou a ele sobre o seu filho logo no início.” “É complicado.” “Não há nada de complicado nisso. Você só é covarde demais para contar.” Seus olhos arderam com a acusação do seu pai, principalmente porque ele estava certo. E ele continuou. “Me dê uma boa razão para você estar fingindo que o seu filho não existiu.” Suas palavras doíam mais do que um tapa na cara, mas nada se comparava


com a dor crescendo em seu peito. “Porque eu vi o que a perda de um filho fez com você e com a mamãe, e estou com tanto medo de que ele não queira mais saber de mim se eu contar que o seu filho morreu antes que ele tivesse a chance de conhecê-lo.” A raiva sumiu da voz dele, deixando apenas decepção. “Querida, se você realmente acha que ele vai agir assim, então talvez, você esteja melhor sem ele.” Hailey piscou para evitar as lágrimas. Chorar não resolveria nada. “Eu sei que é fácil para você dizer, papai, mas—” “Chega de ‘mas’, Hailey. Se você não contar a ele, eu contarei. Um homem


precisa saber dessas coisas, e se ele deixar você por isso, já vai tarde.” Seu rosto endureceu para se tornar a mesma máscara que ele havia usado por anos depois do seu divórcio. “Agora, recomponha-se e vá trabalhar. Eu preciso garantir que o pessoal não destrua o bar.” Ela colocou os braços em torno da cintura e abraçou a si mesma, esperando em vão que isso acalmasse a angústia crescendo em seu estômago. O tempo estava acabando. Ela havia carregado este segredo por tempo demais, e tinha medo de compartilhá-lo com Ben. Cindy entrou na cozinha e colocou o braço sobre os ombros de Hailey. “Tudo


vai ficar bem, querida.” “Você está sabendo disso?” Ela confirmou. “Seu pai e eu sempre suspeitamos disto. Quer dizer, quando eu botei os olhos em Ben pela primeira vez, vi Zach nele.” “E vai ficar tudo bem?” “Claro. Eu já vi como ele olha para você. O rapaz está totalmente apaixonado.” Hailey fungou e esfregou o nariz. “E se isso acabar com tudo?” “Ah, docinho,” Cindy balbuciou ao abraçá-la, “não se preocupe com isso. Se este for o seu destino, vocês dois irão superar isto.” “Eu nem sei como abordar o assunto


com ele.” “Comece dizendo a ele que você teve um filho, e continue a partir daí. Se você precisar da minha ajuda, eu vou estar à disposição. Agora, sorria e pense em como será bom ficar finalmente livre do seu segredo.” Ela fez o que a sua madrasta sugeriu, e um pouco do peso que ela vinha carregando sumiu. Ela contaria tudo para Ben amanhã, no jantar. Ela até levaria o caderno de recortes que havia feito para que Ben pudesse ao menos saber alguma coisa sobre o seu filho. E então, depois que tivesse sido totalmente honesta sobre o seu passado, ela esperaria para ver se havia alguma


chance de um futuro com ele.


Capítulo Quatorze Ben examinou a pequena seleção de vinhos disponíveis no mercado local e contraiu o rosto. Ele duvidava que Lia recomendasse qualquer um deles. Ele empurrou seu carrinho pelo corredor até o freezer de cervejas e escolheu um pacote de seis da marca local que Hailey parecia preferir. Ele riscou o último item da sua lista de compras para o jantar e foi em direção aos caixas, parando atrás de Cindy na fila. “Olá, querido,” ela disse com um sorriso luminoso. “Parece que alguém está planejando um jantar chique.”


Hailey podia querer manter os detalhes do relacionamento deles longe do seu pai, mas isso não significava que ele precisava escondê-los da sua madrasta. “Hailey vai jantar na minha casa hoje.” “Garota de sorte. Eu vou ter que pedir que ela me traga as sobras.” Ela colocou uma sacola cheia de pimentas habanero na esteira, seguida por um pacote grande de carne moída. A boca de Ben queimou com a memória do prato especial de Cindy. “Você vai fazer bolo de carne de novo?” Ela riu e balançou a cabeça. “Hoje é chili.” Ele se perguntou se o Sin Bin tinha


alguma máquina de antiácido secreta no banheiro, ao lado da máquina de camisinhas. Enquanto as suas compras estavam sendo escaneadas, Cindy beijou os dedos e os apertou sobre a foto de um garoto usando um uniforme de hóquei infantil. “Ah, menino querido, eu sinto tanta saudade dele.” Com a curiosidade estimulada, Ben esticou o pescoço e olhou para a foto do menino presa à uma caixa de doações. Um arrepio correu pela sua coluna, fazendo seus pelos se levantarem. Havia algo vagamente familiar nele. “Quem era ele?” “O filho de Hailey, Zach.”


Suas mãos ficaram dormentes ao estudar a foto do menino mais cuidadosamente. Não havia como negar que ele era filho de Hailey, com um par de covinhas que emolduravam seu sorriso, mas não era isso que o preocupava. Se não fosse pelas covinhas, ele teria jurado que estava olhando para uma foto de si mesmo quando tinha seis anos. O menino tinha os seus olhos, seu queixo. Cindy ignorou o silêncio dele e continuou, “Todos nós sentimos falta do malandrinho.” “Sentimos mesmo,” a mulher atrás da caixa registradora adicionou. “Já faz quanto tempo? Um pouco mais de um


ano, não é?” “Em maio.” A garganta de Ben se apertou com uma mistura de tristeza e raiva. “O que aconteceu com ele?” “Ele morreu de um tumor cerebral.” Cindy apontou para as letras que haviam se transformado em algo incompreensível ao lado da foto. “É por isso que nós ainda estamos pedindo doações para o hospital infantil de Vancouver. Eles fizeram todo o possível por ele, e é a nossa forma de agradecer.” As palavras dela soaram como os sussurros de um bêbado em seus ouvidos. Quantas vezes ele havia passado por esta foto e nunca realmente


olhado para ela? Droga, ele tinha até colocado algumas moedas na caixa de doações. E, no entanto, quanto mais ele olhava para Zach, mais convencido ele ficava de que o garoto era filho dele. Suas mãos apertaram a barra de metal do carrinho com a mesma força do pulso invisível que o sufocava por dentro. De repente, tudo fazia sentido. A culpa, a tristeza, o segredo que ela estava escondendo dele. Mas se Zach era seu filho, por que Hailey não havia lhe contado? De repente, o jantar não parecia mais interessante. Ele saiu da fila. “Onde você vai, querido?” Cindy perguntou.


“Eu vou devolver tudo isso. Não acho que vou ficar em Cascade por muito mais tempo.” Ben refez seus passos em um estado de semiconsciência, colocando tudo em seu lugar, desde a carne até a cerveja. Seu coração pulava no ritmo dos seus passos lentos, cada batida enviando ondas de agonia por todo o seu corpo. Quando ele achava que as coisas estavam quase perfeitas com Hailey, ele descobre a triste verdade. Ele havia tido um filho sobre o qual não sabia nada. Seu filho havia morrido antes que ele tivesse a chance de conhecê-lo. E Hailey continuava a esconder tudo isso dele.


Que tipo de mãe sem coração faria isso? Ele ficaria na cidade por tempo suficiente para confrontar Hailey, depois iria embora. Ele não poderia ficar com uma mulher que o tinha enganado dessa maneira. **** Hailey entrou na garagem de Ben, seus nervos completamente em frangalhos. Ela havia ficado acordada até tão tarde na noite anterior se certificando que o caderno de recortes estivesse perfeito que acabou não ouvindo o alarme. Era a primeira vez que ela havia perdido o treino de hóquei desde o dia em que eles haviam


espalhado as cinzas de Zach. No último ano, ela tinha estado tão focada em cumprir a promessa que havia feito ao seu filho que esperou que ele não se importasse com a sua ausência no gelo esta manhã. Ela desligou o motor e olhou para o caderno de recortes, Ela ainda não estava pronta para contar a verdade para Ben, mas esperava que o caderno ajudasse a diminuir o choque. Seu pai estava certo—Ben merecia saber sobre o seu filho, e esta era a única coisa que ela podia oferecer a ele. Talvez, com o tempo, ela conseguisse mostrar a ele os seus vídeos caseiros, mas ela mesma não conseguia assisti-los ainda.


Ela respirou fundo e tamborilou os dedos no volante ao expirar. Ben havia pedido a ela por uma segunda chance, e ela havia lhe dado uma. Certamente, ele não a negaria uma segunda chance depois disso. Pouco a pouco, a sua coragem crescia, e ela segurou o caderno. Seu coração estava apertado, mas não pelo medo. Era hora de contar a ele sobre Zach. Ela saiu do seu Jeep e bateu na porta, abraçando o caderno enquanto esperava Ben atender. Uma figura sombria se movimentou de um lado para o outro na casa, mas ninguém apareceu para atendê-la. Depois de um minuto, ela testou a maçaneta e abriu a porta. “Olá?


Ben?” O barulho de equipamentos de hóquei batendo contra o chão a respondeu. Ela andou pelo chalé. Uma pilha de caixas e duas malas estavam no corredor, e suas palmas começaram a suar. Parecia que Ben estava se preparando para ir embora. “Ben?” ela chamou, com a voz trêmula. Ela o encontrou descendo as escadas, seu rosto mais duro do que o metal em seus olhos. Ele olhou para ela por um momento antes de colocar a mala que carregava ao lado das outras. Um calafrio a cercou, fazendo-a segurar o caderno com ainda mais força. “Eu achei que você fosse fazer o jantar.”


Ele parou, os músculos em seu pescoço tensos como elásticos esticados que estavam prontos para arrebentar. Ele fechou as mãos e continuou a olhar para ela como se fosse a pessoa mais repulsiva da terra. “Eu sei sobre Zach,” ele disse em uma voz baixa e ríspida. O sangue subiu para a cabeça dela, e a sala começou a girar. Ela caminhou até a cadeira mais próxima e se sentou antes que as suas pernas cedessem. “Como?” “Isso não importa agora.” Ele fechou seu notebook e o colocou em uma capa. “Ben, eu sei—” “Cale a boca, Hailey. Cale a droga da sua boca.” Seu peito expandiu, e cada respiração parecia passar pelos seus


dentes cerrados. “Eu não quero ouvir as suas desculpas.” O choque dela evaporou, e uma onda de raiva que se igualava a dele endureceu seus ossos. Ela colocou o caderno na mesa e se levantou com um salto. “Como assim, você não quer ouvir as minhas desculpas? Foi você quem negou me conhecer.” “Do que diabos…?” Suas sobrancelhas franziram de confusão por alguns segundos antes de voltar à sua máscara de fúria. “Não me venha com essa.” “Estou falando a verdade.” “Por que eu deveria acreditar no que você diz?” Ele colocou o notebook e o


iPad em sua maleta e a adicionou à pilha crescente de coisas. “Você iria me contar algum dia?” “Sim.” “Quando? Depois que você me usasse para entrar na seleção olímpica?” “Seu. Filho. Da. Puta.” Sua raiva explodiu e ela cruzou o espaço entre eles com sangue nos olhos. Seu punho alcançou o maxilar dele com um barulho gratificante. Uma fisgada de dor correu por sua mão, mas valia à pena para ver a cabeça dele cair para trás. Ela tentou continuar com mais um soco, mas ele bloqueou o seu ataque com suas mãos grandes e a segurou. Ela lutou para se soltar, chutando as suas canelas e


apontando seu joelho para a virilha dele. “Já chega.” Com um movimento rápido, ele a virou e pressionou a cabeça dela contra o seu peito. Os braços dela permaneceram presos na sua frente, cruzados sobre o seu peito como uma camisa de força. “Acalme-se antes que você se machuque e não possa fazer o teste.” “Não até você me deixar falar.” Ela se debatia, pisando nos pés dele e empurrando-o com o traseiro. Ela estava prestes a morder as suas mãos quando ele a soltou. Ela se virou e se afastou dele. Uma pequena faísca de satisfação queimou dentro dela quando ela viu o hematoma se formando embaixo do seu


olho. “Como você se atreve a me acusar de ter usado você?” “Por que você não me disse que eu tive um filho?” Ah, merda! Seu rosto desmoronou e ela teve dificuldades para respirar. “Você não acha que eu tinha o direito de saber sobre ele, de preferência antes que ele morresse?” Um soluço se expandia dentro dela, tentando derrubar suas defesas. Mas ela não podia chorar na frente dele. Ela não podia deixá-lo saber o quanto ele a havia magoado, o quanto ele ainda a estava magoando. “Eu tentei lhe contar.” “Quando? Agora?” “Não, seu idiota egoísta. Eu tentei lhe


contar anos atrás, quando descobri quem você era. Eu lhe mandei carta após carta através dos Whales, mas você nunca respondeu.” “Do que você está falando? Eu nunca recebi nenhuma carta sua.” “Eu as enviei. Na verdade, eu cheguei a receber uma resposta para uma delas do seu diretor de RP.” Ela puxou a carta de dentro do caderno de recortes e a segurou para que ele visse. “Você deve ter inventado isso para cobrir a sua história.” Ele empurrou a carta para longe e apertou os olhos. “Me diga, a Cindy lhe avisou esta tarde? Foi tempo suficiente para criar uma estratégia de defesa?”


“O que a Cindy tem a ver com isso?” “Pelo menos, ela teve a coragem de me contar sobre Zach quando você não teve.” Ela amassou a carta em sua mão, sua raiva focando na madrasta por um segundo antes de voltar a Ben. Ela lidaria com Cindy mais tarde. Agora, ela precisava colocar Ben no seu devido lugar. “Eu vim aqui esta noite para lhe contar sobre ele.” “Bem, é tarde demais. Eu já vi você como a pessoa que realmente é.” Ele pegou sua bolsa de equipamentos e a levou para fora. Ela o seguiu até a Land Rover. “Por que você está agindo assim?”


“Como você esperava que eu agisse depois de ficar sabendo que tive um filho sobre o qual eu não sabia nada?” O coração dela explodia em seu peito, como se dissesse eu te avisei sem parar. Ela deixou os braços caírem dos lados do corpo, sem forças ao perceber o que sempre soube. “Exatamente assim.” O soluço ameaçava tomar conta dela novamente, mas ela o engoliu e deu um passo para trás. “Eu não lhe contei quando nós começamos a nos envolver porque ainda estava tentando ver se você sabia sobre ele. E quando eu percebi que você não sabia, eu fiquei com medo de que você me deixasse


quando descobrisse.” Ela apontou para o SUV cheio. “E eu estava certa.” O rosto dele permaneceu ilegível, mas ele não discutiu com ela, não tentou negar as suas declarações. “Você fala sobre querer uma segunda chance, mas não está disposto a me dar uma, não é? E quer saber? Não importa.” Uma lágrima perdida escorreu de seu olho. “Zach está morto. Nem um dia se passa sem que eu deseje fazer qualquer coisa pra mudar isso, mas não há nada que eu possa fazer para trazê-lo de volta. Tudo o que eu tenho são memórias de uma criança que amava o jogo tanto quanto nós e uma promessa que eu tenho a intenção de cumprir, com


ou sem você.” Cada palavra corroía um pouco da culpa que ela havia carregado por tanto tempo, e ela não queria parar. “Então, vá em frente. Vá embora. Volte para a sua bolha de proteção em Vancouver e esqueça de mim de novo. Eu vou seguir em frente sem você, do mesmo jeito que fiz da última vez. Mas nunca me acuse de tentar esconder o seu filho de você enquanto ele estava vivo.” Ela deu meia volta e pulou no Jeep, dando a ré e indo embora da casa de Ben como se ele fosse um prédio pronto para implodir. Lágrimas quentes caíram livremente pelo seu rosto enquanto ela descia a montanha. Ela deveria saber


que não podia ter deixá-lo fazer parte da sua vida novamente. Nove anos atrás, ela havia sido deixada sozinha e grávida. Agora, ele a estava deixando com um buraco enorme em seu peito onde seu coração costumava ficar. Ela havia se permitido amá-lo, e a sua rejeição a tinha devastado mais do que antes. Ao chegar na propriedade de seu pai, ela passou pelo trailer e parou na casa dele. Depois de desenterrar todas as memórias dolorosas da morte de Zach, ela não estava pronta para voltar para a casa que dividia com ele. Em vez disso, ela se encolheu na varanda e chorou até que seus olhos ardessem. O balanço


rangeu quando Dozer, o golden retriever do seu pai, pulou nele e sentou ao seu lado. Ela o abraçou e acariciou seu pelo sedoso até que a última gota de tristeza e frustração fluísse de dentro dela. Ela finalmente havia contado a verdade para Ben, e ainda assim, ele a deixou. Nada de segundas chances.


Capítulo Quinze Ben saiu da cama e passou os dedos pelo cabelo. O sol estava nascendo sobre as montanhas para iluminar os céus de Vancouver, mas era apenas um lembrete de quão pouco ele havia dormido. Sempre que fechava os olhos, ele via a angústia no rosto de Hailey quando ela lhe disse para ir embora. E mesmo que a sua mente dissesse que ela estava apenas tentando enganá-lo, que as suas lágrimas eram parte do seu plano, a dor em seu peito não aceitava. Agora, parte dele queria retirar todas aquelas palavras duras, mesmo que ele não pudesse. Em vez disso, ele socou o


travesseiro. O que havia sido dito estava dito, e ele duvidava que até uma desculpa consertaria as coisas entre eles. Ele ainda não havia absorvido a realidade de tudo aquilo. Ele havia tido um filho, uma criança que era seu sangue, e ele nunca soube nada sobre ele. Ele havia passado a maior parte da viagem de volta a Vancouver na noite passada revivendo a primeira noite que tiveram juntos e se perguntando como ela havia engravidado. Ela tinha dito que estava tomando a pílula. E ele havia usado camisinha. A única coisa que parecia estranha era o quão vazia a camisinha havia estado depois. Talvez,


tivesse havido um vazamento. Isso certamente tornaria a afirmação de que ele era o pai mais plausível. Não, não havia como negar que Zach era seu filho. Cada vez que ele abria o caderno que ela havia deixado no chalé e via uma foto do garoto, ele sabia que o menino era seu filho. Então, ele era forçado a fechá-lo antes que a tristeza se tornasse insuportável. Em questão de algumas horas, ele havia descoberto que era pai e que seu filho estava morto. Agora, ele estava se esforçando para continuar sobrevivendo. Um banho quente acabou com o seu cansaço, mas não com as perguntas que ainda permaneciam. Ela havia trazido o


caderno para ele por uma razão. Talvez, Cindy tenha contado a ela sobre a conversa no mercado. Talvez não tivesse. Mas parecia que Hailey havia planejado dizer a verdade na noite passada. Tudo o que eu tenho são memórias de uma criança que amava o jogo tanto quanto nós e uma promessa que eu tenho a intenção de cumprir, com ou sem você. Suas palavras trouxeram de volta a dor dentro dele com força total, e ele bateu o punho contra as paredes do banheiro. Ele não tinha nem isso. E ele queria saber mais sobre Zach. Ele queria saber mais sobre seu filho, saber


se ele amava hóquei como eles, saber se ele havia perguntado sobre o seu pai. Mas, em vez de perguntar à única pessoa que podia lhe contar estas coisas, ele a havia acusado de usá-lo, de enganá-lo. E ao fazer isso, ele havia perdido a única mulher que nunca havia conseguido esquecer. Parabéns, Kelly. O jogo está 2 a 0 para Hailey. Homens como ele ganhavam uma terceira chance? Ao terminar de se secar, ele havia elaborado um novo plano de ataque. Algo em Hailey sempre o havia tentado a agir de forma diferente do normal, mas agora, era mais importante do que nunca


lembrar por que ele gostava de sentar e pensar em tudo antes de agir. Ela havia lhe dado algumas peças do quebracabeças, e talvez, se conseguisse montálo, ele encontraria a solução para as perguntas que perturbavam a sua consciência. O primeiro passo era descobrir a verdade por trás da carta que ela havia deixado amassada no chão. À primeira vista, parecia legítima. Estava no papel timbrado dos Vancouver Whales e estava assinada por Larry, o homem responsável pelas relações públicas do time. Era Larry quem lidava com as correspondências e filtrava todas as ameaças antes de lhes passar as cartas


de seus fãs. Mas isso não explicava por que Larry responderia daquela forma sem ter perguntado a Ben sobre ela. Ben pegou a carta e a leu mais uma vez. Hora de descobrir toda a verdade. **** “Ben,” Larry disse com um sorriso acolhedor em seu rosto quando Ben entrou em seu escritório. “Que bom vêlo de novo. Mac me disse que você está planejando voltar ao time para outra temporada. Você não tem ideia de quão felizes os seus fãs irão ficar ao saber que você vai voltar.” “Se tudo estiver bem no exame físico, eu quero jogar.” Sua respiração se acelerou quando ele percebeu o que


havia acabado de dizer. Hailey estava certa sobre ele. Ele amava o jogo, mas precisava dela para convencê-lo a voltar para o gelo. A dor em seu peito ficou mais forte. “Eu queria saber se você podia me responder uma pergunta.” “Farei o possível.” Ele pegou a carta e a deu a Larry. “Você mandou esta carta?” Larry pegou seus óculos de leitura e examinou o pedaço de papel. “Ah, sim, eu me lembro dessa mulher. Uma doida varrida.” Seu estômago se apertou. “O que você quer dizer?” “Ela deve ter mandado umas 20 cartas pedindo para falar com você. Devia ser


alguma tiete de hóquei louca, se você quer saber. Ele devolveu a carta e foi até o arquivo. “Eu até guardei algumas, caso precisássemos emitir uma medida cautelar.” Seus dedos ficaram gelados enquanto sua mente sussurrava merda, merda, merda, sem parar. “Sim, aqui estão elas.” Larry puxou uma pasta de arquivos grossa. “Hailey Erikson. Parece que eu fui um tanto conservador na minha estimativa. Devem haver umas 50 cartas aqui.” Merda! Larry espalhou o conteúdo da pasta sobre a mesa para que Ben pudesse examinar. “Aqui está a primeira carta


que ela enviou cinco anos atrás, cerca de um mês depois de você ter começado a jogar no time.” As evidências o atingiram como um soco no estômago, e ele precisou de cada gota de força para não se dobrar com a intensidade do golpe. Ela estava dizendo a verdade. Ele examinou as cartas, verificando as datas em cada uma delas. Cada mês, ela pedia pela mesma coisa—uma chance de falar com ele. Apenas a última carta era diferente. Ela implorava para falar com ele e contar sobre o seu filho que estava morrendo. “Foi essa que me fez finalmente responder a ela. Ela estava tentando nos comover com a história do filho


morrendo, mas eu conheço você, Ben. Você não é o tipo que engravida uma garota e não fica sabendo. Então, eu mandei essa carta para ela, e ela calou a boca.” Uma bola de fogo se formou em seu peito. Sua respiração acelerou e seu sangue ferveu. Seus dedos tocaram suas palmas. Ben lutou para permanecer calmo ao dizer, “Ela estava dizendo a verdade.” Larry deu um passo para trás e gaguejou, “O-o-quê? Quer dizer, merda, Ben, eu não tinha a mínima ideia.” Ben fechou a pasta e a enfiou nas mãos do diretor de RP. “Eu gostaria que você tivesse me perguntado sobre isso


antes de mandar essa carta. Talvez, eu pudesse ter conhecido o meu filho antes de ele morrer.” “Ah, droga, sinto muito Ben. Muito mesmo.” “É, bem, isso não vai mudar o que foi feito.” Incluindo o que ele havia dito a Hailey. Ele saiu do escritório de Larry se sentindo o maior idiota do planeta, e duvidava que uma simples desculpa fosse o suficiente para reconquistá-la. Ele havia estragado tudo. Ele não encontrou nenhuma paz ao voltar para casa. O caderno na mesa continuou a zombar dele, lembrando-o do completo canalha que ele havia sido. Mas ele também o lembrava de uma


oportunidade perdida. Hailey tinha memórias. Tudo o que ele tinha eram fotos. Ele finalmente se sentou e abriu o caderno. A primeira página tinha um anúncio de nascimento. O espaço para o nome do pai estava vazio, e uma faca perfurou o seu peito. Pelo que Hailey deve ter passado, sozinha durante a gravidez e o parto? O que ela dizia para as pessoas quando elas perguntavam quem era o pai? A vergonha embaçou a sua visão quando ele percebeu que ele era o homem que a tinha machucado. Ele não só a tinha deixado sozinha para criar um filho, mas a sua gravidez e ser mãe solteira haviam arruinado os seus


sonhos olímpicos. Por isso, ela não havia tentado se qualificar para os jogos de Vancouver. Ela estava ocupada demais cuidando de uma criança doente e tentando explicar a ele o porquê de seu pai nunca ter aparecido. Ele pegou o telefone e encontrou o número dela, mas não conseguiu criar coragem para ligar. Ele havia cometido um erro—um grande erro. E até que descobrisse uma forma de pedir o seu perdão, ele estava preso, vivendo em um inferno particular de arrependimento. Ele virou a página e encontrou uma foto de Hailey, linda e sorrindo para o seu bebê recém-nascido. A dor o consumia. Ele queria ter estado lá, ver a


felicidade em seu rosto ao segurar o bebê deles. Ele podia ter perdido essa chance com Zach, mas ainda havia tempo para isso. “Droga,” ele sussurrou e se recostou na cadeira, esfregando o maxilar não barbeado. Ele ainda queria um futuro com ela, agora mais do que nunca. Em algum momento durante tudo isso, ele havia se apaixonado por ela. E não tinha a mínima ideia de como reconquistá-la. Mas ele iria elaborar uma estratégia para conseguir isso, começando com aprender tudo o que podia sobre o seu filho. Ele continuou a virar as páginas do caderno, passando pelos primeiros


passos do filho, sua primeira vez no gelo, seu primeiro dia de escola e seu primeiro jogo de hóquei. Então, as fotos se tornaram mais sombrias. O cabelo grosso e negro de Zach havia desaparecido, primeiro raspado com uma cicatriz irregular em seu couro cabeludo, e depois inexistente, devido à quimioterapia. Seu rosto foi de cheio para esquelético, e cada foto parecia envolver algum tipo de equipamento médico. Tratamento intravenoso, um tubo para alimentação, uma série de fios presos à sua cabeça sem cabelos. Mas uma coisa era constante—aquele sorriso aberto com covinhas nunca sumiu, não importava o quão doente ele


parecesse estar. As últimas páginas de fotos pareciam ter sido tiradas no mesmo quarto de hospital. Ele reconheceu o horizonte de Vancouver na janela, e um xingamento caiu de seus lábios. Seu filho havia estado tão perto, e ele nunca ficou sabendo sobre ele. Uma das últimas fotos mostrava Zach posando com o seu colega de time, Patrick, e uma faísca de esperança se acendeu dentro dele. Ben pegou a foto e ligou para Patrick. “Oi, você está na cidade?” “Claro que estou. Você finalmente decidiu deixar de ser recluso?” “Sim.” Ele olhou para a foto ao perguntar, “Você pode me encontrar no


Grill para jantar hoje à noite?” “Sem problema, Ben. Eu adoraria lhe contar tudo o que aconteceu desde que você foi embora. Às oito está bom?” “Mal posso esperar.” E mal posso esperar para ouvir o que você pode me contar sobre o meu filho. Ele desligou e colocou a foto cuidadosamente dentro de sua carteira, energizado por dar início ao seu novo plano. Talvez, ele ainda tivesse uma chance de conhecer o seu filho. **** Patrick estava encostado no bar, bebendo uma long neck quando Ben chegou. Seu colega de time lhe deu um aperto de mão caloroso que se


transformou em uma checagem amigável. “Nada de bengala. Você deve estar melhor.” Mesmo que não doesse, Ben fez uma careta e segurou o joelho. Os olhos de Patrick se arregalaram. “Ah, droga, eu não quis—” “Relaxe, eu estou só brincando.” Ele apontou para a garrafa quase vazia. “Estou vendo que você começou sem mim.” “Só estou aquecendo.” Ele terminou a cerveja e apontou para o hematoma embaixo do olho de Ben. “O que aconteceu com você?” “Tive uma discussão com um pretendente a Gordie Howe.” Ele jamais


admitiria ao seu colega de time que uma mulher havia batido nele. A hostess veio até eles com uma pilha de menus e os guiou pelo restaurante pouco iluminado até uma mesa nos fundos. Música alta competia com as TVs e, quando passaram por algumas das mesas, alguns torcedores gritaram, “Vai Whales,” para eles. Patrick absorveu a atenção, sorrindo e levantando o dedão para os fãs, mas Ben nunca havia gostado de ser o centro das atenções. Era uma das coisas que o havia atraído para a posição de goleiro. Seu rosto estava escondido por trás da máscara pela maior parte do jogo, e a maioria das pessoas precisavam olhar


duas vezes para identificá-lo fora do gelo. O Global Grill era um bar de alto nível em Yaletown, onde os belos e famosos de Vancouver gostavam de se encontrar. Grupos de mulheres vestindo suas roupas mais sexy duelavam pela atenção dos atores e atletas que frequentavam o restaurante, mas nenhuma delas se comparava a Hailey. Ela era real, genuína, e tinha paixão em tudo o que fazia, diferente da maioria dessas interesseiras. Depois de vê-las olhando para Patrick, ele ficou feliz de ver que a sua mesa estava relativamente escondida da área principal e longe da música dance pulsante.


Um guarda musculoso os deixou passar para a área silenciosa do restaurante. “Área VIP, huh?” Patrick disse com uma cutucada. “Ótimo.” “Eu queria me certificar de que poderia ouvir as notícias sem interrupção.” Felizmente, usar o nome dele aqui funcionava tão bem quanto havia funcionado em Cascade. Eles se sentaram e pediram um caneco de cerveja, almôndegas Kobe e dois pratos de aperitivos do Grill sem olhar para o menu. Ben ouviu em silêncio enquanto Patrick falava sobre os rumores de quem iria ficar, quem iria sair e quem havia conquistado um lugar


na lista negra de Mac. Mas, ao chegar ao fim, o defensor riu, segurando o copo. “Mas você não vai me perder. Alguém precisa proteger você, especialmente depois da última temporada. Eu me sinto mal por não ter parado aquele filho da mãe.” “Não sinta. Faz parte do jogo.” Ele percebeu o que havia dito depois das palavras escaparem. Era estranho ver o quanto a sua atitude em relação à sua lesão havia mudado nas últimas semanas. Ele havia ido do medo de que ela acabaria com a sua carreira a dizer que não era nada de mais. E ele agradecia Hailey por isso. Hora de colocar seu plano em ação


antes que Patrick ficasse bêbado demais ou se distraísse com as tietes que frequentavam o lugar. Ele pegou a foto de Zach. “Você se lembra deste garoto?” Patrick segurou a foto por um momento, a alegria sumindo de seus olhos. “Sim, Zach Erikson. Grande garoto. Amava o hóquei. Tinha uma mãe bonita também. Por quê?” “Eu quero saber mais sobre ele.” Os olhos de Patrick se alternaram entre a foto e Ben. A desconfiança ficou clara em seus lábios. “Por quê?” “Eu conheço a mãe dele, Hailey.” Um músculo se retesou no maxilar de Patrick e a sua mão se fechou em um punho. “Como, exatamente?”


A tensão entre eles ameaçava se transformar em uma briga espontânea. Ele precisava dizer a verdade antes que tivesse um nariz quebrado para acompanhar o olho roxo. “Ele era meu filho, mas eu não sabia da existência dele até alguns dias atrás.” Patrick colocou a foto na mesa e se recostou no assento. Segundos se passaram enquanto o defensor o dissecava como a um inseto sob uma lente de aumento em um dia de sol. O suor brotou na nuca de Ben, até que Patrick finalmente disse, “Eu o conheci bem durante o meu trabalho voluntário. Se você tivesse ido ao hospital infantil comigo, provavelmente teria o


conhecido.” Um golpe de vergonha forçou Ben a baixar os olhos. Quantas vezes Patrick havia lhe pedido para ir com ele quando fazia suas visitas semanais ao hospital? Quantas vezes Ben havia inventado uma desculpa para não ir? “Eu admito que fui um idiota egoísta, mas ainda existe uma chance de consertar as coisas, começando com a mãe de Zach.” Patrick balançou a cabeça. “Não é o suficiente. Se você quer saber mais sobre Zach, vai ter que me prometer que vai ser meu ajudante no ano que vem.” “Ajudante?” Um sorriso apareceu no rosto do defensor. “Ei, eu posso não ter muita


glória no gelo, mas no hospital infantil, eu sou um verdadeiro super-herói. Aquelas crianças me amam.” “Ótimo, eu vou ser o seu ajudante. Só não me force a usar leggings, ok?” “Excelente.” Patrick esfregou as mãos como um cientista maluco. “Eu mal posso esperar pelas suas visitas, Sr. Kelly.” Ben tocou na foto. “De volta ao meu filho.” Era tão estranho, chamar o menino na foto de filho, mas quanto mais ele dizia, mais natural parecia. “O que você quer saber?” “Qual era a sua comida favorita? Cor favorita? Time de hóquei favorito?”


A risada de Patrick interrompeu a avalanche de perguntas que caíam da sua língua. “Eu sei que ele gostava de pizza —havaiana, para ser mais específico— porque ele costumava reclamar quando não podia comê-la.” “Por que não?” O rosto do seu amigo se suavizou quando uma sombra passou por ele. “Ouça, Ben, eu sei que você não sabe muito sobre hospitais infantis, mas onde Zach estava… bem, não é nada divertido. Estas crianças passam por muita coisa—as cirurgias, os tratamentos—e mesmo assim, elas ainda tentam encontrar uma maneira de ser crianças normais.”


“A madrasta de Hailey me contou que ele morreu de um tumor no cérebro.” Patrick confirmou. “Essa foto foi tirada em um dia bom, quando ele estava coerente e podia lhe dar um sorriso que fazia o seu coração derreter. Se fosse logo após uma rodada de quimioterapia, qualquer coisa ácida queimava a sua boca—por isso, nada de abacaxi—mas ele ainda conseguia agir como se tudo estivesse bem. E se fosse um dia ruim…” Os pensamentos de Ben se voltaram imediatamente para Hailey. O que ela fazia quando Zach estava doente demais para sorrir? Como ela lidou com tudo isso?


“Ele passou quase três meses naquele quarto. Eu sei, porque fiz questão de visitá-lo toda semana. Tantas crianças lá ficam bem e voltam para casa. Quando eu continuei a vê-lo lá semana após semana, soube que as coisas não eram boas. Quando ele não estava disposto a falar, às vezes, eu conversava com a sua mãe, e é por isso que eu estou curioso a respeito do interesse repentino em um filho que você negou ter.” “Porque eu literalmente não sabia nada sobre ele até ontem.” Ben levantou as mãos para cima. “Hailey havia tentado entrar em contato comigo, e Larry lhe enviou uma carta dizendo que eu havia negado conhecê-la, mesmo sem


me perguntar sobre a situação. Se ele tivesse perguntado, eu teria ficado ao lado de Zach na hora.” Patrick olhou para ele como se fosse um detector de mentiras por quase meio minuto antes de acenar com a cabeça. “Deixe-me adivinhar—você se reencontrou com Hailey em Cascade?” “Como você sabe disso?” “Além do fato de você ter essa foto? Eu conheci a família dela, lembra? Eu sabia de onde eles eram. Eu até recebi uma carta de agradecimento dela depois que Zach morreu. Se eu não tivesse a impressão de que ela não estava interessada, eu teria tentado alguma coisa.”


“Você daria em cima da mãe de uma criança em estado terminal?” “Eu teria lhe dado algum tempo para o luto, mas vamos encarar os fatos, Hailey não é só bonita, ela também entende do jogo. Você sabia que ela havia acabado de entrar para o time de desenvolvimento feminino quando descobriu que estava grávida?” “Isso não me surpreende nem um pouco. Ela está tentando entrar para o time novamente.” “Mesmo? Seria incrível tê-la no meu time em Sochi.” “Seu time?” “Você não ficou sabendo?” Patrick estufou o peito. “Me convidaram para


fazer parte da seleção canadense de novo. Falando nisso, Zach adorava segurar a minha medalha de ouro dos jogos de Vancouver.” “Tá, tá, esfregue na minha cara.” Ele havia sido o goleiro da seleção americana e saiu com a medalha de prata depois de perder para o Canadá. “Mas se ela entrar para o time, você não tem permissão para dar em cima dela.” “Por quê? Ela já está comprometida?” “Se eu conseguir fazê-la me perdoar, ela estará. Agora, vamos voltar ao Zach.” Ben ouviu atentamente enquanto aprendia mais sobre o seu filho do que o caderno de recortes jamais poderia


mostrar. Zach adorava jogar videogame, e às vezes, trapaceava para ganhar. Ele ganhava uma miçanga especial dos Vancouver Whales cada vez que fazia quimioterapia e havia feito um colar com todas elas. Ele queria crescer e jogar hóquei. E ele nunca havia mencionado seu pai. Ben pediu mais um caneco de cerveja para extrair o máximo de informações de Patrick quanto possível, e quando saiu do Global Grill, ele finalmente sentiu que sabia um pouco sobre o seu filho. Agora, ele precisava provar a Hailey que estava disposto a saber mais.


Capítulo Dezesseis “Adam, eu ferrei com tudo.” Não era a forma ideal de iniciar uma conversa com seu irmão mais velho, mas Ben não sabia mais o que dizer. Depois de conversar com Patrick até tarde, ele havia ido para casa com a intenção de formular um plano na manhã seguinte, para mostrar a Hailey o quanto ele se arrependia e implorar por outra chance. No entanto, já havia passado do meiodia e ele ainda não tinha a mínima ideia de onde começar. Adam limpou a garganta. “Não é algo que eu esperava ouvir de você. Frank, definitivamente. Talvez Ethan ou Caleb.


Mas não você.” “Bem, eu fiz um belo trabalho.” “Me diga o que aconteceu para eu saber se você vai precisar de um advogado ou não.” “Não é nada assim.” Pelo menos, ele esperava que não. Hailey nunca havia tentado processá-lo antes, mas ele sabia que ela podia se quisesse. “Tem a ver com aquela mulher em Cascade.” “Aquela com o cabelo azul, não é?” “Não—quer dizer, sim, é ela, mas o seu cabelo não é mais azul e…” Ele caiu no sofá. “Ah, merda. Eu descobri no outro dia que tive um filho.” Agora era a vez de Adam soltar uma lista de palavras chulas. “Como diabos


isso aconteceu?” “Se eu tiver que lhe explicar isso, você não deveria estar se casando.” “Há há, muito engraçado.” Adam pausou. “Volte um pouco a fita. Você disse que tinha um filho.” “É isso mesmo. Ele morreu a pouco mais de um ano.” “Droga, Ben.” Adam respirou fundo e expirou lentamente. “Você não contou para a mamãe, não é?” “Você está brincando? Mesmo que eu sobrevivesse ao sermão por engravidar uma mulher com quem eu não era casado, ela nunca me perdoaria por lhe negar a chance de conhecer o seu único neto.”


“Pelo que sabemos. Eu ainda desconfio que Ethan ou Frank tenham alguns filhos correndo por aí.” “Mas, para responder a sua pergunta, não, eu não contei a ela. Eu ainda não consegui resolver as coisas com a Hailey, e não preciso de duas mulheres me culpando por tudo.” “Por que eu tenho a impressão de que esta conversa é sobre como resolver as coisas com ela?” “Porque é sobre isso mesmo.” Ben esticou as pernas e olhou para o teto. “Quando eu percebi que era ela, eu quis ver se nós podíamos transformar aquela única noite em algo mais.” “Parece que você já fez isso.”


Ben ficou de pé. “Droga, Adam, eu liguei para pedir um conselho.” “Agora, nós estamos quites por aquela brincadeirinha de antes. Continue.” De repente, a sua pele pareceu ser pequena demais para o seu corpo. “Eu fiquei de quatro por ela, mas sempre tive a impressão de que ela estava escondendo alguma coisa de mim.” “Não me diga. Então, o que você fez quando ela finalmente contou sobre o seu filho?” “Não foi ela quem me contou—esse foi o problema. Quem me contou foi a madrasta dela. E eu enlouqueci. Eu a acusei de ter escondido a verdade de


mim, de me negar a chance de conhecêlo, de me usar pelos meus contatos. Eu disse algumas coisas terríveis a ela antes de sair da cidade.” “E alguma delas era verdade?” “Não, mas infelizmente, eu não soube disso até ontem, quando comecei a entender as coisas.” “Então, você vai precisar de mais do que uma desculpa e uma joia.” “Muito mais. Você tem que ver o olho roxo que ela me deu.” “Sabe, talvez nós devêssemos continuar esta conversa no FaceTime…” “Sem chance,” Ben disse com uma risada, sua consciência finalmente ficando mais leve. “Mas eu preciso de


alguma ideia de como pedir perdão e implorar por outra chance.” “Você realmente quer tentar de novo? Não parece que vocês tem um histórico muito favorável.” Ben esfregou o peito, notando o quão vazio ele se sentia quando ela não estava por perto. E ele não queria nem tentar explicar o quanto era difícil dormir sem ela ao seu lado. “Sim, quero. Eu acho que estou apaixonado por ela.” “O que faz você pensar isso?” “Lembra do que eu lhe disse no mês passado sobre conhecer alguém e sentir aquela conexão? Bem, sempre foi assim com Hailey, desde a primeira noite em


que eu a conheci. O último mês apenas confirmou o quanto nós somos perfeitos um para o outro.” “Com a exceção da história do bebê secreto.” Ben suspirou e contou toda a história sobre o diretor de relações públicas do time. “Ela tentou me contar, mas eu nunca recebi as mensagens. E todo este tempo, ela achou que eu tinha negado conhecê-la. E a pior parte é que, quando eu explodi com ela na outra noite, ela realmente havia ido ao chalé com um caderno de recortes que havia feito para Zach.” “Então, ela estava tentando lhe contar.” Adam ficou silencioso, e o som


de passos encheu a linha. “Até onde você iria para reconquistá-la?” “Eu não me oponho a implorar em rede nacional, se necessário.” “É, essa é uma das vantagens do Canadá. Você pode se humilhar na televisão aí, e apenas o equivalente à população da Califórnia irá ver.” “Você não está ajudando.” “Eu estou pensando.” Mais passos. Ben imaginou Adam em seu escritório com vista para o Lago Michigan, olhando a paisagem enquanto sua mente trabalhava. “Ela já lhe disse o que realmente quer? Qual é a sua paixão?” “É o hóquei, e ela realmente quer entrar para a seleção olímpica


canadense. Mas eu já a ajudei com isso.” “Eu imagino que essa não é a razão pela qual você pediu para Ethan compor uma música para você, não é?” “Bingo.” “Parece que você realmente se apaixonou por essa garota.” Os passos pararam. “Então, com exceção de comprar um lugar para ela no time—” “Ela nunca aceitaria isso. Se entrar no time, ela quer entrar porque é boa, não porque nós demos um jeitinho nas coisas.” “Estou gostando cada vez mais dela. Primeiro o olho roxo, e agora a boa ética de trabalho.”


“Talvez, você tenha a chance de conhecê-la se eu conseguir consertar as coisas entre nós.” “Parece que você está sendo sincero, e talvez, isso seja o suficiente. Diga a ela que sente muito. Peça por outra chance. Diga que você está realmente interessado em saber todo o possível sobre o seu filho. Se ela conseguir ver que você está sendo honesto, ela deverá perdoá-lo.” “E se não perdoar?” Adam fez uma pausa mais longa desta vez, que fez o estômago de Ben se embrulhar. “Então, talvez ela não seja a garota certa para você.” Ele engoliu em seco, mas nada podia


remover o nó de medo que se formou em sua garganta. “Eu não posso me imaginar com ninguém, a não ser ela.” “Então, vamos esperar pelo melhor.” A sinceridade nas palavras de Adam o confortaram como uma mão tranquilizadora em seu ombro. “Só não dê outro fora desta vez.” “Não tenho nenhuma intenção de fazer isso. E obrigado.” “Quando quiser, maninho.” A linha ficou muda, mas Ben havia conseguido o que queria da conversa. Era hora de começar a implorar. Ele examinou sua lista de contatos até encontrar o número de Hailey e apertou em “ligar.” O telefone tocou e tocou


antes de finalmente cair na caixa de mensagens. Ben congelou. Uma mensagem não era suficiente. Ele queria se desculpar com ela e ouvir a sua reação, ver seu rosto quando ela aceitasse ou rejeitasse a sua desculpa. Ele finalizou a ligação e pegou as chaves do carro. Cascade estava a apenas algumas horas de distância, e se a sorte estivesse do seu lado, ele teria Hailey de volta em seus braços à noite. **** Ben entrou no Sin Bin e imediatamente tremeu com o olhar gelado do dono. Não era uma recepção muito calorosa, mas o que ele esperava


depois do que havia dito a Hailey? “O que você está fazendo aqui?” seu pai perguntou. “Estou procurando pela Hailey.” O pai dela voltou a limpar o balcão do bar. “Ela não está aqui.” Eles haviam voltado ao tratamento “nós contra eles”, mas Ben se recusava a ceder. “Você sabe onde eu posso encontrá-la?” “Sim.” Ele apertou os dedos contra as palmas das mãos para se manter calmo. Agora, ele sabia de quem Hailey havia herdado a sua teimosia. Zach também a tinha? O pensamento aleatório o encurralou e o forçou a respirar fundo. Isto não


tinha a ver com ele. Ele foi até o bar com passos lentos, porém determinados. “Você pode, por favor, me dizer onde eu posso encontrá-la?” Seu pai jogou o pano de secar louça no bar, suas bochechas ficando rosadas. “Eu não tenho que lhe dizer absolutamente nada!” “Sam!” Cindy disse rispidamente da porta que dava para a cozinha. Ela colocou a mão sobre a dele como se isso fosse segurar seu marido enorme. “Vamos ouvir o que o Ben tem a dizer.” “É melhor que seja bom, então.” Sam Erikson cruzou os braços sobre o peito. “Se não for, eu vou lhe mostrar exatamente como eu me senti quando


cheguei em casa na outra noite e encontrei a minha filha chorando na varanda.” Merda. Ele a fez chorar. O nó de medo voltou, mas desta vez, ele conseguiu engoli-lo. “Eu estou aqui para me desculpar com ela—por tudo.” O rosto de Cindy suavizou, mas o do pai de Hailey permaneceu duro e desconfiado. “Eu acho que é tarde demais para isso,” ele respondeu, com o resquício de um rosnado em sua voz. “Não é você quem vai decidir isso,” Cindy disse com um tom suave. “Você não vê que ele está abalado com a briguinha deles?” Seu pai focou no olho roxo de Ben.


“Parece mais do que uma briguinha para mim.” “Você sabe o quanto Hailey pode ser esquentada.” Cindy cutucou o braço dele até que ele os descruzasse. “Além disso, está na hora de fechar. Por que nós não sentamos com algumas cervejas e resolvemos isso?” Claro, Cindy. Deixe o bruto furioso bêbado antes de eu confessar que sou o homem que engravidou a filha dele. Ótima ideia. Mas quando Sam abriu o freezer para pegar três garrafas de Labatt, Cindy piscou para ele e deu um pequeno sorriso. “Eu só vou trancar a porta da frente e nós podemos nos sentar naquela


mesa que você gosta tanto, Ben.” Isso, para que quando o pai de Hailey deixar o meu outro olho roxo, ninguém veja. Mas no momento, ele não conseguia pensar em uma alternativa melhor. Eles sabiam onde Hailey estava, quanto mais rápido ele conseguisse convencê-los a lhe contar onde ele poderia encontrá-la, mais rápido ele poderia começar a consertar as coisas. Ele sentou no lugar de sempre e esperou que os pais de Hailey deslizassem pelo lado oposto. Sam lhe ofereceu uma garrafa aberta. “Então, você acha que pode se desculpar com a minha menina e deixar as coisas como eram antes, não é?”


Cindy acariciou o braço do marido. “Deixe o menino falar, Sam.” Ben tremeu internamente ao ser chamado de menino, mas se conquistálos o deixava um passo mais perto de reconquistar Hailey, ele suportaria. “Eu não sabia nada sobre Zach.” “Mentira,” Sam resmungou antes de tomar um longo gole de cerveja. “Não, é verdade, eu não sabia. Larry, o cara encarregado do RP do time, nunca me mostrou nenhuma das cartas de Hailey. Eu nunca recebi uma sequer. Se tivesse, eu teria corrido para o lado de Zach.” “Bem, você está um pouco atrasado para isso agora, não é?” Mas, por trás


das palavras amargas do pai de Hailey, Ben percebeu um toque de tristeza. “Sim, eu sei disso, mas isso não significa que eu não possa tentar saber mais sobre o meu filho agora. Hailey deixou um caderno de recortes na minha casa, e eu passei a maior parte da noite de ontem com o meu colega de time, Patrick, para saber todo o possível sobre Zach.” A voz de Ben tremeu quando ele adicionou, “Ele parecia ser um garoto incrível.” Sam nivelou o olhar com o de Ben antes de tomar mais um grande gole. “Ele era.” Cindy enganchou o braço no do marido e deitou a cabeça no seu ombro.


“Eu ainda sinto saudades daquele malandrinho.” “E essa é uma das razões de eu ter voltado. Eu queria me desculpar com Hailey pelo que eu disse quando descobri. Eu quero pedir outra chance a ela. Mas, o mais importante, eu quero saber mais sobre o meu filho da pessoa que o conhecia melhor. Mesmo que ela não me queira de volta, eu espero que ela possa ao menos me ajudar a saber mais sobre ele.” Os olhos de Cindy ficaram marejados, e ela virou o rosto para olhar para Sam. “O que você acha? Devemos contar para ele?” “Tudo bem.” Sam esvaziou a garrafa e


esticou seus longos braços na sua frente, ficando a alguns centímetros do peito de Ben. “Hailey está em Calgary.” Sua pulsação pulou. “Calgary?” Um leve sorriso surgiu no rosto do pai dela. “Ontem de manhã, ela recebeu uma ligação do técnico da seleção feminina. Parece que ele gostou do vídeo que você preparou o suficiente para querer vê-la jogar.” “Ela conseguiu o teste?” Seu coração pulava dentro do peito como se fosse ele quem tinha sido convidado para disputar um lugar na seleção olímpica. “Eles até se ofereceram para pagar a passagem de avião até lá. Ela saiu esta manhã e deve ir até o local de treinos


amanhã cedo.” O que significava que ele ainda podia encontrá-la lá se conseguisse pegar o próximo voo. “Vocês sabem onde ela está hospedada?” “Isso importa? Aquela garota dormiria no gelo se nós deixássemos,” Cindy disse com uma risada. “Mas os seus testes vão começar às 10.” Ben pulou fora da cabine e pegou seu telefone. Com alguma sorte, ele conseguiria fretar um voo e estar lá em algumas horas. “Obrigado, vocês dois.” “Espere aí, querido.” Cindy o alcançou antes que ele chegasse à porta. “Eu a tranquei, lembra? Não quero que você dê com a cara na porta e faça a


Hailey pensar que o pai dela deu uma surra em você.” Ele se inclinou para dar um beijo no rosto da pequena mulher, sem se preocupar se o ato testaria ainda mais a paciência de Sam. “Obrigado mais uma vez.” O telefone começou a tocar assim que ele saiu do bar. Quando o seu empresário atendeu, ele disse, “Eu preciso chegar em Calgary o mais rápido possível.” Ele não perderia a chance de ver Hailey deixá-los de boca aberta por nada no mundo.


Capítulo Dezessete Hailey segurou a bolsa de equipamentos com força e olhou para a entrada do Centro Markin MacPhail. Este era o lar e centro de treinamento da seleção canadense, e ela teria a sua única chance de chamar este lugar de casa até Sochi. Este era o dia pelo qual ela estava esperando desde quando fez a sua promessa a Zach. No entanto, ela estava pronta para vomitar. Seu café da manhã se agitava em seu estômago e suas palmas suavam no ar úmido da manhã. A única razão de ela estar ali era Ben. Doía em sua consciência admitir isso,


mas era a verdade. Ela havia jogado em relativa obscuridade por anos em Cascade, esperando pelo dia que alguém de fora notasse a sua habilidade. Mas não tinha sido até Ben fazer aquele vídeo e o encaminhado para as pessoas certas que ela havia recebido a ligação. Ela contornou o telefone em seu bolso com a mão. Ele havia ligado na noite anterior, mas ela não havia atendido. Ela estava focada demais em se preparar para os testes para querer falar com ele. Agora, ela desejava ter atendido, mesmo que apenas para dizer a ele onde ela estava. E talvez, até para agradecê-lo. Ela havia passado pelo chalé dele


ontem de manhã no caminho até o aeroporto, mas ele estava vazio. Ele retornaria algum dia? “Hailey!” Ela esfregou o ouvido, se perguntando se havia imaginado Ben chamando o seu nome. Mas quando ela o ouviu novamente, se virou e o viu correndo até ela. O cabelo dele apontava em dezenas de direções diferentes, e a barba por fazer cobria seu rosto, mas ele estava ali, em carne e osso. Ela soltou a bolsa quando ele se aproximou. “O que você está fazendo aqui?” Ele diminuiu o passo, seu peito arfando e suas palavras saindo todas ao


mesmo tempo. “Eu vim encontrar você.” A boca dela secou. “Por quê?” “Porque eu—” A frase terminou de repente, e ele olhou para ela como se estivessem deitados na cama dele de novo. “Droga, Hailey, me desculpe.” Então, ele a puxou para os seus braços e a beijou até que ela estivesse tão sem fôlego quanto ele. Ela tentou debilmente afastá-lo quando o beijo terminou. “Isso ainda não explica por que você está aqui.” “Eu não queria perder mais um momento sequer.” Ele segurou seu rosto nas mãos, seus olhos azuis-ardósia implorando a ela. “Me desculpe, Hailey. Me desculpe por ter dito aquelas coisas


a você naquela noite. Sinto muito por Larry ter lhe enviado aquela carta sem o meu conhecimento. Sinto muito por nunca ter aceitado os convites de Patrick para ir com ele ao hospital infantil. Sinto muito por não ter tido a chance de conhecer o nosso filho. E sinto muito por tudo o que eu fiz para lhe causar dor durante todos esses anos.” A visão dela embaçou quando ele chamou Zach de "nosso filho", e uma explosão de emoções a sufocou. “Ben, eu—” Ele a calou com outro beijo. “Eu estou aqui para lhe implorar por outra chance, para que você me conte sobre o nosso filho, e talvez, até considere um


futuro comigo.” “Não é tão simples.” Seu coração balançava de um lado para o outro. Por mais que quisesse aceitá-lo de volta, ela não tinha certeza se podia correr o risco desta vez. A dor em seu peito era mais viva do que nunca. Ela tentou baixar os braços dele, mas ele a segurou firme. “Ben, por favor.” “Não, não até que você concorde em me dar outra chance ou me mande tomar naquele lugar.” Ela riu sem querer e se inclinou sobre ele, descansado a cabeça em seu ombro e segurando a sua camisa amassada. “Droga, Ben, por que você tinha que fazer isso agora?”


“Porque é como eu lhe disse. Eu já desperdicei nove anos e não vou deixar você escapar de mim de novo.” Ele apertou o seu abraço, seu coração pulando em ritmo constante em seu peito. “Eu te amo.” A respiração dela se acelerou, e o mundo pareceu parar de girar. Ela levantou a cabeça. “O que você disse?” Ele passou o dedão sobre o seu lábio inferior e riu. “Você me ouviu, Hailey. Eu te amo.” Por mais que ela quisesse lhe dizer que sentia o mesmo, a experiência a impediu. “Você realmente sente isso? Ou só está dizendo porque me quer na sua cama de novo?”


Ele contraiu o rosto e deu um passo para trás. “Eu não esperava isso.” Ela apertou os olhos e soltou um grunhido de frustração. “Não foi isso que eu quis dizer. É que eu já me queimei duas vezes, e não tenho certeza de que consigo passar por isso de novo.” “E eu gostaria de poder prometer que nunca vou magoar você de novo, mas eu sei que isto não é um conto de fadas em que todo mundo tem um final feliz garantido. Esta é a vida real, e todos os casais têm seus altos e baixos.” Ele pegou a sua mão. “Mas não há ninguém com quem eu prefira viver esses altos e baixos.”


A sua última resistência desmoronou, e ela entrelaçou seus dedos nos dela. “Sinto muito por não ter lhe contato sobre Zach no começo.” “Eu entendo porque você não contou.” “E eu sei que você nunca teve a intenção de me magoar.” “E eu espero nunca fazer isso de novo.” Era o mais próximo de uma promessa que ele chegaria, e ela ficou até feliz por ele não ter prometido jamais magoá-la de novo. Os dois estavam mais velhos e mais conscientes agora, e ambos sabiam que não podiam alimentar expectativas irreais. Mas já era o suficiente para derreter o coração dela, atraí-la para os


seus braços e lhe dar a coragem de dizer, “Eu também te amo.” Desta vez, quando ele a beijou, foi lento e tranquilo e pareceu ativar todas as emoções em seu coração—boas e ruins. Mas, com o passar do tempo, o bom se sobressaiu e abafou o ruim até que ela não o sentisse mais. Ben a amava e queria um futuro com ela e, como ele, ela não conseguia se imaginar vivendo os altos e baixos da vida com outra pessoa. Um tremor de desejo começou na base da sua coluna e vibrou pelo seu corpo até que seus lábios tremessem contra os dele. Ela terminou o beijo. “Desculpe, mas se nós continuarmos


com isso, eu vou acabar nua ao seu lado e perder o meu teste.” Ben pressionou sua testa contra a dela e riu. “Eu não vou permitir isso. Você merece esta oportunidade de ouro, e eu quero que você vá até lá e prove a eles que merece estar nas Olimpíadas.” “Eu concordo. Eu prometi ao nosso filho, e tenho a intenção de cumprir a promessa. Mas depois…” “Nós podemos tomar banho e você pode me contar tudo sobre o seu dia.” “Isso parece realmente bom.” “Vamos dar um passo por vez.” Ben sorriu para ela. “Agora, vá lá e surpreenda-os.” Ele lhe deu um beijo final antes de


deixá-la ir e pegar o seu telefone. “Me ligue quando estiver pronta.” “Ligarei.” Ela foi em direção da entrada do centro de treinamento, não se sentindo mais intimidada por ele. Ben havia chamado aquilo de oportunidade de ouro, e ela não sairia dali até estar com aquela medalha de ouro no pescoço. Ela colocou a bolsa de equipamentos no ombro e entrou pela porta da frente como se fosse dona do lugar. Um homem e duas mulheres estavam parados no lobby, vendo algo em um tale se aproximou e esticou a mão. “Você deve ser Hailey.” “Eu sou.” Ela apertou a sua mão.


“Você é o Dan?” “Eu sou. Bem-vinda ao lar da seleção de hóquei canadense.” Ele a levou a um lugar onde ela podia ver o rinque de tamanho internacional com o logo oficial no círculo central. “O que você acha?” Ela estudou o rinque e respirou fundo, inspirando o cheiro de gelo fresco. “Eu acho que o gelo está me chamando.” “Então, equipe-se e vamos ver o quanto você é boa.” Ele acenou para uma das mulheres, que a levou para os vestiários. As outras mulheres no time estavam saindo quando ela chegou. Seu coração quase parou ao passar pelas jogadoras a quem ela desejava se igualar. Talvez, se


tivesse sorte, ela poderia chamå-las de colegas de time. Ela sentou em um dos bancos e visualizou seu teste mais uma vez ao vestir os protetores. Ela iria surpreendê-los, exatamente como Ben disse que ela faria. E exatamente como Zach sabia que ela faria. Ela amarrou os cadarços dos patins e respirou fundo mais uma vez antes de entrar no gelo.


Capítulo Dezoito 07 de fevereiro de 2014 O coração de Hailey queria pular para fora de seu peito quando ela entrou no Fisht Olympic Stadium. Sua respiração congelou na frente da boca em uma nuvem branca, constrastando com o mar de jaquetas vermelhas ao seu redor. Este era o dia que ela havia esperado por toda a vida, mas depois de sonhar com ele por tanto tempo, ela precisava se beliscar para ter certeza de que era real. “Novatas,” Patrick gritou atrás dela enquanto lhe dava um cutucão amigável. “Mexa-se, Hailey. Você está atrasando o


resto do time.” Um sorriso surgiu em seu rosto e ela cambaleou para frente, balançando a sua bandeira do Canadá com orgulho. A parada das nações estava acontecendo a algum tempo, com o Canadá ficando na letra K, devido à ortografia russa. Seu corpo inteiro vibrava de emoção. Hoje, ela podia finalmente dizer que era uma atleta olímpica. Ela se aproximou de Patrick. “Eu mal posso acreditar que estou aqui.” “Eu posso. Ben nos mostrou aquele vídeo de você jogando antes de entrar para a seleção, e eu sei que a mídia declarou você a nova favorita.” Ela riu. Depois de ter entrado no time,


ela havia bloqueado tudo, a não ser Ben e hóquei. Só depois que uma repórter a encontrou depois de um amistoso e pediu uma entrevista, que ela finalmente se deu conta de que era alguém interessante para a mídia. Ela concordou em dar a entrevista, decidindo seguir o exemplo de Ben e não se expor, mas quando a repórter ficou sabendo da sua promessa a Zach, a história viralizou. Agora, as cartas chegavam diariamente de mães que haviam perdido filhos para doenças, de fãs que desejavam sorte e de crianças que a tornaram seu ídolo. Era quase demais para ela, mas ela tentava ao máximo ler todas as cartas e e-mails enquanto


focava no jogo. Quando eles chegaram ao lugar que ocupariam pelo resto das cerimônias de abertura, os Estados Unidos estavam se preparando para entrar. Hailey tentou ver Ben no mar de vermelho, branco e azul, mas não conseguiu. Ele havia expressado algumas dúvidas inicialmente sobre jogar na seleção americana novamente, mas depois que ela o desafiou, ele aceitou a oportunidade mais uma vez. “Você o viu?” ela perguntou a Patrick. “Ah, sim, deixe-me usar a minha visão de Super Homem rapidinho. Por favor, Hailey. Eu sei que vocês dois mal aguentam ficar longe um do outro, mas


eu acho que você vai sobreviver às próximas horas sem ele. Além disso, ele não disse que iria ligar para você quando a tocha entrasse?” “Disse.” Ela esfregou as mãos e deixou aquele pensamento aquecê-la por dentro. Ben havia prometido ir com ela para Sochi, mas era melhor ainda que ele estivesse lá como atleta também. Assim que a parada das nações acabou e todos recitaram o juramento olímpico, Hailey pegou o celular que todos os atletas olímpicos haviam ganho e esperou pela ligação de Ben. Ele havia dito que queria ver o seu rosto quando o caldeirão fosse aceso, e ela estava mais do que feliz em concordar.


A tocha olímpica entrou no estádio, e o seu telefone vibrou. Hailey tirou uma luva para aceitar a ligação, e um momento depois, o rosto de Ben estava na sua tela. “Oi, linda. Você está pronta para isto?” “Há muito tempo.” “Bom, porque ela está indo na sua direção.” O atleta carregando a tocha correu por ela, e a sua pele se arrepiou. Isto era real. Ela estava ali, e sempre lembraria daquele momento. Patrick se inclinou para se inserir na imagem. "Ei, Kelly, eu posso amar você durante a temporada normal, mas quando


estiver com este uniforme, vale tudo. Vocês já eram.” “Isso é o que nós vamos ver,” Ben disse com um sorriso confiante. “Eu estou ansioso para bloquear os seus pucks.” Hailey empurrou Patrick para longe. “Meninos, eu achei que as Olimpíadas tinham a ver com boa vontade e competição amigável entre nações.” “Eu estou sendo amigável,” Patrick reclamou. “É, você deveria ouvir o que ele diz no gelo,” Ben adicionou. “Calem a boca, vocês dois. Eles estão prestes a acendê-lo.” Hailey prendeu a respiração quando a


tocha se aproximou do caldeirão. Um segundo depois, o que havia começado como uma pequena chama tinha se tornado uma grande fogueira. Seu peito se encheu de orgulho e ela esqueceu do frio congelante da Rússia. Mas ela nunca esqueceria daquele momento. “Não existem palavras para descrever, não é?” Ben perguntou. Ela balançou a cabeça. “Bem, talvez você consiga me dar uma resposta para esta pergunta. Quer se casar comigo?” O queixo dela caiu, e ela olhou para o rosto de Ben na tela, se perguntando se tinha ouvido corretamente. “O que você disse?”


“Eu sei que é um pouco fora do comum, mas pense na história que poderemos contar para os nossos filhos. Eu até inclui o Patrick nela.” Ela virou a cabeça para o lado e viu Patrick segurando uma pequena caixa de veludo. “Isto é o que eu acho que é?” Ben confirmou. “Você vai dizer sim ou não?” “É, o suspense está me matando,” Patrick adicionou com um toque de sarcasmo, “e nem sou eu quem está fazendo o pedido.” Ela riu, deixando algumas lágrimas correrem de seus olhos no processo, e acenou com a cabeça. “Sim, Ben, eu caso com você, mas só depois dos


jogos.” Ele deu um sorriso tão brilhante que ela quase pôde sentir a sua alegria. “Tudo bem. Eu espero que você goste do anel. Eu mandei fazer especialmente para você.” “É mesmo?” Ela abriu a caixa de veludo e suspirou. Ao invés de um anel de diamante solitário, ele havia mandado fazer uma réplica dos anéis olímpicos, usando pedras de várias cores. Ela o colocou no dedo e olhou para ele, deslumbrada. “Eu amei.” “Eu achei que você gostaria. Aproveite o resto das cerimônias, Hailey, e eu vejo você quando acabarem. Tenho certeza de que as


nossas famílias mal podem esperar para ouvir a notícia.” A tela escureceu, mas fez pouco para escurecer o seu humor. Patrick foi o primeiro a parabenizá-la, seguido de outros membros do time. O resto da noite passou voando, até o momento em que ela finalmente conseguiu se reunir com Ben. Ela correu até ele e colocou os braços em torno do seu pescoço. “Eu acho que esta é uma noite que nenhum de nós irá esquecer,” ele disse, puxando-a para mais perto dele e passando os dedos pela única mecha de azul que ela havia feito no cabelo como um lembrete da noite em que se conheceram.


“Concordo.” O desejo ferveu em seu corpo quando ele a beijou, e seus corpos se uniram ainda mais. Ela duvidou que cansaria dos seus braços um dia. “Eu te amo, Ben.” “E eu te amo, Hailey. Eu não estaria aqui se não fosse por você, e mal posso esperar para passar o resto da eternidade com você.” “Então, vamos começar com o presente,” ela respondeu antes de baixar os lábios até os dela mais uma vez.

zzzz


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