Se essa rua fosse nossa - Reinventando os espaços de brincar na cidade sob a ótica infantil

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SE ESSA RUA FOSSE NOSSA... REINVENTANDO OS ESPAÇOS DE BRINCAR NA CIDADE SOB A ÓTICA INFANTIL


Figura 1 - Desenho em linha contínua, crianças brincando e pulando Fonte: PNGTREE


UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação

SE ESSA RUA FOSSE NOSSA REINVENTANDO OS ESPAÇOS DE BRINCAR NA CIDADE SOB A ÓTICA INFANTIL

GABRIELLA VICTORINO Orientadora: Bárbara Perrone

Campus Campinas | 2020


AGRADECIMENTOS A Deus, por toda força e sustentação, não só durante o período da faculdade mas em todos os momentos da minha vida. Aos meus pais, Diva e Mariano por todo amor, cuidado, carinho e compreensão. Por todo o esforço realizado para que eu pudesse estar onde estou, mesmo nas horas mais complexas. Sou imensamente grata. À minha irmã Maria Isabella que sempre ouviu meus desabafos, me apoiou durante momentos difíceis e sempre se alegrou com minhas conquistas, demonstrando a mim motivos para continuar. Ao meu namorado, Vinicius, por todo amor, companheirismo e cuidado. Obrigada por ter sido calmaria em meio às turbulências enfrentadas durante o período do curso e também da vida. A todos os amigos que de alguma maneira contribuiram com minha formação acadêmica. Agradeço em especial à Aline Belini, minha confidente, companheira de todos os sorrisos, desabafos e choros desde o ínicio desse sonho. Ao meu querido amigo, Thiago Luchi, por toda amizade, apoio, conselhos e principalmente pela troca de conhecimentos. À minha orientadora Bárbara Perrone, por toda paciência e ajuda. Por sempre demonstrar que é possível chegar mais longe do que achei que seria viável. A todos os docentes que fizeram parte da minha formação, contribuindo para que eu aprendesse sempre mais. Vocês me tornaram a pessoa que sou hoje. Muito obrigada!


Quando as crianças brincam E eu as ouço brincar, Qualquer coisa em minha alma Começa a se alegrar

E toda aquela infância Que não tive me vem, Numa onda de alegria Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma, E quem serei visão, Quem sou ao menos sinta Isto no meu coração.

Fernando Pessoa 05/09/1933


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LEITURA DO TERRITÓRIO

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 1.1 INTRODUÇÃO 2. OBJETIVOS GERAIS 3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

3.1 O MUNICÍPIO DE CAMPINAS 3.2 MACROESCALA: REGIÃO DO CAMPO BELO 3.3 LEVANTAMENTOS URBANÍSTICOS 3.4 DIAGNÓSTICOS DA ÁREA 3.5 DADOS INFANTIS DA REGIÃO DO CAMPO BELO 3.6 MICROESCALA

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TEMÁTICA 2.1 VIVÊNCIA DA INFÂNCIA NO ESPAÇO URBANO 2.2. VIVÊNCIA DA INFÃNCIA EM COMUNIDADES PERIFÉRICAS 2.3 NA RUA OU EM CASA: ONDE MORA O PERIGO? 2.4 O ESPAÇO URBANO E SEU PAPEL FRENTE A LUDICADE

52 56

REFERÊNCIAS PROJETUAIS 16 24 34 40

4.1 HORSE LAND 4.2 NOVOS CAMINHOS PARA A INFÂNCIA AO AR LIVRE 4.3 BARCELONA E SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS INFANTIS

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ESTUDO DE CASO 5.1 Pixeland

CONSIDERAÇÕES FINAIS 110

7.1 IMPLANTAÇÃO GERAL DO PROJETO

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BIBLIOGRAFIA

O PROJETO 6.1 PROJETO: SE ESSA RUA FOSSE NOSSA 6.2 CONCEITO 6.3 PARTIDO 6.4 RECORTE PROJETUAL: SITUAÇÃO ATUAL 6.5 DIRETRIZES PROJETUAIS 6.6 ELABORAÇÃO DA DIRETRIZ 1: PARQUE LÚDICO 6.7 ELABORAÇÃO DA DIRETRIZ 2: PERCURSOS LÚDICOS INFANTIS

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8.1 Referências Bibliográficas

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APRESENTAÇÃO


Figura 2 - Desenho em linha contĂ­nua, menina andando de Skate Fonte: PNGTREE (adaptado pela autora)


1.1 INTRODUÇÃO As primeiras linhas do presente trabalho são identificadas na vivência urbana. O deslocamento cotidiano, períodos transitados dentro de transporte público e percursos trilhados no caótico contexto das cidades contemporâneas trazem uma questão peculiar, em questão da vivência das crianças em espaços projetados por e para adultos, afinal:

Estamos diante de uma cidade pensada, projetada e construída por adultos e para adultos, que adota como parâmetro o cidadão adulto, abandonando os cidadãos não adultos (TONUCCI, 1997, p.181)

SENHOR PREFEITO, NÃO QUEREMOS SÓ ESCORREGADORES, NEM BALANÇOS, QUEREMOS A CIDADE.

As temáticas espaço urbano e infância possuem relações entre si e se faz uma questão pertinente quando do compreender que a figura da criança deve ser analisada como um ser total e que, portanto, requer cuidados especiais. Desse modo, o projeto aqui apresentado visa propor um projeto urbano, que destaque os espaços infantis na dinâmica das cidades contemporâneas, mais especificamente em ambientes de vulnerabilidade social, como é o caso da região do Campo Belo, localizado na cidade de Campinas, local onde a proposta será inserida. 1 O município de Campinas possui população estimada de 1.194.94 pessoas , sendo que, segundo a Fundação Seade (2017), o número de crianças menores que 6 anos totaliza o valor de 84 787. Dessas, aproximadamente 8 502 habitam na região do Campo Belo. Porém, ainda que o número de crianças na região seja elevado, nota-se que direitos fundamentais estabelecidos inclusive por Constituições Federais estão sendo descartados. A título de exemplo, o brincar¹.

Se em áreas constituídas de infraestrutura a vivência da criança

Figura 3 - Charge do livro : Quando as crianças dizem “agora chega!” Fonte: TONUCCI, 1997 (adaptado pela autora)

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1.0 APRESENTAÇÃO

SINTO QUE ALGUÉM ESTÁ ME ESPIONANDO

tornou-se conturbada, o cenário contemporâneo no qual inclui as ocupações irregulares é ainda mais perturbador. A região periférica do Campo Belo, constitui-se de ocupações irregulares, e em particular, possui ausência de praças, áreas verdes e espaços públicos de brincar. Ainda, a falta de calçadas, ruas pavimentadas, e sinalização viária torna muito limitado e inseguro o caminhar dos pequenos. Esse fator, aliado com o aumento da violência, surgimento de novas tecnologias e jogos virtuais, contribuem com a tendência de isolamento infantil, e seu afastamento das ruas. É impossível descartar o fato de que a insegurança pública é uma problemática de âmbito nacional, porém pode ser agravada com a falta de espaços brincantes, já que o brincar lúdico infantil desenvolve o que denominamos de virtudes humanas como persistência, perseverança, humildade, cuidado, fraternidade e paciência (WINNICOTT, 1996). No cenário nacional, além da falta de espaços públicos, há um outro fator que reforça os casos da escassez de brincadeiras lúdicas em ambientes urbanos, a tecnologia. O acesso a ela passa por crescente polarização, nesse sentido, tecnologias digitais surgem como interessantes contextos de brincadeira contemporânea, que se adequa perfeitamente ao contexto familiar atual, já que permitem a diversão pretensamente "segura", em espaços circunscritos e monitorados por adultos (Almeida, 2008).

Figura 4 - Charge do livro : Quando as crianças dizem “agogra chega!”

De modo geral, a ludicidade infantil nas últimas décadas tem sido negligenciada. A legislação brasileira assegura o direito de brincar às crianças, tanto na Constituição Federal (1988), estatuto 227, quanto no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (1990), artigos 4º e 16º. Todavia, mudanças demasiadas nos ambientes urbanos no qual

Fonte: TONUCCI, 1997 (adaptado pela autora)

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1.0 APRESENTAÇÃO as crianças encontram-se entrepostas, como a insuficiência ofertiva de locais apropriados para recreação, ocasionam impactos consideráveis em seu desenvolvimento. Entretanto, ainda que o desenvolvimento lúdico seja tão relevante, as atividades lúdicas do brincar livre, do brincar em espaços urbanos, não possuem a devida importância por parte de diferentes atores que compõem o cenário urbano: gestores públicos, educadores, líderes comunitários, pais e familiares. O tempo, na sociedade contemporânea tornou-se artigo de luxo, e para muitos o brincar infantil é negligenciado ao ponto de ser considerado como "tempo perdido". Sendo que na verdade, é ele um dos responsáveis pela formação do caráter do cidadão. Sobretudo, ao negligenciar a importância do lúdico e da ludicidade para desenvolvimento dos pequenos, potenciais prejuízos são consideráveis, desde males físicos como excesso de peso e obesidade, a conurbações no processo de socialização infantil, sendo esse, um bem necessário para o desenvolvimento emocional saudável. Ainda, as crianças precisam de autonomia para explorar novos ambientes e desenvolver-se como indivíduo de saberes próprios, pois assim, ao se conhecerem tornam-se capazes de aceitar todos os aspectos de sua personalidade. Portanto, estudar a associação existente entre cidade e ludicidade pode trazer a luz alternativas promotoras de espaços que garantam trocas de experiência entre crianças e adultos, criando uma nova dinâmica social urbana capaz de incluir os

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pequenos como agentes sociais importantes na composição do espaço urbano, e podendo ainda, reduzir índices de criminalidade. Afinal: “Uma cidade que negligencia a presença da criança é um lugar pobre. Seu movimento será incompleto e opressivo. A criança não pode redescobrir a cidade a não ser que a cidade redescubra a criança.” EYCK,1962 p. 87. Sendo assim, resgatar, através de intervenções urbanas o ato de brincar ao ar livre, proporcionar novas vivências na cidade, não apenas como opção de lazer, mas ainda de contribuir com seu crescimento e desenvolvimento saudável no espaço urbano, como também colaborar a favor de sua segurança durante trajetos rotineiros, se mostra uma necessidade social a ser realizada através de projetos arquitetônicos sociais, como este aqui explicitado.


1.2 OBJETIVO GERAL CARAMBA, NOS ESCUTAM!!!

Promover a vivência do espaço público contemporâneo, pela população infantil.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Criar o projeto de um parque que estimule o brincar infantil - Desenvolver brincadeiras e dinâmicas em espaços privilegiados para o brincar - Incentivar a interação das crianças com o meio urbano - Conscientizar adultos quanto ao papel das crianças como agentes sociais da cidade - Proporcionar segurança às crianças durante seus percursos escolares através de intervenções em vias públicas - Promover o enriquecimento cultural através de espaços destinados a atividades e dinâmicas

Figura 5 - Charge do livro : Com os olhos de criança Fonte: TONUCCI, 2002 (adaptado pela autora)

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TEMÁTICA

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Figura 6 - Desenho em linha contĂ­nua, meninas pulando Fonte: PNGTREE (adaptado pela autora)


2.1 VIVÊNCIA DA INFÂNCIA NO ESPAÇO URBANO 2.1.1 CARACTERIZAÇÃO DA INFÂNCIA ONDE ESTÁ O MUNDO??

A palavra Infância é proveniente do latim infantia, que, etimologicamente, significa "aquele que não é capaz de falar" (in=negação do verbo; fari=falar; fan=falante). De acordo com o Estatuto da Criança (1990), considera-se criança a pessoa de até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Todavia, apesar de em geral, a partir dos dois anos de idade já conseguir falar, a criança permanece toda sua infância sem ter voz. Assim: [...] por não falar, a infância não se fala e, não se falando, não ocupa a primeira pessoa nos discursos que dela se ocupam. E, por não ocupar esta primeira pessoa, isto é, por não dizer eu, por jamais assumir o lugar de sujeito do discurso, e, consequentemente, por consistir sempre um ele/ela nos discursos alheios, a infância é sempre definida de fora (LAJOLO, 2006, p. 230).

Tratar sobre a infância, é falar sobre um elemento indecifrável e enigmático, o termo é circuncidado de complexidade, pois o que a criança vive é a infância, mas depende de inúmeros fatores. Com isso Larrosa (2016, p.6), discorre que cabe "pensar a infância não como aquilo que olhamos, senão como aquilo que nos olha e nos interpela". Para este autor, a infância é algo que buscamos explicar nomear e intervir, entretanto ela está muito além de qualquer captura, ela inquieta os saberes, questiona o poder de nossas práticas, nos instiga e fascina a cada dia. A historiologia da infância é objeto de estudo de vários autores. Dentre eles, temos destaque de Phillipe Ariès, que traçou uma evolução histórica das concepções de infância a partir das formas de falar e Figura 7 - Charge de Francesco Tonucci

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Fonte: TONUCCI, 1975 (adaptado pela autora)


2.0 TEMÁTICA sentir dos adultos em relação ao que fazer com as crianças. Para o autor, houve um período da história em que não havia sentimentos pela infância. Nas suas palavras, Na sociedade medieval, que tomamos como ponto de partida, o sentimento de infância não existia – o que não quer dizer que as crianças não fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por essa razão, assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes. (ARIÈS, 1981, p. 156)

Ao longo de seu livro História Social da infância e da família, Ariès segue discorrendo sobre o surgimento de novos surgimentos dos sentimentos de infância advindas com o tempo. Dentre eles temos o sentimento que o autor chama de “paparicação”, onde a criança era vista como um elemento “engraçadinho” que servia como distração aos adultos. Durante o século XIX, entre os moralistas e educadores, surge outro sentimento que inspirou a educação até o século XX, o de interesse psicológico e da preocupação moral (ARIÈS, 1981). Períodos históricos, como o advindo pós Revolução Industrial, alteraram a maneira no qual a infância era vista. As crianças passaram a ser vistas como vulneráveis, dependendo demasiadamente dos pais durante seu tempo livre, o que é

resultado principalmente do medo do mundo fora de casa. Ainda, devido ao ritmo consumista e capitalista vivenciado pela sociedade contemporânea, os adultos tendem a acelerar o processo de crescimento e desenvolvimento infantil, obrigando a criança a passar por privações socioeconômicas, sociais e afetivas (na família e fora da família), do espaço físico, do tempo e da natureza (GARCIA, 1996). Atualmente, autores como Damazio (1991), descreve que as crianças passam por limitações impostas pelos adultos que os impedem de ser quem realmente são. Para o autor, as crianças precisam ser respeitadas, e este respeito começa quando reconhecemos a autonomia infantil que se traduz em: [...] aprender o mundo, sentir seus limites, seus potenciais, seus desejos e fantasias. Nós só podemos reconhecer essa autonomia se tentarmos entender como funciona esse sujeito chamado (por nós) de criança (DAMAZIO, 1991, p.8).

Ao compreendermos que a criança é um ser ávido de sensações e conhecimentos próprios podemos obter uma visão mais ampla do que é infância. Devido à multiplicidade existente em cada indivíduo concluimos que as infâncias são várias. Para Arroyo (1994), a infância no campo não é como na cidade; assim como a infância da favela não é igual a da criança do condomínio fechado, elas não deixam de ser igualitariamente crianças, mas viverão a infância de forma diferente, em virtude da realidade no qual estão inseridas.

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2.0 TEMÁTICA

2.1.2 A CRIANÇA COMO SER SOCIAL Atualmente a criança tem sido considerada como um ser passivo, imaturo, fraco e dependente, que deve ser apropriado por uma sociedade para tornar-se um ator social da mesma. A situação é maximizada quando deslocamos o tema para o contexto da vida pública: o espaço da cidade. Por estarem afastados de esferas institucionalizadas de poder, crianças e jovens embatem, no campo físico e social, por onde a vida da cidade se constrói, um jogo de forças para ocuparem seu lugar como um ser social (CASTRO, 2004, p.19). Na ótica de Corsaro: [...] a criança é tratada como um ser ser passivo, que deve ser controlada e “treinada” por adultos para se tornar um membro competente da sociedade, esses ideias são pertinentes ao modelo determinista, para ele a criança é tomada pela sociedade; ela é treinada para tornar-se, finalmente, um membro competente e contribuinte da mesma (CORSARO, 2001, p. 20).

NÃO ME EMPURRA! NÃO TENHO NENHUMA PRESSA PRA CRESCER

ÁS R E ESC ÁS CR R E END APR ÁS RÁS E VER C E QU I R EN

As crianças das últimas gerações, tem crescido cada vez mais à sombra de uma sociedade isolacionista, individualista, competitiva, consumista e gerida pelo medo. As vivências ocorridas pós Revolução Industrial tiveram grande influência sobre a visão de infância, cada vez mais os adultos gerem de modo a acelerar essa etapa, fazendo com que as crianças despertem em si o desejo desenfreado de se tornar “gente grande” passando a sofrer com ansiedades inerentes à fase da vida na qual se encontram, negligenciando o papel fundamental da infância. Desse modo, logo, a criança passa a ser vista como vulnerável e frágil, passando por diversas privações, tal fator resulta na crença dos adultos em protegê-las, ignorando assim suas vontades, falas e desejos. 18

Figura 8 -Não empurrem! Não tenho pressa de crescer Fonte: TONUCCI, 2005 (adaptado pela autora)


2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0 NÃO É POR NADA, MAS MEU FILHO DEPOIS DA ESCOLA FAZ NATAÇÃO DANÇA E PINTURA

A MINHA, ALÉM D E TUDO ISSO, FAZ AULA DE VIO LÃO

Uma das correntes mais atuais acerca do estudo da infância provém do pediatra e pedadogo polonês James Korczak. Seus estudos se posicionam especialmente contra a supremacia adulta e ainda a favor do direito das crianças de se posicionarem durante tomada de decisões referentes a elas, sendo vistas como cidadãs no presente e não como protótipo de um futuro cidadão. Nas palavras do autor: As crianças não são pessoas de amanhã, são pessoas de hoje. Elas têm o direito de serem levadas a sério e serem tratadas com afeto e respeito. Devem ser permitidas a crescer de acordo com o que desejarem ser - a pessoa desconhecida dentro de cada uma delas é nossa esperança para o futuro (KORKZAC, 1981).

Segundo as análises de Kuhlmann (1998), as representações vivenciadas pelas crianças ultrapassam as representações idealizas pelos adultos, para o autor a infância tem um significado genérico, como qualquer outra fase da vida esse significado é proveniente das transformações sociais que direciona a cada indivíduo funções e papéis a serem ocupados dentro da sociedade. Pensando nisso, passamos a observar a necessidade de enaltecer a criança como ser social que ela é, podendo compreender que:

Figura 9 - Charge do Livro: com olhos de criança

Conceber a criança como ser social que ela é, significa: considerar que ela tem uma história, que pertence a uma classe social determinada, que estabelece relações definidas segundo seu contexto de origem, que apresenta uma linguagem decorrente dessas relações sociais e culturais estabelecidas, que ocupa um espaço que não é só geográfico,

Fonte: TONUCCI, 1990 (adaptado pela autora)

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2.0 TEMÁTICA

mas que também dá valor, ou seja, ela é valorizada de acordo com os padrões de seu contexto familiar e de acordo com sua própria inserção nesse contexto (KRAMER, 1986, p. 79).

Para Sarmento e Pinto (1997), considerar a criança como ator social implica em reconhecer sua capacidade de simbolizar a produção, composição e crenças em sistemas organizados e ainda revelar a existência da epistemologia na infância. Ao compreender o espaço urbano e seus agentes compositores, torna-se claro que o cenário é projetado exclusivamente por e para adultos e exclui os cidadãos não adultos (Tonucci, 1997). As medidas tomadas em relação ao arranjo dos espaços públicos estão cercadas de barreiras arroladas à linguagem tecnocrática e com estilos de negociação que dissolvem a infância na ordem social adulta, desvalorizando seus saberes urbanos. Lima (1989) critica a iniciativa de arquitetos, planejadores urbanos e políticos ao construírem espaços com interesses e desejos incoerentes aos seus, sem consultarem e escutarem o que o público infantil tem a dizer. As críticas da autora são confirmadas ao observar a vida cotidiana das grandes cidades, onde os espaços e elementos urbanos desconsideram a população infantil. Nesta abordagem, quando a criança passa a ser compreendida como ator social ela toma um papel ativo em diversas áreas de sua vida, possuindo a capacidade de agir e de interagir em diversos campos de sua rotina, dando sentido às suas ações. Em suma, torna-se fundamental compreender que a infância é múltipla: produto e produtora de cultura, intérprete do seu 20

contexto histórico e sociocultural, as crianças são por si próprias co-construtoras da infância e da sociedade, elas estão a princípio, expostas às mesmas forças macrossociais que a adultez, ainda que de forma particular (Qvortrup, 1993). Sendo assim, as relações sociais estabelecidas pelas crianças e as suas culturas devem ser estudadas por seu próprio direito independentemente da perspectiva e dos conceitos dos adultos (Prout & James, 1990), inclusiva no espaço urbano. Cabe destacar que as crianças são capazes de contribuir para a mudança cultural de toda a sociedade: [...] as crianças são “agentes sociais, ativos e criativos, que produzem suas próprias e exclusivas culturas infantis, enquanto simultaneamente, contribuem para a produção das sociedades adultas (CORSARO, 2011, p.15).

Ainda, o surgimento da Sociologia da Infância proposta por William Corsaro reafirmou a autonomia conceitual sobre os estudos de criança e infância, e ampliou o olhar e entendimentos delas. Entretanto, ainda são necessárias mudanças na maneira nas quais as crianças são vistas. É indispensável o favorecimento de mair representação pública e políticas das crianças afim de superar ideiais que determinaram a suposta incapacidade que as crianças possuem de contribuir positivamente no contexto do debate público (Prout, 2010). Ainda nesta perspectiva, destacamos a extrema avaria existente no processo de ouvir a voz da criança, de escutar e de validar suas particularidades.


2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

2.1.3 A CRIANÇA NA CIDADE CONTEMPORÂNEA A presença das crianças na cidade contemporânea pode ser compreendida através de suas experiências culturais e das condições estruturais de sua inserção no mundo. O processo de evolução urbana atrelado com as mutações sociais, colocaram as crianças como seres passivos: desprovidos de uma posição ulterior de participação e responsabilidade social (Castro, 2001).

Figura 10 - Charge demonstrando o domínio dos carros sobre as ruas Fonte: TONUCCI, 1994

Ao longo da história da civilização, as cidades passaram por profundas mudanças. O processo de urbanização acelerado , sobretudo ao longo do século XX pelo ideário de cidade moderna, atrelado à produção flexível, à gestão da política neoliberal, ao planejamento urbano estratégico e ao capitalismo, provocaram mutação das cidades e o surgimento de problemas graves que se tornaram pertinentes ao cotidiano da maioria delas: desigualdade social e desordem urbana. Este cenário caótico foi, pouco a pouco, afastando as crianças dos espaços públicos urbanos. Dispensando uma análise aprofundada acerca das transformações evidenciadas acima, há um fato real muito indicativo desta situação: basta observar o espaço ofertado ao carro na cidade, com certeza é o “cidadão” mais privilegiado. Os veículos transformaram as ruas, deixando-as mais largas e perigosas, cheias de obstáculos, dificultando o caminhar dos cidadãos mais frágeis e pequenos. Ainda, ocupou a privatização dos espaços públicos, eliminando possibilidades para aqueles que transitam a pé ou de bicicleta, assim podemos destacar que:

Figura 11 - Charge demonstando as crianças se apropriando do espaço urbano Fonte: TONUCCI, 1990

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2.0 TEMÁTICA

CUIDADO : CRIANÇA S

A cidade tornou-se hostil para seus próprios habitantes, desprovida de solidariedade e de acolhimento. O dono da cidade, agora, é o automóvel, que é fonte de perigo, poluição sonora e atmosférica, de vibrações, e ocupa o espaço público. As ruas são perigosas, mas é nesta cidade que temos de viver e, sobretudo se tivermos filhos, sentimos a necessidade e a urgência de encontrar uma solução. (TONUCCI, 1997, p 51)

Deste modo, a cidade tem renunciado seu papel de encontros e hoje vê-se uma perca de identidade com os espaços públicos, essenciais por fomentar encontros, intercâmbios, manifestações e lazer, nos quais permitem livre mobilidade e permanência nas dinâmicas espaciais associadas aos processos e às práticas sociais (ALBERNAZ, 2007).

EU ACHO QUE ESTARIA MELHOR ESSE SINAL SE FOSSE: CUIDADO: CARROS

Figura 12 - Charge demonstando as crianças se apropriando do espaço urbano Fonte: TONUCCI, 2006

A contemporaneidade, ainda, é marcada pelo fascínio à tecnologia, que atualmente norteia e direciona padrões e comportamentos mundo a fora. As crianças, encontram-se submersas pelo ciberespaço que tem proporcionado a abertura de uma nova era da comunicação, socialização e ludicidade. É neste contexto brevemente apresentado que se vivencia a infância atualmente, nessas cidades a criança vive mal. Elas são privadas de vivenciar todas as experiências pertinentes para seu desenvolvimento, como aventura, descoberta, surpresa, risco ou superação de um obstáculo (TONUCCI, 2005, p.14). Com sua mobilidade reduzida, seu deslocamento se resume ao confinamento dentro do carro ou do transporte público, quando a pé, acompanhada por um adulto. 22

Figura 13 - Charge demonstando as crianças se apropriando do espaço urbano Fonte: TONUCCI, 2002


2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0 O caminhar livre pelas calçadas e ruas é sempre muito limitado, e na maioria das vezes inexistente, Bauman (2005) relaciona esse fenômeno a um processo de urbanização que procura proteção insaciável e infinita aspiração à segurança. Entretanto, em prol de uma suposta segurança, as crianças tornam-se “reféns”, confinadas em espaços reservados a elas: “infantis”, fechados, artificiais, homogêneos, supervisionados e controlados por adultos (AITKEN, 2014; OLIVEIRA, 2004). Cabe destacar que: [...] crianças que não utilizam o espaço público e fazem seus itinerários sempre dentro de veículos têm dificuldade de elaborar seus mapas mentais e desenvolvem uma percepção diferente daquelas que circulam a pé. A noção de espaço físico da criança é bastante recortada. Ela faz composições entre o imaginário e a realidade, com soluções que a eximem de construir uma percepção do espaço e do movimento nele. Apresentam indícios de perda de noção dos espaços físico e público e da socialização (OLIVEIRA, 2004, p.37).

Agravando esse processo, a qualidade dos espaços públicos existentes tem se mostrado cada vez mais desajustada às necessidades infantis. Em meio a cenários ofertados pela cidade, o espaço público tem perdido seu valor e potência criadora do cotidiano infantil. A atratividade do urbano encontra-se reduzida, uma das causas é a pouca oferta de qualidade, opções de lazer e recreação. Em decorrência, perdeu-se a idealização de espaço público como ponto de encontro, convívio, vivências, percepções,

interações, jogos livres, brincadeiras e contato com a natureza, tão importantes ao seu bem-estar biopsicossocial e desenvolvimento integral infantil (MALHO, 2004), prejudicando ainda o processo de exercício da cidadania urbana aplicado pelas crianças (BORJA, 1999). A cidade é o maior campo de experimentação que as crianças podem ter para praticar suas funções como atores sociais que são. Diferentemente de outros locais institucionalizados, como a escola, casa e serviços de saúde - o espaço urbano propicia uma inserção desses atores de maneira menos determinada, sem um conjunto de regras determinads por papéis institucionalistas pré-estabeleccidos de aluno, de filho, de paciente, onde os pequenos acabam por entrar em um ciclo de subordinação e inferioridade. Por fim, cabe compreender que a vivência infantil na cidade contemporânea tem sido conturbada devido ao cenário entreposto entre criança x cidade. Percebe-se a importância de que as crianças possuam espaços públicos e parques de qualidade e liberdade para utilizá-los, segundo suas vontades e desejos, afim de despertar e compreender sua relação com a cidade. Porém, ainda que limitadas quanto ao seu contato direto com a cidade, as crianças são capazes de imprimir suas marcas nas comunidades contemporâneas, sendo capazes de mudar até suas representações sociais restritas. A infância é totalmente inerente à sociedade e a política social, tentar excluí-la ou mantê-la à margem é ilusório (CASTRO, 2001). 23


2.2 VIVÊNCIA DA INFÂNCIA EM COMUNIDADES PERIFÉRICAS 2.2.1 o território periférico O processo de surgimento de comunidades periféricas no Brasil está intimamente relacionado ao seu processo de urbanização, indissociável do período de intensa industrialização, em particular nas décadas de 1950 a 1970. Os mecanismos formais de acesso à terras, seja por via de mercado ou por via de políticas públicas, nunca supriram a demanda existente por moradias. Os conjuntos habitacionais disponibilizados pelo poder público, quando muito, apresentam habitações de baixa qualidade, na maioria das vezes afastadas dos centros urbanos e com escasso grau de acesso à infraestrutura e aos equipamentos urbanos. Nesse contexto, o acesso à habitação passou a se dar através de processos de ocupação de terras ociosas, com a prática da autoconstrução das moradias, gerando em consequência assentamentos insalubres, que, com frequência encontram-se localizados em áreas de risco com sua segurança física comprometida, devido à falta de técnicas e também de materiais adequados durante o processo construtivo. Os assentamentos precários apresentam diferentes configurações, como favelas, loteamentos irregulares ou clandestinos, cortiços, conjuntos habitacionais degradados, etc (CARDOSO, 2016).

Figura 14 - Ilustraçao de uma periferia Fonte: Flickr

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Trataremos aqui das favelas (ou invasões) que correspondem a assentamentos irregulares caracterizados pela ocupação irregular do solo, seja este público ou privado. Essas, tipicamente, possuem


2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0 características desordenadas e se abstém de diretrizes e padrões urbanísticos, sendo majoritariamente inferiores ao mínimo estabelecido pela legislação. A favela , caracteriza-se como um espaço “marginal”, periférico, com sua lógica de ocupação diferenciada da cidade instituída (DUARTE, 2004). O termo favela, é o nome popular de uma planta, comumente encontrada no território baiano. Ao que se sabe, a espécie da famíllia Euphorbiacae passou a caracterizar nomeadamente os agrupamentos de domicílios urbanos precários devido ao contexto geográfico e histórico peculiar. De acordo com Cruz (1941), a origem da palavra favela está associada à Guerra de Canudos. Para o autor Sagmacs (1960), a palavra favela fora trazida de Canudos para o Rio de Janeiro. Tendo se encerrado o combate em canudos, os soldados e as mulheres que acompanhavam as tropas de batalhas teriam vindo para o Rio de Janeiro e se hospedado no Morro da Providência, uma das decorrências dessa ocupação foi o surgimento do novo nome para o local, o morro da Favela (QUEIROZ, 2011). Atualmente, a favela é vista de maneira deformada e deturpada em relação a sua realidade local. Em dados momentos, a favela acaba por ser reconhecida como um grupo dentro de um estrato social, como se não fosse elemento participante e ativo da cidade no qual se encontra.

depende de condições estruturais globais para se manter. Ela não se sustenta apenas por suas políticas internas, mas depende de políticas públicas dentro de suas dependências para manter seu desenvolvimento e progresso. Ainda, muitas vezes a favela acaba por ser resumida em uma “comunidade marginal”, não há dúvidas de que de fato a favela é um espaço marginalizado: Ela é marginal, por exemplo, pela dificuldade de acesso a certos serviços urbanos, a certos tipos de bens de consumo durável, a certas formas de comunicação de massa etc., embora sempre desfrute, em diversos graus, de tudo isso (SILVA, 1967).

Entretanto, não se pode resumir uma comunidade que possui costumes, culturas, identidade e particularidades em um termo que usualmente costuma ser utilizado de modo pejorativo e preconceituoso. Essa visão, acaba ainda, por reprimir os moradores destes locais, os “favelados”. O termo, inclusive, é utilizado por muitos de forma ofensiva e visa reduzir ou humilhar a população que reside nestes assentamentos precários. Ainda, o poder público acaba por se abster destes locais, que muitas vezes carecem inclusive de elementos básicos como saneamento, áreas de lazer e equipamentos públicos.

Porém, a favela não é uma comunidade isolada, e sua existência 25


2.0 TEMÁTICA

2.2.2 vivência da infância: periferia x condomínio Como já demonstrado nos capítulos anteriores a vivência da termologia “infância” pode ser concebida de inúmeras maneiras e diversos fatores podem influenciar na diferenciação do vivenciar a infância por uma criança ou outra. Uma criança que mora em um condomínio fechado não possui a vivência da infância de modo similar ou idêntico a uma criança que mora em uma periferia. Cabe ressaltar que as atitudes e vivências das crianças com maior poder aquisitivo, assim como as que moram em periferias são intimamente relacionadas com o viver de seus tutores e de certo modo, é condizente e coerente com o padrão e estilo de vida no qual ela vivencia. Inúmeros fatores podem ser levados em consideração durante o processo de crescimento infantil. Como pode-se observar, crianças de classes sociais elevadas possuem maiores restrições quanto a seu contato e vivências na cidade e em espaços públicos abertos. Para Cardoso (2010) em maioria, as crianças de classe alta utilizam mais os espaços fechados e privados, e utilizam a rua apenas como um local de passagem, ainda, conhecem a cidade de dentro do automóvel, essa tipologia foi denominada pelo autor como “geração do banco de trás”. É certo que a infância vivenciada em condomínios fechados entra em contraponto com as crianças que possuem vivência nas periferias contemporâneas. É sabido que os condomínios possuem muros que objetivam gerar maior “segurança” a seus moradores e consequentemente às crianças que neles habitam.

Figura 15 - Ilustração de crianças brincando Fonte: Ivan Cruz

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Tal fator se alia a tendência da sociedade contemporânea de organizar-se cada vez mais dentro de sistemas privados e fechados, de acordo com Tonucci, as crianças são encorajadas a manter a crença de que são rodeadas por um mundo hostil e perigoso, ou seja, crenças negativas de que as ruas são perigosas, este fato acaba por isolar ainda mais este público e instigam a criação de “barreiras” e distinções das vivências urbanas.

Todavia, as crianças moradoras dos condomínios também lidam com questões preocupantes, pois por pouco frequentar espaços abertos e públicos, e terem o contato com a natureza limitado apenas nas áreas verdes dos condomínios acaba por ocorrer uma intensificação do uso de shopping centers e locais fechados como área de lazer e descompressão. Tal fator alia-se com a condição consumista que vivencia nossa era. Parques e jogos folclóricos infantis, têm perdido seu valor e potencial criador no cotidiano dessas crianças.

A autora Patricia Begnami (2014) em sua tese de doutorado realizou uma experimentação e manteve contato crianças quev vivenciavam a infância em diferentes realidades, na periferia e no condomínio. A respeito da liberdade das crianças, nas palavras da autora:

Vale destacar que os pequenos não possuem autonomia suficiente para brincar e interagir apenas em lugares que os convém, assim como crianças de periferias, as “crianças dos condomínios” se relacionam com o universo e relações que são impostas a elas. De acordo com as autoras Marina Simone e Bruna Ferreira: Atualmente, muitos pais cedem-se a espaços que se caracterizam por relações comerciais e de consumo, e por sua inadequação ao público infantil, uma vez que são constituídos por elementos “prontos” e “acabados”, alguns eletrônicos com estímulos constantes, o que possibilita a reelaboração e criação de algo realmente novo. (DIAS & RAMOS, 2010).

2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

As áreas de brincar existentes dentro desses conjuntos são constantemente monitoradas por câmeras e ainda, possuem grande infraestrutura e qualidade em suas dependências. Desse modo, podemos analisar que a criança que mora em um condomínio, ainda que não tenha contato exacerbado com o território público, como praças, playgrounds públicos dentre outros, possuem locais apropriados para brincar e desenvolver atividades cotidianamente.

As crianças dos condomínios não ficavam “livres”, porque nem ir sozinhas ao playground elas podiam e também não brincavam nas ruas do condomínio, apenas as utilizavam para passear com seus brinquedos [...] Ao passo que na favela do Gonzaga as crianças circulavam sozinhas e na companhia de outras crianças para ir à escola, à mercearia, ao bar, ao parquinho, etc, sem que fosse visto pelos adultos como descuido ou como algo perigoso. (BEGNAMI, 2014, p. 130)

Portanto, com base nas questões abordadas pode-se afirmar que as diferenciações de espaços desvelam a noção de infâncias passíveis aos modos de ser criança em contextos distintos. Nas periferias as crianças brincam mais nas ruas, sinal de perigo para os moradores dos condomínios, entretanto no contexto periférico a rua é o espaço onde as pessoas se conhecem e se reconhecem (BEGANAMI, 2013).

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2.2.3 a infância nas periferias A favela caracteriza-se como um espaço “marginal”, periférico, com sua lógica de ocupação diferenciada da cidade instituída (DUARTE, 2004). Em consequência a essa caracterização, geralmente as camadas sociais configuram os moradores das periferias com o termo “favelado”, e os colocam no lugar das faltas, da exclusão e da criminalidade (ZALUAR & ALVITO, 2004). Ainda, o pré-conceito existente com as crianças moradoras desses espaços conjuga na mente da maioria da população, futuros cidadãos marginalizados. Isso se dá por pensarmos a infância nesses lugares, comumente como perigosa e atribuída de fatores negativos como criminalidade, tráfico de drogas; polícia e vizinhos hostis; falta de infraestrutura; e precárias condições de moradia. Entretanto é necessário destacar que esses lugares também são circuncidados por redes positivas como família, amigos, escola e atividades em grupo. Portanto, reduzir a imagem de uma criança moradora de periferia a um futuro marginal é explicitamente um ato errôneo. A classe infantil pertencente às periferias, possui o significante, ser favelado, como elemento central de seu processo de socialização, tornando o espaço que ela dialoga, durante a constituição de sua identidade, excludente da cidade. Ao enxergar-se como favelada, a criança nao se reconhece como parte/moradora da cidade, mas se vê como ocupante de um espaço que Ihe é antagônico (GOUVEA, 1993). Durante o processo de socialização, a criança cria uma auto imagem desqualificada, que ao serem expressadas a partir de atos físicos, dificultam a sua superação e contribuem para sua entrada no mundo do crime.

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Entretanto, de acordo com Maria Gouvea (1993), nesse processo identitário de criação de saberes a criança atribui a si próprio, autonomia, esperteza e independência, que se traduzem no “saber se virar”, em oposição a infantilização dos jovens de classe mais elevada. De seu modo, reconstroem lugares em suas brincadeiras e constroem sua identidade interagindo com a imagem percebida de sua ambiência. Nos campos de estudo compreendemos espaço e lugar como termos ambíguos, enquanto o primeiro é abstrato e indiferenciado o segundo é dotado de valores (TUAN, 1983). Percebe-se que nas favelas as crianças possuem redes amigas, conhecem seus vizinhos e possuem mais predisposição a brincar na rua, “estabelecem com o lugar relações afetivas, que cimentam suas identidades em constantes interações com o meio” (COELHO, 2013). Podemos verificar então que o que falta para crianças moradoras de favelas são espaços urbanos, como parques que propiciem o brincar. Coelho (2007), observa que a relação da criança moradora de favela com o espaço onde sua vida cotidiana se dá, lhe assegura os sentimentos de segurança, liberdade e aventura, contribuindo para seu processo de enraizamento, caracterizando agentes importantes no processo de transformação do espaço em lugar. Vemos então o potencial existente na relação da criança com a periferia, entretanto a vivência do espaço pela população infantil, também é freada pelos condicionantes sociais, e é inerente ao mesmo cenário contemporâneo que entorna as crianças de capital financeiro elevado, como a indução exacerbada do uso da tecnologia; a ausência de espaços públicos voltados à infância e problemas de mobilidade urbana.


A periferia ainda, possui dificuldade em encontrar espaços públicos, seguros e com qualidade, ou seja, com presença de vegetação, “que oportunizem atividades de lazer fisicamente ativas e estimulem uma variedade de atividades lúdicas, portanto, tem sido uma das responsáveis pelo aumento do sedentarismo e pelos altos índices de obesidade na infância, além de outros prejuízos ao desenvolvimento infantil “(ROEMMICH et al., 2006; GRAFOVA, 2008; VEUGELERS et al., 2006).

Este, inclusive pode ser destacado como uma das principais problemáticas existentes quanto ao vivenciar a infância nas periferias. Apesar de frequentarem muito as ruas para brincar, as crianças que moram nas periferias lidam com o fato de os espaços públicos não possuirem infraestrutura adequada, gerando abertura para o aumento de atividades criminosas, fazendo então com que as crianças que frequentam esses poucos locais estejam sujeitas a adentrarem no mundo do crime precocemente. Desse modo, acabamos por entrar em um contexto contraditório pois, ao mesmo tempo que as crianças das favelas são mais “livres” e possuem maior independencia de circular pelos espaços públicos, não estão totalmente “protegidas”. Aos olhos do Estado deveriam estar mais protegidas, é de responsabilidade do órgão prever ações e medidas de intervenção para maior proteção a estas crianças, pois elas acabam de enfrentar diariamente desafios persistentes, na negação de direitos básicos como saúde, moradia, educação, alimentação.

Figura 16 - Ilustração de crianças brincando em uma periferia Fonte: Autor desconhecido

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2.0 TEMÁTICA

2.2.4 VULNERABILIDADE infantil em assentamentos periféricos irregulares Ao abordar a problemática habitacional brasileira, iremos identificar que moradia em áreas de assentamentos precários é um assunto que abrange fatores de riscos importantes às pessoas que nelas residem, o assunto intensifica cuidados quando os residentes são as crianças. Um dos conceitos norteadores deste capítuo é o de Vulnerabilidade social. O conceito do termo aqui compreendido traduz a situação em que o conjunto de elementos, recursos e habilidades inerentes a um dado grupo social revelam-se insuficientes, inapropriados ou complexos para lidar com o sistema oportunista oferecido pela sociedade contemporânea, de forma de levar à ascenção maiores níveis de bem-estar, ou diminuir probabilidades de condições de vida determinados atores sociais (VIGNOLI, 2001). Um aspecto importante da definição utilizada, é compreender como e por que diferentes atores sociais mostram-se mais suscetíveis ou não a processos que atentam contra sua possibilidade de ascender a maiores níveis de bem-estar. Nesse âmbito, o enfoque da vulnerabilidade social constitui ferramenta válida para compreender a obtenção de qualidade de vida das crianças e jovens que vivenciam a cidade, de acordo com suas camadas populares e opções fomentadores de desenvolvimento oferecidas. Já é sabido que a vivência da infância sofre direta influência do

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local no qual ela é vivenciada. A infância vivida em periferias possui alta disparidade em comparação com crianças que se desenvolvem em camadas sociais mais elevadas. O nãoacesso a determinados insumos como educação, escola, saúde, lazer e cultura, diminui drasticamente a possibilidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento dos recursos fundamentais para bom desenvolvimento infantil. A existência dessas deficiências no acesso das crianças e jovens a elementos básicos assegurados por leis constitucionais, colabora com o processo de vulnerabilidade e prejudica o processo de formação pessoal e individual de cada um. Sendo assim, torna-se claro que vivenciar a infância em comunidades vulneráveis exige uma demanda de atenção. Além das questões sociais e governamentais, um outro agravante é pertinente a maior parte das comunidades e periferias brasileiras: a insegurança pública. É árduo o processo que visa definir o que é violência, a princípio pode-se dizer que sua definição é ambígua. Não há uma única idealização sobre o que é violência, mas há uma multiplicidade de atos violentos cujas ações necessitam ser analisadas. Chauí, define violência como: “(...) 1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de alguém (é desnaturar); 2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 3) todo ato de


2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0 transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como direito. Conseqüentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror (...).” (Chauí, 1999, p.3-5)

Analisando a definição do autor, podemos observar então que a violência acompanha a humanidade há séculos de maneira social e coletiva. No cenário contemporâneo se faz necessário compreender que os condicionantes de violência encontramse interligados com a modelagem da pobreza e desigualdade social no país. Atos violentos são inerentes a todos, independete da classe social, entretanto nas periferias os índices tendem a aumentar. Cabe destacar que a exposição à violência comunitária está entre as piores experiências que uma criança pode vivenciar, tais feitos podem gerar efeitos permanentes em suas vidas. Em suma pode-se dizer então, que as relações evidenciadas por crianças em situação de vulnerabilidade social geram crianças passivas e dependentes, com a auto-estima consideravalmente afetada e comprometida. Ademais, a infância pobre das periferias vem se constituindo como alvo de saberes modernos, pois é compreendida apenas como um problema econômico e político que necessita de esforços para manutenção de sua ordem e controle. Figura 17 - Ilustração de crianças brincando em uma periferia Fonte: Autor desconhecido

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2.0 TEMÁTICA

É de extrema avaria ressaltar que a periferia da cidade para quem nela reside, principalmente crianças e jovens, é território de avarias e existência, nos quais têm identidades sendo construídas e reconstruídas cotidianamente (TAKEITI, 2019). Além dos elemento aqui já demonstrados, a vulnerabilidade vivenciada nas periferias pode ser refletida ainda, na saúde das crianças que nelas habitam. Como as residências dos assentamentos precários são, em geral, construções autonômas que não seguem o código de obras municipal, muitas delas resultam em edifícios sem janelas na subdivisão dos cômodos, portanto, sem ventilação e iluminação natural, comprometendo as condições de salubridade. Ainda, devido à irregularização dos assentamentos, muitos não possuem acesso a elementos de infraestrutura básica, como saneamento. Isso agrava as condições sanitárias adequadas e aumenta o risco de contaminação com doenças. Devido aos fatos mencionados acima, podemos concluir então que as crianças que residem em comunidades periféricas tendem a encontrar-se em estado de vulnerabilidade social. Em conclusão ao capítulo abordado, observamos que as condições específicas das periferias, durante a análise da vulnerabilidade corresponde muito à presença ou ausência de ações públicas governamentais, registrando-se a forte influência que o Estado pode incidir para melhorar os aspectos vulneráveis ou não da comunidade.

Figura 18 - Ilustração de crianças brincando Fonte: Ivan Cruz

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2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

2.2.5 LAZER INFANTIL EM ÁREAS PERIFÉRICAS Para atendimento da crescente demanda por habitação, as comunidades periféricas foram se adaptando e subdividindo seu território de acordo com as necessidades locais. Os lotes, ruas e afins pertencentes às invasões não possuem projeto prévio ou planejamento para entrar em etapa de execução. Sendo assim, estas áres acabam por ficar com poucas áreas destinadas ao lazer, ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende um mínimo de 12m² de área verde por habitante, as áreas verdes e livres não possuem um equilíbrio e não são prioridade durante o processo de formação e ocupação dessas comunidades. Ainda, tais espaços, quando existentes, na maioria das vezes são sujos, cobertos de matos, com brinquedos quebrados e, ainda sofrem propensão de serem tomados como pontos para vendas e consumo de drogas. Entretanto, ainda que os espaços verdes de lazer existentes nas periferias não estejam em pleno estado de conservação, as crianças que habitam em seu redor, muitas vezes por falta de opção, se adaptam ao espaço e brincam nas ruas e pracinhas disponíveis. Nas periferias é notável que as brincadeiras infantis invadem os becos, as vielas e as ruas, onde muitas vezes conflitua com a intensa movimentação de carros, motos, bicicletas e transeuntes, observa-se então um território dinâmico com um senso de comunidade que não se vê mais dentro da cidade formal (GETLINGER, 2013). Portanto, mesmo as áreas vulneráveis da cidade podem conter objetos que estimulem a criatividade e experimentação

do brincar lúdico e livre das crianças, desde que o ambiente ofereça condições aceitáveis de segurança (BARTLETT, 1999). A interação social é extremamente importante para assegurar a segurança e manter a qualidade dos espaços de uso comum. Quando os moradores passam a participar ativamente do uso de espaços comuns, o nível de atividade contribui para a diminuição de comportamentos antissociais. Entretanto, muitos moradores se abstém destes espaços porque eles não possuem: ruas e becos bem iluminados, lugares para sentar e socializar, presença de vegetação, espaços para praticar exercícios e boa qualidade no mobiliário urbano. Desse modo, a ociosidade é retomada e os riscos de insegurança aumentam. Quando a vida comunitária é inibida por fatores inerentes à qualidade da infraestrutura local, a violência e atos criminosos tendem a aumentar, as crianças então passam a ser particulamente afetadas, por acabarem se privando da oportunidade de recreação e interação social. Quando o fazem em espaços ociosos, estão propensos a se envolver com atos violentos devido à influências negativas vivenciadas nestes locais. Sendo assim, é de extrema importância se pensar em espaços públicos de qualidade que objetivem disponibilizar elementos capazes de unificar a comunidade local e disponibilizar áreas brincantes para as crianças, uma vez que brincar é um ato espontâneo e intimamente relacionado com o desenvolvimento saudável infantil.

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2.3 NA RUA OU EM CASA: ONDE MORA O PERIGO?

: É UMA CRIANÇA COM MUITA SORTE A TEM UMA BONITA VARANDA PAR E BRINCAR! PENSE NAS CRIANÇAS QU ! NÃO TEM E VÃO BRINCAR NA RUA

Uma questão é pertinente ao que se refere a segurança infantil: o que de fato é mais perigoso para uma criança, brincar ao ar livre na rua, nos parques e praças ou passar horas trancafiada dentro de casa imersas no submundo da tecnologia? Muitas pessoas consideram que o melhor lugar é dentro de casa e esse pensamento está diretamente relacionado ao medo e a falsa sensação de segurança obtida ao manter as crianças em locais cercados, capazes de serem monitorados por adultos (AITKEN, 2014). A população atual enxerga a cidade através do filtro da “cultura do medo”, onde o pânico é explorado de forma sensacionalista por diversos setores e veículos de circulação em massa, acarretando em uma sociedade amedrontada, acuada pela insegurança, pela criminalidade e violência urbana (EL TASSE, 2008, p.11). Esse fator associado ao paradigma da segurança total , materializado na necessidade de cercar todos os espaços, sejam eles privados ou públicos, com ações contra a violência, fez com que a criança fosse afastada da sua liberdade em troca de uma fantasiosa sensação de segurança. Em contraponto ao medo inerente a permanência nos espaços urbanos, a autora Jane Jacobs (1961) defende em seu livro Morte e vida das grandes cidades, que as calçadas desempenham papel fundamental para a manutenção da segurança nas cidades. Quando dizemos que a cidade não é segura estamos nos referindo às suas calçadas. Para a autora, a manutenção da segurança pública não é feita apenas pela polícia, entende-se que ela é necessária, mas “[...] pela rede intrincada, quase inconsciente, de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e

Figura 19 -Charge de criança brincando na varanda Fonte: Tonucci, 1997 (adaptado pela autora)

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2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

VOCÊ É UM MENINO DE SORTE! NÃO TE FALTA NADA!

por ele aplicados” (JACOBS, 1961, p. 32). Portanto entende-se que o ato de evitar as ruas torna-as mais inseguras, que ao contrário do pensamento disseminado pela cultura do medo, ao se apropriar dos espaços urbanos estaremos tornando-os mais propensos a serem seguros. Porém cabe salientar que há outras questões mais perigosas que o vivenciar da rua e o pressuposto da violência. É sabido que o Brasil é um país considerado violento e que enfrenta problemas referentes ao tema, entretanto de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (2011), no Brasil contamos com cerca de um milhão de crianças com a doença diabetes, sendo que no ano de 2012 obtiveram-se 125 mil mortes por diabetes (adultos e crianças) no Brasil contra 56 mil homicídios. Esse é apenas um dado que demonstra como o cenário de medo se concentra em áreas evidenciadas pela “cultura do medo” e se ausenta de outras questões como a obesidade, uma das causas da diabetes. Ainda, nesse cenário de medo, a criança que se encontra na fase de vivenciar as possibilidades que a vida urbana tem a oferecer, torna-se refém das limitações que lhe são impostas. Isso reduz sua visão de sujeito a uma imagem que lhe é apresentada: um mundo particular onde o extramuros do condomínio em que vive é cercado de fantasias, perigos e monstros. Como explica o psicopedagogo Francesco Tonucci (2005), há muito tempo , tínhamos medo do bosque. Era o bosque do lobo, da bruxa, do ogro. Era o lugar onde se podia perder, onde podia acontecer qualquer coisa. Hoje, a cidade tomou o lugar do bosque das fábulas infantis. Ainda nas palavras do autor, “Nós adultos nos esquecemos que a brincadeira está ligada ao

Figura 20 -Charge de criança brincando sozinha Fonte: Tonucci, 1990 (adaptado pela autora)

35


2.0 TEMÁTICA prazer e que o prazer se conjuga mal com controle e vigilância”. Nas palavras de Tonucci: Hoje a cidade não pode ser mais considerada de todos. (...) Nascem assim os quartos das crianças nas casas, as creches, as escolas infantis, as Ludoteca, as pracinhas para crianças, os supermercados de brinquedos e até os grandes parques de diversão. Por outro lado, desaparecem as crianças das escadas, dos pátios, das calçadas, das ruas, das praças, dos parques, todos os lugares considerados perigosos. (TONUCCI, 1997, p.14) Portanto, o espaço urbano deve ser visto como um meio de interligação entre a criança e a natureza, os humanos de modo geral são seres indissociáveis do ambiente, como concerne o conceito da Biofilia que se refere a uma tendência à união, a um senso de pertencimento com o mundo natural e seus seres (PROFICE, 2010; 2016). Ao privar as crianças de explorarem a natureza, obtemos um desequilíbrio ambiental com as condições de distanciamento impostas por um estilo de vida onde os seres humanos descartaram a convivência com os elementos do mundo natural. Oriundo de uma atração inata, o senso de pertencimento biofílico se afirma ou enfraquece dependendo das possibilidades de convívio. Ao se enfraquecer, males gerados pelo confinamento surgem, refletindo problemas como: obesidade, depressão e outras doenças mentais (TIRIBA, 2017, p. 76).

CRIANÇAS, HOJE VAMOS PASSEAR! SAIREMOS PARA VER O BAIRRO

EM FRENTE, EM FILA DE DOIS

DEÊM AS MÃOS, NÃO SE DISTRAIAM...

... NÃO DESÇAM DA CALÇADA...

AGORA VAMOS VOLTAR PARA A AULA E CADA UM VAI DESENHAR O QUE MAIS IMPRESSIONOU

Figura 21-Charge passeio escolar

36

Fonte: TONUCCI, 2002


2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

2.3.1 EM FOCO: OBESIDADE E SEDENTARISMO INFANTIL Cabe destacar que as crianças estão inseguras ao reduzirem seu tempo de brincar às escolas e a espaços internos da sua casa. Segundo Horn (2004, p.24), o lúdico, ou seja, as brincadeiras, jogos e brinquedos, trazem benefícios nos aspectos físico, intelectual e social. Todavia, as atividades lúdicas realizadas ao ar livre estão sendo desprezadas e trocadas por jogos de videogames em casa. Um estudo realizado pela pesquisadora Irene Quintanas (2015) com crianças do ciclo fundamental demonstra a porcentagem das que jogam vídeo game em casa no tempo livre e só praticam atividades brincantes no recreio escolar. Só joga videogames em casa

A obesidade infantil representa ameaças a esse público, pois ela aumenta o risco ou causa diversos problemas de saúde a curto prazo, como aumento do nível de colesterol e problemas ortopédicos; e a longo prazo diabetes, distúrbios cardiovasculares, distúrbios metabólicos (ROCHA, 2013). Convém mencionar, que as causas da obesidade estão relacionadas ao relacionadas ao:

Só brinca durante o recreio

50,00% 45,00%

40,63%

40,00%

35,48%

35,00%

30,00%

30,00% 25,00% 20,00%

23,08% 16,67%

15,00% 10,00% 05,00% 00,00%

1ª série

2ª série

3ª série

4ª série

Por consequência temos crianças expostas a riscos que podem comprometer sua saúde física e mental, tanto em seu presente quanto em seu futuro. A respeito da saúde física, o primeiro risco é a obesidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das questões de saúde pública mais graves do século XXI, podendo ser considerado até mesmo como o principal problema crônico enfrentado pelas crianças em todo o planeta. No Brasil, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia, 2010) revela que 36,6% das crianças estão acima do peso, sendo que em 1989 apenas 15% delas se apresentavam com o problema. isto é, uma a cada 3 crianças brasileiras estão com sobrepeso, dessas, 80% têm tendência a sofrerem de obesidade na vida adulta .

5ª série

Gráfico 1: Crianças do 1º ciclo do fundamental e seus tempos brincantes

A obesidade está diretamente relacionada ao sedentarismo [...] aumento exagerado do consumo de alimentos ricos em gordura e com alto valor calórico, associados a excessivo sedentarismo condicionado por redução na prática de atividade física e incremento de hábitos que não geram gasto calórico com assistir TV, uso de vídeo games e computadores entre outros, enfim por importante mudança no estilo de vida, determinada por fatores culturais, sociais e econômicos (OLIVEIRA, CERQUEIRA & SOUZA, 2003, p.97).

Fonte: Irene Quintáns, 2015 (Adaptado pelo autor)

37


2.0 TEMÁTICA

CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS SEDENTARISMO infantil. Na cidade de São Paulo uma pesquisa realizada pela IKS (The Infant and Kids Study, 2016) retrata que a saúde das crianças está em risco diante do cenário de sedentarismo, o estudo revelou que 1 em cada 2 crianças estão sedentárias, praticam menos de 300 minutos (5 horas) de atividades físicas por semana, o mesmo estudo revela que 75% das mesmas crianças com idade entre 5 a 12 anos passam quatro horas ou mais em frente à televisão ou computador, o dobro recomendado pela OMS e Sociedade Brasileira de Pediatria. As crianças que utilizam excessivamente a tecnologia, além de se tornarem propensas a serem obesas, extinguem oportunidades de valorizarem brincadeiras tradicionais como correr, jogar bola, brincar de amarelinha. De acordo com Silva (2012, p.10) as brincadeiras e os jogos são imprescindíveis no desenvolvimento infantil. A tecnologia não é exclusivamente uma vilã na vida das crianças. No caso da escrita, àquelas que apresentam maiores contatos com computador tendem a serem mais inteligentes, Guerra (2014) esclarece: “Uma pesquisa feita em 2005 confirmou que as crianças de hoje em dia são melhores escritores que as da geração passada, usando estruturas frasais bem mais complexas, um vocabulário mais amplo e uma utilização mais precisa de pontuação e ortografia”, portanto a tecnologia quando usada de forma certa auxilia no processo de aprendizado da criança, porém este uso deve ser ponderado e monitorado pelos pais. Quanto aos demais riscos gerados, faz-se menção aos distúrbios psicossociais. Estudos relatam que crianças obesas

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ALTERAÇÃO DO SONO

PAIS OBESOS

AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS EXCESSO DE TEMPO EM FRENTE À TV - EM MÉDIA 7 HORAS POR DIA

INGESTÃO EXCESSIVA DE BEBIDAS DOCES

MEDO EXCESSIVO DA VIOLÊNCIA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

Figura 22: GANHO DE PESO- principais fontes que levam à obesidade infantil Fonte: Diretrizes Brasileiras de Obesidade Infantil, 2017


AÇÕES RECOMENDADAS PELA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA ATIVIDADE FÍSICA desenvolvem problemas emocionais, como: angústia, culpa, depressão, baixa autoestima, vergonha, timidez, ansiedade, isolamento e fracasso (SOARES, 2003, p.63). A partir do momento que a criança tem baixo autoconhecimento e baixa autoestima, se isolam socialmente, desconfiam da pessoa e tem vergonha da sua imagem . É de extrema importância que a criança tenha sua autoestima elevada, pois ela possibilita reconhecer recursos que proporcionam condições para seu êxito ou fracasso (WILHELM, 2007, p. 143-154).

crianças de 0 - 2 anos

Outro estudo, realizado na Nova Zelândia com um grupo de 100 crianças nascidas entre 1972-73, publicado na revista média dos USA, Pediatrics, detectou que quem assistiu demasiada televisão enquanto criança esteve associado com transtornos de personalidade agressiva, comportamento antissocial, tendência aumentada para experimentar emoções negativas de adulto, e inclusive mais chances de ter condenação criminosa em idade adulta. Ainda vale destacar que a pesquisa foi realizada com cidadãos que nasceram na década de 70-80, desse modo sua infância se caracterizou numa época cuja tecnologia era completamente limitada. O que se esperar então dos futuros adultos provenientes da Era da Tecnologia?

crianças e adolescentes 6 - 14 anos

Com todos os riscos para a saúde física e mental das crianças, apresentados, torna-se evidente que os perigos eminentes a elas na sociedade contemporânea não estão apenas nas ruas, ao contrário do clichê levantado pela sociedade, dentro de casa a infância não é vivida em pleno estado de segurança, podendo em alguns casos ser considerada ainda mais perigosa.

É recomendado serem incentivadas a serem ativas, ainda que seja por curtos períodos várias vezes ao dia. As crianças que já possuem capacidade de andar sozinhas, devem passar por estímulos físicos por ao menos 180 minutos ao dia, em ações que podem ser fracionadas em vários períodos do dia crianças de 3 - 5 anos

devem acumular ao menos 180 minutos de atividade física de qualquer intensidade distribuidas ao longo do dia, inclusive àquelas que desenvolvem a coordenação motora. devem praticar ao menos 60 minutos de atividade física diária, de intensidade moderada a vigorosa (com respiração acelerada e batimento cardiáco mais rápido).

USO DA TECNOLOGIA crianças de 0 - 2 anos

Não devem ficar em frente à tela de TV, tablet, celular e jogos eletrônicos em momento algum, especialmente em momentos de refeição e 1 a 2 horas antes de dormir crianças de 3 - 5 anos

O tempo de uso tecnológico sugerido é de no máximo 1h por dia. crianças e adolescentes 6 - 14 anos

O tempo de uso recomendado é de 2h diárias, excluídas, entretanto as horas gastas para a realização de tarefas escolares no computador. Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, Manual de Orientação: Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes, 2019

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2.4 O ESPAÇO URBANO E SEU PAPEL FRENTE À LUDICIDADE 2.4.1 DESCONSTRUINDO O TERMO LUDICIDADE ME ENSINA A BRINCAR? JÁ NÃO ME LEMBRO MAIS...

O lúdico tem sua origem na palavra latina "ludus" que significa "jogo". Se confinássemos o termo à sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo, por conta disso a ludicidade, presente no vocabulário coorriqueiro de muitas pessoas, é compreendida simplesmente como sinônimo de jogo, e unicamente relacionada ao universo infantil. Entretanto, a evolução semântica da palavra não restringiuse apenas às suas origens, mas acompanhou as pesquisas de Psicomotricidade, que passou a incorporar o lúdico a comportamentos essenciais da psicofisiologia do comportamento humano (ALMEIDA, 2009). Desse modo a definição da palavra não diz respeito apenas a jogos ou brincadeiras, as implicações da necessidade lúdica ultrapassam as delimitações do brincar espontâneo. De acordo com Almeida (2009) o lúdico faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, caracterizando-se por ser espontâneo, funcional e satisfatório. Desse modo, faz-se saber que a ideia de lúdico e ludicidade não deve ser reduzida apenas a jogos e/ou brincadeiras, de acordo com Luckesi (2000) o Termo Ludicidade tem como definição:

Figura 23 -Charge sobre adulto que não brinca mais

40

Fonte: TONUCCI, 2002

[...] um fazer humano mais amplo, que se relaciona não apenas à presença de brincadeiras e jogos mas também a um sentimento, atitude do sujeito envolvido na ação, que se refere a um prazer da celebração em função do envolvimento genuíno com a atividade, a sensação de plenitude que acompanha as coisas significativas e verdadeiras (LUCKESI, 2000)


2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

informalidade sensações

diferenciação (ludicidade x atividades lúdicas)

distinção de atividades

intermediação

potencialidades/ não condicionantes

externalidade

Gráfico 2: Singularidades das atividades potencialmente lúdicas Fonte: MINEIRO & D’ÁVILLA, 2019

Desse modo, cabe dizer que a ludicidade faz parte da essência do ser humano, de acordo com Luckesi (s/d) todas atividades que nos propiciam uma experiência de plenitude, na qual nos envolvemos por inteiro, mantendo um estado de sensatez pode se adequar ao termo. Ainda, as ações vividas e não sentidas, inexpressáveis por palavras, mas compreendidas pela fruição durante a etapa de execução que aguçam o imaginário e a criatividade, também são lúdicas. Para Almeida:

Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade, o que dela resulta, mas a própria ação, o momento vivido. Possibilita a quem a vivencia, momentos de encontro consigo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, de ressignificação e percepção, momentos de autoconhecimento e conhecimento do outro, de cuidar de si e olhar para o outro, momentos de vida. (ALMEIDA, 2009, p.3)

É explícito que as crianças vivenciam mais a ludicidade. No universo infantil um cabo de vassoura facilmente se transforma em um “cavalo de montaria” e a diversão se torna garantida. Os adultos por sua vez, transformaram a ética do trabalho em ética de consumo, se inseriram em uma esfera onde a chance de sentir prazer pela realização do trabalho é mínima, o prazer nos afazeres diários é totalmente deslocado para fora do processo produtivo e reduzido (raramente) à momentos de lazer (FRIEDMANN, 1992). Entretanto, não tem sido fácil atribuir muito tempo ao lazer, pois, em um cenário capitalista o tempo é destinado predominantemente ao trabalho, de maneira que o tempo livre se encontra escasso. Além disso, as horas restantes na rotina diária, são destinadas a capacitações e à necessidades fisiológicas, como comer e dormir, e aos trabalhos domésticos tais como pagar contas, arrumar e limpar a casa, cuidar dos filhos, cuidar dos animais e alimentá-los, e cumprir com obrigações familiares, sociais e religiosas e compromissos religiosos (DUMAZEDIER, 1976). Pode-se dizer então, que a ausência da ludicidade no cotidiano da

41


2.0 TEMÁTICA sociedade adulta contemporânea, tem afetado a predisposição à diversão como uma válvula de escape à rotina atribulada condizente ao cenário capitalista. Demasiadamente, tal feito se dá devido ao olhar preconceituoso e banal em direcionar a vivência da ludicidade apenas às crianças e idosos, para Bartholo o termo é:

SÓ PORQUE SÃO ADULTOS, NÃO PRECISAM ENVERGONHA-SE DE SEREM FELIZES!!

Assim, torna-se visível que em se tratar dos adultos a sociedade [...] indispensável para uma vida produtiva e saudável, do ponto de vista da autoafirmação do homem como sujeito, ser único, singular, mas que prescinde dos outros homens para se realizar, como ser social e cultural, formas imanentes à vida humana (BARTHOLO, 2001, p.92).

contemporânea é mais severa, reduz a essa fase exclusivamente à produtividade e considera o brincar como tempo perdido. De acordo com Calvin Taylor: [...] em uma sociedade produtivista e competitiva, a formação da criança visa o rendimento, a produtividade e o desempenho. Grande parte das pessoas acham que o brincar gratuitamente é desperdício e perda de tempo (OLIVEIRA, 2004, p.70).

Entretanto, os adultos que já são pais, ao negligenciar a vivência da ludicidade em meio a suas rotinas não afetam apenas a si próprios. Ao banalizar as brincadeiras e jogos como tempo perdido, refletem explicitamente tal feito na vida de seus filhos e passam a se ausentar de momentos de lazer importantes com as crianças, fazendo com que os pequenos reduzam os Figura 24 - Charge sobre orgulho de brincar Fonte: TONUCCI, 2002

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2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0 períodos de brincar exclusivamente às escolas, e quando em casa à aparelhos eletrônicos, prejudicando drasticamente seu desenvolvimento. Atualmente, observa-se uma nova tendência onde os pais ausentam-se da participação nas brincadeiras de seus filhos, e atribuem essa função exclusivamente a cuidadores e educadores. Quando presentes muitos pais, reduzem o tempo de “brincar” a jogos didáticos, que por sua vez não substituem o brincar livre e lúdico infantil, isso porque os jogos não são espontâneos, são circuncidados por regras e comandos criados pelos adultos. O valor desses jogos como instrumento de aprendizagem é indiscutível, as crianças realmente aprendem com eles, entretanto a brincadeira lúdica espontânea é essencial para o desenvolvimento saudável infantil. Em casos mais agravantes, alguns pais para se ausentarem da tarefa de brincar com seus filhos os colocam em frente a equipamentos eletrônicos como televisões, computadores e celulares, induzindo-os a se ausentarem de práticas lúdicas característica da infância. A prática lúdica é inerente à criança, ela é expressada de diversos modos, primordialmente através dos jogos e brincadeiras. Cabe ressaltar que brincadeira e jogo apesar de terem sentidos semelhantes, possuem significados opostos. Envolta por vários sentidos, a palavra jogo assume diversos papéis nas mais variadas épocas e contextos. Pode-se dizer que ela se trata de uma atividade de cunho voluntário, com o espaço e tempo definidos, possui regras impostas, seguido por

sensações de alegria e tensão que possui o fim em si mesmo (FORTUNA, 2000). Já a brincadeira pode ser considerada uma atividade espontânea, para a criança brincar expressa seu modo de ser e estar inserida na sociedade. Através do ato de brincar a criança consegue expressar suas emoções. Segundo Lima (apud BETTELHEIM, 1988): Diante de todas essas considerações, é indispensável garantir Através de uma brincadeira de criança podemos compreender como ela vê e constrói o mundo – o que ela gostaria que ela fosse quais as suas preocupações e que problemas estão assediando. Pela brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo. (...) sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas e ansiedades. O que está acontecendo como a mente da criança determina suas atividades lúdicas, brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não entender (LIMA apud BETTELHEIM, 1988, p. 89).

que a ludicidade seja inerente á vida de todas as classes etárias, a fim de que ele possa vivenciar intensamente momentos de alegria, felicidade e imaginação que existem dentro das possibilidades do mundo atual. Por isso se torna tão importante disponibilizar espaços de lazer em ambientes pertinentes a toda as idades, como o espaço público urbano.

43


2.0 TEMÁTICA

2.4.2 RECONSTRUÇÃO DA LUDICIDADE NO ESPAÇO URBANO O espaço urbano, possui grande importância frente a vivência da ludicidade não apenas pelas crianç as, mas também pelos adultos, Mello apud Marcellino (1995) afirma que um dos espaços possíveis para a recuperação do lúdico está nas atividades de lazer. É sabido que a vivência dos espaços públicos e da rua tem diminuído cada vez mais, entretanto é necessário inserir elementos capazes de reestabelecer conexões entre as pessoas e as cidades. Jan Gehl, adverte em seu livro "Cidade para Pessoas" (2010, p.9) , que "as estruturas urbanas e o planejamento influenciam o comportamento humano e as formas de funcionamento das cidades", assim podemos compreender que as pessoas se moldam ao estilo das cidades atuais, a escritora Jane Jacobs em 1961 já advertia que a tendência modernista em separar os usos da cidade e destacar edifícios individuais autônomos "poriam um fim ao espaço urbano e à vida da cidade, resultando em cidades sem vida, esvaziadas de pessoas" (Gehl, 2010, p.3). Portanto: As cidades devem pressionar os urbanistas e os arquitetos e reforçarem as áreas de pedestres como uma política urbana integrada para desenvolver cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Igualmente urgente é reforçar a função social do espaço da cidade como local de encontro que contribui para os objetivos de sustentabilidade social e para uma sociedade democrática e aberta. (GEHL, JAN 2010, p.6) O fenômeno de esvaziamento dos espaços públicos inerente ao cenário atual afeta a vivência das pessoas com a cidade. Isso pode ser comprovado ao comparar a vivência lúdica nas cidades, nas décadas

DESCULPEM O INCOMODO!

ESTAMOS BRINCANDO POR VOCÊS! Figura 25 - Crianças ocupando o espaço urbano Fonte: TONUCCI, 2002

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2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0 de 1930,1940 e 1950, período onde ressaltou uma visão mais sensitiva do mundo, nesse tempo o molde do espaço urbano permitia que as pessoas utilizassem mais os sentidos nas suas relações (CABRAL, 1996, p.90). Cabe destacar, que o objetivo de discorrer sobre décadas passadas não é construir uma imagem alegórica e folclórica de registros lúdicos do período em questão, mas sim a de valer-se da aplicabilidade lúdica nos espaços urbanos, afim de analisar e evidenciar sua importância no processo de sociabilidade infantil, e compreender que nesse processo de deslocamento há um consequente desaparecimento das brincadeiras de rua como amarelinha, pega-pega, cabracega, piques, etc.

garantir que o lúdico seja vivenciado pode ser uma alternativa ao contexto massacrante e voraz da contemporaneidade.

Ao observarmos as praças públicas veremos que elas oferecem poucas oportunidades às crianças, geralmente vemos um tanque cheio de areia sendo a única motivação o único convite que as cidades fazem à comunidade infantil. Chegamos à conclusão de que praças são espaços completos e projetados com a mesma ótica e visão funcional que se faz um estacionamento público, um calçadão ou um shopping-center, favorecendo sempre a ótica adulta (CABRAL, 1996).

2.4.3 BRINCADEIRAS LÚDICAS INFANTIS

O espaço urbano, pois, precisa constituir-se de elementos que não expulsem ou gerem a destruição dos ambientes livres e teatrais, palcos de vivências e diversidades. A cidade hoje tem sido palco de disciplina social: há pouco ou nenhum espaço para o império do faz-de-conta (CABRAL, 1996). Portanto, é de suma importância garantir que a ludicidade esteja presente nas idas e vindas cotidianas do público infantil e também adulto, pois,

Diante de todas essas considerações, concluímos que é na brincadeira que se vive o lúdico, Tânia Pinto (2001), afirma que: "Você pode aprender mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que em uma vida inteira de conversação", isso porquê a brincadeira pode revelar sentimentos, comportamentos e verdades do ser humano que dificilmente seriam demonstrados num diálogo. Assim, a vivência da ludicidade assume um grande papel na vida da sociedade, capaz de estimular sensações, e liberar sentimentos únicos e inovadores.

A brincadeira é uma atividade que pode ser tanto coletiva quanto individual. Na brincadeira a existência das regras não é fator limitador da ação lúdica; a criança pode modifica-las, ausentar-se quando desejar, incluir novos membros, modificar as próprias regras; enfim, existe maior liberdade na ação lúdica da criança (ALMEIDA, 2012, p.104) Assim como ter uma boa alimentação, ensino de qualidade, moradia descente e atendimento médico adequado são importantes para o desenvolvimento infantil, o ato de brincar é também um elemento fundamental. Juridicamente o Artigo 16 do Estatuto de Criança e do Adolescente (ECA, 1990) dispõe sobre o direito e à liberdade de brincar, praticar esportes e 45


2.0 TEMÁTICA divertir-se. Durante a primeira infância a criança é movida pelo puro movimento, durante seu desenvolvimento necessita estar em constante ação. Uma possível definição sobre o conceito de brincar, de acordo com Kishimoto (1996), é que este se caracteriza como um comportamento que possui um fim em si mesmo, que surge livre, sem noção de obrigatoriedade e exerce-se pelo simples prazer que a criança tem de colocá-lo em prática. Gosso (2004), evidencia que as crianças em suas brincadeiras representam atividades representadas pelos adultos, desse modo a cultura na qual a criança se insere modifica seus modos de brincar. Para as crianças, brincar é uma importante forma de comunicação, que se desenvolve desde o momento de seu nascimento no âmbito familiar (Kishimoto, 2002, p. 139). Inicialmente a brincadeira não tem fim educativo ou aprendizagem pré-definido, é com o decorrer dos anos, que esse ato torna a criança capaz de refletir seu cotidiano em um mundo de fantasia e imaginação. Segundo Fantacholi ([s/d], p.3) o ato facilita o processo da aprendizagem da criança, pois ele auxilia na construção da reflexão, autonomia e criatividade. Ainda, são um potente veículo de aprendizagem experiencial, uma vez que, através do lúdico a criança vivencia a brincadeira como processo social. Cabe destacar que brincar e brinquedo possuem significados opostos, porém complementares. Podemos classificar o brinquedo como objeto destinado a divertir uma criança, suporte da brincadeira, seja ela livre ou estimulada por um adulto (SILVA, 2005). Entretanto há um equívoco gerado pelos adultos, em 46

pensar que a brincadeira só pode ser constituída pela presença de um brinquedo, Segundo Benjamin (1984): [...] a criança quer puxar alguma coisa, torna-se cavalo, quer brincar com areia e torna-se padeiro, quer esconder-se, torna-se ladrão ou guarda e alguns instrumentos do brincar arcaico desprezam toda a máscara imaginária (na época, possivelmente vinculados a rituais): a bola, o arco, a roda de penas e o papagaio, autênticos brinquedos, tanto mais autênticos quanto menos o parecem ao adulto (BENJAMIN, 1984, p.76-77).

Para o autor, quando a criança brinca ela utiliza de elementos heterogêneos (pedra, areia, madeira e papel). Ela tem a capacidade de realizar construções sofisticadas da realidade desenvolvendo seu potencial criativo. Assim, um pedaço de madeira pode virar seu cavalo; a areia vira ingrediente principal de um bolo; cadeiras se transformam em trem onde a própria criança se torna o condutor, imitando um adulto. Portanto, brincar ao ar livre na natureza estimula demasiadamente seu processo criativo. Observamos então que é pulando, correndo, caindo e se machucando que os pequenos constroem seu cenário sobre o que é o mundo. Entretanto, de alguma forma o adulto está trazendo às crianças obrigações pertinentes a si como sentar-se e se concentrar em algum afazer capaz de acrescentar poder ao seu intelecto. Entretanto, a criança não é uma folha em branco que deve ser escrita por nós, é necessário compreender que ela não se resume apenas em um ser que deve ser capacitado para a vida adulta, ela transcende esse elemento e atinge uma outra dimensão da vida (ANTÔNIO, Severino, 2019).


SINTO MUITO MAMÃE! TEMOS AINDA UMA HORA DE JOGO NÃO POSSO FAZER O DEVER DE CASA AGORA

2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

2.4.4 A IMPORTÂNCIA DE BRINCAR AO AR LIVRE Nenhuma tela de computador vai ter uma suave brisa de verão, isso é impossível! O aroma da primavera não vai imergir da tela. Nenhum toque que realmente emocione virá de representações artificiais do mundo, aprender no mundo real é primordial para uma experiência positiva e formativa. (CAVOUKIAN, 2019) É muito importante para a criança estar junto à natureza, para um desenvolvimento saudável, para sua tranquilidade e para obtenção de sua paz de espírito. Há muitos estudos que mostram que todos nos beneficiamos ao passar um tempo fora de espaços emparedados e distantes de dispositivos eletrônicos. Para uma criança, é um presente quando os pais as levam ao parque, ou a ambientes naturais. Àquelas que possuem contato com a natureza, se encontram em um habitat do brincar vivo, nos objetos naturais sente sua relação mais próxima de elementos não estáticos, mas sim orgânicos. Um conceito que direciona as reflexões é o da Biofilia, concebida como uma condição humana que faz as pessoas se sentirem afiliadas à natureza e que induz à busca de relação com os demais seres vivos e processos naturais (Wilson, 1984), a condição biofílica de todos os humanos, especialmente das crianças se estabelece como aspecto fundamental para seu pleno desenvolvimento enraizado em suas origens e correlacionado com outros seres vivos e sistemas vivos (Kellert, 1993). Entendendo que “[...] a natureza palpita dentro de cada ser humano como íntimo sentimento de vida” (CHAUÍ, 1978, p. 16), consideramos que o desejo de estar ao ar livre é inerente a todas as crianças principalmente as que se encontram nas idades Figura 26 - Criança reinvidicando seu direito de brincar Fonte: TONUCCI, 2002 (adaptado pela autora)

47


2.0 TEMÁTICA de 0 aos 6 anos, brincar em espaços naturais, para elas, é muito mais prazeroso e divertido. Historicamente, a vida infantil foi se contrapondo à vida adulta devido a capacidade e facilidade que a criança tem de brincar e de imaginar, enquanto o adulto afasta-se cada vez mais do ato de brincar devido a demasiada importância dada ao trabalho e afazeres diários. Entretanto, a ausência das brincadeiras na vida de um adulto não é pertinente apenas a ele, sua correria diária e acúmulo de atividades afeta diretamente a vida do público infantil. É de saber coletivo que até o final do século XX a rua era o espaço de socialização e brincadeira por excelência, tanto de crianças como de adultos. Entretanto com o crescimento das cidades e consequente barramento das atividades na rua, tornou-se necessário a criação de espaços exclusivos ao lazer infantil como parques, praças etc. Porém, o uso dos mesmos pela polução de modo geral, vem sendo esquecidos. Em consequência as crianças se ausentam da cidade, prejudicando sua vivência com o espaço urbano e com a natureza. Por não considerarem o brincar ao ar livre como um ato importante, muitos pais negligenciam a ação na vida de seus filhos e acabam por resumir suas as brincadeiras diárias a espaços emparedados e ao uso de dispositivos eletrônicos. Entretanto, a criança lê a natureza, esse ambiente é uma instrução para ela. Os pequenos adoram se encontrar em contextos onde podem experimentar sua liberdade. Para elas, isso é o legal da brincadeira: aprender e inventar (KUHL, 2018). Ao unir elementos 48

nunca explorados antes, como construir uma casinha na areia, a mente da criança se torna totalmente aberta, deixando de ser roteirizada com os brinquedos adquiridos nas lojas. Seria bom se os adultos se lembrassem de como era ser criança a 30 ou 40 anos atrás, fazendo livres associações a contextos de exploração de coisas novas. Ser livre é extremamente saudável e elemento constituinte de uma criança. Saul Cypel, professor pediatra da Universidade de São Paulo (USP, 2018) declara que atualmente, não se joga mais bola na rua, não se fazem programas para conhecer a natureza. Então a criança acha que a água surge da torneira, isso porque ela não viu um rio, não viu uma cachoeira. Portanto, ela desconhece a origem dos elementos que compõe a vida humana e isso é prejudicial ao seu desenvolvimento, pois ela passa a desvalorizar itens essenciais para subsistência da humanidade. Cabe destacar que 84% da população brasileira habita em cidades, sendo assim estabelecer uma relação entre a criança e a natureza tem sido cada vez mais desafiador, entretanto de extrema importância. Portanto oferecer espaços ao ar livre de qualidade se mostra essencial diante do cenário encontrado na contemporaneidade.


Brincar ao ar livre em um ambiente natural, pode trazer melhoras para a força motora, equilíbrio e coordenação das crianças¹

Passar tempo em paisagens naturais pode incentivar interações sociais e integração entre os membros da família.

A exposição à natureza pode melhorar os sintomas de depressão, ansiedade e déficit de atenção associado à hiperatividade.

Atividades ao ar livre podem reduzir a tristeza, a raiva e a fadiga, melhorar a atenção e demais funções cognitivas e previnir o estresse tóxico da infância.

2.0 TEMÁTICA TEMÁTICA 2.0

Brincar ao ar livre em um ambiente natural, pode trazer melhoras para a força motora, equilíbrio e coordenação das crianças.

Passar tempo ao ar livre está associado com o aperfeiçoamento da visão à distância.

Tempo para brincar na natureza pode contribuir para o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e educacional das crianças.

Exposição regular ao verde e à luz natural pode aumentar os níveis de Vitamina D e ajudar diabéticos a alcançarem níveis saudáveis de glicose no sangue.

Figura 27: Benefícios do contato com a natureza Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, Manual de Orientação: Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes, 2019 (adaptado pela autora)

49


LEITURA DO TERRITÓRIO 50


Figura 28: Desenho em linha contĂ­nua de 2 meninos caminhando Fonte: PNGTREE


3.1 O MUNICÍPIO DE CAMPINAS MAPA 1

BRASIL

O local escolhido para inserção da proposta projetual é a cidade Campinas, um município brasileiro localizado na região sudeste do país, no interior do Estado de São Paulo.

Sem escala

Fonte: elaborado pelo autor

N

MAPA 2

estado de sp Sem escala

N Fonte: elaborado pelo autor

MAPA 3

campinas

Sem escala

área de estudo N

52

Fonte: elaborado pelo autor

O município é o maior dentre sua região Metropolitana, tanto em expansão territorial quanto em habitantes. De acordo com a Fundação Seade (2010), o município ocupa a 13ª posição no PIB nacional, com um total de R$ 36,6 bilhões, superior à 73,7% em relação à média nacional. Dentro do Estado, Campinas possui PIB inferior apenas à capital. O Plano Municipal de Habitação aponta que “o crescimento de setores de serviços e comércio tem contribuído para dinamizar o setor imobiliário reforçando o papel (de Campinas) de pólo regional”. O município conta ao todo com cerca de 1.204.073 habitantes (IBGE, 2019), sendo uma cidade bem adensada com 1.497,11 habitantes por quilômetro quadrado, ocupando o terceiro lugar no ranking de municípios mais populosos

de São Paulo³ . Sua urbanização é caracterizada pelo espraiamento, impulsionado pelo Estado, através da CoHab e pela Secretaria de Habitação, por meio da refuncionalização de áreas rurais em áreas urbanas, expansão do perímetro urbano e implantação de loteamentos dentro deste (FONSECA, 2014). A região Sul concentra boa parte dos assentamentos precários do município. São poucos os estudos e projetos destinados à população residente dos bairros periféricos, ficando estes à mercê do Estado no que diz respeito à habitação, educação, segurança e lazer, sendo este último precário em todo o município.


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

3.0 MACROESCALA

PROCESSO DE PERIFERIZAÇÃO EM CAMPINAS O processo de urbanização da cidade de Campinas se deu de maneira desordenada, sofrendo com os reflexos de uma urbanização desenfreada que por consequência gerou crescimento econômico desigual e segregação socioespacial dentro de seu território. Ao analisarmos a espacialização de infraestrutura na cidade, observase uma distribuição desigual de serviços urbanos e ainda, pode-se pontuar áreas com focos de vulnerabilidade social, concentradas em suas periferias. Durante os anos de 1945 a 1957, já era expressivo o número de cortiços dentro do centro da cidade, elemento mal visto pelo poder público que auxiliou o processo de exclusão da parte assalariada dos núcleos urbanos, que sem opções dentro do centro passaram a procurar opções mais baratas de moradias na cidade. Nesse momento as iniciativas privadas, surgem como solução à problemática dessa população, que por sua vez eram capazes de adquirir lotes em áreas periféricas pois estes não continham intervenção direta do poder público, mas que, entretanto, não possuía infraestrutura necessária para implantação dos loteamentos. Desse modo, a década de 1950 se sobressai pelo elevado número de loteamentos que circuncidaram as novas malhas viárias de Campinas. É o caso da pavimentação da Rodovia Anhanguera em 1948, que acarretou a instalação de indústrias mecânicas e o consequente adensamento da ocupação das terras no seu entorno (BERNARDO, 2002). O processo de periferização de Campinas, foi então condicionado sobretudo por especuladores imobiliários, que se vincularam com a promoção de grandes loteamentos privados distantes do centro

mapa 4 loteamentos aprovados Anteriores a 1950 De 1950 a 1959 De 1960 a 1969 De 1970 a 1979 De 1980 a 1992 De 1993 a 2005 Fonte: SEPLAMA

53


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 urbano. Na década de 50, grande parte dos lotes foram liberados sem a implementação de infraestrutura completa, vendidos por valores abaixo do mercado e adquiridos por proprietários que almejavam uma futura valorização imobiliária, entretanto na maioria dos casos a valorização não aconteceu, acarretando futuramente em ocupações irregulares nos lotes desocupados (FERNANDES, 2003). Frente a isso, o processo de formação das periferias da cidade passa a acontecer entre os anos de 1950 e 1964 e é marcado pela presença de loteamentos irregulares. As primeiras periferias da cidade datam em 1964, neste período surgem as primeiras favelas do município, ocupando áreas públicas e de lazer dos loteamentos centrais (BAENINGER, 1992) e inclusive os lotes irregulares vazios vendidos pelas iniciativas privadas. No período demarcado entre os anos 1970 até 1990, acontece o segundo período de periferização. Em meados da década de 70 a cidade de Campinas se deparou com um intenso processo de crescimento demográfico, urbano e econômico. Mestre (2009, p.5) ressalta, “Na medida em que a cidade infla populacionalmente também apresenta elementos da sua implosão. A ocupação urbana em Campinas-SP se deu fora da malha consolidada e de forma segregada”. Ainda, durante este mesmo período, Campinas se torna a terceira maior praça bancária do país (SEMEGUINI, 1991). É a partir da década de 70 que a população residente nas favelas crescem de maneira acelerada, de acordo com BAENINGER (1992) essa população era de 3.000 pessoas em 600 barracos em 1971, e passa a ser em torno de 40 mil pessoas em 8.700 barracos, no início de 1980; esse número chega a quase 70.000 pessoas em

54

1990 (MESTRE, 2009, p.23) A década de 1980 foi marcada pela concentração de ocupações no sudoeste da cidade, o que caracterizou a região como moradia de famílias pobres, virou inclusive foco de conjuntos habitacionais produzidos pela COHAB, como é o caso dos DIC’s. A partir de 1990 começa o processo de formação da terceira periferia. Entre 1995 e 1996 há um aumento significativo do número de ocupações na cidade. Fernandes (2003) denomina como ocupações sugeridas, e descreve o surgimento de uma ocupação seguida da outra. Os loteamentos irregulares implantados na década de 50, mas não ocupados, também são invadidos nesse período, ocorre então uma sobreposição de ilegalidades na história da cidade. De acordo com o IBGE (2006), entre os anos de 1991 e 1996 foram incrementadas 25 mil novas pessoas nas favelas, enquanto o aumento populacional na cidade no mesmo período foi no total de 32 mil pessoas. Logo, pode-se concluir que 75% da população acrescida na cidade durante esse período é composta por uma população carente, em grande parte desprovida de moradia regular. A partir do ano de 2000, caem as ações de ocupações irregulares em Campinas e o município começa a enfrentar questões habitacionais com referência nas ocupações irregulares já existentes. Desde 2006, iniciou-se o processo de regularização das maiores e mais recentes ocupações do município: a região do parque Oziel e a região do Campo Belo, sendo a segunda o foco de estudos deste trabalho.


ATUAIS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM CAMPINAS

mapa 5 Ocupações Favelas Lotes Irregulares

ÁREA DE ESTUDO: REGIÃO DO CAMPO BELO

Área Urbana Limite Municipal Hidrografia

Fonte: Base cartográfica desenvolvida na Projeção UTM/23S, Datum SIRGAS 2000. Elaboração realizada pela equipe FUPAM a partir de dados fornecidos pela Prefeitura Municipal de Campinas, adaptado pela autora

55


3.2 MACROESCALA

SA NT OS

DU

MO NT

DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS AV EN IDA

A REGIÃO DO CAMPO BELO A região do Campo Belo é uma das mais recentes e maiores ocupações urbanas, ocorrente na década de 90. Ela está localizada na Macrozona 7 da cidade, e situa-se à margem da Rodovia Santos Dumont, na ligação entre Campinas e Indaiatuba.

DU

MO NT

AEROPORTO INTERNACIONAL DE VIRACOPOS

AV EN IDA

SA NT OS

A competição por subsídios com o Aeroporto Internacional Viracopos, faz da região um espaço urbano que abriga modernizações, porém incapaz de corresponder às necessidades da imensa população carente, reproduzindo uma constante pobreza estrutural (SANTOS, 2000).

AEROPORTO INTERNACIONAL DE VIRACOPOS

1 11

10

DO A VI

13

EN

11

7

RO

RO

M

DO A VI

13

IG UE

EN

G

Delimitação da área de estudos

RO

15

17

Escala: 1:25 000

M EL

EI H

16

OD R18

L

6

EN

14

mapa 6

8

OV

I

I AL

M

HA D7O

IG UE

HA UN C A XD

DO RO

V IA

LI

5

3

9

EI H

12

18

2

10

15

17

56

1

8

EN

16

Atualmente, a região é composta por 18 bairros, sendo eles:

4

G

14

5

3

9

RO

12

2

L

M EL

4

6 HA D

O

HA UN C A XD

Principais Estradas e Rodovias Delimitação Geográfica dos Bairros Fonte: Mapa desenvolvido pela autora

1. Jardim São João

07. Jardim Marisa

1. Jd. Puccamp

2. Jardim Campo Belo

08. Jd. Campo Belo III

2. Jd. Dom Gilberto

3. Chácaras Descampado

09. Jd. Campo Belo II

3. Jd. Itaguaçu

4 . Vila Palmeiras I

10. Cidade Singer

4 . Jd. Sta. Maria

5. Vila Palmeiras II

11. Jardim Columbia

5. Cidade Fernanda

6. Jardim São Domingos

12. Jardim São Jorge

6. Jd. Itaguaçu II

Através de levantamentos e análises da Região do Campo Belo, buscamos compreender o território e suas particularidades, de modo que possamos distinguir suas características, e assim, formar os setores principais que abrangem os bairros da área, levando em consideração os atributos físicos e morfológicos de cada uma. Ao todo, o recorte foi dividido em 12 subáreas menores, distintas minuciosamente umas das outras. Por fim, chegamos a 4 setores principais, definidos a partir da similaridade de cada subárea, em relação. São eles: Setor A; Setor B; Setor C; Setor D, demonstrados no mapa ao lado.


ZONA A

Neste setor, todas as ruas dessas áreas são pavimentadas e largas. As residências em sua maioria respeitam os recuos mínimos exigidos e é possível identificar casas com fachadas revestidas e com acabamento. Há também a presença de algumas áreas vazias.

ZONA D

ZONA C

Aqui encontramos áreas de urbanização mediana, com ruas são largas e pavimentadas e a presença de estradas de terra, com locais onde não é possível diferenciar a rua da calçada. A área também é marcada por aglomerações de residências que não respeitam os recuos mínimos e pela falta de arborização.

ZONA B

ÁREA DE ESTUDO E SUA SETORIZAÇÃO

Este setor é marcado pela urbanização precária e com edifi cações caracterizadas pela autoconstrução. Grande parte das mesmas não possuem acabamento, sendo que algumas estão em fase de reforma/ construção. Somente as vias principais são pavimentadas, as demais não são asfaltadas, o que dificulta a mobilidade. Aqui encontramos regiões com grandes vazios urbanos, que de diferem por seus usos, onde há a presença de fazendas, chácaras, áreas de APP e grandes glebas desocupadas que margeiam a Rodovia Santos Dumond. Este setor também engloba o Aeroporto Internacional de Viracopos e sua área de expansão.

mapa 7

Escala: 1:25 000

Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

57


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

HISTÓRICO DA ÁREA O início da ocupação da região do Jardim Campo Belo, acompanhou o primeiro processo de periferização da cidade de Campinas. Na década de 1950 foram aprovados os primeiros loteamentos da região, oriundos do interesse privado na área. Entretanto acompanhando esse processo, foi construída a primeira pista para jatos maiores na área do Aeroporto (MENDES, 2012).

maneira irregular (MENDES, 2012). Cabe ressaltar, que a maioria dos lotes invadidos provinham dos loteamentos outrora aprovados, só que, entretanto, sem a infraestrutura necessária para comportar o número de pessoas residentes. Desse modo, a ocupação foi realizada de modo irregular e desorganizada, sem obedecer a uma malha urbana definida e sem acesso a infraestrutura básica, como redes de saneamento.

Na década de 60, poucos lotes da região foram ocupados, cabe ressaltar que apesar de aprovados, os loteamentos não possuíam infraestrutura adequada e se localiza cerca de 15 km da região da cidade, obstruindo o interesse de possíveis compradores e moradores para a área. Em contrapartida, na mesma década a área com as atividades aéreas ganham o título de Aeroporto Internacional (MENDES, 2012). Dez anos depois, na década de 70, o interesse público do Estado declara interesse na região do Campo Belo para ampliação do Aeroporto.

A ocupação permaneceu abandonada por parte do poder público até o ano de 2006, quando entrou-se em discussão a possibilidade da área ser utilizada como parte de expansão do aerporto, fator que iria desabrigar milhares de famílias residentes no local. Entretanto, a questão foi solucionada com um acordo residido em parceria com o poder governamental, municipal (Prefeito Hélio de Oliveira) e federal (Presidente Luiz Inácio Lula da Silva), junto a INFRAERO, barrando a expansão do Aeroporto para a região.

No ano de 1997 a maioria das famílias se deslocaram para a região de Área aeroportuária ganha título de Aeroporto Internacional Construção do primeiro hangar no Aeroporto de Viracopos (MENDES, 2012)

1930 Utilização da área do Aeroporto de Viracopos para atividades aéreas(MENDES, 2012)

Densa quantidade de ocupação irregular na área

1960

1980

Situação atual: processo de regularização da área

1990

1948

1940

1950

1960

1970

1980

1970 1950

1960

Início das ocupações irregulares

Aprovação dos primeiros loteamentos 1952 - Jd. São João, Jd. São Domingos respectivamente com 265 e 1.623 lotes aprovados 1953 - Jd. Campo Belo I com 446 lotes aprovados 1955 - Jd. Campo Belo II, Vila Palmeira II, Jd. Itaguaçu I, com respectivamente 986 , 488,1.425 lotes aprovados 1956 - Cidade Singer; Jd. Sta. Maria; Jd. Cidade Universitária; Jd. Itaguaçu II; Jd. Marisa; e Jd. Columbia respectivamente com lotes aprovados 1957 - Jd. Campo Belo III, 121 lotes aprovados

2000

1990

2010

2020

1997 Principal período de ocupações irregulares

2006

- Plano Diretor Municipal, estabelecendo a área como Macrozona 7 - Área de influência aeroportuária (AIA) - Acordo governamental, municipal e federal, junto a INFRAERO, barrando a expansão do aeroporto para a região Figura 29 - Linha do tempo da área de estudos

58

Fonte: Elaborado pela autora


Figura 30: Imagem da área 1996 Fonte: PUCC

CRESCIMENTO URBANO_SEGUNDO SEPLAN crescimento urbano 1996 Figura 31: Imagem da área 2000 Fonte: Google Earth

crescimento urbano 2002 Figura 32: Imagem da área 2011 Fonte: Google Earth

crescimento urbano 2011 Figura 33: Imagem da área 2018 Fonte: Google Earth

mapa 8 : manchas urbanas Escala: 1:20 000

1940 à 1950

1950 à 1960

1960 à 1970

Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

1990 à 2000

Área Urbana atual

Área Rural

crescimento urbano 2018

59


3.3 LEVANTAMENTOS URBANÍSTICOS Compreender o território é um fator de extrema importância durante o processo de elaboração projetual. É através de leituras territoriais que passamos a ter uma visão ampla e coerente acerca da área que iremos inserir nosso projeto. Portanto, com o intuito de compreender as características físicoespaciais do território aqui analisado, foram realizados uma série de levantamentos urbanos que no final, fossem capazes de demonstrar as características, problemáticas e potencialidades da área de estudos aqui analisada. A região do Campo Belo, está sendo estudada na disciplina de Projeto Integrado (PI), pertentencente ao 9º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo. Seu intuito é demontrar a leitura ampla e completa do território no qual estaremos inserindo nossos projetos finais de Gradução. Esta disciplina encontra-se sendo realizada em conjunto com um grupo de onze alunos. Durante as etapas de levantamento, os seguintes mapas foram realizados: estudo de legislação; uso e ocupação; identificação de áreas verdes; vazios urbanos; infraestrutura urbana; mobilidade urbana; mobilidade de pedestres; gabarito; mobiliário urbano; patrimônios; pontos de interesse urbano; segurança; topografia; hidrografia; e por fim cheios e vazios. No presente memorial, estarão expostos apenas o levantamentos pertinentes ao tema tratado neste caderno, afim de esclarecer questões relacionadas à vivência infantil na área. 60

Imagem 34: Situação das ruas da área analisada Fonte: Acervo da Autora


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 A partir dos levantamentos, tornou-se possível estabelecer as necessidades mais emergentes da região analisada. Com o intuito de promover o bem estar social e melhorar a qualidade de vida da população residente no local, equipamentos urbanos foram propostos nos terrenos vazios identificados na região, e uma das principais problemáticas identificadas que é a falta de qualidade de vida também será sanada através de uma proposta projetual realizada em conjunto com os integrantes do grupo de PI. As propostas projetuais individuais serão realizadas no processo de elaboração do Trabalho Final de Graduação (TFG), os temas propostos são: Maternidade Humanizada; Loteamento Sustentável; Centro Educacional Profissionalizante; Centro Comunitário de Convivência; Complexo Poliesportivo; Restaurante Escola; Centro de Atenção a Saúde Básica da Mulher; Penitenciária Feminina; e Espaços Brincantes no Espaço Urbano. Sendo assim, a seguir seguirão os levantamentos a análises pertinentes no processo de compreensão da macroescrala do território analisado.

Imagem 35: Entulhos jogados sobre as calçadas Fonte: Acervo da Autora

61


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

legislação urbanística A área estudada localiza-se na Macrozona 7, a qual compreende a zona sul e sudeste do município, abrangendo o Aeroporto de Viracopos, a Região do Campo Belo e o Jardim Nova América. A área corresponde a 9,26% do total do município, sendo ela 67% zona rural e 33% zona urbana.

mapa de macrozoneamento

favelas, ocupações, loteamentos clandestinos e irregulares na macrozona 7 Loteamentos clandestinos e irregulares

29 áreas 12.875 lotes

Favelas e Ocupações

16 áreas 2.318 lotes

mapa de zoneamento

mapa 9

mapa 10

Escala 1:75 000

Escala 1:50 000

Zona Rural Sul Zona Rural Lindeira à MZ 6

Área de ocupação rarefeita

Área com predomínio de urbanização

Indústria Singer

Zona Mista 1

Área de Urbanização precária

Área de Ampliação do Aeroporto

Zona Mista 2

Zona Rural do Entorno do Aeroporto

Distrito Aduaneiro

Zona de Atividade Economica A

Área patrimonial do Aeroporto

Loteamentos Consolidados

Zona de Atividade Economica B

Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

62

Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

LEGISLAÇÃO PARA O AEROPORTO

SITUAÇÃO ATUAL DA ÁREA

O aeroporto foi construído na década de 30 em um local que era utilizado pelos paulistas como campo de atividades aéreas durante a revolução de 1932. O primeiro hangar foi construído no ano de 1948 e a pista destinada aos jatos de grande porte em 1957. Por fi m, em 1960, recebeu o título de aeroporto Internacional, no entanto, a área vem sofrendo diversas alterações desde o ano de 1979 e sua expansão teve início apenas em 2008. A região de estudo localiza-se em uma área desvalorizada pelo mercado imobiliário, praticamente fora da malha urbana de Campinas, nas franjas do perímetro urbano e dentro do ‘cone de ruídos’ sofrendo uma grande influência do Aeroporto Viracopos.

mapa da área de expansão e proteção do aeroporto Curva de ruído

mapa 12

Área de proteção ao voo

Área patrimonial do Aeroporto Área de expansão Decreto 15.503/06 Área de expansão Decreto 15.378/06

mapa 11: manchas urbanas Escala: 1:20 000 Ocupações

Loteamentos irregulares

Lot. irregulares: vias e Lot. irregulares: vias quadras em desacordo e quadras em parcial com o projeto aprovado acordo com o projeto aprovado

Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

Lot. irregulares: vias e quadras em acordo com o projeto aprovado

Área de expansão Decreto 16.302/06

Escala XXX Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

63


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

população por raça

DADOS CENSITÁRIOS Sobre os dados censitários, para tal análise e informações foi considerado valores retirados do CENSO 2010, dessa forma foi possível encontrar valores exatos para o recorte dos setores estabelecidos para estudos. Através do gráfico à seguir é possível ver o crescimento populacional ao longo dos anos e compreender que a quantidade de população feminina e masculina quase não se difere.

INDÍGENA 0,10%

AMARELA 0,52%

PRETA 7,59%

BRANCA 40,43%

PARDA

51,36%

população POR FAIXA ETÁRIA 56027

50k

*Cálculo utilizado para a estimativa populacional, em taxa de crescimento anual:

43567

40k 30k

POPULAÇÃO PREVISTA PARA 2020

24780

{[ⁿ√(Pf/P0)]-1}*100

49,48% mulheres

20k 10226

10k 260

8000 7000

6000 4000 3000 2000 1000

1990

2000

2010

2020

(anos)

Gráfico 3 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

64

9000

5000

50,52% homens

3012 1980

O gráfico abaixo demonstra as faixas etárias dos residentes na região do Jardim Campo Belo. Pode-se perceber que a maior quantidade de pessoas possuem de 0 a 20 anos. Desse modo observa-se grande presença de crianças e adolescentes na área de estudo (população)

(população)

CRESCIMENTO POPULACIONAL

0

0a9 anos

10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 anos anos anos anos anos anos anos ou mais

Gráfico 4 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

(idade)


principais causas de morte na região 2000-2004

2,34% até 1/2 S.M.

16,85% de 1/2 à 1 S.M.

2010-2014

100

44,43% de 1 à 2 S.M.

3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

média de rendimento mensal 12,24% de 2 à 3 S.M. 6,48% de 3 à 5 S.M.

75

2,12% de 5 à 10 S.M.

0,16% de 10 à 15 S.M.

15,12% sem renda

Gráfico 5 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

beneficiados pelo bolsa família

50

Os gráficos aqui explicitados, demonstram a vulnerabilidade socioeconomica vivenciada pelos moradores da região do Jardim Campo Belo. Cabe ressaltar que mais de 50% da população residente na região vivem com aproximadamente de 1 à 2 Salários Mínimos por família, sendo que o Gráfico “Quantidade de Moradores por Residências” demonstra que a maior parte das residências possuem de 3 a 4 moradores. Conclui-se então que a maior parte das familías vivem com aproximadamente R$375,00 por pessoa.

(QTD. DE MORADORES)

10 ou mais 9 8 7 6 5 4 3 2

400

600

pneumunia

27,74% não identificado

QUANTIDADE DE MORADORES POR RESIDÊNCIAS

200

AIDS (HIV)

Gráfico 8 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

Gráfico 6 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

0

AVC

23,22% sudoeste 23,90% sul

1

agressões

13,43% norte

câncer de mama

0,31% leste

11,41% noroeste

d. isq. coração

0

acidentes de transporte

25

800 1000 1200 1400 1600 1800

Ainda, através do gráfico de principais causas de morte na região, podemos verificar que agressões são as principais causas de morte, fator que intensifica a vulnerabilidade não só economica, (QTD. DE RESIDÊNCIAS) mas também físico-social da zona.

Gráfico 7 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

65


3.4 DIAGNÓSTICOS DA ÁREA 3.4.1 segurança O mapa de diagnóstico de segurança foi elaborado com a finalidade de pontuar determinadas regiões que possuem baixa segurança e os motivos os quais interferem para que isso ocorra, como a incidência de roubos, furtos, pontos de interesse. O levantamento de criminalidade deu-se por meio de dados obtidos através da Secretária de Segurança Pública do Estado de São Paulo – SSP SP, a qual forneceu acesso aos Boletins de Ocorrência realizados nos anos de 2018 e 2019. As informações adquiridas dizem respeito aos crimes de roubo de celular, de furto de celular, de furto de veículos, de roubo de veículos e por fim, de homicídio doloso. Para a elaboração deste diagnóstico, foi necessário fazer o uso dos mapas de Hierarquia Viária, Transporte Individual, Criminalidade, Uso e Ocupação, Fluxo de Pedestres e Pontos de Interesses e percepções obtidas durante a visita ao local. Com o confronto de informações dos mapas de Hierarquia Viária, Transporte Individual e Criminalidade foi visto que algumas regiões que se destacam com os maiores índices de roubo e furto de veículos, se encontram próximas a estradas e rodovias, devido a facilidade de fuga realizada fora da rota de pedestres. Outro confronto realizado foi o do mapa de Uso e Ocupação com as percepções obtidas no local, o qual pôde destacar áreas com menores incidências de crimes, localizadas principalmente nas

66

zonas residenciais com pouco ou nenhum ponto de interesse urbano. Tal fator pode ser compreendido devido as fortes relações afetivas existentes dentre a comunidade da área, a autora Jane Jacobs em seu livro “Cidade para pessoas” (1961) já demonstrava que o vínculo afetivo entre moradores tornam as ruas mais seguras, quanto mais pessoas vivenciando a cidade, mais olhos na rua se tem. Ao confrontar os mapas de Criminalidade, Fluxo de Pedestres e Pontos de Interesses juntamente com percepções do local, observou que o roubo e furto de celulares se intensifica em regiões próximas aos pontos de interesses e áreas com maiores fluxos de pedestres, os quais recebem muitas pessoas que não são moradores locais.


Concentração de furtos e roubos de celulares_ Os pontos de interesse concentram os maiores índices de furto e roubo de celulares, devido ao grande número de usuários que muitas vezes não são moradores locais.

Maior índice de furto e roubo de veículos_ A maior incidência de roubo e furto de veículos se concentram próximos às estradas e rodovias, por serem facilitadores da fuga.

Menor índice de criminalidade_ Tais áreas são em zonas predominantemente residenciais, com poucos ou nenhum ponto de interesse urbano.

mapa 13 : diagnóstico de segurança Escala 1:20 000 Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

67


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

3.4.2 infraestrutura Através do diagnóstico de Infraestrutura foi possível observar áreas muito adensadas e em desacordo com a legislação vigente; locais com maior fluxo de pedestres; falta de acessibilidade em quase todo o território e como o crescimento desordenado da região impacta diretamente nos moradores. Para a realização deste diagnóstico foram utilizados os mapas de Fluxo de pedestre, Mobiliário, Topografia, Pontos de interesse, Infraestrutura, Uso e ocupação, Morfologia e Legislação e as percepções obtidas durante a visita ao local. Por meio do cruzamento dos mapas de Uso e ocupação, Morfologia e Legislação, foi constatado que a região conta com um grande número de autoconstruções, com residências que não respeitam os recuos mínimos; com lotes irregulares; com áreas de assentamento precário; com ruas sem pavimentação e com áreas muito adensadas devido ao crescimento desordenado, tals fatores é prejudicial à qualidade de vida da população, pois constatou-se que as residências não atendem aos recusos mínimos estabelecidos pelo código de obras do município, fator que acarreta em questões prejudiciais à saúde, devido a falta de ventilação e iluminação natural. O cruzamento dos mapas de Fluxo de pedestre, Mobiliário e Topografia mostra que o bairro possui grande fluxo de pedestres, entretanto o caminhar é dificultado devido a agravantes como ausência de calçadas; falta de acessibilidade; entulho nas ruas; falta de iluminação; ausência de mobiliário; e ruas não pavimentadas que por sua vez prejudicam o caminhar do pedestre.

68

A partir do cruzamento dos mapas de Pontos de interesse, Mobiliário, Infraestrutura e Uso e ocupação observa-se que a região possui um eixo comercial, onde ocorre alta aglomeração de pedestres; há também pontos de interesse urbano, caracterizados principalmente por escolas e mercados, que se concentram em sua maioria nas ruas pavimentadas, onde pode ser visto mobiliários urbanos em bom estado, o que favorece a concentração de usuários em tais áreas.


Mobilidade de pedestre problemática_ Pontos mais críticos onde o caminhar de pedestre é prejudicado à ausência de calçadas, acessibilidade e iluminação.

Concentração de comércio e pontos de interesse em áreas com melhor infraestrutura_ As concentrações de pontos de interesse, como comércios, locamse em vias pavimentadas e com melhor qualidade do mobiliário urbano.

Moradia precária_ O excesso de auto construções, as quais não seguem normativas técnicas, fazem com que questões de salubridade sejam prejudicadas. A mancha em questão demonstra os casos mais críticos.

mapa 14 : diagnóstico de infraestrutura Escala 1:20 000 Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

69


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

3.4.3 legislação Através do mapa de diagnóstico da legislação, é possível encontrar questões relacionadas à morfologia urbana, ocupações regulares e irregulares, espaços verdes e de permanência, zoneamento, grau de conservação do patrimônio natural e questões sobre o cone aéreo, que revelam o estado atual da região do Campo Belo e sua consolidação após tentativas de adequação mediante às normas da Prefeitura, devido à sua localização próxima ao Aeroporto Internacional Viracopos. Para a realização deste diagnóstico foram utilizados os seguintes mapas: Situação atual da área, Vegetação e áreas verdes, Uso e ocupação do solo, Gabarito, Legislação do aeroporto, Legislação Urbanística, Hidrografia e Patrimônio. O cruzamento entre os mapas de Situação atual da área, Vegetação e áreas verdes e Uso e ocupação do Solo, demonstrou que em razão da presença de muitas construções irregulares, de APPs que não estão sendo preservadas e da baixa variação se usos, predominando o uso residencial, constata-se que a região é caracterizada por áreas com morfologia irregular, fora dos padrões estabelecidos pelo código de obras e possui carência de espaços verdes e áreas de permanência. Contando ainda com ocupações localizadas dentro de áreas verdes e com usos não permitidos no zoneamento vigente (ocupações irregulares). Por meio do cruzamento dos mapas de Gabarito e Legislação do Aeroporto, foi possível identificar que as áreas localizadas dentro do cone aéreo do Aeroporto, possuem restrições quanto

70

a verticalização e a determinados usos, como escolas, centros de saúde, etc. A partir disso, analisando a forma de ocupação da região, foi visto há áreas que estão de acordo com a legislação proposta e há áreas com determinados usos que não respeitam a legislação estabelecida. Através do cruzamento entre os mapas de Legislação Urbanística, Hidrografia e Patrimônio, observou-se que a morfologia da área é irregular e não segue as recomendações do código de obras; as distâncias mínimas permitidas das construções em relação aos cursos d’água e APP’S não são respeitadas e há construções que ultrapassam os limites mínimos de proteção e invadem o patrimônio natural tombado pelo CONDEPACC. Com isso, constata-se que o patrimônio natural e as APPs não estão sendo preservados devido a presença de ocupações próximas às matas ciliares, aos patrimônios naturais e suas áreas envoltórias.


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 Área com usos em desacordo ao zoneamento_ Construções que possuem usos em desacordo ao estipulado pelo zoneamento municipal.

Potencial á verticalização de 4 à 5 pavimentos_ A localização fora do cone de ruído e/ou em localização topográfica

menos

elevada,

próxima a fundo de vales, gera potencial construtivo.

Construções em acordo ao código de obras e ao zoneamento_ Áreas que respeitam a legislação vigente

e

seus

respectivos

usos estabelecidos através do zoneamento municipal.

mapa 15 : diagnóstico de legislação Escala 1:20 000 Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

71


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

3.4.4 impactos ambientais O mapa de diagnóstico de impactos ambientais foi realizado com o intuito de analisar os temas referentes ao meio ambiente, como a hidrografia, vegetação, possíveis enchentes, deslizamentos de terra, visando identificar áreas que possam sofrer impactos negativos ou positivos em relação a sua caracterização ambiental e sua forma de ocupação pela população. Para a realização deste diagnóstico foram utilizados os seguintes mapas, obtidos a partir do levantamento de dados da região: Vegetação e áreas verdes, Morfologia urbana, Patrimônio, Hidrografia, Topografia, Infraestrutura e Uso e Ocupação. Através do cruzamento dos mapas de Vegetação e Áreas Verdes, Hidrografia e Topografia e das percepções obtidas através da visita ao local, foi observado que devido a predominância de baixas altitudes na área; à presença de lixos e entulhos nas ruas e poucas áreas permeáveis; à falta de mata ciliar, que funciona como uma barreira para possíveis catástrofes ambientais; à não preservação das APPs, devido à construções que invadem sua delimitação e; à presença de rios e córregos com obstruções, ocorre a suscetibilidade à inundações em determinados locais. O cruzamento dos mapas de Infraestrutura, Hidrografia, Uso e Ocupação e Morfologia Urbana, demonstraram que através da identificação de áreas que não possuem infraestrutura básica, como redes de água e esgoto, o que leva a população a depositar o lixos em áreas impróprias; à presença de rios e suas devidas áreas de preservação; à existência de regiões muito adensadas, levando a presença de muitas construções; ao crescimento urbano desordenado e sem planeamento, que gerou a presença

72

de lotes irregulares e; devido a ocorrência de lixos e entulhos nas calçadas, nas ruas, em terrenos vazios e perto de rios, verifica-se o comprometimento da preservação das APPs devido à falta de infraestrutura local e à existência de construções irregulares que invadem os limites das mesmas. Outro tópico identificado surgiu através do cruzamento dos mapas de Vegetação e Áreas Verdes, Morfologia Urbana, Patrimônio e Uso e Ocupação, os quais mostraram que devido à presença de habitações irregulares em áreas de patrimônio natural, surgidas devido ao crescimento urbano desordenado e sem planejamento da região; à presença de vegetação herbácea e arbustiva distribuída por todo o território; à presença de patrimônio natural composto por maciços de vegetação nativa (tombados pelo CONDEPACC), ocorre a não preservação dos patrimônios naturais e suas áreas envoltórias, prejudicando assim a vegetação nativa que, por lei, deveria ser protegida.


Áreas envoltórias do patrimônio vegetal ocupadas por construções_ O patrimônio natural, composto por maciços de vegetação nativa, conta com a presença de construções irregulares,

assim

como

em

algumas áreas envoltórias

Enchentes_ Devido a presença de baixas altitudes, de lixos nas ruas, da falta de mata ciliar e da não preservação das APP’s, há suscetibilidade de inundações.

APP não preservada_ Devido à falta de infraestrutura básica e do crescimento desordenado, APPs estão comprometidas, sobretudo pelo

avanço

de

construções

em áreas irregulares e falta de preservação.

mapa 16 : diagnóstico de impactos ambienaitais Escala 1:20 000 Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na matéria de Projeto Integrado

73


3.5 DADOS INFANTIS DA REGIÃO DO CAMPO BELO Como demonstrado nos levantamentos e dados acima, a região do Campo Belo situa-se em uma área periférica, desse modo encontra-se suscetível a obter moradores que estejam em estado de vulnerabilidade social. De acordo com o CENSO de 2010, a cidade de Campinas contém ao todo 220.499 pessoas em estado de vulnerabilidade social, cerca de 20,4 % da população da cidade. Particulamente preocupantes são os dados que revelam a faixa etária dessa população, no gráfico X podemos observar que dentre a população de 0 a 14 anos os percentuais que indicam a população vulnerável oscilam entre 27,8% e 28,5%, ou seja, mais de um quarto de todos os jovens na cidade nesta faixa etária se encontram em situação de vulnerabilidade.

estimativa por idade de pessoas em situação vulnerável 0 a 3 anos 4 a 5 anos

12,0%

27,8%

17,7%

6 a 14 anos 15 a 24 anos

28,2%

21,5%

25 a 29 anos 60 anos ou mais

28,5%

Gráfico 9 Porcentagem em relação a população total de Campinas por faixa etária; Fonte: IBGE 2010 *População total de Campinas (2010) 1.080.113; Adaptado pelo autor

74

número de notificações de vioLência por região SUL NORTE NORDESTE NOROESTE LESTE 0

100

200

300

400

500

Gráfico 10 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

O gráfico apresenta o número de notificações de violência por região no município de Campinas, datada no ano de 2015. Através dos dados podemos verificar que a região Sul conta com o maior número de notificações, nela localiza-se a região do Campo Belo. Tal fato intensifica cuidados, pois estamos atuando em uma das áreas consideradas mais perigosas da cidade. Os cuidades devem ser intensificados ainda, porque as comunidades em que as crianças crescem podem ter um efeito profundo nos adultos em que elas se tornarão, uma vez que a exposição à violência comunitária impacta diretamente o modo de agir, pensar e sentir das crianças que a vivencia (GUERRA & DIERKHISING, 2011)


número de notificações de violência de acordo com a faixa etária da vítima na região 180

uma vez que a infância vivenciada em locais violentos pode ser prejudicada. Ainda, crianças que experimentam violência são mais propensas a serem apanhadas em um ciclo de violência que leva a um futuro comportamento violento, incluindo agressão, violência, deliquência, crime violento e abuso infantil (Dodge, K. A., Bates, J. E., & Pettit, G. S., 1990).

número de adolescentes cumprindo medidas socioeducativas (mse) por região

160 140 120

140

100

120

80

100 80

74

162

58

61

83

60 60 ou +

30 a 59 anos

18 a 29 anos

15 a 17 anos

0

6 a 14 anos

20

0 a 5 anos

60 40

3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

É de extrema importância ter o número de notifiacações por idade, pois com esse dado é possível identificar o público para o qual há necessidade de mais ações nas diversas políticas públicas.

42

40 20

PLC

0

LA LESTE

NOROESTE

NORTE

SUDOESTE

SUL

Gráfico 11 Fonte dos dados: SMS e Vigilância Socioassistencial, 2015, adaptado pelo Autor

Gráfico 12 Fonte dos dados: CSAC, dez. 2015, adaptado pelo autor

A região, conta com valores elevados de notificações de violência para a população de 6 a 14 anos e de 0 a 5 também, desse modo observamos que a região possui um alto índice de violência contra a criança.

O gráfico acima demonstra que a região Sul também abriga os maiores índices de adolescentes que já se envolveram com atos criminosos e encontram-se cumprindo medidas socioeducativas, com prestações de serviço à comunidade (PLC) ou liberdade assistida (LA).

Analisando estes dados podemos concluir que estamos trabalhando em uma região cujo índice de criminalidade é elevado, inclusive no universo infantil, tornando ainda mais necessária a atenção com as crianças que residem na região,

75


criminalidade x áreas de lazer da região 1

2

5

3

4

7 6

8

mapa 17 : crimes registrados com boletins de ocorrência em 2018 e 2019 Latrocínio

Roubo de Veículos

Roubo de Celulares

Furto de Veículos

Homicídio Doloso

Furto de Celulares

1 CASO

74 CASOS

110 CASOS

41 CASOS

19 CASOS

57 CASOS

Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, 2020.

76

Escala 1:20 000


áreas públicas x segurança Imagem 36: Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol Fonte: Google Earth

3

Imagem 37: Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol Fonte: Google Earth

4

3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

2

1

Aprender na cidade, através da própria cidade e sua relação com pessoas é fundamental para o desenvolvimento de uma criança. Entretanto, para tal é necessário que o espaço urbano ofereça equipamentos e ambientes que promovam a qualidade de vida de seus habitantes, como áreas de qualidade que estimulem o brincar livre, lúdico e espontâneo infantil. Em discussões sobre indicadores de qualidade de vida, o lazer ganha destaque. Os sistemas de espaços livres públicos têm “grande parcela de responsabilidade em fornecer opções de recreação ao ar livre nas cidades” (NUCCI, 2001, p. 82-83).

Imagem 38 Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol Fonte: Google Earth

5

Imagem 40: Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol Fonte: Google Earth

7

Imagem 39: Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol e equipamentos de exercício Fonte: Google Earth

6

Imagem 41: Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol Fonte: Google Earth

8

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é recomendado que tenha no mínimo 12m² de área verde por habitante, entretanto o que observamos na região do Campo Belo é uma ausência exorbitante de espaços públicos verdes destinados ao lazer, principalmente do público infantil. Ainda, em ambito nacional, o artigo 217 da Constituição Federal de 1988, em seu terceiro parágrafo diz que: “ O poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social” (BRASIL, 1988). Entretanto, ao analisarmos a área de estudos veremos que ela não se enquadra nas diretrizes estabelecidas na constituição. Cabe destacar que estamos lidando com uma região que possui um número elevado de crianças e adolescentes, podemos evidenciar que 37,45% do público total que reside na área possui até 19 anos, os outros 62,04% dizem respeito à população de 70 anos ou mais (SMS E Vigilância Socioassistencial, 2015). No total aponta-se que 16.679 crianças e adolescentes residam no local, entretanto existem apenas 8 espaços destinados ao lazer

Imagem 42: Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol Fonte: Google Earth

Imagem 43: Ponto de lazer da comunidade local, campinho de futebol Fonte: Google Earth

77


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

infantil e diversão de toda essa população. Podemos estimar então, que há 1 espaço de lazer como campinhos de futebol para cada 2.084 crianças. Através do Mapa: Criminalidades x Áreas de Lazer, podemos identificar a localização de cada ponto destinado ao lazer existentes na área. Verifica-se que são majoritariamente campinhos de futebol, a opção de praças como elemento público é quase nula. Quanto à qualidade desses espaços destacamos de modo geral: a ausência de vegetação arbórea; acúmulo de lixo; falta de iluminação urbana; falta de equipamentos de lazer como brinquedos ou aparelhos de ginástica. Um ponto crucial da análise, é de que os pontos de lazer aqui apontados, são fontes de concentração d altos índices de crimes, sendo eles: furto e roubo de celulares e veículos; latrocínio; e homicídio doloso. Na tentativa de compreender a concentração de crimes nestes espaços, podemos associar as ocorrências à má qualidade e manutenção desses locais, que encontram-se em condições que incidem diretamente na queda de qualidade, na perda de suas funções, e as caracterizam como espaços que, em potencial, podem oferecer riscos de uso para os seus frequentadores. Em virtude da pouca arborização, da falta de manutenção, dos precários serviços de limpeza e de iluminação, acaba por ser estimulado o uso inadequado do espaço como pontos de tráfico de drogas e afins. Isso porque, espaços públicos degradados e mal preservados tendem a ser menos utilizados pela população e acabam por assumir “outras funções” que propiciem ou auxiliem no processo de disseminação da violência urbana.

78

Tal fator é comprovado ao observarmos o ponto de lazer 4 demonstrado no mapa: Criminalidades x Áreas de Lazer. Dentre os espaços públicos analisados ele é o que se encontra em melhor estado de preservação. Possui iluminação noturna, equipamentos para lazer e ginástica e ainda conta com espaços arborizados e mobiliários de qualidade. Quando observamos os registros de crimes no redor do espaço vemos que é quase inexistente. Sendo assim, é de extrema importância propiciar espaços de qualidade para as crianças poderem recrear-se e brincar. Pois, a violência demonstrada nos campos esportivos existentes, não barram a presença de crianças nos locais, uma vez que brincar é inerente ao público infantil. A carência de atividades de diversão na comunidade é explorada pelo tráfico, que muitas vezes assume papel principal no contexto urbano, deixado em aberto pelo poder público, constituindo referência para os jovens e crianças. Porém, ao associarmos a falta de áreas de lazer infantil, aos dados de criminalidade aqui apresentados, pode-se concluir que a infância vivenciada na área encontra-se conturbada, uma vez que ao frequentar espaços violentos em conjunto com a pobreza de oportunidades de inserção social aos jovens, sobretudo precária oferta de serviços de lazer e ocupação do tempo livre de forma considerada socialmente construtiva, pode ser um estopim para a inserção da criança e adolescente no mundo do crime (ADORNO, BORDINI & LIMA, 1999).


3.5.2 VULNERABILIDADE INFANTIL NA REGIÃO

O

AUSÊNCIA DE ESPAÇOS VOLTADOS À CULTURA

R CENT

O

BR IG

C

A

A

CAS

ENVOLVIMENTO COM O CRIME Alto número de crianças e adolescentes da região cumprindo medidas socioeducativas

AL

61,25% de toda violência cometida na região é contra crianças de 0 a 14 anos

Devido à vulnerabilidade vivênciada pelas crianças na área de estudo, é de suma importância a inserção de alguns equipamentos públicos capazes de oferecer suporte às problemáticas vivenciadas pela população infantil:

U LT UR

VIOLÊNCIA INFANTIL

1 área de lazer pública para cada 2.084 crianças

ALTO ÍNDICE DE CRIMINALIDADE EM ÁREAS DE LAZER INFANTIL Contato das crianças e adolescentes com o “mundo do crime”

ORT

SP

lúd

ue

AUSÊNCIA E MÁ QUALIDADE DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER

pa r q

proposta projetual a ser explorada

IVO

A área não possui nenhum equipamento de cultura

ico

C

O ENTR

E

Infográfico 1: Projetos que auxiliarão na redução da vulnerabilidade infantil da região Fonte: Elaborado pelo autor

O trabalho aqui apresentado irá se aprofundar em questionar a qualidade dos espaços públicos urbanos para brincar, e propor estratégicas projetuais afim de proporcionar mais qualidade de vida principalmente às crianças da região do Campo Belo.

Infográfico X: Causas de vulnerabilidade infantil na região do Campo Belo Fonte: Elaborado pelo autor

79


A seleção da área é justificada através de parâmetros que envolvem: a quantidade de crianças no local, índices de criminalidade, ausência de espaços públicos de qualidade e também o vínculo afetivo que as crianças residentes possuem com os moradores locais. Os bairro selecionados para análise foram: Jardim Campo Belo I, e II e Jardim São João. Os três bairros possuem características semelhantes entre si, porém há distinções que serão demonstradas a seguir, um breve exemplo é a concentração de crimes e disponibilidade de áreas de lazer variantes dependendo do setor. Ainda, objetivando selecionar um local ideal para inserir a proposta projetual, subdividimos o recorte principal em 3 subáreas . A criação dos setores tornou-se necessária pois, através da sub-divisão de áreas poderemos reconhecer particularidades territoriais, e estabelecer critérios urbanísticos coerentes capazes de efetivar o êxito projetual. 80

SETOR B

Todavia, objetivando aprofundar os estudos urbanísticos com questões relacionadas ao público infantil e aos espaços que eles frequentam, foi estabelecida uma micro-escala de recorte, na qual abrange critérios essenciais para implantação da proposta projetual.

SETOR C

Através dos levantamentos e diagnósticos realizados em toda a região do Campo Belo, tornou-se possível compreender o território e suas particularidades. Identificamos que a ausência de espaços de lazer infantis na área contribui com o processo de crescimento da vulnerabilidade infantil no local.

SETOR A

3.6 MICROESCALA Aqui, podemos encontrar maior concentração de crimes próximos às áreas de recreação infantil, que encontram-se degradadas e em mal estado de conservação. Ainda, o Setor A não possui rede de saneamento em grande parte do seu território. A maioria das vias não são asfaltadas e as residências são auto contruidas sendo a maioria delas sem recuos frontal e lateral. Este setor está localizado mais próximo à rodovia José Melhado de Campos, desse modo o fluxo no local se da principalmente por pessoas que trafegam em direção ao eixo comercial existente nas margens da rodovia. Ele não possui nenhuma área de lazer infantil, porém é melhor atendida por redes de saneamento. A morfologia das casas nessa área seguem um padrão, sendo na maioria dos casos quadras curtas. Essa área é a melhor contemplada com a rede de transporte público. Este setor é marcado pela presença de ocupações irregulares que margeiam uma APP. As residências também são em maioria auto construída, a tipologia das edificações são em maioria residenciais, podendo ser observado pouca quantidade de comércios e serviços locais. A área não possui espaços verdes de recreação infantil.


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

área de intervenção projetual (microescala) mapa 18: recorte e setorização Escala 1:10 000

SETOR A

SETOR C

SETOR B

Fonte: mapa desenvolvido pelo autor

81


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 82

CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA DEFINIÇÃO DO LOCAL DE INSERÇÃO PROJETUAL

qtd. de crianças

ausência de praças

vínculos afetivos

Aproximadamente 42% do público residente no bairro pertence à população infantil, com idades entre 0 a 15 anos (IBGE, 2010), totalizando ao todo cerca de 2914 crianças residentes dentro da área projetual. Tal fator cria uma demanda clara pelo uso do espaço público pelas crianças.

A área possui poucas opções de praças e espaços de lazer. Ao todo contabilizamos apenas 2 campinhos de futebol locais, responsáveis por atender a demanda de quase 3 mil crianças. Tal fator prejudica o direito de brincar às crianças que residem na área . O projeto visa criar estratégias para criar espaços livres para as crianças nestes locais.

Durante visitas aos bairros selecionados, pode-se notar forte vínculo entre as crianças e moradores do local. O vínculo afetivo entre moradores de uma mesma região aumenta a segurança no local, pois os próprios moradores e vizinhos são capazes de criar uma rede de segurança, por conta da quantidade de olhos voltados para a rua (JACOBS, 1961).

brincadeiras nas ruas Algumas crianças dos bairros analisados, já utilizam a rua como seu “playground” particular, visto que devido a falta de espaços de qualidade, a rua se torna um dos únicos espaços concretos para as crianças brincarem. Sendo assim, visto que já existe um uso das ruas pelo público infantil o projeto será de grande avaria para acrescentar ludicidade a esses espaços.

percursos infantis Ainda, durante os processos de pesquisa observamos que muitas crianças realizam sozinhas seus percursos entre casa x escola, desse modo, os caminhos percorridos nas ruas da área asseguram que o projeto será muito bem visto e utilizado pela população infantil.


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

SETOR A

SETOR B

SETOR C

leitura geral dos setores

Imagem 44: Fonte: Acervo da Autora

Imagem 45: Fonte: Acervo da Autora

Imagem 46 Fonte: Acervo da Autora

Imagem 47: Fonte: Acervo da Autora

Imagem 48: Fonte: Acervo da Autora

Imagem 49: Fonte: Acervo da Autora

SEGURANÇA

3,5

SEGURANÇA

5,0

SEGURANÇA

5,0

QUALIDADE DAS VIAS

2,0

QUALIDADE DAS VIAS

3,5

QUALIDADE DAS VIAS

4,5

INFRAESTRUTURA URBANA

2,0

INFRAESTRUTURA URBANA

5,0

INFRAESTRUTURA URBANA

6,5

LAZER E ESPAÇO PÚBLICO

5,0

LAZER E ESPAÇO PÚBLICO

1,0

LAZER E ESPAÇO PÚBLICO

1,0

USO INFANTIL

7,0

USO INFANTIL

6,0

USO INFANTIL

6,0

*Os números sobre cada item foram definidos através de visitas no local, levando em consideração as sensações pessoais sobre a área e as percepções obtidas no local.

83


escolha do recorte projetual - setor a

SETOR A SETOR B

SETOR C

mapa 19

Escala 1:2 500 Fonte: mapa desenvolvido pelo autor

84


Eleger um local para desenvolver projetos urbanos, não se resume em considerar as dimensões, disponibilidade perante a legislação ou aspectos físicos da área. Esta decisão deve contemplar questões integrais e conceituais que prevejam, analisem, e estudem todas as oportunidades e detalhes advindos das características particulares do entorno existente. Reconhecer que um espaço público não é um ente que funciona individualmente é de extrema importância durante o processo projetual. É ainda um fator transformativo dadas as condições e interações que ele são capazes de estabelecer. Assim, antes de eleger o local foi fundamental conhecer o território de maneira mais abrangente, pois só desse modo as interações sociais, necessidades comunitárias e as características naturais e topográficas poderiam ser incluídas dentro do projeto. Dentro desta lógica, os dados obtidos das setorizações foram fundamentais para leitura do território. Cabe ressaltar que as áreas analisadas serão contempladas com projetos na matéria de Projeto Integrado. Todos os setores serão contemplados com elementos que melhoram a questão pertinente a qualidade de vida, como asfaltamento das vias despavimentadas e obtenção de saneamento básico aos pontos que não possuem. Devido a necessidade de implantar o projeto voltado para o público infantil, tornou-se necessário selecionar apenas um dos setores para desenvolvimento pleno do projeto. Todos os setores possuem características necessárias para abranger

o projeto proposto neste memorial, todavia o setor A possui particularidades que viabilizarão o êxito do projeto. Os critérios levados em consideração para selação do setor A como local para inserção da proposta projetual são: Todos os setores demonstraram altos índices de criminalidade. Entretanto o setor A se destacou por conter altos índices de crimes em áreas infantis.

INSEGURANÇA Dentro da disciplina de Projeto Integrado, foi sugerida a inserção de um centro esportivo dentro do Setor A. Este centro será fundamental para o bem-estar da população infantil.

CENTRO ESPORTIVO

MACIÇO VEGETAL

REDE AMIGA

O setor A se destaca por conter um grande maciço vegetal, e maior disponibilidade de áreas verdes e livres capazes de propiciarem a inserção de espaços livres e públicos não só ao público infantil, mas a toda comunidade local. O setor A, possui grande quantidade de comércios locais, e os “olhos da rua” tem papel fundamental no processo de garantir a segurança infantil. Sendo assim, busca-se a participação da comunidade através de uma rede amiga, pois desse modo obteremos mais segurança nos percursos rotineiros infantis, como caminho casa-escola. 85


principais pontos de lazer infantil da área Como já demonstrado anteriormente a região do Jardim Campo Belo é passível de inúmeras deficiências urbanísticas. Dentre elas, temos a ausência de espaços propícios ao lazer, principalmente locais destinados às brincadeiras infantis. Ao lado podemos visualizar as duas principais áreas de lazer da área de recorte. As imagens demonstram a carência por espaços destinados ao brincar vivenciadas pelas crianças da área.

Imagem 50: Campinho de Futebol Fonte: Google Maps

É certo que o público infantil do local tem por costume brincar nas ruas e nos poucos espaços disponíveis. Brincar na rua, inclusive, é uma das principais práticas incentivadas no presente memorial. Todavia, é indispensável oferecer locais passíveis de infraestrutura e segurança que estimule a prática do brincar infantil. Como já visto, locais de lazer com pouca infraestrutura e poucos usos são passíveis de se tornarem pontos com alta incidência de criminalidade, seja pela falta de elementos urbanísticos como mobiliários, seja pela falta de usos e pertencimento da comunidade no local. Imagem 51: Praça Comunitária Fonte: Google Maps

86


faixa etária dos moradores da área

0-10

11-20

21-30

31-40

41-50

51-60

60+

20,7% 19,6%

19,6% 14,5%

10,2% 9,7% 5,6% 211

PESSOAS

212

PESSOAS

223

PESSOAS

157

PESSOAS

TOTAL DE PESSOAS: 1078 MULHERES - 407 | HOMENS - 443

110

PESSOAS

60

PESSOAS

105

PESSOAS

Gráfico X: Faixa etária dos moradores residentes na área de recorte projetual Fonte dos dados: Fundação FEAC e Política Nacional de Assistência Social de 2004. Realizado em 2018 Fonte do gráfico: elaborado pela autora

87


3.6.1 levantamentos urbanísticos MAPA DE CHEIOS E VAZIOS mapa 20 Escala 1:10 000

Legenda Edifícios Fonte: Mapa desenvolvido pelo autor

88


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0

TIPOLOGIAS DAS QUADRAS QUADRAS LONGAS

QUADRAS CURTAS

QUADRAS CURVAS

mais de uma edificação no terreno, o recuo lateral tende a ser englobado ao projeto. A maior parte do território urbano do bairro não possui padrões de desenho de quadras, ruas, calçadas, recuos ou qualquer característica que a considere como uma área planejada, pelo contrário: o local contabiliza vastas características que demonstram o processo de autoconstrução evidenciados durante sua ocupação. O mapa de cheios e vazios da área demonstra que as quadras em sua maioria encontram-se altamente adensadas, havendo apenas em alguns casos a incidência de terrenos de grande escala vazios. Ainda, cabe destacar que a maioria dos lotes vazios são áreas ociosas e sem usos específicos. Quanto à altura das edificações, por se tratar de uma área aeroportuária podemos identificamos edificações com no máximo 3 pavimentos, mas são exceções no local. A grande tipologia das edificações referem-se à edifícios unifamiliares, desse modo as construções tendem a ser térreas com no máximo 2 pavimentos. Através do mapa de cheios e vazios do Bairro Jardim Campo Belo, torna-se possível observar que a área apresenta baixa organização no processo de ocupação local. A metodologia de implantação das edificações pode ser considerada como “espontâneas”, pois não seguem as direterizes impostas pelo plano de obras do município, como recuos mínimos e taxas de ocupação do terreno, contendo casos onde o lote todo é edificado. Na maioria dos casos as edificações tendem a respeitar apenas recuo lateral e de fundo, mas ainda assim possuem medidas inferiores ao estabelecido pela legislação. Em casos onde há

TIPOLOGIA DAS RESIDÊNCIAS

1 PAVIMENTO

2 PAVIMENTOS

3 PAVIMENTOS

89


MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO por predominância mapa 21 Escala 1:10 000

Legenda Recorte da área do projeto Predominância de Residências Predominância de Comércios Predominância de Serviços Predominância de Usos Institucionais Predominância de Vazios Urbanos Predominância de pAreas Verdes Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na disciplina de Projeto Integrado, adaptado pelo autor

90


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 Quanto ao uso do solo, em grande parte do bairro, no entorno das ruelas, pracinhas, grandes praças e campos, encontramse residências unifamiliares (figura XXX), tal fator tem relação com as origens históricas do bairro Jd. Campo Belo, por se tratar de áreas ocupadas irregularmente com o intuito de suprir a demanda de moradias, até os dias atuais observamos que o bairro é predominantemente residencial. A área possui algumas unidades educacionais, dentre elas a maioria refere-se a creches, necessárias para atender a demanda existente na região. Ha também uma escola estadual voltada para o atendimento de crianças e jovens com até 14 anos de idade. Ainda dentro das caracterizações institucioanais da área, durante as análises tornou-se notória a presença de igrejas evangélicas na regão. O bairro conta também com um posto de saúde, responsável pelo atendimento não só dos bairros analisados, como também de outros áreas pertencentes à região.

e também na Rua Dr. Mathias José de Barros, principais vias de circulação do bairro. Durante visitas ao local foi notório os pontos estratégicos que os lojistas selecionam para inserir seus comércios e serviços. Os serviços da região, também acontecem em maior quantidade. Podemos dar destaque à salões de cabeleireiro, e estética. Por fim, em relação aos vazios, evidenciamos que são poucos vazios que existem na área. Por se tratar de uma ocupação, muitas vezes até áreas públicas direcionadas a outros usos, acaba por se tornar residencial devido à invasão da população. É notável ainda, que são nas ruas pavimentadas e mais dotadas de infraestrutura que se concentram a maior parte dos comércios e serviços locais e ainda, a maior escola do bairro. Conclui-se então que de modo geral o Jardim Campo Belo é um território bem adensado, com edificações majoritariamente residenciais.

Em relação às áreas verdes, como já fora demonstrado anteriormente, é uma carência exorbitante que a área possui. No mapa podemos visualizar apenas uma grande área verde no recorte, isso demonstra a necessiadade de se implantar mais equipamentos que supram essa demanda. Quanto aos edifícios voltados ao comércio, pode-se observar, que há uma concentração de comércios e serviços majoritariamente na rodovia Engenheiro Melhado Campos local onde acontece a feira do rolo da cidade de Campinas-, 91


MAPA DE hierarquia viรกria mapa 22 Escala 1:10 000

Legenda Recorte da รกrea do projeto Via Expressa Via Arterial Via Coletora Via Local

92


3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 De acordo com a Prefeitura Municipal de Campinas, a Macrozona 7 de modo geral, é caracterizada pela presença estruturadora do aeroporto, o qual representa uma grande barreira física. O principal sistema viário da região é composto pela rodovia Santos Dumond - SP 075, que funciona como eixo de distribuição do tráfego urbano, e a Rodovia Engenheiro Miguel Melhado de Campos, que por ser o único acesso da Rodovia Santos Dumond ao bairro, contém grande volume de tráfego urbano e grande índice de acidentes, devido à falta de sinalização e também ao grande fluxo de carga pesada que transitam em direção ao Aeroporto Internacional de Viracopos. Sendo assim, de modo geral, destacamos que o fluxo de automóveis no interior dos bairros é baixo, concentrandose nas vias asfaltadas que levam acesso à Rodovia Santos Dumond. Cabe destacar, que as vias não pavimentadas, não possuem faixas demilitadoras de circulação e em alguns casos nem calçadas, fator que propicia insegurança aos usuários e principalmente ao público infantil, uma vez que ciclistas, pedestres e transportes individuais ocupam o mesmo espaço. O mapa ao lado demonstra a hierarquia viária da área, é possível observar que majoritariamente as ruas são de acesso local, contendo poucas ruas coletoras e apenas uma via arterial. Para o projeto, iremos dar preferências às ruas locais, pois estas possuem fluxo moderado de veículos, diminuindo riscos de acidentes às crianças da área.

VIA expressa Vias de fluxo ininterrupto, sem transversais e faixas de pedestre (no mesmo nível).

VIA ARTERIAL

Com intersecções, em geral, com semáforos, permite acesso a outras regiões e vias. Geralmente a velocidade máxima dessas vias variam entre 50 a 70km/h

VIA COLETORA Coleta o trânsito das vias de trânsito rápido ou arteriais e distribui para dentro dos bairros.

VIA LOCAL

Vias menores com interseções sem semáforos, é destinada ao acesso local ou a áreas restritas

Imagem 48: Hierarquia viária Fonte: Velocidade máxima permitida por via, Folha de São Paulo, 2015, link para acesso: http://f.i.uol. com.br/folha/cotidiano/images/15243771.gif Adaptado pelo Autor

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MAPA DE mobilidade urbana e topografia mapa 23 Escala 1:10 000

Legenda Linha de 么nibus 195 Vila Palmeiras Linha de 么nibus 600 / 601 Indaiatuba

Linha de 么nibus 191 Jardim Fernanda Pontos de 么nibus

Pontos de Interesse Urbano Fluxo intenso de pedestres

Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na disciplina de Projeto Integrado, adaptado pelo autor

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3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 Por se tratar de um local onde a comunidade residente possui baixa renda economica, a mobilidade urbana local é realizada em grande parte da área a pé ou com bicicletas. Através do levantamento de dados foi identificado fluxo de pedestres na maioria das ruas analisadas. O fluxo de pedestres na área analisada, foi demonstrado através dos principais percursos traçados a pé, primordialmente por moradores das comunidades. As rotas predominantes se dão em ruas que possuem asfaltamento, observamos que nelas há grande oferta de comércios locais de suporte imediato, como mercearias, mercados e farmácias. As atividades comerciais sempre procuram as melhores localizações do território, de preferência junto a um caminho. Dessa maneira observa-se que a maior intensidade de fluxo se concentra em áreas que ofertam algum tipo de serviço.

moradores locais não ultrapassa 2 salários mínimos, esse dado é refletido na preferência do caminhar como meio de mobilidade imediata e maiores números de utilização do transporte público para caminhos mais distantes. Quanto ao transporte público na área, os bairros contam com 3 linhas de ônibus que circulam dentro de seu território, sendo uma delas, a linha 600/601 intermunicipal, esta linha interliga Campinas com o município de Indaiatuba. Os bairros possuem localização próxima à Rodovia Engenheiro Melhado, nela circulam mais linhas de ônibus, ela é ainda o principal meio de chegada dos transportes para os bairros.

Quanto à topografia local, os bairros não possuem ruas onde a topografia seja muito acentuada, isso facilita o caminhar do pedestre, pois a maioria das ruas são planas. Um ponto negativo é a ausência de vegetação nas ruas, principalmente nas que possuem asfalto, a ausência de árvores torna o caminhar mais cansativo. Outra questão a ser destacada diz respeito aos edifícios públicos. Percebe-se que elementos como escolas, creches e hospitais são polos geradores de fluxo de pedestres, seu entorno engloba caminhares mais intensos. Ainda, de acordo com o IBGE, o rendimento mensal de 91% dos 95


MAPA DE INFRAESTRUTURA E MOBILIÁRIO URBANO mapa 24 Escala 1:10 000

Legenda Vias pavimentadas Vias não pavimentadas Áreas sem tratamento de esgoto Vias abastecidas sufientemetne com mobiliários EEE - Estação elevatória de esgoto SANASA Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na disciplina de Projeto Integrado, adaptado pelo autor

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3.0 TEMÁTICA LEITURA DO LOCAL 2.0 Os bairros especificados, dispõe de uma rede de infraestrutura básica. É um local carente que não conta com elementos referentes à infraestrutura básica, há trechos que não possuem ao menos rede de saneamento básico, como captação de esgoto e abastecimento de água. No Brasil, o sanemanto básico é um direito assegurado legalmente pela Constituição Federal e pela lei nº 11.445/2007 como o conjunto dos serviços básicos de infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água; captação de esgotamento sanitário; drenagem e limpeza urbana; e manejo de resíduos sólidos e de águas pluviais.

quantidade insuficiente de lixeiras para a demanda da rua, e as consideradas como abastecidas de mobiliário foram as que possuíam postes de iluminação, uma quantidade satisfatória de lixeiras para a demanda da via e pontos de ônibus sofre com a falta de mobiliário urbano. Há a presença de postes de iluminação lixeiras, pouquíssimos bancos e pontos de ônibus.

A qualidade da rua é um ponto fundamental de discussão, a região ainda carece em boa parte da falta de pavimentação, fazendo com que o deslocar do pedestre e meio de transporte seja dificultado, as únicas ruas que possuem asfalto são as de maior fluxo de transporte público, que na maioria das vezes foi pavimentado pela própria empresa de transporte. Os bairros sofrem ainda, com a falta de mobiliário urbano. Há a presença de postes de iluminação, lixeiras, pouquíssimos bancos e pontos de ônibus. Considerando o fato de que há postes de iluminação no bairro como um todo e não há a presença considerável de bancos, não utilizamos estes mobiliários como um parâmetro para a análise, foram utilizados somente as lixeiras e os pontos de ônibus. A partir disso, as ruas consideradas carentes de mobiliário foram as que possuíam somente poste de iluminação e ou uma 97


REFERÊNCIAS PROJETUAIS 98


Figura 52: Desenho em linha contínua crianças lendo Fonte: PNGTREE

99


4.1 HORSE LAND Nome do Projeto: Horse Land Ano: Janeiro de 2019 Local: Shangai, China Desenvolvedor do projeto: 100architects, (Shangai)

O PROJETO “Horseland” (terra do cavalo) é um projeto de espaço público que compreende uma combinação de paisagismo e diferentes instalações ao ar livre em um único espaço, como recursos esportivos, recursos de paisagem infantil para crianças e recursos de lazer para adultos. Seguindo o tema da série “Cavalos”, o design deste espaço público vibrante e multifuncional se assemelha à geometria abstrata de um cavalo quando visto de um ponto de vista aéreo. Imagem 53: Diagrama projetual do projeto com demarcação dos usos Fonte: 100Architects

100


4.0 TEMÁTICA REFERÊNCIAS 2.0 Imagem 54: Vista aérea do projeto Fonte: 100Architects

101


4.0 TEMÁTICA REFERÊNCIAS 2.0 Inspirados pelos traçados circulares básicos de desenho comumente usados para ​​ desenhar a anatomia dos animais, os autores do projeto utilizaram o círculo como geometria básica para revelar as diferentes partes do corpo do cavalo, como uma estratégia de design para subdividir o espaço em vários bolsos funcionais menores, transformando a paisagem de jogo em um espaço multifuncional para ser apreciado por crianças e adultos.

Imagem x: Vista aérea do projeto Fonte: 100Architects

Transferindo essa idéia para a estratégia de organização espacial do projeto, pensaram em criar um espaço público multifuncional pela combinação e interseção de frações independentes menores de círculos, usando círculos menores para funções simples e círculos maiores para os mais elaborados. Além de ter espaços de lazer para os adultos, como assentos e descanso, o projeto conta ainda com uma série de bolsos para entretenimento de jovens usuários, como uma superfície de escalada, uma colina de anfiteatros ou uma mini quadra de basquete, entre outros. No entanto, o recurso mais proeminente e atraente é o maior círculo, que consiste em um tubo circular elevado, no qual estão pendurados muitos recursos relacionados ao esporte para atividades de fitness ao ar livre, incluindo uma área de fitness para concluir o programa funcional. O cavalo é cercado por círculos de vegetação complementando a paisagem pontilhada geral. Ainda, os recursos de iluminação personalizados foram projetados especificamente para este projeto, com postes ramificados com lâmpadas esféricas correspondentes à linguagem do design circular. 102

Imagem 55: paginação de piso com formas redondas Fonte: 100Architects


ASPECTOS EXTRAÍDOS DA REFERÊNCIA: 1. Utilização de cores vibrantes na paginação do projeto 2. Paginação de piso orgânica e com formatos circulares 3. Integração de jogos na paginação da p

Imagem 56: Vista aérea do projeto Fonte: 100Architects

Imagem 57: Perspectiva do projeto Fonte: 100Architects

103


4.2 NOVOS CAMINHOS PARA A INFÂNCIA AO AR LIVRE Projeto: Novos caminhos para a infância ao ar livre Ano: 2017 Local: Consolação, São Paulo – SP Desenvolvedor do projeto: Guega Rocha Carvalho, Juliana Flahr, Mateus Loschi

O PROJETO O projeto Novos caminhos para a infância ao ar livre é uma alternativa a uma problemática contemporânea, a ausência da criança na cidade. O projeto é de 2018 e foi proposto para o distrito da Consolação, na cidade de São Paulo.

Imagem 58: Ponto de Brincar 1 - Grande Escala Fonte: ARCHDAILY

Um estudo foi realizado com cerca de 130 crianças 7 a 12 anos de diferentes classes sociais. O objetivo era a busca por soluções que permitissem sua mobilidade com mais autonomia e divertimento, resgatando o ato de brincar na rua. O projeto visa estimular o encontro e compartilhamento de vivências. Como resultado dos estudos detectou-se a necessidade de implementar na cidade pontos de brincar onde as crianças pudessem interagir entre si e com a cidade durante seus percursos rotineiros. Como proposta projetual, foram sugeridos ao todo, dez pontos de brincar para desenvolvimento do projeto arquitetônico-urbanístico de fato, desses, três foram selecionados para exemplificar a aplicação dos projetos.

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Imagem 59: Ponto de brincar 2 - pequena escala Fonte: ARCHDAILY


3.0 TEMÁTICA REFERÊNCIAS 2.0 Por fim, os estudos demonstraram a importância da continuidade e clara sinalização do percurso. Todavia, a ideia não era infantilizar a cidade, mas deixa-la com aspecto mais seguro, sendo assim alguns padrões foram estabelecidos com o pavimento mais consagrado de São Paulo, o mapa do estado em ladrilho hidráulico preto e branco, para criar quatro padrões: 1 - PADRÃO TRADICIONAL: indica passeio do pedestre 2 - PISO PRETO: destaca perigo, como por exemplo as entradas de garagem

1

4

2

4

3

4

3 - PISO BRANCO: denota aproximação da faixa de pedestre 3 - PISO LIVRE: sinaliza novas formas de brincar

Imagem 60: Padrão dos pisos Fonte: ARCHDAILY

ASPECTOS EXTRAÍDOS DA REFERÊNCIA: 1. Criação de pontos estratégicos para brincar dentro das urbanidades já consolidades 2. Criação de padrões nos pisos

Imagem 61: Ponto de brincar 3 - pequena escala Fonte: ARCHDAILY

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4.3 BARCELONA E SEUS ESPAÇOS PÚBLICOS INFANTIS parques urbanos infantis de barcelona Barcelona é a segunda maior cidade mais populosa da Espanha, possui cerca de 1 610 000 habitantes e ao longo das últimas décadas, o planejamento urbano levou o desenvolvimento de seus espaços públicos e de sua rede de áreas infantis. Atualmente, a cidade de Barcelona possui cerca de 700 espaços Lúdicos Infantis, o que representa uma área infantil por 0,12 km² do seu território, e ainda uma área para cada 2 295 habitantes, aproximadamente, uma para cada 275 crianças. Na cidade de Barcelona, as áreas lúdicas se distinguem entre si, tanto na forma, tamanho quanto aos equipamentos lúdicos. Há uma grande variedade de tipologias. Na cidade não há projetos padronizados, são pensados individualmente de acordo com o local que será inserido.

Imagem 62: Brinquedo multiuso. Parque Camp Roig, Barcelona Fonte: Marina Dias

Dentre os espaços infantis de Barcelona destaca-se o critério da distribuição equitativa no território e o grande número de áreas lúdicas, que por sua vez buscam adotar estratégias que vinculem usuário, paisagem e cultura. A presença de jogos que todos os meninos e meninas podem usar é incentivada, integrando os que têm dificuldades e necessidades especiais. O planejamento das áreas públicas infantis em Barcelona, leva em consideração também, a faixa etária das crianças que utilizarão os brinquedos, as dimensãoes e os graus de dificuldade dos jogos variam de acordo com a idade das crianças que se destinam: até 5 anos, de 6 a 12 anos, mais de 12 anos. 106

Imagem 63: Piramide de escalada, Praia de Marbella, Barcelona Fonte: Marina Dias


FAIXAS ETÁRIAS E AS ÁREAS DE JOGOS: ATÉ 5 ANOS: Nessas áreas, as caixa de areia são um elemento importante do jogo, especialmente para os menores. Para essa faixa etária é priorizado o contato com a natureza, então a presença de pedras, água, terra e elementos naturais são predominantes. Estas áreas também possuem refúgios que evocam pequenas casas e castelos, porém não são figurativos para desenvolver a criatividade e liberdade das crianças.

Imagem 64: área lúdica, Barcelona Fonte: Marina Dias

Imagem 65: Escorregador gigante, Barcelona Fonte: Marina Dias

Imagem 66: Balanço coletivo, Barcelona Fonte: Marina Dias

Imagem 67: Barco Pirata, Barcelona Fonte: Marina Dias

Imagem 68: Piramida de escalada, Barcelona Fonte: Marina Dias

Imagem 69: Parque das Aventuras, Barcelona 107 Fonte: Marina Dias

DE 6 A 12 ANOS: Aos 6 anos a criança começa a ser ousada, então a presença de jogos ativos e escala passa a ser ativa. Há também a presença de balanços multiuso e escorregadores gigantes. Junto com os elementos clássicos, aparecem paredes de escalada, redes em forma de pirâmide para escalar, estrutura de madeira com cordas para se pendurar, ocupam lugar relevante. MAIS DE 12 ANOS: Nessas áreas os jogos são mais complexos do que nas outras faixas etárias e exigem mais força, energia e equilíbrio. Assim, o movimento e a altura dos elementos do jogo definem a atividade dessas áreas de jogo , onde também existem jogos que permitem desenvolver habilidades físicas.

ASPECTOS EXTRAÍDOS DA REFERÊNCIA: 1. Criação de áreas de jogos com atividades que atendam a todas as classes etárias infantis, garantindo que todas sejam privilegiadas de acordo com suas necessidades 2. Criação de padrões nos pisos


ESTUDO DE CASO

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Figura 70: Desenho em linha contínua crianças lendo Fonte: PNGTREE


5.1 PIXELAND Projeto: Pixeland Ano: 2019 Local: MIAYANG, CHINA Desenvolvedor do projeto: 100 Architects

descrição do projeto: Pixeland é um projeto de espaço público que compreende uma combinação de diferentes instalações ao ar livre em um único espaço, como características paisagísticas, recursos de playscape para crianças e recursos de lazer para adultos. O projeto é inspirado no conceito digital de pixels. Embora um pixel seja a menor amostra independente de uma imagem com suas próprias informações de cor RGB ou CMYK, é a combinação de inúmeros pixels o que resulta em qualquer imagem digital. Transferindo essa ideia para a estratégia de organização espacial do projeto, os arquitetos pensaram em criar um espaço público multifuncional pela adição e combinação de pixels funcionais independentes menores. Embora cada um dos pixels tenha sua própria função e características e possa ser lido como uma entidade independente, a combinação de todos eles resulta em um espaço público multifuncional geral muito atraente e lúdico. Texto elaborado pelos autores do projeto

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Imagem 71: Vista áerea da praça Pixeland Fonte: Amey Kandalgaonkar


esquema representativo dos espaços criados através de unificação dos “pixels” A organização espacial do projeto foi realizada baseando-se no conceito de arquitetura modular. A modulação permite o encaixe de vários elementos afim de criar uma forma final com um formato específico. No caso do parque “Pixeland” observamos que os módulos foram feitos em formatos quadrados, facilitando o encaixe dos elementos (Imagem 67). “O módulo principal usado no projeto é um quadrado perfeito de 5m x 5m, como espaço mínimo para hospedar funções adequadas para um grupo de pessoas. À medida que nos aproximamos das bordas, pixels menores de 2,5m x 2,5m e 1,25m x 1,25m são introduzidos como uma abordagem modular para resolver os acessos, a circulação de pedestres e a vegetação nas bordas”. (100 Architects, 2019).

Imagem 72: Módulos utilizados no projeto Fonte: Amey Kandalgaonkar

111


abordagem do conceito de pixels Os responsáveis pelo projeto objetivaram utilizar o pixel para despertar a ideia de lúdico e felicidade. Realizando uma análise do espaço, podemos notar que as cores vibrantes, os mobiliários modulares e espaços de permanência, juntamente com o uso das cores fortes e brilhantes são responsáveis por despertar a ideia do lúdico. Pretende-se incorporar esse elemento ao projeto disposto neste memorial. Nas palavras dos arquitetos: “Embora cada um dos pixels tenha sua própria função e características e possa ser lido como uma entidade independente, a combinação de todos eles resulta em um espaço público multifuncional geral muito atraente e lúdico.” (100 Archictects).

Imagem 73: Módulos encaixados Fonte: Amey Kandalgaonkar

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Ainda, as cores é um elemento indispensável para a aplicação do conceito. O material utilizado é o EPDM, um plástico produzido a partir da recilagem de pneus.


usos da área pública pixeland Pixeland, possui diversos usos dentro de suas dependências. Os que mais se destacam são os equipamentos voltados para lazer e diversão, principalmente da população infantil. Dentre o seu programa podemos citar os seguintes usos: - lounges de descanso -playground infantil -áreas de piquenique -estruturas de camarote para fornecimento de sombras - bancos comunitários - gramados inclinados para possuir que os usuários deitem - pequenos encontros.

anfiteatros

para

A ideia da ludicidade, as cores, os mobiliários e a integração com a vegetação foram utilizados como referência e serão incorporados a ao projeto presente neste memorial. Imagem 74: Áreas de permanência Fonte: Amey Kandalgaonkar

Imagem 75: Brinquedos infantis Fonte: Amey Kandalgaonkar

113


O PROJETO

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Figura 76: Desenho em linha contínua crianças brincando Fonte: PNGTREE


6.1 PROJETO: SE ESSA RUA FOSSE NOSSA Sob a ótica de que vivemos em uma sociedade onde a presença da criança e do adolescente se ancoram na figura adulta, comumente os espaços públicos infantis são projetados sob ideiais adultos desconsiderando a maior riqueza que uma criança pode nos oferecer, sua criatividade e facilidade de adentrar no universo lúdico. Pensando nisso desenvolveu-se o projeto “Se essa rua fosse nossa”, uma iniciativa que tem como objetivo principal trazer luz à necessidade de relação entre diferentes perspectivas de se ocupar o espaço urbano com um olhar mais lúdico e infantil. Deste modo, o projeto aqui demonstrado, questiona e busca superar os padrões estabelecidos durante a elaboração de projetos destinados aos pequenos, e almeja incorporar as crianças e suas características lúdicas ao contexto urbano da cidade, afim de valorizá-las como cidadãs que são. O projeto será elaborado a partir de duas diretrizes:

DIRETRIZ 1: Projetar um parque urbano para uso de toda a comunidade local capaz de promover encontros e compartillhametnos, priorizando oferecer opções de lazer e espaços brincantes para as crianças que não possuem áreas específicas e seguras para brincar. DIRETRIZ 2: Criar novas opções de percursos lúdicos nos

principais trajetos traçados pelas crianças do bairro, propositando oferecer maior segurança e diversão durante seus percursos rotineiros. Figura 77: Desenho em linha contínua crianças andando

116

Fonte: PNGTREE


E

RD LIBE AD

6.2 CONCEITO

IN T E R A Ç Ã O

O termo Lúdico repousa sobre a ideia do prazer que reside no que se faz, como algo que habita em nós e no modo como nos relacionamos com o mundo. O Novo Dicionário da Língua Portuguesa refere-se a ele como uma palavra “que tem o caráter de jogos, brinquedos e divertimentos: a atividade lúdica das crianças” (Ferreira, 1975, p. 855). Luckesi (2004) sustenta que as atividades lúdicas, por propiciarem experiências plenas, poderão também propiciar o acesso a sentimentos mais profundos, inconscientes, tornando-se um referencial de expansão para o indivíduo.

L ID E R A N Ç A

A

-E A U TO S T I M

ID FE L IC A DE

TIVI D C R I A A DE

A

N S F O R MA

Ç ÃO

TR

LUDICIDADE LUDICIDADE

Compreendendo então, Ludicidade como a forma de desenvolver a criatividade, os conhecimentos, raciocínio, relações, inovações de maneira funcional, espontânea e satisfatória, a utilizaremos como conceito desse projeto.

6.3 PARTIDO - Incorporar através de um projeto urbano um parque com características lúdicas ao bairro estudado. -Ramificar os percursos existentes dentro do parque para algumas calçadas da área de estudo analisadas afim de criar espaços lúdicos e atrativos, que convidem as crianças a brincar e recrear-se - Projetar espaços que promovam a atuação plena do público infantil, que desenvolvam a criatividade e estabeleçam relações entre a comunidade - Traçar trajetos com elementos lúdicos, afim de estabelecer conexões seguras entre os principais pontos frequentados pelo público infantil 117


6.4 ÁREA DE RECORTE - SITUAÇÃO ATUAL Realizar uma leitura urbanística da situação atual da área de recorte é fundamental para a criação das diretrizes para o projeto “Se essa rua fosse nossa”. Durante a leitura os seguintes pontos foram essenciais para a qualificação da área: as principais áreas utilizadas pelas crianças para brincar estão suscetíveis a altos índices de criminalidade devido à má infraestrutura do local; no local há um terreno de posse da prefeitura de Campinas que tem sido apenas uma grande barreira urbana para o local; em torno do mesmo terreno podese notar a presença de grandes pontos de descarte de lixo ou áreas de depósito de lixos recicláveis.

mapa 25 Escala 1:2 500

Legenda Terreno vazio de posse da prefeitura Municipal de Campinas Áreas Públicas de lazer do bairro Conjunto de edificações irregulares Principais cruzamentos a qualificar Área onde foram identificados maior índice dde criminalidade Pontos identificados de descarte de lixo

Principais trajetos infantis (identificados in loco, não possuem asfaltamento) Fluxo Intenso de Veículos

Fonte: Mapa desenvolvido em equipe na disciplina de Projeto Integrado, adaptado pelo autor

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Barreira Urbana


DIRETRIZ 1: PARQUE LÚDICO URBANO

6.5 DIRETRIZES PROJETUAIS A primeira diretriz (imagem 78), visa a projeção de um parque urbano com características lúdicas que tem por objetivo oferecer uma área destinada para as crianças brincarem e ainda ser o principal ponto de encontro e convívio da comunidade local. Alegoricamente, o parque pode ser evidenciado como a raiz do projeto de intervenção, pois nele serão incorporadas características capazes de fortalecer os vínculos afetivos da comunidade e potencializar a exploração do lúdico às crianças e aos adultos também.

Figura 78: Vista Isométrica com demarcação da área de inserção do parque. Fonte: Produzido pela autora

DIRETRIZ 2: PERCURSOS LÚDICOS

A diretriz 2, consiste em ramificar do parque, percursos capazes de estabelecer características mais lúdicas para as calçadas e ruas da área projetual. A proposta é intervir nas ruas que possuem maior fluxo de crianças e agregar brincadeiras às calçadas locais. Ainda busca-se propiciar maior segurança durante os percursos infantis. Vale destacar que a qualidade das ruas que sofrerão intervenção são ruins, elas não possuem ao menos delimitação entre calçada e meio fio, ou então faixa de pedestres. Sendo assim na etapa 2 demonstraremos novas alternativas para tornar mais lúdicas e seguras as calçadas da área.

Figura 79: Vista Isométrica com demarcação das ruas que sofrerão intervenção Fonte: Produzido pela autora

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6.6 ELABORAÇÃO DA DIRETRIZ 1:

PARQUE LÚDICO URBANO Como já demonstrado nos capítulos anteriores, comumente as brincadeiras ao ar livre e a presença da criança no espaço urbano tem sigo negligenciadas. A negligência se dá de várias maneiras, seja pelo fato de alguns pais não levarem ou permitirem que seus filhos brinquem em espaços verdes e públicos, ou pela inegligência do estado ao não disponibilizar espaços de qualidade para que as crianças possam brincar livremente. Os estudos realizados nos bairros Jardim Campo Belo e Jardim São João demonstraram que as crianças da área já se apropriam das ruas do local. Através de visitas realizadas in loco, pôde-se perceber que a maioria dos percursos infantis como caminho casa - escola são realizados a pé. Ainda, na área a rua é vista como uma extensão do quintal, as calçadas diariamente tornamse palco de conversas e trocas afetivas entre a comunidade local. No contexto periférico é mais comum observar a presença das crianças se apropriando do espaço urbano, as ruas nas favelas são os playgrounds dos condomínios. Entretanto, apenas a rua não supre a carência de lazer vivenciada pelas crianças e moradores locais. Observa-se que as poucas praças e campinhos de futebol existentes são utilizados pelas crianças, tal fator demonstra o anseio existente por um espaço público de lazer de qualidade. Entretanto, os poucos espaços ofertados para brincar possuem má infraestrutura e ainda, devido ao mal estado de conservação, são utilizados como pontos de tráfico de drogas. Desse modo, viu-se que a maior necessidade urbana dos bairros, tratando a 120

respeito do público infantil, é a criação de um espaço destinado à prática das brincadeiras infantis, uma vez que brincar é um direito estabelecido por lei a todas as crianças, torna-se extremamente necessário projetar espaços que estimulem e possibilitem a exerção desta atividade por elas. O brincar na rua não será ignorado ou excluso do projeto, pelo contrário através do parque pretendemos enaltecer a riqueza que existe no gesto de brincar praticado principalmente pelas crianças. Pretende-se que o parque atue como um percursor de práticas lúdicas, não só às crianças mas aos moradores da comunidade da área em questão. A ideia é projetar o parque e estimular que seu uso seja efetivo a toda comunidade local, independente da faixa etária, pois desse modo todos poderão ter contato com as práticas lúdicas. Através do parque, pretende-se conscientizar moradores e adultos da importância que existe no ato de brincar majoritariamente expresso pelas crianças, mas possível a qualquer faixa etária. Sendo assim, a proposta de um parque urbano é de extrema importância para que a prática de brincar praticadas pelas crianças possam ser exercidas sem impecílios e visa resolver uma das principais problemáticas do local, a ausência de espaços públicos de qualidade. Ainda, o parque tem potencial para fomentar as riquezas culturais presentes na área, através de trocas de experiências que podem ocorrer no local através do convívio das crianças com toda a comunidade.


5.0 O PROJETO

LOCAL DE INSERÇÃO DO PARQUE URBANO O terreno selecionado para inserção do parque urbano localizase no Jardim São João, ele é um terreno de propriedade pública pertencente ao município de Campinas (Mapa 26). Durante a elaboração do plano diretor vigente na cidade, o terreno já havia sido selecionado para se tornar uma Área Pública para Lazer e Preservação Ambiental, denominado como Parque Linear Jardim São João (PLANO DIRETOR CAMPINAS, 2018). O terreno já é estudado pela prefeitura desde a elaboração do Plano Diretor de 2008, nele constavam diretrizes que já visavam tornar a área um grande parque público para toda a comunidade. Entretanto, até o ano de 2012 o terreno continha ocupações irregulares em suas dependedências, mas por se tratar de uma área pública destinada ao lazer da comunidade, a prefeitura de Campinas entrou com uma ação afim de remover as famílias que habitavam no local. Desse modo, atualmente a área encontra-se vazia com poucos edifícios ainda existentes, que serão relocados para a parte superior do terreno onde existem uma presença mais significativa de edificações e também lotes vazios que podem facilmente ser utilizados para abrigar as edificações ainda existentes no terreno do parque.

Demarcação do terreno do projeto No plano diretor, a proposta para o terreno foi a elaboração de um parque linear.

Desse modo, um recorte do terreno foi selecionado para se tornar o novo parque do bairro analisado. Porém, vale destacar que a área em questão sofre com inúmeras carências, pensando nisso, viu-se que a metragem quadrada total do terreno (68 000m²) seria demaseadamente grande para a locação do parque. Sendo assim um recorte menor com 35 671m² irá suprir todos os requisitos necessários para a inserção do projeto do parque urbano. MAPA 26: Mapa desenvolvido para o Plano Diretor de 2018 do município de Campinas. Resumo das propostas elaboradas para a APG do Jd. São Domingos (área da inserção projetual). Nele podemos observar as propostas previstas para o terrneno Fonte: Plano Diretor Municipal de Campinas, 2018.

121


PROPOSTAS DE USOS PARA O RESTANTE DO TERRENO:

1. ÁREA DE REALOCAÇÃO DAS RESIDÊNCIAS

2. cooperativa de reciclagem

3. ESTACIONAMENTO

4. parque urbano

5. centro esportivo tfg: aluna beatriz cardoso Mapa 27: Propostas de usos para o restante do terreno 122 Fonte: Google Maps, modificado pela autora

O terreno pertencente à prefeitura de Campinas possui ao todo cerca de 68 000m². Porém os bairros analisados sofrem com inúmeras carências referentes à infraestrutura. Por isso, o recorte do terreno do parque se restringiu a uma metragem quadrada menor, visando oferecer área a outros usos necessários no local. Cabe ressaltar que os usos aqui especificados não serão projetados neste caderno, porém devido ao levantamento realizado e à leitura do local pôde-se chegar a conclusão de que eles são de extrema avaria para suprir as problemáticas da área. A área 1 será utilizada para relocar as famílias que ainda se encontram em área irregular de APP, ao todo esta área possui 4 110m² de área livre. Levando em consideração uma média de 200m² por edificação, a área poderia ao todo abrangir cerca de 26 novas residências. A área 2 visa propor a inserção de uma Cooperativa de Reciclagem. Durante as análises do local, foi possível identificar que o terreno é subutilizado por muitos catadores de recicláveis como depósito. Por isso, optouse por fazer a proposta de uma cooperativa de reciclagem, pois ela oferecerá emprego à população e amenizará os problemas pertinentes a lixos e entulhos na área. A área 3 oferece a proposta de inserção de um estacionamento para os usuários do parque. Ainda que o intuito seja estimular o caminhar na área devemos considerar que o parque será utilizado por pessoas que moram a uma distância maior que impossibilita o ir e vir a pé. Por isso o estacionamento visa oferecer locais de pontos de parada dos carros que não interrompam a dinâmica das ruas das redondezas do parque. Por fim, a área 5 é uma proposta projetual de um Centro Esportivo que visa complementar o terreno do parque e ainda oferecer novas oportunidades para as crianças e jovens da área em questão.


TERRENO DO PROJETO

Terreno Público

Perímetro 903 mL

Área 35 500m²

FICHA TÉCNICA DO TERRENO:

Zoneamento: ZM1 (Zona Mista 1) Macrozona: Macrometropolitana Área de Planej. e Gestão (APG): São Domingos Unidade Territorial Básica (UTB): MM-71 Usos Permitidos: Dentre os usos pertmitidos UP preservação e controle urbanístico de valor histórico, arquitetônico, artístico, paisagístico e ambiental. Área do Terreno: 35 671 m² Perímetro do Terreno: 902,30 m O terreno do projeto é atingido pela curva de ruído: 70 - 75 dB do Aeroporto Internacional de Viracopos, desse modos alguns usos não são compatíveis a ele. Entretanto de acordo com a normativa que rege a cidade de Campinas o uso: “A3. Parques de diversões e acampamentos”, é compatível. Sendo assim o local é propício para inserção do parque, e não se contrapõe a nenhuma legislação vigente. 123


5.0 o projeto

PARTIDO ARQUITETÔNICO: DESPERTAR DE EMOÇÕES Considerando que o conceito de ludicidade prevê despertar diversas sensações nos espaços do projeto em que se fará presente, e ainda, ser um mecanismo utilizado para estimular a prática de auto- conhecimento, o projeto “Se essa rua fosse nossa” trás como partido arquitetônico o despertar de emoções, que por sua vez foi idealizado a partir da compreensão de que: [...] a linguagem dos sentimentos é a maneira pela qual nos relacionamos conosco mesmos, e se não podemos nos comunicar conosco mesmos, simplesmente não podemos nos comunicar com os outros. (VISCOTT, 1976, p.11).

Sendo assim, o projeto tem como intuito explorar questões projetuais a serem implantadas também como os 5 sentidos do corpo humano e despertar principalmente 4 tipos de emoções aos usuários: alegria, nostalgia, surpresa e euforia. As sensações serão exploradas através de elementos que farão a composição projetual como vegetação, mobiliário, paginação, materiabilidade. Busca-se estimular sensações através de vibrações, cheiros, cores, texturas, aguçando a percepção das sensações durante o lazer, ultrapassando os cinco sentidos.

De acordo com o autor Pedro Calebrez, as emoções são programas de ação, coordenados pelo cérebro que gerenciam alterações em todo o corpo, essas alterações são ações no sentido amplo da palavra. Uma emoção é um conjunto de respostas químicas e neurais que se baseam em memórias emocionais. Já as sensações são resultados de algum estímulo externo recebido através dos cinco mecanismos de sentidos equipados pelo corpo humano. Através de reações químicas ocorrentes em nosso cérebro, as sensações são capazes de propiciar emoções distintas. Cada órgão do sentido está adaptado a responder um determinado estímulo e possui receptores sensoriais capazes de transformar esses estímulos em impulsos nervosos. 124

Imagem 78: Sentidos cognitivos do corpo humano Fonte: Autor desconhecido


O projeto tem a pretensão de utilizar os estímulos ocasionados pelo corpo humano através dos sentidos para gerar sensações e emoções distintas em seus usuários. Para tal, é necessário utilizar alguns elementos que são capazes de influenciar o processo de percepção e sensibilidade da área, como por exemplo o paisagismo. Lira Filho (2012) defende que as percepções de paisagens e seus ambientes possuem o poder de influenciar alguns comportamentos específicos, podendo ser individual ou coletivo, inconscientemente ou conscientemente. Paiva (2008) descreve que desde a antiguidade, é comum a utilização de diversas espécies diferentes que objetivam ascender os sentidos, segundo o mesmo autor a ascenção se dá da seguinte maneira: a visão pela fusão de movimentos, cores e beleza de paisagem; a audição pelos sons transmitidos pela água, ventos nas copas das árvores e canto dos pássaros; o tato através de inúmeras texturas e formas das plantas; o olfato pelas plantas que exalam aromas; a degustação pelas plantas comestíveis, pois, é nesse sentido de palatabilidade que muitos associam jardins a necessidades alimentícias e medicinais (PAIVA, 2008). Desse modo, os elementos descritos por Paiva serão incrementados ao projeto afim de ativar o sistema cognitivo do usuário e consequentemente gerar emoções durante o tempo de estadia no parque e também durante os percursos lúdicos. No parque, o uso da água será mais presente que nos percursos, devido aos jogos e chafarizes. Vale destacar que a vegetação não será o único elemento utilizado para despertar o uso dos sentidos, os mobiliários também cumprem papel essencial durante o processo. Ainda, os mobiliários serão

5.0 o projeto

COMO OS SENTIDOS e EMOÇÕES SERÃO DESPERTADOS NO PROJETO? extremamente importantes para desencadear sensações e emoções não só às crianças mas também aos adultos. O uso de jogos de rua vivenciado principalmente pela população adulta em décadas passadas, será um mecanismo utilizado para despertar o sentimento de nostalgia nos usuários que já não vivenciam o lúdico. Ainda esta tipologia de jogo pretende gerar curiosidade nas crianças que não tem contato com as brincadeiras vivenciadas por seus pais ou avós. Portanto, os percursos lúdicos e o parque incorporarão tanto a vegetação quanto o mobiliário como meio de despertar os sentimentos e emoções nos usuários. A seguir iremos demonstrar espécies de vegetações capazes de gerar estímulos que aguçam os seguintes sentidos: olfato, paladar, tato e visão. O olfato será explorado a partir dos aromas e cheiros transmitidos pelas espécies; o aguço da audição não deve depender unicamente da vegetação, é de grande importância pensar na inserção de objetos ao projeto paisagístico que proporcionem o aguço da audição, como chafariz, sinos e outros objetos que fazem barulho com o vento, porém o projeto paisagístico pode contribuir com vegetações responsáveis por atrair a fauna; o tato será explorado a partir de espécies que possuem texturas e formas; o paladar será aguçado através de árvores frutíferas; por fim, para aguçar a visão, pretende-se utilizar vegetações com cores vibrantes que chamem a atenção do olhar dos usuários. As espécies de vegetações que serão demonstradas a seguir diz respeito a um levantamento de espécies, não necessariamente todas as tipologias de plantas incorporarão o projeto.

125


SIMBOLOGIA DO DESENHO DO PARQUE Partindo do conceito de ludicidade, a proposta do desenho foi estabelecida pensando em tabuleiros de jogos infantis. Os jogos de tabuleiro, propiciam emoção em cada rodada e ainda estimulam a diversão, convívio e companheirismo dentre os jogadores e além do mais, faz com que os participantes das partidas adentrem no universo lúdico, ainda que por um curto período de tempo. Ainda, os jogos são elementos muito pertinentes ao universo infantill, trazê-los de algum modo para o projeto foi fundamental durante o processo de reinvenção dos espaços destinados ao brincar. Figura 79: Desenho em linha contínua crianças lendo Fonte: PNGTREE

Comumente os playgrounds de praças e parques não abordam questões pertinentes ao universo lúdico, claramente pode-se observar que o projeto acaba por se resumir em tanques de areias e alguns mobiliários. Desse modo, a diretriz projetual do Parque Urbano busca reinventar estes espaços, a começar pela simbologia de jogo que o projeto irá abranger, uma vez pretende-se que todos os usuários que entrarem no parque se sintam dentro de um jogo de tabuleiro, incoroporando em si sentimentos como alegria, euforia, excitação e liberdade. Sendo assim, o desenho do projeto visa incpororar características presentes nos tabuleiros, fazendo com que inconscientemente os usuários possam de forma leve e divertida adentrar no universo lúdico. Ainda, o formato dos tabuleiros acabam por criar bolsões que serão utilizados como os setores do projeto.

Figura 80: Desenho em linha contínua crianças lendo Fonte: PNGTREE

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DELIMITAÇÃO DOS SETORES DO PARQUE A proposta inicial do projeto Se essa rua fosse nossa é de reinventar a maneira que os espaços de brincar infantil são projetados. Durante a elaboração do projeto, o despertar de emoções e sensações foi estabelecido como partido para delimitação da proposta. Ao relembrar novamente o objetivo do projeto, entendeu-se que o parque urbano não quer incorporar características padronizadamente utilizadas durante a criação de parques, o projeto busca “fugir das regras” a começar pela delimitação de seus setores. Corriqueiramente os parques urbanos são setorizados por seus usos, como por exemplo setor de esportes, setor cultural dentre outros. Entretanto, busca-se incorporar ao projeto novas metodologias de concepção e idealização dos setores. Os setores do projeto foram estabelecidos de acordo com as sensações que o parque pretende causar em seus usuários. Certamente

um único setor será capaz de causar inúmeras tipologias de emoções como alegria, felicidade, encantamento, apreciação, coragem, carinho, dentre outros. Entretanto, a setorização irá propor projetos que objetivem despertar especificamente algumas tipologias de sensações. A ideia de setorizar o parque a partir das emoções se deu durante a observação de uma criança brincando, pois durante o período da brincadeira ela se desprende do mundo externo e se torna capaz de sentir e experimentar diversas sensações e emoções. No parque, foram delimitados ao todo 4 setores que tem por intuito despertar sensações de: alegria, surpresa, euforia e nostalgia. A escolha das emoções foram definidas juntamente ao conceito de ludicidade. Pensou-se em destacar as sensações que despertam o potencial de vivência lúdica do espaço.

setor do pertencimento

setor da SURPRESA

setor da EUFORIA

setor da NOSTALGIA 127


PROGRAMA DE NECESSIDADES POR SETORES setor do PERTENCIMENTO

setor da sURPRESA

setor da euforia

setor da nostalgia

O setor de pertencimento foi pensado em prol de toda comunidade, é certo que todos os setores serão utilizados pelos moradores e usuários, mas esse irá propor locais específicos para encontros, eventos e reuniões. O setor pretende fortificar o laço afetivo entre moradores e favorecer a troca de experiências e culturas.

O setor surpresa pretende apresentar usos inesperados aos usuários. Nesse setor serão utilizados mobiliários que causem estranheza e despertem a curiosidade de adentrar e explorar as potencialidades existentes no local. O uso da água será muito presente neste setor, também como o uso de aromas trazidos através da vegetação.

A euforia é caracterizada por alegria, despreocupação, otimismo e bem-estar físico. Assim, o setor euforia tem por objetivo projetar cenários capazes de despertar estas sensações que estão intimamente relacionadas com o estado de liberdade propiciados pela vivência da ludicidade. O uso das alturas estará muito presente neste setor.

Nostalgia é um termo que descreve uma sensação de saudade idealizada, de acordo com a autora Carolina Leonardi (2018) a nostalgia faz bem, ela aumenta a vitalidade e da sentido à existência. Pensando que os adultos são os usuários que menos vivenciam a ludicidade, esse setor visa retomar jogos e brincadeiras pertinentes à épocas passadas.

programa:

programa:

programa:

programa:

1. Espaço destinado a eventos

1. Trecho das águas - fontes interativas

1. 2 quadras poliesportivas

1. Área com jogos de piso (amarelinha, dentre outros)

2. Espaço destinado para reuniões da comunidade 3. Arquibancada 4. Quiosque / lanchonete 5. Espaço para piqueniques 6. Banheiros públicos 7. Área destinada para feiras noturnas

128

2. Trecho das colinas - colinas para escalada 3. Trecho da terra - caixas de areia

2. Brinquedos de escalada 3. Brinquedos acessíveis (PNE) 4. pista de patinação 5. Trampolim

2. Espaço gramado para “bets” 3. Campo de pipas 4. Mobiliários com jogos de tabuleiro (dama, xadrez, trilha) 5. Área de estímulo à brincadeiras folclóricas: pula corda, cabo de guerra, pegapega, esconde-esconde, piquebandeira dentre outros).


PLANO DE MASSAS POR SETORES Setor da Euforia VEGETAÇÃO Setor da Nostalgia Setor da Surpresa

Setor do Pertencimento PERCURSO PRINCIPAL DO PARQUE

Este caminho faz referência ao desenho que os tabuleiros de jogos possuem. Representa o trajeto principal que os usuários farão para atravessar o parque. Ele é ainda responsável por interligar todos os setores 129


IMPLANTAÇÃO HUMANIZADA Acesso ao Parque Escala 1:750

1. Arquibancada 2. Gramado de permanência 3. Centro da comunidade e banheiros 4. Jogos de piso (amarelinha etc) 5. Área livre 6. Jogos de Mesa (dama, xadrez etc) 7. Labirinto e mini arena 8. Área gramada livre 9. Fonte Interativa 10. Playground 11. Playground 12. Quadra poliesportiva 13. Quadra Poliesportiva 14. Estacionamento 130

Acesso ao Parque

Rua Três

3 1 2 Detalhamento 2

5 4 6

Acesso ao Parque

Acesso ao Parque

Rua Folia


Acesso ao Parque

10

Rua Nova

12

9

14

11 13 7

a de Reis

8

Detalhamento 3

Acesso ao Parque

Acesso Estacionamento

131


ELEMENTOS PAISAGÍSTICOS

132


FLORES E FORRAÇÕES

CAMINHOS SECUNDÁRIOS

CAMINHO PRINCIPAL E SETORIZAÇÃO

DESENHO GERAL DO PARQUE

CAMADAS DO PAISAGISMO Durante a análise da composição projetual do parque, o paisagismo tornou-se um elemento de grande notoriedade. Através dele foi possível propiciar a criação de espaços que atribuissem bem- estar a todos os seres que vivenciarem o espaço do parque. De acordo com Soenni Bellé (2013) “O paisagismo trata da organização do espaço externo, buscando a harmonia entre as construções e a natureza. Está baseado em critérios estéticos e na relevância que assumem os elementos naturais, em especial a vegetação”. Através dele iremos despertar emoções e sensações nos usuários. O esquema conceitual ao lado representa as camadas pertinentes ao projeto de paisagismo distribuídos dentro do parque. São vários os elementos que compõe a paisagem do espaço urbano, no projeto das praças foram considerados ao iniciar o projeto de paisagismo: a vegetação, a morfologia do terreno, os equipamentos de lazer, a circulação e passeios, o mobiliário urbano e a iluminação. As páginas a seguir demonstrarão em detalhes cada uma dessas camadas.

133


Rua Nova

CIRCULAÇÃO E PASSEIO A ebolaração do desenho paisagístico do parque se deu em algumas etapas. A primeira delas consistiu na definição dos principais percursos e caminhos.

Escala 1:1 500

Legenda Caminhos Secundários Estacionamento Caminho principal (tabuleiro de jogos) Entradas e acessos

134

Rua Folia de Reis

Ainda, um estacionamento para veículos automotores foi acrescentado ao projeto, afim de evitar o acúmulo dos carros nas ruas envoltórias do parque. Desse modo, acrescentando maior segurança e liberdade para todos os usuários que utilizarem o local.

Rua Três

O primeiro caminho definido remete ao tabuleiro de jogos definido na simbologia do parque, posteriormente as entradas e acessos foram selecionadas. Por fim, através do desenho pudemos estabeler os caminhos secundários de passeio e transição do parque.


Rua Nova

USOS E SETORES Logo após realizar a delimitação dos caminhos e percursos do parque, a delimitação dos usos foi um fator de extrema importância.

Rua Folia de Reis

Rua Três

Como já explicitado anteriormente, o programa do parque foi definido a partir da definição dos setores. Os usos buscaram privilegiar principalmente às crianças do bairro, todavia ele abrange todas as faixas etárias de usuários. O mapa ao lado demonstra a delimitação dos setores e os respectivos usos presentes dentro de cada um deles. Em suma os usos buscam oferecer espaços para brincadeiras, permanência, jogos e principalmente encontro e trocas entre toda a comunidade.

Escala 1:1 500

Legenda Estacionamento Quadras poliesportivas (SETOR DA EUFORIA) Playground e jogos de escalada (SETOR DA EUFORIA) Gramado para usos Espaço para jogos de piso, jogos de bets, pipas, etc (SETOR DA NOSTALGIA) Fonte Interativa (SETOR DA SURPRESA)

Edifício de apoio (SETOR DO PERTENCIMENTO) Auditório (SETOR DO PERTENCIMENTO)

135


TIPOLOGIA DOS PISOS A tipologia dos pisos que serão inseridos dentro do projeto são elementos essenciais durante o processo de despertar dos sentidos e emoções. A diferenciação de tipologias, cores e texturas dos pisos garantirão sensações contrastantes aos usuários do parque. Ainda, os pisos serão utilizados para demarcar as diferentes tipologias de uso do parque. Cada material foi selecionado de acordo com a necessidade do uso de cada ambiente. Por exemplo, a área que contém as fontes interativas terão piso drenante afim de evitar o acúmulo de água. Assim sucessivamente com cada tipologia.

Escala 1:1 500

Legenda Pintura emborrachada para quadra poliesportiva Piso de concreto pigmentado Piso drenante pigmentado Pedra portuguesa Piso emborrachado para playground Piso de concreto bombeado (2 tonalidades) Bloquete de concreto intertravado Areia

136


tipologia do piso:

USO:

USO:

metragem quadrada:

metragem quadrada:

tipologia do piso:

tipologia do piso:

USO:

USO:

metragem quadrada:

metragem quadrada:

tipologia do piso:

tipologia do piso:

USO:

USO:

metragem quadrada:

metragem quadrada:

tipologia do piso:

tipologia do piso:

USO:

USO:

Pintura Epoxi piso das quadras Esta pintura será utilizada no acabamento das quadras poliesportivas 1 285 m²

Piso de concreto Pigmentado Serão utilizado bloquetes de concreto pigmentado no percurso principal 3 845 m²

Piso drenante pigmentado Será utilizado na área das fontes interativas 1 025 m²

Pedra portuguesa Seu uso será distribuído nas calçadas da praça

metragem quadrada: 3 900 m²

5.0 o projeto

tipologia do piso:

Piso emborrachado Será utilizado em áreas de brincadeiras infantis 3 530 m²

Piso de concreto bombeado Será utilizado nos percursos de ligação do parque, serão usadas duas tonalidades 9 530 m2

Intertravado cinza O uso será feito nas áreas de acesso do parque 1 250 m²

Areia

Serão implementadas nas áreas de brincar de areia

metragem quadrada: 310 m²

137


FORRAÇÕES As espécies vegetais são indispensáveis num projeto de paisagismo. As espécies de forração escolhidas abrangeram gramas que permitem o pisoteio, gramas apenas de forração e ainda incluiu flores para agregar cor e vida à praça. A seguir serão apresentadas a tipologia de cada elemento presente no projeto.

Escala 1:1 500

Legenda Grama Amendoim Grama Bermuda Grama São Carlos Flores: Petúnia

Lavanda

Malmequeres

138


NOME CIENTÍFICO:

Arachis pintoi

Petúnia integrifolia

Grama Amendoim

Petúnia

América do Sul | até 40 cm

América do Sul | 40 cm

Moderadamente

Não

Ano todo

Ano todo

NOME POPULAR:

ORIGEM E ALTURA: ACEITA PISOTEIO?

ÉPOCA DE SEMEADURA:

NOME CIENTÍFICO:

NOME POPULAR:

ORIGEM E ALTURA: ACEITA PISOTEIO?

ÉPOCA DE SEMEADURA:

NOME CIENTÍFICO:

Cynodondactylon

Lavandula sp

Grama Bermuda

Lavanda, Alfazema

África | até 15 cm

África | até 1 metro

Sim

Não

Ano todo

Ano todo

NOME CIENTÍFICO:

NOME CIENTÍFICO:

NOME POPULAR:

NOME POPULAR:

NOME POPULAR:

ORIGEM E ALTURA: ACEITA PISOTEIO?

ÉPOCA DE SEMEADURA:

Axonopus compressus Grama São Carlos

ORIGEM E ALTURA:

Ásia, China | até 15 cm

ACEITA PISOTEIO? Sim

ÉPOCA DE SEMEADURA: Ano todo

5.0 o projeto

NOME CIENTÍFICO:

NOME POPULAR:

ORIGEM E ALTURA: ACEITA PISOTEIO?

ÉPOCA DE SEMEADURA:

Leucanthemum vulgare Malmequeres

ORIGEM E ALTURA:

Zona do Mediterrâneo | 60 cm

ACEITA PISOTEIO? Não

ÉPOCA DE SEMEADURA: Outubro a janeiro

139


ESPÉCIES ARBÓREAS A composição das espécies arbóreas partiu do ideal de se considerar os extratos arbóreos já existentes no local para que não houvessem possíveis remoções. Depois de definir os setores do parque, as funções e usos, foram distribuídos novos extratos de árvores com o objetivo de ampliar a massa de área verde e acarretar em ganhos para o equilíbrio do microclima local. Como critérios de escolha das espécies adotou-se a utilização de árvores nativas da cidade de Campinas, com florações de diferentes tons para constribuir com o despertar dos sentidos e linguagem lúdica e alegre do projeto.

Escala 1:1 500

Legenda Cassia Imperial Ipê Branco Jacarandá Pau Ferro Pitangueira Quaresmeira Sibipiruna Tipuana

140


5.0 o projeto nome científico: Cassia fistula. nome popular: Cássia Imperial origem | altura: Índia | 10 a 15 metros diâmetro: até 5 metros época de floração: Setembro - Novembro Vai na sombra: Sol Pleno

nome científico:

nome científico: Eugenia uniflora nome popular: Pitangueira origem | altura: América do Sul | Até 7 metros diâmetro: até 5 metros época de floração: Outubro a janeiro Vai na sombra: Sol Pleno

nome científico:

Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith

Tibouchinea GranulosaSandwith

Ipê Branco

Quaresmeira

nome popular:

origem | altura: América do Sul | 7 a 15 metros diâmetro: até 6 metros época de floração: fim do inverno, primavera Vai na sombra: Sol Pleno

nome científico:

nome popular:

origem | altura: até 9 metros diâmetro: até 6 metros época de floração: dezembro - março | junho agosto

Vai na sombra: Sol Pleno

nome científico:

Jacaranda cuspidifolia.

Caesalpinia pluviosa

Jacarandá

Sibipiruna

nome popular:

origem | altura: América Latina | 5 a 10 metros diâmetro: 5 a 10 metros época de floração: Setembro a Outubro vai na sombra: Sol Pleno

nome científico:

nome popular:

origem | altura: América Latina | 25 metros diâmetro: até 15 metros época de floração: Setembro a Novembro vai na sombra: Sol Pleno

nome científico:

Caesalpinia Ferrea

Tipuana tipu.

Pau Ferro

Tipuana

nome popular:

origem | altura: 20 a 30 metros diâmetro: 6 a 12 metros época de floração: Verão e Outono vai na sombra: Sol Pleno

nome popular:

origem | altura: Bolívia, Argentina | 10 a 12 metros diâmetro: 6 a 12 metros época de floração: Setembro a Dezembro vai na sombra: Sol Pleno

141


MOBILIÁRIOS GERAIS Outro elemento desenvolvido para contribuir com o conceito do projeto foram os mobiliários. Eles foram elaborados afim de agregrar valor a organização espacial, democratização e melhoria dos espaços comuns. Ainda, com o reforço da identidade visual os mobiliários foram capazes de criar em toda a praça uma linguagem unificada e organizada. Para tal, a proposta dos mobiliários aqui descritos tomam como ponto de partida a utilização de linhas curvas que tem por intuito criar dinamismo e organicidade no projeto e ainda remeter aos traços de desenhos infantis. Portanto, o projeto dos mobiliários partem das formas curvas e circulares e adapta essa forma para diferentes famílias de mobiliários solicitados.

módulo 1 para modulação dos bancos

módulo 2 para modulação dos bancos

Em suma, o desenho é simplificado e flexível. Atrelado a um método construtivo simplificado (argamassa armada), permitiu a criação de mobiliários adaptáveis e acessíveis. Ainda, alguns elementos como os bancos são modulares, propiciciando assim diversas possibilidades de uso que se adaptam a uma gama contrastentes de situações. Considerando a linguagem proposta, optou-se pela combinação entre elementos de aço de carbono galvanizado nas estruturas, pergolados e brinquedos; painéis fotovoltaícos para captação de energia através do sol; e uso da argamassa armada nos bancos e coberturas. Como resultado, obteu-se uma série de mobiliários coesos com o conceito de ludicidade, confortáveis, dinâmicos, de fácil construção e manutenção. 142

banco e mesa para permanência com placa fotovoltaica para sistema de captação de energia solar


bicicletรกro

usb charger

bebedouro

balisador de luz

poste de luz baixo

lixeira

toten informativo

poste de luz alto

5.0 o projeto

floreira

143


DETALHAMENTO MOBILIÁRIO O detalhamento aqui apresentado tem por intuito demonstrar a tipologia de sistema construtivo de um dos mobiliários do parque. Este mobiliário irá conter uma cobertura capaz de realizar a captação da energia solar e converte-la para uso nas luminárias do parque.

Iluminação de led embutida

estrutural

cobertura placa fotovoltaíca

Ainda, conterão canaletas com led’s de iluminação embutidos capazes de iluminar o parque durante a noite sem deixar de lado as características lúdicas inerentes ao projeto.

banco

Planta Baixa Escala 1:25

144

mesa

Vista Isométrica Escala 1:25


Cobertura placa fotovoltaíca

Base de apoio Cobertura de Vidro Célula Fotovoltaíca Estrutura em aço de carbono galvanizado

Cabo Elétrico

Caixa de Conexão Perfil de Alumínio Canaleta para iluminação

Estrutura do mobiliário Luz de Led

Mesa Argamassa armada pigmentada

Difusor em Acrílico

Detalhamento 1 Escala 1:1

Elevação Frontal Escala 1:25

Banco Argamassa armada pigmentada

145


DESCRIÇÃO DOS BRINQUEDOS DO PARQUE A maioria dos espaços voltados para o divertimento infantil possuem características semelhantes quanto a seu mobiliário e tipologia de jogos. Quase categorizado, os parquinhos infantis são compostos por caixas de areia, balanços e gangorras. Estes mobiliários tem proporcionado diversão para as crianças há muitas gerações. Entretanto, pode-se observar que no Brasil ocorre uma uma tendência em padronizar a projeção de espaços públicos infantis e seus mobiliários urbanos, tal fator inibe a possibilidade de exploração e também possibilidades que as crianças tem de se divertir. Sendo assim, este capítulo tem por objetivo apresentar opções diferenciadas de mobiliário que se diferem de acordo com os setores do parque e também com as idades dos usuários que irão utilizá-los. O projeto abrigará estações de jogos que buscarão evidenciar novas tipologias de mobiliários que se contrapõe com os convencionais utilizados nos playgrounds infantis. O projeto não descartará os elementos convencionais de jogos, porém eles serão incorporados ao projeto de maneira inovadora, distinta dos playgrounds convencionais. A proposta de mobiliário aqui trazida pretende oferecer novas opções de divertimento para as crianças como também novas opções e tipologias. Os mobiliários são categorizados por faixa etária, as tipologias descritas nos parque infantis de Barcelona serão tomadas como referência. Ainda, o projeto incorporará mobiliários acessíveis capazes de atender usuários que possuam necessidades especiais.

146

descrição dos jogos por faixa etária ATÉ 5 ANOS

Para essa faixa etária as caixas de areia são um elemento importante do jogo. Além das áreas de areia, também existem balanços, escorregadores, cais, jogos de tabuleiro e jogos de terra e água . Eles também têm refúgios que evocam pequenas casas, lojas e castelos, com um design não figurativo, que favorecem os role-playing games.

de 6 a 12 anos Aos 6 anos, a criança começa a ser ousada, então os jogos ativos e de escalada têm um grande papel. Há também a presença de escorregadores e balanços, porém em escalas maiores. Junto com esses elementos clássicos do jogo, os elementos para escalar ou pendurar em diferentes alturas, como redes em forma de pirâmide para escalar ou estruturas de madeira com cordas para pendurar , ocupam um lugar relevante . Outros jogos encontrados nessas áreas são aqueles que contêm elementos manipulativos, como jogos de habilidade em painéis verticais e jogos de música.

mais de 12 anos Os jogos são mais complexos do que nas outras faixas etárias e exigem mais força, mais energia e mais equilíbrio. Assim, o movimento e a altura dos elementos do jogo definem a atividade dessas áreas de jogo , onde também existem jogos que permitem desenvolver habilidades físicas.

Fonte do texto: Ajuntamento Barcelona. Link para acesso: https://ajuntament.barcelona.cat/ ecologiaurbana/es/servicios/la-ciudad-funciona/mantenimiento-del-espacio-publico/gestiondel-verde-y-biodiversidad/areas-de-juego-infantil . Acessado em 06 jul, 2020


pretensão dos mobiliários:

Figura 82: Caixa de Areia Fonte: Gre4Ark

Figura 83: Tipologia de brinquedo Fonte: Crest Climber

Figura 84: Brinquedo de escalada Fonte: Carve

Figura 81: Tipologia de mobiliários elaborados em Maquete Eletrônica Fonte: CGTRADER Figura 85: Torre de147 escalada Fonte: Carve


PERGOLADOS Afim de interligar todo o parque de maneira lúdica e dinâmica o projeto propos a projeção de uma linha de pergolados que serão distribuidos ao longo de todo o parque, podemos verificar essa distribuição no mapa ao lado. Além de contribuir estéticamente com o projeto, os pergolados longos e curvos de aço de carbono galvanizado irão conter usos em alguns pontos. Ainda, alguns serão cobertos por trepadeiras vegetais, capazes de aumentar as áreas sombreadas do parque como os espaços de permanência. O desenho dos pergolados acompanhou a linguagem estética de todo o projeto, eles serão curvos e dinâmicos. Neles ainda, serão embutidas iluminações de led capazes de iluminar o parque no período noturno sem perder as características lúdicas do projeto. Ainda, os principais brinquedos e jogos do parque foram embutidos diretamente nos pergolados. Alguns desses usos incluem cordas de escalada, balanços, escorregadores, túneis, dentre outras brincadeiras. A imagem ao lado contém a demarcação de uma exemplificação de uso do pergolado para as brincadeiras infantis.

Escala 1:1 500

Legenda Pergolados

148

PERGOLADO 1 _ DETALHAMENTO


BRINCADEIRAS_PERGOLADO 1 túnel

BALANÇO escorregador

túnel

escalada

escorregador escalada BALANÇO 149


PLANTA BAIXA Rua Três

Escala 1:750

Acesso ao Parque

0,00

0,20

-1

0,20 0,20

1,40 0,20

0,00 0,20

2,80

-1

0,70

1,40

0,20

0,20

0,20

2,80 i=6%

A

Acesso ao Parque

3,00

0,20

0,00

0,20 2,80 0,18 0,20 2,80

0,20

0,20 0,20

0,20 0,20 0,20

665

150

0,00 Acesso ao Parque

Rua Fo


662

66 1

Rua Três 2

Sobe

663

0,20

i= 7%

-2,45

-2,00

-2,60

-2,65

Rua Três

-2,20

Acesso ao Parque

66

B

3

66

0,20

0,20

0,20

1,00 0,20

0,20

0,20

Acesso Estacionamento

0,20

-1,40

0,15

0,20

0,20

4

66

0,20 0,20

0,20

A

0,80 0,20

0,20

0,20 0,20

Rua Nova

1,20

Acesso Estacionamento

-1,40

0,20

0,20

-1,15 0,20 i=

0,20

olia de Reis

2,00

6%

Desce

0,20

1,40

0,80

2,00

2,00

2,00 2,00

4

66

Acesso ao Parque

1,80

Acesso Estacionamento

151


CORTE LONGITUDINAL Demarcação zoom de detalhamento

Corte Longitudinal - perfil do terreno Escala 1:2500

1,00 0,60 0,00

Detalhamento 2 Detalhamento 2

-2,00

Detalhamento 1

152


Com o objetivo de evitar possíveis acúmulos de água dentro da caixa de areia, pensou-se em um esquema de drenagem tipo escama de peixe. Nesta tipologia de drenagem são utilizadas camadas permeáveis como areia e brita, manta sintética (responsável por auxiliar na filtragem e evitar o entupimento do dreno) e o mais importante, o posicionamento de tubos de dreno perfurados responsáveis por direcionar o acúmulo de sub-ramais de dreno para um ramal único que é ligado na rede de drenagem principal da caixa de areia. Ainda, com o intuito de tornar a drenagem mais efetiva ralos lineares foram posicionados nas extremidades superiores da caixa de areia, afim de retardar a entrada de águas fluviais dentro da caixa. Os detalhamentos abaixo demonstram com clareza os sistemas. Areia Fina Brita 1

Manta Bidim Brita 3

Leito

Piso Intertravado Leito

Muro de concreto

Camada de assentamento Ralo Linear

0,60 0,00

Detalhamento 2 Tubo Corrugado Rígido para drenagem

Zoom de Detalhamento Escala 1:1 250

Detalhamento Sistema de Drenagem da caixa de areia Escala 1:15

Brita Cano PVC

Detalhamento Sistema de Drenagem Ralo Linear Escala 1:15

153


CORTE TRANSVERSAL

1,50

0,00

-1,35 ralo linear

ralo linear detalhamento 1

Zoom de Detalhamento Escala 1:1 250

154


662

66

1

Acesso Estacionamento

Rua Três Acesso ao Parque

B

66

2

Sobe

0,00

0,20

Demarcação zoom de detalhamento

Acesso ao Parque

-1,20

0,20 0,20

0,20

0,20

2,80 i=6%

0,20

0,20 -1,40

0,15

0,20

0,20

2,80

A

0,80 0,20

0,20

0,20 0,18 0,20

0,20

0,20

0,20

2,80

4

66

0,20

0,20

0,00

Acesso Estacionamento

2,80

0,20

0,20

0,00 0,20

3,00

3

66

0,20

0,20

0,20

A

0,20

i= 7%

-2,45

0,20

1,40 0,20

663

Rua Três

-1,00

0,70

1,40

-2,60

-2,65

Acesso ao Parque

0,20

Rua Nova

Rua Três

-2,20 -2,00

-1,40

0,20

0,20

0,20

0,20 0,20

-1,15 0,20

0,20

i=

0,20

2,00

6%

Desce

0,20

0,20

0,20

665

1,40

0,80

2,00

2,00

2,00 2,00

0,00

4

66

Rua Folia de Reis

Acesso ao Parque

B

Corte Longitudinal - perfil do terreno Escala 1:2500

Acesso ao Parque

1,80

Acesso Estacionamento

Implantação Guia Escala 1:15 000

Um dos elementos do projeto é uma mini arena que permite variados usos. Desde encenações de teatro como um espaço para conversas e troca de experiências. Todavia, por se localizar em um nível inferior a cota 0 do parque esta área precisou de cuidados especiais quanto ao escoamento das águas fluviais. Sendo assim, abaixo do piso intertravado que será utilizado, serão aplicadas camadas de drenagem. Abaixo do intertravado foi inserida uma camada de areia de assentamento, de 3 cm de espessura. Logo abaixo manta geotêxtil Bidim para evitar a perda de material fino; já a base foi composta por 20 cm de brita sobre um subleito. Além disso, foram posicionados ralos lineares nas extremidades da mini arena afim de conter a quantidade de águas fluviais. Contenção Lateral

Camada de Assentamento

Piso Intertravado

Brita 3 Base em brita 1

Leito

1,70

0,00

Detalhamento 1_Pavimento Intertravado permeável com infiltração total no solo Escala 1:10

155


PERSPECTIVAS GERAIS

156


aponte a câmera do seu celular ou clique aqui para ter acesso ao vídeo do projeto

157


158


aponte a câmera do seu celular ou clique aqui para ter acesso ao vídeo do projeto

159


160


161


162


aponte a câmera do seu celular ou clique aqui para ter acesso ao vídeo do projeto

163


0,20 3,00

0,20

1,40

2,80

0,20

Rua Três

0,20

2,80

0,00

0,00

1,40

0,70

2,60 0,20

Acesso ao Parque

0,20

0,20

0,20

0,20

0,20

0,00 0,20

0,20

0,20

0,20

Acesso ao Parque

0,20 0,18

0,20

0,20

0,20

-1,20 -1,00

Rua Três

0,20

-1,15

0,20

Rua Folia de Reis

0,20

0,15

rampa 0,20

663

-2,65 -2,45

0,20

0,20

0,20

0,20

0,20

4 66

1,40

i= 7%

2

66

Sobe

0,20

-1,40

0,20

0,20

0,20

0,20

Acesso ao Parque

-2,60

-1,40

0,80

0,20

66

1 6%

0,20

0,20

0,20

0,20

0,20

Rua Três

i=

Acesso ao Parque

2,00

0,20

arquibancada 2,00

0,20

0,80

i=

6,

-2,20

3 66

-2,00

2,00

Desce

2,00 2,00 1,80

4 66

Acesso Estacionamento

Acesso ao Parque

B

2,80

2,80

0,20 0,00

Acesso Estacionamento

Acesso Estacionamento

2,20 A

Rua Folia de Reis 0,00

164

1,80 1,80

A 0,20 0,20 2,60 2,80 3,00

A

0,20 0,20

jardim

Escala 1:500

2,60 Implantação Guia Escala 1:15 000

2,80

bancos

1,00 1,00

0,60

PLANTA BAIXA

2,80 662

2,00

0,20

SETOR DO PERTENCIMENTO - ARQUIBANCADA

40 % Rua Nova

0,20

0,70

B

DETALHAMENTOS

B

A

665

i=6%

1,40 0,20

Rua Três 0,00

permanência no gramado

0,20

2,60

2,20

1,40

0,20

B


CORTES

-2,90

-2,70 0,00

CORTE AA Escala 1:250

MURO DE CONTENÇÃO EM CONCRETO

TERRA VEGETAL ENCHIMENTO EM PEDRA

NÍVEL GRAMADO

PERFIL NATURAL DO TERRENO

6,15 2,90

MURO DE CONTENÇÃO EM CONCRETO

2,70

TUBO PVC 4”

0,00

NÍVEL GRAMADO

FUNDAÇÃO EM CONCRETO

CORTE BB Escala 1:500

Detalhamento muro de arrimo Escala 1:50

165


PERSPECTIVAS ARQUIBANCADA

166

aponte a câmera do seu celular ou clique aqui para ter acesso ao vídeo do projeto


167


DETALHAMENTOS

SETOR DO PERTENCIMENTO - EDIFÍCIO DE APOIO A

A

3,00

0,20

1,40

0,20

Acesso ao Parque

Acesso ao Parque

0,20

0,20 0,20

0,20

0,20 0,20

bancos 0,20

0,20

Acesso ao Parque

0,20

Acesso ao 0,00 Parque

0,20

0,20

0,00

0,20

0,20

0,18

0,20

0,20

0,20

-1,00

-1,20

0,20

-1,15

0,20

0,20

0,15

-1,15

0,15

0,20

0,20 0,20

s Três Rua TrêRua -1,20

0,20

-1,00

0,20

0,20

0,20

663

0,20

66 -2,45 3

-2,65

-2,45

-2,65

0,20

i= 7%

0,20

0,20 0,20

0,20

0,20

0,20 0,20

2

66

66

2

0,20

0,20

0,80

0,20

0,20

0,20

Acesso ao Parque

-1,40

0,20

0,20

-2,60

Acesso ao Parque

-2,60

-1,40

0,80

Sobe

0,20

i= 7%

Sobe

-1,40

0,20

-1,40

0,20

1,40

0,20

66

1 6%

0,20

0,20

0,20

0,20 0,20

i=

0,20

6%

0,20

0,20

0,20

0,20

0,20

0,20

0,20

0,80

-2,20

3

0,80

4 66

0,20

66

-2,00

2,00

2,00

0,20

2,00

Acesso Acesso Estacionamento Estacionamento

-2,20

3 66

-2,00

2,00

Desce

1,80

Desce

2,00 Acesso ao Parque

1,80

2,00 2,00

Acesso ao Parque

2,00 2,00

662

4 66

A

Acesso Acesso Estacionamento Estacionamento

A

mesas para consumo

6 salão s Três Rua TrêRua

i=

2,00

Acesso Estacionamento

0,20

0,18

0,20

8 0,20

4 66

0,201,40

4 66

0,20

Acesso Estacionamento

0,20

1 Rua Folia Ruade Folia Reisde Reis

B

0,00

1,40

0,70 0,20 0,00

1,40

0,20 0,70 0,20

0,00

0,20

0,20

Acesso ao Parque

B

0,20

2,80 0,00

0,20

Acesso ao Parque

2,80

9

PLANTA BAIXA

Escala 1:250

ACESSO CENTRO 3 DA DE ENCONTROS COMUNIDADE

4

A

11 A

10 Rua Três Rua Três

1,40

2,80 2,80

2,80

2,80

0,20 0,00

66

1

7 sanitários

5 1. Banheiro Feminino com PNE (uso geral) 2. Banheiro Masculino com PNE (uso geral) 3. Hall de Entrada 4. Banheiro Masculino Funcionários 5. Banheiro Feminino Funcionários 6. Lanchonete 1 7. Lanchonete 2 8. Banheiro fem. auditório com PNE 9. Banheiro masc. auditório com PNE 10. Banheiro Familiar 11. Centro de encontros da comunidade

restaurante

Legenda

2 Implantação Guia Escala 1:15 000

Rua Nova

2,80

2,80

0,20

660,00 5

i=6%

662

Rua Nova

3,00

665

168

i=6%

B B


ESTUDO BIOCLIMÁTICO DO EDIFÍCIO

O edifício de apoio se localiza no setor do pertencimento do parque. Este elemento é essencial para contribuir com a infraestrutura do projeto, uma vez que ele oferecerá banheiros para os usuários; depósitos para armazenagem de utensílios de manutenção do parque; lanchonetes; banheiros e áreas exclusivas aos funcionários e contribuintes da praça e por fim, o edifício abrigará um salão pra reuniões e encontros dos membros da comunidade.

NORTE

Durante visitas a área, tive a oportunidade de conhecer o “presidente” do bairro, Sr. Onorato. Através de conversas tornou-se evidente a necessidade de um espaço apropriado para que os moradores pudessem se reunir tanto para resolver questões pertintens ao bairro, quanto para trocarem experiências. Ainda, espera-se que a inserção do edifício estimule a sensação de pertencimento dos moradores com o projeto, uma vez que é indispensável que os adultos também se apropriem do local, tanto para que eles tenham oportunidades de vivenciar o sentimento de ludicidade, quanto para aumentar a segurança do local. De acordo com a autora Jane Jacobs, espaços saudáveis são feitas pelo movimento nas ruas e espaços públicos. Sendo assim, espara-se que o edifício dê suporte aos usuários, instigando maior movimento de pedestres e à interação das pessoas com o espaço.

LESTE OESTE ACESSO CENTRO DE ENCONTROS DA COMUNIDADE

SUL

169


PLANTA DE EIXOS ESTRUTURAIS

A tecnologia utilizada para estruturação do edifício será a convencional de concreto armado. Este sistema é o método construtivo mais adotado no Brasil, formado por pilares, vigas e lajes. Para a construção de elementos como pilares e vigas são usados concreto armado moldados no local por meio de formas metálicas ou de madeiras utilizadas na concretagem, além da argamassa para os assentamentos.

p1 v1

p2

v1

v1

p3

v3

v1

v4

p4

p5

v2 p6 v1

v2

p9

v8

p8

p7 v3

v2

v5

v8

v1

p10

v5

Nas paredes apenas de vedação serão utilizados blocos de concreto, blocos cerâmicos.

p11

v1 v2 v2

p12

v7

v1

v6 p13

v1

p14

p15

v2

v6

v7

p16

v1

v1 p17

Planta de demarcação dos pilares e vigas Escala 1:250

170

v1

v1 p19

p18 FUNDAÇÃO PILAR VIGA COBERTURA SOLO Esquema de distribuição de forças de uma estrutura convencional (sistema viga x pilar)


CORTE

5,50

3,60

0,00

CORTE AA Escala 1:250

171


PERSPECTIVAS EDIFÍCIO

172


173


PERSPECTIVAS GERAIS

174


aponte a câmera do seu celular ou clique aqui para ter acesso ao vídeo do projeto

175


0,20

1,40

2,80 0,00

0,00

1,40

0,70 0,20

Rua Três

0,20

2,80

0,20

Acesso ao Parque

0,20

0,20

0,20

0,20

0,20

0,00 0,20

0,20

Acesso ao Parque

0,20

0,20

0,20

0,20

-1,20 -1,00

Rua Três

0,20

-1,15

0,20

0,20

0,15

0,20

A 663

-2,65 -2,45

0,20

0,20

0,20

0,20

4 66

1,40

A 0,20

i= 7%

-1,40

0,20

2 Sobe

66

0,20

0,20

0,20

Acesso ao Parque

-1,40

-2,60

1,40 0,20

0,80 0,80

0,20

1 6%

0,20

0,20

0,20

0,20

1,40 0,20

0,20

Acesso ao Parque

2,00

2,00 1,80

-2,20

3

4 66

66

-2,00

2,00

Desce

0,80

0,20

662 2,00

quadra poliesportiva Rua Três

i=

2,00

Acesso Estacionamento

0,18 0,20

0,20 Rua Folia de Reis

B

2,80

2,80

0,20 Acesso ao Parque

1,40 pergolado

Acesso Estacionamento

Acesso Estacionamento

A

2,00 1,80

Desce

2,00

ACESSO CENTRO 2,00 DE ENCONTROS DA COMUNIDADE 2,00

0,80 0,80 1,40

Rua Nova 3,00

0,20 0,00

176

B A

665

Escala 1:250

0,20 66

so es ue Ac arq P ao

B

SETOR DO PERTENCIMENTO - EDIFÍCIO DE APOIO

1,40 1,40 0,80 0,20 rampa

0,20 exercício ao ar livre

Rua Folia de Reis calçada

PLANTA BAIXA

2,00 Implantação Guia Escala 1:15 000 Rua Nova

0,80 0,20 i=6%

0,20 0,20

DETALHAMENTOS

B


CORTES

3,70 1,35

1,00 0,00

CORTE AA Escala 1:250

1,40 0,00

1,00

CORTE BB Escala 1:250

177


PERSPECTIVAS

178


179


6. ELABORAÇÃO DA DIRETRIZ 2:

PERCURSOS LÚDICOS INFANTIS Gostaria de dar início a contextualização da diretriz 2 relatando minhas motivações para a temática do meu projeto. O que despertou o interesse pelo desenvolvimento deste trabalho foi a angústia em perceber que a vivência da infância na cidade contemporânea tem se comprometido a cada dia. Cada vez menos vemos crianças brincando nas ruas e se apropriando dos espaços públicos da cidade.

Sendo assim, a segunda diretriz do projeto “Se essa rua fosse nossa” tem por objetivo reinventar os percursos traçados principalmente pelas crianças e oferecer novas opções de permanência e alguns pontos estratégicos para brincar durante as caminhadas. Ainda, o projeto incorporará o despertar dos sentidos em seus percursos, visando oferecer aos usuários uma experiência completa da vivência do lúdico.

Tal fato gerou em mim questionamentos sobre o porque as crianças deixaram de vivenciar a cidade. Um dos questionamentos que me nortearam foi: as ruas da cidade são projetadas porquê e para quem? A primeira resposta que me veio a mente foi: para atender as necessidades adultas e para os adultos. Após refletir sobre o assunto e me embasar em materiais teóricos pude compreender a necessidade de adaptar os espaços públicos pelas crianças e para elas. O desejo do presente trabalho é oferecer às crianças uma cidade mais diversa, saudável, amigável e segura.

Os percursos lúdicos servirão também para direcionar os moradores e caminhantes da região até o parque urbano, a ideia é utilizar setorizações nas ruas conforme utilizadas no parque, objetivando despertar curiosidade nos caminhantes, despertar emoções relacionadas aos setores e incentivá-los a conhecerem e utilizarem o parque.

Em suma, esta diretriz tem por intuito colocar a criança no centro das discussões pertinentes ao desenho e planejamento dos espaços urbanos. Não pretende-se ignorar fatores essenciais para o funcionamento da dinâmica da cidade contemporânea, como o ir e vir dos veículos automotores. Todavia, pretende-se oferecer uma nova opção de desenho urbano que privilegie as crianças e os pedestres que utilizarem o local. 180

Para realizar esta segunda diretriz, os levantamentos urbanísticos e diagnósticos da área se fizeram essenciais durante o processo de compreensão das ruas e calçadas que se encontram no entorno imediato do parque. A compreensão coerente das análises realizadas nos bairros demonstraram que as crianças que residem no Jardim São João e Jardim Campo Belo, fazem uso do espaço público e diariamente traçam percursos a pé durante seus trajetos rotineiros, como por exemplo o caminho casa-escola.


leitura dOS cenários mapa 26 Escala 1:2 500

F

CAMINHOS ESCOLARES São cenários demarcados pelas principais ruas que as crianças e adolescentes trafegam em direção às suas escolas

E

RUAS UTILIZADAS PELAS CRIANÇAS PARA BRINCAR

D B C

Cenários demarcados por ruas pequenas e estreitas, que as crianças já utilizam para brincar e que possibilitam a intervenção urbana.

Legenda Principal caminho escolar Ruas Parque Urbano

A

Fonte: Mapa desenvolvido pela autora

181


OS CENÁRIOS A leitura dos cenários tem por objetivo compreender a situação atual que se encontram as ruas onde ocorrerão a inserção das propostas projetuais. Essa leitura é de extrema importância para a etapa projetual, pois através dela se tornará possível pensar em estratégias capazes de tornar os percursos mais seguros, dinâmicos 09/07/2020 e lúdicos, não só às crianças mas a todos os usuários, caminhantes e transeuntes locais. A princípio já podemos destacar que devido ao histórico de invasão sofrido na área, ela é escassa de infraestrutura. Desse modo, para o projeto iremos considerar que ocorrerá um processo de qualificação urbana no local, afim de oferecer o mínimo necessário para o processo de mobilidade da população.

2448 R. Um - Google Maps

2448 R. Um

A Imagem 86: Rua Maria da Glória Leite Penteado Fonte: Google Street View

Em síntese, destacamos que a infraestrutura da área não oferece suporte para a segurança das crianças do bairro. A segurança nesse sentido transpassa as questões pertinentes à criminalidade, tratamos aqui acerca da segurança nas vias do local. Durante visitas na área, tornou-se evidente que o público infantil usa satisfatóriamente as ruas. Elas diariamente percorrem caminhos como casa-escola, por exemplo. Sendo assim, é essencial que as ruas tenham o mínimo de infraestrutura. Por fim, segue a seguir a leitura das seguintes tipologias:

B Imagem 87 Rua Um Fonte: Google Street View

Campinas, São Paulo

182

Google Street View

Ca


5.0 o projeto E

C Imagem 88: Rua Folia de Reis Fonte: Google Street View

Imagem 89: Rua Onze Fonte: Google Street View

F

D Imagem 90: Rua sete Fonte: Google Street View

Imagem 91: Rua Manoel Rodrigues Fonte: Google Street View

183


5.0 o projeto

RAIO 450 METROS

RUAS A INTERVIR Para a elaboração do projeto de intervenção, 2 critérios principais foram utilizados. O primeiro deles se baseou em criar percursos lúdicos entre o parque e o principal ponto de interesse infantil: as escolas. Pensando nisso, dentro da área delimitada para sofrer as intervenções, foram demarcadas as escolas que estivessem presentes em um raio de até 450 metros (a partir do parque), pois segundo Di Fidio (1985) áreas públicas com distância superior a 10 – 15 de caminhada tem sua utilização comprometida. Após a demarcação dos raios, um estudo realizado in loco¹ tornou possível demarcar as ruas que são mais utilizadas para realização do percurso casa-escola. O segundo critério utilizado para escolha das ruas que soferão intervenções se baseou em escolher as mais utilizadas pelas crianças para brincar. É certo que o parque oferecerá muitas opções de brincadeira, porém o objetivo não é anular a prática de brincar na rua, pelo contrário o projeto visa demonstrar como as crianças podem e devem ocupar o espaço urbano afim de estabelecer o direito de chamá-los de seu. Portanto a criação dos percursos lúdicos beneficiará as crianças durante trajeto rotineiros, oferercerá maior infraestrutura para desenvolver a prática de brincar na rua. ¹ A visita realizada in loco ocorreu antes do surto epidêmico do Corona Vírus, em equipe. Juntamente aos participantes da disciplina de projeto integrado tive a oportunidade de ir à área e analisar os fluxos escolares traçados pelas crianças.

RUAS QUE SOFRERÃO INTERVENÇÕES

184

PARQUE URBANO

mapa 28

Escala 1:5 000


pilares daS DIRETRIZES

segurança Uma das principais questões que tangem a questão da presença ativa das crianças no espaço urbano é a Segurança. É certo que as ruas da cidade contém seus riscos principalmente para o público infantil. Sendo assim essa diretriz pretende oferecer propostas capazes de amenizar possíveis causas de acidentes.

ludicidade Como abordada ao longo deste caderno, a ludicidade é capaz de despertar inúmeros sentimentos, sensações e emoções. Para as ruas, pretende-se utilizar do lúdico para alertar os pequenos sobre possíveis perigos e ainda demonstrar que os caminhos percorridos apé podem ser muito divertidos e dinâmicos.

comunidade Esta diretriz pretende principalmente encontrar possíveis soluções para inserir a comunidade no projeto de intervenção afim de despertar a sensação de pertencimento. Ainda, espera-se gerar uma corrente entre moradores e comerciantes da comunidade para serem os olhos das ruas.

0

185


DIRETRIZES PROJETUAIS: segurança

186

calçadas

rua

continuidade

A proposta é alargar as calçadas afim de promover maior conforto ao caminhar não só das crianças mas de todos os pedestres do local. Um percurso contínuo é muito mais confortável e seguro do que os percursos de calçadas estreitas. Ainda o alargamento das calçadas dará maior prioridade nas ruas para os pedestres ao invés dos veículos automotores que transitam no local.

As ruas serão estreitadas, o espaço para os carros será diminuido. Ainda, em alguns pontos (como locais próximos a entrada de escolas ou locais de maior fluxo infantil) as ruas deixarão de ser totalmente lineares, conterão desenhos mais curvelíneos. Tal escolha se justifica pela tentativa de diminuir a velocidade que os carros transitam no local, aumentando desse modo a segurança das crianças que transitam cotidianamente no local.

A continuidade é um elemento de extrema importância para bom êxito do projeto. Este item diz respeito a continuidade visual das intervenções. Pretende-se utilizar das sensações para gerar maior segurança principalmente para o público infantil. Utilizaremos as cores, texturas, cheiros para criar continuidade nos locais de passagem, ainda cores acinzentadas serão utilizadas para demarcar as áreas de perigo, e cores lúdicas para as áreas livres.

cruzamentos

iluminação noturna

lombofaixa

Os aspectos considerados nos cruzamento dizem respeito a segurança das crianças durante as travessias. Os cruzamentos da área projetual são extremamente problemático, não possuem sinalizações em nenhum momento do caminhor. A proposta pretende remodelar os cruzamentos existentes, ainda os pisos das calçadas que ficam próximas aos cruzamentos serão de piso tátil afim de alergar sensorialmente as crianças do “perigo”.

A iluminação noturna é um pertinente a todos os espaços públicos de uma cidade, desse modo serão posicionados postes balisadores de iluminação e postes de luzes que fiquem abaixo do nível das árvores que serão inseridas afim de não ocasionar problemas devido a sombra que as árvores podem fazer.

As faixas de pedestres elevadas, mais conhecidas como lombofaixas serão posicionadas em locais com grande fluxo de crianças. Ela tem por intuito demonstrar aos veículos automotores a presença frequente das crianças no local. Ainda serão inseridas lombofaixas próximo as entradas da escola do bairro.


ludicidade

comunidade

brincadeiras

permanência

arborização

Retomar as brincadeiras nas ruas é um dos pontos mais importantes do presente memorial. Pensando nisso, afim de levar mais ludicidade para o espaço urbano serão ofertados espaços especialmente privilegiados para brincar. Os espaços serão incorporados nas calçadas e nos principais trajetos traçados pelas crianças. Espera-se que com isso posso ocorrer uma maior retomada do uso das ruas pela população infantil.

Serão implantandos nos percursos pontos de permanência, para que os moradores, transeuntes e usuários possam ficar. O projeto não busca projetar especificamente brinquedos para as ruas, pretende-se criar objetos ambivalentes que podem servir como banco, mesa, palco de teatro, ou o que a imaginação do usuário permitir. Isso se justifica pela liberdade ocasionada pelo sentimento lúdico.

A infraesturura verde além de causar sombreamento e aumentar o conforto de quem caminha no espaço, fornece proteção contra poluentes no ar e reduz o escoamento de água pluviais e o efeito de ondas de calor. Além disso, o contato com a natureza acrescenta benefícios para as crianças. Numerosos estudos apoiam isso e demonstram que crianças que possuem maior contato com a vegetação tem melhor desenvolvimento motor e cognitivo.

cores

pertencimento

rede amiga

As cores são elementos que estão intimamente com a questão da ludicidade. Por isso, as calçadas irão conter trechos mais coloridos e alegres Não pretende-se infantilizar as ruas do bairro, mas sim torná-las mais lúdicas, alegres e convidativas, tanto para as crianças quanto para os adultos. O público mais velho, em especial, vivencia menos o lúdico, desse modo através das cores esperase despertar inconscientemente o desejo de brincar e se divertir.

Pretende-se englobar os moradores do bairro no processo de elaboração e execução da intervenção urbana. E porquê, afinal? Para gerar envolvimento deles com o projeto, pois a participação da comunidade é essencial para o processo de manutenção da intervenção. Além disso, a sensação de pertencimento é a única capaz de fazer com que os moradores se envolvam e se sintam cativados pelo projeto, eles precisam sentir que aquilo está sendo feito em prol deles.

A ideia é integrar os comércios, servícios e os profissionais liberais e formar uma rede capaz de ajudar a cuidar das ruas do bairro. O objetivo é criar um fortalecimento na rede de vínculos e fazer com que, a segurança da criança que parece estar garantida apenas dentro de casa, pelos pais e tutores, pode também existir nas ruas se ela for afiançada pela união da comunidade, incluindo os comerciantes.

187


A QUESTÃO DA CONTINUIDADE A continuidade é uma questão muito importante para a proposta de intervenção projetual, todo o conteúdo abordado até aqui demonstraram a importância de adequar os espaços urbanos para o público infantil. Uma das principais preocupações referentes ao caminhar das crianças na cidade são os veículos automotores. Os automóveis são os responsáveis pela presença de entradas de garagem e cruzamentos de vias que acabam por interromper o caminhar das crianças. É certo que o carro é um elemento pertinente ao ir e vir da cidade contemporânea, não esperamos retirá-lo das ruas da área de intervenção, mas sim promover novas estratégias de desenho urbano que amenizem as taxas de insegurança às crianças que andam nas ruas cotidianamente. Sabe-se que a linguagem de comunicação das crianças se contrampõe à linguagem dos adultos. As placas de sinalização verticais e horizontais para os adultos funcionam bem, entretanto o público infantil não tem essa mesma facilidade de entendimento, então é necessário adaptar o espaço da cidade para que a leitura do espaço público se torne pertinente às crianças também. Através da leitura do território pudemos com clareza perceber que nas calçadas do bairro não há nenhum elemento que distingua com clareza os espaços passíveis de caminhar. Desse modo, percebeu-se que seria vital para o bom desenvolvimento do projeto buscar uma solução que ao mesmo tempo trouxesse maior segurança para o caminhar infantill, mas que fosse capaz de sinalizar claramente as interrupções e perigos de entradas 188

de carros para as crianças. Além das ruas e cruzamentos, um ponto passível de bastante atenção são as entradas de garagem, pois elas também possuem significativa passagem de carros. Como proposta projetual sugerimos a CONTINUIDADE através de tipologias de pisos, pretende-se utilizar as sensações e sentidos do corpo humano para alertar as crianças sobre possíveis perigos e zonas de alertas. Tomamos como premissa a utilização da ludicidade para alertar os pequenos, isso será feito através de cores, cheiros e texturas. A proposta sugerida se baseia da seguinte maneira: piso de concreto pigmentado

zonas livres para andar (seguras) Nas áreas livres onde as crianças podem andar livremente, como trecho de calçadas sem garagem e nos pontos de brincar, serão utilizados pisos coloridos pois por remeterem ao lúdico demonstrarão inconscientemente às crianças lugares de diversão, ou seja, seguros.

intertravado cinza

entradas de garagem (atenção) Já as entradas das garagens onde a atenção precisa ser um pouco maior serão utilizados pisos intertravados de concreto na cor cinza, pois a mudança na tonalidade do piso irá despertar sensação de questionamento nas crianças, isso fará com que elas fiquem mais atentas.

piso tátil

cruzamentos (perigo) Já os cruzamentos, pontos de maior risco serão executados com piso tátil em uma cor cinza escura, pois a neutralidade e contraste com o colorido e ainda a mudança exacerbante de textura fará com que a criança que pisar no piso se incomode e fique mais atenta com o entorno.


A IMPORTÂNCIA DA PERMANÊNCIA É importante que as ruas urbanas não funcionem apenas como plataformas para a mobilidade, é essencial que elas ofereçam eficiencia e conforto em seus espaços públicos, ao falar destes pretende-se destacar a necessidade de pontos de parada e permanência nas calçadas das ruas contemporâneas. Imagem 92: Rua Um Fonte: Designing Streets for Kids (adaptado pelo autor)

Os espaços de pausa são necessários por diversos motivos, dentre eles podemos citar a necessidade de um ponto de parada e descanso durante as caminhadas diárias. Além de tudo, quando bem projetados, esses espaços podem incluir elementos educacionais que convidam os usuários para interagirem socialmente. A inserção de pontos de permanência no projeto, faz com que as crianças, os pais, moradores, usuários, transeuntes, dentre toda a gama de pessoas que utilizam as ruas, se sintam acolhidas e incluídas na coreografia da cidade.

Imagem 93: Rua Um Fonte: Designing Streets for Kids (adaptado pelo autor)

A inserção de pontos de permanência em trajetos rotineiros, então, pretende: convidar famílias para se sentarem e desfrutarem uma pausa relaxante; aumentar a interação social entre moradores através de novas opções de pontos de encontro e trocas de experiências; aumentar a quantidade de “olhos nas ruas” para olhar as crianças durante seus percursos rotineiros. As figuras ao lado demonstram possíveis tipologias de mobiliários que podem ser inclusos ao projeto para se tornarem áreas para permanência.

Imagem 94: Rua Um Fonte: Designing Streets for Kids (adaptado pelo autor)

189


DETALHE DA PROPOSTA RUA MARIA LEITE _ PRINCIPAL TRAJETO ESCOLAR mapa 29 Escala 1:1500

Aqui, será demonstrado uma nova opção de desenho para a rua Maria Leite. Esta é o principal trecho percorrido pelas crianças para realizar o percurso casa-escola.

RUA MARIA LEITE

As ruas terão seus percursos remodelados e adaptados para aumentar a segurança dos pequenos que trajetam diariamente no local. A proposta pretende alargar as calçadas, diminuir o espaço dos carros, dar prioridade aos pedestres, criar pontos de permanência e paradas de brincar. Cabe ressaltar que a rua Maria Leite será o “carro chefe” das intervenções nas demais ruas que serão remodeladas.

190

RECORTE

2 RECORTE

1

EE CELESTE PALANDI DE MELLO


SITUAÇÃO ATUAL: RUA MARIA LEITE 2,5 METROS

12 METROS

2,5 METROS

Imagem 95: Rua Maria Leita Fonte: Google Street View (adaptado pelo autor)

191


Rua Dr. Ademir Cubero

RECORTE 1 PLANTA BAIXA situação atual

EE CELESTE PALANDI DE MELLO

Escala 1:500

192

Rua Dr. Ademir Cubero

Rua Maria de Glória Leite


Rua Dr. Mathias Barros

Rua Maria de Glรณria Leite

193

Rua Dr. Mathias Barros


proposta projetual planta baixa

Rua Dr. Ademir Cubero

RECORTE 1

EE CELESTE PALANDI DE MELLO

a

Rua Maria de Glรณria Leite

Escala 1:500

194

Rua Dr. Ademir Cubero

a


Rua Dr. Mathias Barros

Rua Maria de Glรณria Leite

195

Rua Dr. Mathias Barros


proposta projetual implantação

Rua Dr. Ademir Cubero

RECORTE 1

EE CELESTE PALANDI DE MELLO

a

Rua Maria de Glória Leite

Escala 1:500

196

Rua Dr. Ademir Cubero

a


Rua Maria de Glรณria Leite

197


RECORTE 1_ CRUZAMENTOS SITUAÇÃO ATUAL AMPLO ESPAÇO PARA OS CARROS CALÇADA ESTREITA

Escala 1:150

198

FALTA DE SINALIZAÇÃO VERTICAL

FALTA DE CIRCULAÇÃO HORIZONTAL FALTA DE ACESSIBILIDADE

FALTA DE ARBORIZAÇÃO


CRUZAMENTOS PROPOSTA PROJETUAL CANTEIRO PARA ARBORIZAÇÃO ESTREITAMENTO DAS VIAS ALARGAMENTO DAS CALÇADAS

PISO TÁTIL RAMPA DE ACESSIBILIDADE VAGA PARA PARADAS DE CARROS SINALIZAÇÃO HORIZONTAL

Escala 1:150

199


RECORTE 1 _ CORTE

3 METROS

4 METROS

0,70

6,40 METROS

3 METROS

Corte AA Escala 1:150

200


ideia da proposta projetual

201


PERSPECTIVAS

perspectiva do projeto _ cruzamento detalhe 1 202


perspectiva do projeto _ calรงada detalhe 1 203


RECORTE 2 SITUAÇÃO ATUAL

Escala 1:500

204


Rua Dr. Alcindo Duarte

Rua Vinte e Dois

205

Rua Dr. Alcindo Duarte


RECORTE 2 proposta projetual PLANTA BAIXA

b

b

Escala 1:500

206


Rua Dr. Alcindo Duarte

Rua Vinte e Dois

207

Rua Dr. Alcindo Duarte


RECORTE 2 proposta projetual implantação

b

b

Escala 1:500

208


Rua Dr. Alcindo Duarte

Rua Vinte e Dois

209

Rua Dr. Alcindo Duarte


RECORTE 2 _ CORTE

3,50 METROS

3,30 METROS

6,50 METROS

3,30 METROS

2,50 METROS

Corte BB Escala 1:150

210


ideia da proposta

211


perspectiva do projeto _ รกrea de brincar detalhe 2 212


perspectiva do projeto _ ĂĄrea de permanĂŞncia detalhe 2 213


CONSIDERAÇÕES FINAIS 214


Figura 96: Desenho em linha contínua crianças brincando Fonte: PNGTREE

215


IMPLANTAÇÃO GERAL Escala 1:1500

216


O conteúdo teórico demonstrou algumas razões pelas quais as crianças tem a cada dia se distanciado dos espaços públicos, sendo as principais delas: o cultivo da cultura do medo; e a má infraestrutura e qualidade dos espaços públicos da cidade. Além disso, as pesquisas demonstraram que em áreas periféricas o descuido com os espaços de lazer da população infantil tem íntima relação com a criminalidade. Ainda, tratando especificamente das comunidades periféricas, tornou-se notório o fato de que os moradores dessas áreas possuem uma vivência mais acentuada das ruas de suas casas, também como as crianças as utilizam para brincar. Sobretudo, ainda que a rua seja palco das brincadeiras, os levantamentos urbanísticos enalteceram a necessidade de readequar a qualidade das mesmas, visando oferecer maior segurança durante percursos rotineiros foram ofertados trajetos mais seguros, passeios agradáveis, e uma experiência cotidiana mais divertida e lúdica. Também, notou-se com certa urgência a necessidade de oferecer um espaço público adequado para as crianças brincarem livremente e desfrutarem do lúdico. Como solução, o projeto incorporou a criação de um parque com características lúdicas. O parque, além de oferecer espaços

mais agradáveis para desenvolvimento das brincadeiras infantis, teve por objetivo principal ser o centro de encontros e trocas dentre toda a comunidade.

8.0 considerações finais

Conforme salientado desde o início do caderno, a intenção de pesquisar acerca da vivência das crianças no espaço urbano contemporâneo surgiu devido ao fato de que a cada dia os pequenos tem se afastado mais da vivência prática da cidade.

Sendo assim, por meio dessa leitura acentuada e das viáveis possibilidades para a área, foi desenvolvido o projeto “Se essa rua fosse nossa”. A iniciativa buscou unificar soluções para os principais percursos percorridos pelas crianças e também oferecer um novo Parque Público. A implantação disposta na folha anterior demonstra com clareza a relação do parque com os projetos de intervenção nas ruas. Cabe ressaltar que o projeto buscou soluções inovadoras e contrastantes com a realidade dos projetos de “playgrounds” ou desenhos urbanos desenvolvidos no Brasil. Propositalmente para a realização do projeto tomei como referência principalmente os parques infantis de Barcelona, pois ao vê-los, (ainda que pela tela de um computador) pude ter uma ideia da capacidade de despartar lúdico que eles possuem, não apenas às crianças mas a todos os usuários do local. Por fim, gostaria de enfatizar que minha crença em uma cidade igualitária e acessível a todos norteou este projeto, é certo que inúmeras são as dificuldades para a concretização da proposta, são necessários muitos atores sociais para que ele de fato acontecesse, os entraves seriam amplos, porém assim como cita autora Jane Jacobs, “as crianças da cidade precisam de uma boa quantidade de locais onde possam brincar e aprender” (JACOBS, 1961). Essa é a realidade da cidade, hora excludente, hora acolhedora, mas sempre de todos nós, incluindo até mesmo os pequenos que muitas das vezes ainda não sabem nem falar. 217


BIBLIOGRAFIA

218


Figura 97: Desenho em linha contĂ­nua de 2 meninos caminhando Fonte: PNGTREE


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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO | UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO | GABRIELLA VICTORINO


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