setembro de 2013 edição única
EDITORIAL Com os recentes questionamentos sobre a laicidade do Estado, protestos em meio a presença do papa no Brasil e a repercussão dos posicionamentos de certos representantes religiosos, é sempre bom estar bem informado antes de entrar em uma discussão sobre esses temas. Por causa disso, essa revista trata da religiosidade, em suas várias formas de expressão, pretendendo destacar as diferenças e semelhanças entre as religiões com mais adeptos no país. Mas como não só de fé vive o mundo, aqueles que não seguem nenhuma doutrina também tem vez. Afinal, esse é um espaço destinado à informação de forma livre, sem parcialidade, sem pregação nem conversão. Só peço à você, leitor, que encare nossa revista com a mente aberta, para que no final possa se posicionar de maneira original e sem preconceitos. A palavra portuguesa ‘religião’ deriva da palavra latina religio. Ninguém sabe ao certo a origem desse termo em relação aos outros vocábulos mas, de acordo com Lactâncio – conselheiro de Constantino, primeiro imperador romano cristão –, religio vem de religare, que significa ‘religar’. Esse é o nome que escolhemos para nossa revista, ‘Religare’, já que o sentido principal da religião, sem deturpá-lo, seja realmente reunir as pessoas, em busca de um bem comum. Caroline Mauri, Editora-chefe
ÍNDICE panteão brasileiro A religião que move bilhões pág6 O Protestantismo como base para o nascimento das Igrejas Evangélicas pág7 A herança de Allan Kardec pág8 Mantendo as raízes: o Candomblé e a Umbanda pág9
em prol da comunidade pág11 amor ao próximo: A PRÁTICA DE CARIDADE pág12 SOLIDARIEDADE que muda o mundo pág13 Comunidade Espírita Viçosense e seu importante papel social
páginas de fé Fé: muito mais que uma crença, uma esperança pág15 “A vida que Deus me deu” pág16 Visões de um espírita: crenças em um mundo distinto pág17 Só não há cura se não tiver fé pág18
agnosticismo e ateísmo pág20 a vida sem Deus pág21 A razão acima de tudo pág22 Ver para crer pág23 A imagem em prol da ‘desilusão cristã’
ciência x religião Entenda a opinião das principais religiões do Brasil sobre aborto pág26 Os benefícios dos métodos contraceptivos pág27 uma visão da genética e das religiões sobre a homossexualidade pág28 Os lados da morte induzida pág29
4
PANTEÃO BRASILEIRO Do grego: pan (todo) + théos (deus), nossa primeira editoria pretende justamente tratar das cinco religiões com mais adeptos no Brasil, na ordem: catolicismo, evangelicalismo, espiritismo, umbanda e candomblé. Pretendemos informar, destacar seus princípios, origens e abrangência atual, de modo que possamos contribuir com a erradicação de preconceitos que envolvem todas as religiões, e que assim cada um saiba respeitar as decisões e opiniões do próximo.
5
CATOLICISMO
A religião que move
bilhões por Ana Cláudia Richardelli
C
om mais de dois bilhões de fiéis distribuídos em todo mundo, o Cristianismo é a religião daqueles que acreditam que Jesus Cristo é filho de Deus, tendo morrido e ressuscitado três dias depois. Por meio de discípulos que espalharam a sua pregação por todas as regiões a partir de Jerusalém, a religião cristã foi se difundindo com a queda do Império Romano e, posteriormente, tendo na expansão marítima a oportunidade da Igreja conquistar novos territórios e divulgar a fé cristã por todo o mundo.
O catolicismo, corrente majoritária com 1,1 bilhão de seguidores, se diferencia das demais pelo vínculo criado com a Igreja de Roma e a aceitação da figura do Papa como autoridade máxima. Definido como a segunda maior corrente cristã, o protestantismo possui cerca de 800 milhões de fiéis. Já os ortodoxos somam 60 milhões de adeptos, em sua maioria de nacionalidade russa. Esse ramo do Cristianismo é caracterizado pelo reconhecimento do Papa apenas como responsável pela manutenção da unidade da Igreja, não como autoridade. Os ortodoxos divergem dos católicos também quanto ao voto de castidade, opcional para padres, e quanto ao calendário, pois têm como referência o calendário Juliano. Os cristãos consideram importantes determinados dias do calendário, geralmente devido à relação dessas datas à vida de Jesus Cristo ou à história do desenvolvimento da religião. O Natal, celebração do nascimento de Jesus; o Do-
6
João Negreli
O Cristianismo possui princípios básicos que sustentam a religião. A crença na existência de um único Deus, a salvação eterna que a fé pode trazer aos fiéis, a importância da figura de Jesus Cristo e a mística da Igreja como espaço de união entre todos os cristãos são os principais pilares dessa fé. Três grandes ramificações religiosas se destacam dentro do Cristianismo. Igreja Matriz, Praça Silviano Brandão em Viçosa - MG mingo de Páscoa, dia da ressurreição e Pentecostes, celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos, são exemplos de datas que carregam valor religioso aos fiéis. No estudo “Cristianismo Global: informe sobre o tamanho e distribuição da população cristã no mundo (2011)” elaborado pelo Instituto Pew Research Center, a informação de destaque foi a diminuição da influência da religião cristã nos dois continentes onde ela possui tradicionalmente o maior centro de fiéis. Entre os europeus, a fé cristã responde a 76%, já no continente americano, 86% das pessoas se disseram seguidoras da fé cristã. Além disso, por meio do estudo foi possível identificar que o Catolicismo é a religião majoritária em 158 países, o que reflete a predominância dessa religião no mundo.
Evangelicalismo
O protestantismo
como base para o nascimento das Igrejas Evangélicas
A
por Júlia Moreira
Igreja Evangélica surgiu com a Reforma Protestante, uma reação contra as doutrinas e práticas existentes na Igreja Católica, no século XVI. Nessa época, Martinho Lutero fundou a primeira igreja evangélica do mundo: a Igreja Luterana. A palavra “evangélica” diz respeito ao principal objetivo desta religião, que é a pregação e divulgação do Evangelho. No Brasil, a primeira Igreja Evangélica foi a “Capela Anglicana”, que era destinada aos estrangeiros que aqui residiam. Só em 1858 foi fundada a primeira Igreja Evangélica Congregacional de fala portuguesa no Brasil, a Igreja Evangélica Fluminense, localizada na cidade do Rio de Janeiro. O termo evangélico é usado para definir quase todas as doutrinas cristãs protestantes. O protestantismo rejeita algumns princípios que compõe o catolicismo, como a adoração aos Santos, a oração pelos mortos, o culto às imagens, a Assunção de Maria e sua virgindade perpétua, a supremacia do Papa, o purgatório, entre outros. Seus princípios fundamentais são: Sola Scriptura, em que a Bíblia tem sempre primazia sobre qualquer princípio da Igreja quando divergirem; Sola Gratia, em que a salvação se dá apenas pela Graça de Deus e que nós somos resgatados de Sua ira somente por Sua graça; Sola Fide, em que a salvação virá somente pela fé e nas mãos de Cristo; Solus Christus, em que
afirmam que a salvação é encontrada exclusivamente em Cristo; e Soli Deo Gloria, que afirma que a salvação é unicamente de Deus. Os movimentos teológicos de origem protestante são: Puritanismo, Pietismo, Evangelicalismo, Ecumenismo, Fundamentalismo Cristão, Adventismo, Pentecostalismo, Neo-ortodoxia, Liberalismo Teológico e Neopentecostalismo. De acordo com o último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os evangélicos já chegaram, no Brasil, a marca de 42,3 milhões de pessoas, o que corresponde a 22,2% da população do país, perdendo apenas para a Igreja Católica que ainda soma 64,6% da população brasileira. O crescimento dos evangélicos fica ainda mais evidente quando se compara os últimos censos. Em 1970 eles representavam somente 5,2% dos brasileiros, porém, já na pesquisa realizada em 2000, o número aumentou para 15,4%. O IBGE dividiu os evangélicos para a realização do estudo da seguinte forma: missão (Luteranos, Presbiterianos, Metodistas, Batistas, Congregacionais e Adventistas), pentecostais (Assembleia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Universal do Reino de Deus, Maranata e Nova Vida) e Igrejas Evangélicas não determinadas. Essa divisão atende às principais subdivisões da Igreja Evangélica no Brasil nos últimos anos.
Entrada principal da Igreja Cristã Maranata
Ana Carolina Leão
7
Espiritismo
Mariana Diniz
a herança de allan kardec
Q
por Ana Luísa Moreira
uem nunca pensou na possibilidade de uma vida após a morte? Acho que este é o sonho de todos. Uma possibilidade de viver outra vida, ou de estar sempre perto das pessoas que amamos. Quando procuramos uma religião, procuramos o conforto da crença em algo que aos olhos da ciência não poderia existir, procuramos esperança. A religião espírita é uma religião codificada por Allan Kardec, um pedagogo francês. Baseada em seus cinco livros: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. E o Brasil possui a maior comunidade espírita do mundo. É uma religião que se baseia também na ciência, e suas manifestações (contato com espíritos, regressões a vidas passadas, psicografia) podem ser comprovadas através de um método dedutivo da ciência. De acordo com o espiritismo, todos os seres humanos são médiuns, ou seja, possuem um canal de comunicação com os espíritos não encarnados. Como outras religiões, sua doutrina acredita em um único Deus, onipresente, criador do universo e tudo que a ele pertence, contudo acreditam na lei da evolução, no qual o homem não se origina do barro. Acreditam na imortalidade do espírito, na reencarnação da alma, e que todos os espíritos em sua origem eram iguais (cria-
8
ção igualitária). E, é claro, eles acreditam que os espíritos possam viver ao nosso redor, tanto espíritos de luz, quanto espíritos que ainda não encontraram o caminho que devem seguir. Creem que todas as almas estão em um processo de evolução num universo dividido por camadas, sem inferno ou céu. Enquanto o primeiro poderia ser representado por um lugar de sofrimento, o segundo pertence aos espíritos que já alcançaram o mais alto grau de evolução. Acredita-se que esta religião é a única que possui mais respostas para as pergunta mais questionadas, como de onde viemos, para onde vamos e qual é o nosso real propósito de existência. Um centro espírita, é uma entidade filantrópica, que desenvolve atividades baseadas nos cinco livros de Allan Kardec, liderados por um médium mais evoluído. Essas atividades correspondem a reuniões públicas, onde são apresentadas palestras, e o tema pode ir desde o evangelho da bíblia até a doutrina espírita. As sessões de tratamento também são desenvolvidas por um centro, porém em local isolado das palestras públicas. Esta reunião é composta por Médiuns de Cura e Médiuns Ostensivos. Entre outras atividades estão trabalhos assistenciais, receituário mediúnico, mocidade espírita, reuniões de pronto socorro e reuniões de educação mediúnica.
Religiões Afro-brasileiras
Mantendo as raízes: o Candomblé e a Umbanda por Lidiany Duarte
O
Os rituais do Candomblé são realizados em templos chamados de casas, roças ou terreiros. O ritual é feito pelo pai ou mãe de santo, que inicia o despacho de Exu. Em ritmo de dança o atabaque é tocado e os filhos de santo começam a invocar seus Orixás para se incorporarem. O Candomblé não pode
Lidiany Duarte
Candomblé é uma religião africana que chegou ao Brasil nos tempos de escravidão. Visto com muito preconceito e julgamento, o culto a Orixás, Inquices e Vodus eram feitos omitindo-os em santos católicos. Os Orixás para o Candomblé são deuses supremos, possuem personalidades, habilidades e preferências ritualísticas distintas. Cada Orixá tem seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cânticos, rezas e ambientes. Cada pessoa também tem seu Orixá, eles escolhem as pessoas que utilizam para incorporar no ato do nascimento, podendo compartilhá-lo com outro orixá, caso necessário.
Ritual de cabolo realizado na Casa da Umbanda em Viçosa ser igualado à Umbanda. No Candomblé, não há incorporação de espíritos, já que os Orixás que são incorporados são divindades da natureza, enquanto na Umbanda, as incorporações são feitas através de espíritos encarnados ou desencarnados em médiuns de incorporação. Existem pessoas que praticam o Candomblé e a Umbanda, mas o faz em dias, horários e locais diferentes.
Lidiany Duarte
A Umbanda é uma religião brasileira que nasceu da mistura de várias crenças, vindas de outras religiões. É a soma da cultura afro, costumes indígenas tupiniquins, sincretismo católico e influências orientais, kardecistas e místicas. Uma verdadeira miscelânea de culturas. A influência mais forte é a do Candomblé, apesar da Umbanda ter nascido há pouco mais de cem oficialmente, sua raiz africana é milenar. Todos os participantes do ritual vestem branco, adereços coloridos e pés descalços, que representam a simplicidade e a humildade. Ao
som das vozes e do atabaque, os Orixás são homenageados. O sacerdote ou sacerdotisa coordena as giras e incorporam o guia chefe. As entidades são incorporadas pelos médiuns. Os principais guias são Exu, Pomba-Gira, malandros, pretos velhos, caboclos, crianças, boiadeiros, marinheiros, baianos, orientais, mineiros e ciganos. As pessoas conversam com as entidades a fim de obter ajuda e conselhos para suas vidas, curas, descarrego, e problemas espirituais diversos. O lema da Umbanda é praticar o bem sem olhar a quem, seguir na humildade, usar branco e sempre praticar a caridade. O Candomblé e a Umbanda pregam a existência pacífica e o respeito ao ser humano, à natureza e a Deus. Respeitando todas as manifestações de fé, independentes da religião. Em decorrência de suas raízes, tem um caráter eminentemente pluralista, compreende a diversidade e valoriza as diferenças.
9
EM PROL DA COMUNIDADE
As religiões sempre foram tidas como instituições para auxiliar as pessoas, e esse é o segundo foco abordado em nossa revista. Temos por objetivo apresentar à comunidade projetos e obras que são desenvolvidas ou que possuem o apoio das instituições religiosas e de seus membros. Iremos tratar das três maiores religiões do município de Viçosa, respectivamente: catolicismo, evangelicalismo e espiritismo, através de entrevistas com líderes religiosos e membros participantes das instituições
10
Ingrid Carraro
CATOLICISMO
amor ao próximo
A PRÁTICA DE CARIDADE por Letícia Natalina
A
Igreja Católica sempre carregou consigo alguns princípios que não se modificaram ao longo da história, mesmo com as mudanças que a sociedade sofreu no decorrer dos anos. Dentre esses princípios estão os 10 mandamentos, que inclui: amar ao próximo como a ti mesmo, honrar pai e mãe, não matar, não pecar contra a castidade, não roubar, não levantar falso testemunho, entre outros. O catolicismo também chama a atenção para a confissão, a caridade, a evangelização e a ajuda ao próximo. Com toda essa base fica evidenciado o motivo pelo qual a Igreja é tida como uma forma de auxílio. Muitas obras e instituições de caridade ou ajuda ao próximo são mantidas pela Igreja ou contam com o apoio dela. Em Viçosa, por exemplo, existe a Associação Assistencial e Promocional da Pastoral da Oração de Viçosa, ou Amigos Partilhando Oração e Vida, APOV, que é uma instituição que conta com a ajuda da Igreja Católica. A APOV foi fundada por uma ex-irmã Carmelita, Leda Bandeira, que lecionava na Universidade Federal de Viçosa e trabalhava com um grupo de oração de universitários. Porém ela percebeu que existia uma grande carência nos bairros periféricos da cidade, principalmente no Nova Viçosa. Então, convidou os estudantes para que desenvolvessem um trabalho social e de oração com as pessoas moradoras desse bairro. A Igreja, por meio da Fraternidade Pequena Via, paga o salário de alguns funcionários que são membros da comunidade e que doam suas vidas por completo nos serviços prestados a APOV. A Instituição passou a ser uma das missões dessa nova comunidade. Primeiramente, a Igreja entende que é preciso dar preferência aos pobres, excluídos e necessitados. A APOV de-
Crianças esperando o início da aula de dança de rua senvolve projetos voltados para uma população mais carente, com o objetivo de acolher, assistir e auxiliar essas pessoas necessitadas. Atualmente o trabalho da APOV consiste em atuar nas áreas da educação e recreação através do Projeto Caminhar voltado para crianças e adolescentes, Projeto Vida Nova Viçosa voltado para pessoas com dependência química e o Centro de Conhecimento voltado para um público jovem e adulto com cursos de especialização em diversas áreas. Todas essas atividades sempre tem a oração presente em seu desenvolvimento. Apesar de a APOV ter sido criada e ser mantida pela Igreja Católica, pessoas membros de outras denominações religiosas também apoiam direta e indiretamente a instituição. Pois ela não é fechada apenas ao amparo da Igreja Católica, mas tem como principal objetivo praticar a caridade sem olhar quem está praticando, esse é mais um dos princípios da igreja, a humildade.
11
Evangelicalismo
SOLIDARIEDADE q u e m u da o m u n d o
por Ana Carolina Buratto
O
povo brasileiro é conhecido por ser caloroso e solidário. Com todo esse espírito colaborativo, vemos bastante pessoas ajudando umas às outras em troca de gratidão e carinho. Pessoas que, à sua maneira, ajudam aqueles que mais necessitam. Pensando nessa solidariedade, foi fundada em Viçosa, há 30 anos, a Rebusca, Instituição Evangélica Viçosense. Ela conta com os programas Centro Educacional Rebusca, Centro Estudantil, Mais Que Vencedores (MQV) e Programa Integração Mãe Criança (PIMC), que trabalham com crianças e adolescentes de baixa renda e suas famílias.
O programa Mais Que Vencedores, possui a mesma meta e visão dos outros programas, porém, atende a jovens de 12 a 17 anos. Sua sede também se localiza na P.H Rolfs, na Igreja Presbiteriana. Com um programa voltado para as mulheres, o Programa Integração Mãe Criança atende mulheres vulneráveis, inseridas em um sistema social opressor, que vivem em situação de exclusão social e pobreza extrema, possibilitando melhores condições de vida para suas famílias.
O Centro Educacional Rebusca é uma escola de Educação Infantil, que atende crianças de 1 a 6 anos em horário integral. Auxilia as mães que trabalham em tempo integral e propicia um ambiente seguro para seus filhos. Possui uma unidade no Centro e outra no bairro Posses.
O Rebusca alcança hoje mais de 300 crianças e adolescentes dando apoio também às suas famílias. Há também o apadrinhamento, onde os interessados em ajudar podem sustentar uma criança ou adolescente no Rebusca. Quando efetivado o apadrinhamento, o padrinho recebe um Cartão de Apresentação com a foto e o histórico familiar da criança. Três vezes ao ano, recebe desenhos, cartinhas e cartões feitos pelo próprio afilhado. O padrinho pode também enviar correspondências ou presentes para ele. Recebe ainda correspondências informativas da Instituição.
O Centro Estudantil promove ações socioeducativas, complementares à escola pública. Atende crianças de 6 a 11 anos, em jornada ampliada ou contra-turno. Oferece apoio escolar, recreação, esportes e lazer, artes e cultura, e educação cristã. Suas unidades funcionam na P.H Rolfs e no bairro Posses.
Este projeto é uma ação social que aproxima as pessoas e ajuda aqueles que necessitam. São esses pequenos gestos que muitas vezes mudam a vida desses jovens e adolescentes fazendo com que tenham uma vida saudável e feliz, com muito mais oportunidades de um desenvolvimento benéfico.
Ana Carolina Leão
Crianças esperando o início da aula de dança de rua
12
Espiritismo
Comunidade Espírita Viçosense e seu importante papel social enquanto facção filantrópica Ytalo Amarante por Carolina Felix
P
ara os adeptos, a caridade é a alma do Espiritismo. Ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há um verdadeiro espírita sem caridade. A solidariedade é forte no movimento desde Allan Kardec (fundador da doutrina em 1858), até os dias atuais. “Ser caridoso é uma atitude inerente ao homem que se denomina espírita e estuda a doutrina”, afirma Fabiana Félix membro da comunidade espírita de Viçosa.
As casas espíritas de Viçosa costumam funcionar como uma rede. Nunca trabalham isoladamente em questões sociais. Cada casa tem seu método evangelizador e sua essência espírita, porém, estão sempre unidas na função social que a comunidade espírita desempenha na cidade. Todos os alimentos arrecadados na Campanha do Quilo, e em outras atividades de qualquer um dos centros espíritas, são distribuídos com ajuda de todas as casas. Os membros de cada casa sempre se envolvem nas atividades umas das outras, seja como voluntários ou colaboradores.
As casas espíritas, além de trabalhos de evangelização, sempre têm inclusos em suas atividades trabalhos voltados para o lado filantrópico, beneficiando a população carente. Em Viçosa-MG a Aliança Espírita Viçosense conta com quatro casas espíritas e todas elas atuam na cidade com atividades filantrópicas.
O centro espírita Irmã Sheila, na R. Araponga, n°66, bairro Cantinho do Céu, trabalha com a creche Pingo de Luz, voltada para mães que trabalham fora e não tem condições de pagar por esse serviço. Além da creche o Centro organiza quatro vezes ao ano um bazar beneficente que tem o valor arrecadado todo voltado para doações. O ACEAK, na R. Da. Gertrudes 128, Centro, também funciona como creche para crianças carentes e o Centro Espírita Camilo Chaves, situado na R. Gomes Barbosa, faz distribuição de cestas básicas todos os sábados para famílias com menos recursos.
A Casa do Caminho, em especial, é uma casa espírita focada em trabalhos que seguem essa linha. Nela funciona um centro de recuperação de viciados em drogas em geral, localizado na R. Raimundo A. Moreira, n° 41, bairro Santa Clara. A casa oferece aos internos diversas oficinas, como horticultura, corte-costura e pintura, além de oferecer aos sábados, para crianças carentes da comunidade e filhos dos internos, aulas de informática. O centro organiza ainda de vinte em vinte dias a Campanha do Quilo, um mutirão de arrecadação de alimentos que são distribuídos para a população carente. De acordo com João Batista, diretor da Casa do Caminho, “toda a comunidade, espírita ou não, pode participar deste mutirão e a casa está à procura de voluntários para desenvolver estes e outros trabalhos na entidade, independente da religião”.
Atualmente a juventude espírita, também tem dado sua contribuição nesse aspecto. Como é o caso do grupo de arte espírita Transformai, formado por jovens espíritas e não espíritas que vem apresentando espetáculos variados em Viçosa e outras cidades, revertendo o valor dos ingressos em doações de alimentos. “A palavra filantropia vem do grego e significa ‘amor à humanidade’, e é nesta perspectiva que trabalham os espíritas. O propósito específico é ajudar os seres vivos e melhorar as suas vidas tanto no âmbito espiritual quanto material”, conclui Igor Borgione, coordenador do Transformai.
13
Como terceiro tópico, iremos discutir como a fé influencia na vida das pessoas. Abordaremos, novamente, as três religiões mais presentes no município. Expondo relatos de pessoas que, apesar de terem diferentes religiões, tomam suas crenças como uma forma de direcionamento para a sua vida, pretendemos demonstrar como a fé tem capacidade de mudar pensamentos e atos. Além disso, trazemos também um relato de uma pessoa que acredita ter vivenciado um milagre, e como esse fato alterou suas percepções da vida.
PÁGINAS DE FÉ 14
CATOLICISMO
Fé: muito mais que uma crença, uma esperança
M
por Cássia Lellis
aria José Santana Salgado, conhecida como Dona Zezé, professora aposentada da Fundação Nacional do Bem Estar do Menor - FUNABEM (Órgão Federal extinto) é um típico exemplo de pessoa que faz da fé, um estilo de vida. A simpática senhora, de 86 anos, conta que desde criança ela e seus quatro irmãos, acompanhados da mãe, participavam de missas e festividades religiosas. E ela manteve o que lhe foi ensinado, sempre encaminhando seus nove filhos a igreja, acompanhando a religião que ela crê, a Católica Apostólica Romana. Dona Zezé acredita que o hábito de ir às missas, as orações, o poder da fé e da ação de Deus em sua vida, fizeram com que ela superasse muitas dificuldades e conseguisse graças, consideradas por alguns, quase impossíveis. As transformações em sua vida, promovidas pela sua fé, são motivos de muita felicidade e orgulho. Afirma ter presenciado em 1947, juntamente com seus pais e irmãos, a real existência de Ma-
ria Santíssima. “Minha mãe, possuía uma garrafa de água benta em uma escrivaninha. Um dia se deparou com a imagem nítida de Nossa Senhora, sua capa, perfeitamente visualizada por todos, dentro da garrafa”. Pouco depois, aos 48 anos, a mãe de Dona Zezé faleceu e a senhora crê que a aparição da imagem de Maria foi um “sinal” para que pudessem suportar tanta dor, de maneira tão precoce. Dona Zezé relata também a influência da fé para salvar a vida de um dos seus filhos, por duas vezes. Quando jovem, ele esteve muito mal, acometido por uma hepatite. Na época, os recursos eram insuficientes para encaminhá-lo para Belo Horizonte. O médico dava poucas chances de sobrevivência, já que a doença estava em grau avançado. Nada mais podendo fazer a medicina, Dona Zezé recorreu à fé e fez promessas, e foi atendida. A segunda vez foi quando esse mesmo filho sofreu um sério acidente de moto, causado pelo uso de bebidas alcóolicas. Ficou em
coma por vários dias, sem esperança alguma de sobrevivência. “Ajoelhei diante da imagem de Nossa Senhora das Graças, no hospital, e pedi que, se fosse merecedora, que trouxesse meu filho de volta, da maneira que merecesse. Fui atendida. Hoje, está saudável, não bebe e traz muita alegria, me deu netos e bisnetos!” Dona Zezé afirma que somente com o amparo de sua fé inabalável, conseguiu superar tantas barreiras, como as dificuldades para criação dos filhos, doença e perda do seu esposo, além de ter sofrido há pouco tempo um Acidente Vascular Cerebral. Ela tem certeza que a presença divina e dos santos de Deus sempre a conforta, e por isso tem um pequeno altar em casa, onde faz suas orações. “Tenho minhas imagens, que sei, são apenas imagens, mas, ao segurá-las, ou olhá-las, me sinto ainda mais próxima de Deus”. Hoje, acompanha missas pelas redes católicas, reza os terços, além de aos domingos ir frequentemente às Santas Missas na Igreja Matriz.
Cássia Lellis
15
Janine Lopes
Evangelicalismo
“A vida que Deus me deu” N por Pedro Cursi
ão existe um padrão de comportamento ou modo de vida no mundo. Quando falamos de jovens, estas variáveis aumentam ainda mais e cada um segue aquilo que acredita. Algumas pessoas usam o bom senso para nortear suas decisões, outras vivem dentro do que a lei permite, e alguns, cada dia mais raros, seguem sua fé e o ensino religioso. Gabriel Pereira, de 21 anos, é estudante do curso de Direito, mora em Viçosa desde 2011 e é evangélico. Ele conta que durante toda sua vida frequentou a igreja, muito por culpa dos pais, que o obrigavam a ir todos os domingos. “No início eu ia porque meus pais mandavam. Eu era criança, queria estar na rua brincando, mas meu pai me mandava ir e eu tinha que obedecer”. Porém, o tempo foi passando e, de acordo com ele, foi crescendo a vontade de estar presente naquele meio cristão. Ele afirma que isso aconteceu porque quando começou a conhecer o mundo de outra maneira, não concordava com as atitudes de seus amigos. “Quando eu fui ficando mais velho, comecei a sair para festinhas. Percebi que o que os meus amigos faziam não era legal. Eles bebiam, fumavam, alguns fumavam ate umas coisas que eu nem sabia o que era na época. Na palavra de Deus fala que a gente não deve fazer isso, deve viver no caminho
16
da sobriedade, então comecei a ir pra igreja por conta própria.” Ele diz que sua rotina, principalmente nos finais de semana é completamente diferente da dos amigos e isso, causa certo desconforto nas pessoas, especialmente nos amigos que moram na mesma republica. “Os meninos aqui de casa bebem o final de semana inteiro. Aí eles me chamam pra ir com eles, mas eu sempre falo que não, porque quero ir à igreja e não ficar saindo pra beber. Alguns ficam bravos comigo uma vez ou outra, mas no final das contas eles entendem.” O estudante afirma que tirando os finais de semana e alguns raros dias de semana de farra, ele vive uma vida normal e ressalta que quem não tem um estilo de vida normal são as pessoas que não conhecem o caminho de Deus. “Eles falam que eu sou careta, que não sei aproveitar a vida. Mas na verdade, são eles que não sabem o que é viver. Deus fez cada um de nós com um propósito muito maior que ficar saindo pra beber e usar drogas durante o final de semana. Essa é a vida que Deus me deu, e eu sou extremamente grato por isso. Todo dia quando eu abro o olho de manhã, eu tenho a certeza que o que eu faço é o certo, e que vou ter muitas recompensas por isso.”
Laira Cornelós
Espiritismo
Visões de um espírita:
crenças em um mundo distinto
O
por Bruna Santos
estudante da Universidade Federal de Viçosa, Pedro Del Mar, de 22 anos, cresceu frequentando o grupo jovem de espíritas da sua cidade, Jacobina, na Bahia. Sua família, em grande parte, é espírita, mas apenas sua mãe tem a mediunidade bem desenvolvida. Pedro conta que sua mãe consegue perceber, involuntariamente, manifestações de espíritos em reuniões mediúnicas ou, às vezes, no cotidiano. “Recordo-me de uma vez que meus pais, alguns amigos e eu estávamos em um churrasco. Uma amiga da minha mãe recebeu a notícia de que um funcionário da empresa dela havia falecido e convidou-a para ir ao velório, e eu também os acompanhei. Minha mãe não conhecia o falecido e nem a causa da morte, apenas sabia que tinha sido acidente de carro, mas não de maiores detalhes. No velório, minha mãe se sentiu incomodada porque um homem a observava muito, insistentemente, e indagou essa amiga se ela o conhecia. Ela afirmou que não estava vendo ninguém com as características descritas e depois, quando minha mãe olhou para o caixão, viu que o homem que lhe encarava era o falecido, o espírito dele no caso. Logo em seguida minha mãe sentiu fortes dores na barriga, na região do baço, ao ponto de ter que ir para o hospital. Depois ela ficou sabendo que o rapaz morreu porque teve o baço perfurado, exatamente onde minha mãe sentiu a dor.” O espiritismo para Pedro e sua família, além de fé, é estudo. Há, nas reuniões nos centros, sessões de estudos de obras que ajudam a entender toda a dinâmica da vida espiritual, suas manifestações e reencarnações, fazendo com
que eles compreendam e aceitem mais as características e consequências do espiritismo. “Existe o Livro dos Espíritos, o Livro dos Médiuns, A gênese e etc. Obras chamadas de “codificação”. Então, quando uma pessoa é imbuída nesses estudos, ela vê todas essas coisas de forma natural, ao menos, muito mais natural do que um leigo no assunto.” Ao contrário de sua mãe, Pedro não é um espírita tão convencional. Ele sempre teve uma relação conflituosa com a religião, como questões metafísicas do tipo “Deus realmente existe?” “Reencarnação existe?” “Espíritos existem?”. Essas dúvidas sempre o incomodaram e fizeram com que tivesse uma relação menos pacífica com a doutrina espírita. No entanto, mesmo com essas dúvidas, para Pedro, o espiritismo é a religião que tem as melhores respostas pra outras questões da vida. É a religião, ao lado das doutrinas afros, que melhor dialoga e tenta entender o “sobrenatural”. É também uma doutrina que lida melhor com a questão do respeito, como a aceitação dos homossexuais. Enfim, é uma religião não tão dogmática e fechada como as demais e isso o agrada. O espiritismo exerce grande influência nas suas condutas, no seu modo de ser consigo mesmo e na relação com os demais. Pedro ainda ressalta: “O que mais me chama a atenção é essa questão de poder fugir um pouco desse mundo sensível, ordinário, real, do dia a dia, da rotina, da razão que vemos todos os dias na Universidade e poder ao menos supor que há outras formas de vida e que o que fazemos no plano terrestre é só uma fase de algo bem maior”.
17
“
por Dayane Pereira
omo já disse Santo Agostinho: “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.” E foi assim que a dona de casa Maria da Conceição Cassiano, 52 anos, conhecida como Conceição, baseou sua vida em um momento delicado. Ela é Católica Apostólica Romana e acredita que o fato de estar viva é devido ao imenso amor de Deus para com ela. No ano de 2011 fez exames e descobriu que estava com nódulos cancerígenos nas duas mamas. Segundo um médico, seriam cirurgias complicadas. Sua família permaneceu em oração constate para que Deus pudesse cuidar da vida dela. E durante noites, Deus colocava nos corações de sua família uma inquietude em relação a esses nódulos. Resolveram, então, consultar outro médico. Quando consultaram um segundo especialista, ele disse que o tumor cancerígeno dela era somente na mama direita. Mas que ela precisaria operar rápido. “Aí que eu senti assim, aquela força de Deus, porque Ele estava testando cada vez mais a minha fé” disse Conceição. Muitas pessoas desanimam diante de uma enfermidade como o câncer. Caem em depressão, enfraquecem na fé e não acreditam que possam ser curados pelas bênçãos e proteção de Deus. Mas Conceição demonstrou fé e confiança nos planos divinos porque sabia que Ele ia cuidar de sua vida e fazer o que fosse melhor para ela. Quando rezava, pedia para que
18
Isabella Drumond
C
Só não há cura se não tiver fé
MILAGRE
eu estou preparada, Deus me preparou e quem vai fazer a cirurgia em mim é Deus. Deus vai ungir as mãos do senhor.” E antes da anestesia fazer efeito ela pode escutar o médico falando: “Eu nunca vi uma mulher de tanta fé igual a esta daqui”, conta A cirurgia foi desmarcada Conceição. muitas vezes por falta das próteA cirurgia ocorreu tudo bem, ses, mas Conceição sempre teve muita paciência. Rezava sempre ela fez todos os tratamentos e e pedia a Deus que lhe preparas- em 12 de dezembro do mesmo se para a cirurgia. Segundo ela, ano fez sua última terapia. Na foi um momento em que Deus mesma semana, seu marido fez renovou e aumentou a sua fé. exames e descobriram que ele A cirurgia foi marcada defini- também estava com um tipo de tivamente para dia 1º de março câncer. Mas Conceição acreditou às 8h da manhã. Chegando ao que era apenas mais um teste, hospital, Conceição foi interna- não desanimou e nem se deixou da, mas por ter surgido um caso abalar. mais grave que o dela, ficou es“Eu vou levar a palavra de perando para ser operada até Deus até onde Ele mandar. Poras 14h da tarde. Foi um tempo que pra mim tudo isso foi uma que ela usou para rezar e entre- vitória muito grande. O câncer gar sua vida nas mãos de Deus. não é uma coisa que você precisa Quando finalmente chegou a ficar espantado, porque tem sosua vez, o médico a perguntou se lução. Só não há cura se a pessoa ela estava preparada. “Doutor, não tiver fé”, finaliza Conceição. fosse feita a vontade de Deus, mas que tinha um grande sonho de ver a filha formada, casada, queria ter e cuidar dos netos. Nem imaginava que hoje, em 2013 Deus lhe concederia tudo isso.
ATEÍSMO E AGNOSTICISMO
Apesar de não serem religiões, o ateísmo e o agnosticismo entram no tema de religiosidade como a ausência de fé. Muitas pessoas associam a falta de fé com desvio de caráter ou má conduta, o que é uma injustiça e um julgamento falacioso. Por isso, além de trazer os conceitos e as características de cada grupo, diferenciando-os, entrevistaremos um ateu e um agnóstico para saber, no seu caso, como a ausência de fé influencia em suas vidas, bem como a maneira que eles enxergam as religiões.
19
conceito
a vida sem Deus por Caroline Mauri
E
m um sentido amplo, o ateísmo é a rejeição a acreditar na existência de divindades e outros seres sobrenaturais, assim como diz o próprio termo, antônimo de teísmo, que é a crença em algum deus. O termo ateísmo, proveniente do grego clássico, que significa “sem Deus”, foi aplicado com uma conotação negativa àqueles que não compartilhavam da adoração aos deuses como a maioria da sociedade. Com a difusão do pensamento livre, do ceticismo científico e do consequente aumento do criticismo à religião, a aplicação do termo foi reduzida em seu escopo. Os primeiros indivíduos a identificarem-se como “ateus” surgiram no século XVIII. Esses indivíduos tendem a ser céticos em relação a afirmações sobrenaturais, citando a falta de evidências empíricas e oferecendo vários argumentos para não se acreditar em qualquer tipo de divindade. O complexo ideológico ateísta inclui: o problema do mal, o argumento das revelações inconsistentes e o da descrença. Embora alguns ateus adotem filosofias seculares e humanistas, não há nenhuma ideologia ou um conjunto de comportamentos a que todos os ateus aderem. Raramente, o ateísmo aparece em certos sistemas espirituais, mas que se comportam mais com estilos de vida ideológicos do que com religiões, como o jainismo e budismo. Já o agnosticismo é a visão de que a verdade de certas reivindicações, especialmente afirmações sobre a existência ou não existên-
20
cia de qualquer divindade, é desconhecida. No sentido estrito, o agnosticismo é a ideia de que a razão humana é incapaz de prover fundamentos racionais suficientes para justificar tanto a crença de que Deus existe ou a crença de que Deus não existe. Ou seja, na realidade, existem tanto ateus agnósticos – que não acreditam que um deus exista, mas que não negam a possibilidade de sua existência – e os teístas agnósticos – aqueles que acreditam que um Deus existe, mas não afirmam ter certeza disso. Porém, no sentido popular, o agnóstico foi generalizado como a primeira classificação, aqueles que não creem em alguma divindade, mas não descartam que ela possa existir, só precisam de provas. É uma opinião cheia de incerteza, o que comumente conhecemos como ‘em cima do muro’. O número de adeptos vêm crescido bastante nos últimos anos, como apontam algumas pesquisas. “Segundo o Centro de Treinamento Cristão European Apologetics Network, de Londres, “somente na Europa, nos últimos 100 anos, o ateísmo cresceu de aproximadamente 1,7 milhão para cerca de 130 milhões de pessoas”. Um estudo de 2005, publicado na Encyclopædia Britannica, revelou que os não-religiosos representam cerca de 11,9% da população mundial e os ateus cerca de 2,3%. Alguns dos ateus mais famosos são: Albert Einstein, Bill Gates, Carl Sagan e Richard Dawkins.
Ateísmo
A razão acima de tudo
J
por Juliana Souza
oão Negrelli, 20 anos, é carioca da gema, universitário e assumidamente ateu! Para ele, o ateísmo o tornou uma pessoa menos preconceituosa e muito mais humanista e tolerante. Uma vida pautada pela racionalidade e pelo respeito ao próximo são seus ideais.
Religare: João, como aconteceu a ausência de fé na sua vida? Eu sempre fui uma criança muito atípica. Quando eu era pequeno minha família era toda católica, me levavam para a igreja, e eu fiz Catequese, Crisma, Perseverança, tudo isso. Mas eu achava absurdas aquelas imagens da igreja. Eu fui crescendo, mas eu nunca deixei de acreditar que existia. Até que de uns três anos pra cá eu fui lendo mais, pesquisando algumas coisas, estudando mais também e isso foi brotando. Religare: Nas suas pesquisas, algum título te marcou? Os primeiros que eu li foram mais para organizar minhas ideias, para saber o que é isso, o que é aquilo. Mais recentemente eu li David Hume, História Natura da Religião, Pascal Boyer, Religion Explained, basicamente esse tipo de literatura. Mas, mais no início foi aquela literatura ateísta mais famosa do Dawkins, Christopher Hitchens, que eu gosto muito.
Ana Luiza Oliveira
Religare: Pode-se dizer então que você não crê em nenhum Deus? Não. A diferença é a seguinte: quando você pega, por exemplo, um indivíduo que seja católico. Se ele é católico, ele é monoteísta. Então ele já é ateu para um monte de outros deuses. E se ele acredita em um deus cristão, ele é ateu para os deuses hindus, para o islamismo, para o judaísmo. Se você acredita em só um deus, você deixa de acreditar em outros. Eu só fui um deus adiante, eu só deixei de acreditar em um deus a mais. Religare: Você acredita que a falta de fé pode influenciar no comportamento de uma pessoa? Ah, com certeza. Eu me tornei mais humanista, mais secular, menos preconceituoso. Eu me tornei uma pessoa muito melhor, inclusive. Muito mais tolerante. O ponto de vista de mundo principalmente. Religare: Uma pessoa que nunca esteve em contato com qualquer religião, pode se tornar um ser humano bom, segundo suas perspectivas?
Com certeza! Tem um filósofo americano chamado Sam Harris. Ele escreveu um livro a partir dessas experiências de ser criado como secularista. Os pais dele nunca ensinaram religião a ele, e quando ele foi ler a bíblia mais velho, ele leu como deve ser lido, como realmente é, como literatura, como romance. Religare: Nas suas relações sociais, quando surge o assunto “ateísmo”, quais são as reações aos seus posicionamentos? Acham que você é o filho do mal, a pior pessoa do mundo. E quando você pega uma pessoa que personifica amor, carinho, amizade, todos esses sentimentos bons, na figura de deus, e você fala pra ela que deus não existe, você está falando pra ela que amor não existe, que carinho não existe, que amizade não existe. Então ela entende que você não acredita em amor, carinho e amizade. Aí você tem que explicar tudo isso.
21
agnosticismo Jesus Vilaça
Ver para crer
por Bruna Guimarães
D
e família muito católica, Diogo Rodrigues, 23 anos, passou por todos os sacramentos da religião. Mas o seu pensamento mudou e hoje em dia ele diz não poder afirmar nem negar a existência de Deus, apesar de respeitar a fé da cada um. Você já teve alguma religião? Eu era católico, minha família é católica. Eu fui batizado e eu ia à igreja praticamente todo domingo. Fiz primeira comunhão, fiz até Crisma. Minha família é bem católica mesmo.
não ser que Deus chegue aqui e me fale “Eu sou Deus por causa disso, disso e disso.” Pronto, me convenceu. Se uma pessoa começar a tentar me convencer eu provavelmente vou cortar ela em poucos minutos, porque é apenas uma pessoa.
Qual a definição de agnosticismo que você viu e pensou “é nisso que eu me encaixo”?
Você sofreu preconceito da sua família por ter se tornado agnóstico?
Na verdade eu nem penso no termo agnóstico, não pensei assim “vou virar agnóstico”, eu descobri o termo depois de ser, eu tinha um pensamento mas não tinha uma definição pra ele.
Sim, mas eu encaro com ironia. Como na minha família é todo mundo muito católico, costumo ouvir da minha mãe e da minha vó principalmente, “Ah, você tem que ir à missa, você precisa de alimento espiritual.” Aí eu sempre encaro com ironia porque eu sei que eu não vou mudar a mentalidade deles.
Mas pra você o que é? É o pensamento de você não pode afirmar que Deus existe nem que Deus não existe. Já que você não pode afirmar, você não pode tomar uma decisão quanto a isso. Então se alguém tentar te convencer da existência de Deus é algo que você está aberto a ouvir? Pra você, pode ser que ele exista? Não, porque eu já ouvi muita coisa. É uma dúvida que não pode ser comprovada, ninguém pode chegar aqui e me convencer que Deus existe, há
22
E de outras pessoas? O papo religião sempre surge, e eu acho um assunto muito chato. Apesar de eu ser aberto pra discutir, sempre acaba gerando um conflito porque você está entrando na crença de outra pessoa, no que ela pode ter construído desde muito nova. Tem pessoas que não aceitam a religião do outro, mas eu aceito a fé de cada um, só não acredito.
ideologia
A imagem em prol da ‘desilusão cristã’
V
por Jéssica Miranda
em crescendo o número programas e documentários, produzidos na maioria das vezes por ateus, que tentam mostrar ao expectador o que chamam de ‘inocência cristã’. A campanha mais popular da ATEA (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos), por exemplo, compara ateus filantrópicos com religioso assassinos. É o caso de Charlie Chaplin, emérito filantrópico, aliado com movimentos pacifistas, e Adolf Hitler, cristão que matou milhares de judeus, homossexuais, ciganos e deficientes físicos e mentais durante a Segunda Guerra Mundial. A ideia da campanha é clara: religião não define caráter. No documentário Religulous (uma junção de religião e ridículo) o comediante americano Bill Maher percorre os Estados Unidos mostrando como, em prol da religião, milhares de pessoas morreram. O filme ainda aborda iniciativas bizarras a favor da religião, como o musical que conta a vida de Jesus ou o judeu que não acredita no Estado da Palestina. Mais uma vez a ideia é mostrar que com religião ou sem religião, as pessoas podem fazer coisas bastantes estúpidas. Em O Deus que não estava lá, o diretor Beyond Belief diz que ser religioso e contrário a Inquisição é contraditório, já que a “polícia cristã” dos séculos passados só estava tirando o que eles consideravam maléfico da Terra, algo que os cristões querem até hoje. O que mudou apenas são as concepções desses malefícios. De todas essas expressões que tentam mostrar as contrariedades religiosas, principalmente as religiões cristãs, o mais popular, antigo e expressivo programa de TV norte-ame-
ricano é o The Atheist Experience. Criado por Matt Dillahunty, ex-cristão batista, que quando começou seus estudos para virar pastor, virou completamente ateu. Deu início a diversas iniciativas contra o teocentrismo, com o intuito de que “ninguém mais viva na ignorância religiosa e perca mais um dia com crenças irracionais”, em suas próprias palavras. O The Atheist Experience se tornou o mais popular instrumento de discussão e descrença da religião atualmente. Criado há mais de dez anos, o programa tem uma linha de telefone aberta para o telespectador religioso ou ateísta discutir sobre o tema. De conservadores religiosos, que ligam alertando sobre as almas dos apresentadores estarem perdidas, até ateus, que ligam buscando ideias de como desmistificar crenças em suas regiões, o programa atrai todo tipo de público. Até um ouvinte de São Paulo já ligou para o programa alertando sobre o que ele considera ser a mistificação de Chico Xavier. Entre um dos episódios mais lendários, Matt Dillahunty conta ao expectador como teve relações cortadas e foi afastado de grande parte de sua família devido a sua falta de crença e como constantemente o chamam de demônio ou servo do Lucífer. O que todas essas expressões têm em comum é a ideia de que ninguém precisa de uma religião para definir princípios morais e ser alguém bondoso de coração. Além de desmistificar as religiões gerais e mostrar como, por princípios religiosos, milhares de pessoas já morreram e ainda morrem, como acontece hoje na Síria, Palestina e Israel.
23
CIÊNCIA
Abordar temas que muitas vezes são discutidos e debatidos entre diversas áreas da ciência e instituições religiosas, além de conhecer seus respectivos argumentos, é importante para formarmos a própria opinião sobre assuntos delicados. Nas páginas a seguir trataremos de tópicos polêmicos e determinados pontos, como aborto, homossexualidade e eutanásia, trazendo os respectivos posicionamentos de algumas religiões que entram em conflito com as análises científicas.
24
A RELIGIÃO
Abordar temas que muitas vezes são discutidos e debatidos entre diversas áreas da ciência e instituições religiosas, além de conhecer seus respectivos argumentos, é importante para formarmos a própria opinião sobre assuntos delicados. Nas páginas a seguir trataremos de tópicos polêmicos e determinados pontos, como aborto, homossexualidade e eutanásia, trazendo os respectivos posicionamentos de algumas religiões que entram em conflito com as análises científicas.
25
aborto
Entenda a opinião das principais religiões do Brasil sobre aborto
N
por Letícia Rodrigues
o Brasil, segundo a legislação que trata do assunto, o aborto é considerado crime contra a vida e o Código Penal prevê detenção de um a dez anos, dependendo da situação. Ainda segundo a legislação, são legalmente aceitos quando não há outro meio de salvar a vida da mãe ou quando a gravidez surge após um estupro. Segundo pesquisa feita pelo instituto Vox Populo em 2010, 82% dos entrevistados apoiam que o aborto continue sendo considerado crime. Esse fato pode ser justificado pela questão de que a população brasileira é predominantemente cristã. Porém, apesar da sociedade brasileira criminalizar esse ato, o Ministério da Saúde acredita que sejam realizados entre 500 mil e 800 mil abortos por ano no país. O Brasil é um dos países com o maior número de abortos do mundo. O método não é algo que surgiu no mundo contemporâneo. Alguns estudos antropológicos afirmam que essa prática já era realizada desde a antiguidade, através de ervas abortivas, pressão ou até mesmo pancadas na região abdominal da mulher grávida. Quando o assunto é a opinião das religiões, quase todas as grandes correntes condenam o ato, por ser considerado um atentado contra a vida. O Catolicismo condena o aborto em qualquer estágio e em qualquer circunstância desde o século IV e essa permanece sendo, até hoje, a posição oficial da Igreja Católica. Segundo os princípios da religião, a alma é infundida no novo ser no momento da fecundação, logo o aborto não é aceito
26
Cleiton Floresta
em qualquer fase. A punição que a igreja católica dá pra quem faz o aborto é a excomunhão. Já no Protestantismo há um leque maior de opiniões em relação ao aborto. A grande diferença entre católicos e a maioria das igrejas protestantes é o respeito à vida da mãe. A maioria das vertentes do Protestantismo encara a mãe como prioridade no momento em que o aborto é considerado uma opção, ou seja, se a gravidez puder fazer mal à ela, a interrupção é aceita. Os países com maioria protestante foram os primeiros, neste século, a adotar legislações mais liberais em relação ao assunto. O Espiritismo é uma religião bastante difundida no Brasil, e todas as suas vertentes acabam considerando o aborto crime, mas por razões diferentes das pregadas pelo catolicismo. Os espíritas veem o ato de abortar como uma recusa aos desígnios de Deus, mas eles também consideram que a vida que já existe, a mãe, deve ser priorizada em relação ao ser que ainda não existe. As religiões afro-brasileiras, Umbanda e Candomblé, são derivadas das religiões tribais africanas. Elas são contra o aborto, pois veem o filho como uma continuação da própria vida. Dessa forma, eles também são contra mas, assim como a maioria das outras religiões, se a saúde da mãe estiver em risco ele é aceito. Mesmo com vários estudos favoráveis ao aborto, o que se observa é que a maioria das religiões ainda é contra tal ato, mesmo que algumas se mostrem abertas para a discussão. E discussão é o que não irá faltar quando o assunto é a mistura desses dois temas.
Métodos Contraceptivos
Os benefícios dos métodos contraceptivos por Fernando Cezar e Hugo Amichi
A
pesar de diversas religiões não aprovarem o uso dos métodos contraceptivos, esses procedimentos apresentam muitas vantagens. Uma das bandeiras levantadas a favor do uso dos métodos contraceptivos é o planejamento familiar. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, anticoncepcionais podem ajudar no controle de natalidade e, conseqüentemente, fatores sociais que envolvam a saúde da mulher, renda familiar e saúde infantil podem melhorar gradativamente. O planejamento evita a gravidez em um momento inoportuno e ele é a chave principal para reduzir um crescimento acelerado da população.
Matheus Gonçalves
Dados da OMS revelam que houve um pequeno aumento no uso dos anticoncepcionais. Globalmente, o uso de contraceptivos modernos aumentou ligeiramente, de 54% em 1990 para 57% em 2012. Ainda segundo a OMS, estimase que há 222 milhões de mulheres que querem ter filhos posteriormente ou não querem ter filhos, mas não estão usando nenhum método contraceptivo. Os motivos apresentados por elas são muitos, entre eles estão o medo de efeitos colaterais, pouca variedade de métodos e claro, oposição por razão religiosa. A OMS traz uma série de outras vantagens ao fazer uso de certos métodos anticoncepcionais, principalmente para as mulheres. As camisinhas, por exemplo, protegem os usuários de doenças sexualmente transmissíveis, a pílula controla os hormônios responsáveis pelo aparecimento de espinhas e reduz o risco de câncer de endométrio ou ovário. O DIU (Dispositivo Intrauterino) diminui a cólica menstrual. Em frente a todas as vantagens do uso de métodos anticoncepcionais, seria, então, algo tão errado fazer uso
desses benefícios providos pela ciência? Seguir a religião ao pé da letra seria, realmente, a melhor opção? A polêmica entre religião e os uso destes métodos é uma discussão que vem se estendendo há anos. Fomos atrás da religião católica a respeito do uso desses métodos e a resposta não foi tão aberta como poderíamos pensar. Na igreja católica não há uma única doutrina vigente sobre os métodos contraceptivos. Segundo o Padre Antônio de Sá, da arquidiocese de Belo Horizonte, a doutrina defendida pelo Papa e os demais membros do alto clero é ser totalmente contrário a qualquer meio de contracepção artificial, pois esses métodos vão contra as leis de Deus. O padre ainda afirmou que se torna impossível em um mundo tão diferente, tão mudado, seguir à risca algumas das regras da doutrina católica. “É claro que com este mundo da forma como as pessoas se relacionam é impossível não pensar no uso da camisinha, por exemplo. Tenho vários amigos dentro da arquidiocese que são totalmente contra relações entre jovens fora do casamento, que a doutrina da Igreja tem que ser seguida à risca, mas são padres com um legado mais antigo, que vem de outro tempo. Eu mesmo tenho 27 anos, sou jovem, já nasci em um mundo mudado e sei que atualmente é impossível pensar e agir como a 30, 40 anos atrás. Isso na minha concepção é bom, com a chegada de novos padres a Igreja se renova, abre a mente para os novos tempos”. Antônio ainda afirmou que é importante o jovem se unir a Igreja, tentar buscar o apoio em grupos de jovens, e não só tentar mudar a mentalidade dos mais antigos, mas tentar ajustar a juventude e experiência.
27
homossexualidade
genes abençoados: uma visão da genética e das religiões sobre a homossexualidade ão é privilégio dos dias atuais o confronto entre ciência e religião, polêmicas sempre existiram. Da onde surgiu o homem, afinal? Deus? Evolução das espécies? Pesquisas, crenças e opiniões à parte, o que vêm roubando os holofotes da mídia hoje, dentre tantas outras questões, é a questão da homossexualidade. De novelas abordando o tema a jovens sendo vítimas de homofobia todos os dias, passando por um projeto de lei que criminaliza essa mesma prática e famosos se assumindo, é difícil se abster do assunto de forma total. Se aprofundando um pouco mais na posição científica e religiosa do caso, de uma forma mais geral e resumida, o ponto principal aqui não vai ser necessariamente propor um embate em si, e sim, expor a visão de cada lado. O que diz a genética: Dia após dia são publicados estudos sobre o assunto. Em um vídeo do YouTube, o biólogo e doutorando em Genética, Eli Vieira, reúne os principais deles em resposta às declarações de um famoso líder religioso brasileiro sobre a homossexualidade. Segundo Eli, há a comprovação de uma contribuição dos genes e uma contribuição externa na manifestação da orientação sexual, e são conhecidas atualmente 1500 espécies de animais que apresentam o comportamento. Ele comenta também sobre um estudo da Academia Nacional de Ciências dos EUA, que atesta que homens homossexuais demonstram similaridades cerebrais a mulheres heterossexuais e mulheres homossexuais a homens heteros-
28
Jéssica Miranda
N
por Lucas Moura
sexuais, apontando, ainda, para uma pesquisa identificadora de uma sensibilidade maior dos homens homossexuais a androsterona, molécula ligada ao odor masculino. Aproximadamente um mês após a publicação do vídeo, as palavras do geneticista foram reiteradas pela Sociedade Brasileira de Genética. A posição do catolicismo: É a mesma divulgada pelo papa Francisco em julho deste ano, de acordo com o padre Paulo Quintão, sacerdote no Santuário Santa Rita de Cássia (Igreja da Matriz), em Viçosa. Em sua passagem pelo Rio de Janeiro, na Jornada Mundial da Juventude, o pontífice se perguntou quem era ele para julgar uma pessoa homossexual que procurava a Deus. “A relação entre pessoas do mesmo sexo não é uma coisa aceita pela Igreja, mas os gays não devem ser marginalizados”, o padre explica. Sobre o acolhimento da Igreja Católica para com o homossexual, Paulo avisa que toda tarde e antes da missa há atendimento no Santuário e que eles, além de acolher a todos, costumam receber bastante jovens.
A posição do protestantismo: Segundo o pastor Marlos Andrei, da Igreja Metodista de Viçosa, a prática homossexual é algo que a Bíblia não prega, mas o assunto ainda segue sendo estudado por parte da igreja evangélica como um todo. Sobre a representação da classe no Congresso Nacional, Marlos é incisivo ao afimar que parlamentar algum está lá para representar os evangélicos, mas sim, o povo brasileiro. Em relação ao trabalho de acolhida, o pastor diz que os membros têm o coração aberto para ouvir e dialogar sem julgamentos. A posição do espiritismo: Uma fonte que preferiu não se identificar descreveu a homossexualidade como algo que tem suas causas, origens e relações definidas de acordo com o processo evolutivo do espírito. Nada sofrível de condenação ou anormalidade. “Independente se bi, hétero ou homossexual, acima de tudo, o amor e o respeito devem ser preservados, tal como a evolução moral, a superação de vícios e valorização do sexo como ato sublime”, disse.
Eutanásia
Os lados da morte induzida Taiane Souza
por Anna Gabriela da Motta
E
m situações difíceis, tomar uma decisão definitiva parece impossível. As dúvidas enchem a mente e fazem com que tenhamos medo de escolher entre duas ou mais opções. Mas escolher é necessário. Uma situação difícil, por exemplo, é a prática da eutanásia. Permitir que um ente querido sofra por tempo indeterminado ou sentencia-lo a morte? A palavra eutanásia vem do grego, e significa boa morte, ou morte sem dor. Ela serve para apressar a morte de um doente incurável, sem que haja dor. Essa prática pode ser diferenciada de duas maneiras: eutanásia ativa e eutanásia passiva. A ativa consiste na utilização de meios para por fim a vida do doente (injeção leta, alta dose de medicamentos). Já a passiva, também conhecida por ortotanásia, é quando a morte é ocorre por falta de recursos necessários (água, alimentos, cuidados médicos).
A eutanásia é uma prática proibida no Brasil. Na verdade, ela em si não é mencionada na lei brasileira, mas existem dois artigos do Código Penal que podem ser utilizados para decidir penas sobre a prática. Um é o artigo 121, que fala sobre homicídio qualificado (morte provocada por motivo fútil com emprego de meios de tortura ou com recurso que dificulte ou impossibilite a defesa). Já o artigo 122 fala sore suicídio induzido (instigado e têm auxílio de terceiros). Na Holanda e na Bélgica, a eutanásia é permitida. Um outro argumento, pautado não no biodireito mas na religião, é o de que somente Deus tem o direito de dar ou tirar a vida de alguém. O Cristianismo e o Judaísmo são duas religiões que defendem esse argumento, partindo do princípio que se a pessoa ainda está viva, mesmo que parcialmente, ela deve ter o direito de lutar pela vida. Existe uma entidade oriunda na Igreja Católica aprova a eutanásia. É a ONG Católicas pelo Direito de Decidir (CDD). Ela é
formada por militantes feministas cristãs, que defendem o aborto e a eutanásia. A estudante Fernanda Candian afirma que essa decisão deve ser tomada em família. “Acredito que se acontecer a morte cerebral, não há mais o que fazer, porque a pessoa não vai mais responder.” Para a jovem de 21 anos, a decisão deve ser muito difícil, que deve ser tomada. “A única coisa a partir de então é doar os órgãos e ajudar outras pessoas”. Já a estudante Marcela Martins diz que jamais teria coragem de solicitar que desliguem o aparelho. “Eu entendo que é cansativa a rotina, e a família acaba sofrendo muito. Mas eu jamais falaria ‘pode desligar’”. A eutanásia levanta diversas opiniões divergentes, tanto no Direito como na Religião. Passa a ser uma questão pessoal, em que cada um vai decidir o que seria certo ou errado. Talvez apenas passando por situações como essa é possível se posicionar.
29
EXPEDIENTE Esta revista foi produzida pelos alunos do terceiro período do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa – MG. Editora-chefe: Caroline Mauri Produção gráfica e diagramação: Gabriel Novais Editora de arte: Anna Gabriela da Motta Repórteres Fotografos
Ana Carolina Buratto Ana Cláudia Richardelli Anna Gabriela Motta Ana Luísa Moreira Bruna Guimarães Bruna Santos Carolina Rocha Caroline Mauri Cássia Lellis Dayane Pereira Fernando Cézar Hugo Amichi Jéssica Miranda Júlia Moreira Juliana Souza Letícia Natalina Letícia Rodrigues Lidiany Duarte Lucas Moura Pedro Cursi
Ana Carolina Leão Ana Luiza Oliveira Cássia Lellis Cleiton Floresta Ingrid Carraro Isabella Drumond Janine Lopes Janine Lopes Jéssica Miranda Jesus Vilaça João Negreli Laira Cornelós Laira Cornelós Lidiany Duarte Mariana Diniz Matheus Gonçalves Taiane Souza Ytalo Amarante
Demais imagens reproduzidas do site Creative Commons e respectivos documentários.
30