Pronta para lutar em Pequim

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ESPORTE

DOMINGO 24.2.2008 JORNAL ABC

Pronta para lutar em Pequim Fotos Divulgação

GABRIEL GUEDES

A atleta gaúcha Débora Nunes poderia perfeitamente ser sinônimo de lutadora. Não por integrar o grupo de três atletas de tae kwon do classificados para representar o Brasil nos Jogos de Pequim 2008, mas porque precisou vencer outras lutas para chegar neste ponto. Aos 24 anos, a porto-alegrense se prepara para estrear nas olimpíadas. Com vaga garantida desde dezembro de 2007, depois da frustração nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, ela se diz empolgada com o desafio e pronta para enfrentar os adversários em território chinês. O tae kwon do surgiu para Débora quase ao acaso. De tanto chegar em casa chorando, depois de apanhar de colegas da escola, sua mãe resolveu colocá-la em uma escolinha de artes marciais. “Minha mãe me contou esta história há pouco tempo”, confessa. Por ironia do destino, a garota estudava no Colégio Grande Oriente, na zona norte de Porto Alegre. A atleta chegou a fazer judô por seis meses, mas logo foi para o tae kwon do por sugestão de um amigo na época, há 12 anos. “Fiz por opção de defesa pessoal, mas me achei totalmente com o esporte. Não sentia dificuldades em praticar”, revela. Os primeiros treinos ocorriam em uma garagem da casa de um professor. Logo, começou a participar das primeiras competições. Débora bem que tentava sobreviver da modalidade, mas confessa ter sido difícil. “Eu dedicava metade do dia ao trabalho como secretária na mesma academia que eu treinava no período oposto”, conta. Mas a oportunidade de se aperfeiçoar veio com a sua integração à equipe Kappesberg/UCS. “Foi quando comecei a sonhar com um futuro só com o tae kwon do. Espero que os jogos em Pequim reflitam o meu esforço nestes últimos quatro anos”, aposta, ela que treina durante quatro horas por dia. “Ainda quero trazer muitas medalhas e alegrias para o Brasil.”

QUEM É ELA Débora Fernanda Silva Nunes nasceu no dia 16 de junho de 1983 em Porto Alegre. Começou a lutar aos 12 anos, com o objetivo de usar a luta como defesa pessoal. Mas a paixão pelo esporte foi mais forte e persistiu com o tempo. Com 1,81 metro de altura e pesando 57 quilos, a lutadora de tae kwon do vai para a sua primeira Olimpíada aos 24 anos.

Fora das competições pela seleção brasileira, com sede em São Paulo, Débora é uma das atletas da Kappesberg/UCS desde 2004. A equipe é fruto de uma parceria entre a Universidade de Caxias do Sul, em conjunto com a Academia Unidos de Farroupilha (onde são feitos os treinamentos), e a empresa de móveis Kappesberg, da cidade de Tupandi.

A MODALIDADE A arte marcial, de origem coreana, começou a ser praticada 1,4 mil anos antes de Cristo. No início, a modalidade se denominava so back do, cujo significado é a arte de golpear com o punho e dar patadas, e era usada como um ritual religioso e também como rito de integração com a natureza. A modalidade como é hoje, surgiu com a unificação das diversas variações desta arte marcial, resultando em um estilo nacional: o tae sôo do, depois chamado de tae kwon do, que

significa em português o caminho dos pés e das mãos. Quando foi sede dos Jogos de 1988, a Coréia do Sul colocou o tae kwon do como esporte de exibição. Em Barcelona, em 92, voltou como esporte de demonstração. Em Sidney, 2000, o esporte passou a integrar o programa oficial olímpico. No Pan, o esporte tem participação constante, sendo disputado desde os Jogos de Indianápolis, em 1987.

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SURPRESA EM ANO DIFÍCIL A seleção brasileira de tae kwon do será representada por três lutadores nas Olimpíadas de Beijing 2008. No feminino, Natália Falavigna e Débora Nunes serão as brasileiras na busca por medalhas. No masculino, Márcio Wenceslau defenderá as cores do Brasil na China. Márcio Wenceslau, medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007, se classificou para os Jogos Olímpicos no primeiro dia de lutas do PréOlímpico Pan-Americano, disputado em Cali, na Colômbia, no dia 8 de dezembro de 2007. O vice-campeão mundial conquistou o ouro na categoria até 58 quilos. Na categoria acima de 67 quilos, a paranaense Natália Falavigna, campeã mundial em 2005, ficou em primeiro lugar, com a equatoriana Lorena Benitez em segundo e Adriana Carmona, da Venezuela, em terceiro. Natália também faturou a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos Rio 2007 Mas a grata surpresa veio com a gaúcha Débora Nunes. Junto com Natália, garantiu a vaga no segundo dia de disputas do Pré-Olímpico Pan-Americano. Débora, que não obteve bons resultados no Pan do Rio, sendo eliminada na primeira luta, também foi campeã em Cali, na categoria até 57 quilos. A norte-americana Diana Lopez ficou em segundo e Doris Patino, da Colômbia, em terceiro. “O emocional atrapalhou naquele dia. Dei uma balançada depois de sofrer aquela derrota”, analisa Débora, sobre o Pan. Segundo a lutadora, foi o momento derradeiro para reunir forças e dar a volta por cima. Assim, recuperada, ela encerrar o ano com o passaporte carimbado para os jogos na China.


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