Esse zine foi feito pelas excluídas, pelas não ouvidas, pelas desacreditadas, pelas subes madas, pelas humilhadas, pra todas as outras que assim se iden ficam, são, textos,poemas,relatos, vividos das formas mais intensas e verdadeiras, ve a ideia desse zine, após muitos perrengues, um deles comigo mesma, após inúmeros desabafos entre nós, um zine que fala sobre cole vismo, coopera vismo, sororidade e empa a no seu mais puro significado, zine para disseminar ideias, ideais e percepções diferentes, pra abranger e acolher tudo e todas, uma conexão linda entre Recife, São Paulo, e Paranavaí no Paraná. Espero que odeiem, que doa, espero que amargue, aquele que todos agrada, nem sempre verdadeiro é. Deixo aqui meus sinceros agradecimentos a Rose Macfergus pela paciência e disponibilidade de tempo, por compar lhar conosco sua trajetória, e um pouco de sua sobrevivência, agradeço a Luanda Soares (Junkie Lu), por cada detalhe lindo colocado minuciosamente em cada ilustração nesse zine, por também compar lhar sua historia de vida comigo, e confiar em mim, um beijo e um abraço bem aconchegante pra vocês, e logo estaremos todas juntas!. "Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sen r como se es vesse plena de tudo." Clarice Lispector Gah Rawpunk RECIFE/PE
O ego excessivo: O desespero da necessidade de autoafirmação… Essas individuos se tornarem incapazes de dizer não aos apelos encatadores e as falsas expecta vas sociais. Além que, a autoafirmação transforma‐se em uma manifestação neuró ca de se destacar diante dos outros, para ser respeitado, aprovado e enaltecido. (babação de ovo) Reprodução de machismo na cena feminina é real e infelizmente a vo, ques one‐se, exclusão por quê? Pra quê? Padrão imposto na cena pra agradar a quem? Punk não seria sinônimo de desconstrução? Ques ng pra ser punk ou a v@ na cena existe? Quem são os juízes? Sele vidade escancarada. Um movimento que seleciona quais mulheres defender e quais ignorar não faz jus ao que ele é. Feminismo acolhe e não exclui Deixo aqui uma indagação:
TEU FEMINISMO ACOLHE OU RENÚNCIA OUTRAS? Frases como "Mais manas na cena" "Mulheres unidas nunca vencidas" só fazem sen ndo em seu ciclo social?!, " não a hipersexualização do corpo feminino na cena" mas reproduz Sexismo com a "amiguinha", é misógina... "Suporte e não compe ção", já viu essa frase?, lindo na teoria, Belo na música, atraente na arte, mas na realidade? Você pra ca o que prega? Que one‐se. Descontrua‐se. Construa‐se.
Nascemos, crescemos na base do que o patriarcado impôs a sociedade seu papel não fica só na desobediência, mas na reconstrução, não produza para ter méritos, para os outros, produza pra si, produza pra somar, nunca subtrair! Up the punx! Viva as mulheres! Seja preta, branca, pobre, trans, cis, "no gender", garota de programa, diarista, viva as mulheres que tem uma realidade contrária ou semelhante a minha! Apenas, Viva! Não a rivalidade feminina Não a exclusão! Apoio verdadeiramente mútuo, viva a anarquia! O anarquismo começa no indivíduo, mas só se concre za pelo cole vo!
Gah RawPunk Recife/PE
GRITO CONTIDO
Di cil se manter posi vo nos dias de hoje, se antes nossa dura realidade, cuspia verdades, dores e sangue, com uma pandemia então... Como prosseguir sobrevivendo? A quê se apegar? A quê recorrer? Deus? Aquele cujo assiste todas as barbáries de braços cruzados,
rindo das indagações, se alimentando dos "fiéis " que tanto propaga ódio, onde tá tal amor? Só está no que convém, sempre foi, sempre esteve, sempre será assim, uma corrida sem ganhador, só a certeza de um fim. E quando se tem filhos? Como ensinar ter esperança, se hoje se tornou uma palavra de significado desconhecido? Pensando bem, algumas palavras do nosso vocabulário mudaram de significado. Amor, amor se tornou hipersexualizaçao do corpo feminino ou hipermasculinizacao, se tornou vago, pessoas sedentas de atenção, procurando preencher um vazio imaginário (ou NEM tao imaginario assim), pessoas com cargas emocionais, traumas psicológicos, pessoas que se perderam na infância, sociedade, mídia, contribuindo pro consumismo em massa, consumindo tudo em sua volta até a sí mesmo, as relações líquidas e isso é uma consequencia do capitalismo e das relações de ego nas pseudo ajudas, que é consequencia dessa pseudo espiritualização moderna, pessoas com egos acima de seus próprios "princípios", falso moralismo, falsa empa a, falsa sororidade, falsa cunplicidade, falsa solidariedade, tudo por aqui se vende não é mesmo?! Empa a, se tornou sinônimo de status, sou empa ca, entao sou boa, me adorem, me "compar lhem", me "curtam" Textos carregados de palavras bonitas, prontas pra carregar concordâncias para aumentar sua posição social (em sua rede social, em seu ciclo social), necessidade obsessiva de estar sempre certo, saber tudo, necessidade de visibilidade, precisam me ver, me enautecer, pra exis r.
Relacionamento, embasados na compulsão, pornográfica, misógina, sexista, machista, preconceituosa, valores inver dos, hipersexualizaçao infan l, e infan lização da mulher adulta, geração de alimentadores de pedofilos. Casais, que buscam alimentar frustrações uns aos outros, alimentar medos, sen mento de posse que adoece, mata, casais que se adoecem, ambos se sugam, ambos sugam quem os cerca, mas o ciclo é vicioso, e cômodo, pra quê sair do que lhe convém não é mesmo?! União, palavra agora vaga, falsa, que por trás dela se encontra a ambição, a inveja, a intolerância, a compe
vidade, a necessidade de ser melhor, de estar presente,
próximo, pra sempre ter uma oportunidade de pisar, pisar para subir. Ou, de se permanecer ali, visível, notável, admirável! Admirável aos olhos de quem? Se grande maioria admiria com o dedo na ferida, te elogia mas destacando teu defeito, não há mais aquela ajuda sem olhar a quem, não há mais aquele que estenda a mão sem se aproveitar depois, duro, mas real, aquele que permanece ao seu lado, é aquele que lhe impulsiona, incen va, lhe apoia, mas também aquele que machuca que você perdoa, afinal, quem quer ouvir verdades? Mas fácil falar palavras doces que agradam, que apontar onde se deve recomeçar, creio que o melhor passo seja se reavaliando, todos os dias, esta sa sfeito com o que você é/tem/? Ta sa sfeito consigo mesmo? Chegou onde queria? Valeu a pena pisar em quem pisou? Maternidade, busca compulsória de sa sfação ao parceiro, necessidade de preenchimento, "preciso dar‐lhe um filho" "fulano e ciclano foram pais, irei tbm" "eu o amo pra ficar comigo tenho que lhe dar um filho" Maternidade: também sinônimo de trauma, de negligência, de abuso, de medos, de incertezas, de despreparos, seja ele psiquico ou emocional ou até mesmo educacional.
Paternidade: status pra rede social, necessidade de posição social "sou pai" Paternidade: também sinônimo de abandono, também sinônimo de muita luta e pouco amor, afeto, afago. Caridade, virou certificado para o céu, independe se o faz por bem ao próximo, ou de novo para se sentir parte de algo, de ser notado, "eu sou" " eu faço" "eu fiz" "eu" "eu" "eu"... E o ciclo se repete. O que se tirar de tudo isso? Se você não se questionar, não se encontrará, não se perdoará, não se permitirá evoluir, amadurecer, se preparar pra essas e muitas outras "cuspidas" da vida, o mundo é perverso, nojento, traiçoeiro, e todos os adjetivos negativos que você possa folhear num dicionário, alguns, vêem tais sujeiras e se prostam a fazer a mudança, seja ela na produção pra seus ciclos sociais, para disseminação de informação, para servir de luz, pra "somar", não pensando em retorno, a não ser o bem que faz a si mesmo nao mantendo o grito preso em sua garganta, mas também a aqueles que usam de vários artifícios pra só está lá, um ninho de cobra em que uma tenta picar a outra, todo cuidado é pouco, e sim, as pessoas são capazes de tudo para se sentir no "topo"!.
Mas, e você? Faz a diferença? Se questione, não se deixe oprimir, ninguém falará por você, ninguem sentirá sua dor, ninguém travará sua batalha, ninguém vai sangrar por você, não permita que invalidam sua história, sua bagagem, você é o que é, não pelo o que passou, mas apesar do que você passou, você se reconstruiu, não deixe que te diminuam, ou te impunham o que é ou não melhor pra você, se mantenha firme, se mantenha verdadeiro, a verdade sempre vem, não caia no marasmo, no comodismo, permaneça! Resista!
Stay punk! GaH RawPunk Recife/PE
Até onde vai seu falso moralismo?: O que te causa repúdio? O que te enoja? O que pra si, É destru vo? Um falso moralismo baseado em achismo, enraizado pelo fana smo, perdido no próprio delírio? Conceitos de vida, sem ao menos cogitar em coexis r? Compaixão não alem do que seus olhos vêem. Apoio aos seus:... A penas se andaram conforme VOCÊ quer. Cis‐tema criou pais/mães narcisistas, que veem no seu filho/a a extensão de si mesmo... Adolescentes "perdidos", luta contra o que se é imposto, vai além de suas convicções, altruísmo. Sempre ques onando a tudo e todos. Nunca obtendo respostas, mais indagações, mais toxicidade humana sendo exposta! Não da mais pra ficar parado, ódio transforma‐se em cobus svel para produção, ficar calado nunca foi opção, sabendo que o pior ainda está por vir, sem esperança pra um amanhecer tranquilo, o mundo de seus filhos será o reflexo disso!
GaH RawPunk Recife/PE
Doentes: Geração que aprendeu o que é o sexo através da pornografia: Quantas mentes doen as? Masculinidade frágil. Fantasia de vulnerabilidade feminina. Patriarcado ilustrado na pornografia. Sen mento de posse! "VOCÊ é meu , então não pode" A indústria que violenta meninos e meninas. Homens e mulheres usados para entreter, Alimentar o que? pra ganha o quê? Capitalismo aplaudido pelo proletariado Genocídio assis do e aclamado. Tudo se foi abafado O especismo também está claro! O sangue se é derramado, elas choram e clamam que "não", mas "o dia ta cheio, a vida" corrida, "não sou eu", "nem é minha filha", empa a sele va, amor nunca foi uma via. Consumismo, consumindo a vida! Só vejo almas perdidas.
Kizila Ruim Geração mórbida Hardcore Punk PE (arte da capa de álbum feita por António Aguilar Queretáro Cidade do mexico)
Salve, salve compas... Pra mim é um puta prazer ter recebido o convite da Gah, pra fazer parte desse projeto. Nada mais próprio e direto do que um espaço anarco/feminista/vegano pra falar sobre nossas lutas enquanto mulheres de militância e dentro dessa merda de sistema destruidor de pensadoras livres e criador de escravidões. Venho aqui falar do meu lugar de mulher trans (travesti), ]no movimento anarquista e na cultura punk. Sabemos muito bem como são as relações de mulheres cis, brancas heterossexuais com a galera no geral, mas pouco se fala ou dão espaço para que mulheres fora dos padrões cisheteronormativos contem sobre a exclusão que passam em espaços que em tese, nunca deveriam correr riscos ou serem silenciadas. Muitas mulheres fizeram parte da historia do punk, porem, pouco se fala sobre nos ou quando fala, a coisa é sempre bem direta no quanto a guria era “gostosa” dos caras que ela transou, e que foi por causa de fulano ou ciclano que ganhou visibilidade na cena. Pior ainda quando a historia é sobre mulheres LBT(Lesbicas, Bissexuais e trans), no punk. No geral quem tem a prerrogativa de fala são os homens em tudo nessa merda de planeta, e no meio dos movimentos de contracultura não é diferente. Dai quando contamos que viemos dos buracos mais fundos, onde nem mesmo existe o conceito de pertencimento a uma classe, pois a pouquíssimo tempo que mulheres LBT ganharam o direito de serem reconhecidas como humanas e mulheres, e no caso de nos mulheres trans, ainda brigamos para ter esse direito. Mesmo nos grupos de militância de mulheres, nos mulheres trans, somos tratadas como seres abjetos, frutos da perversidade de homens fetichistas, aberrações que não se enquadram em nenhum padrão estabelecido pela sociedade cis, e atacadas ate mesmo por parte da militância LG(Lesbicas e gays cis). E mesmo com todas as discussões sobre gênero e sexualidade ter avançado tanto nos últimos nos, com o feminismo evoluindo centenas de anos pelas ações de vertentes como o feminismo intersecional e pelo feminismo negro, ainda temos que sair no soco pra ter o algum espaço nas pautas sobre direitos de mulheres.
Fomos obrigadas a criar a nossa própria vertente, o transfeminismo, para expressar nossas dores por nos mesmas, sem a interferência de pessoas cis, já que por séculos somos tratadas como objetos de pesquisa sem direito de fala,e quando reivindicamos o direito de falar, fomos acusadas de roubar os espaços de fala das mulheres cis nas questões de direitos humanos. Isso que nem chegamos perto da realidade ou do mundo das mulheres cis. O lugar de mulheres trans é no submundo, sobrevivemos na prostituição, não somos da classe trabalhadora justamente pelo trabalho sexual não ser reconhecido como trabalho. Não estamos nas escolas, universidades, no trabalho formal, nas relações afetivas. Então somos as notórias marginais mesmo dentro do plano das mulheres excluídas pelo sistema, porque ainda temos que enfrentar o CIStema. Ou seja, excluídas duas vezes. Mais punk que isso impossível. Mesmo assim, tivemos varias mulheres trans no punk. Logico que muitas delas foram apagadas ao longo da historia contata pelas pessoas cis. Ate porque nunca ouve uma trégua entre nos e vocês. No máximo encontramos pessoas cis, como as que fazem parte desse projeto, que por entender a porra toda das lutas por sobrevivência, ]direitos e liberdades dos grupos minoritários, desenvolveram a tão famosa e desejada empatia. Aprenderam que não existe uma causa que se faz sozinha. Ou lutamos por todas ou não passamos de eugenistas, pregando um tipo de supremacia de um grupo sobre o outro, não é mesmo?
Aliados, alinhavamos a colcha de um anarquismo verdadeiro. Mas voltando ao foco da conversa. O fato do punk ser uma cultura underground, marginal, de linha de frente contra o estado e sua legalidade, muitas vezes acaba sem pessoas interessadas em arriscar nisso de registrar tudo que se passou ou passa nas entrelinhas, ate mesmo por medo de expor ou acabar entregando de bandeja para as “autoridades” nossas companheiras, sejam elas cis ou trans. Não importa o governo, seja ele de direita ou de esquerda, sempre seremos inimigos. E nas ultimas décadas, aconteceu das instituições de segurança usar como fonte de dados sobre ações do movimento anarquista, zines, documentarios e paginas nas redes que contavam historias sobre manifestações e outras fitas que rolaram. É foda, mas por isso é bom também não contar tudo, não trabalhar com nomes, principalmente com os nomes daquelas que tiraram a paz do governo. E foram muitas mulheres, entre elas algumas trans. A maioria das mulheres trans que fizeram parte da historia do punk já morreram. Executadas nas ruas pela policia, nos presídios, pelas aids ou simplesmente de fome nas ruas. As que sobreviveram carregam tantas derrotas que preferem se manter no anonimato hoje. Porem tem ainda aquelas que transicionaram já dentro do punk e tem um papel muito importante na cena atual. Eu sou uma das que sobreviveram. Tive o meu primeiro contato com o punk em 1985, quando trabalhava na rua com outras meninas trans. Conheci um guri na noite e a gente curtia umas drogas juntos, depois me convidou pra ir num role e tomar uns goles, nisso fui me envolvendo com a galera. Ouvi sobre o anarquismo e dai comecei a querer estudar ao mesmo tempo que aprendia a ler, pois só conclui a terceira serie na escola, e não tinha aprendido quase nada naquele treco. Me aventurei a escrever letras sobre ecologia e quando me dei conta estava em uma banda. Fui sugada pelo punk literalmente. Dai fui conhecendo pessoas e as perdendo quase que no mesmo tempo. Os anos 80 virou um inferno descontrolado pra todos nós, tudo era morte, morrer ou matar, e a sobrevivência me obrigou a fugir. Ou foi por covardia mesmo, não sei a diferença entre uma coisa e outra ate hoje...parte daquele lance que falei sobre as nossas derrotas saca. A gente acha que essas coisas ficam
no passado, quando fugimos delas, que nĂŁo vamos relembrar se nunca olhar para trĂĄs, mas tu respira e lembra, respira e lembra, mesmo olhando pra frente ou andando com os olhos fechados, tu vai ver uma caralhada de fantasmas te acompanhando. Me acompanhando. Centenas de travestis putas que sobrevivem dentro de mim, esse ĂŠ o meu espirito punk...ĂŠRA!!! Rose Macfergus...21/12/2020
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