RUI TAVARES Lugares: Proposiテァテオes Para Um Estudo Em Branco
SテグMAMEDE GALERIA DE ARTE
Junho / Julho 2015 04 Social Constructions Of Nature 2015 AcrĂlico e grafite sb MDF 140x140cm
Lugares A pintura de Rui Tavares é sobretudo a concepção da cor como um espaço. O lugar é um tópico constante do seu trabalho, evocado pelos avanços e recuos das tonalidades, que são como grandezas medindo forças. Assistimos a um desassossego cromático, não porque se perca a harmonia da paleta, mas porque se distribuem as tonalidades igual a bichos colocados diante uns dos outros. Quero dizer: corpos. As cores são corpos de verdade, forças efectivamente em confronto, alcançando o equilíbrio final mas invariavelmente em estado de tensão. Acabam por aludir a texturas, temperaturas, vazios ou ocupados, antagonizando-se, definindo identidades. São como lugares que conquistam o tamanho e a identidade por batalha uns com os outros, sustentam-se uns nos outros, erguidos como matérias complementares mas de ego próprio. Lugares assurriados, acossados, apenas por negociação deixados estáticos. As cores de Rui Tavares são uma brilhante negociação. Discutem superiormente umas com as outras, como se as casas se construíssem por elas mesmas, conversando acerca do que deve ser maior ou menor. Discutem a reacção à luz. De que maneira cada cómodo, mais limpo ou obscuro, mais gracioso ou esconso, deve reagir à luz. Os espaços de Rui Tavares são concêntricos. Na edição que faz não abdica de incluir necessariamente a intersecção, esse ponto de convergência que parecer ter o poder de articular tudo o resto, como se fosse o elemento catalisador capaz de sugerir o diálogo entre as partes. Esse elemento, no que à luz diz respeito, é uma ignição. Normalmente, uma encruzilhada de menor claridade de onde a claridade possível parece conseguir alimento. Neste aspecto, e porque de lugares se trata, há sempre uma espécie de sentido expansivo das cores, como um fiat lux que operasse em cada quadro, tão educado para um certo plácido quanto impossível de se conter. Gosto muito da brancura espessa das telas de Rui Tavares. São de um fosco denso, carregado, como a recusar toda a pureza, apenas apelando à ideia de criação genuína, orgânica. Gosto da compo-
nente orgânica de todos os seus trabalhos. Como na criação do mundo, os lugares acusam terra e impressões aquosas. Podemos falar de casas que se constroem por si mesmas ou de imensidões de campos encontrados por linhas de rios secos, pequenos fantasmas de água. Sobrevoamos também a pintura de Rui Tavares como quem considera campos lavrados. Não adquirimos a natureza dos pássaros, a pintura é que oferece ao observador o impossível.Todas as conclusões são válidas no território transgressor da arte. A realidade é uma descodificação, uma interpretação profundamente pessoal. Podemos achar que vemos madeiras. Tapumes remendados, coisas de sobrepor como se fosse importante ocultar o lado de lá. Há uma engenharia nas formas, algo que, definido por um certo aleatório, me impele para a questão da utilidade. O campo lavrado ou o tapume, em qualquer dos casos, vendo o que não se explica por completo, obrigam-nos ao dilema da utilidade, coisa que ironiza grandemente com a natureza da arte abstrata. A observação de uma tela de Rui Tavares passa necessariamente pela percepção da estranha contenção de que é capaz. Quando tudo é gigante e expansivo, é verdade que também nos sugere uma disciplina de rigor e de rarefacção. O pintor opera por uma manifesta vontade de sublime, alcançada no certo sujo das suas matérias, um sublime que se faz, afinal, da massa viva das coisas. Como se fosse tudo de natureza vulcânica mas a lava, de facto por educação, fosse já um manto plácido, apaixonado pela superfície do mundo e não furioso. Um acontecimento vulcânico que quisesse depurar, ao invés de destruir a longa maturação das coisas. Há um modo de dizer tudo isto em poucas palavras: a pintura de Rui Tavares é uma sapiência profunda que nos impressiona. Os seus quadros são meditações valiosíssimas, deslumbrantes, acerca das matérias e seus confrontos. Valter Hugo Mãe
01 Building Regulations Approval 2015 AcrĂlico e grafite sb MDF 140x120cm
07 Um Estudo em Vazio 2014 Acrílico e grafite sb MDF 38x38cm
05 Um Estudo em Branco 2014 Acrílico e grafite sb MDF 150x150cm
RUI TAVARES Nota Biográfica Nasceu na Figueira da Foz em 1974. Vive e trabalha em Lisboa. Licenciatura em Pintura pela FBAUP. Docente no Centro de Formação Artística Nextart, Lisboa, desde 2010. Exposições Individuais 2013 Trayectorias, Centro Cultural Pablo Ruiz Picasso. Torremolinos, Málaga. 2011 Inside Sketches, Galeria São Francisco. Lisboa. 2008 Declining Symmetries, Galeria Ao Quadrado. Santa Maria da Feira. 2005 Desígnios De Um Estratega, Museu de Ovar. 2004 Probably Me, Galeria Artésis, Gaia; O Plano de um Salto, Casa do Farol, ANJE. Porto; Mirror Windows, Espaço Artes, Lousada; Missing Pieces Everywhere, Casa Jorge de Sena / INATEL, Porto; Interiores, Casa de Cultura de Paranhos, Porto. 2003 From A High Place, Galeria Espaços JUP. Porto. Exposições Colectivas 2015 Fozarte 2015. Castelo de São João da Foz, Porto. 2014 70 Cavaquinhos 70 Artistas. Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa; Arte Hoje. Sociedade Nacional de Belas Artes. Lisboa; Sonata N.º 1 Para Traço e Modelação. Galeria Silo – Espaço Cultural. Porto; XXXII Premio Internacional Pintura Eugenio Hermoso. Badajoz; 12 Contemporâneos. Galeria de Arte do Casino Estoril. Cascais; 2013 Concurso de Pintura Fundación AguaGranada. Granada; Strait Lines AND Casual Drops, Galeria O Rastro. Figueira da Foz. 2012 Certamen de Pintura Laura Otero. Cáceres. 2011 XIII Premio Internacional de Pintura Miquel Viladrich, Ajuntamento de Torrelameu, Lleyda. 2009 1º Prémio Jovem de Artes Plásticas CAE. Figueira da Foz. 2004 Colectiva de Pintura. Galeria Municipal do Montijo. 2003 Colectiva de Pintura.
Castelo de São João da Foz – Galeria Mónica Pereira. Porto. 2002 II Bienal de Pintura Arte Jovem de Penafiel; Prémio Fidelidade Jovens Pintores; Prémio Vespeira. Montijo. 2001 Prémio de Pintura e Escultura D. Fernando II. Sintra. Prémios 2014 1º Prémio de Pintura Elena Muriel. Galeria Tomás Costa. Oliveira de Azeméis; Menção Honrosa – Bienal de Artes Plásticas da Vidigueira; Menção Honrosa – Prémio Carmen Miranda. Marco de Canaveses; Menção Honrosa – Mertolarte. Mértola. 2013 1º Prémio – Concurso de Artes Plásticas Fundação INATEL. Lisboa; Menção Honrosa – 18.ª Galeria Aberta. Beja; Menção Honrosa – Prémio Joaquim Afonso Madeira. Alhos Vedros; 2º Prémio – Certamen Pintura Ciudad de Álora. Málaga. 2012 Menção Honrosa – Prémios Salúquia Às Artes. Moura; Menção Honrosa – VIII Bienal de Artes Plásticas da Vidigueira; 1º Premio XL Certamen de Pintura Ciudad de Martos, Jaén; Menção Honrosa – Arte no Morrazo. Concello de Cangas; 1º Prémio – XIII Certamen Andaluz de Pintura Contemporánea Ciudad de Torremolinos. Málaga; Menção Honrosa – Mertolarte. Mértola. 2011 1º Prémio – III Certamen de Pintura Contemporânea Ciudad de Vélez-Málaga; 1º Prémio de Pintura Encontrarte Amares; Menção Honrosa – Arte no Morrazo. Concello de Cangas; Menção Honrosa – ARTIS. Seia. 2010 3º Prémio – Bienal de Artes de Ansião. 2008 1º Prémio de Pintura Abel Manta, Gouveia; 1º Prémio de Pintura D. Fernando II. Sintra. 2001 Prémio Finalistas da FBAUP. Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira; Menção Honrosa – Prémio de Pintura António Joaquim. Gaia; Menção Honrosa – Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde.
Grafismo Galeria São Mamede • Texto Valter Hugo Mãe • Fotografia Rui Tavares • Impressão Gráfica Vilar do Pinheiro • Tiragem 300 exemplares
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na capa: 02 Non Habitable Structure 2015 Acrílico e grafite sb MDF 140x160cm
06 Staircase Waltz 2015 Acrílico e grafite sb MDF 90x90cm
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