CATARINA PINTO LEITE O mundo precisa de mais...
SテグMAMEDE GALERIA DE ARTE
08. Passagem 2013 Ă“leo sb tela 73x73cm
O mundo por outra janela Conheci a obra de Catarina Pinto Leite em 2007, por ocasião de uma exposição em que apresentava paisagens. Desde então, tem continuado a desenvolver uma pintura séria e exigente, ancorada no trabalho do espaço e das formas que nele se destacam. Ora centrada na representação esquemática do lugar da natureza, ora no trabalho mais experimental das possibilidades da abstracção, impressiona-me agora, tal como já me tinham marcado na altura, o seu extremo domínio técnico e a perseverança com que vai construindo um trabalho autêntico e original. A sua mais recente série mantém-se no âmbito da paisagem, este género pleno de possibilidades elegeu entre todos. Contudo, no espaço feito de velaturas de dominante ora azul, ora dourada, distinguem-se ruínas de pontes, passadiços, cais palafíticos. Para quem já as visitou, estas últimas construções impressionam pela rapidez com que são destruídas pela força do clima e reconstruídas ao sabor das necessidades do homem. Efémeras, tiram a sua beleza desta característica de que nunca abdicam, contrariando-a pela capacidade de se replicarem e multiplicarem ao sabor da vontade humana. Destas ruínas, Catarina destaca a função e a forma, os dois elementos fulcrais. A última, reencontramo-la na sobreposição de oblíquas escuras que preenchem parte do espaço disponível. A primeira, num conceito que adoptou para a série, e que se materializa na reflexão sobre a ponte, o elo, a ligação. A ponte: se na antiga pintura de paisagem ela possuía sempre uma carga funcional e simbólica muito precisa (a de unir visualmente dois planos distintos, e a de reforçar metaforicamente a ideia de descoberta ou reflexo de si, que a paisagem romântica sempre implicava), hoje essa capacidade reforçou-se com a multiplicidade de conexões, reais e virtuais, que a nossa contemporaneidade criou. E, contudo, apesar das inegáveis vantagens que a técnica contemporânea nos traz, nunca como hoje se corre o perigo de viver tão isolado, tão alheio dos nossos iguais, tão ensimesmado em frente do ecrã do nosso computador ou tablet, resumindo a nossa vida social ao envio de sms, e-mails e outras mensagens em murais, frágeis pontes reduzidas à sua mais ensimesmada expressão. Num belíssimo texto de Rui Marques que Catarina me deu a ler, que a inspirou enquanto trabalhava esta série, o autor fala dos antigos pontífices do Império Romano, aqueles que “faziam pontes”. Hoje, o vocábulo está exclusivamente associado ao catolicismo. Mas, recuperando o seu sentido inicial, Rui Marques fala de uma construção simbólica que, quando se materializa, transforma o próprio sujeito, que “ganha cores que não tinha” e “vê o mundo por outra janela”.Voltamos assim à pintura: ela que foi durante séculos como uma janela sobre o mundo, é agora, na nossa contemporaneidade, uma janela sobre a subjectividade da artista. Por isso as pontes referidas nesse texto poderão, ou não, replicar uma forma apreendida pela visão, ou traduzir-se num exercício puramente abstracto onde a distância entre tonalidades escuras e claras, entre as espessuras e as transparências, entre o gesto visível e as superfícies lisas se transpõe através da pintura. Luísa Soares de Oliveira
02. Ligações prováveis 2013 Óleo sb tela 100x150cm
04. Aqui há vida 2013 Técn. mista sb tela 70x170cm
07. Começar de novo 2013 Óleo sb tela 73x100cm
Catarina Pinto Leite - Breve nota biográfica Catarina Maria Vieira de Castro Pinto Leite nasceu em Março de 1963 em Lisboa. Iniciou os seus estudos em pintura, em 1990, num curso de pintura decorativa com a Prof. Joana Valdez; de 1991 a 1994 cursou desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa e, de 1992 a 1993, História de Arte, também na SNBA. De 1995 a 1999 volta a estudar pintura, agora com o Pintor Filipe Rocha da Silva. Em 2000 realiza um retiro artístico no Convento de Tomar. Paralelamente, desde 1991 que Catarina Pinto Leite exerce a actividade de restauradora de pintura, tendo entre 2000 e 2005 leccionado Pintura e desenho num Colégio em Lisboa. Exposições Individuais: 1999: “Atmosferas” - Galeria Vértice, Lisboa; 2001: Realidades Interiores” - Sede Cultural do IADE – Palácio Pombal, Lisboa; 2004: “Exercícios da Noite” - Galeria São Mamede, Lisboa; 2006: “Viagens no Tempo” – Galeria São Mamede, Porto; 2007: “Uma luz assim suave,
prateada…” - Galeria São Mamede, Lisboa; 2008: Aguarelas do Douro – Museu do Douro, Régua; 2009: “O Lugar em questão”, Galeria São Mamede, Porto; 2010: “Forças da natureza”, Galeria São Mamede, Lisboa; 2013: “O Mundo precisa de mais…”, Galeria São Mamede, Lisboa. Exposições Colectivas: 1996: Colectiva no Atelier - Arte Ilimitada, Lisboa; Arte Ilimitada na Estufa Fria, Lisboa; 1997: Arte Ilimitada na Cordoaria Nacional I; 1998: Arte Ilimitada na Cordoaria Nacional II; 2000: Arte Ilimitada na Cordoaria Nacional III; 2001: Arte Ilimitada na Cordoaria Nacional IV; Feira de Arte 2001-Palácio da Independência, Lisboa; 2002: Prémio Vespeira-7ª Bienal de Artes Plásticas do Montijo; Palácio Anjos - Camâra Municipal de Oeiras; 2002: Feira de Arte do Estoril; 2004: “O Porto é o porto, ou não?”, exposição colectiva, Galeria São Mamede, Porto; 2007-08: Art Madrid, Feira de Arte Contemporânea de Madrid (GSM); 2003-2010: Feira de Arte Contemporânea de Lisboa (Galeria São Mamede) Galeria São Mamede • Texto Luísa Soares de Oliveira • Impressão
• Tiragem 300 exemplares
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na capa: 01. A Travessia 2013 Óleo sb tela 100x150cm
06. Um Caminho 2013 Óleo sb tela 120x90cm
SÃOMAMEDE GALERIA DE ARTE