JOテグ VIEIRA Homenagem
SテグMAMEDE GALERIA DE ARTE
Janeiro / Fevereiro 2015 10 Sem TĂtulo 2001 Pintura sb Tela 92x73cm
capa: 02 Sem TĂtulo 2002 Pintura sb Tela 130x97cm
JOテグ VIEIRA
17 S/ Tテュtulo 1990 Oleo sb tela 100x100cm
Homenagem
SテグMAMEDE GALERIA DE ARTE
Homenagem póstuma ao pintor João Vieira A Galeria São Mamede apresenta pela primeira vez uma exposição individual do artista João Vieira, um nome incontornável da pintura contemporânea portuguesa, prestando-lhe assim a devida homenagem. Esta exposição não teria sido possível sem a colaboração da Galeria Neupergama que cedeu parte das obras que apresentamos. Francisco Pereira Coutinho
Não há cristalização na arte de João Vieira. É uma arte que não crê no que diz, crê noque é. Irónica e séria, superficial e profunda, inefável e presente – todos estes polos coabitam, mas são arrastados por um movimento maior que não se pensa, que apenas se vive num acto de alegria vital e inexprimida. Por detrás do que se mostra, o que se esconde, o que se perde – a afirmação de uma densidade trágica que troça de si própria num traço elegante, num gesto gratuito e inacabado. Falso barroco, falso requintado – porque a sua «verdade» se encontra no próprio movimento que a procura. Voluptuosa, amorosamente concentrada, mas aberta e indefinida noutro plano. José Gil in catálogo da exposição «Grupo KWY», Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa, Dezembro 1960
14 Sem Título 1992 Pintura sb cartão sb Tela 50x35cm
Vieira está empenhado numa aventura tão difícil como perigosa: inventou não uma nova caligrafia, mas o uso formal das letras do nosso alfabeto, com o objetivo duma composição duplamente legível, como texto e como quadro. Esta ambiguidade das letras, dum A-B-C utilizado na transcrição de poemas, de pedaços de frases tomadas ao acaso, não se deixa, todavia, cair na armadilha da função verbal: fica sem solução, quer dizer, toma o próprio partido da pintura... Para que uma letra se ilumine sobre a superficie sempre muito rica da tela e possa ser lida num relance, outras palavras apagamse, perdem-se no anonimato pictural e as suas posições respetivas estão em perpétua mudança pois o principal valor da pintura de Vieira, é certamente a mobilidade, ou melhor, a metamorfose. É evidente que não há «literatura» nesta pintura, assim como não há «letrismo»: os sinais inventados são e querem ser apenas sinais picturais, conscientemente empenhados numa pintura-pintura, muitas vezes preciosa, e a magia que dela se liberta, essa atmosfera poética muito sensível que envolve cada composição é devida a uma imaginação ligada fisicamente à matéria, ao «gesto» e à cor. José-Augusto França in «Aujourd’hui», Paris, Janeiro de 1963
A pintura de João Vieira de novo realça os seus alfabetos gestuais na sua relação com o corpo reinventando a imagem da escrita na pintura, uma vertente emblemática da sua criacão que a exposição KWY recentemente situou no contexto de uma das mais apaixonantes aventuras da arte do século XX em Portugal. A da emergência da escrita pintura, da pintura como escrita, da gestualidade e do informalismo, a exaltante descoberta dos novos vocabulários que alimentaram as vagas de fundo de uma sensibilidade moderna. Maria João Fernandes in catálogo “Anagramas 2” exposição da Galeria Neupergama em Outubro -Novembro de 2004.
01 Sem TĂtulo 1986 Pintura sb Tela 130x97cm
04 Sem TĂtulo 1997 Pintura sb Tela 97x130cm
09 Sem TĂtulo 2007 Pintura sb Tela 100x100cm
08 Sem TĂtulo 2008 Pintura sb Tela 100x100cm
13 Ultima ciĂŞncia 1989 Pintura sb Tela 225 x 200 cm
11 Sem TĂtulo 2004 Pintura sb Tela 92x73cm
03 Sem TĂtulo 2007 Pintura sb Tela 97x130cm
05 Sem TĂtulo 1997 Pintura sb Tela 130x97cm
06 Sem TĂtulo 1998 Pintura sb Tela 117x89cm
12 Sem TĂtulo 2000 Pintura sb Tela 100x73cm
Galeria São Mamede |
Filipe Condado | Texto João Vieira | Impressão
| Tiragem 300 exemplares
Lista de obras 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17
Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Sem Título Ultima ciência Sem Título Sem Título Eros S/ Título
João Vieira – Nota biográfica 1986 2002 2007 1997 1997 1998 2008 2007 2001 2004 2000 1989 1992 1991 2002 1990
Pintura sb Tela 130x97cm Pintura sb Tela 130x97cm Pintura sb Tela 97x130cm Pintura sb Tela 97x130cm Pintura sb Tela 130x97cm Pintura sb Tela 117x89cm Pintura sb Tela 100x100cm Pintura sb Tela 100x100cm Pintura sb Tela 100x100cm Pintura sb Tela 92x73cm Pintura sb Tela 92x73cm Pintura sb Tela 100x73cm Pintura sb Tela 225x200 cm Pintura sb cartão sb Tela 50x35cm Pintura sb cartão 70x50cm Pintura sb Tela 69x55cm Oleo sb tela 100x100cm
João Vieira nasceu a 4 de Outubro de 1934 na aldeia de Anêlhe, em Vidago, Trás-os-Montes. Aos quatro anos de idade vem com os pais, professores primários, e as quatro irmãs para Lisboa. Em 1951 ingressa na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa onde frequenta os dois primeiros anos do curso de Pintura e estabelece os primeiros contactos com alguns pintores neo-realistas: Júlio Pomar, Lima de Freitas e Rogério Ribeiro com quem compartilha o atelier. Em 1953 abandona o curso e em 1955 cumpre parte do serviço militar. Em 1956 surge a descoberta da pintura do imaginário interior. O neo-realismo que a precedera, influenciado por artistas que integravam esta corrente, como Júlio Pomar, Lima de Freitas e Rogério Ribeiro, esgotara-se já no processo de descoberta da pintura, na descoberta do modelo vivo, com o estudo académico das Belas -Artes perspectivado nas cenas rurais ou de pesca, apoiados em alguns truques facilmente assimilados e na grande facilidade com que dominava as técnicas do desenho e da pintura. Dois anos antes, João Vieira havia deixado de pintar. Contudo, é em 1956 que a visão de uma mulher a uma janela, de braços cruzados, origina o nascimento de três quadros, fruto de uma emoção que substitui a visão directa da realidade. Altera-se a matriz. A Escrita surge como catalizador e suporte. A ida ao Museu do Prado, em Madrid, abre horizontes mais vastos que os do Museu de Arte Antiga e prepara já a ida para Paris, em 1957. O choque da descoberta da Modernidade, nos painéis da Gare Marítima de Alcântara, de Almada Negreiros, é decisivo. Entretanto partilha o atelier por cima do Café Gelo com René Bertholo e José Escada, integrando uma tertúlia que toma o nome de Grupo do Gelo com os Poetas Herberto Helder, Helder Macedo, Manuel de Castro e Mário de Cesariny de Vasconcelos. Estão definidas as três traves mestras da sua pintura e da sua vida: a Escrita, literária e simbólica, prolongada na (con)vivência com escritores, mais próximo deles que dos outros artistas plásticos; a Mulher, fascínio de infância, procura constante do mistério que encerra; o Rigor que impõe que tudo seja bem feito. A partir daí não passa um dia sem que pelo menos um destes elementos não esteja presente, em que não se interpenetrem ou completem. Expõe pela primeira vez na colectiva “I Exposição dos Artistas de Hoje”, na Sociedade Nacional de Belas Artes e é novamente incorporado no serviço militar, que termina em 1957. Parte para Paris, onde a sua sede de espaço se sacia nas Galerias onde o Existencialismo omnipresente alonga as palavras em linhas e horizontes sucessivos. Estuda na Académie de La Grande Chaumière sob a orientação de Henri Goetz e conhece Vieira da Silva e, influência marcante, Arpad Szenes, outro pintor com alma de poeta de um outro país de poetas, a Hungria. Em 1959 recebe uma bolsa por dois anos, atribuída pela Fundação Gulbenkian. Em 1959/60 funda o Grupo KWY, juntamente com Lourdes Castro, René Bertholo, José Escada, Gonçalo Duarte, Jann Voss e Christo, publicam a revista com o mesmo nome e convive com os elementos do grupo espanhol El Paso (Saura,
Feito, Millares). Expõe individualmente pela primeira vez, na Galeria do Diário de Notícias, em Lisboa em que descobre o que chama de sinais alfabéticos e atinge a sua maturidade artística. Descobre Dubuffet e a procura de novas texturas, a matéria autonomiza-se e permite outras aventuras. A cor e a forma tratadas por Esteve influenciam-no ao ganharem em clareza. E, mais que por qualquer outro, é marcado por Yves Klein. Dos novos caminhos que a Arte percorre elimina a cor e tudo se resume ao branco, cinzento e negro, trabalhados à espátula. As cores, a surgirem, são as do Barroco, com todas as matizes do castanho, os verdes, cores profundas, interiorizadas. Os ideogramas, já letras do alfabeto, articulam-se em frases, síntese visual da energia humana que as cria. Em 1962 regressa a Lisboa, onde permanece por dois anos, leccionando pintura na Escola Antonio Arroio. Em 1964 regressa a Paris, onde adoece gravemente, e no ano seguinte parte para Londres, onde ensina no Maidstone College of Art durante um ano, em que priva com a comunidade artística portuguesa (Alberto de Lacerda, Helder Macedo, Paula Rego, Menez, Bartolomeu Cid, Mário Cesariny, Cutileiro). Descobre a cultura Pop, abrangente e democrática como nenhuma outra até então. De Duchamp apreende a problematização da noção de pintura e o alargamento potencialmente infinito do seu horizonte formal a limites que não se afiguram ultrapassáveis. Em 1967 regressa a Portugal e começa a trabalhar quase exclusivamente em cenografia. Recebe o prémio do Ciclo de Teatro Latino de Barcelona pela cenografia de D.Quixote em 1968. Neste ano inicia a actividade de cenografista para a RTP, onde se mantém até 1972. Faz pela primeira vez investigação cenográfica, para a série de programas Panorama do Teatro Português e visita, em estudo e trabalho, a BBC e ITV, em Londres, e a NCK ,em Tóquio, em 1970. Nesse ano realiza a sua primeira performance (a que chama acção-espectáculo) na Galeria Judite Dacruz, durante a exposição O espírito da Letra (que termina com a destruição das obras expostas), e pela qual recebe uma Menção Honrosa no Prémio SOQUIL 70. Recebe também o Prémio Nacional de Encenação pelo trabalho em Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, em 1971, ano em que lecciona no IADE.Em 1967 regressa a Portugal e começa a trabalhar quase exclusivamente em cenografia. Recebe o prémio do Ciclo de Teatro Latino de Barcelona pela cenografia de D.Quixote em 1968. Neste ano inicia a actividade de cenografista para a RTP, onde se mantém até 1972. Faz pela primeira vez investigação cenográfica, para a série de programas Panorama do Teatro Português e visita, em estudo e trabalho, a BBC e ITV, em Londres, e a NCK ,em Tóquio, em 1970. Nesse ano realiza a sua primeira performance (a que chama acção-espectáculo) na Galeria Judite Dacruz, durante a exposição O espírito da Letra (que termina com a destruição das obras expostas), e pela qual recebe uma Menção Honrosa no Prémio SOQUIL 70. Recebe também o Prémio Nacional de Encenação pelo trabalho em Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, em 1971, ano em que lecciona no IADE.
Em 1973 parte para Londres, onde trabalha e faz investigação sobre Teatro e Artes Plásticas. Regressa a Portugal em 1974 e torna-se designer na fábrica de espumas de poliuretano FLEXIPOL até 1975. Entretanto executa as ilustrações para o livro Contos Carcomidos, de Jorge Listopad, faz trabalho didáctico com grupos de teatro amador (Guilherme Cossoul, Campolide), desenvolve actividades de animação cultural por todo o país e participa como monitor nos estágios de formação de animadores culturais do FAOJ e INATEL. Em Setembro de 1975 torna-se funcionário da Secretaria de Estado da Cultura, como Director do Gabinete de Animação Cultural da Direcção-Geral da Animação Cultural, e posteriormente Coordenador da Área Cultural de Belém (Galeria Nacional de Arte Moderna) até 1981. Foi adjunto do Secretário de Estado da Cultura Helder Macedo durante o governo de Maria de Lurdes Pintassilgo. Em 1978/79 é professor de Cenografia no Conservatório Nacional. Estuda Encenação e Cenografia com Josef Szayna no Teatro Studio Galeria em Varsovia. Participa no seminário da Semana de Arte Contemporânea do Museu Vostell Malpartida, em Malpartida de Cáceres, com Canogar, Palazuelo, Gordillo, Fernando Pernes, Ernesto de Sousa, etc.. Inicia a actividade de professor de pintura nos Cursos de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, em 1980. Em 1982 faz recolha etnográfica em Trás-os-Montes. Em 1984 realiza serigrafias para o álbum KODAK sobre um poema de Herberto Helder. Em 1986 expõe em Berlim e Hannover. Em 1984, após algum tempo de pesquisa etnográfica em Trás-os-Montes, surge a exposição-performance Caretos (Galeria Quadrum). Retorno às origens, estas máscaras-letras metamorfoseiam as letras em figuras, consubstanciam a sua elevação a uma dignidade individual, reatribui-lhe o valor mágico perdido pela escrita utilitária do nosso tempo. Seguem-se as Metamorfoses, prolongamento dos Caretos, transfiguração em metamorfoses-amorosas. A partir de 1987 enceta uma viagem pela história da pintura portuguesa, com As Imagens da Escrita, sobre os Painéis de S.Vicente, de Nuno Gonçalves, continuada com o trabalho sobre Francisco de Hollanda (Diálogos de Lisboa) em 1988 e com Efeitos de Espelho (à maneira de Grão Vasco) em 1995. A partir da viagem a Macau para a exposição Artistas Portugueses, em 1991, começa a estudar os caracteres chineses, que vem a utilizar na exposição Silêncio Chinês, em 1993. Em 1995 realizou seis grandes painéis de azulejo para o metropolitano de Budapeste e prepara vitrais para a futura estação do Terreiro do Paço, em Lisboa. Com a exposição Um Almirante Em Vez de Coração faz em 1996 a primeira incursão no universo multimédia (a segunda versão da peça foi apresentada na exposição Soquil). O experimentalismo foi a nota dominante da sua obra. Vieira usa materiais invulgares como poliuretano rígido, espumas flexíveis ou tinta de automóveis, realizando assemblages, ilustrações literárias, happenings e performances (as “acções-espectáculo”, como chamava) pioneiras no país, e transpondo poemas e letras para telas espessamente coloridas ou para objectos tridimensionais, dando origem a environments de grande escala. João Vieira morreu em 2009 ano em que recebeu postumamente o grande Prémio Amadeo de Souza Cardoso, na sua 7ª edição.
15 Sem Título 1991 Pintura sb cartão 70x50cm
SÃOMAMEDE GALERIA DE ARTE
R. MIGUEL BOMBARDA, 624 4050-379 PORTO TEL/FAX +351 226 099 589 M +351 934 388 500
www.saomamede.com galeria@saomamede.com
R. ESCOLA POLITÉCNICA, 167 1250-101 LISBOA TEL +351 213 973 255 FAX +351 213 952 385