Jorge Vieira - Homenagem da Cidade de Lisboa

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Impunha-se como inevitável revisitar Jorge Vieira em Lisboa, por ocasião da evocação do centenário do seu nascimento. O município presta-lhe assim uma homenagem merecida, divulgando a sua obra e o seu legado artístico, inegável contributo para a escultura contemporânea. Escultor reconhecido como pioneiro do surrealismo e abstracionismo em Portugal nasceu em 1922, em Lisboa, onde a sua obra ocupa um lugar de destaque. Uma referência no território com uma forte identidade urbana, onde a imagem das suas esculturas caracterizam a paisagem. Dois dos exemplos mais marcantes, o conjunto escultórico na Praça do Município (1997-1998) e o Homem-Sol (1998) no Parque das Nações, manifestam a sua mestria no trabalho do metal, resultando em peças que aparentam dançar no espaço, com fluidez e elegância. Pertencentes à coleção de Arte Pública do Município enriquecem, sem dúvida, o património cultural da cidade e a sua memória futura. Lisboa guarda ainda a recordação de Jorge Vieira numa artéria com o seu nome, no Bairro Padre Cruz na Freguesia de Carnide, e na restante obra exposta em espaço público: Varina (1955), alto-relevo em bronze na Av. nfante Santo, 72; Baixos-relevos (1956) no Bloco das Águas Livres; Espadarte (1959), escultura em bronze no interior do Hotel Ritz-Four Seasons; Escultura em aço (1972), no Jardim do LNEC; Cabeças de cavalo (1995) no Chafariz de Dentro ou dos Cavalos. Carlos Moedas Presidente da Câmara Municipal de Lisboa


Intervenção escultórica (1997) Acessos do Parque de Estacionamento da Praça do Município de Lisboa. Freguesia de Santa Maria Maior Coordenadas - 38° 42’ 28.44’’ N | 9° 8’ 22.43’’ W

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Esculturas popularmente designadas por Joaninas e painel escultórico, ambos em ferro forjado, soldado, metalizado e pintado, de dimensões 250 cm de comprimento e 210cm de altura. Trata-se de uma composição de elementos criados a partir de núcleos ovóides, articulados entre si sob a forma de uma rede, irradiam filamentos de corpos lineares das figuras, assemelhando-se a uma pauta musical. Este resultado permite uma transparência através do reticulado-grelha. Os membros são reduzidos a linhas de ferro, e compostos por outras linhas oblíquas, que as ritmam em reticulados semelhantes aos ovóides. No programa artístico da Praça do Município, Jorge Vieira concebe também o baixo-relevo em mármore no acesso à caixa do elevador. A composição é formada por dois elementos, uma figura masculina e um rosto humano com a configuração de um sol, frequente na iconografia escolhida e trabalhada pelo escultor. Os operários que trabalharam na obra do parque de estacionamento da Praça do Município, baptizaram os vários elementos escultóricos, que viriam a dar forma ao gradeamento, com o nome de Humanóides. Depois da obra concluída também o público a nomeou de Carochinhas, Formiguinhas, Joaninhas (alusão à frase popular «joaninha voa, voa até Lisboa»), pauta de música… Este foi um dos últimos trabalhos do escultor. «Este trabalho pretendeu ser um grito contra a uniformidade da arquitetura envolvente. A intervenção escultórica propriamente dita «Não está portanto integrada, porque a baixa lisboeta é do Século XVIII e eu não sou um escultor desse Século». «Quando fiz os primeiros desenhos, comecei a fazer uns pontinhos. Depois, liguei-os uns aos outros. É como se fosse uma pauta musical. Até pensei convidar um músico para ir tocar» (Jorge Vieira).

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Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Col. Franciso Silva Dias

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Homem-Sol (1998) Alameda dos Oceanos. Junta de Freguesia do Parque das Nações Coordenadas - 38° 46’ 3.28’’ N | 9° 5’ 44.75’’ W

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Escultura em aço corten e chapas de ferro soldadas, pintada com óxido de ferro como cor final, com 20 m de altura e cerca de quinze toneladas de peso. Trabalho escultórico abstrato que relaciona a figura humana com a inspiração no Sol, que se encontra no topo da peça. Consiste numa estrutura vagamente antropomórfica, ao longo da qual ascendem formas angulosas de hastes e meias-luas, evocando e sugerindo ao mesmo tempo uma forma humana estilizada. Esta peça monumental, foi inaugurada, em 1998, para a Exposição Mundial de Lisboa, (Expo’98). Quanto ao título que a escultura recebeu, Jorge Vieira limitou-se a dizer que não tinha por hábito dar nome às esculturas que criava, mas que lhe pareceu um bom nome: «Apesar de haver ali apenas um sol mas também uma forma humana». A partir deste Sol, foi assim adotada a designação para uma das entradas da Expo, como Portas do Sol. «Fiz o Homem-Sol sem qualquer espécie de intenção. É um homem, porque tudo o que faço está ligado ao corpo e à dimensão humana». Jorge Vieira

Arquivo Municipal de Lisboa

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Arquivo Municipal de Lisboa

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Arquivo Municipal de Lisboa Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Arquivo Municipal de Lisboa

Arquivo Municipal de Lisboa

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

© Ernesto Matos

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Varina (1955) Parede lateral do bloco residencial da Avenida Infante Santo, nºs 72 a 72 D Freguesia da Estrela Coordenadas: 38° 42’ 37.25’’ N | 9° 9’ 53.64’’ W

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Escultura em relevo, concebida em bronze, onde a bidimensionalidade com espessura impõe um desenvolvimento próprio, resultando uma varina extremamente estilizada, de grandes dimensões e género eclético. As linhas gerais da composição encontram-se no domínio do figurativo com marcas abstratizantes, de formas alongadas e recurvadas, decompondo e fragmentando o corpo. Integrada no projecto arquitetónico da autoria de Alberto José Pessoa, Hernani Gandra e João Abel Manta, datado de 1957, este trabalho escultórico de tratamento do ponto de vista formal claramente moderno, não cedendo ao pitoresco do tema, joga com o fundo de tijolo da parede. Jorge Vieira já havia exposto em 1956, na Galeria Pórtico, uma Varina em terracota.

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA

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Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA

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Seis Baixos-Relevos escultóricos (1956) Praça das Águas Livres, nº 8 | Rua Gorgel do Amaral, nº 1 Freguesia de Campo de Ourique Coordenadas: 38° 43’ 17.13’’ N | 9° 9’ 29.70’’ W

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Escultura integrada, nas fachadas do Bloco das Águas Livres do Edifício Fidelidade (Companhia de Seguros Fidelidade), projetado por Nuno Teotónio Pereira e Bartolomeu Costa Cabral, entre os anos de 1951 e 1956, tendo ficado concluído em 1957. A intervenção artística consiste num conjunto de relevos em mármore, concebidos entre os anos de 1953 e 1956, distribuídos pelas fachadas do edifício. As composições, de linguagem contemporânea e figuração moderna, são características da obra escultórica de Jorge Vieira no espaço público. Os elementos decorativos desenhados são realizados numa aproximação plástica de tendência surrealizante, não deixando de fazer referência a registos mitológicos de tradição clássica. As figuras surgem depuradas e estilizadas de formas circulares, como um sol irradiante em todas as direções, de feições humanas; o tronco de uma figura feminina, de posição frontal, de rosto assumidamente desproporcionado, segurando com as duas pequenas mãos, uma corda de fios esticados; um par de rostos impassíveis (masculino e feminino) simetricamente perfilados, colocados face a face; a imagem de um corpo reclinado que se alonga, postado de barriga para baixo, a tentar colocar-se por cima de uma estrutura.

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Arquivo Municipal de Lisboa

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Espadarte (1956) Originalmente colocada à entrada do Grill do Hotel Ritz, na rua Castilho. Atualmente encontra-se no interior, na zona da piscina do Spa do Four Seasons Hotels Lisboa (denominação anterior de Hotel Ritz). Freguesia das Avenidas Novas Coordenadas: 38º 43’ 32 N | 9º 9’ 19 W.

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Trabalho escultórico em bronze, de género figurativo, com as dimensões de 175 cm de comprimento e 103 cm de largura. Faz parte do vasto leque do bestiário, animais diversos escolhidos por Jorge Vieira, que lhe pareceram suscitar uma certa predileção e fascinação ao longo do seu percurso. O peixe apresenta-se com uma singular força plástica no plano da sua volumetria, de uma expressividade original e fora do vulgar, causada sobretudo pelo contraste do corpo de um forte arredondamento formal, acompanhado pelas linhas pontiagudas do peixe, causando visualmente uma extrema agressividade.

Hotel Ritz-Four Seasons, Lisboa

Arquivo Municipal de Lisboa

Hotel Ritz-Four Seasons, Lisboa

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Escultura (1972) Jardim interior do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, I.P. (LNEC) Av. do Brasil, 101 Freguesia de Alvalade Coordenadas: 38° 45’ 35.19’’ N | 9° 8’ 24.73’’ W

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Obra abstrata em aço, de formas geométricas triangulares independentes conjugadas em equilíbrio, partindo de um ponto de convergência, junto ao solo, para um gradual desenvolvimento de vazios e cheios, geometrizados, em expansão piramidal. Sugere, ao nível da representação, a figuração de um pássaro estilizado. Experimenta uma linguagem de características semelhantes da sua escultura do início da década de 70 do século XX, com o agenciamento dinâmico de planos geométricos, orientando-se para uma conceção de teor construtivo. O cinetismo que já antes tinha sido ensaiado no barro, manifesta-se na estrutura deste trabalho, de configuração assimétrica e instável. A peça escultórica foi oferecida pelos trabalhadores do LNEC em homenagem aos dois primeiros Diretores da Instituição, os Srs. Engenheiros Eduardo de Arantes e Oliveira e Manuel Rocha, quando da inauguração do atual Edifício Manuel Rocha, em 1972, no âmbito das comemorações do 25º aniversário do Laboratório.

LNEC

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

LNEC

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Cabeças de Cavalo (2004) Largo do Chafariz de Dentro Freguesia de Santa Maria Maior Coordenadas: 38° 42’ 40.74’’ N | 9° 7’ 41.26’’ W

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O molde original deste trabalho, foi executado em terracota em 1996, projeto realizado e apresentado ainda em vida por Jorge Vieira, com vista à recuperação do Chafariz de Dentro, para o qual as duas cabeças foram passadas a bronze. O molde original foi doado ao Museu da Cidade de Lisboa pela escultura Noémia Cruz, em 2004. Apresenta as seguintes dimensões: 400mm (40cm) de altura; 150mm (15cm) de largura e de comprimento 250mm (25cm). O Chafariz de Dentro é um dos mais antigos de Lisboa, datando de 1280 a sua primeira referência documental. Foi anteriormente conhecido como Chafariz dos Cavalos, possivelmente, segundo alguns autores, por as suas bicas de bronze originais, retiradas em 1373, terem o formato de cabeças de cavalo, ou porque seria inicialmente utilizado como bebedouro para animais. A sua atual designação, Chafariz de Dentro, resulta do facto de estar localizado intramuros da Muralha Fernandina.

Carlos Cabaço

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Carlos Cabaço

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Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Arquivo Municipal de Lisboa

EGEAC - Museu de Lisboa

José Vicente

Carlos Cabaço

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Intervenção artística no interior da estação do Metropolitano do Saldanha (1996) Estação do metropolitano do Saldanha. Freguesia das Avenidas Novas Coordenadas: 38° 44’ 3.54’’ N | 9° 8’ 43.71’’ W | 38° 44’ 1.61’’ N | 9° 8’ 41.46’’ W

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Por ocasião da remodelação da estação do metro remodelação, e fazendo parelha com as composições em painéis azulejares da autoria do pintor Luís Filipe de Abreu, Jorge vieira cria composições em relevo, usando mármore rosa da região de Borba. As extensas peças artísticas de elementos esculpidos em baixos-relevos foram destinadas ao arranjo decorativo dos átrios norte e sul, e escadarias, nas paredes das zonas de circulação, alguns espaços do percurso do viajante de acesso ao cais de embarque. Jorge Vieira, respeitando a temática escolhida para a estação, optou por trabalhar um tema geral de caráter Universal do Homem, centrando-se na componente do «Homem em Movimento». Evidenciam-se esculturas ligadas às mãos, aos braços e cabeças. Tratam-se de instrumentos de trabalho do Homem, por excelência. O escultor faz uma alusão a esta obra: «Convidaram-me para fazer uma intervenção na estação do Saldanha, com o Luís Filipe de Abreu. Vou revestir certas zonas com bocados de pessoas, fragmentos».

Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA

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Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA

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Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA

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Rã (1957) Loja Palissy Galvani Freguesia dos Mártires

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Escultura em bronze realizada para a loja Palissy Galvani, situada na Rua Serpa Pinto, integrada no projeto de arquitetura assinado por Jorge Ferreira Chaves, Frederico Sant’Ana e Artur Pires Martins. A loja já não existe no local. Após o desaparecimento desse estabelecimento, a peça foi recolocada com grande destaque, mas sem a visibilidade pública que tinha no passado, no exterior. Agarrada e presa, mas quase que suspensa encontra-se agora junto às escadas, no espaço interior da sede da empresa, em Vialonga. Jorge Vieira haveria de gostar de ver a obra como que suspensa, pairando no espaço, sabendo-se que tinha uma certa preferência por obras desprovidas de bases e suportes de apoio para as peças. A escultura foi idealizada a partir do logotipo da firma, resultando numa forma construída por uma rede de filamentos, num contínuo articulado de espaços vazios, por onde o céu era visível e integrado, graças à sua anterior colocação.

Arquivo Municipal de Lisboa

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Palissy Galvani

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Grupo Escultórico (1957) Instituto de Beleza Boutique Madame Campos, Lda. Rua Alexandre Herculano Freguesia do Santo António

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Uma escultura em bronze com 173 cm de altura e 51,5 cm de largura, e uma segunda revestida a chapa de ouro, dourada, estiveram localizadas no exterior, frente à montra, da entrada do Instituto de Beleza Boutique Madame Campos, Lda. (Academia Científica de Beleza). As esculturas foram encomendadas a Jorge Vieira, amigo do Arqto. Conceição Silva e autor, juntamente com José C. Santa-Rita, do projecto de alterações do espaço Madame Campos. Este grupo escultórico figurativo apresenta grande semelhança formal, em reduzida escala, com outro realizado no mesmo ano, 1957, para o Pavilhão Português do Comptoir Suisse de Lausanne, projetado e desenhado pelo Arquiteto Conceição Silva. Este conjunto apresenta uma certa linguagem característica de Jorge Vieira, que reverte para uma certa memória totémica, transparecendo nesta obra de forma alongada, bem como o modelado orgânico, e o contraste de cheios e vazios. Foi uma das primeiras esculturas na cidade de Lisboa que esteve em contacto direto com o público, que lhe chamavam os Gafanhotos e Mulher a ver-se ao Espelho. Em 1994 as esculturas foram retiradas do local pelo proprietário, Eduardo Galhardo Campos, filho de Madame Campos, e encontram-se guardadas e preservadas devido a tentativas de furto.

Arquivo Municipal de Lisboa

FCG - BAA

Eduardo Galhardo Campos

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Escultura-Biombo (1962) Bar dos Estudantes, Cidade Universitária Freguesia de Alvalade

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Instalação em ferro, elaborada para o interior do bar do Edifício, conhecido como Cantina Velha da Universidade de Lisboa da Cidade Universitária, localizado na Avenida Professor Gama Pinto. Este trabalho escultórico foi posteriormente destruído. Trata-se de uma obra, estrutura metálica que servia de separador, de passagem entre dois espaços da sala, a cantina e o bar, por isso se denominava de Biombo, que enfeitava e decorava a sala da cantina da Reitoria da Universidade de Lisboa. Apresentava elementos escultóricos de linhas abstratas e geometrizantes, semelhantes, do ponto de vista formal, às composições dos desenhos do do conjunto do Portão/Grade, da agência do Banco Fonsecas & Burnay. O trabalho apresentava claramente uma proposta moderna na sua configuração formal e caracterizava-se por criar um jogo bem estudado e delineado entre planos quase desprovidos de volume, entre chapas de formato retangular e quadrangular alternadamente, criando uma dinâmica muito própria ao conjunto. Um dos pontos a reter, é o resultado do contraste sabiamente conseguido, entre as partes planas, e os elementos pontiagudos nas extremidades superiores e inferiores desses objetos escultóricos. O projeto arquitetónico do edifício e toda a decoração interior foram desenhados pelos Arquitetos Manuel Norberto Correia e Fernando Rafael Máximo Miranda.

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Grade-Portão (1959) Largo do Chiado, dependência da Agência do antigo Banco Fonsecas & Burnay Freguesia do Santa Maria Maior

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Grade/Portão em bronze dourado ou em chapa de cobre, colocado no exterior da dependência da Agência do Banco Fonsecas & Burnay, renovada conjuntamente com a Casa Havanesa, no Largo do Chiado. Os elementos artísticos foram posteriormente totalmente destruídos. Prosseguindo com as novas soluções formais, Jorge Vieira concebeu esta intervenção pública, integrada no projeto de arquitetura de António de Azevedo Gomes e Francis Leon. A obra artística era constituída por três painéis de 12 m de largura, que cobriam a totalidade da fachada. A construção dos motivos decorativos de tema plenamente abstrato, formava uma grade de formas geometrizantes triangulares, de superfícies multifacetadas, vagamente concavas, de encontros em aresta viva, empilhadas em colunas. Estes elementos artísticos chegaram a chamar-se, ou a ser popularmente conhecidos de bacalhaus, pelo seu aspeto geral e disposição formal pela qual se apresentavam.

Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA

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Arquivo Municipal de Lisboa

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Espólio Jorge Vieira | FCG-BAA

Arquivo Municipal de Lisboa

Espólio Jorge Vieira | Noémia Cruz

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Exposição Galeria São Mamede (9 Nov > 3 Dez’ ) 23

Rua da Escola Politécnica, 167 Freguesia de Santo António Coordenadas: 38° 43’ 06.71’’ N | 9° 09’ 10.46’’ W

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Jorge Vieira (1922-1998) entrou na Galeria São Mamede pela mão de Cruzeiro Seixas, que o apresentou ao fundador da Galeria, Francisco Pereira Coutinho (pai) que desde logo apreciou muito o trabalho do escultor, ao ponto de ter escolhido uma peça sua para logotipo da galeria a qual ainda hoje se encontra em exibição permanente numa das suas paredes. Apresenta a sua primeira exposição na Galeria São Mamede com Esculturas em barro, bronze, ferro e ácido inox, datadas de 1948 até 1971, e Desenhos a tinta-da-china, de 1970-71. A admiração pelo escultor foi transmitida para Francisco Pereira Coutinho (filho) que, em 2016, conseguiu apresentar uma nova exposição do artista, onde inclusivamente figurava a peça que foi capa de catálogo da primeira exposição realizada na Galeria em 1971. 36 peças em desenho e em escultura, terracota e bronze, realizadas entre finais dos anos 1940 e os finais de 1980 permitem percecionar as mais relevantes características da sua imagética. A mulher, a varina, o casal, o touro, o cavalo, Vieira representou a figuração em metamorfoses surrealizantes, plenas de humor, subvertidas, transformadas, algumas tendencialmente abstratas, numa procura pela simplificação da figura. Como escreveu Francisco Silva Dias no catálogo da exposição: “Se houvera que classificar esta exposição ou de lhe associar um sentimento, uma qualidade - ela seria, certamente, a generosidade. Pois através dela a Galeria São Mamede coloca perante os nossos olhos uma parte significativa da obra de Jorge Vieira e toma-a Arte Pública. Associando-se à homenagem da Câmara Municipal de Lisboa a Jorge Vieira, a Galeria São Mamede apresenta, entre 9 de Novembro e 3 de Dezembro, uma exposição do artista que integra obras do seu acervo e de particulares.

Francisco Pereira Coutinho

São Mamede | Col. Galeria São Mamede

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Sem título | Col. Galeria São Mamede

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Minotauro | Col. Galeria São Mamede

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Biografia de Jorge Vieira (1922-2008)

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Nasce em Lisboa em 1922. Escultor pela Escola de Belas Artes de Lisboa, que frequenta entre 1944 e 1953, onde veio a ser professor, tendo também dado aulas na escola do Porto. Único escultor português seleccionado entre 3.500 concorrentes, de 57 países, no Concurso Internacional de Escultura ao Prisioneiro Político Desconhecido, em 1953, promovido pelo Institute of Arts de Londres. Foi premiado com um “Prix de Concours” e seleccionado para a exposição dos trabalhos premiados, na Tate Gallery. Com esta escultura participa na II Bienal de São Paulo, no Museu de Arte Moderna. Em 1954 frequenta a Slade School of Fine Arts em Londres, tendo aí contactado com os grandes nomes da escultura: Henry Moore, Reg Butler, Lynn Chadwick, Barbara Hepworth, entre outros. Das múltiplas exposições colectivas em que participa destacam-se: Contemporary Sculpture de Hannover Gallery em Londres,1956; Feira Internacional de Lausanne, Pavilhão de Portugal do Comptoir Suisse de Lausanne, 1957; 50 Anos de Arte Moderna em Bruxelas,1958; Exposição Universal de Bruxelas - Pavilhão de Portugal, 1958, tendo as esculturas desaparecido posteriormente; L’incisione contemporânea in Portugallo, Roma, 1959: Exposição Internacional do Rio de Janeiro - Pavilhão de Portugal, 1965/66; Art Portuguaise, peinture et Scultupture du Naturalisme à nous jours, Bruxelas, Paris e Madrid, 1967/68; Cultura Portuguesa em Madrid, 1977; Arco’96, Madrid, Galeria Palmira Suso, 1998; Exposição Universal de Osaka – Pavilhão de Portugal, 1970; Gerais de Artes Plásticas, entre 1946 e 1956; Primeira Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, onde obtém o 2º prémio, 1957; 1º salão de arte Moderna, Casa da Imprensa, Lisboa, 1958; 1ª Exposição de Desenho Moderno, Lisboa, Casa da Imprensa, 1959; Escultura e Vida. Lisboa, Parque da Fundação Calouste Gulbenkian, 1979; 2ª Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, 1961, onde obtém o 1º prémio de escultura; Os anos 40 na arte portuguesa. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982; Arte portuguesa nos anos 50, Beja/Lisboa, Biblioteca Municipal/SNBA, 1992-93; Primeira Exposição Surrealista ou talvez não, Lisboa, Galeria São Mamede, 1994. Individuais – Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1949; São Mamede, 1971; Esculturas de Jorge Vieira, Lisboa, Galeria Ana Isabel, 1981; Jorge Vieira, 40 anos de escultura, Setúbal, Museu de Setúbal – Convento de Jesus, 1985; Esculturas de Jorge Vieira Jorge Vieira, Tavira, Casa das Artes de Tavira, 1990; Esculturas de Jorge Vieira, Lisboa, Clube Cinquenta, 1991;

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Jorge Vieira, Beja, Galeria Municipal de Beja, 25 de Abril de 1994; Jorge Vieira, Retrospectiva, Lisboa, Museu do Chiado, 1995, ano em que inaugurou o seu Museu em Beja; Jorge Vieira, Escultura e Desenho, Lisboa, Galeria Palmira Suso, 1996; Jorge Vieira Desenho, Almada, Casa da Cerca, 1999; Jorge Vieira – Homem Sol, Lisboa, sala Jorge Vieira, Parque das Nações, 1999; Escultura e Desenho de Jorge Vieira, Estremoz, Galeria Municipal D. Diniz, 2.000; 1995 – 2005, Dez anos do Museu Jorge Vieira, em itinerância, em 2015, por Beja, Castro Verde, Estremoz, Montemor – o – Novo, Seixal, Angra do Heroísmo, Ponta Delgada e Horta; Desenhos de Jorge Vieira, Lisboa, Galeria João Esteves Oliveira, 2007; Cada Desenho um Amigo – Exposição de Homenagem, Lisboa, Artecontempo, Estremoz, Galeria Municipal D. Diniz e Vilamoura, Tivoli Marina Hotel 2008-2009; Arte como forma de intervenção política na obra de Jorge Vieira, em itinerância por Aljustrel, Castro Verde, Cuba, Montemor – o Novo, Seixal, Serpa. Da sua vasta obra pública destacam-se: Grupo escultórico em bronze (retirado), Lisboa, Boutique Madame Campos, 1057; Escultura em ferro (desaparecida), Lisboa, Centro de estudantes da Cidade Universitária, Café Bar,1962; Monumento alusivo ao Encontro entre o Oriente – Ocidente, escultura em ferro, Japão, Sakai, Parque Xavier, 1970; Escultura em chapa de cobre (desaparecida), Faro, Banco Fonsecas e Bournay, 1982; Monumento ao Antifascista de Aljustrel, em mármore, 1986/88; Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido, Rotunda à entrada de Beja, 1994, deslocado para o Largo da Pousada de S. Francisco, em 2012; “Homem Sol”, Lisboa, Parque das Nações, 1998; conjunto de Baixos-Relevos em mármore na Estação do Saldanha, do Metropolitano de Lisboa, 1996; Monumento para a Ponte Vasco da Gama; Monumentos alusivos ao 25 de Abril em Almada e Grândola, 1998/1999; Monumento ao Mármore, Estremoz, 1996/2000; Memorial a Jorge Vieira, em Beja, a partir de maqueta apresentada no concurso para valorização plástica do maciço de amarração norte da ponte sobre o Tejo. Tem obra considerável associada a obras de arquitectura, sobretudo em Lisboa, da qual destacamos: Bloco Residencial da Avenida Infante Santo, 1957; Bloco das Águas Livres, 1956; Loja Palissy Galvani, 1957 (retirada); Grade em bronze (destruída), Lisboa, Banco Fonsecas e Bournay, 1959; Praça do Município, 1998. Morre em 1998, em Estremoz, São Bento de Ana Loura, onde vivia e trabalhava desde 1992, ano em que se jubilou.

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FICHA TÉCNICA Edição

Câmara Municipal de Lisboa

Presidente

Carlos Moedas

Agradecimentos

Eduardo Galhardo Campos Francisco Pereira Coutinho Francisco Silva Dias João Paulo Velez Noémia Cruz Ramon Font Rita Mega

Pelouro da Cultura Diogo Moura

Direção Municipal de Cultura Laurentina Pereira

Departamento do Património Cultural Jorge Ramos de Carvalho

Divisão da Salvaguarda do Património Cultural Maria Ana Silva Dias

Apoios

Coordenação Editorial

Câmara Municipal de Beja – Museu Jorge Vieira/Casa das Artes EGEAC – Museu de Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian-Biblioteca de Arte e Arquivo Hotel Ritz-Four Seasons, Lisboa Junta de Freguesia do Parque das Nações LNEC Ordem dos Arquitectos-Biblioteca Francisco Keil do Amaral Palissy Galvani, S.A.

Laura Trindade

Investigação

Manuela Synek

Textos

Francisco Pereira Coutinho Manuela Synek

Design e imagem Ernesto Matos

Bibliografia

- Catálogo da Exposição Retrospetiva do escultor Jorge Vieira, Museu do Chiado, 1995 - Oliveira, Luísa Soares de, Jorge Vieira, Lisboa, Editorial Caminho, 1997 - Catálogo da Exposição Jorge Vieira, Homem-Sol na Sala Jorge Vieira, Parque das Nações, Lisboa, 1999 Patrocínio exclusivo

Parceiro


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1 Homem-Sol | Alameda dos Oceanos 2 Escultura em aço | LNEC. Av. do Brasil, 101 3 Baixos-relevos | Estação Metropolitano Saldanha 4 Espadarte | Hotel Ritz-Four Seasons, 8 Rua Rodrigo da Fonseca, 88 5 Seis baixos-relevos | Bloco das Águas Livres, Praça das Águas Livres, 8 6 Galeria São Mamede | Rua da Escola Politécnica, 167 7 Varina | Av. Infante Santo, 72 8 Cabeças de Cavalo | Chafariz de Dentro 9 Intervenção na Praça do Município


© José Vicente


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