anuรกrio
2015
Designer Grรกfico: @elianemoura_
FUNDAÇÃO CULTURAL DO PARÁ DINA OLIVEIRA | presidente WALTER FIGUEIREDO | Diretor de Interação Cultural GUILHERME TEIXEIRA | Gerente da Galeria Theodoro Braga ELIANE MOURA | Tec. Gestão Cultural - Artes Plásticas RENATO TORRES | Tec. Gestão Cultural- Artes Plásticas NETTO DUGON | Assist. Cultural - Cenografia SAN RODRIGUES | Assist. Cultural - Produção
Exposições e atividades realizadas no espaço da Galeria Theodoro Braga no ano de 2015.
S/título. 2015. Téc. Mista, impressão digital. Obra doada ao acervo da GTB/FCP
Imagens da abertura da exposição. Janeiro/2015 Fotografias: acervo digital da GTB/FCP
Galeria Theodoro Braga | anuário 2015
As imagens, principalmente aquelas tecnicamente produzidas, podem desenvolver um grande efeito em constelações políticas ou científicas. O seu factual é assim, não pode ser negado. Contudo, eles raramente contribuem a uma clarificação da sua maneira de apresentar e das situações apresentadas. Após um período inicial de pintura afirmativa, Martin Juef, no decorrer do tempo, desenvolveu um ceticismo às imagens que não levou a um afastamento total da imagem e das suas possibilidades, mas a uma forma muito reflexiva de criar e utilizá-las. Nessa, a imagem é investigada e usada justamente nas suas qualidades e nos seus aspectos sedutores, duvidosos, só superficialmente inequívocos. Muitas vezes de uma maneira surpreendemente poética, Martin Juef levanta a questão do sujeito e da imagem – dessas constituintes tão frequentemente chamadas de autênticas – e com isso fornece a prova que um entendimento analítico da imagem não se contrapõe necessariamente a uma sensibilidade criadora. Tanto no duvidoso como no inequívoco: o sentido não é algo dado, mas algo que se cria. Falk Nordmann, 2013
5
Na crise instalada nas instituições, diante das incertezas da contemporaneidade e na falta de horizonte da sociedade, surge a certeza de um engajamento que é artístico, portanto, fundamentalmente político. Porque arte não se faz sem a necessidade de uma afirmação, nessa proposta coletiva, a da intervenção concreta: a sociedade civil ocupa, mobiliza-se para tecer seus laços de solidariedade. Termo aqui, propositivo, pois arregimenta novos ao lado de artistas consagrados que partilham do desejo da ajuda, laços e significados que se unem em busca de uma ação. Uma sólida ação humana. Michel Pinho Historiador e fotógrafo Mestre em Cultura e Linguagens
7
Galeria Theodoro Braga | anuรกrio 2015
“A hora dos assassinos” 1, 2 e 3. Vídeo.
“Crescemos”. Vídeo.
Galeria Theodoro Braga | anuário 2015
Série “Mesmo com os teus sapatos, impossível”. 2014, Serigrafia, 41x30cm. Obra doada ao acervo da GTB/FCP.
Whitman, Whitmen 2014 | instalação [gravuras, objeto e áudio]
9
Exposição: Reminiscências de Nzinga Contemplado pelo Edital de pautas da Galeria Theodoro Braga, a exposição coletiva Reminiscências de Nzinga reafirma a arte enquanto importante meio de resistência da cultura negra de raiz bantu em meio a religiosidade de matriz africana. O projeto reúne artistas do Instituto Nangetu pela ocasião de comemoração aos 10 anos de atividades culturais do mesmo, as obras que contemplam o acervo em exposição resultaram de ações artísticas interventivas afroafetivas espalhadas em vários cantos da cidade, com o intuito de ocupar espaços diversos a comunidade do Mansu Nangetu vem trazendo cores, sons e texturas da resistência ancestral afrofeminina em homenagem e celebração à memória da Rainha Nzinga Mdamdi (1582-1680) - A indomável e inteligente soberana de Matamba e Ngola, juntando vários povos na sua luta contra os invasores portugueses, e comandou a resistência à ocupação colonial e ao tráfico de povos bantu por cerca de quarenta anos. A exposição abre no dia 07 de maio e vai até o fim do mês, na galeria serão expostas diversas obras em vários formatos, como videoarte, fotografias, instalações e registros de performances e demais intervenções poéticas resultantes de ações comunitárias do terreiro Mansu Nangetu e seus parceiros, em especial, ações ligadas aos projetos institucionais, como: Projeto Azuelar – laboratório experimental de comunicação social comunitária ; Projeto A magia de Jinsaba – sem folhas não tem ritual, com objetivo de Criar ambiente para manter o cultivo de plantas medicinais e de uso litúrgico e incentivar cultivo de plantas medicinais, reciclagem de material e produção de vasilhas biodegradáveis e contribuir com a preservação de matas e de igarapés urbanos. E o projeto Ancestralidade e Resistência com o objetivo de valorizar a ancestralidade feminina nas Comunidades Tradicionais de Terreiros. A palavra Nzînga vem do verbo zînga, que significa viver muito tempo, durar muito tempo, persistir durante muito tempo o sentido que é próprio da noção de autoridade no mundo bantu - o princípio do poder baseia-se no sangue de uma família derivado do ancestral principal - esse é o motivo do porquê nos Kôngo, apenas os Nzînga podiam governar. A rainha quilombola de Matamba e Ngola tornou-se mítica e foi uma das mulheres e heroínas africanas cuja memória desafiou tempo, dando origem a um imaginário cultural que invadiu o imaginário brasileiro com o nome de Ginga. Em nossas tradições afro-amazônidas nós celebramos Kitembo, o Tempo, e o ditado “Tempo é rei de Ngola” é repetido pela comunidade como um mantra. Ginga permanece no nosso povo como um DNA cultural, uma coisa que está ali na memória dos saberes tradicionais, e que aflora em estampas de tecidos, paramentos de Nkisi, ações políticas, ambientalistas e poéticas.
Abertura da exposição.
Registro de performances realizadas pelo projeto
Galeria Theodoro Braga | anuário 2015
Instalação e intervenção urbana realizada dentro do projeto
11
13
Galeria Theodoro Braga | anuรกrio 2015
“Santx”. 2015. Téc. mista (spray, PVA, caneta Posca, stêncil). Obra doada ao acervo da GTB/FCP
Galeria Theodoro Braga | anuário 2015
Abertura da exposição. acervo digital da GTB/FCP
15
Ferramentas Jean Ribeiro é um artista “das antigas”, como ele mesmo se denomina. Após um período de sete anos dedicadosà pesquisa teórica e prática, recolhido no silêncio do atelier, solitariamente trabalhando, imprimindo estampas de “luz e sombra”, em cortes precisos, exatos, com linhas retas ou curvas, buscou novos caminhos, experimentou, explorou a potência da ferramenta, da madeira, em busca da perfeição, da consciência, da intuição, da espiritualidade e da vontade.Revisitou caminhos percorridos, depurou imagens guardadas e revelou suas vivências a cada traço. Nas vinte e cinco obras que apresenta encontramos traços dessa inquietação, da imersão silenciosa, dos códigos gravados, com certa brutalidade das incisões e cortes,e revelados no delicado papel arroz. A gravura em madeira, ou xilogravura, tem certamente a temperatura adequada ao timing do artista. Conduzida através de goiva, faca e buril, reflete as marcas cíclicas do tempo no corpo, suas ranhuras, rugas, depressões; através das ferramentas, o artista fere sua matéria-prima, e revela, nessas feridas, a sua dicção gráfica, gravada a golpes pacientes. Deste modo, apresenta os motivos gravados como o paramento de suas digressões existenciais, da leveza de uma pena ao peso da bigorna – o que reporta ao caráter extremamente mítico desta linguagem ancestral. As ferramentas, deste modo, são as utilizadas no desbaste de tais signos, mas também são a memória, as fotografias, a vida e o inescrutável devir; a própria madeira, ferida, torna-se também ferramenta, depois de assumir-se matriz, e imprime no papel seu testemunho vívido, nítido, de tudo o que vislumbrou em seu sacrifício. O artista mostra-se, então, como o homem e o menino, acaso e destino, dissecando-se na ossatura íntima da própria busca espiritual. Nietzsche disse, em Zaratustra:“De tudo escrito, amo apenas o que se escreve com o próprio sangue. Escreve com sangue: e verás que sangue é espírito”. Não é difícil imaginar que, nas obras de Jean Ribeiro – com sua materialidade de um outro tempo, sua técnica simultaneamente rudimentar e refinada – o sangue da tinta revela um espírito vivo, lutando a eterna luta estética dos que não sossegam distantes da necessidade em dizer-se. Eliane Moura e Renato Torres
arroz. Doada ao acervo da GTB/FCP
Galeria Theodoro Braga | anuário 2015
“Autorretrato”. 2015. Xilogravura em papel
17
Oficina de Xilogravura
OďŹ cina de Xilogravura, ministrada por Jean Ribeiro, nos dias 22 e 24 de setembro de 2015, com carga horĂĄria de 8h, realizada na Galeria Theodoro Braga/FCP
19
Galeria Theodoro Braga | anuรกrio 2015
Divino Manto No Círio, a tradição de confeccionar um Manto para Nossa Senhora de Nazaré surgiu na década de 1960, do século XX. Uma espécie de trabalho artesanal e coletivo, inicialmente feito com material doado por promesseiros, realizado durante muitos anos pelas freiras da Irmandade de Santana – congregação religiosa de origem européia – que vivem no Colégio Gentil Bittencourt, local que abriga a imagem da Virgem. Aquela mesma Santinha que, no Círio, segue acompanhada de milhões de pessoas que se espalham em plenitude pela ruas da peregrinação, em Belém do Pará. Como “tradição”, embora parte de um passado bem recente, uma vez incorporado à tradição maior da “Festa de Nazaré”, o Manto que envolve a imagem também é capaz de se somar ao peso histórico do Círio, reforçando e legitimando o caráter devocional que comporta esse rito religioso que se repete e renova a cada ano. Como “símbolo”, pode traduzir a “coesão social” percebida nas diversas procissões e manifestações que compõem a Quadra Nazarena, já que ele, aos olhos dos devotos, ao proteger a Santa e seu filho, por extensão, como Manto Divino, também “ protege e ampara todos os seus fiéis, independentemente do status social que possuem”. O certo é que, ao longo dos anos, talvez pela carga de significação contida na sua forma triangular, o “Manto da Santa”, como acontece com a Berlinda e a Corda, passa a ser mais uma representação simbólica, icônica, signosíntese do próprio Círio, naturalmente reproduzido numa diversidade de traços, estilos e materiais – múltiplas derivações – numa busca, na essência, por traduzir a tradição da devoção e fé dos paraenses à Santa. É com esse espírito – e também entendendo o Círio de Nazaré com tudo o ele que contém como possibilidade de interminável plurissignificação, ele mesmo ressignificado ou multissignificado pela diversidade, pelo dinamismo complexo e riquíssimo da cultura – que a Fundação Cultural do Estado do Pará reúne, nesta Mostra DIVINO MANTO, os trabalhos resultantes das Oficinas realizadas nos seus espaços: Curro Velho, Casa da Linguagem, Casa das Artes, Biblioteca Arthur Vianna e Galeria Theodoro Braga. Todos inspirados neste tema tão caro aos paraenses. Manifestação de crença, devoção e cultura. Belém. Pará outubro 2015
21
Galeria Theodoro Braga | anuรกrio 2015
Oficina Confecção de Mantos
Reaproveitamento de Estamparia Tecnológica
Oficina “CONFECÇÃO DE MANTOS - Reaproveitamento de Estamparia Tecnológica”, ministrada pela artista visual Carla Beltrão, de 28 de setembro à 02 de outubro de 2015, com carga horária de 15h, realizada na Galeria Theodoro Braga/FCP.
23
Galeria Theodoro Braga | anuรกrio 2015
Galeria Theodoro Braga | anuário 2015
Exposição realizada no Hall Benedicto Monteiro, entre os dias 19 e 23 de outubro de 2015. Parceria: FCP e Conselho Regional da Martinica no Brasil
25
Com Ciência Negra: para expor quem somos A língua e seus saberes nos atravessam cotidianamente, refletindo posturas e imposturas em nossos modos de ser e agir. Tornar-se consciente de seu poder estruturante é, ao que parece, uma das tarefas do momento histórico vigente, em que certo patrulhamento da ordem do politicamente correto nos põe constantemente diante de dilemas éticos no cerne da cultura. A utilização pejorativa de termos ligados a etnias tem sido levado a juízo, como no caso Houaiss, em que acepções preconceituosas do verbete “cigano” (falseador, enganador) foram obrigadas a ser suprimidas por força de decreto. Sem enveredar pelo longo debate envolvendo minorias oprimidas e linguistas, podemos dirigir o foco reflexivo, à partir desses dados, ao que se propõe a arte enquanto manifestação social e política. A consciência negra, seu dia e seu mês comemorativo, vem orientar essas reflexões, abrigando na exemplar e simbólica história de opressão e escravidão do povo africano todo um cabedal de lutas libertárias, ressignificações, e empoderamentos que são a nota que ressoa em nossos dias. A despeito de sua utilização malograda em diversos períodos históricos, e por motivos evidentemente preconceituosos, a palavra “negro”, e todas as suas derivações, vem sendo progressivamente elevada à categoria seminal de tudo o que representa integridade, origem, vigor, raízes culturais, resistência, pureza, nobreza, e toda sorte de predicados positivos, num longo e necessário processo transformador que, se ainda não encontra plena consonância em setores mais privilegiados da sociedade, entre a juventude e as classes mais humildes revela toda a sua força e empatia em figuras culturalmente revolucionárias como Zumbi dos Palmares. A negra melodia, que semeou a maior parte da música do mundo, é também o gérmen insurgente que alimenta ideologias libertárias, inspira e instrui a emancipação de povos oprimidos ao redor do mundo. Uma negra ciência, oriunda da fértil terra escura que é ainda o coração do mundo. O Brasil, com sua trajetória multicultural e miscigenada, é um dos países mais abonados a fomentar uma educação do povo através da ciência negra: saberes que se atravessam e se sabem necessários à preservação das origens da cultura, e ao porvir de um povo de todo múltiplo, que reverbera em cada ação as muitas cores e vozes de outros povos do mundo, e que precisa saber-se, conhecer-se mais e mais, mergulhando no negrume infinito de seu inconsciente coletivo, na noite repleta de magias e mistérios de sua identidade ancestral. Renato Torres Poeta, músico e arte-educador
Sem título. Fotografia. 2015. Coletivo ParÁfrica.
“Tambor de Mina”. Vídeo, 2015, César Elias.
“Entre Luz e Escuridão”. Vídeo , 2015, Paula Giordano.
“Curiaú”, fotografia, 2015, Diogo Viana
Coletiva de artista: Fotografia: Coletivo Paráfrica e Diogo Viana, Vídeos: César Elias, Guy Veloso e Paula Giordano. Pinturas e fotografias: acervo do Curro Velho e GTB
Ações realizadas durante a exposição: Roda de Capoeira, Formação de Professores de arte da SEMEC com palestras, debates, performances e diálogos acerca da estética, religiosidade, ensino da cultura africana, etc.
Galeria Theodoro Braga | anuário 2015
Sem título. Vídeo. 2015. Guy Veloso.
27
REALIZAÇÃO