Casa de Farinha
Paula Giordano
Projeto contemplado pelo Edital de Pautas 2014 da GTB/FCPTN Galeria Theodoro Braga 06 a 28 de novembro de 2014 Av. Gentil Bittencourt, 650 (91) 3202-4313 galeriatheodorobraga@gmail.com
A Galeria Theodoro Braga, que completa 37 anos de atuação em 2014, agrega em sua trajetória alguns valores como continuidade, resistência, inovação e renovação. Mantêm-se na cena artística paraense como uma das primeiras galerias públicas de arte contemporânea, resistindo às mudanças políticas, sustentando com maestria sua missão primeira que é dar visibilidade e acessibilidade à produção artística paraense. Em 2014, através do Projeto Edital, a GTB renova seu olhar acerca da produção visual paraense trazendo ao público uma nova geração de artistas, como o Coletivo Nós de Aruanda, Paula Giordano e Ney Ferraz Paiva, além de artistas que já contam com uma trajetória como Michel Pinho, Francelino Mesquita e Alexandre Dantas. A multiplicidade de ações desenvolvidas na Galeria Theodoro Braga, nos últimos anos, torna esse espaço dinâmico e experimental, onde a diversidade da arte contemporânea encontra lugar, e artistas de várias gerações, consagrados ou iniciados, com trabalhos amadurecidos ou ainda em processo/experimentação, dialogam e compartilham experiências num processo que dilui fronteiras e estabelece novos olhares acerca da produção artística paraense.
Eliane Moura Gerente da Galeria Theodoro Braga
Casa de Farinha
Paulo Leonel Gomes Vergolino - Curador.
Entre muitos alimentos que hoje fazem parte do nosso cotidiano, estão alguns que são imprescindíveis para o bom humor à mesa de qualquer cidadão nascido por aqui. O milho, o café, a banana, o coco, a cana de açúcar, o feijão e a mandioca, apenas para chamar a atenção para alguns. Segundo pesquisas recentes e consultas à publicações e aos mais variados sites especializados, só o último dessa lista é verdadeiramente brasileiro. Relatos sobre a mandioca são identificados desde 1615, como na publicação francesa do acervo da Biblioteca Nacional de Paris “Suite l’Histoire des choses plus memorables advenuës em Maragnan ès années 1613 & 1614” em que integrantes de uma expedição daquela nacionalidade relatam ter se sentido mal ao ingerir farinha sem o costume de fazê-lo, ou mesmo em Turim, no ano de 1911, quando tipitis são usados para decorar um dos interiores do Pavilhão Brasileiro na Exposição Internacional, realizada naquela cidade e com grande participação dos produtos da indústria florestal do Pará, sobretudo do município de Bragança, que para lá enviou seus produtos. Em 1963 encontramos o autor do livro “Santa Maria de Belém do Grão Pará”, Leandro Tocantins, a reproduzir receitas de pato no tucupi, açaí e maniçoba, todos saboreados, segundo ele, com farinha de mandioca ou farinha d’água. O que percebemos depois desses interessantes relatos, é que a mandioca – assim como a farinha feita dessa raiz tuberosa – vem acompanhando o desenvolvimento das gentes do Norte há centenas de anos. Só no Brasil já foram identificadas cerca de 4.000 variedades, segundo dados da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – a própria farinheira, tão comum nas mesas nortistas e nordestinas, é uma peça de design brasileiro, criada para suprir o mercado
nacional. Esse amor pelo produto em questão remonta a costume tão arraigado na alma do povo brasileiro e, sobretudo, do paraense – comer e servir bem. A farinha, que complementa magistralmente o queijo e a goiabada, é usada também para engrossar sopa, enfeitar doces de bacuri, cupuaçu e está, paulatinamente, sendo descoberta pelo turista estrangeiro, ávido de novidades. Em que pese uma crescente demanda pelo produto, a produção caseira resiste até hoje. Regiões como o município de Bragança, criado por decreto em 1854, são produtoras dos melhores tipos. Percebemos que a produção não se industrializou ali porque, pelo contrário, é prezada por ser feita dessa forma – caseira – e ensinada através das gerações de produtores, o que de alguma forma contribui com certa poesia e tipicidade, tão raros nos tempos atuais. A fotógrafa Paula Giordano nos presenteia com essa exposição sobre a farinha de Bragança. Como paraense, a artista foi buscar um dos muitos aspectos do que é pertencer a essa terra, e esse pertencimento a levou a registrar momentos de quem trabalha a produção da farinha. O seu conjunto fotográfico está aqui reunido e condensado a uma pequena constelação não superior a 23 trabalhos, selecionados de um conjunto de mais de 600 fotos. Giordano investiga, para além do mero registro, o detalhe. Saltam aos nossos olhos as formas da palha que, trançada, forma o tipiti; o negrume dos tachos de ferro que esquentam e torram a farinha; a mão amorosa do produtor que mistura a pasta da mandioca, e em um gestual constante e quase sagrado, produz seu sustento. Nada mais justo do que homenagear essa gente que trabalha, e derrama o fruto do seu trabalho em nossas refeições. Paula optou por isso – voltou as suas origens, encontrou o nascedouro do elemento fotografado e o trouxe graciosamente para nós através do seu labor.
É tudo verdade Bob Menezes Quando questionado sobre o que era uma boa foto, Kevin Carter, fotógrafo sulafricano, vencedor do prêmio Pulitzer de 1994, respondeu que seria aquela que também faz a pergunta. Assim são as fotos de Paula Giordano, nelas não espere encontrar a crueza do realismo ou a vazia abstração, só aceita sob o pretexto da contemporaneidade semiótica. O que se encontra capturada é a poesia emanada da realidade onde mergulhou sua lente e seu olhar. Qualquer que seja o tempo do homem na Amazônia é certo que a cultura da mandioca o acompanha, quase sem alteração na maneira de feitura artesanal, a farinha para aqueles que a fazem vai além de um mero alimento, pelo simples fato de ter como ingredientes fundamentais o amor, a dedicação e o orgulho do resultado, fazendo da farinha uma obra. São esses os ingredientes que compõem as imagens aqui reveladas por Paula, com sua maneira particular de explorar ângulos e luz quase podemos sentir os aromas e sons da casa de farinha. A velha máxima que a arte imita a vida não faz sentido nas imagens de Paula. Aqui, arte e vida se fundem na realidade da poesia, fazendo-me concordar com o poeta Ferreira Gullar ao dizer que arte existe porque a vida só não basta. Na casa de farinha de Paula Giordano é tudo verdade, a luz, os sons, os aromas e a poesia.
Paula Giordano
Tem como enfoque do seu trabalho, o homem e suas diversas formas de expressão. Mas fotografia precisa ter emoção. Nascida em Belém do Pará, formou-se em medicina, especializou-se em homeopatia, ramo que individualiza o homem, valorizando-o como um ser em sua totalidade. Essa visão do ser dotado de particularidades transbordou para a sua forma de ver e realizar sua fotografia. Sempre manteve relação com diversas formas de arte como pintura, dança e teatro; contudo, é no estudo da fotografia e no desenvolvimento de suas habilidades nesse universo, há cerca de cinco anos, que vem encontrando espaço para seu desenvolvimento artístico, pessoal, e a expressão de sua sensibilidade. Sofre certa influência da temática social e cultural das obras de Portinari e Di Cavalcanti, do retratar a emoção. E ainda o cotidiano, a espontaneidade presentes na fotografia de Henri Cartier Bresson. Procura não se prender a regras ou estéticas simplesmente, busca desafios a cada novo trabalho, o que lhe faz produzir trabalhos diversificados. Investe seu olhar qualificado na procura incansável pelo que há de sentimento na imagem. Em 2013 teve sua primeira participação em concursos de artes, tendo sido selecionada para a XXII Mostra de Artes Primeiros Passos CCBEU, com a fotografia intitulada “Sem Farinha não há trabalho”. Atualmente está desenvolvendo projetos fotográficos voltados para a religiosidade, a relação do homem com o divino.
Ficha Técnica Governo do Estado do Pará Simão Jatene Secretaria Especial de Promoção Social Alex Fiúza de Mello Presidente da Fundação Cultural Tancredo Neves Nilson Chaves Diretora de Interação Cultural Luciete Bastos de Araújo Gerente de Linguagem Visual Fátima Silva Gerente da Galeria Theodoro Braga Eliane Moura Equipe da Galeria Theodoro Braga João Paulo do Amaral Renato Torres San Rodrigues Projeto Gráfico Eliane Moura , João Paulo do Amaral Montagem e Iluminação João Paulo do Amaral e San Rodrigues Curadoria Paulo Leonel Vergoliino
Realização :