Ilmo.Sr. Presidente do MDB-RS Deputado ALCEU MOREIRA, No dia 9 de maio fui surpreendido por uma postagem sua no Twitter. De maneira torpe, sem citar nomes, agride com grosseria quem “erra previsões” na epidemia da Covid-19. O adjetivo usado é intolerável a qualquer cidadão. Por mais que lhe tenha faltado coragem de nominar o recado, a imprensa se encarregou disso, fazendo alusão a mim por conta do meu entendimento e manifestações sobre a condução do enfrentamento da pandemia. Acredito que a imprensa não esteja errada na sua dedução, mas confesso que a surpresa foi maior por partir de um companheiro de partido e de bancada a quem sempre prezei e apoiei em toda sua caminhada, e que nunca fez um reparo as minhas colocações. O meu espanto foi ampliado porque o senhor, como presidente do MDB-RS, eleito sempre com o meu apoio, tratou pela primeira vez deste tema tão grave e relevante, que paralisa literalmente o país, num tuíte de cinco linhas, de forma grosseira e estúpida, sem nunca ter se interessado em me ouvir sobre o assunto, já que sou um quadro partidário com ampla experiência no setor, assim como és em relação ao agronegócio. Nem sequer se dignou a promover um debate interno no partido, para que o mesmo pudesse se posicionar sobre o tema. E não me incomodaria se a decisão fosse contrária ao que eu penso. Estamos no meio de uma crise de saúde pública gigantesca, com consequências gravíssimas na vida de todos os brasileiros. Paralelamente está sendo gestada, junto ao aumento de doentes e mortos, a maior recessão das últimas décadas, que atingirá sobretudo os municípios e a população mais pobre. Se isso não é merecedor sequer de uma reunião de debate no partido, eu realmente tenho dúvidas do que pode significar a palavra política para o ilustre colega. A agressão gratuita em rede de internet não é e nunca será a forma de tratar de um tema dessa magnitude, nem de discordar de um companheiro de partido, com uma longa folha de serviços prestados à sociedade gaúcha e brasileira, da qual muito me orgulho. Fui o gestor do INAMPS que implantou o SUS no RS, primeiro prefeito do Brasil a criar equipes de Saúde da Família, presidente da FAMURS em 1995 e articulador da sua candidatura para a FAMURS em 1999. Fui oito anos Secretário Estadual de Saúde, duas vezes presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde. Nesse período, criamos o primeiro programa de desenvolvimento integral da primeira infância no país, o PIM, hoje com 17 anos, que serviu de modelo ao Criança Feliz, que atende a mais de 1 milhão de crianças pobres em todo o Brasil. O Criança
Feliz ganhou o maior prêmio do mundo em inovação em educação, o Wise Awards, em 2019. E ainda fui duas vezes ministro de estado em governos diferentes. É tão absurdo o desinteresse de tratar desse assunto, de forma insipiente, que sou obrigado a supor algum outro tipo de propósito político na sua atuação. Não pode ser só omissão! Nem a vontade de agredir um colega gratuitamente. Pois independente do que seja, quero lhe dizer que não estás tratando nem com um inimigo, adversário político, traidor ou mesmo um moleque. É bom me respeitar, como tenho lhe respeitado até agora. O ilustre deputado não está tratando com alguém que usa a política para interesses menores e inconfessáveis, nem alguém desqualificado intelectualmente que tenta vender imagem de político culto. Também não está tratando com um idiota oportunista, que fica confortavelmente em cima do muro a cada tema polêmico, alegando ser de “centro” para nada decidir. Para assumir a postura que assumi é preciso, antes de tudo, ter conhecimento e coragem. Coragem para ir na contramão até da opinião pública, muitas vezes, e da grande mídia, para conseguir apontar um caminho melhor, que poupe vidas e não destrua o país. Coragem que o Sr. não teve na postagem omitindo meu nome, mas sabendo da repercussão. Nesse caso, como em toda condução de epidemias, é importante conhecer opiniões contrárias, baseadas em evidências científicas para entender e apontar caminhos corretos, e não ficar pegando carona no medo disseminado na população. Não é possível trocar a pesquisa científica pelo IBOPE momentâneo num momento tão grave. O que é popular agora pode não ser em pouquíssimo tempo, dependendo do que acontecerá de concreto na vida das pessoas. Por isso é vital informar – ou pelo menos dar outras visões - ao povo, em vez de amedrontá-lo. Sua postura fortalece a narrativa catastrófica e o pavor inconsequente no seio da sociedade. Me acusa de ter errado na previsão do número de mortes. Desconhece que o principal eixo da minha argumentação fala do prazo em que a epidemia acontece, seu começo, meio e fim, que ninguém está explicando à população apavorada. Também defendo o isolamento para pessoas do grupo de risco, - sobretudo uma maior aos nossos asilos - uso de máscaras e o maior número de testes para detectar quem é assintomático, em média, a grande maioria dos casos infectados. Sempre baseado no conhecimento e experiência de estar no front várias vezes no passado combatendo outras epidemias. Também uso essa experiência e conhecimento para mostrar o que eu entendo que funciona e o que não funciona nas ações de enfrentamento, e para evitar os erros que estão sendo cometidos. Realmente, fiz uma previsão que não se confirmou, como contraponto a outras previsões que existiam até então, disseminadoras de pânico. Elas afirmavam que teríamos 1 milhão de mortos no Brasil. Não acertei o número exato que teremos, porque é uma previsão muito difícil de acertar bem no início de uma epidemia – médicos renomados já fizeram também uma mea-culpa -, mas a minha margem de erro será bem menor que a das outras visões apocalípticas. E senhor quer me penitenciar por isso, me agredindo? Qualquer evento
com evolução de meses ou semanas pode mostrar fatos novos e dificultar a exatidão absoluta de previsões. E o ilustre presidente do MDB-RS sabe bem como é isso. Na última eleição, todos os deputados federais eleitos, sem exceção, erraram feio nas suas expectativas de votos. Se não fosse o Sartori, nosso candidato ao Governo, ser uma referência reconhecida da ética na política, teríamos ainda menos deputados eleitos pelo MDB. Sinto, que em cima de discursos surrados e vazios e de omissões frequentes, vai se desenhando uma postura amorfa e sem futuro para nosso partido. Quanto a mim tenho compromisso histórico, de mais de três décadas de militância no MDB, e pretendo fortalecê-lo. Principalmente puxando o debate de grandes temas nacionais e regionais, não permitindo que a omissão e discursos vazios terminem por destruí-lo. Realmente, “só um imbecil completo deseja ter uma opinião própria. Quem tem cabeça busca uma opinião verdadeira”.
OSMAR TERRA Deputado Federal (MDB-RS)