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UM ÍDOLO QUE INTRIGA O BRASIL Passagem de Belchior pela Capital é novo capítulo sobre o estranho comportamento do cantor PÁGINAS 46 e 47 PORTO ALEGRE, QUINTA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2012 - ANO 49 - Nº 17.213 - 2ª EDIÇÃO
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EXCLUSIVO
Deputado Rubens Paiva ficou preso no DOI-Codi Documentos encontrados na casa de coronel assassinado em Porto Alegre desfazem um dos grandes mistérios do regime militar e comprovam o ingresso de político em órgão da repressão no Rio antes de desaparecer, há 41 anos.
O desabafo do filho: “Sempre é a imprensa que conta a história”
PÁGINAS 4 e 5
Chance à paz
JUAN MABROMATA, AFP
O Oriente Médio que sai de oito dias de guerra
QUE FASE, FRED!
Com mediação do Egito,Israel e grupos palestinos acertam cessar-fogo que promete reduzir tensão em Gaza. Págs. 32 e 33
LUXA renova por
Armadilha Assassinato após encontro pelo Facebook Atraído por ex-namorado, paranaense foi morto e teve carro roubado em Encantado, noVale do Taquari. Página 51 Técnico tricolor recebeu de Koff garantia de contratações
Dunga sobre o Inter Artilheiro do Brasileirão marcou na partida e nos pênaltis na vitória sobre a Argentina na Bombonera
Esportes
“Sem iniciativa, fica complicado”
WESLEY SANTOS, PRESS DIGITAL
dois anos
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ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2012
Reportagem Especial
ARQUIVOS DO DOI-CODI Documentos comprovam a prisão de Rubens Paiva JOSÉ LUÍS COSTA
U
m dos papéis mais procurados de um período sombrio da história do Brasil,uma folha de ofício amarelada e preenchida em máquina de escrever datada de janeiro de 1971,está guardado em um cofre do Palácio da Polícia Civil,em PortoAlegre.O documento confirma o envolvimento direto do Exército em um dos maiores enigmas do país protagonizado pelas Forças Armadas,cuja verdade é desconhecida até hoje. É, até então, a mais importante prova material de que o ex-deputado federal, engenheiro civil e empresário paulista Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos, vítima-símbolo dos anos de chumbo, esteve preso no Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro, um dos mais temidos aparelhos de tortura do país. O corpo de Paiva nunca foi localizado, e o Exército jamais admitiu responsabilidade sobre o sumiço do político cassado pela Ditadura Militar (1964 a 1985). Durante quatro décadas, o documento fez parte do arquivo particular do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos. Gaúcho de São Borja, o
coronel foi chefe do DOI-Codi do Rio, cerca de 10 anos depois do desaparecimento. Em 1º de novembro deste ano, Molinas Dias foi assassinado quando chegava de carro a sua casa, no bairro Chácara das Pedras, na capital gaúcha. Seria uma tentativa de roubar o arsenal que o coronel colecionava (cerca de 20 armas) ou um assassinato por razões ainda desconhecidas – a polícia investiga o caso.
Com a assinatura do ex-deputado Em meio a um conjunto de papéis com o timbre do Ministério do Exército, parte deles com o carimbo“Reservado ou Confidencial”,o documento referente à entrada de Rubens Paiva no DOI-Codi foi arrecadado pelo delegado da Polícia Civil Luís Fernando Martins de Oliveira,responsável pela investigação da morte do militar. Zero Hora acompanhou a coleta e folheou parte dos papéis.O delegado evitou divulgar o conteúdo, mas afirmou que a documentação em nada compromete a trajetória profissional de Molinas Dias. – Pelo que consta ali, já descartamos a hipótese de o coronel ter sido morto por vingança em razão da atividade no Exército – garantiu o delegado.
Sob o título “Turma de Recebimento”, o ofício contém o nome completo do político (Rubens Beyrodt Paiva), de onde ele foi trazido (o QG-3),a equipe que o trouxe (o CISAer, Centro de Inteligência da Aeronáutica), a data (20 de janeiro de 1971), seguido de uma relação de documentos, pertences pessoais e valores do ex-deputado (veja quadro na página 5).Na margem esquerda do documento, à caneta, consta uma assinatura,possivelmente de Paiva.
Promotor deve pedir documento O termo de recebimento dos objetos é chancelado em 21 de janeiro de 1971 pelo então oficial de administração do DOICodi, cujo nome é ilegível no documento. É possível que seja o mesmo capitão que, em um pedaço de folha de caderno (também guardado por Molinas Dias), escreveu de próprio punho, em 4 de fevereiro de 1971, que foram retirados pela Seção de Recebimento “todos os documentos pertencentes ao carro”de Paiva que tinha sido levado para o DOI-Codi. Em visita à 14ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, na semana passada, integrantes da Comissão Nacional da Verdade – criada pelo governo federal para investi-
gar crimes na ditadura – solicitaram uma cópia dos documentos, que deverá ser remetida a Brasília nos próximos dias. O documento também interessa,e muito, ao promotor Otávio Bravo, que atua junto à Justiça Militar no Rio.No ano passado, ele reabriu a investigação do caso Rubens Paiva, após o Brasil ratificar em convenção internacional, o compromisso de apurar casos de desaparecimento forçado,como ocorreu com Paiva. – Vou requisitar o documento. Não tenho conhecimento dele.Pode ser mais um indício para apurar a verdade e de que ele (Paiva) morreu no DOI-Codi – afirmou. Segundo Bravo, até então, a informação mais contundente sobre a passagem de Paiva pelo DOI-Codi carioca se limita a relatos verbais, entre eles o de Maria Eliane Paiva,uma das filhas do ex-deputado. Aos 15 anos, ela foi levada ao DOI-Codi para ser interrogada no dia seguinte à prisão do pai.Passadas quatro décadas,ao depor pela primeira vez sobre o caso perante o promotor, Eliane disse que ouviu de um soldado que Paiva foi morto após ser espancado no DOI-Codi. – É a única prova que tenho de que ele foi para lá. O documento pode dar credibilidade aos depoimentos – diz Bravo. joseluis.costa@zerohora.com.br
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ZERO HORA QUINTA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2012
“É como se o meu pai se materializasse” CARLOS ETCHICHURY
Professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Vera Paiva, 58 anos, saía de uma sala de aula quando conversou com Zero Hora, no início da noite de ontem, sobre documentos reveladores acerca do desaparecimento de seu pai, ex-deputado Rubens Paiva (PTB), 41 anos atrás. – Fiquei completamente arrepiada com os materiais apreendidos. É como se o meu pai se materializasse na minha frente, de paletó e gravata, saindo de casa – disse Vera, ao tomar conhecimento do documento que, pela primeira vez, oficializa a passagem de Paiva pelo DOICodi, no Rio de Janeiro. Vera era adolescente quando Rubens Paiva foi visto pela última vez, no Rio. Conduzido por militares em 20 de janeiro de 1971, o ex-parlamentar do PTB teria sido levado para a sede do DOI-Codi, no dia seguinte. – Espero que essa revelação puxe outros fios e que as pessoas se comovam
para resolver o problema da tortura no Brasil – complementa Vera. Irmão de Vera, o escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva definiu como “chocante”o teor do documento lido para ele pela reportagem de ZH: – Eu tô vendo o meu pai... Eu já vi essa cena na minha cabeça umas 7 mil vezes: meu pai chegando ao DOI-Codi.
“Sempre é a imprensa que conta a história”, diz o filho Marcelo Para Marcelo, é revelador do estágio da democracia no país e do papel relevante da imprensa. – É a prova cabal de que a Comissão da Verdade é mais do que útil e precisa trabalhar. Não podemos deixar o acaso contar a história. A história precisa ser contada através de investigação, de apuração. Nunca é o Estado que está revelando. Foi através de jornalistas que nós soubemos do desaparecimento do meu pai. Sempre é a imprensa que conta a história – observou Marcelo.
Na opinião do escritor, trata-se de uma prova “contundente” de que o exdeputado Rubens Paiva esteve preso no DOI-Codi. – E aí? Cadê? O que aconteceu com ele? – complementa. As revelações do acervo do coronel Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, também repercutiram junto à Comissão da Verdade Rubens Paiva, em São Paulo, que se dedica a apurar casos de desaparecimentos durante a Ditadura Militar. Coordenador da comissão, o jornalista Ivan Seixas ressalta o aparecimento de uma prova irrefutável de que Paiva esteve num aparelho do Estado no dia 21 de janeiro de 1971 – um dia depois de ser visto pela última vez, deixando sua casa no Rio. – É a primeira vez que se tem nas mãos um registro documental de que ele esteve no DOI-Codi – complementa Seixas, que pretende ter acesso ao material em poder da polícia gaúcha.
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